Chapter Text
Eu odeio acordar cedo. Sempre odiei.
O som do despertador é uma das coisas que mais me irrita, principalmente nos dias de inverno, quando tem neve caindo lá fora e minha cama é tão aconchegante e quentinha.
Sentei na cama e senti um calafrio, provavelmente estava perto dos dez graus. Resmunguei sozinho, pensando em mil e uma desculpas para faltar a aula naquele dia — mesmo sabendo que minha mãe me repreenderia em qualquer cenário —, acabando por me levantar e começar a me vestir.
Estava realmente frio, então tratei de colocar várias peças de roupa para me aquecer. Como sou um ômega, não consigo me esquentar tão facilmente quanto os alfas e betas — ou sem a presença de um deles —, então me enchia de roupas, já que eu também odeio passar frio.
Peguei minha mochila jogada no chão e desci até a cozinha, onde meus pais tomavam café. Minha mãe, Daeun, é uma alfa e meu pai, Taesuk, um ômega, eu sou filho único, mas meus pais nunca demonstraram querer mais um filho.
— Bom dia, filhote — sorriu minha mãe, aproximando-se e deixando um beijo na minha testa.
Em resposta, apenas resmunguei. Eles já estavam acostumados com meu mau humor matutino, visto que meu pai é igual. Tomamos o café em um silêncio confortável até eu me levantar, anunciando que iria para escola. Peguei o almoço que minha mãe preparou e saí de casa.
O caminho até a escola não era longo, cerca de dez minutos de caminhada, mas o clima frio deixava cada passo mais demorado, o vento cortante deixava minhas mãos geladas e a ponta do meu nariz vermelho. A manta branca em meu pescoço cobria minha boca, e o gorro da mesma cor protegia meus ouvidos. Eu sabia que estava parecendo um tofu, mas sentia muito frio para me importar.
Quando avistei o portão da escola, dei graças aos céus, e apressei um pouco o passo para chegar mais rápido. Mas claro, Lee Jihoon não podia começar o dia sem se estressar com alguém. Dessa vez, foi quando alguém passou correndo e esbarrou em mim, provavelmente algum alfa estabanado e mal educado, empurrou-me com tanta força — ok, talvez nem tanta —, que quando percebi, eu estava no chão. Ter usado as mãos como apoio pareceu uma péssima ideia quando o frio fez a dor ficar mil vezes pior.
Estava tão distraído amaldiçoando aquele alfa e toda sua família que nem notei quando uma mão foi estendida na minha direção. Ergui os olhos para a pessoa.
— Você está bem? — perguntou um garoto, os olhos pequenos mostravam certa preocupação. — Aquele idiota quase te jogou longe.
Segurei a mão dele e logo fui puxado do chão muito facilmente, mesmo que suas mãos estivessem trêmulas pelo frio. Tem a força de um alfa — pensei.
— Obrigado — respondi baixo, voltando a colocar as mãos nos bolsos. — Estou bem.
— Está indo para escola, certo? — perguntou o suposto alfa. — Eu lembro te ter visto você pelos corredores, mas você não deve se lembrar de mim, não é? — riu ele, caminhando ao meu lado. Já eu, ainda estava processando o tombo que levei.
— Não, acho que não — respondi sincero, andando com a cabeça baixa. Meu nariz havia entupido por causa do frio, então não conseguia sentir o cheiro do garoto.
— Imaginei, mas também você está sempre lendo um livro — apontou ele, fazendo-me franzir as sobrancelhas. Entretanto, não era uma total mentira. — É Jihoon, certo?
— Sim, Lee Jihoon — falei, virando o rosto para vê-lo melhor. — E você?
— Sou Kwon Soonyoung — estendeu a mão formalmente. Esgueirei o olhar, mas acabei por apertar a mão dele. — Muito prazer — sorriu abertamente. — Você está no segundo também, né? Quantos anos você tem? Dezessete?
— Ah, sim… — murmurei, levemente atordoado pela energia que Sooyoung exalava. Como alguém era tão bem humorado pela manhã? — Eu vou indo, Soonyoung — interrompi o maior, que falava quase sem parar. — Minha sala é para cá — menti.
— Tudo bem — sorriu novamente. — Legal falar contigo. Até mais.
— Até — disse, baixinho.
Assim que ele continuou seu caminho, segui pelo corredor, procurando meus amigos.
— Por que estava falando com Soonyoung? — a voz de Jeonghan hyung soou atrás de mim.
Após me recuperar do pequeno susto, revirei os olhos.
— Um idiota me derrubou perto do portão, Sooyoung me ajudou a levantar e depois não parou de falar — expliquei a história, vendo Jeonghan rir e bater em meu ombro.
— Ele é falante mesmo — constou o Yoon.
— De onde vocês se conhecem? — perguntei, ajeitando a alça da mochila antes de começar a andar ao lado de Jeonghan, aproveitando-me do calor característico de alfa que ele tinha.
— Ele é amigo do Seungkwan, e eu falei com ele em algumas festas que o Boo faz. Ele é muito falante mesmo — contou Jeonghan, rindo baixo, suas mãos acariciavam o casaco felpudo que eu usava. — Mas ele é fofo, o que quase é incomum para um alfa.
— Ele é alfa? — perguntei, olhando para o maior um pouco surpreso.
— É, sim. Apesar da personalidade e do cheiro peculiar — explicou.
— Você também é assim — apontei, vendo o Yoon rir e dar de ombros. — Seu cheiro é um dos poucos que eu consigo suportar.
— Esses alfas de hoje em dia, né? — brincou, empurrando-me com o ombro.
— Não entendo como você é tão bem humorado logo numa segunda de manhã — resmunguei os mesmos pensamentos de mais cedo quanto à Sooyoung.
Jeonghan apenas deu de ombros.
Seguimos pelo corredor enquanto o alfa tagarelava sobre Seungcheol, um ômega pelo qual estava apaixonado e namorava há quase dois anos — e todos sabiam disso —, eu já estava acostumado com meu amigo falando sem parar, até aprendi a filtrar suas falas e processar somente o que era importante. Nesse caso, nada.
[...]
Assim que Jeonghan me deixou na porta da minha sala, tomei meu lugar no fundo perto da janela. O professor de física sempre chegava atrasado, então todos os alunos estavam conversando — uns mais alto do que outros. Como Wonwoo — um outro amigo meu — ainda não havia chegado, eu fiquei quieto em meu canto, sem muita coisa para fazer.
Foi quando lembrei do livro que eu estava lendo guardado na minha mochila. Me virei na cadeira e achei o bendito entre alguns cadernos e apostilas.
Ensina-me a viver
Minha mãe havia achado esse livro em algumas caixas dela e deu-o para mim, sabendo que eu gostava de ler. Ela também conhecia minha preferência secreta por romances, então achou que eu poderia gostar do livro.
Assim que abri na página marcada, vi a silhueta alta de Wonwoo chegar e se jogar na cadeira à minha frente, respirando ofegante.
— Wonwoo, pelo amor de Deus — ralhei consigo, fechando o livro e o deixando embaixo da mesa. — Você precisa começar a dormir mais cedo, não dá para chegar atrasado três dias de uma semana composta com cinco.
— Eu estou muito cansado para te ouvir agora, Jihoon — murmurou, encostando a cabeça na parede e fechando os olhos, enquanto puxava o ar pesadamente para os pulmões.
Neguei com a cabeça, empurrando a carteira para um pouco mais perto da dele.
— Fala sério, o que você estava fazendo dessa vez para acordar atrasado? — perguntei, apoiando meus cotovelos sobre a mesa e meu rosto sobre as mãos — me arrependendo muito rapidamente pelo quão frias elas estavam.
— Eu fiquei jogando online com uns meninos — contou ele, ajeitando os óculos redondos. — Acabamos perdendo a noção do tempo.
— Sei — disse ajeitando o caderno de física na mesa quando o professor chegou na sala, pedindo desculpas pelo atraso. — Começa a dar um rumo na sua vida, senão você vai acabar levando bomba por tantos atrasos.
— De novo: — ele falou baixo, tirando os materiais da mochila escura —, muito cansado para ouvir você.
— Essa sua surdez é muito seletiva — resmunguei e logo ficamos em silêncio para ouvir a aula.
[...]
Quando o sinal para o intervalo tocou, a maioria dos alunos correram para fora da sala. Com medo de ser atropelado por esse bando de desesperados, eu fiquei pra trás esperando eles saírem e segurei Wonwoo para que me esperasse. É muito fácil de mandar no Jeon, mesmo ele sendo um alfa com A maiúsculo, ele fazia minhas vontades quando eu pedia. O cheiro dele de limão é forte e característico, mas eu o acho suportável.
Andamos até a cantina à procura de Jeonghan, que estava sentado em uma das mesas com Seungcheol, seu namorado. Era até desconfortável pensar em comer enquanto os dois estavam no maior love — para não dizer que eles estavam praticamente tentando se engolir —, felizmente eles pararam quando chegamos perto e sentamos na frente dele. As orelhas e bochechas de Seungcheol estavam vermelhas, enquanto ele escondia o rosto do peito do Yoon, envergonhado com a situação.
— Obrigado por pararem, não ia conseguir comer com vocês se pegando na nossa frente — falei abrindo meu almoço. Jeonghan revirou os olhos, abraçando o Choi.
— Eu acharia difícil olhar para outra coisa — ouvi uma voz dizendo e ergui o olhar, vendo uma garota sorrindo atrás do casal à minha frente.
— Aish, sua tarada — Jeonghan ralhou, batendo de leve no braço coberto pelo moletom amarelo. — Vai ficar com seu ômega, Somin.
— Ele está em casa, ficou gripado por causa do frio — explicou ela, apoiando as mãos sob a mesa e sorrindo.
Jeon Somin é uma das garotas populares do colégio, e não era atoa, não. Ela é uma alfa, bonita, com cheiro marcante e, acima dessas coisas bestas, ela é forte, confiante e legal com a grande maioria das pessoas.
— Vou passar lá depois da aula e levar um chocolate quente para ele — ela completou.
— Jinseok é um ômega de sorte — murmurei baixo, mexendo em minha comida quando fui surpreendido como a alfa que, abruptamente, se aproximou de mim, me fazendo recuar um pouco e olhá-la assustado.
— Não seja por isso, fofinho — ela disse, aproximando seu rosto do meu, enquanto eu continuava me afastando. Podia ouvir os demais presentes na mesa rindo baixo pela cena. — Eu posso comprar um para você também, se quiser — sorriu, piscando um olho.
— Somin, para. Você vai quebrar o Jihoon — Wonwoo interferiu, passando seu braço — para lá de pesado — sob meus ombros e me puxando na direção dele. — Ele é um ômega muito tímido.
— Me poupe, Wonwoo — resmunguei, me afastando de si. — Obrigado, Somin, mas eu estou bem — falei encarando a alfa.
_ Tudo bem — ela sorri e ajeita a postura. — Mas se quiser, pode passar na enfermaria e pedir algo para desentupir seu nariz — falou, tocando o seu próprio.
— Como…?
— Sua voz tá um pouco fanha e você sempre torce o nariz quando eu chego perto, já ouvi você resmungando que meu cheiro é muito forte — explicou Somin, exibindo um sorriso orgulhoso pelas evidências ditas por si. — Não precisa pedir desculpas — ela disse, assim que eu abri a boca. — Agora eu vou indo. Tchau, nenês.
Assim que a alfa saiu, voltei a sentar direito no meu lugar, ignorando as risadinhas dos demais.
— É impressão minha ou tá todo mundo reparando em mim agora? — perguntei, olhando os três presentes ali. — Primeiro Sooyoung e agora Somin, o que tá acontecendo?
— Ah, Jih — Jeonghan começou, jogando uma mecha do cabelo longo para trás do ombro. — O que acontece é o seguinte: você tenta ser invisível, mas você chama atenção naturalmente.
— Eu nunca tentei ser invisível — argumentei, voltando a comer. Ora, só faltava essa.
— Tenta, sim — Wonwoo quem falou. — Pode até fingir que não, mas você tenta.
— Já tô me arrependendo de ter perguntado — suspirei, terminando meu almoço. — Eu vou até a enfermaria pegar a coisinha que a Somin sugeriu — disse levantando-me e saindo da cantina.
Eu sei que, de certo modo, eles têm razão. Eu tento ser invisível, mas não é como se eu acordasse e pensasse: como posso ficar mais invisível hoje?
Eu simplesmente não gosto de chamar atenção, nunca gostei. Minha aparência e meu cheiro já chamam atenção o suficiente, eu já mal consigo lidar com os poucos alfas e betas que se aproximam, fora ficar com fama de “ômega que se faz de difícil”.
Eu já estava agoniado de não conseguir respirar pelo nariz quando avistei a enfermaria, eu estava tão perto quando, ao desviar de uns alunos, acabei me chocando com alguém, derrubando todos os seis livros que a pessoa levava nos braços.
— Droga, me desculpe — falei me abaixando para ajudar a pessoa a recolher seus livros.
— Oi, de novo — ergui meu olhar, vendo o sorriso de Sooyoung à minha frente. Muita coincidência ou muita ironia? Eu mal sabia da existência do garoto até hoje e já fiz o favor de derrubar suas coisas no chão.
— Oi — respondi, vendo ele se abaixar, assim como eu, e recolher os livros espalhados pelo piso. — Desculpe pelo esbarrão.
— Tudo bem, não se machucou? — perguntou, sem tirar os olhos de mim. Eu focava em recolher as coisas, mas sentia seu olhar me queimando. Neguei com a cabeça.
— Aqui — estendi os livros para ele após levantarmos. — Está lendo todos esses livros? — perguntei curioso, após ver alguns exemplares bem grossos.
— Ah, não — ele sorriu. Ele fazia muito isso. — Estavam na sala de literatura, só estou levando para a biblioteca.
— Entendi — murmurei, olhando-o por uns segundos, notando um brilho dourado correndo por seus olhos, tão rápido quanto um piscar. — Bom, eu vou indo, Sooyoung, até mais — sorri levemente, antes de seguir caminho pelo corredor.
— Até — ouvi-o dizer.
[...]
Iria me lembrar de agradecer Somin pela dica mais tarde. A mistura de inúmeros cheiros pelos corredores do colégio não era uma das melhores coisas, mas foi ótimo desentupir o nariz e poder respirar fundo. Até assisti o restante das aulas mais calmo, sem aquela agonia de ficar fungando a cada três segundos, conseguindo me concentrar melhor nas explicações dos professores. E quando vi, já estava na hora da última aula do dia e também minha favorita: literatura.
Assim que tomei meu lugar na sala, Wonwoo sentou ao meu lado resmungando sobre a matéria, como ele fazia toda vez.
— Como você pode gostar tanto de literatura, Jih? — ele questiona, mexendo no capuz do meu casaco felpudo. Farei uma nota mental de não usar ele novamente, já que todo mundo ficava acariciando.
— Eu gosto de como a gente pode entender toda história do nosso país apenas pelas palavras de outra pessoa — dei de ombros, pegando meu fichário.
— Eu não entendo bulhufas — comentou o Jeon. — Mas é fofo ver você todo animado.
— Vai se foder, Wonwoo — ri, tentando afastar sua mão que ainda acariciava os pelinhos do casaco.
[...]
O último horário passou rápido — infelizmente para mim —, e logo todos estavam saindo da sala em direção a saída. Wonwoo havia saído mais cedo com uma desculpa esfarrapada qualquer, Jeonghan e Seungcheol também já deveriam ter ido embora. Então, eu estava sozinho naquele mar de pessoas desesperadas para irem para suas casas.
Fiquei num cantinho perto do portão, sentado em um banco de pedra que havia ali, esperando a muvuca de gente diminuir para que eu pudesse sair sem esbarrar em ninguém.
Estava distraído observando os alunos, quando ouvi alguém se aproximar e sentar ao meu lado. E então, era a terceira vez que Sooyoung e eu estávamos próximos no mesmo dia em que nos conhecemos. E foi a primeira vez que eu consegui sentir o cheiro dele...
Olhei para ele, quase questionando o que ele queria, quando ele mostrou um exemplar de Ensina-me a Viver.
— Esse livro é seu? Eu achei embaixo da mesa na sala de física — contou, um sorriso mínimo permanecia no canto de seus lábios.
— Como sabia que era meu? — perguntei, um pouco espantado depois de mexer na mochila e ver que, realmente, o livro não estava ali.
— Tem seu cheiro nele — explicou, abrindo o sorriso quando peguei o objeto de suas mãos.
— Entendi — falei, não conseguindo desviar os olhos do rosto dele. — Obrigado.
— De nada — ele disse, levantando-se e ajeitando a alça de sua mochila sobre os ombros. — Até amanhã — despediu-se, sorrindo abertamente e acenando.
Assim que Sooyoung saiu, levei minha mão até o peito, onde meu coração batia acelerado, por alguma razão a qual eu não sabia. Entretanto, em minha mente, só martelava o fato do maior cheirar como livros e café fresco.
— Mas que merda é isso? — murmurei baixo, apertando o tecido grosso que me cobria o peito.
Notes:
Playlist da fic: https://open.spotify.com/playlist/5ymoK0D7gknwVAQ0Vn64Vm?si=FMCSHLI9Tza-UtTVQKD4pA
Chapter 2: Café Bourbon
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Eu gostaria de falar que eu não havia passado o resto do dia e uma boa parte da noite pensando em Sooyoung, mas eu estaria mentindo.
As lembranças do dia anterior giravam na minha mente e se colidiam, deixando-me cada vez mais atordoado com as possibilidades do que aqueles novos sentimentos significavam.
Eu também gostaria de fingir que esses sentimentos estranhos não existiam e continuar minha vida normalmente, mas eu não conseguiria fazer isso, não importa o quanto eu queira. Não sei guardar meus sentimentos e nunca soube, mas também nunca soube lidar com eles.
Óbvio que eu sabia lidar com emoções simples, como alegria, tristeza, raiva, medo e não pretendia citar personagens de Divertidamente, mas esses são sentimentos simples do ser humano. Outras emoções mais complexas como amor, ciúmes, excitação, inveja e até mesmo desejos sexuais, eram emoções estranhas para mim, por não entender exatamente onde elas começavam, tampouco onde iriam terminar.
E o sentimento que me assombrava no momento, era o interesse. Ou, a curiosidade.
Literalmente de um dia para o outro, estou interessado em Kwon Soonyoung. Não interessado amorosamente, claro que não, mas com uma curiosidade sobre ele, vontade de conhecer seus gostos e essas coisas simples. Eu sou muito covarde para me aproximar, de qualquer jeito, então essas emoções só ficariam existindo dentro de mim até elas deixarem de existir.
Por gastar muito tempo tentando entender esse novo sentimento quanto a Soonyoung, acabei dormindo mal e acordado de mau humor. Então seria um “ai de quem me irritar” até a hora do almoço, já que comer sempre me ajudou a estabilizar minha irritabilidade matinal.
Dessa vez, ninguém me derrubou no caminho de casa até a escola. Também não havia visto Soonyoung, nem ninguém que eu conhecesse pelos corredores, até eu encontrar Jeonghan mexendo em seu armário.
Quando me aproximei, pude notar que não era só eu que estava de mau humor, já que o cheiro do mais velho estava mais forte, assim como vi ele bufar enquanto empurrava algo pra dentro do armário.
— O que aconteceu? — perguntei, me apoiando nos armários fechados ao lado do seu.
— Alfas estúpidos me confundindo com uma garota e enchendo meu saco — disse irritado, batendo a porta metálica com certa força. — Eu estava no ônibus quando um idiota, muito mais velho que eu, vale ressaltar, colou atrás de mim e sussurrou no meu ouvido coisas que eu não vou nem repetir — virou para mim, gesticulando com as mãos. — Ele parou quando eu expandi minha presença, sentiu meu cheiro e saiu.
— É uma merda, eu entendo — falei, andando ao seu lado. — Pelo menos você é um alfa, eles se afastam assim que notam.
— Sim, mas agora eu tô de mau humor — resmungou, olhando para o chão.
— Acho que não vai mais estar — constei quando vi Seungcheol se aproximando de nós.
— Bom dia — sorriu o Choi, sendo logo agarrado por Jeonghan num abraço apertado. Dei dois passos para o lado, mas fiquei esperando eles terminarem para me levarem até a sala de aula. — O que aconteceu, Hannie?
— Um alfa impertinente no ônibus — respondeu, apertando mais Seungcheol em seus braços. Pude notar quando Jeonghan enterrou o rosto no pescoço do namorado e inspirou profundamente. — Pelo menos seu cheirinho me acalma — sorriu, olhando para seu ômega.
— Sinto muito o que aconteceu, Hannie — falou acariciando o rosto do Yoon. Eu estava quase desistindo e deixando os dois para trás. — O que eu posso fazer pra te deixar melhor?
— Antes de responder essa pergunta — interrompi eles, que logo viraram os olhares para mim. — Lembrem que estamos numa instituição de ensino com alunos menores de idade ao redor. Eu sendo um deles, inclusive.
Seungcheol riu envergonhado enquanto Jeonghan revirou os olhos, voltando sua atenção para o namorado antes de responder:
— Só me dá um beijinho que eu fico melhor — sorriu na direção do Choi, que lhe deu um selinho carinhoso.
— Lindos — anunciei, voltando a me aproximar deles. — Podemos ir agora?
— Vamos — Jeonghan concordou, bem melhor do que estava antes. Seungcheol e ele andavam de mãos entrelaçadas.
— Incrível como só Seungcheol hyung consegue melhorar seu humor em menos de dez segundos — comentei, desviando de alguns alunos pelo corredor.
— É porque só ele tem esse cheiro maravilhoso de rosas brancas — respondeu, abraçando o Choi pela cintura.
— Vocês são muito fofos — comentei.
Logo chegamos na minha sala e me despedi deles, tomando meu lugar e esperando a aula começar enquanto lia meu livro. Não era muito grosso, a história não era tão longa, mas com certeza era muito cativante. Eu devorava página atrás de página, ficando cada vez mais imerso na relação dos personagens, não querendo saber como iria terminar.
Resmunguei baixo quando o professor chegou na sala, sendo obrigado a fechar o livro — guardando-o na mochila desta vez — e prestando atenção no conteúdo que era passado.
Ou pelo menos tentando, já que Seungkwan, um garoto que sentava na minha frente nesta aula, virou para conversar comigo.
— Oi, Jih — Boo falou baixinho, aproveitando que o professor estava distraído, escrevendo no quadro. — Eu imagino que não seja muito sua praia, mas essa sexta eu vou fazer uma festinha na minha casa. Se você quiser ir, está convidado.
— Ah... — exclamei, um pouco surpreso, piscando meio confuso. — Tudo bem, obrigado pelo convite.
— Não vão muitas pessoas, garanto — sorriu, pegando meu caderno e escrevendo na última página. — Acho que, no máximo, umas trinta, e só pessoas legais. Os alfas idiotas do time de futebol não estão convidados — contou, fazendo uma careta desgostosa ao citar os jogadores, o que me fez rir baixinho.
— Certo. Vou pensar — garanti, vendo que ele tinha escrito seu endereço no meu caderno.
Ele sorriu animado, batendo palminhas sem fazer barulho. Seungkwan era muito fofo. Logo virou para frente, quando o professor começou a fazer a chamada.
[...]
Na hora do almoço, comentei sobre o convite de Seungkwan com Jeonghan, Wonwoo e Seungcheol.
— Ah, Seungkwan me convidou também — contou Jeonghan, mais concentrado em comer seu almoço. — Acho que eu vou.
— Sério? — fiz uma careta. — Espero que você não invente de me arrastar junto.
— Claro que não! — ele exclamou, soltando os hashis e esfregando rapidamente as mãos para esquentá-las. — Porque você vai por vontade própria.
— Nunca falei isso — rebati.
— Mas você vai — insistiu. Apenas revirei os olhos, voltando a comer minha comida, desistindo de argumentar com o mais velho.
Eles continuaram conversando normalmente, enquanto eu comia e pensava sobre o livro que estava lendo. Faltava pouco para terminar.
[...]
— Gente, a professora de inglês não veio — comunicou a monitora do colégio, após entrar na sala. — Então, peço que recolham o material e esperem pelo próximo horário no pátio ou na biblioteca, sem bagunça pelos corredores.
A maioria dos alunos comemoraram e saíram quase correndo, numa alegria comparável ao pessoal do primário. Assim que a sala estava mais vazia, saí pela porta sem esbarrar em ninguém e andei até a biblioteca.
O local estava bem vazio, tendo só a bibliotecária e um ou outro aluno fazendo pesquisas. Me sentei numa mesa no canto, um pouco afastada de todos e decidi terminar o livro, faltava apenas umas vinte páginas, talvez eu terminasse antes do próximo horário.
[...]
Eu estava chorando.
Mas não estou falando de uma ou duas lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu estava soluçando de tanto chorar! O final do livro tinha me massacrado. Eu imagianva o que iria acontecer, mas ainda me sentia tão, tão triste!
Soltei o livro sobre a mesa e cobri meu rosto, tanto para abafar os sons dos soluços, quanto para que ninguém me visse assim. Quem visse poderia pensar, talvez, que eu estava naquele momento clássico onde o personagem faz uma coisa muito idiota e você precisa parar de ler por tanta vergonha alheia que está sentindo.
Mas não era meu caso, eu estava chorando, arrasado.
E minhas esperanças de não ser visto foram por água abaixo quando ouvi a voz preocupada de Soonyoung.
— Jihoon? O que aconteceu? — tirei as mãos do rosto e o olhei. Eu devia estar “o quadro da dor”, pois seus olhos se arregalaram ao me ver. Mesmo assim, ele se aproximou. — Por que está chorando? Alguém te fez alguma coisa? Foi algum alfa? Se alguém tiver feito, pode me dizer que eu falo com a direção e…
— Soonyoung! — chamei, tocando suas mãos que ele mexia nervosamente. — Eu tô bem, calma — ri baixo, secando meu rosto. — Eu tô chorando por causa do final do livro.
— Ah! — exclamou, formando uma expressão de entendimento. — Foi triste?
— Nossa, muito — falei, pegando o livro e folheando as páginas rapidamente. — Quer dizer, eu imaginava o que ia acontecer, porque é um romance, mas mesmo assim… Uau, eu tô destruído! — frisei, sentindo algumas lágrimas fininhas rolando pelas minhas bochechas. — Eu sabia que ela ia morrer, mas o autor conseguiu tirar totalmente meu foco disso! E quando percebi eu estava chorando junto com Harold!
— Quem é Harold? — Soonyoung perguntou, confuso, franzindo as sobrancelhas.
— Ele é o protagonista… Ah! — arfei em surpresa, cobrindo minha boca. — Eu te contei o final.
— Não se preocupa — ele riu baixo, balançando a mão como dissesse “não importa”.
Sorri fechado em resposta, sem saber ao certo o que falar. Assim que mirei o livro em minhas mãos, voltei a chorar, sem realmente conseguir controlar.
— Ai, que droga, Soon-ah — funguei, cobrindo meu rosto novamente. — Eu fiquei realmente triste.
— Ei, não fica assim — vi ele puxar a cadeira para sentar mais próximo de mim. Suas mãos tocaram meus ombros e, por impulso talvez, me inclinei em sua direção e me deixei ser abraçado. O cheiro de Soonyoung invadiu por completo meu olfato, o aroma de café fresco junto com páginas de um livro novo, como se eu estivesse cheirando um livro manchado de café. Era uma essência muito peculiar, mas incrivelmente gostosa, e me deixava mais calmo. Suas mãos davam tapinhas em minhas costas, em forma de consolo.
