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Summary:

Neil está no último ano de Palmetto State. Andrew tem um time profissional em Nova York. Eles se reencontram depois de um mês separados.

Chapter 1: PRÓLOGO, parte I: A Noite em Columbia

Chapter Text

A Noite em Columbia

Local: Columbia.

Tempo: Três anos de relacionamento, antes da história principal.

A música vibra como um segundo coração. Grave, insistente, carregada demais para ser ignorada. As luzes se arrastavam como tinta líquida pelo chão da Eden's Twilight, tingindo rostos e corpos com cores que não existiam fora dali.

Kevin e Nicky estão na pista de dança, rindo alto demais, completamente bêbados. Aaron finge que não conhece nenhum deles, um copo quase vazio na mão, encostado no balcão do bar como se tivesse sido forçado a existir ali.

Enquanto isso, Andrew está relaxado, sentado no colo de Neil.

Não havia sido anunciado. Não tinha sido um gesto performático, tampouco um segredo. Simplesmente aconteceu, como tudo entre eles. Neil estava encostado no sofá de couro gasto, as pernas abertas e os olhos acompanhando os outros sem muito interesse. Andrew voltou da segunda rodada de bebidas, olhou para o espaço ao lado de Neil, olhou de novo para ele e se atirou em seu colo como se fosse o lugar mais lógico para se estar.

E era.

— Você vai derrubar o copo — Neil fala, com a voz baixa o bastante pra se perder na batida, colocando uma mão na cintura dele.

Andrew segura dois. Um pra ele, um pra Neil. Os dois com gelo, os dois com refrigerante. Nenhum deles queria ficar bêbado essa noite.

— Então você vai segurar — Andrew responde, entregando um deles.

Neil pega o copo, mas não tira a mão da cintura dele.

Andrew está quente. Ele cheira a fumaça doce, couro e alguma coisa cítrica que não devia ser perfume. Suor, talvez. O cabelo está rebelde, colado à testa por causa do calor do ambiente fechado. E ainda assim, Neil pensa, ele parece se encaixar ali melhor do que qualquer um. Como se a boate fosse só mais uma extensão do controle silencioso que Andrew exercia sobre tudo ao redor.

— Eles vão se matar até o fim da noite — Neil comenta, observando Nicky puxar Kevin pela gola da camisa, os dois girando como idiotas.

Andrew dá de ombros, sem sair do colo dele. Os olhos fixos em lugar nenhum.

— Não é da nossa conta.

É verdade. Como quase tudo o que Andrew fala.

Neil descansa o queixo no ombro dele. Ninguém está olhando. E mesmo se estivessem, também não era da conta deles.

A música troca de batida, ficando mais lenta, mas com o mesmo peso. Neil sente os graves tremerem sob as solas dos tênis e no osso do quadril onde o corpo de Andrew se apoia. Ele gira o copo devagar, vendo o gelo bater no vidro. A outra mão ainda está ali, firme na cintura de Andrew, polegar desenhando círculos lentos no tecido da camiseta preta.

Andrew não reclama. Não se mexe. Só deixa.

— Você não está com calor? — Neil pergunta, sem esperar resposta.

Andrew se inclina para ele, só um pouco. O rosto tão perto que Neil pode ver o brilho de suor na curva da têmpora.

— Você quer que eu saia do seu colo? — Ele rebate, com aquela voz que quase nunca levanta de tom.

— Não.

A resposta é rápida, cravada entre um gole e um olhar.

Andrew sorri. De verdade. Pequeno, do tipo que quase não aparece, mas que Neil reconhece como vitória pessoal. Um segundo depois, Andrew apoia o copo na mesa, ainda quase cheio, vira um pouco o quadril e acomoda o corpo como se estivesse em casa. Um braço vai parar ao redor do pescoço de Neil. O rosto descansa ali também, encostado no ombro dele. Silencioso. Leve. Confortável.

E ninguém olha. Ou se olha, finge que não vê. Porque todo mundo naquela mesa sabe da verdade.

Três anos. Três anos desde que Andrew abriu a porta, olhou para Neil como quem olha para um desafio e deixou que ele ficasse. Desde então, não tinham nomeado nada, mas também não deixaram de estar um com o outro.

— Nicky está vindo — Andrew avisa, sem se mover.

Neil não responde. Apenas levanta os olhos a tempo de ver Nicky cair contra alguém e continuar vindo, rindo e apontando pra eles com o copo vazio na mão.

— Ah, casal feliz — Nicky anuncia, ofegante, atirando-se ao lado deles no sofá. — Sério, eu estava tentando dançar, mas não consigo me concentrar com esse negócio romântico de vocês ocupando o ar do ambiente.

— Você está todo suado — Andrew fala, sem abrir os olhos.

— E você está no colo do seu namorado, Andrew, então eu acho que você perde a moral de reclamar de qualquer coisa.

— E você perde a moral de existir — Andrew rebate, seco.

Nicky gargalha. Encosta a cabeça no encosto do sofá, ainda rindo, o peito subindo e descendo rápido. Kevin aparece logo depois, com Aaron logo atrás, ambos ofegantes, cobertos de luz colorida e suor. Porque, é claro, Aaron não resiste quando Kevin, completamente bêbado e contente, o chama para dançar.

Mas Andrew não sai do colo de Neil. Nem quando Kevin comenta alguma coisa sobre eles estarem virando um "casal chato que não sabe se divertir", nem quando Aaron revira os olhos. E Neil, com a mão firme nas costas dele, não tem nenhuma intenção de deixar que ele vá a lugar algum.

O sofá afunda um pouco sob o peso das outras Raposas, mas Andrew não se mexe. A cabeça ainda pousada no ombro de Neil, o braço ainda ao redor da nuca dele, como se aquele fosse o lugar mais seguro do mundo.

Neil passa os dedos pela barra da camiseta de Andrew, distraído. O tecido está quente, úmido, grudando na pele de leve. Ele pensa que deveria estar incomodado com o calor, com o barulho da música, com os corpos se espremendo ao redor, mas nada disso o toca enquanto Andrew está ali.

— Você quer ir embora? — Ele pergunta, baixo.

Andrew não responde de imediato. Só vira o rosto, o nariz deslizando devagar contra o pescoço de Neil, o calor da respiração provocando um arrepio que desce pelas costas dele.

— Ainda não — Ele murmura.

Neil assente, os olhos perdidos nas luzes que giram no teto. Sente a mão de Andrew em sua coxa agora, tocando a calça com uma intenção suave demais pra ser casual. Cada vez que os dedos se movem, mesmo que só um centímetro, Neil precisa respirar mais fundo.

E ainda assim, não era pressa. Nem urgência. Era o contrário disso. Era o conforto lento de quem sabe que não precisa correr. De quem sabe que, no fim da noite, não ia embora sozinho.

Andrew levanta os olhos devagar e encontra os dele. O canto da boca se curva como se tivesse escutado os pensamentos que Neil nunca fala em voz alta.

— Você está me encarando — Andrew fala, sem tirar o olhar.

— Você está bonito — Neil responde.

Andrew não ri. Não agradece. Só se inclina um pouco mais até que os lábios quase tocassem os de Neil, e para ali, respirando o mesmo ar, deixando a sugestão pairar entre eles como a fumaça no ambiente.

Neil pode sentir o gosto do refrigerante que Andrew tinha tomado. Pode sentir o pulso dele no lugar onde seus corpos se encostam.

— Você não vai me beijar aqui — Andrew fala.

Não é uma pergunta.

Neil sorri, breve.

— Não.

— Por quê?

— Porque você sabe o que acontece se eu começar.

Andrew inclina a cabeça para o lado, ainda perto demais, ainda olhando como se o mundo inteiro coubesse naquele sofá apertado.

— Podemos terminar isso em casa.

Neil fecha os olhos por um segundo.

— Vai ficar no meu colo até lá?

— Talvez — Andrew fala. — Se você pedir direito.

A música aumenta. Nicky ri de alguma coisa que Kevin fala. Aaron solta um comentário ácido. Mas tudo isso existe do lado de fora. Dentro do espaço estreito entre os dois, só há calor, olhos baixos e uma promessa não dita.

Neil desliza a mão um pouco mais pra cima, pelos ossos da coluna de Andrew, sentindo o leve arrepio que deixa no caminho.

Ele sabe exatamente como aquela noite vai terminar.

E não faz questão nenhuma de apressar nada.

A noite continua como uma batida. Do tipo que não tinha início nem fim, só uma progressão de calor, suor e vozes repletas de álcool. O local ao redor do sofá em que Neil e Andrew estão parece ter encolhido. Ou talvez fosse só Neil que tivesse esquecido como o resto do mundo funcionava quando Andrew resolve se acomodar assim.

— Eles vão dançar de novo — Andrew fala, os olhos na sua família.

Nicky está puxando Kevin de novo, mãos agitadas, corpo cambaleante. Kevin não resiste mais, só revira os olhos e deixa. Aaron, por outro lado, fica. Sentado à frente deles, com uma garrafa de água e a eterna expressão de quem se arrepende muito de estar vivo.

— Vai com eles — Neil fala, provocando.

Andrew vira o rosto para ele, lentamente.

— Eu estou confortável aqui.

Neil quase ri.

— Claro que está.

Andrew descansa o queixo no ombro de Neil de novo. Os dedos dele estão de novo na perna de Neil, mas agora era diferente. Uma linha que ia e voltava ao longo da costura interna da coxa. Arrastado. Intencional. Um toque que não pedia permissão, porque nunca precisou.

Neil fecha os olhos por um instante. E quando abre, encontra os de Aaron.

— Vocês vão se pegar aqui mesmo ou dá tempo de eu sair? — Aaron pergunta, seco, sem mexer um músculo do rosto.

Neil não responde. Andrew também não. Aaron bufa e levanta, levando a garrafa com ele.

