Work Text:
Ela estava nervosa.
Se pudesse fazer uma lista mental seria;
1: Corra!
2: Corra mais rápido.
3: Saia daqui, fuja, mude de nome e nunca olhe para trás.
4: Finja vomitar para que sua mãe a deixe ficar sozinha e fingindo estar morta para o mundo pelo resto de seus dias.
5: CORRA!
Infelizmente nenhum desses era viável. E tudo o que podia fazer era engolir sua saliva tentando desesperadamente se acalmar.
" Millie, o jantar está pronto."
" Já vou!"
Disse sentindo sua bile subir. Talvez ela realmente vomitasse.
Cada passo para fora do seu quarto era como se tivesse chumbo nos pés, e depois de alguma ajuda retirando o lixo e o colocando na área de serviço até a manhã seguinte, sentaram para comer.
" Está quieta. Tudo bem?"
" Hurum..."
" Não gostou da comida?"
Era o seu preferido, sua mãe sabia disso.
" Está ótimo, só...não estou com muita fome..."
" Sei que não almoçou hoje, come pelo menos um pouco, sim?!"
Assentiu sentindo que vomitaria se precisasse falar. Tudo isso era horrível. Porque não podia simplesmente ser normal?!
Primeiro uma bruxa e agora isso?!
Durou até o final do jantar assim, com metade do seu prato intocado e sua mãe mandando olhares preocupados. Então veio a sobremesa, (alegrias de primeira noite em casa depois de meses presa em um castelo acima da montanha).
" Okay, o que aconteceu?!"
" Hum... O quê? Nada..."
" Millie, sabe que não pode mentir para mim."
Se remexeu na cadeira ao saber que ela não deixaria isso quieto.
" Mal tomou no prato, sendo que é o seu favorito. E agora nem quer sobremesa?! Se enfiou no quarto desde que chegou e mal está olhando no meu rosto. O que aconteceu?"
Ela abriu e fechou a boca várias vezes, mas não conseguiu dizer nada.
"O que está acontecendo, amor? Você meio que esta me deixando com medo."
" Me... Me desculpe, eu não queria... Eu só..."
" Sabe que pode me dizer qualquer coisa, não é?!"
Julie afirmou olhando para a filha e pegando sua mão por cima da mesa.
" Eu-eu não sei como dizer isso. Posso te fazer algumas perguntas?"
As sobrancelhas da mulher se juntaram em preocupação. Ela se acomodou melhor na cadeira ao lado de menina.
"Pergunte tudo o que precisar. Você sabe que estou aqui para você."
Millie sorriu suavemente para ela, e começou a falar com as mãos.
"Obrigado... Eu-eu acho... Por favor, como... como a senhora se sente... por ser mulher?
A mulher inclinou a cabeça para o lado. Não esperava essa pergunta.
" Bom... amor, eu... Não sei. Sua tia e eu sempre fomos criadas assim. Nascemos mulheres!"
" Mas como você sabia que era uma mulher?"
Mesmo ainda não totalmente consciente de para onde a conversa estava se seguindo, a mais velha começou a entender um pouco mais.
Com isso a menina apenas assentiu com um olhar completo de concentração em seu rosto. Descansou a cabeça na mão com o cotovelo na mesa. Ela estava em profunda reflexão. E só foi trazida de volta ao presente por Julie colocando levemente a mão no seu braço.
"Existe uma razão para você me perguntar isso, querida?"
Mildred corou e recostou-se no sofá, evitando qualquer contato visual com a mulher mais jovem. "B-bem," Limpou a garganta, "Eu-eu acho que tenho me perguntado sobre meu próprio... sexo."
"E o que você tem pensado?"
Perguntou baixinho vendo a insegurança e desespero no olhar da filha. Isso partia seu coração.
Levantou-se de repente e começou a andar de um lado para o outro. Suas mãos gesticulavam descontroladamente quando ela de repente começou a reclamar.