Eu já não chorava mais.
Quando me dei conta de como estávamos, tratei de afastar-me rapidamente. Sentei ereto na cadeira e sequei meu rosto com as mangas do moletom, fungando algumas vezes.
— Obrigado, Soonyoung — sorri para si. Por ser muito tímido, nunca consegui olhar uma pessoa nos olhos por muito tempo, logo, desci meu olhar para desviar do dele. O celular em sua mão piscou com uma nova notificação, e acabei notando o horário. — Eu preciso ir, minha próxima aula já vai começar — anunciei, levantando e jogando a mochila sobre os ombros.
— Tudo bem — ela afasta a cadeira, dando espaço para eu passar. — Até mais, Jihoon-ah.
Acenei brevemente com a mão e sai, quase que correndo, pelo corredor. Aquela sensação novamente, invadindo todo meu ser e acelerando meu coração.
Levei uma mão até meu peito, apertando o tecido com força. Talvez para descontar uma frustração, por não entender o que esse sentimento queria dizer, não entender onde ele havia começado. Sem saber quando iria acabar.
Mas eu tinha certeza de que ele iria perdurar por um bom tempo.
E aquilo me frustrava.
[...]
Me concentrar no restante das aulas foi uma tarefa difícil. Nem vou dizer que consegui fazê-la, pois eu não entendi absolutamente nada do que os professores falavam.
Tudo isso porque havia feito uma ligação: Jeonghan havia dito que o cheiro de Seungcheol o acalmava; o cheiro de Soonyoung me acalmou na biblioteca.
Talvez fosse uma loucura da minha cabeça, talvez um fato não tivesse nada a ver com o outro, mas no momento eu não estava focando nessa possibilidade. Estava mais preocupado com o que aquilo dizia sobre mim…
Mas o que queria dizer? Eu não sabia.
Seria uma paixão? Uma coincidência? Apenas minha imaginação? Uma abstração, quem sabe?
Eram tantas perguntas e nenhuma resposta. Pensei, pensei e nada. Não encontrava solução lógica para aquele sentimento. Então, não me restava escolha senão perguntar para outras pessoas.
E só haviam duas pessoas as quais eu confiava plenamente para isso.
Quando o sinal indicando o final das aulas tocou, recolhi meus materiais e saí o mais rapidamente possível da sala. Sendo empurrado e quase atropelado por algumas pessoas, mas saí.
Esperei perto do portão, olhando atentamente para a multidão indo embora, até encontrar Jeonghan e Wonwoo no meio daquele mundaréu. Assim que chamei atenção deles, vieram até mim, com os semblantes confusos.
— O que aconteceu, Jih? — Wonwoo perguntou.
— Eu preciso perguntar uma coisa pra vocês — informei, certificando de que eles estavam atentos. — Eu… Não sei como começar.
— Ai, lá vem — Jeonghan revirou os olhos, apoiando-se na parede atrás de si. — Começa pelo começo, que tal?
— Tá, cala a boca — resmunguei, gesticulando para que ficasse quieto. — Eu conheci o Soonyoung ontem e, por algum motivo que eu preciso descobrir, eu fico… sei lá, meu coração acelera quando ele me olha — expliquei, perdendo-me nas palavras. — Ao mesmo tempo que o cheiro dele me deixa calmo, mesmo sendo um cheiro muito incomum para um alfa. O que é isso?
Eles se entreolharam, antes de virar para mim.
— Olha… Como você conheceu ele ontem, literalmente — Jeonghan começou. — Talvez seja só um nervosismo, você é tímido perto de estranhos — argumentou. — E quanto ao cheiro… Sei lá, vai entender, você é meio estranho.
— Olha quem fala — resmunguei baixo, quase inaudível.
— Mas, Jih — Wonwoo interrompeu. — Você não vive reclamando do cheiro dos alfas? Você nunca gostou de cheiros padrão. Pode ser só seu ômega interior achando um alfa com um cheiro diferente. Talvez, inconscientemente, você se sinta acolhido pelo cheiro “estranho” dele — fez aspas com os dedos — Não é? — cutucou Jeonghan com o cotovelo.
— Isso faz mais sentido do que a minha teoria — pontuou o Yoon. — Mas tipo, vocês recém se conheceram, espera um tempo, vai se aproximando e conhecendo ele antes de surtar por qualquer batida errada que seu coração dá.
Acenei com a cabeça, absorvendo tudo que eles falavam. Realmente foi melhor falar com eles do que buscar uma solução sozinho.
— É, vou fazer isso — concordei, num suspiro quase aliviado. — Obrigado.
— Pronto, vamos pra casa agora? — Wonwoo disse, tocando meu ombro e puxando-me levemente para perto deles, para que seguíssemos o caminho.
[...]
Assim que cheguei em casa, fiz questão de brigar com minha mãe por ter dado aquele livro que me fez chorar igual uma criança na escola. Ela riu bastante quando lhe contei a situação, adorando saber que não havia sido só ela que sofreu com a história.
Entretanto, ela estava certa em achar que eu gostaria da obra, porque realmente gostei. Tanto que me recusei a devolver o livro, alegando que ele agora era meu porque eu gostava mais dele do que ela.
Minha mãe e eu temos uma boa relação. Mesmo ela sendo alfa, sempre se esforçou para me entender e lutou consigo mesma muitas vezes, quando eu deveria ir sozinho, correndo o risco de me machucar.
Meu pai sempre foi mais quieto, assim como eu, mas nunca foi ausente ou indiferente na minha vida. Ele também evitava a todo custo ter “conversas de ômega” comigo, dizia que eu iria aprender sozinho e que certas coisas não deveriam ser compartilhadas de pai para filho. Eu não o culpo, deve ser estranho mesmo saber quando seus filhos começam a ter uma vida amorosa ou sexual ativa, porque aquela não é a imagem que você quer ter da pessoa que você criou. Mesmo sendo inevitável.
Entretanto, eu vinha notando alguns comportamentos estranhos da parte deles. Sabia que não era nada sério — como a morte de um parente, por exemplo —, se fosse, eles iriam me contar.
Então não era algo sério o bastante para eles falarem, mas sério o suficiente para eles esconderem de mim enquanto esperam o momento certo.
Estranho... Muito estranho.
E, bem, eu já tinha uma enxurrada de sentimentos para lidar agora. O furacão Soonyoung estava chegando, isso eu podia sentir, então eu precisava lidar com uma coisa de cada vez.
E como todo um adolescente normal, eu decidi tomar algumas providências quanto à Soonyoung.
Comecei procurando por eles nas redes sociais.
Eu me sentia ridículo. Isso era tão filme ruim de adolescente, mas lá estava eu, olhando com todo cuidado do mundo as fotos do alfa para não curtir sem querer — até porque, eu estava vendo umas publicações meio antigas.
Mas eu descobri algumas coisas interessantes. Como o fato de Soonyoung ser melhor amigo de Seungkwan e um tal de Dokyeom, ele ser dono de dois gatos adoráveis e, o mais importante: ele dançava.
Kwon Soonyoung dançava fodidamente bem.
Havia inúmeros vídeos dele fazendo cover ou freestyle de algumas músicas.
Chegava a ser injusto eu estar interessado por uma pessoa tão intrigante. Logo eu, que não tinha nada para se descobrir; um cara simples, com necessidades simples e sentimentos complexos.
Esse era Lee Jihoon.
E, como se eu estivesse envolvido em alguma artimanha do destino, uma notificação apitou nos fones, interrompendo a música e fazendo um barulho do caralho nos meus ouvidos sensíveis. E o pior de tudo: o que dizia na barra de notificações.
Soonyoung_K96 começou a seguir você
Chapter 3: Café Robusta
Chapter Text
Não vou mentir falando que não levei um susto quando Soonyoung começou a me seguir, justamente quando eu estava dando uma de stalker no perfil dele. A surpresa foi tanta que quase derrubei meu celular no chão, numa cena bem vergonhosa para quem visse de fora.
Óbvio que eu não segui ele logo de cara, esperei uma ou duas horas, para que não parecesse que eu estava muito preocupado com isso — apesar de estar muito preocupado com isso. Quando segui ele de volta, dei like em algumas publicações recentes, já que ele curtiu todas as seis fotos do meu feed.
Nem mesmo minhas redes sociais eram interessantes, era só algumas fotos de paisagens ou coisas que achei bonitas, uma ou duas fotos minhas e alguns vídeos meus tocando violão e piano. Mesmo assim, o alfa havia curtido essas coisas.
Tentei não focar nisso o restante do dia, e até funcionou, mas quando acordei e tive que ir para a escola na manhã seguinte, meu coração voltou a bater de uma maneira estranha. Saber que eu podia esbarrar com Soonyoung a qualquer momento me deixava ansioso, não sabendo decidir se vê-lo seria uma coisa boa ou não.
Se o encontrasse, o que eu faria? Como deveria agir?
Ugh! É tão frustrante pensar demais. Ele não deveria passar tanto tempo pensando e se preocupando com o que faria se me visse pelos corredores. Provavelmente viria falando sem parar, puxando vários assuntos, como era do feitio dele.
Por não conseguir dormir direito, acabei por sair de casa mais cedo que o habitual e cheguei na escola uns vinte minutos antes das aulas começarem. Aproveitando que o clima não estava tão frio, sentei numa das mesas espalhadas pelo pátio, onde pegava bastante sol. Peguei o mesmo livro e comecei a reler, escrevendo as partes que mais gostava no caderno.
Acabei ficando distraído com aquilo, tanto que demorei para perceber que alguém estava sentado na minha frente. Pulei de levinho no lugar quando notei o olhar atento de Soonyoung sobre mim, ouvindo ele rir baixo com minha reação.
— Você me assustou — murmurei baixo, focando meu olhar na mesa para não ter que olhá-lo nos olhos.
— Me desculpe — pediu, apoiando o rosto na mão direita. — Não era minha intenção, mas você estava muito concentrado.
— Entendi — respondi, fechando o livro e deixando-o em cima da mesa. — O que quer, então?
— Nada em especial — sorriu em minha direção, fazendo-me desviar o olhar novamente. — Por que chegou tão cedo? Não tem quase ninguém no colégio a essa hora.
— Ah… E-Eu… — respirei fundo.
Aquela era uma pergunta complicada, não? Como iria responder que não consegui dormir porque fiquei pensando nele?
— Eu… Sei lá, acordei mais cedo e não consegui voltar a dormir.
— Entendi — respondeu, observando as coisas sobre a mesa.
— E você? — devolvi a pergunta.
— Eu venho mais cedo nas quartas, pra ajudar a organizar a biblioteca — explicou, erguendo o olhar para mim.
Os olhos de Soonyoung diziam muita coisa, ao mesmo tempo pareciam capazes de enxergar muito fundo dentro de mim e descobrir coisas que eu mesmo desconhecia.
— Aposto que não sabia disso — brincou, quando eu não respondi, apenas fiquei o encarando.
Ops, me perdi.
— Não, não sabia — fora minha vez de sorrir, olhando para baixo num ato de timidez. — Infelizmente, não sei muito sobre você.
— Se quer descobrir algo, é só perguntar — respondeu sugestivo, sorrindo de canto. Meu coração errou algumas batidas, acelerando contra a caixa torácica. Rapidamente, neguei com a cabeça, abaixando-a em seguida, envergonhado. — Tudo bem então — soltou um riso nasal. — Ei, esse é o mesmo livro de antes?
— É, sim — assenti, olhando-o por cima dos cílios.
— Está lendo de novo mesmo depois de ter chorado tudo aquilo? — questionou exasperado, como se não acreditasse que pudesse existir tamanho masoquismo. Eu ri em resposta.
— Não, estou só anotando algumas frases que mais gostei — expliquei, voltando a pegar o livro.
Soonyoung se levantou, deu a volta na mesa e sentou ao meu lado. Prendi a respiração, nervoso, mesmo que quisesse sentir seu cheiro.
— Faz mais sentido — afirmou ele, debruçando-se levemente sobre a mesa para ler as anotações em meu caderno. — Sua letra é bonita — elogiou. Senti minhas bochechas ficando quentes. — Posso ler? — acenei com a cabeça.
Soonyoung tomou o caderno em mãos, de forma quase delicada. Então, pôs-se a ler o que eu havia escrito:
— “São acidentais, não essenciais, se é que me entende.”
“Todo mundo deveria tocar um pouco de música. É a linguagem universal da humanidade.”
“A terra é meu corpo. Minha cabeça está nas estrelas.”
“O mundo não precisa de mais paredes. Precisa é de construir mais pontes!”
Eu prestava atenção em como Soonyoung lia as frases. Não interpretava, apenas lia. Mas eu gostava de ouvir. Como se aqueles dizeres que me tocaram, fizessem mais sentido se fossem proclamados por sua voz.
— Parece um livro bom — ponderou, deixando o caderno sobre a mesa e mirando o livro. — Posso? — concordei novamente. Soonyoung analisou a capa, leu o título num sussurro e virou para ler a sinopse. — Ela tem 80 anos!?
— Sim, o que tem? — perguntei olhando-o, confuso.
— Quantos anos tem o garoto?
— Isso não importa, eles se amam! — argumentei, pegando o livro de suas mãos, como se pudesse protegê-lo contra as barbaridades que o alfa falava.
— É estranho, Jihoon — franziu as sobrancelhas. Olhei-o completamente sério antes de bater com o livro em seu braço. — Ai!?
— É lindo, ok? Eles se amam! — exclamei, emburrado. — Você nem leu o livro.
— Me empresta pra ler então — pediu, estendendo a mão. Abracei o livro contra meu peito.
— Eu não empresto livros — murmurei. Soonyoung riu.
— Você é uma peça rara, Jihoonie — ele sorriu, sem desviar o olhar de mim. Não soube definir se aquilo era um elogio, mesmo assim, senti minhas orelhas ficando quentes, apesar do clima frio.
Antes que eu pudesse responder, ou pelo menos formular uma resposta, algumas vozes foram se aproximando e logo haviam quatro pessoas à nossa volta na mesa.
— Soonyoung! Até que enfim, a gente tava te procurando pela escola toda! — Seungkwan exclamou, colocando as mãos na cintura. Logo, seus olhos estavam voltados para mim. — Por que tá incomodando o Jihoon?
— Eu não estava…!
— Ele não estava me incomodando — falei baixo, mesmo assim fui ouvido.
— Menos mal — Seungkwan murmurou, cerrando os olhos na direção do Kwon. — Ah, Jihoon, acho que você não conhece eles — indicou os dois garotos e uma garota ao seu lado. — Esse é Seokmin, essa é Junghwa — apontou para os citados. Seokmin é o mesmo garoto que vi em algumas das fotos no perfil de Soonyoung, Junghwa já havia visto algumas vezes pelos corredores. Maneio a cabeça em cumprimento. — E esse é Hansol, meu namorado — sorriu, abraçando o garoto, que acenou em minha direção.
— Olá — murmurei, acenando timidamente.
— Soonyoung, você trouxe sua parte da tarefa de química? — perguntou o Boo, quase como se estivesse interrogando o alfa.
— Óbvio que sim — respondeu. — Só falta imprimir as imagens, eu vou passar na biblioteca e fazer isso — levantou-se, jogando a mochila sobre o ombro. — Até mais, Jihoonie — sorriu para mim antes de sair dali.
Suspirei baixo, observando Soonyoung ir embora.
— Ele é fofo, né? — Seungkwan falou, aproximando-se de mim. Não notei sua aproximação, já que meus olhos estavam fixos no alfa se afastando aos poucos.
— N-Não sei — gaguejei, desviando o olhar para o ômega ao meu lado.
— Claro que não sabe — insinuou, sorrindo de lado. — Mas se você pretende investir nele, eu sugiro que descubra bastante sobre ele. Todo alfa lindo, bem educado, fofo e atencioso tem um segredo — garantiu, balançando com a cabeça, como se tivesse 100% de certeza no que falava.
— Então espera — Junghwa interrompeu. — Quer dizer que o Vernon tem um segredo? — apontou para o alfa, que franziu o cenho, confuso.
— Por que, do nada, eu entrei na história? — perguntou.
— Ah, mas ele tinha — Seungkwan afirmou, cerrando os olhos na direção do namorado. — Até eu descobrir.
— E qual é? — Hansol perguntou, totalmente perdido.
— Que você nasceu em Nova Iorque — acusou, pegando suas coisas e virando-se para sair dali.
Se os cabelos do Boo fossem longos como os de Jeonghan, com certeza teriam acertado o rosto do alfa.
— Não era um segredo — respondeu Hansol, indo atrás do namorado.
Junghwa tentou prender um riso olhando o casal, mas falhou.
— Eu vou ver se consigo ouvir a briga deles — ela disse, sorrindo e acenando para Seokmin e eu. — Até mais, meninos.
Logo, ela saiu, indo atrás de Seungkwan e Hansol. Eu apenas olhava a cena, sem entender muita coisa.
— Não liga pro Kwannie — Seokmin disse, sorrindo gentil para mim. — Ele é meio fora da casinha. Mas Soonyoung é um cara legal, caso você realmente queira investir…
— Não quero! — exclamei, nervoso. Seokmin ergueu as mãos, afastando-se minimamente. — Q-Quero dizer…
— Tudo bem, tudo bem — ele sorriu, compreensivo. — Até mais.
E logo eu estava sozinho novamente, ainda processando tudo que acabou de acontecer.
Toquei minhas bochechas e notei quão quente estavam.
Droga!
[...]
Se antes eu já estava pensando demais sobre Soonyoung, tudo piorou depois da insinuação de Seungkwan. Talvez eu estivesse deixando muito óbvio que estava prestando atenção nele? Ou Seungkwan era só uma daquelas pessoas muito perspicazes? Eu não sabia, e eu odiava não saber das coisas.
Fiquei encucado, repassando as informações na minha cabeça, sem saber que atitude deveria tomar a seguir.
— Wonwoo — chamei baixinho, aproveitando que o professor havia saído da sala de aula. Entretanto, o alfa não me respondeu. — Wonwoo! — repeti, estalando os dedos perto dele.
— Hum? O que foi? — piscou, parecendo um pouco atônito, olhando para mim.
— O que você 'tá olhando? — perguntei, tentando achar o motivo da distração do Jeon.
— Nada — falou dando de ombros. Mentiroso.
— A cara nem treme — falei, levantando e ficando com o rosto perto do dele, para ter mais ou menos o mesmo campo de visão. — Mingyu? — ergui uma sobrancelha.
Wonwoo engoliu em seco e ficou olhando para seu colo enquanto dava de ombros.
— Oh — soltei baixo. — Ei, isso é legal — sorri, dando um soquinho em seu ombro. — Eu não imaginava, mas é legal.
— Ai, Jih, cala a boca — resmungou, cobrindo o rosto com as mãos. Ri baixo de sua reação e voltei minha atenção para Mingyu.
Kim Mingyu era o ômega mais dócil que eu conhecia, e isso era um completo contraste com sua altura e aparência forte. Ele era um ômega preso no corpo de um alfa.
Nunca iria imaginar que Wonwoo estaria interessado nele. Já vi e ouvi alfas comentando que seria humilhante estar com um ômega mais alto do que eles. Pensamento ridículo. Mas eu deveria imaginar que Wonwoo não teria pensamentos assim.
— Olha, Wonu, eu entendo — empurrei minha mesa para ficar mais perto dele. — Ele é fofo, gentil, bonito...
— Jihoon, acredite, eu sei todas as qualidades que Mingyu tem — suspirou, olhando o ômega que ria com seus amigos.
— E então?
— E então nada — falou franzindo as sobrancelhas.
— Você não vai falar com ele? — perguntei quase chocado.
— O que eu falaria?
— Que tal “oi”?
— Eu tô falando sério, Jih — resmungou, voltando a olhar para mim antes de suspirar.
— Eu também — afirmei. — Wonwoo, não venha com complexos de inferioridade logo perto de mim. Você sabe que se não fosse uma pessoa legal eu já teria te dado um soco.
— Como se você tivesse força suficiente pra me dar um soco — debochou.
— Isso não vem ao caso!
Ele riu, apertando os olhos e negando com a cabeça. Ajeitou os óculos e me olhou.
— O que eu devo fazer? — perguntou, virando quase totalmente para mim. — A gente se fala as vezes por mensagem, mas... Sei lá, é muita coisa.
— Sei lá, tenta se aproximar devagar, ou procura alguma desculpa para falar com ele — dei de ombros. — Na pior das hipóteses, Seungcheol fala com ele por você.
— Eu prefiro tentar sozinho primeiro — disse, recusando minha ajuda.
Sorri.
— Acho que eu deveria seguir meus próprios conselhos — sussurrei para mim mesmo.
— Não, seus conselhos são péssimos — Wonwoo falou.
— Cala a boca — mandei, batendo em seu braço.
[...]
Era a hora do almoço. Jeonghan não havia ido à escola. Também não mandou mensagem avisando. Quando perguntei a Seungcheol, ele também não sabia de nada.
— Ele deve ter dormido demais — Wonwoo falou, enquanto observava o Choi revirar sua comida, obviamente nervoso e triste, por estar sem notícias do namorado. — Só isso.
— Eu acho que sim — murmurei, chutando de leve a perna de Seungcheol.
— É, vou pensar que sim — respondeu o ômega.
Assim que terminamos de almoçar, ficamos os três conversando. Era difícil mantermos uma conversa, já que nenhum de nós era de falar, normalmente Jeonghan quem ficava encarregado de puxar assuntos e fazer piadas bobas.
Até conseguimos engatar num assunto, quando comentei com Seungcheol que Wonwoo estava com um crush em Mingyu. Assim como eu, o Choi ficou surpreso mas depois achou ótimo, até mesmo disse que eles fariam um casal bonitinho — o que deixou o Jeon morto de vergonha.
E foi enquanto conversávamos sobre isso, que Soonyoung se aproximou. Dava para perceber que ele estava nervoso, afinal, ele não era próximo de nenhum de nós três. Ele cumprimentou de forma geral e logo se virou pra mim, apoiando as mãos na mesa e se debruçando um pouco pra ficar mais perto.
Tive que segurar a vontade de fechar os olhos e respirar profundamente quando seu cheiro chegou até mim. Era bom, droga, era muito bom.
— Então, Jihoonie — ele começou, limpando a garganta em seguida. — Eu vi ontem no seu insta que você toca piano.
— Sim, toco um pouco — concordei. — O que tem?
— Eu… Eu tô tentando montar uma coreografia, algo diferente do que eu normalmente faço — explicou. Seu olhar não focava em mim, buscava focar em qualquer coisa que não fosse eu. — E queria saber… Se você toparia tocar pra eu dançar.
Arregalei levemente os olhos com o convite. Eu realmente não vi aquilo chegando, tanto que minha única reação foi ficar olhando para Soonyoung, enquanto minha boca abria e fechava, sem nada sair dela.
— Ele travou, Soonyoung — Wonwoo falou, quando percebeu que eu demoraria até conseguir formar uma resposta coerente. — Mas acredito que ele aceite.
— Sim! — exclamei sem querer, cobrindo minha boca em seguida. — Desculpe, eu falei alto. Mas, sim. Sim, claro que posso tocar. Só dizer quando.
— Você tá livre hoje depois da aula? — perguntou.
— Claro, só preciso avisar meus pais — respondi, tentando não transparecer meu nervosismo.
— Ok — ele sorriu. — Te espero no final da aula.
— Ok — sorri de volta. Logo ele virou e voltou até onde seus amigos estavam. — Eu acabei de falar que vou tocar piano pro Soonyoung?
— Sim — Seungcheol falou. — Eu ainda não acredito.
— Nem eu — choraminguei e cobri meu rosto.
[...]
Girl in red disse e eu irei repetir: foi uma má ideia.
Ter aceitado tocar para Soonyoung não me pareceu uma ideia tão ruim na hora que eu topei. Mas quanto mais os minutos passavam, mais nervoso eu ficava. Não conseguia nem lembrar onde eram as notas num piano, se me pedissem pra tocar brilha-brilha estrelinha eu iria travar. E muito provavelmente, Soonyoung não planejava fazer um dance cover de brilha-brilha estrelinha.
Tive que aguentar Wonwoo rindo de mim por mais duas aulas, até que chegou o último período e eu não pude sair correndo para casa e me esconder debaixo das cobertas. Não, eu tive que ficar esperando por Soonyoung.
Tentei me acalmar várias vezes, repetindo que não era nada demais. Iria ser algo rápido, sem nenhum outro propósito. Mas nem eu acreditava em mim, porém, não conseguia descobrir qual outro motivo teria por trás desse convite.
Se tinha, eu estava fingindo não ver. E eu estava fingindo bem.
Esperei Soonyoung por cerca de cinco minutos, logo ele estava vindo em minha direção, usando roupas diferentes de antes.
— Oi, desculpa a demora — pediu assim que estava próximo o suficiente. — Eu fui trocar de roupa, melhor para dançar.
— Tudo bem, não demorou.
— Vamos? — perguntou e logo concordei. Andamos pelo corredor até a sala de música.
O silêncio era um pouco constrangedor, acho que nenhum de nós sabia o que dizer.
Assim que chegamos, Soonyoung ligou a luz e foi até o piano. Segui-o e sentei na banqueta.
— O que quer que eu toque? — perguntei olhando-o.
— Então — limpou a garganta. — Eu não entendo muito de música clássica, mas minha ideia era misturar dança contemporânea com música clássica. Deu para sacar?
— Acho que sim — falei, tocando as teclas, sem de fato tocar. — Mas, preciso que me dê uma base. Quer algo mais como balé clássico, Beethoven, Mozart, Bach?
— Eu não faço a menor ideia do que você está falando — ele disse sério, soltando sua mochila no chão. — Que tal você tocar algumas que sabe?
— Hum… Ok — falei e ajeitei a postura. — Vou tocar um pouco de cada, então você diz se alguma está perto do que você imaginou, tudo bem?
— Claro — sorriu, sentando ao meu lado.
Perto demais — pensei.
Respirei fundo, buscando me acalmar e logo comecei com Rondo Alla Turca. Soonyoung fechou os olhos, prestando atenção na melodia; balançava a cabeça num ritmo lento, ao mesmo tempo que batia o pé levemente no chão.
— Essa é de Mozart, é mais alegre — expliquei, após parar de tocar. — Tem essa, de Beethoven, que é algo mais calmo — disse, logo começando a tocar Für Elise.
— Ei, essa eu conheço — Soonyoung exclamou, sorrindo.
— É muito famosa — dei de ombros, tentando manter o foco. — É algo como isso que quer?
Ele negou com a cabeça. Troquei de música.
Fiquei cerca de vinte minutos apenas tocando algumas músicas clássicas as quais conhecia, mas Soonyoung ainda não havia decido o que queria. Não sabia se ficava irritado consigo, ou apenas aproveitava o fato de estar passando tempo com ele. Conversando sem soar esquisito, rindo de algumas coisas bobas que ele dizia.
Sua reação surpresa quando contei que Beethoven ficou surdo quando era muito jovem, era algo que eu queria guardar por bastante tempo.
— Como ele tocava se era surdo? — perguntou, chocado. Eu apenas ria.