— Vou ficar do lado de gente civilizada — Ele fala, sumindo pelo meio da multidão.

— O irmão é seu — Neil constata, observando Aaron se encontrar com os outros meninos barulhentos na pista de dança.

— E você tinha que me lembrar?

Neil se desculpa com um gesto mínimo, a mão subindo pelas costas de Andrew, os dedos se perdendo na base do cabelo, naquela parte onde ele sabe que é mais sensível. Andrew não se mexe. Mas respira mais fundo.

Eles ficam assim por um tempo. Só existindo, enquanto as luzes giram em cores neon ao redor deles.

Em algum momento, Nicky volta. Ele atira um colar de luzes brilhantes no colo de Neil. Algo que claramente pegou no meio da pista.

— Presente — Ele anuncia, quase sem voz.

Neil olha para o colar. Depois olha pra Andrew, que levanta uma sobrancelha.

— Coloca — Neil fala, entregando pra ele.

Andrew olha como se fosse dizer "não", mas então pega o colar e o coloca no próprio pescoço. As luzes piscam em azul e verde, iluminando a clavícula e o começo da corrente que ele está usando.

— Bonito — Neil fala, um sorriso preso no canto da boca.

Andrew inclina a cabeça para o lado. Uma ameaça de sorriso surge ali também, quase imperceptível.

— Você é péssimo com elogios — Ele responde.

— Você é pior com presentes.

— Ainda bem que eu não te dou nenhum.

— Você se deu inteiro. Isso foi o suficiente.

Dessa vez, Andrew o olha por mais tempo. Um segundo a mais do que o necessário. Como se estivesse escolhendo o que responder. No fim, ele só fala:

— Ficou bêbado?

Neil balança a cabeça. Devagar.

— Não.

Andrew se aproxima. O suficiente pra que Neil sinta os lábios dele tocando a pele logo abaixo da orelha.

— Então guarda isso pra quando estiver — Ele sussurra.

Neil prende a respiração, mas não responde. Não precisa. Está ali, na forma como segura Andrew, como encosta a testa na dele, como não faz nenhum movimento pra levantar ou sair. O resto da boate pode sumir, dissolver em suor e luzes, e ele não ia notar.

Os outros voltam em ondas, primeiro Kevin, depois Aaron, carregando mais bebidas do que devia. Ele quase deixa um copo cair quando chega, mas Kevin salva o copo com um reflexo rápido, o que provoca um aplauso sarcástico de Nicky.

— Mais uma rodada pra comemorar a nossa vitória! — Nicky anuncia, pegando um copo assim que é colocado em cima da mesa.

— Já comemorou o suficiente, não acha? — Aaron fala, pegando a própria bebida com desdém. — Está suando como se tivesse se atirado em um lago.

— Isso aqui é o brilho da vitória, primo — Nicky rebate, piscando.

Andrew pega o próprio copo de refrigerante e leva aos lábios sem sair do colo de Neil. Ninguém comenta, mas o silêncio é mais demorado. Kevin é o primeiro a quebrá-lo.

— Vocês vão se fundir em um único ser se continuarem assim — Ele fala, tranquilo, sentando ao lado.

— Tipo um parasita — Aaron completa, seco.

Neil levanta uma sobrancelha, encostando mais a mão nas costas de Andrew.

— O que é isso? — Ele quase rosna para Aaron — É tudo saudade da sua líder de torcida?

— Cala a boca — Aaron rebate, ignorando a pergunta sobre a namorada, porque todos sabem que ela está na casa dos pais, em outra cidade, para o aniversário de casamento deles. — É preocupação. Vocês estão um com o outro há tanto tempo que eu estou esquecendo como funcionavam separados.

— Era pior — Andrew fala, sem olhar.

Nicky, entre um gole e outro, faz uma careta exagerada.

— Isso foi quase romântico. Está vendo, Kevin? E eles dizem que não são namorados.

Andrew bufa. Tira o colar piscante e o atira na cara do primo, que desvia no último instante.

— Odeio essa palavra.

— Namorados? — Nicky pergunta, arregalando os olhos como se fosse blasfêmia.

— É um rótulo idiota.

— E o que você prefere então? — Aaron pergunta. — "Conexão existencial silenciosa e permanente"?

— Isso é melhor — Andrew fala.

Todos controlam uma risada.

Neil dá um gole longo na própria bebida antes de falar:

— É apropriado, e você sabe.

Andrew vira o rosto, encarando Neil como se desafiasse cada letra daquilo.

— Namorado é apropriado? — Ele pergunta.

Neil dá de ombros, o olhar firme.

— Dividimos uma cama, um carro, um apartamento e um estoque de comida por causa das suas paranoias. Você briga comigo se eu não tranco a porta. Eu aturo as suas músicas horríveis. E você senta no meu colo em público. Então sim, é apropriado.

Andrew fica em silêncio por um instante. Depois solta, seco:

— Eu odeio quando você faz sentido.

— Eu gosto — Neil responde.

— Isso é porque você é um idiota sentimental.

— E você é meu namorado.

Dessa vez, os outros não conseguem se conter. Nicky praticamente explode numa gargalhada, Kevin solta um "minha nossa", e Aaron toma metade da bebida de uma vez só, claramente arrependido de estar sóbrio o suficiente pra acompanhar essa conversa.

Andrew revira os olhos e encosta a testa no ombro de Neil, como se desistisse de argumentar.

— Eu nunca vou admitir isso.

Neil só passa o braço ao redor de Andrew com mais firmeza, como se selasse a discussão. E Andrew deixa.

No fundo, ambos sabem que aquele título, e tudo o que ele traz, nunca foi o problema. Era só mais uma palavra. E palavras nunca foram páreo para o que eles tinham.

As luzes da boate parecem mais suaves agora, ou talvez fosse só a forma como o álcool dança nas veias dos outros. Neil continua sóbrio, mas se sente leve. Solto. Como se o mundo inteiro estivesse um pouco mais distante, ou como se tudo o que importa estivesse exatamente onde deveria estar: sentado no colo dele, com o rosto encostado no seu ombro.

Nicky tinha voltado para a pista, arrastando Kevin de novo, e dessa vez até mesmo Aaron tinha cedido, resmungando algo sobre "queimar as calorias da bebida". O sofá fica mais silencioso, povoado apenas por luzes, música e a respiração compassada entre dois corpos que não precisam dizer muita coisa.

— Você vai dançar comigo algum dia? — Neil pergunta, sem muita esperança.

Andrew levanta o rosto lentamente. O olhar é quase sonolento, mas está atento.

— Você sabe que não.

— Sei. Mas vai que, num universo paralelo...

— Num universo paralelo, eu provavelmente sou insuportável.

Neil ri baixo, os olhos fixos nas luzes que giram no teto.

— Você é insuportável nesse universo também.

— Mas você gosta.

— Eu gosto — Neil admite, sem hesitar.

Andrew o observa por um instante a mais do que o necessário. Depois pega o copo que tinha deixado na mesa e bebe o resto sem tirar os olhos dele.

— Eu gosto de você sóbrio.

— Mas você quase não me vê bêbado.

— E não preciso. Você é um bêbado muito chato. É irritante. Você é mais presente sóbrio, e mais sincero.

Neil sorri.

— Isso é um elogio?

— Pra você, é o mais perto que eu chego.

Ficam em silêncio por um minuto. Não era um silêncio desconfortável, era o tipo que fazia sentido, como uma pausa entre batimentos. Neil observa as luzes refletindo na pele de Andrew, nos cílios longos, na curva da mandíbula. O barulho da boate desaparece quando ele olha assim.

A pista era um caos de suor e luzes, mas ali no sofá, o tempo era outro. Mais quente. Macio. Íntimo.

E quando Nicky volta, pela terceira vez, dessa vez sozinho e ofegante, ele atira o corpo no encosto do sofá com um suspiro exagerado.

— Tudo bem, eu me rendo. Vocês estavam certos. Dançar é um inferno. Eu não nasci pra isso.

— Ninguém nasceu pra ver você dançar também — Andrew fala, sem olhar.

— Cruel. Mas sincero. Eu aprecio isso.

Nicky estende um dos braços sobre as costas do sofá, olhando para os dois com aquele sorriso bêbado e afetuoso que ele só abria quando estava verdadeiramente feliz.

— Vocês sabem, né? Eu acho que são meio bonitinhos.

Andrew bufa, mas Neil fala antes:

— Meio?

— É. Tipo... de uma forma esquisita. Como um gato de rua que se apegou a um pit bull. Meio errado, mas funciona.

Andrew abre a boca, mas desiste de responder. Neil só sorri e dá um gole na bebida.

— É, funcionamos — Ele fala.

Nicky assente, os olhos começando a pesar.

— Funcionam, sim. Pra caralho.

E então ele dorme.

Ali mesmo. Com a cabeça pendendo pro lado e o copo ainda na mão, milagrosamente equilibrado.

Andrew observa a cena, os olhos semicerrados.

— Vamos ter que carregar ele, né?

— Vamos. — Neil suspira — Você carrega.

— Você é mais forte.

— Não sou e você sabe disso. E ele é seu primo.

Neil ri. Nada disso importa. Era tudo sobre aquela noite, o toque do corpo do homem que ele queria que nunca se afastasse, com o fato de que, mais tarde, iam se embolar em cobertores limpos, com os vidros do quarto abertos e o som da cidade entrando como vento morno.

Nicky ainda ronca levemente no canto do sofá quando Kevin aparece de novo, o cabelo grudado na testa, camisa suada nas costas e um sorriso vitorioso na boca.

— Vocês perderam, foi épico — Ele fala, ofegante, apontando para trás como se alguém tivesse que conferir a pista de dança só pra entender a grandiosidade do momento.

Logo atrás dele aparece Aaron, mais ofegante ainda, respirando como se tivesse corrido uma maratona.