"Eu- eu acho que tenho me sentido como se não fosse sempre uma garota... Quer dizer, às vezes eu me sinto, e outras vezes, me sinto mais como um menino... E então, às vezes... estou em algum lugar no meio. E eu não sei o que fazer... Eu pesquisei! Juro que sim, mas não tem nada disse na biblioteca da academia e... então eu... pesquisei assim que cheguei e..."
" E? Está tudo bem querida..."
" Eu... Eu acho que sou um gênero fluido."
Disse em um sussurro assustado sem conseguir encarar sua mãe.
" ..Acho que esse é o termo que melhor descreve como me sinto..." Mordeu o lábio inferior e a primeira lágrima rolou. " E...eu não sei o que fazer!Eu-eu teria que dizer a vovó, a tia Mô e... Hettie está me chamando de Millie... Não quero assusta-la, eu..."
A represa que ela estava segurando desabou e meio segundo depois a mamãe Hubble estava abraçando e segurando a filha fortemente em um abraço enquanto a sua criança chorava desesperada.
" A mamãe está aqui, eu estou aqui Millie. Você não está sozinha. Está tudo bem! Está tudo bem, ouviu?! Isso é completamente normal. Tudo o que você está sentindo é absolutamente normal. Há quanto tempo você está pensando nisso?"
Soltou um gemido, "Meses". Disse finalmente a olhando antes de se encolher e colocar sua cabeça em seu pescoço. " Mãe, estou com medo."
"Oh, querida. Este é um mundo totalmente novo. Está tudo bem ficar com medo, ou confusa. Você tem um passado tempo totalmente novo desde que conheceu a Cackles, está se descobrindo. Você deveria viver a sua verdade! Não a minha ou da sua avó ou das suas amigas, só o seu, o que você quer, entende?! O que você está sentindo agora sobre o seu gênero?"
"Como agora mesmo?"
Perguntou assustada.
"Sim,"
A mulher esfregou o braço dela confortavelmente.
"Eu-eu acho que em algum lugar no meio. Não muito masculino ou feminino."
" Amor, a mamãe te ama. " Disse segurando seu rosto e a fazendo olhar nos olhos. " Muito. Você é meu mundo inteiro e faria qualquer coisa só para te fazer sorrir entende?! Vou apoiá-la da maneira que você quiser. E tenho certeza que sua avó e sua tia também vão estar lá, se você decidir contar a eles. Não acho que você teria falado comigo sobre isso a menos que estivesse pronta para assumir."
Encostou-se na mulher mais velha e fez beicinho.
"E se eles não me aceitarem?"
"Eu sei que é assustador assumir. Seus sentimentos são reais e completamente válidos. Ao mesmo tempo, acredito completamente em nossa família, eles aceitarão você do jeitinho que você é. Eles podem fazer algumas perguntas desconfortáveis e, às vezes, você não terá as respostas para eles imediatamente. E tudo bem, às vezes não há problema em não saber. Se você decidir sair, eu a ajudarei da maneira que quiser."
"Você pode estar lá quando eu contar a elas?"
" Sempre estarei do seu lado, para o que você precisar! Você já pensou em como vai contar a todos?"
"Não, não realmente. Eu literalmente apenas decidi que queria contar... Eu precisava... Pelo menos para a senhora. Mas- mas acho que gostaria de fazer isso em pequenos grupos. Eu-eu não acho que conseguiria contar a todos de uma vez."
" É justo. Sempre que quiser conversar, é só me avisar, ok? Se tiver alguma dúvida, é só perguntar. Se quiser podemos ir conversar de novo com a Dra. Rachel."
" Pode ser..."
Elas ficaram abraçadas em um silêncio confortável antes de se jogarem aconchegada no sofá. Mildred concordou em avisar quando realmente estivesse pronta para dizer a todos. Porém estava muito mais tranquila com sua mãe sabendo e estando ao seu lado."
FIM