— Ele tinha memória auditiva suficiente para compor em sua mente — expliquei. Era incrível como os olhos do Kwon brilhavam. — Ele também cortou os pés do piano, deixando-o no chão, então ele deitava e ficava sentindo as vibrações do piano no piso.
— Isso é incrível — afirmou. — Como você sabe dessas coisas?
— Eu sei lá — dei de ombros. — Minha avó me contava essas coisas, ela gostava de música clássica. Ela me ensinou a tocar piano, por isso eu sei algumas dessas músicas antigas.
— Ela parece ter sido legal — murmurou, pendendo a cabeça para o lado enquanto me olhava. Eu tentava desviar de seu olhar, mas era difícil. — Você também é incrível por saber dessas coisas.
— Isso não é nada — ri baixo. — Acho que sei uma que você vai gostar — falei e então comecei a tocar Ode to joy.
— Essa parece boa — determinou e levantou-se. — Continue, por favor — pediu e eu obedeci.
Soonyoung se pôs no meio da sala e começou a dançar, uma dança diferente do que se espera ver ao ouvir essa música. Mesmo assim, fiquei hipnotizado com seus movimentos, ficando com os olhos grudados em si enquanto me concentrava na música.
— Perfeito — ele sorriu, voltando a se aproximar. — É essa.
— Até que enfim decidiu — ri baixo, estalando meus dedos. — Já estava começando a pensar que você só estava criando uma desculpa pra me ver tocar ao vivo.
— Bem… — ele coçou a nuca. — Isso foi um bônus — sorriu, sentando-se ao meu lado.
Arregalei levemente os olhos diante de sua confissão, senti meu rosto esquentar furiosamente. Gaguejei alguma resposta, mas nada coerente saiu. Eu estava travado.
— Você é muito fofo — riu nasalmente. Levantou e pegou a mochila no chão. — Quer que eu te leve em casa?
— N-Não precisa — levantei, buscando minha própria mochila. — Minha casa é perto.
— Mesmo? — perguntou erguendo uma sobrancelha. — Já está ficando tarde, não é perigoso?
— São três da tarde— murmurei, saindo da sala junto dele. — Eu sempre volto sozinho, não precisa se preocupar.
— Tudo bem, se você diz — constou Soonyoung, olhando para mim. Prendi a respiração quando vi ele se aproximar. Senti meu coração disparar desesperado quando o alfa depositou um beijo em minha bochecha, que esquentou muito rápido após o toque. — Até amanhã, Jihoonie.
E então ele saiu. Tive a impressão que mais rápido do que o normal, como se estivesse envergonhado pelo seu ato.
Toquei meu rosto com a ponta dos dedos e logo segui meu caminho, tentando processar tudo que aconteceu.
[...]
Quando cheguei em casa, meus pais já haviam saído para trabalhar, então imagine o susto que eu levei quando vi alguém sentado no sofá da sala. Eu só não gritei porque reconheci o ser rapidamente, mas ainda sim deu para acelerar o coração.
— Que susto, Jeonghan hyung! — praguejei, jogando a mochila no sofá. — Desde quando você invade casas assim?
— Eu cheguei faz um tempo — explicou. — Eu queria falar com você, mas sua mãe avisou que você chegaria um pouquinho tarde e deixou eu ficar até você chegar.
— Hum. E o que queria falar comigo? — perguntei, seguindo para a cozinha.
— Eu fiz uma coisa idiota — contou, vindo até mim.
— Isso é muito vago, você faz muitas coisas idiotas — murmurei, pegando minha garrafa de água e bebendo.
Olhei para o alfa e ele bufou com minha resposta. Revirando os olhos, ele afastou o capuz da cabeça, mostrando os cabelos curtos, mal cortados e repicados. A surpresa foi tanta que acabei cuspindo um pouco da água.
— Caralho! O que aconteceu? — exclamei.
— Adivinha — revirou os olhos. — Aquele mesmo alfa idiota. Mas dessa vez foi pior… — sentou-se à mesa. — Ele gozou em mim.
— Quê!? — exclamei chocado, me aproximando. — Quando?
— Eu estava indo para escola, aconteceu no ônibus — explicou, sua voz não expressava nada, assim como sua expressão estava vazia. — Eu estava de pé, aí chegou esse cara e ficou atrás de mim. Eu tava distraído mexendo no celular, só notei que alguma coisa estava estranha quando ele gemeu baixo no meu ouvido, quando me virei, ele gozou na minha perna.
— Hyung…
— Então eu fiz um escândalo. Eu dei um soco na cara dele e quando ele caiu, chutei ele na virilha e desci correndo do ônibus — fungou. Uma lágrima escorreu por seu rosto. Me aproximei dele e o abracei apertado. — Eu não sabia o que fazer então só corri para casa, joguei as roupas que estava usando no lixo e fiquei embaixo do chuveiro por uma meia hora, quando sai eu tive, sei lá, um acesso de raiva e foi quando eu cortei meu cabelo.
— Eu sinto muito — suspirei, apertando-o um pouco mais entre meus braços. Puxei uma cadeira e me sentei ao seu lado. — Você tem que denunciar esse cara.
— Não vai adiantar nada — negou. — Eu não tenho provas do que ele fez, eu joguei a calça que estava usando fora. Já ele, tem um nariz quebrado. Eu não quero preocupar meus pais.
— Que coisa mais idiota, eles são seus pais, eles tem que se preocupar com você — resmunguei. — Mas tudo bem, eu vou te apoiar no que for — sorri após suspirar, tentando lhe passar confiança.
— Seu pai é cabeleireiro, né? — concordei com a cabeça. — Ele tem alguma tesoura na casa pra você me ajudar com a merda que eu fiz? — perguntou, tocando os cabelos repicados na altura da bochecha.
— Eu vou buscar — falei me levantando. — Você tá bem mesmo?
— Tô, sim — ele sorriu de leve. — Eu não me sinto mal, só tô irritado. E frustrado porque a maioria das mulheres e dos ômegas passa por isso todos os dias.
— É, eu sei — concordei. — Mas quero acreditar que isso vai melhorar, nem que tenhamos que socar vários caras escrotos.
Ele riu.
— Com certeza.
[...]
— Tem certeza que sabe o que tá fazendo, Jih? — Jeonghan perguntou, ajeitando a postura na cadeira.
— Você não quis esperar meu pai chegar, agora fica quieto antes que eu corte sua nuca — mandei, apoiando uma mão na cabeça dele e cortando os fios escuros. — Eu não tinha muitos amigos quando era criança, então passava mais tempo no salão do meu pai. Acho que aprendi alguma coisa.
— Eu espero, senão eu raspo sua cabeça — ameaçou.
— Você que teve a ideia de cortar seu cabelo com a tesoura da cozinha — frisei. — Tô tentando ajeitar a cagada que você fez. Agora fica quieto porque eu tenho uma tesoura na mão.
— Você me assusta às vezes — o alfa murmurou. Balancei a cabeça suavemente, logo voltando ao que fazia. — Como Seungcheol estava?
— Preocupado — falei simplista. — Você não contou para ele?
Jeonghan murmurou uma resposta negativa.
— Eu não quero preocupar ele — explicou, pondo os pés em cima da cadeira, abraçando os joelhos. — Além disso… Eu sei lá, estou com vergonha do que aconteceu.
— Isso é ridículo — interrompi. — Não é você que deve ter vergonha.
— Eu sei — afirmou o Yoon. — Eu não queria me sentir assim, eu não queria que nada disso tivesse acontecido.
— Ei, calma — fiquei na frente dele, abaixando-me para ficar na altura de seus olhos. — É óbvio que você não queria que acontecesse, ninguém quer que isso aconteça. Eu estou falando que você não devia esconder o que aconteceu do Seungcheol, tudo que ele fez foi se preocupar com você.
— Eu sei — Jeonghan suspirou, engolindo em seco. — Vou falar com ele quando sair daqui.
— Que bom — sorri, bagunçando os cabelos dele. — Eu terminei, acho que não ficou ruim — afastei-me para pegar um espelho de mão. — Que tal?
— Ficou bom mesmo — o alfa sorriu, olhando de vários ângulos o novo corte. — Obrigado, Jih.
— Não precisa agradecer.
Assim que varremos o chão e pusemos os cabelos cortados no lixo, sentamos no sofá e ligamos a TV num canal de música qualquer, onde passava algum clipe.
— Aliás, por que você chegou atrasado? — perguntou Jeonghan, virando para me encarar.
— Ah, até esqueci de te contar — disse, me virando pra ele. — Na hora do intervalo, Soonyoung veio falar comigo e pediu pra eu tocar piano para ele ensaiar uma coreografia.
— Meu Deus — exclamou o alfa. — Não acredito que o Soonyoung seja tão cara de pau assim.
— O pior foi que eu aceitei — suspirei, sentindo meu rosto esquentar. — Ficamos uma meia hora tocando músicas, depois, quando a gente tava se despedindo… — crispei os lábios, envergonhado. — Ele me beijou — toquei minha bochecha, indicando o local beijado.
Jeonghan tinha a boca escancarada em surpresa, batia as mãos juntas. Parecia um verdadeiro lunático.
— Meu Deus, Jihoon, ele tá muito gamado em você! — afirmou, aproximando-se de mim e me balançando pelos ombros. — Cara, ele 'tá tão na sua!
— Não viaja! — neguei, empurrando ele para longe de mim. — Ele me conhece faz dois dias.
— Errado — Yoon ergueu o indicador. — Você conhece ele tem dois dias, ele te conhece há mais tempo. Nada impede dele ter um crush antigo em você.
— Você ‘tá viajando muito, hyung! — exclamei, jogando uma almofada no alfa.
— Jih, eu sou um alfa, eu posso não estar na mente de todos deles, mas eu entendo de alfas apaixonados… — antes que ele pudesse continuar, joguei outra almofada nele.
— Meu Deus, cala a boca — pedi — ou implorei —, cobrindo o rosto com uma das almofadas. — Isso é ridículo, você está surtando!
— Você que tá surtando! — acusou, apontando para mim. — Mas tem um jeito de você descobrir se eu estou surtando ou não.
— Um psiquiatra? — sugeri, recebendo outra almofada na cara.
— Não — afirmou Jeonghan. — A festa do Seungkwan. O Soonyoung vai estar lá, ele é amigo da Diva Boo.
— Esse apelido não é uma ofensa a sexualidade do Seungkwan? — perguntei, franzindo o cenho.
— Foi o próprio Seungkwan que inventou o apelido — Jeonghan contou. Assenti, percebendo que fazia certo sentido. — Mas não é o caso, não muda de assunto! Soonyoung vai estar lá, você vai e eu posso analisar como ele fica perto de você.
— Ugh! — urrei, jogando a cabeça pra trás. — Não!
— Qual é! — Jeonghan exclama, enquanto eu cobri meus ouvidos. — Se não for o caso, pelo menos vocês podem se conhecer melhor.
— Não tô convencido ainda, sabe que…
Paramos de falar quando a porta da frente foi aberta, logo meus pais entraram.
— Oi, Jeonghan, ainda está aí? — minha mãe perguntou, sorrindo simpática. — Veio para dormir?
— Não, na verdade, eu ia pedir uma carona pra casa — Jeonghan se levanta.
— Ah, claro, querido — ela sorri, entregando as sacolas pro meu pai. — Eu te levo, vamos?
Jeonghan acenou positivamente, curvou-se brevemente para meu pai e foi até a porta. Levantei-me e fui atrás.
— Eu vou com você — sorri, seguindo com ele até o carro. Minha mãe andou um pouco mais a frente, abrindo o portão. — Hyung, você contou pra minha mãe o que aconteceu?
— Não! — exclamou num sussurro. — Por favor, eu não quero que ninguém saiba.
— Ok, eu não vou contar, mas ela com certeza desconfia de algo, essa mulher é quase uma bruxa — acusei, fazendo-o rir.
— Tenho certeza que não, mas ela vai desconfiar se a gente não entrar no carro logo.
[...]
Assim que Jeonghan foi deixado na frente de casa, foi como se os acontecimentos daquela manhã voltassem com toda força para sua mente. Engoliu em seco e acenou para a Sra. Lee e Jihoon, antes de entrar na casa.
Sua surpresa, porém, foi encontrar Seungcheol sentado no sofá, ao lado de sua mãe.
— Cheollie, o que…? — antes que pudesse completar a fala, o corpo do ômega jogou-se contra o seu, abraçando-o apertado.
— Como é que você some e não diz nada!? — brigou Seungcheol, afastando-se para olhar o namorado. Pequenas lágrimas formaram-se nos olhos do ômega.
— Jihoon mandou mensagem para sua mãe, avisando que você estava lá, mas mesmo assim eu fiquei preocupado! Você não respondeu às minhas mensagens, Hannie… — ele calou-se quando Jeonghan abaixou a cabeça e começou a chorar, as lágrimas grossas pingaram no tapete da sala. — Han, o que aconteceu? — perguntou preocupado.
— Filho, você está bem? — a Sra. Yoon levantou, aproximando-se do casal.
— Aconteceu uma coisa — falou ele, a voz embargada pelo choro quase compulsivo. — Uma coisa ruim.
— Tá tudo bem, estamos aqui — Seungcheol murmurou, limpando as lágrimas do rosto bonito com seus polegares. — Eu tô aqui.
Chapter 4: Café Arábica
Chapter Text
Como nas noites anteriores, Jihoon não conseguiu dormir. Os pensamentos correndo nos acontecidos, normalmente paravam em Soonyoung. Mas, desta vez, focava em Jeonghan, estava preocupado com o amigo.
Sabia como era horrível passar por qualquer assédio que fosse, mas não sabia como o amigo iria reagir quanto a isso. Jeonghan era um alfa, afinal, será que sentia-se impotente? Fraco? Ou apenas invadido e violentado?
Eram outras perguntas sem resposta, não queria trazer o assunto à tona, mas sua mente martelava sem parar. Rodando em um loop.
Com um suspiro alto, Jihoon virou na cama e pegou o celular.
Meia-noite e vinte.
hyung?
está acordado?
[Jeonghan hyung]
Oi Jih
Tô
Aconteceu alguma coisa?
não, só estava pensando
eu sei que provavelmente vc não quer falar sobre oq aconteceu
mas eu tô preocupado
vc tá bem?
Eu tô bem por incrível que pareça
Cheol estava aqui quando eu cheguei
Eu acabei desabando e contei tudo para ele e minha mãe
Isso me ajudou, os dois conversaram comigo
Vamos até a delegacia amanhã
isso é ótimo
de verdade
Eu sei
Mas eu não espero que o cara seja preso
Eu sei que não vai acontecer
Mas se ele só pensar duas vezes antes de fazer oq fez comigo com outra pessoa
Acho que já vai ter valido a pena
vai ter valido muito
mas tenho certeza que o soco que vc deu nele vai servir de lembrança
Hahahaha
Ai eu amo vc Jih
Vc foi a primeira pessoa que me fez rir dps do incidente
vc é meu melhor amigo
sempre vou te fazer rir
Eu sei
Mas agr eu quero saber outra coisa
Eu não tive tempo de perguntar na sua casa
Nem estava com cabeça para isso
Mas
Eu sei, tenho quase certeza
De que o Soonyoung tá interessado em vc
hum bateu um sono agr
boa noite
LEE JIHOON
NÃO FUJA
não grita, eu não sou cego
Eu não vou falar do Soonyoung, quero saber de vc
exatamente oq?
Soonyoung >aparentemente< está interessado em vc
Mas e vc?
Tá interessado nele?
não
não sei…
quer dizer
é complicado
Não precisa ser
É uma pergunta de sim ou de não
eu não sei ok?
é tudo novo
eu nunca estive realmente interessado em alguém
como eu sequer sei se estou interessado?
Ué, vc quer conhecer ele?
Acha ele atraente?
Já imaginou como seria caso vcs ficassem?
ok, tá
eu estou um pouco curioso
ele é muito peculiar, dá vontade de conhecer
Soonyoung não é feio
mas eu não sinto atração sem conhecer de fato a pessoa
Demisexual do caralho
sim, obrigado
mas sério
eu não sei
eu nunca me apaixonei, não sei como é
todas essas coisas envolvendo paixão
são coisas que eu só vi por aí, nunca vivi
Olha, não se preocupa
Vc simplesmente sabe
isso certamente não me ajuda
e nem ajuda na sua teoria da conspiração
O problema é que vc quer ser lógico com o coração
Fala sério, vc não aprende nada lendo mil romances?
eu aprendi que as pessoas estavam certas em colocar o amor nos livros
pq talvez o amor não possa viver em nenhum outro lugar
Quem dormiu agora fui eu zzz
vai tomar no cu?
Bom, se isso vai te ajudar de alguma forma não sei
Mas vc pode pesquisar sla “sintomas de paixão”
Vê se vc acha um diagnóstico pro seu coração
eu não vou fazer isso
vou dormir que eu ganho mais
Beleza, boa noite
Fotinha do Cheollie dormindo do meu ladinho pra vc
Jihoon revirou os olhos, negando com a cabeça e desligando o celular após ver a foto de Seungcheol que seu amigo mandara.
— Eu não vou fazer isso — repetiu pra si mesmo. — É ridículo… — murmurou, pensando. — Ugh, merda. Eu vou fazer isso.
[...]
Ridículo.
Jihoon se sentia ridículo. Não acreditava que havia aceitado a ideia maluca de Jeonghan e pesquisado “sintomas de paixão”.
Claro que, depois de anotar alguns pontos que achava importante, apagou o histórico do celular e negaria até a morte se alguém perguntasse.
Enquanto andava para a escola, o ômega analisava a lista que fizera em uma folha já rabiscada do caderno.
— "Você dorme e acorda pensando na pessoa; durante o dia, tudo lembra ela, você sonha com a pessoa…" — negou com a cabeça, achando bizarro achar que pessoas realmente sentiam-se assim. — Fala sério. "Você sente um calafrio, suor frio nas mãos e borboletas no estômago só de pensar em ir ao seu encontro?" Não, isso é ridículo — dobrou o papel sem cuidado algum e o enfiou de volta no bolso do moletom.
— Jihoon! — uma voz distante o chamou.
O ômega sentiu o estômago revirando rapidamente, logo olhou ao redor e viu Soonyoung acenando em sua direção. Retribuiu o gesto, mas não conseguiu mover os pés para ir ao encontro do alfa.
— Bom dia — desejou o Kwon, assim que chegou perto o suficiente do menor. — Eu… Hum…
— Não pensou no que iria falar quando me chamou? — Jihoon riu baixo, vendo o alfa rir e coçar a nuca.
— Na verdade não — admitiu. — Vou sair e eu volto quando tiver o assunto — dando meia volta, Soonyoung se preparava para sair quando sentiu Jihoon puxando-o pela manga do casaco.
— Não seja bobo, garoto — falou o pequeno, soltando o tecido quando notou que Soonyoung não iria embora.
— Eu sou naturalmente bobo — disse, como se estivesse se gabando. — Mas então… você vai na festa do Seungkwan na sexta?
— Não sei, ainda estou pensando nisso — desviou o olhar.
— Eu sei que pode parecer chato, mas Seungkwan dá festas muito legais — garantiu. — Ele não convida muitas pessoas, então não vai ser lotado e ele conhece todos que vão, então prometo que não vai ter nenhum inconveniente.
— Se quer tanto que eu vá, pode me convidar diretamente — respondeu Jihoon, encarando o alfa como uma forma de desafio, talvez. Não sabia o que tinha dado em sua cabeça, quando percebeu já tinha falado. Qual é, Jihoon? pensou — Eu tô brin…
— Você quer ir na festa do Seungkwan comigo? — pediu Soonyoung, cortando a fala e a linha de raciocínio do ômega.
— E-Eu… Eu tava brincando — respondeu Jihoon, sentindo o rosto esquentando conforme o alfa aproximou-se dois ou três passos.
— Eu não estou — insistiu ele, encarando o menor enquanto esperava pela resposta. — Você quer?
Antes que Jihoon pudesse abrir a boca para responder, sentiu alguém aproximando-se por trás o puxando levemente pelo ombro, afastando-o de Soonyoung.
— O que você tá fazendo? — Wonwoo perguntou, sério e frio.
— Eu estava…
— Wonwoo — Jihoon interrompeu. — Ele não estava me incomodando, tá tudo bem. Pode ir, você não é meu guarda-costas
— Eu sei que não, mas eu gosto de fingir que sou — o maior sorriu, bagunçando os cabelos do ômega antes de sair. — Qualquer coisa grita.
— Alfa chato — resmungou Jihoon, revirando os olhos. — Desculpa por isso, Wonwoo não é escroto, só se preocupa com os amigos dele.
— Tudo bem, eu também seria assim se tivesse os amigos dele — Soonyoung sorriu. O coração de Jihoon errou algumas batidas. — Mas você ainda não me respondeu: quer ir comigo?
Jihoon crispou os lábios, nervoso, logo concordou com um aceno de cabeça. Ele podia jurar que o sorriso que Soonyoung abriu era mais brilhante que o sol.
— Legal, então… Eu te vejo lá? — Jihoon balançou a cabeça de novo. — Ok, até mais, Jih.
— Até — o ômega então virou e continuou seu caminho, até o armário de Jeonghan.
Soonyoung esperou até que ele estivesse longe para dar alguns pulinhos de alegria, ao mesmo tempo que dava soquinhos no ar.
Ignorou os olhares que recebeu e continuou o seu caminho, como se nada tivesse acontecido.
[...]
Jihoon aproveitou que fazia a primeira aula sozinho — sem nenhum amigo para puxar assunto —, e deu uma olhada na lista novamente.
1- Você dorme e acorda pensando naquela pessoa;
2- Durante o dia todo, tudo te faz lembrar dele;
3- Você sonha frequentemente com ele;
4- Você sente um calafrio, suor frio nas mãos e borboletas no estômago só de pensar em ir ao seu encontro;
5- Quando você está perto dessa pessoa, você por acaso fala demais e até saem besteiras. Ou simplesmente perde a fala e não sabe o que dizer;
6- Você o olha de longe e quando seus olhares se encontram você sorri, ou desvia o olhar imediatamente;
7- Você se sente bem ao seu lado, e adora conversar com ele nem que seja por uma mensagem de bom dia;
8- Você adora provocá-lo com brincadeiras só para tirá-lo do sério;
9- Você tem medo de dizer o que realmente sente;
10- Você gosta dele exatamente como ele é, e não mudaria nada;
— Isso é ridículo, não tem como alguém se sentir assim — afirmou o ômega.
Ficou encarando aqueles tópicos por mais um tempo, analisando o que dizia ali e tentando ligá-los a si mesmo e Soonyoung. Aproveitava que tinha total liberdade em seus pensamentos, podia pensar o que quisesse, ninguém iria saber. Mesmo que pensar no alfa e na possibilidade remota de uma paixão deixasse o ômega totalmente envergonhado. Eram coisas demais.
De fato, desde que conheceu Soonyoung, Jihoon acabava perdendo boas horas de sono ao pensar nele e, principalmente, no modo como ele fazia seu coração bater.
Não lembrava de Soonyoung durante o dia, apenas quando estava na escola e tinha a possibilidade de acabar esbarrando com ele pelos corredores.
Jihoon raramente lembrava de seus sonhos, então não sabia dizer se sonhava com o alfa ou não.
Não podia negar o quarto item, sentia-se, sim, nervoso quando Soonyoung se aproximava, como se seu coração fosse explodir a qualquer momento. Mas isso não significava uma paixão.
Também perdia a fala perto dele, nunca sabendo o que dizer e acabando por falar besteiras. Que idiota — o ômega pensou.
— Ah, isso é tão ridículo — Jihoon murmurou, cobrindo o rosto com as mãos.
— Nem brinca — disse o aluno sentado na sua frente. — Quase três anos aprendendo filosofia e não saímos de Sócrates — revirou os olhos.
Jihoon piscou confuso, encarando o garoto que olhava o professor falando sem parar sobre o filósofo grego.
— Digo, claro que a filosofia grega é incrível, praticamente foi a origem — continuou falando. Seu sotaque não era coreano. — Mas, sério, tem outros filósofos incríveis. Eu, particularmente, gosto de Rousseau — sorriu fechado. — Eu aproveitei essa aula chata e fiz esse meme — mostrou o caderno aberto na última folha. Havia um desenho de dois homens com aquelas perucas brancas brigando, gritando um com o outro. Do lado esquerdo, o homem identificado como Rousseau gritava: TODO HOMEM NASCE BOM, A SOCIEDADE O CORROMPE.
Já do lado direito, o homem denominado Hobbes berrava: NÃO, O HOMEM É O LOBO DO HOMEM.
No canto inferior estava assinado, Xu Minghao.
Jihoon riu baixo para não chamar atenção do professor.
— Bem legal, né? — sorriu o garoto. — Mas claro, essa lista que você fez também é ridícula.
O ômega arregalou os olhos, puxando a folha de cima de sua mesa e enfiando de qualquer jeito nos bolsos.
— N-Não quer dizer n-nada — defendeu-se ele, sentindo a envergonha subir ao rosto.
— Não esquenta, não vou contar para ninguém — ele piscou. — Eu sou Xu Minghao, a propósito.
— Lee Jihoon — murmurou, vendo o outro acenar com a cabeça.
— Aproveitando que essa aula tá um saco — ele se aproximou. — Me diz, por que tá fazendo uma lista? Nunca se interessou em alguém?
— Será que a gente pode não falar nisso?
— Ou a gente conversa sobre isso ou você vai me ouvir falar sobre Descartes pela próxima meia hora — ameaçou, sorrindo de lado.
— "Penso, logo existo"? Já estudei isso, vai precisar de mais para arrancar alguma coisa de mim — Jihoon rebateu.
— Uau, como a gente nunca conversou antes? — perguntou, apoiando o rosto na mão.
— Por que você nunca bisbilhotou minhas coisas antes?
— É, pode ser — deu de ombros. — Ou também o fato de eu ter mudado para cá há algumas semanas. Mas você me pegou, não quero falar sobre filósofos, e isso é algo raro vindo de mim, essa lista realmente me intrigou.
— Ok, olha — Jihoon disse, levemente irritado. — Eu não fiz essa lista, estava pronta na internet, eu só copiei porque eu sou uma anta quando se trata de sentimentos. Agora, se pudéssemos nunca mais falar sobre isso, você iria me fazer muito feliz.
Minghao riu baixo, cobrindo a boca com uma mão.
— Ok, ok, relaxa. Já disse que não vou contar pra ninguém — garantiu.
— Você disse que se mudou pra cá há pouco tempo, certo? — Minghao assentiu. — Onde você morava antes?
— Haicheng, na China — contou. — Meus pais e eu mudamos recentemente, proposta de emprego e essas coisas, sabe?
— Entendo — Jihoon disse. — Espero que se sinta bem-vindo aqui. Essa escola é boa também, é a que possui o menor número de alfas insuportáveis.
O chinês riu, fechando seu caderno.
— Bom saber — sorriu.
— Já fez algum amigo por aqui? — Jihoon perguntou.
— Posso incluir você nessa lista?
— Acho que sim — deu de ombros.
— Então, sim, fiz um — sorriu o garoto.
— Que coisa — murmurou Jihoon, escrevendo no caderno algumas coisas que estavam no quadro branco. — Se quiser, pode sentar comigo e meus amigos no almoço.