— Eu me arrependo de tudo — Ele fala, largando o corpo na poltrona oposta.

— Você sempre fala isso — Neil comenta.

— Dessa vez é real.

Kevin larga dois copos novos na mesa, um pra ele e um pra Aaron, que aceita com um movimento de cabeça. Neil nem tenta entender o conteúdo. Ele está acostumado com as misturas misteriosas que Kevin pede.

— Vocês dois ainda tão no modo acasalamento? — Aaron pergunta, encarando Andrew no colo de Neil.

— Tão tentando bater um recorde? — Kevin provoca, sorrindo.

— Eu achei que tinham virado um só — Aaron completa.

Andrew não fala nada, só olha para os dois como se estivesse decidindo se valia a pena gastar energia com uma resposta. Neil dá um gole na bebida e, sem olhar, responde:

— Só estamos confortáveis. Coisa rara por aqui.

— Você sabe que tem mais lugares vazios, né? — Kevin fala, apontando ao redor. — Você não precisa usar seu namorado como sofá.

Andrew faz uma careta para aquela palavra.

Nicky resmunga alguma coisa no canto, ainda dormindo, e Kevin passa a mão nos cabelos dele com cuidado automático, como se estivesse acostumado com esse tipo de desmaio emocional no fim da noite.

— Parem de ficar negando que são românticos um com o outro, isso não funciona. Muito menos quando estão praticamente fundidos no sofá e trocando olhares de novela mexicana.

— Eu não sou romântico — Andrew fala, na mesma hora.

— Não mesmo — Neil concorda, com um meio sorriso. — Ele só gosta de sentar no meu colo. O resto é coincidência.

Aaron suspira.

— Isso é o que mais me assusta. — Ele olha para Kevin, apontando para o casal no sofá — Eles acham que isso é normal.

— Mas é — Neil fala, e Andrew assente sem falar nada.

Kevin gira o copo entre os dedos e encara os dois com um ar mais tranquilo.

— E ainda bem que é. Depois de tudo, acho que merecem isso.

Neil o encara, perplexo.

— Ah, cala a boca — Kevin bufa, virando o resto de sua bebida.

Por um instante, ninguém fala nada. Nem Andrew, nem Neil, nem Aaron. Só a música preenchendo o local, o grave pulsando sob os pés, as luzes rodando como faróis perdidos.

Andrew se encosta mais em Neil. Uma mão pousada leve no peito dele, os olhos baixos, quase fechados.

As horas escorrem pela boate como a bebida escorria pelos copos, devagar, quente, sem muito aviso.

Nicky resmunga em seu sono raso, o colar de luzes piscando frouxo em volta dele, como se tivesse sido engolido por uma estrela bêbada. Kevin está quieto agora, os braços cruzados atrás da cabeça, olhos perdidos na pista. Aaron, cada vez mais calado, gira o gelo em seu copo com um ar de quem prefere estar em qualquer outro lugar, mas não o suficiente pra sair sozinho.

O peso da madrugada começa a se insinuar por baixo da pele de todos. Como um cobertor abafado. A música ainda é alta, mas o som pulsante da boate parece mais lenta, mais arrastada.

Neil passa os dedos pela nuca de Andrew, que não tinha se mexido muito. O toque era muito natural.

— Está ficando tarde — Ele fala, num tom que não era exatamente um convite, mas também não era uma sugestão.

Andrew assente contra o ombro dele. Não parece com pressa, mas também não tinha intenção de discutir.

Kevin levanta primeiro, esticando-se com um estalo nas costas.

— Acho que chega por enquanto.

— Finalmente — Aaron murmura, em pé também, como se estivesse esperando a deixa há uma hora.

— Alguém pega o morto vivo — Kevin fala, apontando para Nicky.

Neil se inclina e cutuca Nicky no ombro, gentil, quase com pena.

— Hora de ir, Nicky.

Nicky solta um grunhido e vira o rosto para o outro lado.

— Me deixem aqui... vou virar planta... me alimentar da luz estroboscópica...

— Ele sempre tem essa fase — Kevin explica, pegando o braço dele com naturalidade. — Daqui a pouco volta a andar.

Aaron revira os olhos, mas também tenta levantar o primo.

— Eu amo todo mundo — O homem bêbado fala. — Vocês são o meu time... a minha alma... a minha...

— Anda logo, alma — Aaron resmunga, empurrando-o pra frente.

Neil e Andrew ficam por último.

Ainda sentados.

Ainda um sobre o outro.

A boate continua viva, mas mais vazia. Os cantos agora tinham sombras mais pesadas, as luzes girando com menor frequência. Como se até o caos tivesse entendido que era hora de ir.

Andrew se mexe, finalmente. Ele se afasta só o suficiente pra ficar de pé, mas não sem antes olhar pra Neil, os olhos pesados de sono e calor.

— Pronto?

Neil levanta também, arrumando a camiseta. A mão de Andrew vai direto pro bolso do casaco de Neil, pegando as chaves do carro sem pedir, como sempre fazia.

— Sempre.

Eles continuam atrás dos outros, em um silêncio confortável, quase protetor. Andrew caminha perto demais, o ombro tocando o dele de minuto em minuto, como se o mundo pudesse se reequilibrar ali.

No carro, há silêncio.

Mas não completamente, o motor sussurra sob o capô, os pneus cantam baixo contra o asfalto, e uma música esquecida de fundo toca algo lento e cheio de sintetizadores, mas comparado ao que tinham acabado de viver dentro da boate, parecia outro mundo.

O carro continua pela cidade adormecida. Luzes de poste riscam o interior como lâminas de neon. Andrew dirige como sempre, só uma mão no volante, a outra solta no colo, olhos presos na estrada como se ela fosse a única coisa no mundo que exigisse sua atenção. Mas Neil sabe melhor. Ele vê isso pelos ombros tensos, pela respiração baixa, pela forma como Andrew passa a língua pelo lábio inferior entre uma curva e outra.

Ele está pensando. Demais.

Neil também.

No calor que ainda vibra entre os dois. Na forma como Andrew tinha sentado em seu colo e ficado assim por horas, na forma que Andrew fica perto e depois recua como se o controle fosse tudo o que lhe resta.

Neil abre o vidro alguns centímetros. O vento da madrugada entra cortando o ar preso no carro, mas não esfria em nada.

A cidade passa rapidamente por eles: postes vazios, estabelecimentos fechados, luzes vermelhas dos semáforos que não tinham serventia nenhuma. Era tarde demais pra multidões. E cedo demais para o amanhecer.

Neil vira o rosto, deixando o vidro frio tocar a pele.

— Você está quieto — Ele fala.

Andrew não responde de imediato.

— Você também.

— Eu estou te ouvindo respirar.

Andrew faz uma curva leve, os olhos ainda na frente.

— E o que isso te diz?

Neil vira o rosto de volta, encarando o perfil dele. A mandíbula contraída. A curva do ombro, meio escondida pela gola do casaco de couro. A forma como a luz do painel coloria os dedos dele com reflexos azulados.

— Eu acho que você está pensando em mim — Neil responde, simples.

Andrew sorri. Pequeno. Um daqueles sorrisos que só duravam um instante, mas diziam muito, tudo. Era o do tipo incontrolável, que uma única pessoa no mundo podia retirar dele.

— Modesto.

— Realista.

— Certo, então — Andrew fala, batucando os dedos no volante. Ele parece ansioso. Neil sabe que ele não era muito fã de falar sobre esse tipo de coisa, dos dois, ainda menos na frente dos outros, mesmo que eles estivessem muito bêbados para ouvir — sempre que eu estou respirando, quer dizer que estou pensando em você?

Neil dá de ombros.

— Me parece ser isso mesmo.

O silêncio volta, mas agora é como o ar antes da tempestade. Neil passa as mãos pelas próprias coxas, inquieto. O banco do carro parece quente demais. Ou era ele. Ou era Andrew.

— Você vai continuar me provocando até chegarmos em casa? — Neil pergunta, enfim, num tom quase neutro, mas com algo mais por baixo.

— Eu não estou fazendo nada — Andrew se defende.

— Exatamente.

A boca de Andrew quase se curva num sorriso.

— Você não sabe esperar?

Neil o olha de lado, os olhos cortados por uma faixa de luz vermelha.

— Eu sei. Mas odeio.

— Paciência é uma virtude.

— E você não acredita nisso.

— Não muito.

A mão de Andrew solta o volante por um instante. Ela para na coxa de Neil, firme. Os dedos se fecham ali, apertando. Por um único instante, o acalmando. Depois voltam ao próprio colo como se nada tivesse acontecido.

Mas era tarde. Neil está todo em chamas.

— Muitos minutos? — Ele pergunta sobre quanto falta para estarem em casa, a voz mais baixa.

— Depende do quanto você vai me distrair.

— Isso é um desafio?

Andrew não responde. Mas acelera.

E Neil se encosta no banco, olhando de lado para ele, como quem observa o perigo iminente.

Neil ainda sente a mão de Andrew. O toque firme, curto, cruelmente calculado. A pressão daqueles dedos contra a sua coxa parecia ter deixado um rastro quente que queima por dentro dele. Ele se mexe no banco sem muito sucesso, o corpo agitado por uma ansiedade silenciosa.

É claro que Andrew não faz nada sobre isso. Ele continua dirigindo, os olhos concentrados na estrada.

Calmo, metódico, e a boca cerrada como se não tivesse acabado de incendiar tudo por dentro de Neil. Ele está prestes a falar alguma coisa, qualquer coisa, talvez fazer uma ameaça ou só o mandar ir mais rápido, carregado de tudo o que não pode ser dito em voz alta, quando ouve um barulho vindo do banco de trás.

Um suspiro. Um gemido longo e exagerado.

— Ai meu Deus... Estão flertando em silêncio de novo, né? — Nicky lamenta, a voz arrastada e teatral. — Eu acho que vou vomitar.

— Não estou flertando — Andrew fala de imediato. — E não vomite no meu carro.

— Você nunca flerta — Neil murmura. — Você tortura.

— Eu nunca ouvi você reclamar disso. — Andrew murmura de volta.

Antes que Neil possa rebater, Nicky se enfia entre os dois no banco da frente, o rosto apoiado no encosto de Neil, o olhar totalmente bêbado.

— Sério... precisam de um quarto. Tipo nesse momento. Esse carro é pequeno demais para toda essa tensão sexual.

— Fecha a boca, Nicky — Andrew fala, sem alterar o tom.

— Aí, você está até mais rude que o normal. Delícia.

Aaron bufa no banco de trás, visivelmente arrependido de não ter ido a pé.

— Juro por Deus, se alguém falar a palavra "tensão" mais uma vez, eu me atiro do carro em movimento.

Neil quase abriu a boca para falar.

— Melhor do que assistir esses dois se comendo com os olhos — Nicky rebate, rindo.

Neil bufa.

— Nem mesmo estamos nos olhando — Ele argumenta, virando um pouco pra trás.

— Esse carro está saturado de tensão sexual reprimida — Kevin entra na conversa, a voz sonolenta.

Aaron coloca as duas mãos no rosto.

— Disso você entende, né, Kevin? — Neil corta, com um sorriso de canto.

Andrew tenta muito não rir.

— Cala a boca — Kevin retruca, mas muito cansado para elevar o seu tom de voz.

Andrew aperta o volante. Um leve ranger escapa dos dedos dele.

— Eu odeio todos.

— Mas nós te amamos — Nicky cantarola. — E ao Neil. Vocês são a luz no nosso caos, o casal mais bonito do mundo.

— Não somos um casal — Andrew repete.

— Somos sim — Neil fala, automático.

Nicky suspira, se recostando no assento com um sorriso bêbado.

— Eu vou dormir sonhando com vocês dois finalmente admitindo que se amam.

— Você vai dormir porque bebeu demais — Kevin corrige, sem nem abrir os olhos.

Neil ri, baixinho, e sente a irritação de Andrew se dissipar um pouco, como se o humor dos outros o puxasse de volta à superfície. O carro segue em silêncio por um tempo, só os sons da cidade morta e do motor baixo preenchendo os espaços entre as palavras.

— Isso não vai durar pra sempre, sabiam? — Nicky continua, minutos depois, sem abrir os olhos. — Vocês vão ter que dizer alguma coisa em algum momento. Além de "tranca a porta" e "pega mais café".

Andrew não responde. Nem Neil.

É só o som do motor, o vento passando pelas frestas e os batimentos cardíacos um pouco mais acelerados do que o normal.

Kevin tenta aliviar:

— Tudo bem não dizer. Mas dá pra ver.

— Não tem nada para ver aqui — Andrew fala.

— Claro. Vocês só dividem cama, apartamento, rotina e olhares que poderiam incendiar um posto de gasolina — Kevin responde, muito bêbado, a fala ficando estranha, atirando o corpo pra trás com exaustão. — E tudo isso por três anos.

Neil vira o rosto para o vidro, o vento cortando a lateral da sua bochecha.

Ele não vai falar. Não ainda.

E Andrew não vai questionar isso.

Entre os dois, o amor era implícito. Era o toque contido, o silêncio confortável, a mão na coxa e o corpo atirado no colo como quem confia o mundo, como quem sabe que pode e de que está a salvo. Não precisa ser dito. Porque o que eles tinham não era frágil.

Era real demais pra se reduzir a uma palavra. Ou três.

E por enquanto, isso bastava.

As luzes passam aceleradas pelo vidro. Dentro do carro, tudo parece suspenso entre o sono e a luxúria. Kevin tinha desistido de fazer comentários. Aaron estava com os fones enfiados nos ouvidos, encostado no vidro, fingindo que o resto do mundo não existe. E Nicky, murmurando alguma coisa indecifrável, rindo sozinho, claramente no fim da linha, a bebida levando o resto da sua consciência ao limite.

Na frente, Neil deixa o braço repousar entre os bancos. Os dedos não tocam Andrew, ainda. Mas estão perto, quase deslizando a costura lateral da calça dele. Era um quase, como quase tudo entre os dois.

Andrew não comenta. Só muda de faixa com precisão automática.

Neil olha o painel. O GPS. Faltam quinze minutos.

Ele queria que fossem cinco.

O carro parecia pequeno demais. O silêncio de Andrew era quase físico. O peso do corpo dele no banco, a firmeza com que aperta o volante, a forma como não olha para o lado. Mas Neil sabe que ele está ouvindo cada movimento, que sente os olhos dele.

— Você sempre dirige quando voltamos da boate — Neil comenta, baixo.

— Confio mais em mim do que em qualquer outro.

— Incluindo eu?

Andrew vira levemente o rosto, os olhos rápidos. Uma faísca. Mas logo volta à estrada.

— Você dirige como se quisesse morrer.

Neil sorri.

— E você dirige como se qualquer desvio fosse um perigo iminente.

— Porque é.

Silêncio.

Do banco de trás, Nicky resmunga:

— Vocês dois são um livro escrito por alguém com problemas emocionais não resolvidos.

— Cala a boca, Nicky — Andrew e Aaron falam ao mesmo tempo.

Neil solta uma risada contida. O tipo de riso que escapa sem querer, mas que Andrew escuta como se fosse um segredo.

— Você acha que chega em dez minutos?

— Em cinco — Andrew responde, bufando — Não quero prolongar isso.

— Isso o quê?

— Ter que ouvir esses três.

Neil ri de novo. Mas a mão, então, finalmente se move. Os dedos encostam na lateral da coxa de Andrew.

Andrew não o afasta.

Fica ali, queimando sob o toque. A pele viva mesmo por baixo da roupa.

— Você pode fingir que está tudo igual, Andrew — Neil murmura. — Mas eu sei que não está.

A voz é baixa, íntima, para não passar da bolha que existe entre os dois. Andrew mantém os olhos fixos à frente.

— Pare de tentar nomear isso.

— Eu não estou nomeando nada.

— Só provocando?

— Só lembrando.

Andrew aperta o volante. Um instante. Depois relaxa.

Do banco de trás, Kevin tosse, exagerado.

— Eu imploro, não fodam tão alto enquanto eu estiver dormindo.

Aaron nem se dá ao trabalho de tirar os fones de ouvido. Nicky está rindo baixinho, ainda meio dormindo.

Neil retira a mão da perna de Andrew, lentamente, sem pressa. Mas o toque fica. Fica sempre.

— Mais cinco minutos — Neil fala.

Andrew assente. Olha brevemente para o lado.

E por um instante, só um, o olhar deles se encontra no reflexo do vidro.

Nada mais é dito.

 

Em cinco minutos, estavam em casa. Em Columbia, na verdade. Palmetto podia esperar um pouco mais, até amanhã.

A chave gira na porta da frente com o clique pesado de sempre. Neil entra primeiro, atirando o peso do corpo nos ombros. Está cansado, mas era do tipo que só existia por fora. Por dentro, ele ainda fervia.

Kevin é o primeiro a cruzar a sala, tirando os sapatos com um suspiro longo.

— Finalmente, o sofá — Ele fala, automático, como se fizesse parte da estrutura da casa.

Nicky cai logo atrás, ainda meio tonto.

— Eu vou dormir onde eu cair. Se eu parar no chão, me deixem lá.

— Acordo feito — Neil responde, trancando a porta.

Andrew não fala nada. Ele sobe os degraus direto, sem olhar pra trás. O som dos passos dele ecoa pela madeira. Contados. Frios.

Neil olha para cima. Sabe exatamente onde Andrew ia parar: no quarto dele. Segundo andar. Porta fechada. Lugar onde ninguém entra sem ser convidado, e onde Neil entrou tantas vezes que nem lembra mais de contar.

Enquanto os outros ainda discutiam travesseiros e quem ia doar o cobertor para o cara do sofá, Neil se move em silêncio. Ele passa por Kevin, pega um pouco de água na cozinha e a entrega para Nicky antes que ele apague de vez no tapete.

— Vai acordar com a boca colando — Ele fala.

— Você é um deus — Nicky murmura.

Aaron está trancado no banheiro.

A escada agora está livre.

Neil sobe.

Cada degrau parece mais barulhento do que o anterior. No segundo andar, o corredor está escuro, mas a porta do quarto de Andrew está entreaberta. Uma linha de luz corta o chão de madeira.

Ele não bate.

Empurra a porta com os dedos. Devagar.

Andrew está sentado na beira da cama, tirando os sapatos. Não se vira quando Neil entra. Só continua o movimento. Silencioso. Calculado.

Neil fecha a porta atrás de si.

Ele a tranca.

Por um momento, ninguém fala.

— Eu achei que você fosse ficar lá embaixo — Andrew fala, sem olhar.

— Achei que você soubesse que não.

Andrew ergue o rosto. Os olhos estão cansados, mas vivos. E tinham aquele brilho que Neil reconhece. O tipo de brilho que fala tudo o que ele nunca vai dizer.

Neil cruza o quarto até ele. Para de pé entre as pernas de Andrew, sem tocar. Apenas olhando.

— Você sempre faz isso — Neil murmura.

Andrew levanta uma sobrancelha.

— Isso o quê?

— Vai embora primeiro. Me obrigada a decidir se vou te seguir ou não.

— E você sempre segue.

Neil sorri. Um daqueles sorrisos lentos, que nascem pela metade e se completam no olhar.

— Um dia, eu posso não seguir.