— Sério? Nossa, valeu — agradeceu Minghao. — Mas espera aí, você e seus amigos não são tipo umas Regina George da vida, né? — perguntou sério, fazendo Jihoon rir.
— Não, não se preocupe — assegurou. — Somos pessoas legais.
— Tudo bem, vou acreditar em você — sorriu o Xu.
[...]
— Quem é esse? — Wonwoo perguntou, no momento que chegou na mesa onde estava Jihoon, acompanhado de outro garoto.
— É Xu Minghao, garoto novo — explicou o menor. — Minghao, esse é Wonwoo. Wonwoo, Minghao.
— Muito prazer — respondeu o chinês, sorrindo simpático para o alfa.
— Prazer — respondeu, sentando-se na frente deles. — Onde estão Jeonghan e Seungcheol?
— Devem estar se pegando em um canto qualquer — Jihoon disse, mais concentrado em seu almoço. — Daqui a pouco eles aparecem, eu acho.
— Eu espero — murmurou o alfa. — Mas e você — virou-se para o chinês. — É ômega?
— Sério? — o Lee se meteu. — Não tem nada melhor para perguntar?
— Quero saber se ele precisa da minha proteção, assim como você — desdenhou. Jihoon revirou os olhos.
— Nunca pedi sua proteção, alfa chato — retrucou o ômega, mostrando a língua para o amigo que riu, enrugando o nariz.
— A lista era sobre ele? — Minghao perguntou, observando os dois.
— Quê? — Jihoon exclamou. — Não, por Deus, não! Fica quieto!
— Que lista? — Wonwoo perguntou, curioso.
— Nada! Nenhuma lista! — afirmou o menor.
— Conheceu ele hoje e vocês já têm segredos? — murmurou o alfa, assumindo uma expressão triste. — Vou me sentir mal assim, Jih.
— Ai, eu não mereço — resmungou Jihoon, apoiando a testa na mesa. — Agora tenho mais um para infernizar minha vida.
— Quem tá infernizando sua vida? — uma quarta pessoa perguntou, o ômega ergueu-se rapidamente ao notar ser a voz de Soonyoung.
— S-Soonyoung! N-Não, n-ninguém tá… digo... — enrolou-se nas palavras, nervoso.
— Vish, ele quebrou — Wonwoo brincou, recebendo um chute por debaixo da mesa.
— Cala a boca, besta — mandou Jihoon. — Q-Quer alguma coisa, Soonyoung?
— Seungkwan pediu para eu perguntar quem é o garoto novo — explicou, indicando Minghao com a cabeça. — E disse que, como ele está andando com vocês, ele pode ser legal então ele está convidado para festa na sexta.
— E por que esse Seungkwan não veio ao invés de você? — o chinês perguntou.
— Ele se recusa a parar de comer, principalmente quando é a comida do namorado dele — apontou para a mesa onde o Boo devorava o almoço de Hansol. — Mas enfim, era isso. Até mais, gente. Tchau, Jihoon.
— Tchau — acenou levemente com a mão, não notando um sorrisinho no canto de seus lábios.
— Já entendi — Minghao falou, quando Soonyoung já estava longe. — A lista é sobre ele.
— Meu Deus, que lista? — Wonwoo tornou a perguntar.
— Eu vou me dar um tiro — Jihoon choramingou, escondendo o rosto entre os braços.
— Ei, quem é o garoto novo? — Jeonghan perguntou, aproximando-se da mesa com Seungcheol ao seu lado.
— Sou Xu Minghao — sorriu o chinês. — Aluno novo e blá blá blá...
— Eu sou Jeonghan — o alfa sorriu, sentando-se ao lado de Wonwoo.
— Eu sou Seungcheol — falou, sentando-se ao lado do namorado.
— Por que chegaram tão tarde? — Wonwoo perguntou.
Jihoon ergueu os olhos para o mais velho do grupo, curioso para saber se Jeonghan contaria a verdade.
— Estávamos na delegacia — falou simples.
Minghao fez uma careta engraçada, que fez, não só Jihoon, mas todos na mesa rirem.
— O que você fez? — perguntou o Xu, olhando para o alfa que ria baixo.
— Eu dei um soco num cara que gozou na minha perna no ônibus — explicou, como se não fosse nada, mais focado em separar os hashis.
— Ah, okay, então você não fez nada errado — acenou Minghao, voltando a comer.
— Como assim, Jeonghan hyung? — Wonwoo perguntou, de olhos arregalados. — Eu sabia que tinha que proteger o Jih e o Seungcheol, mas agora tenho que proteger você também?
— Ninguém aqui pediu sua proteção, alfa chato — lembrou Jihoon, revirando os olhos, apesar de sorrir.
— Não preciso que me peçam — respondeu o maior, dando de ombros.
— Não se preocupa, Nonu — Jeonghan falou, sorrindo doce para o amigo. — Já tá tudo certo.
— Ok, se você diz… — respondeu o maior, ainda pouco convicto.
— Agora, vamos falar de coisa boa — anunciou o Yoon, batendo uma palma na outra — o que acabou por assustar Seungcheol, que estava distraído comendo ao seu lado.
— Melhor do que um assediador apanhando? — perguntou Jihoon, olhando curioso o amigo.
— Sim — Jeonghan afirmou. — A festa do Seungkwan. Quem vai? — perguntou animado, erguendo a própria mão.
— Precisa chamar tanta atenção assim? — Seungcheol riu, segurando a mão do namorado. — Acho que todo mundo vai.
— Até o Minghao foi convidado — Wonwoo contou.
— Deveria ir? — ponderou o Xu.
— Claro que sim, você não vai se arrepender — Jeonghan sorriu, logo olhou para Jihoon. — E você, Jih? Decidiu?
— Sim — suspirou, fechando os olhos. — Eu vou.
Jeonghan exclamou uma comemoração, alto o suficiente para fazer alguns olhares se virarem para onde estavam sentados.
Jihoon resmungou, já se arrependendo da decisão.
Chapter 5: Café Bourbon
Chapter Text
Jihoon era uma pessoa que pensava muito antes de tomar decisões, sendo assim, corria pouco risco de se arrepender de seus atos.
Mas, deveria admitir: não havia pensado direito quando aceitou o convite de Soonyoung.
A sexta-feira tinha chegado, as aulas haviam terminado e o ômega só tinha uma preocupação: a festa de Seungkwan.
Andava de um lado para o outro no quarto, pensando no que vestir, em como iria agir, se ainda dava tempo de inventar uma desculpa qualquer e não ir. Estava em desespero.
— Daqui a pouco você abre um buraco no chão — Jeonghan falou, sentado na cama do mais novo, observando ele andar pra lá e pra cá. — Tá me deixando agoniado, já. Senta aí.
— Ugh, você não entende — Jihoon rebateu, jogando-se na cama e urrando no travesseiro. — Eu me odeio nesse momento — constou, afastando o objeto fofo do rosto.
— Você é tão dramático, sério — respondeu o alfa, revirando os olhos. — Eu vou escolher sua roupa, você vai ficar mais lindo que já é. E depois, é uma festa, cara! Só relaxa e faz o que você quiser, ou tenta sair da sua zona de conforto, dança, conversa, eu sei lá.
— Eu realmente tô com receio — confessou o pequeno, fazendo bico. — Sei lá, eu literalmente nunca fui em uma festa antes.
— Já foi nos meus aniversários, vai ser parecido, mas melhor — explicou, levantando-se. — Seungkwan dá festas muito boas, ele só conhece o pessoal legal, então vai ser muito top.
— Algumas gírias não combinam com você — Jihoon murmurou, sentando na cama e observando o mais velho ir até seu guarda-roupa. — Você já foi em uma festa do Seungkwan?
— Já, uma vez — contou, mexendo nas roupas do ômega. — Foi bem legal, dancei pra caralho, bebi umas bebidas, mas não conta pra minha mãe — pediu, lançando um olhar sério pro amigo, que apenas deu de ombros. — Se eu não namorasse o Cheol, provavelmente teria ficado com algumas pessoas também. Eu te garanto que vai ser legal.
— Eu vou ir, não precisa mais tentar me convencer — resmungou o ômega. — Só tô um pouco ansioso, talvez.
— Relaxa, qualquer coisa a gente vem embora — garantiu o Yoon, pegando algumas peças de roupa e jogando em cima da cama.
Jihoon encarou a blusa vermelha, a calça jeans escura com rasgos nos joelhos e a jaqueta de couro que havia usado uma vez na vida. Sabia que não teria como argumentar com o mais velho sobre aquilo, então nem começou.
— Agora, vai tomar um banho, fica bem limpinho e cheiroso, coloca a roupa e depois vamos — mandou Jeonghan, puxando o amigo pela mão.
Jihoon suspirou, quase derrotado, levantando da cama e indo em direção ao banheiro.
[...]
— Tô sentindo que vai dar ruim.
— Se você ficar agourando, óbvio que vai — Jeonghan exclamou, puxando o menor pela mão. — Não conhece a lei da atração, não? Pensa em coisas boas, vai.
— Você não conhece a lei de Murphy? — Jihoon pergunta, erguendo as sobrancelhas.
— Não — afirmou, encerrando o assunto ali.
Logo, os dois chegaram na casa de Seungcheol, que esperava ambos para irem juntos até a casa do Boo, que não era muito longe da sua.
Jeonghan tocou a campainha e esperou. Puderam ouvir os passos do ômega se aproximando da porta, assim como o cheiro de rosas brancas ficando mais forte.
— Tchau, mãe — falou o Choi, logo saindo pela porta e a fechando. — Oi, Hannie — sorriu para o namorado.
— Oi, bebê — retribui o sorriso, aproximando-se e lhe dando um selinho demorado. — Você está lindo — elogiou, admirando o ômega da cabeça aos pés. Ele vestia uma camisa branca, uma calça jeans e jaqueta do mesmo material.
— Você também — acrescentou sorrindo, nem se dando ao trabalho de olhar Jeonghan por inteiro.
— Tá, tá, os dois são lindos — Jihoon falou, interrompendo o momento do casal. — Podemos ir agora? Eu tô com frio — disse, se encolhendo dentro das próprias roupas.
— Não se preocupe, Jih — Seungcheol começou. — A casa do Seungkwan é bem quentinha, afinal toda família dele é de ômegas.
— É? — questionou, franzindo as sobrancelhas.
— Sim, as mães dele são ômegas, adotaram ele quando ele era recém nascido — explicou, fazendo o Lee assumir uma expressão de entendimento. — Mas isso não importa, o mais importante é que lá vai estar quentinho e a gente vai se divertir muito.
— É melhor vocês estarem certos — murmurou Jihoon, aproximando-se de Jeonghan e abraçando seu braço para pegar um pouco do calor do alfa.
[...]
— Vocês vieram! — Seungkwan exclamou animado, assim que abriu a porta. — Até trouxeram o Jihoon hyung! — bateu palmas, logo se aproximando e abraçando o menor.
Jihoon fez uma nota mental: Seungkwan é muito receptivo e tem cheiro de mel.
Jeonghan e Seungcheol riram baixinho, vendo a expressão perdida do Lee.
— Fiquem à vontade, tá? — falou o Boo, dando espaço para os convidados entrarem. — Tem bebidas na cozinha, todo mundo já é maior de idade, né? — Jeonghan e Seungcheol concordaram. — Ainda bem, não quero ser preso.
Assim que entraram, Jihoon observou todo o local. A casa de Seungkwan era bem grande, havia decorações simples pelas paredes e tocava Rihanna num volume alto para quem quisesse dançar, mas bom para quem quisesse apenas conversar sem precisar gritar. Não havia muitas pessoas, Jihoon contou umas vinte rapidamente, mas com certeza tinha mais.
— Vem, Jih, vamos te dar uma bebida — Jeonghan decretou, puxando o menor pelo pulso até a cozinha. — Não se preocupa, você não vai ficar bêbado, só mais solto.
— Você é uma má influência, sabia? — perguntou o ômega, vendo o mais velho colocar vodka e suco em um copo.
— Eu sou a melhor coisa que aconteceu na sua vida — sorriu convencido, entregando o copo de bebida para o amigo. — Tem mais suco do que álcool, vai. Você precisa se divertir.
— Você que vai cuidar de mim se eu passar mal — avisou, logo bebendo alguns goles.
— Eu sei — afirmou, enchendo um copo para si e outro para o namorado. — Saúde — ergueu o copo e virou o conteúdo.
— Vai com calma, você também — falou Seungcheol, tocando o rosto de Jeonghan.
O alfa sorriu e deu um selinho no ômega. Jihoon revirou levemente os olhos em meio a um sorriso de canto, acostumado com a troca de afeto dos amigos.
— A gente vai dançar, ok? — Jeonghan anunciou, virando para o menor. — Se diverte, relaxa.
— Tá bom, vai, vai — balançou as mãos, como se dissesse para irem de uma vez. Logo, os dois saíram da cozinha e foram até a pista de dança improvisada na sala.
Jihoon resolveu sair dali, após pegar mais um pouco de bebida. Foi até a sala, ficando num canto mais afastado do pessoal dançando, observando e refletindo se foi mesmo uma boa ideia ter ido.
— Que se dane — murmurou sozinho. — Já tô aqui mesmo — falou, bebendo mais alguns goles generosos do copo em sua mão, fazendo uma careta em seguida.
Saiu do canto que estava e começou a andar pela casa, olhou as pessoas e lembrava de ter visto algumas pelos corredores da escola. O local era grande e, como não estava muito lotado, podia andar sem esbarrar em ninguém.
Tinha andado pela casa por uns cinco minutos, voltou a cozinha para pegar mais bebida e, quando saiu do local, ouviu alguém lhe chamando:
— Jihoon-ah! — Soonyoung sorria abertamente, vindo em sua direção. — Você veio.
— É claro — respondeu abrindo um pequeno sorriso, apoiando-se na parede ao seu lado. — Você me convidou.
— Ah, sim, é verdade — o alfa abaixou o olhar, sorrindo envergonhado. — Mesmo assim, não precisava ter vindo se não quisesse.
— Se eu não viesse, Jeonghan hyung ia ficar me incomodando — contou, rindo baixo. — Ele também disse umas coisas, tipo eu sair da minha zona de conforto e sei lá o que.
— Você já tá bêbado? — Soonyoung perguntou, já que nunca havia visto o ômega sorridente daquela forma.
— Não, ainda não — respondeu, olhando o copo em sua mão. — É meu segundo copo, mas eu não sou acostumado a beber, então… Eu nem sei, meu deus — cobriu o rosto com a mão livre. — Que vergonha, eu não devia ter ouvido aquele alfa idiota.
— Você é muito fofo — disse o maior, tocando sua mão e segurando-a, para poder ver seu rosto novamente.
— Para de dizer isso — pediu, desviando o olhar.
— Não é nenhuma mentira — falou, ajeitando a franja do ômega com a ponta dos dedos. — Mas já que você insiste, eu paro.
— Obrigado — respondeu, mantendo o olhar no rosto do Kwon, que estava distraído mexendo delicadamente em seu cabelo. — O que você tá fazendo?
— Ah, desculpa — pediu, afastando a mão e deixando ambas juntas, segurando o copo pela metade. — Viajei.
— Não tem problema — Jihoon sorriu, logo desviou o olhar, sem saber o que dizer.
— Você… — começou Soonyoung, incerto. — Você quer dançar?
O ômega levou os olhos até a pista de dança, com uma dúzia de pessoas dançando ao som de uma música que ele desconhecia.
— Eu não sei dançar — negou, sem graça.
— Isso não existe — disse. — Existe gente que dança bem, e gente que dança mal, mas todo mundo sabe dançar.
— Você diz isso porque você dança bem — acusou o menor, fazendo um bico involuntário. Soonyoung riu, mordendo o lábio inferior.
— Dançar é só deixar seu corpo se expressar, Jihoonie — explicou, aproximando-se do ômega e segurando suas mãos, de forma desajeitada por ainda estarem segurando seus respectivos copos. Cruzou, de forma atrapalhada, dois ou três de seus dedos com os de Jihoon, balançando seus braços juntos, numa dança improvisada. — Entendeu?
O ômega riu envergonhado, olhando para Soonyoung e como ele parecia feliz ali. Recolheu suas mãos de forma relutante, trazendo-as para perto do peito. E então repetiu:
— Eu não sei dançar.
— Tudo bem, então podemos ficar só conversando — respondeu Soonyoung, aproximando-se um pouco. — Que tal?
— Não precisa ficar comigo — negou Jihoon, desviando o olhar do alfa. — Pode ir dançar, se quiser.
— Não é que eu queira dançar — começou, dando mais um, ou dois, passos na direção do menor. — É que eu quero ficar com você.
O coração de Jihoon bateu tão forte que ele pensou, por alguns segundos, que iria morrer. Os olhos arregalaram-se, e a boca abriu e fechou, sem nenhuma resposta sair.
Ambos tiveram um sobressalto quando o copo, antes segurado por Jihoon, caiu no chão, quando ele ficou perdido demais para lembrar-se de segurar o objeto.
O plástico não quebrou, mas os últimos goles da bebida foram espalhados pelo chão.
— Ah, céus, me desculpa — pediu o ômega, gesticulando nervoso com as mãos. — Eu vou limpar, só não sei onde tem…
— Ei, ei — Soonyoung o chamou, tocando seu ombro. — Relaxa, tá tudo bem. Eu vou pegar um pano, ok?
Jihoon concordou com a cabeça e logo o maior saiu.
— Eu me odeio — murmurou o ômega, escondendo o rosto com as mãos e soltando um urro de descontentamento. Assim que abriu os olhos viu Minghao na sua frente. — Credo, garoto, parece assombração.
— Claro, eu quase morri de vergonha alheia vendo você e seu namorado.
— Ele não é… — começou, irritado, mas Minghao o interrompeu:
— Ok, parei — ergueu uma mão, revirando os olhos. — Mas sério, relaxa.
— Tenho ouvido muito isso — o menor suspirou.
— Porque é verdade, cara — exclamou, aproximando-se e tocando o rosto de Jihoon com as duas mãos, em forma de concha. — Você é muito contido, qual é! Você nunca dançou igual um doido ouvindo uma música que você gostasse muito?
— Já, óbvio — falou, afastando-se das mãos do chinês.
— Então, faz isso aqui, finge que não tem ninguém — aconselhou, tocando o ombro do pequeno.
— Você é gosta muito de toques, não? — olhou de esguelha para a mão tocando seu ombro. Minghao, então, recuou, erguendo as mãos em sinal de rendição. — Como eu finjo que não tem ninguém aqui se tá cheio de pessoas aqui?
— Você é muito lógico, credo — o chinês riu, jogando os cabelos para trás. — Que tipo de música você gosta?
— Sei lá, basicamente qualquer coisa que eu achar legal — deu de ombros.
— Ok, me diz…
— Ah, desculpa — Soonyoung chegou, de repente, interrompendo a conversa. — Eu só vou limpar o chão.
— Ah, claro. Desculpa — pediu Minghao, segurando a mão de Jihoon, puxando-o para outro canto.
— Ei, espera — disse o ômega, mas o chinês cortou:
— Deixa ele passando pano. Continuando: me diz qual foi a última música que fez você dançar igual um doido?
— Pra que quer saber?
— Você é todo por dentro dos rolês e não sabe que só idiotas respondem uma pergunta com outra pergunta?
— Minghao — disse, em tom de ameaça.
— Ok, só me diz o nome da música e deixa que eu faço o resto — revirou os olhos.
— Tá — desviou os olhos, pensando. — Conhece Wish you were sober? É uma música pouco conhecida, eu acho, eu conheci ela por acaso, mas é bem o tipo de música que eu fico ouvindo no meu quarto e fico dançando enquanto...
— Tá, tá — Minghao o interrompeu, dando tapinhas em seu ombro. — Pega isso daqui — pegou dois shots de bebida numa bandeja que alguém estava distribuindo, entregando-os para Jihoon. — Se solta, e vai procurar seu namorado.
E o chinês saiu, sem dar tempo de Jihoon retrucar.
O ômega olhou os copos em suas mãos, respirou fundo antes de virar os dois, um atrás do outro. Sentiu o líquido queimando a garganta e tossiu.
— Ei, Jih, o que tá fazendo aí? — Wonwoo perguntou, após se aproximar.
— Preciso achar meu namorado — ele respondeu, entregando os copos vazios para o alfa, que piscou confuso.
— O que?
Jihoon andou pela casa, procurando por Soonyoung enquanto desviava de algumas pessoas alteradas pelo álcool.
Encontrou o alfa na cozinha, virando em goles grandes alguma bebida. Limpou a garganta e se aproximou dele, cutucando seu braço.
— Ei, onde você estava? — perguntou, apoiando-se no balcão onde estavam dispostas garrafas.
— Ah, você tava conversando com aquele menino — começou, coçando a nuca. — Não quis atrapalhar.
— Você não iria atrapalhar — murmurou fazendo um bico, mirando seus pés. Estava pensando no que falar quando a música acabou e, em seguida, começou a tocar Wish you were sober. — Meu Deus, eu amo essa música. Quer ir dançar? — perguntou, relutante.
Soonyoung franziu as sobrancelhas, confuso.
— Mas você disse…
— Tô saindo da minha zona de conforto — explicou, aproximando-se. — Me acompanha?
Rapidamente, o alfa acenou com a cabeça.
— Claro!
Jihoon sorriu e pegou mais um copo de bebida, andou com o alfa até a pista de dança, fechou os olhos e se convenceu de que estava alterado o bastante para não ligar para o restante das pessoas.
Olhou para Soonyoung e sorriu um pouco sem jeito, vendo o alfa se aproximar de si e lhe estender uma mão.
Ainda um pouco tímido, Jihoon segurou a mão de Soonyoung e se deixou levar pelo ritmo da música. Mexendo os pés de maneira torta, deixando-se levar pela forma que o alfa o guiava, erguendo sua mão e o girando no lugar, rindo alto quando esbarrava em alguém ou pisava no pé de Soonyoung, pedindo desculpas de maneira envergonhada.
Percebeu que o álcool estava subindo à cabeça quando sentiu-se tonto, como se seus movimentos estivessem mais rápidos que sua percepção. Mesmo assim, sentia-se alegre, mais leve e, admitia, estava gostando de dançar com Soonyoung. A música que ele “havia pedido”, acabou e voltou a tocar as músicas de cantoras pop que eram a cara de Seungkwan.
Quando a terceira música chegou ao fim, Jihoon aproximou-se de Soonyoung, falando perto de seu ouvido:
— Preciso de água — antes que pudesse sair dali, Soonyoung segurou sua mão.
— Eu busco pra você — sorriu gentil. — Vai que depois você não volta mais pra pista — brincou, piscando um olho e logo saindo dali.
Jihoon riu baixo e continuou balançando-se no ritmo da música, até que sentiu uma mão em seu ombro. Virou-se e Soonyoung entregou-lhe a garrafinha de água.
— Obrigado — sorriu, abrindo-a e bebendo goles grandes. Olhou para o alfa de novo, notando que ele bebia algum drink.
Assim que afastou o copo dos lábios, o maior sorriu e se aproximou um pouco de Jihoon.
— Quer saber um segredo? — falou perto do ouvido alheio, deixando o ômega arrepiado. Jihoon acenou com a cabeça, confirmando. — Eu já te observava antes e eu nunca vi você tão sexy!
O Lee riu alto, curvando o corpo e cobrindo a boca.
— Quanto você já bebeu, Soonyoung?
— Não muito — mentiu, sorridente. — Não se preocupa, eu tô bem.
— Vou acreditar em você — falou.
Logo, outra música começou a tocar, fazendo com que Soonyoung exclamasse, animado:
— Ah! Essa música é pra você! — apontou para Jihoon, que o encarava confuso. Então Soonyoung começou a dançar, de uma forma desengonçada para quem dançava maravilhosamente bem (na visão do ômega), e a cantar a música a plenos pulmões, quase sobressaindo a própria cantora.
“Late night, watching television
(Tarde da noite, assistindo televisão)
But how'd we get in this position?
(Mas como podemos chegar a esse ponto?)
It's way too soon, I know this isn't love
(É muito cedo, eu sei que isso não é amor)
But I need to tell you something
(Mas eu preciso te dizer uma coisa)”
Aproximando-se do ômega, Soonyoung segurou as mãos pequenas e cantou o refrão:
“I really, really, really, really, really, really like you
(Eu realmente, realmente, realmente, realmente, realmente, realmente gosto de você)”
Afastou-se num rompante, esbarrando em algumas pessoas mas dançando animado e apontando na direção de Jihoon, que, por sua vez, tinha o rosto e as orelhas em tom vermelho, envergonhado.
“I really, really, really, really, really, really like you
(Eu realmente, realmente, realmente, realmente, realmente, realmente gosto de você)
I want you, do you want me, do want me too?
(E eu quero você, você me quer, você me quer também?)
Oh, did I say too much? I’m so in my head when we are out of touch
(Oh, eu falei demais? Isso fica na minha cabeça, quando não temos contato)
I really, really, really, really, really, really like you
(Eu realmente, realmente, realmente, realmente, realmente, realmente gosto de você)”
A cena era deveras vergonhosa, algumas pessoas riam descaradamente e outras tentavam até conter. Jeonghan observava a situação de longe, imaginando que Jihoon deveria estar desejando a morte naquele momento.
A música estava na metade quando Seungkwan se aproximou, puxando Soonyoung pelo braço para longe dali, brigando com o amigo por ter bebido demais.
Jihoon saiu da pista também, procurando Jeonghan. Quando chegou perto do amigo, disse que queria ir para casa.
— Tudo bem, eu te levo — falou ele, abraçando o menor pelos ombros. — Mas eu ‘tava certo.
— Vai tomar no cu, Jeonghan!
Chapter 6: Café Catuaí
Chapter Text
— Admite, foi um pouco fofo — Jeonghan barganhou, cutucando o braço de Jihoon.
— Eu ainda quero morrer — respondeu, encarando o teto de seu quarto. — Sabe quando você tá lendo uma história, e o personagem faz uma coisa tão ridícula, mas tão ridícula, que você joga o livro longe e fica pensando: por que Deus permite o sofrimento?
O alfa não respondeu.
O dia anterior a festa havia sido tranquilo, Jihoon não estava com dor de cabeça, nem com nenhum outro sintoma de ressaca, mas a cena de Soonyoung cantando para si não tinha saído de seus pensamentos. Ainda sentia o rosto ficar quente só de pensar no ocorrido.
— Fofo só um pouquinho assim — sugeriu o maior, aproximando o indicador do polegar.
Jihoon suspirou, correndo os olhos pelo quarto, como se pudesse achar uma resposta ali. Obviamente, não obteve nenhuma, logo, forçou-se a responder:
— Só um pouquinho — murmurou, tão baixo que se a audição de Jeonghan não fosse aguçada, ele não seria capaz de ouvir.
O alfa riu, batendo palmas animado. Jogou-se ao lado de Jihoon e tocou seu rosto.
— Cara, ele tá tão na sua — falou, risonho.
— Eu percebi, Jeonghan — respondeu, ríspido, empurrando o alfa. — Eu e todas as pessoas naquela festa… Cada vez que eu penso nisso sinto como se perdesse um ano de vida.
— Você é muito dramático, que saco — reclamou, sentando na cama. — O que vai fazer agora?
— Não sei — respondeu, imitando o ato do maior. — Pelo menos tenho dois dias pra pensar nisso.