Andrew olha pra ele. Longo. Intenso. Ele leva a ponta dos dedos para a barra da camiseta de Neil. Depois, passa as mãos por dentro dela, levantando-a lentamente, expondo a pele bronzeada da barriga, o contorno dos músculos, as incontáveis cicatrizes, até tirar por completo e a atirar no chão.

— Então aproveita enquanto eu ainda deixo.

Neil não fala nada.

O quarto está escuro, salvo pela luz suave da rua. A claridade desenha sombras quentes nas paredes, contornando o corpo de Andrew com uma suavidade que contrasta com a rigidez dos ombros dele.

Neil não fala nada quando tira o casaco dele, o atirando na cadeira da escrivaninha ao lado. Os olhos ainda fixos em Andrew, que agora o encara de volta, sem convite, sem recuo. Só olhando. Como se soubesse exatamente o que Neil ia fazer a seguir.

E ele sabe.

Neil se abaixa à frente dele, devagar. As mãos ainda nos ombros de Andrew, os polegares desenhando pequenos círculos por cima do tecido da camiseta. Não era carícia. Era uma leitura. Um reconhecimento.

Andrew permite. Deixa que ele se aproxime mais, que encoste a testa na dele, que respire perto demais.

O silêncio entre eles é tenso, carregado. Mas confortável também. É o tipo de silêncio que dois corpos dividem quando sabem o que o outro vai fazer, e ainda assim esperam.

Neil fala baixo, quase rouco:

— Você me provoca.

Andrew responde no mesmo tom:

— Porque eu sei que você aguenta.

— Você me provocou a noite inteira — Neil fala, olhando para dentro dos olhos caramelos do homem em sua frente.

— Você deixou.

— Eu queria.

Andrew respira mais forte.

Neil continua:

— A forma como você encostou em mim, a forma que ficou no meu colo. Foi como se soubesse que ia me deixar louco.

Andrew olha de volta para ele. Olhos azuis e cílios ruivos, incontáveis sardas por todo o rosto. Cicatrizes. Um corte que atravessa o rosto, do olho até o canto da boca. Ele é lindo. Inteiramente lindo. E Andrew não admitiria isso em voz alta, nunca, mas era todo dele.

— E deixou?

Neil sorri, sem esconder nada.

— Você sabe que sim.

Tudo em Neil fica mais pesado. As mãos deslizam pelas laterais do corpo de Andrew, então nas costelas. O toque é muito cuidadoso, como se quisesse memorizar a geografia dele.

— Às vezes, eu odeio o quanto você me conhece — Neil fala.

— Não é isso que você odeia.

Neil ri. É um som abafado, que morre entre os dois.

Andrew se inclina levemente para frente. A boca chega perto da mandíbula de Neil, perto o suficiente para o calor tocar a pele, mas não o suficiente para ser um beijo. Neil se afasta um pouco, o bastante para puxar Andrew pela gola da camiseta e empurrá-lo de leve para trás. Andrew cede. Ele se deixa ser guiado até a cama. Cai sobre o colchão como se tivesse feito aquilo mil vezes. E tinha.

Neil sobe sobre ele. As pernas firmes, o corpo ainda quente de tudo o que foi reprimido a noite inteira. O rosto do homem embaixo dele está sério, os olhos cortantes.

Mas as mãos em seu corpo eram cuidadosas.

Andrew treme quando os dedos de Neil passam por suas costelas. Só um pouco. Só o suficiente para Neil perceber.

— Você sente — Neil fala.

Andrew não responde. Mas os olhos dele ficam presos nos de Neil, como se aquilo fosse uma resposta em si. Um recado sem palavras, firme e absoluto.

Neil não espera mais. Ele se move com lentidão calculada, o corpo firme sobre o de Andrew, mas sem pressioná-lo, como se reconhecesse o território, como se entendesse até onde podia ir. As mãos voltam às costelas, por baixo da camiseta, de maneira intencional, desenhando os ossos com os polegares, como quem decifra uma língua antiga.

Andrew fecha os olhos por um instante. Longo o bastante para que Neil sinta.

Sinta tudo.

Ele se curva, os lábios tocando a pele da garganta de Andrew, leve demais pra ser um beijo, pesado demais pra ser ignorado. Sente o pulsar forte ali, sob sua boca. A respiração de Andrew se altera quase imperceptivelmente.

Mas é quase.

Neil permanece perto, sem pressa. O calor entre eles se acumula em ondas. Como se os dois soubessem que qualquer movimento em falso poderia fazer tudo transbordar, ou quebrar.

As mãos de Andrew sobem pelas costas dele, curtas, firmes, encontrando muita pele exposta. O toque é direto. Muito quente. Mas ainda contido. Como se não fosse só o anseio o que estivesse ali, mas a necessidade. Pura e inevitável.

Neil se levanta um pouco, apenas o suficiente para encarar Andrew de novo.

Ele quer fazer aquela pergunta, a que eles tanto usaram nos últimos anos. É antiga, aquela pergunta. Uma velha conhecida. Eles a usaram como uma ponte, como um pedido. É com frequência que a usam um para o outro, mas menos agora do que há um ano. Ou dois. Eles se conhecem melhor, também, é mais fácil saber quando um quer ser tocado, quando o outro está em um dia bom, quando um toque mais ousado é permitido. Na cama, ainda é cheio de tensão, então perguntam mais e respondem mais do que no dia a dia ou na rotina entre eles.

No início, era o que os mantinha inteiros. Depois, era só o que os fazia funcionar.

Agora, ela aparece com menos frequência.

Mas quando aparece, ainda importa.

Andrew pode vê-la nos olhos de Neil.

Ele sabe que ela está vindo.

— Andrew, é sim ou...

Andrew não espera.

A mão sobe pela nuca de Neil, dedos firmes, controle exato, e o puxa para baixo de uma vez. A fala morre entre eles. Não há um centímetro para dúvida. O corpo de Neil cede imediatamente, com a mesma familiaridade de quem foi puxado assim muitas vezes. Mas o impacto ainda é novo. Sempre é.

A boca de Neil encosta na de Andrew.

Não é nada calmo.

É um limite cruzado.

É um “sim” físico. É um desafio aceito, uma mistura de controle e entrega. Andrew respira fundo contra a boca dele, os dedos ainda presos à base do cabelo, o calor dos corpos crescendo rápido demais.

Neil não se move por um instante. Só permanece ali, sentindo a mão de Andrew, o toque que responde tudo, que reafirma tudo. Ele fica assim até tudo terminar, até deixar de sentir os lábios macios do outro homem contra os dele.

Ele poderia sorrir. Mas não sorri.

A testa encostada na de Andrew.

— Você nem me deixou terminar — Neil murmura.

— Eu não precisava — Andrew responde, baixo, direto.

Neil fecha os olhos. Uma batida longa de um batimento cardíaco. Depois outra.

— Ainda assim, eu gosto de perguntar.

Andrew solta a nuca, mas a mão desce lentamente até o ombro de Neil, como se ainda quisesse segurá-lo, como se quisesse ter certeza de que o tem.

— E eu gosto de ouvir — Ele admite, quase inaudível.

Silêncio.

Não o desconfortável. O deles.

Neil passa a mão pelo peito de Andrew, os dedos abertos, sentindo os batimentos ali. Lentamente, ele se abaixa até encostar a boca ali, por cima da camiseta, sem nenhuma urgência.

Andrew fecha os olhos quando sente o toque.

A boca de Neil, leve demais para ser posse, firme demais para ser nada. Ele sente o calor ali, mesmo com aquela barreira do tecido, como se o toque fosse tatuado direto na pele.

Neil fica assim por um momento. Não fala. Não se move.

Só respira.

Andrew sente o ar quente atravessando a camiseta fina. A mão de Neil ainda está no seu peito, aberta, repousada.

Aquele silêncio continua se estendendo entre um batimento e outro. É um lugar seguro. Não há máscaras ali. Não há pressa.

Andrew abre os olhos.

Neil ainda está abaixado. Os cílios longos, o maxilar tenso. Há algo contido nele, mas não reprimido. Algo que só existe depois de anos, depois de noites como aquela, depois de três anos.

A mão de Andrew sobe até o cabelo de Neil, afundando entre os fios rebeldes. É um gesto lento. Íntimo. Uma permissão que ele não dá a qualquer um.

— É sempre sim com você — Andrew fala, a voz arrastada, quase sem fôlego.

Ele sabe que Neil se lembra.

Neil abre um sorriso lento contra seu peito.

Ele levanta o rosto para o outro homem. Há algo em seu olhar, firme, quase devoto, que faz as bochechas de Andrew ficarem vermelhas muito rápido.

A mão dele escorrega até a lateral do quadril de Andrew. Ele se inclina, os lábios quase deslizando no queixo dele.

— É sim... ou não?

E Andrew, sem desviar os olhos, leva a mão à barra da própria camiseta.

— É sim.

A camiseta sai por cima e é atirada em algum lugar do quarto. Eles não olham pra onde. Não importa.

Andrew puxa Neil pela cintura, com firmeza.

Neil se inclina. Os corpos se encaixam com a familiaridade de quem repetiu o movimento tantas vezes que ele deixou de ser apenas físico, passou a ser reflexo. Ritual.

A pele de Andrew está quente sob as mãos dele. O peito sobe e desce de forma constante, mas há um detalhe no ritmo, uma linha contida de tensão, de controle, como sempre houve. Neil sente isso nos pequenos músculos sob seus dedos, na maneira como Andrew o observa: alerta, presente, sempre medindo a linha entre o que permite e o que entrega.

Ele respeita isso.

Sempre respeitou.

As mãos dele desenham caminhos pela lateral do corpo de Andrew, com cuidado, intencionalmente. São mãos que machucaram e foram machucadas no passado. E que agora só tocam aquele homem de maneira devota. Com precisão.

Os olhos deles se encontram de novo, quando Neil se senta sobre o quadril dele, as coxas firmes dos dois lados, as mãos pousadas agora no abdômen, como se esperasse, não permissão, mas tempo.

Andrew não fala.

Ele o observa.

E quando desliza as mãos até o quadril de Neil, puxando-o para mais perto, é com muita firmeza que diz:

— Agora.

É um sim. Direto. Irrefutável.

A claridade da rua entra de maneira suave nos contornos dos dois, nos ossos da clavícula de Andrew, nas cicatrizes do rosto de Neil, nas marcas deixadas por partidas e por lutas que só os dois conhecem.

Neil se curva para frente outra vez, os rostos quase colados, o nariz deslizando a lateral do dele, a boca descendo para o seu maxilar. Sente o cheiro dele. A pele limpa misturada ao tecido do dia, o couro, ao suor quase seco da boate, a colônia. É intimidade crua.

As mãos de Andrew apertam sua cintura com mais vontade, fazendo-o ceder um pouco mais, pressionar o quadril contra o dele, e Neil deixa. Deixa porque quer. Porque precisa. Porque só com Andrew é assim, uma disputa de tensões, de vontades que não precisam de palavras.

— Você sente, não é? — Neil pergunta outra vez, sem pensar, contra a pele dele.

Andrew responde da única forma que sabe: virando o rosto e encostando a boca na curva do maxilar de Neil, respirando ali.

E Neil entende.

Eles se movem como dois corpos acostumados um do outro, mas ainda não saciados. Como se, mesmo depois de anos, ainda houvesse novidade. Ainda houvesse muito para descobrir.

O quarto está quieto, mas vivo.

A cama bate de leve na parede.

O quarto clareia e escure quando os faróis de um carro piscam lá fora. As sombras tomam o lugar da luz, muito rapidamente, e os dois se movimentam dentro delas como se o escuro fosse uma linguagem, como se soubessem ler um ao outro mesmo sem ver.

Neil ainda está por cima dele, as mãos no colchão, o corpo abaixado. A respiração dos dois não está mais calma, mas ainda não é urgente. É tensa. Precisa. Como se cada segundo fosse contado.

Andrew o puxa para perto de novo.

Os corpos se alinham. Os quadris se encontram de maneira contida. E quando Neil beija Andrew outra vez, agora com mais firmeza, agora deixando que os dentes raspem de leve no lábio inferior dele, Andrew retribui. Com controle, mas sem hesitar.

O beijo tem gosto de tudo que foi acumulado durante a noite. Do não dito. Do provocado. Do adiado. As mãos de Neil correm pelo peito de Andrew, descendo, marcando o caminho com as unhas. A pele quente. O corpo pronto. Conhecido.

Mas nunca, nunca indiferente.

Andrew os inverte sem nenhum aviso. Um movimento rápido, decidido, que vira Neil contra os cobertores. Andrew o olha de cima. E Neil, mesmo sem ver os detalhes do rosto dele, sabe. Ele sabe que Andrew está olhando pra ele como se dissesse: deixa que eu cuido disso.

Neil não responde com palavras. Ele não precisa.

Seu corpo deu permissão para isso há muito tempo, no modo como se entrega ao colchão, como afasta uma perna lentamente para dar mais conforto para aquele corpo em cima dele, como espalma a mão no peitoral de Andrew com os dedos tensos, sentindo o seu batimento acelerado, tentando mantê-lo ali, com ele.

Andrew se abaixa mais, o rosto perto o bastante para que o ar que sai de um encontre o do outro. E por um instante, eles ficam assim, só respirando um contra o outro, os olhos fixos, mesmo no escuro.

A boca de Andrew toca a pele de Neil com uma precisão firme. O tipo de toque que é feito por quem conhece cada limite. Cada ponto de silêncio. Cada marca que foi feita antes. Os lábios continuam o caminho da clavícula até o maxilar, lentamente. Sem pressa. Como se estivessem desenhando de memória. E talvez estivessem.

Neil fecha os olhos. Sua mão sobe até a nuca de Andrew, enterrando-se nos fios loiros, puxando só o suficiente para lembrar que ele está ali, ele ainda quer isso, ele ainda quer estar contra aquele homem e o colchão macio.

Andrew murmura algo contra a pele, baixo demais para ser entendido. Depois, morde de leve o seu maxilar, um aviso mudo. E Neil sorri, sabendo que não podia mais evitar isso.

O toque vai ficando mais firme.

Andrew se afasta um pouco, por um instante, apenas para tirar o que resta de tecido entre eles. As roupas são removidas com cuidado, com precisão, com a intimidade de quem fez aquilo outras vezes, mas que ainda faz como se fosse a primeira. Andrew deixa um rastro delas com o cheiro da boate por todo o quarto, as atirando na escuridão, não se importando em ter que arrumar tudo pela manhã.

Andrew volta a se deitar sobre Neil, pele contra pele.

O corpo de Andrew cede sobre Neil. O colchão afunda com o peso deles. Neil inspira fundo. O calor da pele de Andrew, o toque firme das mãos em suas costelas, os quadris alinhados, o seu pau tocando o dele, tudo se encaixa com uma precisão silenciosa.

As mãos de Neil sobem pelas costas de Andrew, mapeando cada linha, cada tensão. Ele sente os músculos se moverem sob seus dedos, sente o ar mudar quando toca certo ponto. Eles se conhecem, até o silêncio entre um toque e outro.

Andrew se move com controle, mas há algo nos olhos dele, mesmo sob a penumbra, que denuncia o que está por trás. É o tipo de vulnerabilidade que ele não oferece ao mundo. Ele só oferece a Neil.

Os dedos de Andrew percorrem as coxas de Neil como se quisessem confirmar que ele está ali. Como se ainda fosse difícil aceitar a entrega com tanta facilidade, com tanta clareza. Como se uma parte dele esperasse que Neil recuasse. Mas Neil não recua.

O toque de Andrew é meticuloso. É concentrado. Cada movimento tem peso. E, ainda assim, é cheio de algo vulnerável. Algo que ele não nomeia, mas que escapa nos dedos que apertam com um pouco mais de vontade. Na forma como ele se curva contra Neil, se encaixando ali, pele contra pele.

Andrew se movimenta, para a frente e então para trás, contra o corpo de Neil. Ele sente o seu pau se deliciar com aquilo, se apertar contra o seu estômago e o pau do homem que está embaixo dele. Andrew aperta os olhos e abre a boca, tentando conter o lamento que luta tanto para escapar dentre os seus lábios.

Neil sente tudo.

Ele sente a forma como Andrew treme, quase imperceptível, quando ele pressiona a palma da mão contra a base de sua coluna e o puxa para mais perto. Ele sente o arrepio que nasce do contato e se espalha rápido. Ele sente a tensão que cede a cada toque repetido, e a cada vez que Andrew permite que ele vá um pouco mais fundo, um pouco mais longe, descendo a mão para a sua bunda, deixando um aperto nela.

E ele sente tudo em seu próprio corpo também.

O sangue correndo a cada minuto mais rápido, indo direto para baixo, conforme os seus corpos se friccionam. O calor nas extremidades, principalmente na mão de Andrew subindo por sua coxa. A mente oscila entre o presente e a memória de cada vez que estiveram aqui anteriormente.

Andrew não perde tempo. Ele leva a mão para o meio das pernas de Neil, a espalmando em seu pau, e fecha os dedos ao redor da pele macia, tirando um gemido manhoso da boca do outro homem.

Andrew solta o ar, lentamente.

Ele se estica até a mesa ao lado da cama onde está a luminária. A claridade acerta o rosto deles em cheio.

— Eu preciso olhar pra você enquanto faz isso. — Andrew fala, a voz mais rouca do que o normal, presa na garganta.

Neil o encara com a boca aberta, as bochechas vermelhas, destacando suas sardas e cicatrizes, com os olhos azuis e cristalinos mais bonitos. Andrew lembra do exato dia, da hora e do minuto, em que os viu pela primeira vez. Ele se lembra de pensar que, ali, naquele momento, estava completamente fodido.

— Você está... — Neil fala, levando a ponta dos dedos para tocar o rosto de Andrew — ... me olhando diferente.

Andrew aperta o seu pau apenas para ver os olhos de Neil se fecharem, a sua boca se abrir. Ele morde o lábio inferior para conter um lamento.

— Estou só focado — Ele fala, sem ironia, sem escudo.

Neil ri, baixo. O som se desfaz entre eles.

— Você sempre foca assim em tudo?

— Não.

As mãos de Neil descem para os ombros de Andrew, sentindo a tensão se mover debaixo da pele. Ele pressiona os dedos na base de sua nuca, só para ver a resposta. Andrew curva os ombros um pouco mais, como se cedesse sem resistência.

— Você está deixando — Neil fala, quase surpreso.

Andrew olha para ele.

— Estou.

— Mais do que o normal.

Andrew dá de ombros.

A pausa é longa. O suficiente para que Neil entenda o peso do que aquilo significa.

Ele continua:

— Por quê?

Andrew demora um instante para responder. Ele desliza a mão em seu pau, para cima e para baixo, o masturbando lentamente, tão lentamente que Neil crava as unhas na pele dos ombros dele.

— Porque eu quero.

Neil deixa a mão correr para a lateral do rosto de Andrew.

— Me fala se eu for longe demais.

Andrew fecha os olhos para aquele toque.

— Você foi.

Ele abre de novo, e completa:

— E ainda assim, eu estou aqui.

Neil morde o próprio lábio.

— Eu sei.

Eles se movimentam. Lentamente. Um contra o outro. O tempo todo. As mãos de Neil deixam rastros onde tocam. E Andrew continua o masturbando, movendo sua mão com firmeza, saboreando tudo, desde as pernas de Neil se apertando ao redor dele até os xingamentos que ele solta contra a sua boca, mais baixo, para não acordar a casa toda.