— É, reflete com calma — disse, dando tapinhas na perna do ômega.
Então, a porta se abriu e logo Wonwoo entrou no quarto.
— Boa tarde, sua mãe me deixou subir — explicou, aproximando-se e jogando-se ao lado dos amigos.
— Claro que deixou, ela ainda acha que a gente deveria namorar — o ômega riu, mexendo nos cabelos cinzas do Jeon.
— Bom, ela vai ter que superar, pois eu fiquei com o garoto mais incrível do mundo — contou o maior, sentando na cama, sorridente.
— Como é? — Jeonghan perguntou, ajeitando-se para ouvir melhor.
— Eu fiquei com o Mingyu na festa ontem — soltou.
O Yoon gritou, eufórico.
— Meu Deus, não acredito! — exclamou, segurando Wonwoo pelos ombros.
— Pois eu tenho até provas — disse ele, puxando a gola alta e mostrando um chupão em seu pescoço.
Jihoon e Jeonghan riram em descrença.
— Eu achei que o Mingyu fosse do tipo fofo — disse o ômega.
— Eu também, Jih, eu também — Wonwoo suspirou. — Mas nossa, foi incrível demais.
— Meu Deus, você tá mais apaixonado que o Soonyoung — acusou Jeonghan, recebendo uma travesseirada do Lee.
— Aliás, que cena foi aquela? — perguntou o maior dos três, vendo o rosto de Jihoon ficar vermelho, enquanto ele revirava os olhos.
— Eu não quero mais falar sobre isso, por favor — pediu, agarrando um travesseiro e escondendo o rosto.
— Eu também não quero, não se preocupa — Wonwoo disse, bagunçando os cabelos do menor. — Mas, sério, gente… Eu acho que tô ferrado.
— Por que? — perguntaram, quase em uníssono.
— Quando a gente se beijou, eu me arrepiei todo — falou, tocando a própria nuca.
— Nossa, você tá fodido — afirmou Jeonghan.
— Que? Por quê? — Jihoon perguntou, confuso.
— Jihoon, quando arrepia, já era — Wonwoo explicou.
— Eu me arrepiei quando o Cheol me beijou pela primeira vez — contou o mais velho, sorrindo abobalhado. — É quando você percebe que tá ferrado mesmo.
— Não tô gostando dessa conversa — falou o ômega.
Os alfas riram, bagunçando os cabelos do pequeno, quase em sintonia.
— É só as viagens de estar apaixonado — Wonwoo explicou, deitando a cabeça no colo do alfa mais velho.
— Espera aí, volta a fita — Jeonghan disse. — Você acha que tá apaixonado pelo Mingyu?
— Eu tenho certeza — afirmou.
— Ugh — Jihoon fez careta. — Vocês são melosidade demais até pra mim — disse, levantando da cama.
— É porque você nunca se apaixonou por ninguém — argumentou Jeonghan, virando no colchão para olhar o baixinho.
— Eu sei — respondeu ele, ajeitando algumas coisas na escrivaninha. — Por isso eu digo: são coisas que eu nunca entendi, só ouvi dizer. E só ouvindo parece mais uma dose de açúcar direto do sangue. Amor é uma coisa estranha.
— Tão estranha que faz as pessoas dançarem e cantarem bêbadas — disse o mais velho, desviando de um ursinho de pelúcia que foi jogado em si por Jihoon. Wonwoo riu, olhando a cena. — It's way too soon, I know this isn’t love!
— Jeonghan, cala a boca — Jihoon mandou, mas foi ignorado.
— But I need to tell you something — o alfa levantou rapidamente da cama quando o menor correu até si. — I really, really, really, really, really, really like you!
— Não, cala a boca! — mandou, correndo atrás do mais velho, que corria pelo quarto enquanto cantava a música a plenos pulmões.
— And I want you, do you want me, do you want me too?
— Eu vou te matar, alfa chato! — gritou o ômega, tentando alcançar o amigo, que desviava de si habilmente.
Wonwoo gargalhava, observando os dois correndo e bagunçando o cômodo como duas crianças. Puxou ar e cantou também:
— Oh, did I say too much? I’m so in my head, when we’re out of touch!
— Você também não, Wonwoo! — exclamou o baixinho, o rosto em um tom quase berrante de vermelho, tanto pela vergonha, quanto pela perseguição. Pegou um travesseiro e jogou contra o mais alto.
— I really, really, really, really, really, really like you!
— Jeonghan, cala a boca!
[...]
A chegada da segunda-feira nunca havia sido tão desesperadora. Jihoon até pensou em inventar uma gripe para faltar naquele dia, mas não adiantaria nada. Teria que ir mais cedo ou mais tarde, sabia disso.
Como já havia virado costume desde que conheceu Soonyoung, Jihoon passou metade da noite em claro. O estômago revirando em ansiedade, e a imaginação formando diversos cenários de como seria vê-lo no outro dia.
Chegou a escola um pouco cedo, faltando cerca de vinte minutos para as aulas começarem, mas o que surpreendeu o ômega foi encontrar Jeonghan ajeitando alguns livros jogados no armário.
— O que ‘tá fazendo aqui tão cedo? — perguntou, assim que estava próximo o bastante.
— Estou feliz que tenha perguntado — exclamou o alfa, animado.
— Ai, meu Deus — murmurou Jihoon, já arrependido de ter perguntado.
— Hoje Seungcheol e eu fazemos dois anos de namoro — explicou.
— Nossa, tudo isso? — franziu o cenho, um pouco surpreso.
— Pois é — o alfa sorriu, em seguida, tirou do armário um pote cheio de pétalas de rosas brancas. — Eu vou colocar essas pétalas no armário dele, junto com um cartão que eu passei a noite escrevendo.
— Fofo — Jihoon comentou.
— Eu sei — Jeonghan sorriu, um pouco convencido. — Mas eu ainda quero dar mais alguma coisa — falou, pensativo.
Assim que terminou de fechar o armário, Minghao chegou e ficou ao lado deles.
— Bom dia, gente — ele desejou, se escorando na parede ao lado dos amigos. — O que estão fazendo?
— Minghao-ah, o que você acha que eu dou pro meu namorado de aniversário de namoro? — o alfa perguntou.
O chinês deu de ombros.
— Simplesmente dê.
Jihoon fez uma careta, odiando como sua imaginação era mais rápida que seu raciocínio lógico.
— Mas ele é um alfa — argumentou, entrando na conversa.
— Isso não me incomoda — Jeonghan afirmou, dando de ombros. — Mas não acho que Seungcheol esteja interessado.
— Você acha — disse Minghao. — Tem que perguntar pra ele, vai que ele pensa nisso há um tempão e só escondeu para não machucar seu "orgulho de alfa"?
— O que esse diálogo se tornou? — o ômega murmurou, sozinho.
Jeonghan o empurrou de levinho, rindo baixo.
— Bom, eu vou pensar na sua sugestão — disse o alfa. — Valeu, Minghao — agradeceu, bagunçando os cabelos dele e andando até o armário do Choi após se despedir de ambos.
— Ele é uma figura — comentou o Xu. — E você, como está?
— Tô bem, por quê? — Jihoon perguntou, ajeitando a alça da mochila em seu ombro.
— Pelo show que seu namorado fez na festa — falou, erguendo os braços para se defender quando o ômega olhou raivoso para si.
Jihoon respirou fundo, fechando os olhos.
— Deus, me dê paciência, porque se der força, eu mato um — disse, erguendo os olhos para os céus. Em seguida, virou para Minghao. — Eu não quero mais falar sobre isso, e se você disser que ele é meu namorado de novo eu…
— Vai dar uma cabeçada no meu joelho? — brincou, recebendo um tapa no braço. — Ai, é brincadeira.
— Não tô com paciência pra isso, Minghao — disse, batendo os pés com manha.
— Oh, meu Deus, vem cá — abraçou o ômega pelos ombros, bagunçando os cabelos dele. — Vai dar tudo certo, ok?
— Me solta, seu folgado — mandou, empurrando o corpo magro para longe de si. — Desinfeta, vai. Me deixa sozinho.
— Ok, eu irei “desinfetar” — fez aspas com os dedos —, mas você não vai ficar sozinho.
— Que? — perguntou, fazendo careta. Minghao apontou por cima do seu ombro, olhou pelo canto do olho e pôde ver Soonyoung se aproximando. — Ah, eu deveria ter faltado — sussurrou pra si mesmo, tentando caminhar até seu armário, quando ouviu o alfa lhe chamando.
— Jihoonie — ele aproximou-se. Seu rosto estava avermelhado, e o coração batia acelerado. — Posso falar com você?
— Pode — respondeu, sem olhar para o alfa, abrindo a porta metálica.
— Eu sei que você deve me odiar agora — começou, incerto. — Mas, mesmo assim, eu quero pedir desculpa pela cena que eu causei, foi vergonhoso até pra mim, imagina você, que é tímido e esses rolês… — suspirou, apoiando o corpo no armário vizinho ao do ômega, batendo a cabeça contra a porta fechada. — Sério, me desculpa, eu fui um babaca.
Jihoon respirou fundo, mais uma vez, fechou a porta e encarou o maior, que por sua vez, encarava-o de volta, aflito e ansioso por uma resposta.
— Você não foi um babaca, só ficou bêbado — deu de ombros, desviando os olhos dos de Soonyoung, este, porém, continuou com o olhar fixo em si. — Eu realmente quis morrer de vergonha, mas… — riu nasalmente. — Foi fofo, em certo nível.
— Sério? — ele perguntou, animando-se subitamente. — Você tem gostos estranhos, Jihoonie — riu, jogando os cabelos para trás. — Mas então… Eu tô perdoado?
O ômega riu anasalado novamente, revirando os olhos e balançando a cabeça negativamente.
— Tá perdoado, alfa besta — sorriu fechado, vendo o Kwon suspirar aliviado.
— Muito obrigado — ele sorriu grande, levando as mãos ao peito. — Pelo menos, agora eu não preciso mais fingir nada.
— Fingir o que? — Jihoon perguntou, franzindo as sobrancelhas, confuso.
Soonyoung o olhou com descrença.
— Não me diga que eu me embebedei, cantei e dancei na frente de um monte de gente, pra você ainda não entender que eu tô gostando de você!
Passaram-se longos segundos e Jihoon não conseguiu esboçar reação alguma, ficando com o olhar fixo em Soonyoung, que o encarava à espera de uma resposta.
— Ah… Eu… — soltou algumas palavras desconexas, olhando para todos os lados, procurando algo ou alguém que pudesse lhe ajudar. — Eu…
— Meu Deus, Soonyoung você quebrou o menino! — o alfa disse para si mesmo, batendo em sua testa. — Jihoon, por favor, não entra em colapso, não é nada demais.
— Como assim, “não é nada demais”? — exclamou ele, gesticulando com as mãos. — Não é todo dia que isso acontece, Soonyoung!
— Eu sei, eu sei. Desculpa — pediu, juntando as mãos. — Mas, sério, não é nada demais, só aceita sair comigo depois da aula.
— Sair… com… você? — repetiu, ainda processando o pedido.
— Diz que sim — Soonyoung fez beicinho, segurando uma mão do omega e balançando. — Por favor.
— Tá — concordou, acenando com a cabeça. — Sim, sim! Eu aceito.
— Aw, vocês vão casar? — Minghao perguntou, aproximando-se deles. — Posso ser o padrinho?
Jihoon respirou fundo.
— Eu vou matar você — ameaçou.
— Calma, Jih, é brincadeira — falou, afastando-se devagarinho.
— Não foge, não — disse o ômega, andando até ele. Parou e virou para Soonyoung. — Depois da aula? — ele acenou positivamente. — Ok — sorriu fechado, logo assumindo uma expressão séria. — Xu Minghao, volta aqui!
— É brincadeira! — falou, começando a correr pelo corredor, sendo perseguido pelo baixinho.
Soonyoung riu observando a cena, esperando até que eles estivessem longe de sua vista para dar alguns pulinhos e soquinhos de comemoração no ar.
— Yes!
[...]
— Eu vou morrer, de verdade — Jihoon falou, escondendo o rosto entre os braços dobrados sobre a mesa. — Parece que meu coração acabou de vomitar.
— Totalmente normal — garantiu Jeonghan, acariciando os fios descoloridos. — Só não vai vomitar de verdade.
— Eu não duvido nada — murmurou, fazendo bico.
— O que tem demais? Vocês só vão sair — falou Minghao, segurando uma bolsa de gelo na testa.
— Primeiro, me explica como isso aconteceu — pediu o Yoon, apontando para a cabeça do chinês.
— Eu tava correndo do Jihoon, não olhei para frente, abriram uma porta e eu dei de cara — resumiu.
— É, que fique bem claro que eu não tive nada a ver com isso daí — enfatizou o pequeno, sentando-se normalmente.
— Eu estava correndo de quem? — perguntou Minghao.
— Você começou! — acusou.
— Você que não sabe brincar!
— Pelo menos, eu te levei na enfermaria, podia ter ido embora e deixado você sozinho — ressaltou, cruzando os braços, birrento. — De qualquer jeito, me desculpa — pediu.
— Você tem sorte que é fofo.
— Já ouvi isso — deu de ombros. — Mas isso não me ajuda. Como eu tiro essa sensação de refluxo do meu corpo?
— Ninguém respondeu minha pergunta — cortou Minghao. — Eles só vão sair, o que tem demais?
— Ah, é o primeiro encontro do Jih — Wonwoo explicou. — A gente não exagera quando diz que ele odeia a maioria dos alfas.
— Eu não tenho nada contra — interviu ele. — Só não tenho nada a favor, também.
— Viu? — o Jeon ergueu as sobrancelhas para Minghao.
Jihoon suspirou, revirando os olhos.
— O que eu faço, gente? — perguntou, cabisbaixo.
— Primeiro — Jeonghan começa —, fica feliz, poxa! Você vai ter um encontro, isso é uma coisa boa.
— E depois, deixa rolar — continuou Minghao. — Não fica pensando muito nisso. Você estava solto na festa e foi legal, não foi?
— Até que sim — murmurou o ômega. — Ok, mais algum conselho?
— Sim — Wonwoo falou. — Seja sincero, mas nem tanto.
— Que droga de conselho é esse? — resmungou Jihoon.
— É só… — a voz do alfa foi morrendo, ao passo que Mingyu se aproximava, chamando-o discretamente com os olhos. — Deixa para lá, se joga. Tchau, gente — despediu-se, levantando e indo até o Kim, que o puxou para fora do refeitório.
— Nosso amigo está, oficialmente, enfeitiçado — Jeonghan declarou, logo pondo mais um pedaço de kimchi na boca. — Só faltam vocês dois — apontou para Jihoon e Minghao.
— Vai sonhando — o ômega negou.
— Eu já tenho um namorado — disse o chinês, ganhando atenção da mesa.
— E você não pretendia nos contar isso? — perguntou o alfa, cruzando os braços.
— Vocês nunca perguntaram — deu de ombros. — Mas, se querem mesmo saber, ele mora na China, a gente se conheceu uns cinco anos atrás, começamos a namorar há três — contou, mexendo seu copo de suco. — E aí, eu tive que me mudar pra cá, mas a gente continua namorando virtualmente.
— Own, que fofo — Jeonghan comentou, apoiando o rosto nas mãos. — Tem uma fotinha dele aí?
— Claro — murmurou, pegando o celular. — Eu sei ser boiola, ele é meu papel de parede.
— Bonitinho — comentou o Yoon, assim que o aparelho foi virado para si. — Ele é um alfa?
— De novo essa pergunta besta — Jihoon resmunga, espichando o pescoço para olhar a foto também.
Minghao riu baixo.
— Não, ele é beta, assim como eu — explicou, guardando novamente o celular no bolso. — Quem sabe, um dia vocês possam conhecer ele pessoalmente.
— Eu iria adorar, vocês parecem combinar muito — Jeonghan sorriu. — Viu, Jih, um dia pode ser você e o Soonie.
— Ai, eu devo merecer isso — o ômega revirou os olhos, levantando-se da mesa. — Vejo vocês mais tarde.
[...]
— Pessoal, atenção aqui — o professor diz, assim que chega na sala. — Vamos ter que sair da sala por um tempo porque vão trocar as luzes — explicou, apontando pro teto. — Então, a gente vai se juntar com a outra turma de biologia, ok? Peguem os materiais de vocês, e me acompanhem.
Jihoon juntou suas coisas, sentindo-se um pouco nervoso. Odiava ter que ir em outras turmas, já que não conhecia muita gente, então sempre acabava sentando sozinho e ouvia alguns cochichos sobre si. Mas, como não tinha escolha, acompanhou o professor e os demais alunos até outra sala.
— Pessoal, vou pedir para que vocês se sentem em dupla e fiquem em silêncio, por favor — pediu o professor, entrando na sala.
Logo, o som das mesas e cadeiras se arrastando foi preenchendo a sala, junto com o falatório dos alunos encontrando os amigos de outra turma.
Jihoon revirou os olhos, sentindo seus ouvidos sensíveis doerem pela gritaria, e olhou pela sala — procurando um lugar para sentar —, quando viu Soonyoung acenando para si. Sorriu fechado e acenou de volta.
O alfa estava ao lado de Seokmin, que olhava para Jihoon também, mas Soonyoung tratou de bater no braço do amigo, fazendo um gesto para que ele sentasse em outro lugar. O ômega assistia a cena, tentando segurar o riso que ameaçou se formar quando viu a feição indignada do Lee. Seokmin sentou ao lado de Junghwa, que ria de sua cara.
Assim que ele levantou, Soonyoung chamou Jihoon com a mão. O ômega não pôde evitar um riso baixo, enquanto se dirigia até a carteira do maior, que ficava no fundo da sala.
— Impressão minha ou você mandou Seokmin embora para eu sentar do seu lado? — perguntou, assim que estava próximo o suficiente.
— Mandei mesmo — confirmou, sem vergonha alguma. — Eu sento perto dele todo dia, mas nunca temos aula juntos.
— Você é muito direto — constou, sentando-se ao lado do alfa e jogando a bolsa sobre a mesa.
— Eu poderia ser mais, mas eu me seguro — sorriu, aproximando-se um pouquinho.
Jihoon riu nasalmente, revirando os olhos enquanto pegava o caderno e seu estojo.
— Bom, turma, como tá muito tumultuado, não irei explicar nenhum conteúdo novo — disse o professor, seguido por um coro de comemoração de alguns alunos. — Portanto, peguem o livro de biologia e façam os exercícios da página 176.
— Você é bom em biologia? — Soonyoung perguntou, observando o ômega abrir o livro e procurar as páginas pedidas.
— Não muito — riu baixo. — E você?
— Também não, mas a gente consegue — afirmou. Jihoon concordou, acenando com a cabeça, logo concentrou-se em ler as respostas. — Você tá ansioso pro nosso encontro?
— Não estava até você perguntar — respondeu, sem tirar os olhos do papel.
Soonyoung fez bico, aproximando-se um pouquinho mais.
— Não precisa ficar — garantiu. — O que você quer fazer?
— Como assim? — olhou para o maior. — Pensei que você já tinha planejado tudo.
— Eu até pensei, mas vai que você não gosta.
— Bom, eu confio em você — sorriu, tocando a mão do alfa. — Tenho certeza que vai ser legal.
Soonyoung sorriu. As bochechas ganharam um tom sutil de vermelho, enquanto o coração errou algumas batidas.
— Agora, me ajuda com essa questão aqui — pediu, empurrando o livro na direção do alfa.
— Ok, ok — ele concorda, debruçando-se sobre a mesa para ler a pergunta.
Depois de alguns minutos, as atividades estavam feitas e ambos conversavam enquanto ainda restava algum tempo de aula.
— Como assim, você não gosta de sorvete? — o alfa perguntou, indignado. Jihoon ria, cobrindo o próprio rosto.
— Não é que eu não goste — começou —, é que eu não acho tão bom assim, é meio superestimado.
— Que absurdo — negou o maior, cruzando os braços.
— Mas quando tô triste eu posso tomar um pote inteiro sozinho — contou, cruzando as pernas e deixando as mãos entre as mesmas.
— Não posso te levar para uma sorveteria então — comentou Soonyoung, pensativo.
— É inverno, por que você iria me levar numa sorveteria?
— Sei lá, parece um primeiro encontro legal — deu de ombros.
— Eu tô quase congelando e você pensando em sorvete — riu baixo. — Nem deve ter sorveteria aberta nessa época.
— Se a gente procurar, a gente acha.
— A gente não vai procurar! — afirmou entre risos baixos.
— Tá bom, tá bom — Soonyoung concordou, apoiando o rosto em uma mão, enquanto seus olhos focavam em Jihoon.
— Você está sendo esquisito — alertou quando sentiu o olhar do alfa queimar em si por quase um minuto.
Ele riu baixo, desviando o olhar para frente.
— Posso te pedir um favor? — perguntou o maior.
— Poder, pode. Se eu vou fazer, já é outra história — respondeu Jihoon, sem tirar os olhos do caderno.
Soonyoung arrastou um pouco a cadeira, ficando um pouco mais próximo do ômega.
— Eu só queria pedir pra você tocar para mim outra vez — pediu.
— Mas você pode pegar a música na internet — explicou, olhando para o maior.
— É, eu sei — ele fez bico —, mas aí eu não vou ter uma desculpa pra passar tempo com você.
Jihoon o encarou por alguns segundos, sem conseguir esboçar qualquer reação. Não importava quantas vezes Soonyoung fosse extremamente direto consigo, não conseguia se acostumar.
Por fim, só conseguiu soltar um riso meio nervoso, desviando os olhos do rosto sério do alfa.
— Nunca vou me acostumar com sua franqueza — constou, rabiscando a última folha do caderno para se distrair. — Mas, tudo bem, eu toco pra você.
Soonyoung sorriu, tentando não deixá-lo muito grande e denunciar tamanha alegria que lhe invadiu o peito.
— Okay — disse, por fim.
Jihoon não respondeu mais nada, fingiu estar concentrado em um rabisco qualquer que fazia no caderno.
Notou, pelo canto do olho, o alfa se aproximar, fechando os olhos e aspirando um pouco de seu aroma.
— O que você está fazendo? — perguntou sério, virando-se na direção de Soonyoung, que estava com a expressão de quem foi pego no flagra.
— Desculpe — pediu, um tanto envergonhado, encolhendo-se em sua cadeira.
Jihoon riu baixinho, tocando a mão do alfa e aproximando o corpo.
— Como é meu cheiro?
— C-Como assim? — gaguejou Soonyoung, pego de surpresa pela pergunta inesperada. Limpou a garganta, ajeitando a postura, enquanto pensava na melhor forma de organizar as palavras. — B-Bem, você tem cheiro de camomila com um toque bem levinho de mel.
— Sério? — franziu as sobrancelhas.
— Por que eu iria mentir?
— Não disse que era mentira — sorriu, revirando levemente os olhos. — Só… ninguém nunca acrescentou que eu tinha esse "toque de mel".
— E quantas pessoas já cheiraram você?
— Só meus pais e meus amigos, mas eles só diziam camomila — explicou.
— Bem — deu de ombros —, acho que sou mais observador que seus amigos.
— Pode ser — concordou.
Antes que Soonyoung pudesse acrescentar mais alguma coisa, o sinal tocou, anunciando o final daquele período. Jihoon guardou seus materiais, levantando-se e jogando a bolsa sobre os ombros.
— Te vejo depois, então? — perguntou o Kwon.
— Claro, eu te espero pra gente sair — sorriu, virando-se e saindo da sala.
Soonyoung observou Jihoon ir embora com um sorriso no rosto.
Chapter 7: Café Acaía
Chapter Text
Jihoon esperava ansiosamente por Soonyoung, sentado num dos bancos perto do portão da escola, balançando os pés enquanto checava o horário no celular mais uma vez.
14:45
O coração batia erraticamente cada vez que fazia a ligação de que estava esperando pelo alfa porque iria passar o restante da tarde junto dele. Não sabia exatamente o que eles fariam, mas só o pensamento de estar sozinho com Soonyoung deixava-o nervoso e não sabia dizer porquê.
— E aí, Jih — ouviu a voz de Jeonghan, que sentou-se ao seu lado. — Esperando seu boy?
— Eu já falei que certas gírias não combinam com você, não dá pra te levar a sério — olhou o mais velho, que riu dando de ombros.
— Você nunca me levou a sério mesmo — concluiu, acariciando os cabelos claros. — Eu preciso ir, minha mãe tá me esperando, mas boa sorte e depois eu quero saber de tudo.
— Pode deixar — falou, acenando para o mais alto que seguiu seu caminho para fora do colégio.
O ômega respirou fundo mais uma vez, remexendo os pés de forma nervosa. Fechou os olhos e tentou se acalmar.
— Jihoon hyung — abriu os olhos ao ouvir seu nome, mas não era Soonyoung.
— Oi, Seungkwan — cumprimentou o ômega que aproximou-se de si. — Tudo certo?
— Eu que pergunto — falou, sentando ao lado do menor. — Eu sinto muito pela cena que o Soonyoung causou na festa. Acredite, ele ouviu um puta sermão.
— Tá tudo bem, ele já me pediu desculpas — respondeu Jihoon, tentando não rir da indignação do Boo. — E eu já perdoei.
— Ah, isso é ótimo — sorriu Seungkwan. — Porque, sério, quando ele me pediu para convidar você pra festa, eu fiquei meio assim porque eu sei que você não gosta de festas e…
— Ei, ei, ei — interrompeu. — Espera aí, você me convidou por causa do Soonyoung?
— Ele não te disse? — Seungkwan arregalou os olhos.
— Não — afirmou. — Isso é mesmo verdade?
— Óbvio! Eu não mentiria para você, eu não minto! — exclamou. — Soonyoung me pediu pra te convidar porque ele gosta de você, e achou que a festa seria uma boa desculpa pra poder conversar contigo, entendeu? — explicou.
Jihoon ficou em silêncio, processando a informação.
— Você 'tá irritado? — Seungkwan perguntou, após um tempo de silêncio. — Você não falou nada por quase um minuto inteiro.
— Não, não! Eu não estou irritado, é… — riu nasalmente, franzindo as sobrancelhas, tentando assimilar. — É até meio fofo.
— Sim! Foi o que eu disse pro Soonyoung!
— Me disse o que?
— Jesus, garoto! — Seungkwan exclamou, virando para o alfa. — Tá achando que é ninja para chegar de fininho? Mas enfim, eu contei para ele sobre a festa, não me mata, ele achou fofo. Tchau — disse rapidamente, levantando-se e seguindo para fora da escola.
— Você o quê!? — Soonyoung perguntou. — Seungkwan! Eu vou matar você!
Jihoon ria baixo, observando como o rosto do alfa corava por ter sido entregue pelo amigo.
— Não precisa matar ele — alertou, ganhando a atenção do Kwon. — Eu achei fofo.
— Sério? — ele franziu as sobrancelhas, sentando-se ao lado do ômega. — Você é muito peculiar mesmo.
— Eu sei — concordou, dando de ombros. — Mas enfim… — olhou para o alfa, que lhe encarava. — Você tá fazendo de novo!
— O que? — perguntou confuso.
— ‘Tá me encarando igual um doido! — riu, cobrindo seu rosto.
— Ai, desculpa — desviou o olhar. — Vou parar, juro.
Jihoon riu nasalmente, negando com a cabeça e levantando-se.
— Vamos?
— Claro — Soonyoung sorriu, levantando também.
— Aonde a gente vai? — perguntou curioso, andando ao lado do alfa.
— Por enquanto, vai ser surpresa — respondeu risonho. — Mas, eu fiz uma pesquisa e acho que você vai gostar bastante.
— Hum, posso saber que pesquisa foi essa? — olhou para o maior.
— Eu liguei uns pontos na minha cabeça, quando chegarmos no local eu explico — disse sorrindo. — Mas acho que você vai entender por si só.
— Agora eu estou mais curioso — falou empolgado, tentando conter uma expressão de birra.
— Não se preocupa, não vamos demorar muito para chegar — garantiu Soonyoung, fazendo sinal para um ônibus. Assim que o automóvel parou abrindo as portas, o alfa subiu no primeiro degrau e estendeu uma mão para Jihoon. — Confia em mim?
— Ora, se ele não está se esforçando pra ser um verdadeiro príncipe da Disney — brincou o ômega, segurando a mão do maior e subindo junto dele.
— Eu tento — respondeu, dando de ombros e seguindo pelo corredor do ônibus deveras vazio. — Quer sentar na janela? — ofereceu.
— Ok — disse o Lee, tomando o lugar citado. Logo, Soonyoung sentou-se ao seu lado.
Ficaram em silêncio por alguns minutos, observando a paisagem. A nevasca da noite anterior havia deixado toda cidade coberta por uma camada branca, não muito grossa, mas várias crianças brincavam com a neve.
— Você gosta do inverno? — Soonyoung perguntou, observando o modo como o menor olhava a brancura da rua com um certo brilho nos olhos.
— Até que gosto, mas odeio sentir frio — contou, rindo nasalmente enquanto balançava os ombros. — E você?
— Eu prefiro o verão — respondeu simples. Jihoon também não disse mais nada. — Qual música você ouve quando está andando de ônibus?
— Que? — olhou para o outro, incerto se havia entendido a pergunta.
— Tipo, a música que você ouve e fica se imaginando num clipe e essas coisas — explicou, fazendo gestos sem nexo com as mãos. — Vai me dizer que nunca fez isso?
— Claro que já, mas nunca me perguntaram isso — ponderou por um tempo. — Já sei — falou, sacando seu celular e procurando na playlist.
World Spins Madly On - The Weepies
Soonyoung buscou por seus fones de ouvido na mochila em seu colo, estendendo para o ômega em seguida.
— Valeu — ele sorriu, conectando-o em seu celular e oferecendo um lado para o alfa. Deu play na música e ajeitou-se um pouco mais próximo dele. — Agora, olha pela janela e sente essa música enquanto observa o mundo.
— Ok — ele sorri, focando sua atenção em Jihoon antes de fazer o que ele pediu, observando a vista.
O ritmo da música não era algo que Soonyoung normalmente ouviria, mas percebeu que fazia sentido Jihoon gostar dela. De certo modo, combinava com ele.
Woke up and wished that I was dead
(Eu acordei e desejei estar morto)
With an aching in my head
(Com uma dor na cabeça)
I lay motionless in bed
(Eu me deito imóvel na cama)
I thought of you and where you'd gone
(Pensei em você e para onde você teria ido)
And let the world spin madly on
(E deixei o mundo girar loucamente)
Conforme o cantor cantava, Jihoon apreciava a cidade passando diante de seus olhos. Enquanto Soonyoung, bom, ele tentava focar na janela, mas sempre acabava olhando para o menor, e a forma que ele parecia tão calmo, movendo os lábios, cantando a música em silêncio e sussurrando, bem baixinho, o refrão.
Engoliu em seco, desviando o olhar e sentindo suas palmas suadas, conforme seu coração acelerava somente um pouquinho.
Estava ferrado e sabia disso.
Em poucos minutos, a melodia chegou ao fim. Jihoon olhou para o maior, lhe estendendo o celular.
— Quer escolher uma? — perguntou. O alfa assentiu, pegando o aparelho de forma quase delicada. — Minha playlist é muito aleatória, você vai achar Girls Generation e a próxima música pode ser Mozart, não me responsabilizo.
Soonyoung riu baixo, negando com a cabeça e rolando a tela do celular, vendo inúmeros nomes de músicas que não conhecia, assim como uma ou outra que era familiarizado.
— Ei, também curte Yungblud? — o alfa perguntou animado, indicando uma música.
— Eu adoro! — confessou, sorrindo ao descobrir o gosto em comum. — Meus amigos dizem que ele é muito estranho, mas as músicas deles estão acima disso.
— Sim! — Soonyoung concordou, virando um pouco o corpo da direção do menor. — E se ele não fosse “estranho”, ele não seria ele, né?
— Exatamente — exclamou, não conseguindo esconder um sorriso.
— Vou colocar Cotton Candy — informou o maior, procurando a música.
— Coloca a versão acústica, então — pediu Jihoon, aproximando-se e segurando a mão do alfa para virar o celular para si, procurando a música.
Soonyoung não disse, nem demonstrou, mas sentiu um arrepio cruzar seu corpo quando sentiu as mãos geladas do menor sob as suas quentes.
— Você está com frio? — perguntou. Logo a melodia saía dos fones. — Suas mãos estão geladas.
— Ah, desculpa — pediu, soltando a mão de Soonyoung e pôs as suas nos bolsos do moletom. — Eu tô quase sempre com as mãos geladas.
— Não tem problema — sorriu o alfa. — Quer colocar elas no bolso do meu suéter?
Jihoon riu baixo, negando com a cabeça, mas ainda ficando perto do outro, aproveitando um pouquinho do calor que ele emanava.
— Estamos quase chegando, vem — anunciou Soonyoung, após um tempo de ambos observando pela janela e cantarolando músicas. Desceram do ônibus e andaram mais um pouco. — É logo ali na frente, eu realmente acho que você vai gostar.
— Tá, garoto, vamos logo — pediu Jihoon, empurrando-o de levinho pelo ombro, rindo com a animação do alfa.
— Ok, ok — acalmou o maior, segurando na mão do Lee e o levou até a frente do estabelecimento. — Que tal?
Jihoon olhou a fachada com os olhos brilhando, sentiu uma quentura invadir seu peito. A placa rústica com o nome do local dizia, em letras cursivas:
Milk Shakespeare, cafeteria e livraria
— Soonyoung, isso é… — começou, perdendo as palavras.
— Você gostou? — perguntou ansioso, um sorriso animado estampado em seu rosto.
— Eu… — Jihoon sorriu, sem achar palavras certas. — Eu adorei, sério.
— Yes! — exclamou Kwon, dando um soquinho ar. — Isso é um alívio, estava preocupado que você não fosse gostar.
— Eu gostei, não precisa se preocupar — garantiu, apertando um pouco a mão do alfa, notando então, que eles ainda estavam de mãos dadas.
— Bem, vamos entrar, então — disse, soltando a mão do ômega e abrindo a porta para si. — Antes que você congele.
— Bobo — murmurou, entrando no local, seguido por Soonyoung.
O interior da cafeteria era muito aconchegante, com móveis rústicos, decorações artesanais e, obviamente, diversos livros espalhados em estantes, assim como mesas e o cheirinho de café.
— Esse lugar tem um cheiro muito parecido com o seu — comentou Jihoon, após sentar em uma das mesas perto da janela.
— Como assim? — Soonyoung perguntou confuso, tomando o lugar à sua frente.
— Seu cheiro, ué — disse. — Café misturado com cheiro de livro novo — explicou, notando como o alfa franziu as sobrancelhas e inclinou a cabeça, claramente sem saber do que Jihoon falava.
— Até onde eu sentia, eu só tinha cheiro de café — coçou a nuca, apoiando os cotovelos na mesa em seguida.
— Como assim? Eu tenho certeza que você tem esse cheiro — afirmou.
— Deixa pra lá, não é… — cortou sua fala quando Jihoon levantou e foi em sua direção, aproximando o rosto de seu pescoço e inspirando profundamente. Um arrepio violento cruzou a espinha de Soonyoung, deixando todos seus poros à vista — Jihoonie, isso é…
— Tem cheiro de livro aí, sim — enfatizou, pousando uma mão no ombro dele.
— Jihoon, deixa de ser doido — pediu, segurando a cintura do menor e tentando o afastar.
— Não é doideira, eu quero confirmar…
— Hum, com licença, senhores — uma voz feminina soou, chamando atenção dos dois. — Querem ler o cardápio?
— Ah, sim, obrigado — Soonyoung respondeu, sorrindo gentil e recebendo o menu com ambas as mãos. A moça sorriu gentil, fazendo uma pequena reverência, dizendo que voltaria em alguns minutos para anotar os pedidos. — Olha aí, já tá fazendo a gente passar vergonha.
— Eu não sei sair de casa sem passar vergonha, vai ter que lidar com isso — riu o ômega, aceitando o cardápio que o maior lhe estendeu.
— Posso aprender a lidar se for para sair com você — respondeu, sorrindo na direção de
Jihoon, que teve as bochechas tingidas por um tom rosado, em seguida, ele escondeu o rosto atrás do menu. Soonyoung riu nasalmente, achando fofa a reação do outro.
[...]
— Música favorita? — perguntou Soonyoung, logo levando mais um pedaço da torta à boca.
Jihoon pensou por um tempo, erguendo os olhos por alguns segundos, antes de responder:
— Talking to the moon do Bruno Mars — respondeu. — Eu não sei, na real, eu ouço muitas músicas e tenho várias músicas favoritas, entende?
— Acho que sim — sorriu o alfa. — Sua vez — falou, sem tirar os olhos do menor.
Depois que fizeram seus pedidos, os garotos não sabiam ao certo o que deveriam falar, estando um pouco nervosos com a presença um do outro. O alfa, então, deu a ideia de cada um fazer uma pergunta, o outro respondia e vice-versa.
— An… — pensou por um tempo. — Animal favorito?
— Fácil, tigre — afirmou sem hesitar. — É meu espírito animal — Jihoon riu baixo, cobrindo a boca. — O que foi?
— Eu, particularmente, diria que seu espírito animal é uma chinchila — falou, rindo com a expressão indignada e confusa do alfa. — Fala sério, você é todo…
— "Todo" o que? — perguntou, debruçando o corpo sobre a mesa.
O rosto do Lee ganhou um tom avermelhado.
— Sei lá, você é fofo e doce, engraçado — explicou, ficando um pouco acanhado por elogiar o maior. — Nem se parece com a maioria dos alfas.
Soonyoung sorriu, abaixando a cabeça por um momento, sem conseguir esconder a felicidade que lhe enchia o peito.
— É… Obrigado — falou, coçando a nuca. — Eu não esperava ouvir isso.
— Não?
— Não — afirmou. — Você deve imaginar como é, se você não é como a maioria dos alfas, "tem algo errado com você”.
— Acontece o mesmo com ômegas — acrescentou Jihoon, terminando seu capuccino. — Felizmente, eu aprendi a não ligar.
— Isso é bom — falou Soonyoung. — Às vezes, ainda fico meio pra baixo, sabe? Pensando que, talvez, eu devesse ser como esperam que eu seja.
— Não acho que essa seja uma boa ideia — murmurou o menor.
— Por que?
— Bem, se você fosse como esperam, eu não estaria com você agora — contou, percebendo o sorriso do alfa voltar, iluminando o rosto bonito, assim como as orbes lhe fitando com a intensidade e doçura que só Soonyoung tinha.
— Vamos indo?
Jihoon concordou, ficando em pé e colocando a bolsa sob o ombro. Soonyoung o esperou para que fossem até o caixa juntos, porém, não houve nem tempo do ômega pegar sua carteira, pois o maior já pagava a conta sozinho.
— Eu podia ter pagado metade — murmurou o menor, assim que saíram do local.
— Imagina, eu tô sendo príncipe da Disney hoje, lembra? — brincou, tocando delicadamente o queixo do ômega. Ele riu anasalado, desviando o olhar.
— Obrigado — sorriu, voltando a olhar o alfa.
— Não foi nada — respondeu. Logo, ambos desviaram o olhar um do outro. — Quer continuar as perguntas e respostas?
— Quero — falou, tirando alguns fios de cabelo da frente dos olhos. — Acho que é sua vez.
— Ok — pensou um tempo. — É verdade que você não suporta a maioria dos alfas e os cheiros deles?
Jihoon riu baixo, revirando os olhos, antes de responder.
— ‘Tá, admito, é verdade — confessou rindo, colocando as mãos no bolso do moletom. — Não é nada pessoal, sabe? É que a maioria age como animais no cio, e isso me incomoda. E a maioria tem um cheiro muito forte, a maioria parece… Sei lá.
— Hum — soltou Soonyoung, ouvindo atentamente. — Então, como dois de seus melhores amigos são alfas?
— Ah, é uma história engraçada — explicou, diminuindo a velocidade dos passos ao adentrarem um parque, onde havia várias crianças brincando com a neve e correndo. Sentaram-se num banco, onde estava pegando bastante sol. Soonyoung permaneceu em silêncio para ouvi-lo. — Assim que entrei no ensino médio, aquela coisa de mudar de colégio e tal, eu cheguei na escola e, uma semana depois, um alfa se aproximou de mim, me convidou pra sair e ficou me cantando, mas eu disse que não — contou, brincando com os dedos. — E aí, ao invés dele aceitar e seguir a vida, ele ficou me perseguindo e insistindo — bufou só com a lembrança. — E, pra completar o pacote, vieram alguns outros alunos me dizendo pra eu dar uma chance e blá, blá, blá — revirou os olhos, arrastando os "blás" com tom preguiçoso.
— Que chato — comentou Soonyoung, balançando os pés. — E onde seus amigos entram na história?
— ‘Tô chegando lá — riu. — Aí um dia, eu estava de boa, lendo como sempre, e veio o tal alfa e mais uns amigos dele. Ele começou tudo de novo, me importunando, e eu tentando ser o mais educado possível, porque vai que ele se revolta e parte pra cima de mim. Então, Jeonghan e Wonwoo chegaram, dizendo pro cara me deixar paz, que eu já tinha dito não. Wonwoo até disse: tá ficando feio você ficar em cima dele porque ninguém mais te suporta — contou rindo, fazendo Soonyoung rir junto de si. — Depois, eles não saíram mais do meu lado e eu acabei gostando deles, no final.
— É por isso que Wonwoo fica sempre querendo te proteger? — perguntou curioso, virando o corpo na direção do ômega.
— Acho que sim — deu de ombros. — Ele ficou mais traumatizado com isso que eu — riu baixo, ajeitando a postura.
— Depois disso, você nunca… saiu com ninguém? — perguntou, crispando os lábios em seguida.
Jihoon o olhou de volta.
— Não, nunca me interessei — deu de ombros. — A maioria só se aproximava de mim pela minha aparência, e quando viam que eu não era o que eles esperavam, iam embora. Eu tinha tudo pra acreditar que eu nunca seria o suficiente, sabe? Mas, de alguma forma, eu não me importo com o que as pessoas pensam e eu gosto de mim.
Ficou em silêncio, encarando a grama coberta pela neve, sentindo uma sensação nova ao falar tão francamente com alguém. Entretanto, a falta de resposta da parte do alfa começou a lhe preocupar.
Virou para encará-lo, notando a forma que Soonyoung o olhava, sem ao menos piscar.
— O que foi? — perguntou, meio acanhado.
— Nada — respondeu rapidamente, piscando os olhos e desviando o olhar. Estava fazendo de novo. — Eu só… Estou meio surpreso, eu acho.
— Por que?
— Porque nunca te disseram… — murmurou, ficando sem jeito com o que tinha em mente.
— Me disseram o que? — aproximou-se, querendo ouvir melhor.
— Sei lá, nunca te disseram que você é adorável, perfeito, que estar com você não tem preço, que você é incrível? Mesmo que nada disso seja novidade.
Como já havia acontecido antes, Jihoon apenas encarou o maior, sem saber como reagir perante o que ouvira. Seu coração acelerando, deixando suas bochechas em um tom vermelho vivo. Abriu e fechou a boca várias vezes, sem conseguir responder.
— Pela sua reação, nunca te disseram mesmo, né? — disse Soonyoung, aproximando-se e ajeitando o capuz do moletom alheio.
— N-Não, nunca me disseram nada como isso — respondeu, rindo nasalmente pelo pequeno nervosismo. — Ugh, Soonyoung, você não pode sair falando coisas — choramingou, cobrindo o rosto com as mãos e curvando o corpo.
— Por que não? É tudo verdade! — argumentou, tocando os cabelos claros do ômega.
— Eu fico sem graça — rebateu, voltando a sentar normalmente.
Soonyoung riu, acariciando a bochecha corada do menor. Estava encantado.
— Eu não posso mais elogiar você, então? — fez bico, guardando suas mãos para si.
— Não, não disse isso — Jihoon negou, mordendo os lábios em seguida, nervoso. — É só que eu fico sem graça, e não sei como agir.
— Entendi — Soonyoung murmurou, aproximando-se um pouquinho mais do menor. — Então, eu posso continuar elogiando você?
Jihoon riu, revirando levemente os olhos.
— Pode, só que…
— Hyung! — uma criancinha exclamou, chegando perto dos garotos. — Vocês querem brincar com a gente? A gente vai brincar de guerra de bolas de neve!
— Ah, não, nós… — Jihoon começou, mas Soonyoung tomou a frente.
— Depende, vocês estão prontos para perder? — provocou, levantando e deixando sua mochila no banco. O ômega olhava para ele com descrença.
— Não tem perdedor em guerra de bolas de neve — riu o menino, correndo na direção de seus amigos. — Eles vão brincar, pessoal!
Soonyoung riu baixinho, meio contagiado pela alegria das crianças.
— O que você ‘tá fazendo? — perguntou o Lee, levantando e segurando o alfa pela manga do casaco.
— Vamos brincar com as crianças, Jihoonie — falou, segurando a mão pequena. — Vai ser legal, e olha como elas ficaram felizes — apontou para o grupinho de quatro crianças os esperando.
Jihoon suspirou, não achando uma desculpa para fugir daquilo.
Se ele fosse ser sincero, poderia, sim, ter inventado uma ou apenas dito que não, mas acabou cedendo por causa dos olhos cheios de expectativas das crianças e, claro, de Soonyoung.
— Tá bom, vamos.
Afastando-se alguns passos do alfa, Jihoon abaixou-se rapidamente, pegando um pouco de neve no chão e, em seguida, atirou contra Soonyoung. Gargalhando pelo susto que ele teve, falhando em se defender da bolada.
— Ei, não valeu! — exclamou Soonyoung, observando Jihoon correr na direção das crianças, que riam da sua cara, apontando os dedos pequenos e tudo.
— Não tem regras em guerra de bolas de neve! — Jihoon riu, sentindo ataques vindo das crianças. Tentou revidar, tomando certo cuidado para não machucá-las.
Logo, Soonyoung se juntou ao grupo, atirando neve contra as crianças e, principalmente, contra Jihoon. Ambos gargalhavam alto, divertindo-se genuinamente com a brincadeira, aos poucos sentiam a respiração ficar ofegante pelas corridas, mas não ligavam muito.
Em dado momento, todas crianças focaram em atacar Soonyoung, por ser o maior dali. O alfa ria, fingindo ser realmente afetado pelos ataques dos filhotes. Jihoon sorria olhando a cena, ajudando os pequenos na missão de derrubar o “alfa grandão”.
O maior, então, jogou-se no chão, como se declarasse sua derrota, sentindo o momento que uma menina jogou neve em sua barriga, como se fosse o golpe final.
As crianças comemoravam a “vitória” aos gritos e pulinhos, e o ômega ia aproximando-se aos poucos, sentindo a barriga doer um pouco pelo tanto de risadas que soltou em um período de uns cinco minutos.
Quando chegou perto de Soonyoung jogado no chão, um menino se aproximou para lhe dar um hi-5 e, com essa distração, seu corpo foi puxado pelo alfa, fazendo-o cair sobre ele.
— Se eu caio, você vem junto — disse o alfa, rindo quando as crianças voltaram a atacá-lo com neve, Jihoon sendo atingido também. — Nós nos rendemos!
— Eu achei que não tinha perdedores nessa brincadeira — apontou o menor, caindo sobre o maior, sem pensar realmente na situação, apenas cansado pelo esforço.
— Agora tem, pelo jeito — ele riu, olhando para o céu enquanto tentava recuperar o ar.
Soonyoung sentia suas costas ficando geladas aos poucos, por ainda estar deitado no chão, mas estar tão, tão próximo de Jihoon deixou sua mente extasiada por um tempo.
— Vocês são namorados? — perguntou uma menininha, aproximando-se dos garotos.
— Não, nós não somos — respondeu Jihoon, levantando-se rapidamente. — Meu Deus, levanta daí, Soonyoung, você vai congelar suas costas — falou, quando notou que o alfa estava no chão.
— Tô indo — disse o alfa, erguendo-se em seguida.
— Vocês parecem namorados — constou a menininha, observando os garotos. Jihoon sentiu seu rosto ficar quente, mas não respondeu nada.
— Sabe, eu estou tentando convencer ele a ser meu namorado — Sooyoung falou, ajoelhando-se para a garotinha, como se o ômega não pudesse ouvi-lo, mas ele ouvia, sentindo o coração bater diferente a cada palavra do outro. — Você tem algum conselho pra me dar?
Ela pareceu pensar por um tempo, levando o dedo indicador até o queixo.
— Você pode dar flores pra ele — respondeu simplista. Soonyoung sorriu, agradecendo pela ideia.
Logo, as crianças foram chamadas por seus pais para irem para casa, e os garotos ficaram sozinhos de novo.
— Não ficou com a roupa molhada? — perguntou Jihoon, aproximando-se do alfa e tocando suas costas.
— Tô bem, não se preocupa — garantiu, sorrindo para o menor. — Eu cansei, e você? Acho que minha infância realmente foi embora?
— Você acha? — Jihoon riu baixo, andando com o maior até o banco onde estavam anteriormente para pegar suas respectivas bolsas. — Eu nunca fui uma criança agitada, então não brincava assim sempre.
— Mas brincou hoje, então ainda tem uma criança aí dentro — disse o alfa, jogando sua bolsa sobre o ombro.
— É, talvez sim — concordou, guardando as mãos no bolso do moletom. — O que fazemos agora?
— Você quer as flores que a menina disse? — perguntou sério.
Jihoon riu, empurrando-o de leve pelo ombro.
— Não seja bobo — disse envergonhado, abaixando o olhar.
— Você ainda não me leva muito a sério — constou o alfa, olhando para o menor. Jihoon ficou preocupado que ele estivesse chateado, mas logo, ele sorria em sua direção. — Está ficando tarde, quer que eu te leve em casa?
O menor acenou com a cabeça, ficando ao lado de Soonyoung e prontamente eles saíram do parque, a caminho do ponto de ônibus.
— Você disse que não brincava muito quando era criança, o que fazia, então? — perguntou curioso, olhando o ômega.
— Eu passava a maior parte do tempo no salão onde meu pai trabalhava — contou. — Ele é cabeleireiro, então eu ficava lá brincando e conversando com as pessoas.
— Você conversava com as pessoas por vontade própria? — ergueu as sobrancelhas.
— Não, nem pensar — negou rindo. — Olhando pra mim agora, você pode imaginar que eu fui um filhote muito fofo, né? — brincou, colocando a palma embaixo do queixo, rindo envergonhado em seguida. Soonyoung não tirou os olhos de si. — As pessoas me viam e puxavam uma conversa.
— Isso faz mais sentido — sorriu, sentando-se ao lado do menor no ponto de ônibus.
— E você, o que fazia quando era criança? — devolveu a pergunta.
— Eu era o cão — respondeu simples, fazendo Jihoon rir cobrindo o rosto. — Sério, eu fazia muita bagunça. Uma vez, eu inventei de subir numa árvore e acabei caindo.
— Meu Deus — exclamou chocado, os olhos pequenos dobrando de tamanho.
— Já passou, relaxa — sorriu, acariciando rapidamente os cabelos claros. — Eu fiquei com uma cicatriz, mas não foi a primeira nem a última.
— Quantas cicatrizes você tem? — o ômega perguntou, espantado.
— Umas… três, eu acho — falou, pensativo, rindo em seguida. — Mas são pequenas, mal dá pra ver.
— Você devia ser uma criança difícil mesmo, ein — respondeu Jihoon. — Devo me preocupar com esse comportamento acontecer hoje em dia?
— Não, hoje em dia eu só fico bêbado e canto pra me declarar para pessoa que eu gosto — falou, recebendo um soquinho em seu braço, logo o baixinho virava o rosto para o lado oposto, para que o alfa não visse suas bochechas enrubescendo. — Lá vem o ônibus — avisou, levantando e fazendo sinal.
Entraram e, novamente, deram sorte: o transporte não estava lotado. Conseguiram achar um lugar para sentarem lado a lado, o alfa já tirava os fones da mochila e os oferecia a Jihoon, que sacou o celular para colocar uma música.
— Pode escolher — falou, entregando o aparelho com a playlist aberta para o alfa. Soonyoung rolou a tela por um tempinho antes de escolher uma.
A melodia soava tranquila, preenchendo o silêncio em que estavam, era confortável. Ambos observavam o sol se pondo pela janela, felizes pelo dia que tiveram juntos. Soonyoung até abrira a boca para falar algo, mas qualquer pensamento coerente foi embora quando sentiu Jihoon deitar a cabeça em seu ombro, ficando bem próximo de si, o aroma suave que vinha dele invadindo seu olfato. Depois disso, não conseguiu dizer mais nada.
Quando desceram do ônibus, continuaram conversando sobre coisas triviais, como seus filmes favoritos e voltaram com o jogo de pergunta e resposta. Riam de uma história desastrosa que Soonyoung contava, quando brigou com alguns parentes seus para defender um primo; o alfa tinha uma vida interessante até onde Jihoon podia perceber.
— Ok, qual foi... o pior beijo da sua vida? — o alfa perguntou.
— Eu só dei um beijo na vida — confessou, coçando a própria nuca. — Não foi ruim, mas eu não tenho outra experiência para comparar.
— Quer ter? — insinua, erguendo uma sobrancelha e sorrindo ladino. Jihoon riu, batendo em seu braço. — Ok, é brincadeira — falou, mesmo que não fosse 100% verdade.
— É aqui que eu moro — disse o menor, assim que chegaram na frente de sua casa. — Bem, é… Obrigado, foi legal — agradeceu, vendo Soonyoung aproximando-se.
Os olhos dele, claramente, fitavam sua boca.
— Eu também gostei — sorriu, parando a alguns poucos passos do outro. — Posso te convidar pra sair mais vezes, então?
— Pode — concordou, acenando levemente com a cabeça. Estava nervoso com a aproximação do alfa, sabia o que ele queria mas, infelizmente, não conseguia ainda. — Hum… Tchau, e obrigado de novo — sorriu e tomou coragem, dando dois passos na direção do maior, ficando na ponta dos pés e deixando um beijo em seu rosto. Soonyoung ficou estático, encarando-o surpreso. — Até amanhã — falou e entrou adentrou o portão, acenando uma última vez antes de entrar.
Assim que a porta foi fechada, Soonyoung abriu um sorriso enorme, sentindo o coração batendo satisfeito.
— Yes, yes, yes! — exclamou, dando soquinhos e pulinhos, acompanhados de uma pseudo dança.