— Eu acho que não vou conseguir ficar em silêncio — Neil fala, se atirando contra o colchão, sentindo o corpo todo entrar em combustão.

A mão de Andrew mantém o ritmo, firme e cuidadoso, como se conhecesse cada reflexo antes mesmo de acontecer. E conhecia. O corpo de Neil fala. Sempre falou. Desde o primeiro toque, desde o primeiro olhar. E Andrew aprendeu a escutá-lo.

Neil morde o punho para conter o som. Os olhos apertados, a pele quente demais. O colchão parece muito pequeno. O quarto, abafado. O mundo, distante.

— Você está fazendo de propósito — Ele murmura, a voz saindo abafada contra a sua mão. — Me torturando.

Andrew se inclina, um dedo indo para a fenda do pau de Neil, o rodeando, o cravando ali, bem no meio.

O corpo de Neil responde antes mesmo da mente processar. Ele arqueia os quadris, prende o ar, solta um gemido contra o ombro de Andrew, o mordendo, não muito levemente, no processo.

Andrew não se afasta com a mordida. Pelo contrário. O som que escapa dele é curto, quase um riso grave preso entre os dentes. Um tipo de resposta que Neil reconhece, e que só ele tem o privilégio de provocar.

— Então fica quieto — Andrew fala contra a pele da curva do ombro dele, com a voz baixa, calma, quase debochada.

Mas o toque continua.

Neil sente a espiral crescer, rápida e sem freio. Cada nervo do corpo parece responder ao toque de Andrew com uma intensidade impossível. Ele não quer, não consegue, controlar mais nada. Os quadris se movem por reflexo, as pernas se tensionam ao redor do corpo de Andrew, puxando, segurando.

A boca dele encontra o maxilar de Andrew e permanece ali, ofegante, aberta, tentando prender o som contra a pele.

— Porra, Andrew...

É um aviso e um pedido, tudo ao mesmo tempo.

Eles soltam o fôlego ao mesmo tempo, misturado ao som abafado do colchão, aos dedos que se afundam, aos músculos que estremecem. Andrew beija o maxilar de Neil, depois a curva do queixo, com uma lentidão que contrasta com o ritmo da mão. Ele o conhece inteiro. Sabe exatamente quando o provocar mais, quando o empurrar até o limite.

E também sabe quando parar.

Ele afasta a mão do pau de Neil, levantando o corpo de cima dele, se deixando ficar no meio das pernas do outro homem. Andrew o olha de cima, contente com o que está vendo, tão contente que, em outro tempo, poderia ter facilmente achado que aquela cena não era real.

Neil está completamente destruído. Ele ainda não está no ápice, mas Andrew sabe que ele está perto. Ele tinha que parar naquele momento ou a brincadeira da noite terminaria muito cedo. Andrew não quer isso.

Neil coloca uma mão no rosto, o riso o invadindo.

— Você está tentando me matar — Ele fala, com a voz rouca, o ar faltando em seus pulmões.

Andrew se abaixa novamente até ele, apoiando a testa na clavícula dele, imóvel por um momento.

— Ainda não.

P ar quente que sai de Andrew toca a pele úmida de Neil, ainda acelerada. Ele permanece ali por um momento, com a testa na clavícula de Neil, como se estivesse cravando aquele instante na memória, ou se dando tempo para não perder o próprio ritmo.

Neil sente a mão de Andrew deslizar lentamente pela lateral do seu corpo, mais gentil do que provocativa, como se dissesse que ainda não tinha acabado. E realmente, ainda não.

— Você tem sorte que eu gosto de você — Neil fala, o sorriso ainda preso nos lábios, a voz baixa, quebrada.

— Você gosta, é? — Andrew fala, sem hesitar.

Ele se afasta de novo, mas os olhos continuam sobre Neil. Observando. Admirando. Cuidando, à sua maneira. Neil tira a mão do rosto e o olha de volta. O peito ainda sobe e desce de maneira acelerada.

Andrew desliza os dedos pela parte interna da coxa de Neil, ainda ali entre suas pernas, como quem conhece o caminho de volta. Mas não pressiona. Só toca. Sentindo.

— Vai me deixar respirar ou isso foi só o intervalo? — Neil pergunta, meio rindo, meio desafiando, meio suplicando.

Andrew levanta uma sobrancelha.

— Você está respirando agora. Isso é mais do que eu devia deixar.

Neil ri de novo, se deixando cair para o lado.

— Sádico.

— Você gosta — Andrew devolve.

E então ele se move.

Lento. Intencional.

Mas a sua mão não vai até o pau de Neil, não de novo. Ela se move mais para baixo, até os músculos de sua entrada.

Neil morde o lábio quando percebe isso. Andrew olha para cima, para o seu rosto, esperando que o outro homem se afaste ou o empurre para o lado, que o mande parar com tudo isso. Mas não. Neil abre um sorriso e concorda. Ele quer isso.

Andrew observa o sorriso de Neil, aquele quase contido, que só aparece quando ele está completamente rendido.

A mão de Andrew permanece ali em sua entrada, nenhum dedo a invadindo ainda. Ele apenas repousa, como se estivesse pedindo algo sem falar. E Neil, com o corpo ainda trêmulo e os olhos brilhando, respira fundo e concorda novamente.

Andrew se inclina sobre ele, a testa tocando a lateral do rosto de Neil, o nariz encostando na têmpora.

— Me fala se mudar de ideia — Ele fala, implora.

Neil vira o rosto para ele, tocando a boca contra a bochecha de Andrew.

— Eu não vou mudar.

A resposta é firme. Mais ainda: é verdadeira.

Andrew desliza um dedo com cuidado, com a delicadeza de quem conhece todos os limites e ainda assim pede permissão a cada passo. Neil fecha os olhos, a respiração acelerando de novo, não por medo, mas como quem está prevendo a pressão. Pelo calor que sobe, lentamente, com o movimento.

Neil o segura com firmeza pelos ombros, por necessidade. Para ter algo onde se ancorar. Para lembrar que aquilo está mesmo acontecendo.

E quando Andrew se movimenta, lento e preciso, quando aquele dedo entra tão fundo dentro de Neil que ele é quase capaz de enlouquecer e implorar por mais, Neil pensa, com muita clareza, que nunca se sentiu tão exposto e, ao mesmo tempo, tão bem cuidado.

O tempo se dobra. Entre o calor que cresce sob a pele. Entre o caramelo do olhar de Andrew que não desvia dos olhos azuis de Neil, nem mesmo por um minuto.

Neil se move contra a mão dele, buscando mais, e ao mesmo tempo tentando controlar o quanto quer aquilo. Mas o controle escapa pelas pontas dos dedos, assim como o fôlego entrecortado e o arrepio que se espalha a cada investida lenta, medida, paciente.

Andrew curva o corpo mais para frente, assim como o dedo dentro de Neil. Ele tem os ombros tensos. Cada movimento que faz dentro do outro homem é como uma pergunta. E cada som que sai de Neil, como um gemido abafado, um suspiro engolido, ou um gesto como uma mão arranhando as suas costas, é a resposta.

— Você ainda está bem? — Andrew pergunta, a voz rouca, baixa, tão perto que parece estar dentro do próprio peito de Neil.

Neil abre os olhos, e quando os fixa nos dele, há muita certeza.

— Eu estou... — Ele fala, entre um fôlego e outro, com o rosto levemente vermelho de calor. — Eu estou ótimo.

Andrew permanece ali, o olhar fixo, como se quisesse ter certeza absoluta. E então ele se inclina para frente e encosta os seus lábios no dele.

Neil segura o rosto de Andrew com as duas mãos, os polegares passando lentamente pelas bochechas do rosto dele, como se aquilo pudesse mantê-lo no lugar. Como se quisesse gravar cada linha, cada momento, cada batida.

— Andrew... — Ele sussurra, quase sem voz.

E Andrew entende.

O corpo dele se movimenta de forma mais intensa. O dedo que está dentro de Neil é retirado com cuidado por um instante, apenas para que, no momento seguinte, volte com mais um. Enquanto isso, eles sentem seus corpos se alinhando com naturalidade.

Neil vacila por inteiro quando mais um dedo entra com cuidado, pressionando com firmeza e precisão. Ele não precisa de mais nada para sentir o corpo inteiro acender. Mas não é só isso. Não é só o toque. É o peso da intimidade. É a forma como Andrew faz tudo com respeito

Neil leva as mãos para o cabelo dele, sentindo o cheiro do creme, a forma como cada fio era macio em sua mão. Ele quer esconder o rosto ali.

Neil também quer falar que o ama.

Ele sabe que não devia pensar nisso.

Eles não falam sobre esse sentimento. Mesmo que ele exista.

Eles não falam. Porque falar isso quebraria o que eles têm naquele momento. Não porque não é verdade, mas porque seria demais. É atravessar uma linha que eles, ainda, não atravessam um com o outro. E Neil respeita isso. Como tudo mais que é Andrew, ele respeita.

Andrew o observa de perto. As pupilas dilatadas, a mandíbula tensa, os músculos dos ombros firmes sob a luz fraca. Ele percebe a luta em Neil, o silêncio, o toque que aperta um pouco mais.

Ele percebe e não fala nada.

Ele não pode.

Não ainda.

Ele torce para um dia poder.

E com um olhar, Neil entende. Ele sempre entende.

É assim que eles funcionam.

O corpo de Neil responde com facilidade ao toque. Ele está quente, inteiro, aberto. Neil respira fundo, tentando manter o foco, mas tudo é demais. O calor. A pressão. A forma como Andrew conhece exatamente os limites dele. A maneira como ele entra um pouco mais fundo dentro dele, dobrando os dedos, os rodeando, o empurrando até bem perto daquele ponto que ele sabe que irá o fazer desmontar.