Jihoon riu baixo, observando a cena por uma fresta da cortina. Logo, o maior seguiu caminho para sua casa, cantarolando alegre.
— Oi, filhote — disse sua mãe da cozinha, espiando Jihoon por cima do balcão.
— Onde você estava? — perguntou seu pai, aproximando-se.
— Eu estava num encontro — respondeu, dando de ombros.
— Deus, meu coração acabou de vomitar — falou o homem, sentando-se no sofá.
Jihoon riu, assim como Daeun, que se aproximou curiosa.
— Quem é a garota?
— Bem… — o menor começou, cruzando os dedos nervoso. — O nome dele é Soonyoung, ele estuda comigo e hoje ele me convidou para gente dar uma volta, só isso.
— Ah, é um menino — reafirmou a alfa, sorrindo na direção dele.
— Por que você parece surpresa!? Você vive dizendo que Wonwoo e eu faríamos um casal fofo — apontou em um tom quase indignado.
A mulher gargalhou, sentando-se no braço do sofá.
— Era brincadeira, filhote. Mas dizem que instinto de mãe nunca falha mesmo — sorriu orgulhosa. — Mas, enfim… ele é legal?
— É, ele é legal — confirmou, estalando os dedos pelo nervosismo.
Nunca havia escondido nada de seus pais, mas ainda era estranho conversar com eles sobre aquele tipo de coisa.
— Vocês se divertiram? — Taesuk perguntou, apesar de ainda parecer em choque.
— Sim, até mais do que eu esperava — contou, lembrando-se dos momentos.
Sua mãe sorriu para si, feliz — e ao mesmo tempo assustada — em ver seu filhote crescendo. O mesmo acontecia com o progenitor, apesar dele demonstrar mais medo do que a felicidade.
— Posso subir agora? — Jihoon perguntou, estranhando os olhares dos pais.
— Pode, sim — a mulher sorri. — Ah, seus amigos estão te esperando no seu quarto, chegaram não tem muito tempo.
— Ah, droga — murmurou Jihoon, subindo as escadas aos tropeços.
Assim que abriu a porta do quarto, viu Jeonghan e Wonwoo sentados em sua cama conversando despreocupados.
— Até que enfim — exclamou o mais velho. — A tarde foi boa?
— Por que vocês estão aqui? — perguntou, jogando a mochila ao lado da porta.
— Como assim? Foi seu primeiro encontro, a gente tá empolgado, queremos saber de tudo! — Jeonghan disse, abrindo espaço na cama entre ele e Wonwoo, dando tapinhas para que Jihoon sentasse no meio deles.
— Sem paciência pra contar tudo — negou o menor, abrindo seu guarda roupa e tirando seu moletom. Logo vestiu uma roupa mais confortável.
— Faz pelo menos um resumo — Wonwoo disse. — Nós te vimos chegar, inclusive.
— O quê!? — exclamou o ômega, sentindo as maçãs do rosto esquentarem. — Vocês não têm o mínimo de respeito?
— Deixa de ser dramático, não aconteceu nada mesmo — falou o mais velho, puxando Jihoon para sentar ao lado deles. — Se bem que aquela secada na sua boca, meu Deus.
— Cala a boca! — interrompeu o ômega.
— Fala sério, Jih — Wonwoo começou. — Mais um pouco e eu mesmo ia lá beijar ele.
— Ah, vai lá beijar ele, então — Jihoon desdenha, tentando empurrar o maior, sem sucesso algum.
Jeonghan e Wonwoo riram baixo, vendo Jihoon fazer um beicinho pensativo por um tempo.
— Ai, gente — falou o mais baixo, arrastando um tom manhoso. — É triste, sabe? Ele nem tenta disfarçar que tá super afim e eu tô só… “Não afim”.
— Se ele tenta disfarçar, ele tá falhando miseravelmente — brincou Wonwoo.
— Mas também não é como se não fosse rolar nunca, né? — Jeonghan perguntou, encarando Jihoon.
O baixinho ficou alguns segundos em silêncio, pensando. Era quase possível ver as engrenagens girando em sua cabeça. Por fim, ele suspirou:
— Não tenho certeza.
— Acho que só mais uma, ou duas, semanas pro Jih sentir vontade de beijar ele — Wonwoo determinou.
— Sério? Eu acho que um pouco menos de um mês — Jeonghan ponderou.
— Quer apostar? — o maior sugeriu.
— Com licença! — Jihoon interrompeu. — Eu ainda tô aqui. Não vão apostar nada!
— Era brincadeira, Jih — Wonwoo riu, abraçando o menor e bagunçando seus cabelos. — A gente só tá empolgado.
— Exatamente — concordou o mais velho. — Conta pra gente como foi, vai.
— Tá, mas me solta primeiro — mandou o ômega, afastando os braços de Wonwoo de si. — Agora eu tô fedendo a alfa.
— Para de enrolar, começa! — disse Jeonghan, empurrando-o de leve.
— Tá bom! — bufou baixo. — A gente saiu da escola…
[...]
— Meu… santo… Deus! — Jeonghan exclamou, tão logo Jihoon terminou de contar sobre o encontro com Soonyoung. — Ele realmente falou que quer você como namorado?
— Não na minha cara, mas obviamente eu ouvi — falou, abraçando um travesseiro. — Ele tá deixando tudo tão claro. Ele não tem nenhum filtro sobre as coisas!
— Percebe-se — Wonwoo riu baixo. — E o que você vai fazer agora?
— Como assim, "o que eu vou fazer agora"? — perguntou o ômega, franzindo o cenho. — O que eu deveria fazer?
— Jihoon! Ele obviamente 'tá criando muita expectativa, você precisa ser sincero com ele, também — explicou o maior, empurrando o óculos redondo no nariz.
— Tá, ok… — ele respira fundo. — O que, exatamente, eu faço?
Os três ficam em silêncio por um tempo, os alfas se encaravam, procurando uma resposta para o amigo.
— Já sei! — o mais velho exclama, levantando-se da cama e pegando a mochila do ômega. — Manda uma mensagem pra ele.
— Quê!? Pra quê!? — reclamou, pegando seu celular que o Yoon tinha jogado em si.
— Agradece pelo dia, só isso — Wonwoo aconselha. — Vocês se seguem no Instagram, né? Manda um direct e pronto.
— Ugh, tá. Mas saiam, não é pra vocês lerem — mandou, empurrando os amigos e se deitando de costas na cama.
Abriu o aplicativo e procurou o perfil de Soonyoung.
Respirou fundo e digitou uma mensagem, apagou, reescreveu. Repetiu o mesmo processo umas três vezes, sentindo os dedos tremendo pelo nervosismo.
— Ou a conversa tá boa ou você tá se fazendo de abacate — Jeonghan falou, revirando os olhos.
— Cala a boca! — Jihoon resmungou. — Me deixa pensar.
oi
só queria te agradecer pelo dia de novo
eu realmente gostei
Assim que enviou as mensagens, Jihoon bloqueou a tela e deixou o aparelho sobre a cama. Sentou e voltou a se aproximar dos alfas.
— Pronto, enviei — informou mordendo os lábios, nervoso. — Tenho certeza que ele vai demorar para ver, então…
O barulho da notificação o fez se calar, ao mesmo tempo que suas bochechas ficaram vermelhas.
O destino é ditado pela ironia mesmo — pensou o menor.
Antes que pudesse pegar o aparelho de volta, Jeonghan se jogou sob o colchão, pegando o celular e lendo as mensagens.
— "Você é um fofo" — riu, empurrando Jihoon com uma mão e impedindo-o de tirar o telefone de si. — "Eu também gostei, espero que aceite sair comigo mais vezes."
— Yoon Jeonghan! Me devolve isso! — mandou o mais baixo, pegando o aparelho de volta. — Invasão de privacidade do caralho.
Wonwoo, como sempre, apenas ria observando os dois.
— Cara, ele tá muito na sua! — o mais velho brinca, jogando-se sobre a cama e dando tapinhas no ombro do Jeon.
— Não tem mais graça, eu já sei disso, todo mundo sabe disso — pontuou, desbloqueando o celular e respondendo Soonyoung.
Só me convidar que eu vou
Desde que a gente não se envolva em outra guerra de bolas de neve haha
— Daqui a pouco você vai estar na dele, também — afirmou, sorrindo sacana. — E aí, finalmente vão poder se beijar.
— Fica quieto, alfa! — mandou, jogando um de seus bichinhos de pelúcia contra os amigos.
Chapter 8: Café Conilon
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Levou mais algumas horas para que Jeonghan e Wonwoo fossem embora para suas próprias casas. Nesse meio tempo, Jihoon conseguiu distraí-los dando mais detalhes do encontro, deixando para responder as mensagens de Soonyoung quando estivesse sozinho.
Não conseguiu fugir das perguntas de seus pais durante o jantar, já estava quase se cansando de contar várias e várias vezes sobre a tarde. Pensava se seria assim toda vez que saísse com alguém ou se era apenas porque era seu primeiro. Jihoon não sabia, estava relevando e respondendo às perguntas dos progenitores — com muito menos detalhes que dera para os amigos, claro.
— Ele parece ser realmente ótimo — disse sua mãe, gesticulando com os hashis em mão. — Quando vamos conhecer ele?
— Quê? — Jihoon engasgou, perplexo.
— Ele pode vir jantar com a gente qualquer dia — continuou seu pai, ficando empolgado de repente. — Uh, eu posso fazer samgyeopsal. Todo mundo se apaixona pelo meu samgyeopsal, como acha que eu casei com sua mãe?
— Ai, meu Deus, por favor, parem — pediu o ômega, esfregando as mãos no rosto. — Tem, exatamente, uma semana que eu conheci o garoto. Eu saí com ele hoje, vocês estão apressando as coisas mais do que o Jeonghan e o Wonwoo, por Deus.
— Claro, demorou 17 anos pra você se interessar por alguém, a gente não quer ter que esperar por mais 17 — falou Taesuk, soando tão sério que a alfa começou a rir da expressão indignada do filho.
— Nossa, valeu, pai — debochou, enfiando mais kimchi na boca.
— É brincadeira, filhote — Daeun tentou apaziguar. — É que… Seu primeiro encontro, seu primeiro interesse amoroso, é tudo novo.
— Epa, calma lá — interrompeu, empurrando o prato vazio levemente pela mesa. — Nunca disse que tenho interesse amoroso nele, isso ainda nem chegou no meu radar.
— Ah, droga, mais 17 anos esperando — resmungou o ômega mais velho.
— Ok, eu vou tomar um banho e me deitar — sentenciou Jihoon, levantando e deixando seu prato na pia. — Boa noite.
Subiu as escadas e pegou as coisas para tomar banho. Seus pés estavam gelados e ele precisava de um banho bem quente para poder deitar e dormir.
Assim que saiu do banho e vestiu seu pijama, Jihoon deitou-se na cama após pegar seu caderno e seu estojo, tinha um dever de casa e havia passado a tarde ocupado, então o faria antes de dormir.
Desbloqueou o celular e viu as mensagens de Soonyoung na barra de notificações. Respirou fundo antes de clicar para abrir a conversa no Instagram.
Vou tentar não nos envolver em outra guerra
Prometo haha
Mas foi legal né?
Até que sim
Acho que eu nunca tinha brincando de guerra de bolas de neve antes
Sério??
É né
Como eu disse sempre fui uma criança calma
E não tinha muitos amigos haha
Quer triste :(
Nem esquenta
Hj em dia eu tenho bons amigos ent
Deu tudo certo
É acho que sim
Tá fazendo oq agr?
Tô conversando com vc
E tomando coragem para fazer a tarefa de química
Nossa vdd tem isso
Quase esqueci
Que feio Soonyoung
Ninguém é perfeito né
Além disso é uma tarefa fácil
É química
Química nunca é fácil
Só essa que rola entre a gente
Jihoon riu lendo o flerte descarado, seguido de um Gif de um garoto aleatório levantando as sobrancelhas de forma sugestiva.
Bobo
Poxa Jih me dá uma chance
O alfa mandou outro gif, de um bebê fazendo beicinho. Riu anasalado e mordeu o lábio inferior, um pouco nervoso e incerto sobre o que responder.
Eu estou te dando uma chance
A gente saiu hoje
E eu tentei tudo pra te conquistar '3'
Disney tá perdendo um príncipe e um casal desses
Vc é tão direto
Isso é ruim?
Não, é só um fato
Um fato que me deixa desconcertado
Vc usa palavras mt bonitas
✨Desconcertado✨
Apronto hahaha
Que palavra vc usaria?
Sla
Coisado, bugado
A gente tá fugindo um pouco do foco
E qual é nosso foco?
A tarefa de química
Errado, meu foco é vc
Tchau Soonyoung
Não esquece a tarefa
Ahhh Jihoonie não se vá
T^T
Até amanhã S2
Ganhei S2 já considero uma vitória
Dorme bem
Jihoon soltou um último riso baixo depois de visualizar um Gif de um desenho animado de um coelho mandando um beijo no ar. Bloqueou a tela e deixou o aparelho de lado, abraçando um de seus bichinhos de pelúcia enquanto tentava não sorrir tanto.
— O que é isso?
[...]
Jihoon acordou em um susto, abriu os olhos rapidamente e logo respirou aliviado, percebendo estar em seu quarto, em sua cama. Porém, ao sentir um desconforto entre suas pernas, soltou um resmungo descontente.
— Merda — murmurou se levantando após jogar os cobertores para longe do corpo.
A mancha escura em seu pijama deixava óbvio demais, assim como o cheiro forte almiscarado, misturado com a essência de camomila. Era seu cheiro, mas deixou Jihoon levemente enjoado.
Puxou seu celular e checou o horário, era perto das seis da manhã, então iria tomar banho para livrar-se do cheiro de sêmen. Trocou a roupa de cama e colocou os lençóis para lavar, pegou uma toalha e foi para o banheiro.
Assim que saiu do banho, o ômega vestiu-se e ajeitou seus materiais, pegou a mochila e desceu até a cozinha.
— Bom dia, filhote — desejou seu pai, mexendo ovos na frigideira. — Acordou cedo.
— Eu sei — respondeu, aproximando-se para ver o que o pai estava fazendo. — O que é isso?
— Ovos mexidos, também fiz torradas e café — disse, mostrando orgulhoso. — Quer um pouco?
Jihoon concordou com a cabeça, pegando um prato e deixou o progenitor lhe servir um pouco dos ovos.
— Valeu — agradeceu e sentou-se à mesa, começando a comer. — A mãe ainda não acordou?
— Ela não está se sentindo muito bem, pediu folga do trabalho e eu deixei ela dormindo um pouco mais — explicou, sentando-se ao lado do filho.
— O que ela tem? — perguntou um pouco preocupado.
— Nada demais, não precisa se preocupar — garantiu, acariciando os cabelos descoloridos do menor. — Daqui a pouco vou levar café pra ela.
— Certo — murmurou, começando a comer. Seu progenitor levantou, caminhando para sair da cozinha, quando lembrou-se de algo: — Ah, pai — chamou, vendo o homem virar para si. — Sabe se tem algum livro que eu possa ler aqui em casa?
Ele pensou por um tempo, erguendo os olhos para buscar na memória.
— Tem uns livros de gravidez da sua mãe.
— Não, valeu — negou, voltando a comer.
Vou ir mais cedo e já passo na biblioteca pra procurar um outro — pensou.
[...]
Jihoon chegou à escola perto das 07:10 da manhã, lhe dando alguns minutos para que pudesse ir até a biblioteca procurar algum outro livro que lhe agradasse. Cumprimentou a bibliotecária — que abria a biblioteca todos os dias pontualmente às 7:00 — e andou entre as prateleiras, procurando algum título que lhe agradasse.
Após um tempo, achou um livro intitulado Vincent e pegou-o para ver. A capa era um desenho cartunesco de Van Gogh e, por certo, aquilo conquistou atenção do ômega. Quando abriu, percebeu-se tratar de uma história em quadrinhos, contando um pequeno trecho da vida do pintor. Decidiu, então, sentar para ler enquanto não começava o horário das aulas.
Enquanto folheava as páginas, acabou se perdendo em seu próprio mundinho, como era comum sempre que estava absorto em uma história. Jihoon sabia que poderia levar um livro para qualquer, e eles faziam o mesmo por si. Então, era normal ele ficar tão concentrado no que lia que esquecia do mundo ao seu redor, tanto que ele mal ouvia o som de outros alunos entrando e saindo do local, assim como alguns cochichos e sons ambientes.
Ele somente perdeu a concentração quando sentiu um aroma forte de café pelo ar, assim como a voz de Soonyoung se fazendo presente ao desejar bom dia para a bibliotecária. Ergueu o olhar e viu o alfa apoiado no balcão, conversando com a senhora simpática, sem notar sua presença ali.
— Bom dia, Soonyoung-ah — disse a mulher. — O que faz aqui tão cedo? Seu dia de ajudar é só amanhã.
— Eu sei, eu vim mais cedo pra procurar um livro pra eu ler. Meus tios falaram que eu preciso ler mais e blá blá blá — revirou os olhos. — Decidi evitar a fadiga e fazer o que eles querem pra ter um pouco de paz.
— Entendi — respondeu ela. — Pode ficar à vontade e procurar, depois é só passar aqui pra fazermos o registro.
— Certo, obrigado.
— E essas flores são para quem? — ela perguntou curiosa, notando agora um pequeno ramo de três flores brancas.
Jihoon, notando as flores junto da senhora, ficou mais atento.
Soonyoung sorriu, parecendo um pouco acanhado.
— São para uma pessoa especial — contou, não conseguindo esconder o rubor nas bochechas. — Ele é um ômega muito fofo, e eu tô de olho nele há quase um ano, mas eu nunca soube como me aproximar. Até que, duas semanas atrás, a gente começou a conversar e eu percebi que eu estava muito ferrado.
— Por que? Ele é antipático? — perguntou a senhora, subitamente interessada.
— Não, longe disso! — exclamou baixo. — Ele é tão legal, ele é fofo, a gente gosta das mesmas músicas, e eu me sinto tão à vontade perto dele… eu estou ferrado nesse sentido.
Ela riu baixo, negando com a cabeça.
— E quem é esse tal ômega?
— O nome dele é Jihoon.
Mesmo que imaginasse a resposta, o baixinho ainda não soube direito como reagir quando ouviu seu nome saindo dos lábios de Soonyoung. Ele falava de si abertamente para as pessoas, isso deveria ser um bom sinal. Seu coração batendo rápido deveria ser um sinal também, ele apenas não sabia exatamente de que.
— Jihoon…? — a bibliotecária ponderou, pensando se lhe era familiar.
— Lee Jihoon. Um ômega baixo, fofo, provavelmente vem aqui um monte já que ele curte livros.
O menor prendeu um riso na garganta, pensando em como Soonyoung estava ridiculamente certo sobre aquela hipótese.
— Um de cabelo claro?
— Sim.
— Que tem cheiro de chá?
— Sim, esse mesmo!
— Ele está sentado bem ali — a senhora apontou para si.
Soonyoung virou a cabeça lentamente, como se estivesse apavorado. Quando seus olhos encontraram Jihoon, este acenou para si, um sorriso quase convencido enfeitava seus lábios.
O alfa suspirou, abaixando a cabeça antes de ir até o menor, sentando-se ao seu lado.
— Bom dia, Jihoonie — ele sorriu sem jeito. — Só por curiosidade, você não ouviu…?
— Ouvi cada palavra, deve ser por isso que meu ego está tão inflado — brincou, fechando o livro e virando o corpo na direção do maior. Soonyoung riu anasalado, ainda se sentindo um pouco envergonhado. — São pra mim? — perguntou, apontando para as flores.
— Ah, são, sim — estendeu para ele. — Espero que goste.
— Você é tão fofo — sorriu o ômega, aceitando as flores e aspirando seu perfume. — Obrigado, eu realmente gostei.
— Então eu já fico feliz — respondeu o alfa, sorrindo na direção dele. Ficaram um tempo em silêncio. — O que está lendo?
— É uma história em quadrinhos sobre Van Gogh — explicou pegando o livro e entregando para o maior. — Era só para matar tempo até a aula começar.
— Parece legal — comentou folheando as páginas. — Queria poder levar pra casa e ler, mas meus tios não aceitariam como leitura — revirou levemente os olhos.
— Seus tios?
— É, eu moro com eles porque meus pais viajam muito por conta do trabalho — contou sem tirar os olhos do livro, como se realmente não importasse. — Eles são rígidos com esse lance de estudos também, mas eu não me importo muito.
Jihoon ficou em silêncio, ouvindo o que o outro dizia com atenção. Sentia — e sabia — que aquele era um lado de Soonyoung novo para si, e era estranho ver esse lado em outras pessoas que não fossem seus amigos.
— Bem, você é inteligente — respondeu, por fim. O olhar do alfa se ergueu para si. — Não precisa se preocupar tanto assim, não é?
— É, acho que sim — ele sorriu.
Logo, o primeiro sinal anunciando o começo das aulas tocou.
— Eu preciso ir. Química no primeiro período — explicou Jihoon, levantando e recolhendo suas coisas, acabando por deixar o livro. O alfa balançou a cabeça ao assumir uma expressão de entendimento. — Obrigado pelas flores, de verdade.
— Por nada, fico feliz que tenha gostado — ele sorriu. — Agora, vai, não quero te atrasar.
— Certo, até depois, então — acenou, andando até a saída da biblioteca. Entretanto, antes de chegar até a porta, deu meia volta e caminhou rapidamente até o alfa, aproximando-se e deixando um beijo rápido em sua bochecha. — Tchau — disse novamente, virando para sair dali o mais depressa que podia, antes que a vergonha subisse à sua cabeça.
Soonyoung sorriu abertamente, contendo o impulso de sair dançando pelo local pela alegria que o consumia.
Jihoon andou a passos rápidos até seu armário, abrindo-o e buscando seu livro de química.
— Oi, Jih — Seungcheol cumprimentou ao chegar mais perto do menor.
— Oi, Seungcheol hyung — respondeu. — Onde tá o Jeonghan?
— Acho que ainda não chegou — Logo, seus olhos encontraram as flores que Jihoon carregava. — Ei, camélias? É uma flor bonita, onde conseguiu?
— Ah, eu ganhei — contou, deixando o Choi pegar as flores.
— Do Soonyoung?
— É.
— Que fofo! — exclamou ele, cheirando as pétalas. — Sabia que camélias brancas significam beleza perfeita?
— Beleza perfeita? — o ômega o olhou.
— São uma alusão, mas tanto faz — deu de ombros, devolvendo as flores para o menor. — De qualquer forma, foi fofo da parte dele.
— É, eu sei — murmurou, colocando as flores delicadamente no armário. — Ele é tão atencioso, ficou falando de mim para bibliotecária sem saber que eu tava ouvindo.
— Eita, o que ele disse?
— Que tava "de olho" em mim há um ano e não sabia como se aproximar e conseguiu agora, e percebeu que realmente gosta de mim e que ele tá ferrado porque eu sou fofo e nós temos gostos meio parecidos.
— Ai, Deus, ele tá tão apaixonado — sorriu.
— Eu sei! E isso é tão frustrante — confidenciou o menor. — Quer dizer… É que meu ego fica tão alimentado, eu me sinto tão… bem? Eu não sei, é tudo muito complicado e eu não sei o que fazer. Eu quero ser legal com ele, mas não quero dar falsas esperanças, eu nem sei o que eu tô sentindo, e isso me deixa tão…
— Ei, ei — Seungcheol o interrompe, tocando seus ombros. — Calma, ok? Respira. Você não precisa se preocupar tanto, você não manda nos seus sentimentos, e nem Soonyoung nos dele. Quer meu conselho? Não pensa tanto no que pode ou não acontecer, só faz o que você sentir que é certo. Desde que não machuque ninguém, só pra deixar claro.
Jihoon riu baixo, concordando com a cabeça.
— Obrigado, hyung — sorriu, respirando um pouco mais leve. — Vou pensar nisso. Preciso ir agora, não quero me atrasar.
— Vai lá — acenou o outro ômega.
[...]
Jihoon pensou bastante sobre o que Seungcheol havia falado, perdeu várias explicações dos professores mas não se importou. Soonyoung estava sendo super legal e atencioso para si, e queria fazer algo para retribuir a gentileza do alfa, por isso pensou bastante.
Quando a última aula antes do almoço terminou, o ômega enfiou-se por entre a multidão de alunos para esperar por Soonyoung no corredor que dava acesso ao refeitório. Sentia seus dedos suando pelo nervosismo, era sempre assim quando ele fazia algo que não estivesse dentro de sua rotina.
Enxergou o alfa se aproximando com alguns de seus amigos, Seokmin e Junghwa, e respirou fundo tentando buscar coragem em seu interior medroso. Esperou até que ele estivesse um pouco mais próximo para acenar e chamar sua atenção.
— Oi, Jihoonie — sorriu, aproximando-se. — Aconteceu alguma coisa?
— Não, não aconteceu nada, eu só… — respirou fundo. — Eu queria te convidar pra almoçar comigo, se você quiser.
— Sério? — ele arregalou os olhos. Jihoon concordou com a cabeça. — Quero! Claro, eu ia adorar!
— Podemos ficar naquelas mesas no pátio?
— Por que? — perguntou confuso.
— Se nós ficarmos no refeitório, meus amigos vão sentar com a gente, e eles vão fazer várias perguntas idiotas, vão ficar zuando com minha cara, Wonwoo provavelmente vai abrir um buraco na sua cabeça de tão feio que ele vai te olhar. Então, eu pensei que poderíamos sentar no pátio para ficarmos só nós dois, de boa.
— Certo, pode ser — sorriu, ficando ao lado do menor para irem até o pátio da escola. — Mas, só por curiosidade, seus amigos tem alguma coisa contra mim?
— Não, não é isso — garantiu. — Eles são só estranhos mesmos, e como você é o primeiro alfa fora eles que eu me aproximei, e como eles sabem que você… — engoliu em seco — gosta de mim, eles ficam dez vezes mais esquisitos.
— Entendi — ele disse. — Mas depois da festa, meio que quase toda escola ficou sabendo que eu gosto de você.
— E você continua sendo muito direto em relação a isso.
— Eu fiz aquele show, eu passei vergonha, o mínimo é eu poder falar abertamente sobre meus sentimentos, não? — perguntou olhando para o menor, que deu de ombros. — E também, eu acho que todas as mesas aqui estão ocupadas.
— Eu percebi — fez um biquinho, olhando ao redor.
— Não tem problema — falou, segurando a mão do menor e o puxando delicadamente. — Olha, tem uma árvore, podemos sentar ali.
Eles, então, sentaram-se sob a árvore, ficando parcialmente na sombra e um pouco no sol, o que ajudava o ômega a se esquentar. Abriram seus próprios almoços e focaram nisso por alguns segundos, ficando em silêncio.
— Foi mal tirar seu conforto do almoço — pediu Jihoon.
— Eu aceitei porque eu quis, não precisa se desculpar — sorriu o alfa. — Além do mais, eu almoçaria com aqueles alfas escrotos do time de futebol, se você me pedisse.
— Não, você não iria — riu baixinho.
— Eu iria, com certeza — afirmou, sorrindo convencido. — Mas não me pede isso, por favor.
— Nunca faria isso com você — garantiu, aproximando-se um pouco mais do maior. — Posso te perguntar uma coisa?