O colchão afunda. As pernas de Neil se contraem, o corpo arqueia de leve, instintivo. As mãos dele ainda estão no cabelo de Andrew, mas agora os dedos apertam, puxam, seguram como se quisessem manter tudo exatamente onde está, como se quisessem impedir o momento de escapar.

No momento em que Andrew retira os dedos de novo, Neil solta um suspiro profundo. Ele está frustrado, ele está ansioso. E quando Andrew se posiciona entre suas pernas, apoiando os quadris com calma, o olhar firme e silencioso, Neil o encara como se aquele fosse o momento mais verdadeiro da noite inteira.

— Vai. — Neil fala, deixando o seu corpo completamente atirado contra o colchão, exausto, mas ainda cheio de vontade — Me fode como você sabe.

Andrew tira um instante para olhar o corpo de Neil em sua frente. Ele é cheio de inúmeras cicatrizes, marcas de uma batalha vencida há muito tempo. Ele ama cada uma delas, mesmo sem dizer, mesmo sem contar para Neil, mesmo que ele saiba. Andrew sabe que deveria aprender a se comunicar melhor, mostrar que ele não é uma pessoa sem sentimentos, que ele realmente se importa. Mesmo que ele demonstre tudo isso de outra forma, ele ainda quer ser melhor em falar, mas não sabe se um dia isso se tornará mais fácil.

Ele coloca o seu pau contra a entrada de Neil. Ele o pressiona ali, lentamente, não forte o bastante para o invadir. Mas Neil sente. O corpo inteiro dele treme. Ele abre a boca para falar ou implorar, ele realmente não sabe. Andrew o observa, atentamente, procurando qualquer sinal que o faria parar. Neil sabe que ele é cuidadoso, atencioso, ainda mais quando estão na cama, então ele deixa Andrew saber que está adorando o que está sendo feito com ele, gemendo de forma manhosa, o mandando continuar, o implorando para isso, deixando claro o quanto aquilo era bom.

Neil sente aquela entrada lenta, o fazendo prender o ar e sentir o mundo se estreitar àquela única sensação: Andrew está dentro dele. É aquela pressão deliciosa no meio das suas pernas, dentro dele, o invadindo. O corpo se abrindo, se moldando ao outro homem.

E é demais.

Mas não de uma forma assustadora.

De uma forma incrível.

Neil mantém os olhos fechados por um instante, a testa levemente franzida, os lábios entreabertos. Ele sente tudo, cada centímetro cedendo, cada músculo se adaptando, cada parte do corpo reconhecendo o que está acontecendo e aceitando com prazer.

A pressão é densa. Impossível de nomear.

Andrew não se move rápido. Ele permanece ali por um minuto, ainda imóvel, apenas permitindo que o corpo de Neil o receba. As mãos repousam sobre as coxas dele, firmes, presentes. Os polegares fazem círculos lentos ali, como se acalmassem os dois ao mesmo tempo.

Neil solta um gemido abafado, a voz manhosa, cheia de luxúria.

— Mais...

A voz falha, mas não hesita.

E Andrew ouve.

Ele se move lentamente, o quadril indo e voltando, como a maré. Não há pressa. É só o corpo aprendendo até onde pode ir, até onde o outro quer.

Neil geme de novo, mais alto. As pernas se apertam ao redor de Andrew, os dedos se cravando no colchão, procurando, ansiando uma âncora.

— Andrew — Ele sussurra, como se conhecesse apenas esse único nome no mundo — Isso mesmo. Sim. Não para. Não para nunca.

Cada estocada lenta é uma resposta. Cada vez que Neil geme ou suspira ou se curva para mais perto, é como um:

Sim.

Continua.

É você que eu quero.

E Neil, ainda com a boca aberta, o corpo arqueado e as pernas presas ao redor de Andrew, pensa com uma clareza absoluta que, antes dele, ninguém nunca o tinha tocado assim. Antes dele, ninguém nunca tinha o visto dessa forma.

Andrew empurra com mais firmeza, ainda sem pressa, mas com vontade. Ele está totalmente dentro de Neil. Ele se controla muito para não o estocar como quer, com vontade, deixando todo aquele tesão correndo em suas veias se derramar para dentro daquele homem.

Andrew está ali. Inteiro. Firme. Ele se deita por cima de Neil, abrindo as suas pernas ainda mais, se acomodando entre elas. Ele está ali, dentro de Neil, mas também ao redor, por cima, por todos os lados, como se o mundo de Neil tivesse se reduzido ao calor dos quadris dele, à forma como ele respira contra sua pele, ao modo como seus dedos apertam sua cintura como quem ainda tenta se controlar.

Andrew se curva mais, o rosto próximo demais, o nariz tocando a bochecha suada de Neil. O ar entre eles se une, quente. A mão de Andrew escapa para a lateral do rosto dele, os dedos se encaixando sob sua mandíbula.

Ele quer ver. Ele precisa sentir. E saber se ainda está tudo bem.

Neil o puxa para mais perto com as pernas, o corpo buscando mais, querendo tudo, o toque, o peso do corpo dele, a forma como tudo é sobre aquele delicioso atrito, deslizando entre o suor.

— Andrew... — Ele sussurra, quase como um suspiro. — Eu não vou aguentar.

— Você vai. — A voz de Andrew é baixa, rouca, quebrada pela tensão que segura no próprio corpo. — Você aguenta. Me deixa te ver assim.

E ele continua. Agora mais fundo.

Neil sente o clímax se aproximar, feroz e inevitável, construído em camadas, em estocadas firmes que se perdem, em gemidos abafados e olhares que dizem mais do que qualquer palavra ousaria.

Andrew está suado. Os cabelos grudam na testa. A respiração é instável. O corpo inteiro se segura para não ceder antes da hora. Mas Neil é demais. A forma como ele o envolve, como geme contra sua boca, sedutor, cheio de luxúria, como segura sua cintura com vontade, com unhas que arranham a sua pele, deixando marcas vermelhas.

Andrew sente o corpo reagir. É instintivo. Incontrolável.

Ele está no limite. E ele sabe que Neil também está.

O corpo debaixo dele vibra com tensão, o prazer acumulado a ponto de explodir. Neil se movimenta contra ele com urgência, como se estivesse se perdendo e adorando isso. As pernas ao redor de Andrew apertam mais, tudo é um caos, o suor escorre pelas têmporas.

E então Neil fala. É baixo, rápido, entre um lamento e outro.

— Não para. Continua, Andrew, assim. É exatamente assim.

Mas antes que termine, Andrew leva uma mão à boca dele. Suave, mas firme. Os olhos de Neil se arregalam por um instante, o corpo ainda em movimento. O ar escapa entre os dedos de Andrew, quente e desesperada.

— Vai acordar a casa inteira — Andrew sussurra, colado ao ouvido dele. A voz rouca, tensa, abafada para tentar se manter no controle. — Fica quieto pra mim.

E Neil... obedece.

Os olhos se fecham. O corpo treme.

Mas ele não fala mais. Ele geme contra a mão de Andrew, abafado, quebrado, se curvando ao toque e à ordem, totalmente rendido.

Andrew continua. Mais fundo.

Neil está à beira do precipício. O corpo todo diz isso. E quando vem, é intenso. Um arco inteiro de prazer que o atravessa sem misericórdia. Ele morde a palma da mão de Andrew, não fortemente, mas o suficiente para conter o grito que o rasgaria por dentro.

A tensão que Andrew mantém até ali vai se desfazendo em ondas, primeiro nos ombros, depois no abdômen, no quadril, até perder totalmente o controle de tudo. O prazer explode dentro dele de forma crua, silenciosa, mas definitiva. Ele se curva sobre Neil, pressionando o rosto contra o cabelo úmido.

Neil ainda se move por baixo dele, o quadril tremendo, como se o corpo também tentasse acompanhar o próprio fim. Ele arfa contra a palma da mão de Andrew, os olhos apertados. Há um rubor intenso em suas bochechas, e uma expressão no rosto que Andrew nunca esqueceria, ele estava rendido, mas também havia carinho demais para caber só naquele instante.

Andrew retira a mão da boca de Neil. Os lábios do outro homem ainda estão entreabertos, úmidos, trêmulos e vermelhos. Ele respira fundo, tentando se recompor, ainda envolto no calor do toque e do que acabou de acontecer.

Neil vira o rosto para o lado, sorrindo contra o travesseiro.

— Você calou a minha boca. Literalmente — Ele murmura, quase rindo, ainda ofegante.

Andrew se afasta de Neil, lentamente para não o machucar, deitando ao seu lado. Ele responde baixo:

— E funcionou.

Neil vira de lado, de frente para Andrew. O cabelo ruivo colado à testa, a pele ainda brilhando com suor, os olhos semicerrados, sonolentos de prazer.

— Só porque eu deixei — Ele provoca, com um sorriso cansado, mas cheio.

Andrew o observa por um minuto. A boca em um sorriso atrevido. O peito subindo e descendo. O corpo inteiro relaxado, vulnerável de uma forma que ele só vê ali, naquele depois. Naquele momento em que nada precisa ser provado.

— Eu sei — Andrew responde.

Ele passa a mão pela lateral da coxa de Neil, só para tocar. Para sentir que ele ainda está ali. Para ter certeza de que ainda é dele. O toque é leve, mas cheio de sentimento. Como quem memoriza mais uma vez o que conhece de cor.

O quarto está quente, abafado. Mas eles não se afastam.

Neil fecha os olhos, a mão indo até o peito de Andrew. Os dedos se espalham ali, como se aquele fosse o lugar mais natural do mundo para repousar.

— Devíamos ir tomar banho — Neil fala, sem nenhuma vontade real de se mexer.

Andrew não responde de imediato. Ele está com os olhos abertos, encarando o teto.

Mas então ele murmura:

— Só mais um minuto.

Neil sorri, os olhos ainda fechados.

— Só mais um — Ele repete, enfim.