— Claro.
— Eu sei que você gosta de mim — começou. — E você é direto sobre isso, mas… Você não tem medo de eu não sentir o mesmo? Digo… Eu não sei o que eu tô sentindo, mas eu posso nunca gostar de você desse jeito, sabe?
— Eu sei — ele respondeu. — É um risco que eu corro, não tem como se apaixonar sem se machucar pelo menos um pouco, mas eu calculei tudo e vale a pena.
— Vale? — Jihoon o olhou.
— Eu ainda poderia ser seu amigo, certo?
— Claro.
— Então, eu já estaria feliz — afirmou. — Eventualmente, eu poderia superar, ou me apaixonar por outra pessoa. Poderia também nunca superar e ficar assistindo você viver sua vida, se apaixonar por alguém, enquanto eu continuaria remoendo o fato de você não gostar de mim. São muitas possibilidades, mas elas estão no futuro. E no presente, você ainda não sabe, isso me dá uma chance.
O menor ouviu tudo atento, balançando a cabeça silenciosamente quando Soonyoung terminou. Era como Seungcheol dissera: nenhum dos dois tinha controle sobre seus sentimentos.
— Você ainda quer que eu toque pra você dançar? — mudou de assunto, percebendo que o anterior já poderia ser encerrado.
— Sim! Eu preciso ensaiar e esqueci o nome da música.
— Se você estiver livre hoje depois da escola, podemos ensaiar na sala de música.
— Claro, só preciso avisar meus tios — disse ele sacando seu celular. — Mas cada minuto longe deles é uma benção.
— Por que? — Jihoon o olhou, levando mais comida à boca.
— Nada demais, eles são só… muito chatos e controladores — contou enquanto digitava. — Eles acham que se eu não passar todo meu tempo livre estudando eu sou um vagabundo que não quer nada da vida.
— Uau… — o menor soltou. — Sinto muito.
— Não é nada demais, já me acostumei — deu de ombros, guardando seu celular e voltando a comer seu almoço.
— Tudo bem eu perguntar porquê você mora com seus tios?
— Meus pais são comissários de bordo, eles trabalham pra uma corporação internacional e passam muito tempo fora do país — explicou. — Quando eu nasci, eles ficaram trabalhando em voos nacionais, minha mãe ficou de licença por dois anos, e ela sentia muita falta. Eles realmente amam o trabalho deles. Eles faziam turnos para trabalhar e ficar comigo, uma semana um ia trabalhar e outro ficava cuidando de mim. Quando eu fiz 15 anos, eles conversaram seriamente comigo sobre voltarem a fazer voos internacionais, disseram que não iriam se eu quisesse que eles continuassem comigo, sendo meus pais, sabe? Mas eu disse que tudo bem, eu sabia o quanto eles queriam voltar. Então eu passei a morar com meus tios, eles são os mais próximos da família e eu amo eles, só que eles são meio difíceis de se conviver às vezes.
— Você sente falta dos seus pais?
— Muito. Mas não é como se eles fossem ausentes, eles me ligam todo dia e sempre mandam algum presente do país que eles estão. Mesmo assim, às vezes queria que eles estivessem aqui... — contou, abaixando a cabeça e fungando baixo.
— Me desculpa, Soon-ah — pediu o menor, aproximando-se e tocando o rosto do alfa, secando uma lágrima teimosa que escapou. — Não queria te deixar triste, me desculpa.
— Tá tudo bem — afirmou, segurando as mãos do ômega. — Eu não falava disso há muito tempo. Meus amigos sabem e deixam eu fugir pra casa deles, mas eu não costumo falar disso muitas vezes.
— Mesmo assim, não queria ter feito você chorar — murmurou fazendo beicinho e sentou ao lado dele, seus joelhos se tocavam. — Você é sempre tão sorridente, é estranho te ver chorando.
— Quer saber um segredo? — sussurrou, aproximando-se um pouco mais do menor, que assentiu. — Eu fico mais sorridente quando estou perto de você, porque você me deixa igual um bobo.
Jihoon o olhou por alguns segundos, sem reação, como sempre.
— Droga, Soonyoung, você sabe como me deixar sem palavras — resmungou, empurrando-o de leve.
Soonyoung riu, apoiando as mãos atrás do corpo.
— Quem sabe um dia você possa me beijar sempre que não souber o que dizer.
— Cala a boca — mandou, desviando seu olhar.
— Ou pode me mandar calar a boca também, os dois funcionam.
Jihoon revirou os olhos, sentindo suas bochechas ficarem quentes.
— Vamos indo? Daqui a pouco o horário do almoço acaba — falou, tentando fugir de seu constrangimento.
— Claro, eu te espero no final da aula pra gente ensaiar — disse o alfa, levantando junto do outro, assim que guardaram os potes já vazios.
— Certo — respondeu, andando ao lado do outro de volta para o prédio. — Na verdade, eu só tenho a primeira aula da tarde, então eu te espero na biblioteca, ok?
— Ok — concordou. — Até, então.
Chapter 9: Café Liberica
Chapter Text
Assim que a última aula de Jihoon terminou, ele foi até a biblioteca para procurar algo para ler. Terminou o livro sobre Van Gogh que tinha começado anteriormente e andou entre as prateleiras à procura de algum título que lhe agradasse.
Ouviu quando o sinal da última aula tocou, às 14:30, e continuou na biblioteca esperando por Soonyoung. Estava evitando pensar no alfa e nos sentimentos que vinham com ele, se preocupar não levaria a lugar nenhum e isso era algo que ele sabia.
Puxou um livro da estante, lendo o título e a sinopse, folheou algumas páginas e acabou distraindo-se, e somente voltou a terra quando ouviu a voz do Kwon lhe chamando.
— Oi, Jihoonie — ele sorriu, aproximando-se. — Achei que tivesse ido embora.
— Até parece, tô esperando aqui faz uma hora — respondeu. — Como foi a aula?
— Um saco, detesto literatura — murmurou ele, indo até o balcão para fazer o registro do livro.
— Meu Deus, como assim? — Jihoon indignou-se. — Literatura é incrível, como você pode não gostar?
— Não tem sentido. Por que é tão importante ler livros de séculos atrás?
— Porque a gente entende o cenário sociopolítico e econômico da época, tudo isso pelas palavras de outra pessoa!
— Como você sequer enxerga isso!?
— É muito óbvio! — exclamou.
— Shhh! — uma pessoa fez para os dois, que ficaram quietos em seguida, soltando risinhos baixos pela repreensão.
— Sabia que você tinha que ter algum defeito, tava bom demais para ser verdade — Jihoon disse baixinho, deixando o livro que escolheu sob o balcão, esperando a senhora fazer o registro.
— Eu nem posso falar o mesmo de você, cansei de ver você lendo pela escola — apontou o alfa, ficando ao lado dele, o mais próximo que conseguia.
— Não imaginaria que você é de exatas — murmurou o menor. Agradeceu a bibliotecária e, em seguida, eles deixam o local. — Sem ofensa, você parece muito avoado.
— Não ofendeu, eu realmente sou — riu baixo. — Mas eu gosto de números porque são uma ciência exata, não é como literatura que não existe resposta certa.
— Claro que existe — rebateu Jihoon.
— Não, não existe. Quando a gente lê um poema e perguntam: o que o autor quis dizer? Não há uma resposta certa, porque o autor podia estar querendo dizer qualquer coisa — explicou seu ponto enquanto abria a sala de música.
Jihoon pensou por um tempo.
— É, acho que você tá certo — resmungou, sentando-se de frente para o piano. — Mas eu acho muito mais fácil pensar no que o autor poderia estar dizendo do que procurar o valor exato de uma equação.
— Tínhamos que discordar em alguma coisa, né? — brincou, sentando ao lado do ômega. — Você lembra qual foi a música que eu escolhi?
— Acho que era Ode to Joy — respondeu acariciando as teclas. — Eu posso começar ou…?
— Pode, sim.
— Você não vai dançar? — fitou o alfa.
— Vou olhar você por um tempo — sorriu inocente.
— Para, garoto, vai de uma vez — resmungou Jihoon, empurrando o maior, que riu e pôs-se de pé perto dele.
Soonyoung respirou fundo e assumiu sua posição, acenando discreto para que o ômega começasse.
[...]
— Não dá, Jihoonie, é muito difícil — o alfa fez birra, formando um bico nos lábios.
— Dá sim, é fácil — insistiu o menor.
Ele poderia admitir que tentar ensinar Soonyoung a tocar piano era bem complicado, pois nunca tinha ensinado ninguém antes, além do alfa ser impaciente e teimoso, mas ele já havia se cansado de dançar também. Mas Jihoon era insistente, e não sairia dali sem que o alfa soubesse, ao menos, as notas musicais no piano.
— Olha aqui, presta atenção — pediu, tocando as teclas pretas. — Essas teclas tem um padrão: duas, três, duas, três. Vai depender do tamanho do piano também, mas o básico é isso. Onde em duas teclas, a primeira branca é o dó — indicou, tocando a nota citada. — Aí, vai seguindo a ordem das notas, dó, ré, mi, fá, sol, lá, si — tocou-às enquanto citava.
— Tá, acho que entendi — disse o maior, tentando tocar o mesmo que o ômega, mas o som acabou por sair muito alto.
— Ok, vai com calma — interrompeu, segurando as mãos do alfa. — Essas teclas são sensitivas, quer dizer que quanto mais forte você aperta, mais alto sai o som. Com delicadeza, ok? — guiou as mãos do alfa pelas teclas, tocando a sequência simples. — Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó…. Aí, você pode fazer de trás pra frente: dó, si, lá, sol, fá, mi, ré, dó. Entendeu?
Virou o rosto para olhar Soonyoung, percebendo que ele já estava o olhando há algum tempo. Um sorriso discreto enfeitava os cantos dos lábios.
— Acho que entendi — concordou, sentindo as mãos pequenas ainda sobre as suas. — Se bem que… Foi mal, eu só notei que você estava segurando minhas mãos.
Jihoon riu, negando com a cabeça e levantando-se.
— Então a gente tenta outra vez, quando você já estiver acostumado com meu toque — sugeriu, pegando sua mochila e a jogando sob o ombro.
Soonyoung imitou seu ato, enquanto seu sorriso crescia.
— Vai ter que me fazer acostumar — insinuou, estendendo uma mão na direção do menor, que apenas lhe encarou com uma sobrancelha erguida sem dizer nada. Desistindo da abordagem, foi até a porta, sendo seguido pelo outro. — Quer que eu te leve em casa?
— Hum… Pode ser — concordou por fim, andando ao lado do Kwon pelos corredores.
Assim que saíram pelo portão, ele começou a tagarelar sobre a coreografia e algumas de suas aulas, Soonyoung era bom em preencher o silêncio.
Pararam no meio fio para atravessar a rua quando Jihoon decidiu se deixar levar — como haviam lhe aconselhado antes —, e segurou a mão do maior quando estavam no meio do caminho até a outra calçada. O alfa parou, confuso, ao notar o toque e o baixinho teve que lhe puxar para que não fossem atropelados.
Quando chegaram do outro lado, Soonyoung lhe encarava questionador, mas segurava sua mão firme.
— Não torne isso estranho — pediu, voltando a caminhar lado a lado.
— Ok — concordou, voltando a falar sobre o assunto anterior, cujo Jihoon tentava prestar atenção, mas seu coração batendo tão rápido dificultava.
Cerca de dez minutos depois, pararam em frente a casa do ômega, bem a tempo de Soonyoung concluir seu pensamento sobre como era injusto fliperamas não serem tão frequentados quanto antigamente.
— A gente pode ir no que tem no centro da cidade qualquer dia — sugeriu o menor, mordendo os lábios em nervosismo.
— Isso é um convite para um encontro? — perguntou erguendo uma sobrancelha.
— É — riu anasalado, tímido. — Se você quiser.
— Óbvio que eu quero — sorriu.
— Ok, então a gente combina o dia — soltou a mão do alfa. — Bem… tchau — disse e aproximou-se, aproveitando que o alfa havia virado o rosto instintivamente quando um cachorro latiu do outro lado da rua, para deixar um beijinho em seu rosto.
Entretanto, quando estava quase tocando a bochecha de Soonyoung, ele virou-se novamente, fazendo com que Jihoon selasse seus lábios de maneira rápida.
Quando se afastou, cobriu a própria boca com a mão, surpreso pelo contato não planejado. Soonyoung também o olhava sem saber o que dizer.
— Descul…
— Tá tudo bem — o alfa interrompe. — Foi um acidente — sorriu tentando passar confiança. — Até amanhã.
— Manda mensagem quando chegar em casa — Jihoon murmurou envergonhado, virando para entrar na própria. — Tchau.
Logo que fechou a porta atrás de si, cobriu seu rosto e resmungou envergonhado. Sentia suas bochechas pegando fogo, assim como um formigamento nos lábios. Por sorte, estava sozinho em casa por enquanto, então seus pais não iriam perguntar porque chegou mais tarde em casa.
Jogou-se no sofá e pegou seu celular na mochila, enviando uma mensagem para Jeonghan.
Hyung
eu vou te falar uma coisa
mas vc precisa prometer que não vai surtar
Enviou as mensagens e foi até a cozinha, procurando algo para comer. Assim que terminou de preparar um sanduíche, ouviu seu celular apitando quando recebeu novas mensagens.
[Jeonghan hyung]
ih qual foi?
Soonyoung tentou te beijar e vc disse não?
Não, quem dera
meio que eu beijei ele…
mas foi sem querer
EPSERA AI COMO ASSIN??
NÃO SURTA PLMDS
ele me trouxe até em casa
e na hora de dar tchau eu fui deixar um beijinho no rosto dele
mas ele virou bem na hora e acabei beijando a boca dele
mas foi super rápido e ele entendeu que n foi de propósito
msm assim minha boca ficou formigando por um tempinho
mas eu não senti nada dentro de mim sabe?
sim seu demissexual do caralho
mas pq vc tá surtando tanto?
eu tô um pouco mas acho que vc tá mais
eu não sei, foi tudo mt rápido e estranho
eu só precisava falar com alguém
mas ainda sim parece meio…
errado eu não sentir nada?
claro que não Jih
é sua sexualidade vc não escolheu
assim como eu não escolhi ser gay
e o wonwoo n escolheu ser gado do mingyu
Jihoon riu baixinho, sentando-se melhor no sofá e ligando a TV.
eu sei
eu só fico me perguntando
e se eu nunca vou sentir alguma coisa?
vc já tá se preocupando com o futuro de novo
foca mais no presente e na amizade que vcs estão criando
é, eu sei
Seungcheol hyung me disse isso tbm
aaww que amor meu namorado dando conselhos amorosos
Jihoon revirou os olhos ao ler a mensagem do amigo, seguido de vários emojis de corações — algo comum de acontecer sempre que o ômega mais velho era citado em uma conversa. Enviou emojis revirando os olhos e deixou o celular de lado, voltando a comer seu sanduíche enquanto assistia um programa de variedades qualquer.
Quase uma hora depois, seus pais chegaram em casa, carregando várias sacolas.
— Oi, filhote — sorriu sua mãe, aproximando-se de si e beijando sua testa. — Como foi a escola?
— Foi normal — respondeu seguindo a mulher com o olhar até o corredor que ligava aos quartos. — Por que chegaram tão tarde? — perguntou após seu pai acariciar seus cabelos ao passar por si também.
— Tivemos que passar em alguns lugares depois que sua mãe saiu do trabalho — explicou Taesuk.
Jihoon murmurou apenas para demonstrar que havia ouvido. Poucos segundos depois, os dois voltam para a sala e sentam-se de frente para ele.
— O que está acontecendo? — perguntou confuso.
— Filho, a gente precisa conversar — anunciou Daeun, pegando o controle e desligando a TV.
Jihoon olhou-os um pouco assustado, ninguém gostava de ouvir aquela frase, afinal. Pelo menos não estava mais no armário — foi o que pensou.
— Tá tudo bem?
— Sim, está, nós só queremos te dar uma notícia — acalmou o progenitor.
Em silêncio, eles lhe estenderam um envelope de um hospital. O ômega mais novo pegou aquilo sentindo-se mais confuso e receoso.
— O que é isso? Algum de vocês está morrendo?
— Não! — exclamaram juntos, rindo em seguida.
— Jihoon, sua mãe está esperando outro bebê — soltou seu pai.
Ficaram sem dizer nada por mais um tempo, enquanto o mais novo processava a informação. Seus pais o olhavam receosos, esperando alguma reação e não sabiam como o filho — até então único — poderia reagir a uma notícia dessas.
— Sério? — ele perguntou por fim, vendo eles concordarem com a cabeça. — E isso é o que? — indicou o envelope.
— Bem, eu estou grávida já tem quatro meses — explicou sua mãe. — Então, nós fomos ao hospital hoje para fazer os exames. Aí diz o sexo do bebê, e nós queríamos ver sua reação, tanto a notícia quanto ao sexo.
Ele abriu o envelope, suas mãos tremiam levemente quando pegou o papel com as imagens da ecografia. Ele leu cuidadosamente todas as informações.
— Eu vou ter uma irmã? — olhou para os progenitores, que sorriam empolgados.
— Você vai ter uma irmã! — exclamou seu pai.
— Isso é… Meu Deus, é incrível! — ele sorri também, levantando-se depressa para abraçar seus pais, que deixavam algumas lágrimas escaparem junto aos sorrisos.
— Que bom que acha isso — respondeu a mulher, beijando-lhe o rosto. — Você vai ser o melhor irmão mais velho do mundo.
— Eu com certeza vou tentar — garantiu sorrindo.
Chapter 10: Café Novo Mundo
Chapter Text
[Soonyoung_K96]
Uma irmãzinha!?
Que legal
eu sei!
eles me contaram hj
eu fiquei feliz
Não curtia ser filho único?
não é isso
meus pais são ótimos
acho que isso não vai mudar dps que o bebê nascer
óbvio que eles vão dedicar mt tempo para ela
mas como eu não sou mais criança vou ajudar eles
Vc é muito fofo
Imagina vc ninando um bebê
por favor me diz que vc não tá pensando em mim, bebês e vc na mesma frase
Eu não, cê é loko
Ainda nem consegui te beijar
Eu sou emocionado mas nem tanto
hum
vou acreditar em vc
aliás me desculpa por hj
Pq vc tá se desculpando exatamente?
vc sabe
Não sei não
Vc tá dizendo bobice
Não aconteceu nada demais
Foi um acidente
é
foi
Mudando de assunto
Ta ficando tarde e eu preciso dormir
Antes que meus tios tomem meu celular
E amanhã eu vou ajudar a organizar a biblioteca
posso ir com vc?
Sério?
Quer dizer
Claro
Se vc quiser
eu quero
Ok
Eu chego lá às sete
te vejo lá
Soonyoung enviou um gif fofinho de boa noite, bloqueando a tela do celular em seguida e não contendo seu sorriso, ou a vontade que teve de enfiar o rosto no travesseiro e gritar como uma adolescente apaixonada de qualquer filme clichê.
— Por que você tá agindo igual um doido?
Ele ergueu o rosto ao ouvir seu primo falando consigo.
— Acho que tô fazendo progresso com o menino que eu gosto — contou virando-se na cama para encarar o outro, na cama ao lado da sua.
— Que tipo de progresso? — ergueu uma sobrancelha.
— Só… progresso.
[...]
— Jihoonie, para de ler — pediu o alfa. — A gente tem que organizar os livros na sessão certa, não ficar lendo eles.
— Desculpa, me distraí — riu baixo, pondo o exemplar de volta na estante. — Como você fica na biblioteca toda quarta e, mesmo assim, não gosta de ler?
— Não é que eu não goste, eu tenho preguiça — explicou, juntando alguns livros deixados sob as mesas.
— Entendi — murmurou ajudando o maior a carregar alguns dos livros em seus braços.
— É, mas agora eu vou me forçar a ler mais — contou enquanto ajeitava os livros nas estantes mais altas. — Alguma indicação de leitura?
Jihoon pensou por um tempo, entregando os livros em suas mãos para o maior.
— Não sei, depende do que você gosta. Eu, por exemplo, gosto muito de contos e poesias, e conheço pessoas que não gostam. Acho que você vai lendo e procurando o que você gosta.
— Aff, deu preguiça só de pensar — reclamou assim que terminou de organizar os livros na prateleira. — Acho que terminamos por aqui.
— Olha essa poesia, que bonita! — exclamou o ômega aproximando-se do alfa. — “Você não é um refrão atraente que grudou na minha mente por algumas semanas e depois sumiu; nem o hit do verão, que conquista de imediato, mas é diferente todo ano. Você não é aquela música antiga pela qual eu tenho sentimentos duvidosos, se amo pelo que é, ou pela saudade do que foi. Você é minha música preferida, do tipo que eu já sabia que era inevitável me apaixonar quando ouvi pela primeira vez.”
— Você se distraiu com outro livro, mas eu te perdoo porque eu realmente gostei dessa poesia — disse ao se aproximar do menor. — Vai levar esse?
— Não, não. Ainda nem comecei o que eu levei ontem — negou pondo o livro de volta. — Terminamos?
— Terminamos — sorriu. — Quer que eu te leve até sua sala?
— Pode ser — retribuiu o sorriso, andando para fora da biblioteca ao lado do outro. — Posso perguntar por que você ajuda a organizar a biblioteca?
— Nenhuma razão em especial — deu de ombros. — Um dia, eu cheguei mais cedo a Sra. Hwang me pediu ajuda pra carregar alguns livros, aí eu acabei ajudando mais e agora tenho esse hábito — explicou e olhou para o outro, notando um sorriso pequeno direcionado a si. — O que foi?
— Você é muito fofo. Você me fala isso toda hora e mal enxerga toda fofura que você tem — afirmou. Passou-se alguns segundos e Soonyoung não havia respondido nada, apenas olhava o outro. — Meu Deus, eu te deixei sem palavras! Isso é algo muito raro.
— Isso é porque eu ainda não posso te beijar quando não sei o que dizer — riu vendo o ômega olhar para si com o rosto corado. — Chumbo trocado não dói.
— Besta — resmungou ele, empurrando o outro de leve. — Preciso pegar meu livro no armário.
— Ok, eu te espero — murmurou, apoiando-se nos armários vizinhos ao ômega. — E nossa ida ao fliperama? Ainda rola?
— Claro, só precisamos marcar um dia — disse abrindo a porta metálica. — Ah, não!
— O que foi? — Soonyoung se aproximou, preocupado.
— Eu esqueci as flores que você me deu aqui, elas morreram — constou triste ao pegá-las, um bico decepcionado crescendo em seus lábios.
— Não tem problema, são só flores — garantiu o maior, tocando com delicadeza os cabelos claros de outrem. — Você ainda pode prensar e plastificar, dá até pra fazer um marca páginas.
— Você é muito criativo também — sorriu levemente, deixando as flores no armário novamente. Soonyoung deu de ombros.
— Bom dia, meus amores! — Jeonghan exclamou animado ao chegar perto. — Oi, Soonyoung.
— Oi — respondeu suavemente.
— Bom dia, hyung — disse o ômega. — Por que você tá tão feliz?
— Porque eu vou ser indenizado por danos morais causados por aquele cara escroto — contou feliz, não escondendo o sorriso. — No dia que você teve seu encontro, eu e minha mãe fomos chamados na delegacia e o cara foi identificado, aparentemente não era a primeira queixa contra ele. Eu e mais uma menina vamos ser indenizados e ele ainda vai pagar uma multa, além de ir num curso ético e sei lá o quê.
— Meu Deus, hyung, isso é ótimo! — Jihoon exclamou, abraçando o mais velho em seguida. — Sério, é muito bom!
— Eu sei — sorriu, apertando o amigo nos braços. — Eu tô tão aliviado.
— Imagino — afastou-se logo, vendo como Jeonghan ainda sorria. — E quando…
— Cheollie! — chamou o mais velho assim que viu o namorado passando pelo corredor. Andou até ele a passos rápidos e o abraçou também, beijando-lhe os lábios em seguida.
— O que aconteceu, meu amor? — perguntou o ômega confuso.
— Você nem vai acreditar — respondeu abraçando o namorado pelos ombros, seguindo caminho entre os demais alunos.
Jihoon apenas riu nasalmente enquanto negava com a cabeça, fechando o armário em seguida, notando o olhar confuso de Soonyoung.
— Longa história — avisou, ficando ao lado do maior. — Ainda vai me levar na minha sala?
— Claro.
[...]
As aulas passaram normalmente para Jihoon durante a manhã, ele se esforçava para focar nas explicações e concluir as atividades.
Sua professora de inglês explicava sobre sentenças condicionais e ele tentava não cair no sono. Ajeitou-se na cadeira e abriu uma página aleatória do caderno para rabiscar qualquer coisa, foi quando notou sua lista dos sintomas de uma paixão — que, naquele ponto, já estava esquecida.
Desdobrou o papel com discrição, lendo e relendo os tópicos várias vezes. Logo em seguida, rasgou-o e jogou no lixo. Não se identificava com quase nada do que estava escrito ali, e percebeu que seus sentimentos não iriam se encaixar em nada que outras pessoas sentiam, pois as outras pessoas não eram ele. E as outras pessoas não eram Soonyoung, logo, tudo que sentia ao lado dele era algo totalmente novo e duvidava que poderia explicar caso alguém pedisse.
Jihoon sentia alguma coisa por Soonyoung e não iria nomear por enquanto.
[...]
— Eu acho que isso merece um brinde — Minghao propôs tão logo Jeonghan contou a novidade.
— A gente vai brindar com água? — perguntou Jihoon, pegando sua garrafinha.
— Com qualquer coisa, 'bora — pediu o mais velho.
Cada um na mesa ergueu sua própria bebida.
— Pela justiça ter funcionado pelo menos uma vez — disse o chinês.
— Mais alguma coisa? — perguntou o Yoon.
— Sim — Jihoon sorriu, logo todos lhe olhavam curiosos. — Minha mãe está grávida. Eu vou ter uma irmãzinha.
Todos soltaram exclamações surpresas, logo parabenizaram o baixinho.
— Ok, eu também tenho — Wonwoo se pronunciou. — É um segredo, então vocês não podem gritar.
— Fala logo — Minghao o chutou levemente por debaixo da mesa.
— Eu vou pedir o Mingyu em namoro hoje — contou baixinho.
— O que!?
— Caralho, seu gado emocionado! — Jeonghan exclamou, chamando atenção de algumas pessoas presentes no refeitório.
— Calem a boca, acho que até a China ouviu vocês gritando — xingou o maior.
Minghao e Seungcheol apenas riam observando a cena.
— Ok, ok, gente — interveio o Xu. — Por tudo isso.
— Saúde! — brindaram.
— Que lindo, daqui a pouco todos na mesa vão estar namorando — sorriu Jeonghan. — Só falta o Jihoon se apaixonar pelo Soonyoung.
— Uh-hum — interrompeu o omega. — Minha vida amorosa por enquanto está fora de questão, achem outro assunto. O Wonwoo que se apaixonou com um beijo.
— Foi o beijo, Jih — disse o maior.
— Gadoo! — o Yoon riu, voltando a comer.
[...]
— Quer ir lá pra casa? Podemos assistir algum filme — Seungcheol perguntou ao namorado, que abraçava sua cintura enquanto saíam da escola.
— Você sempre dorme em menos de meia hora — reclamou o maior, rindo da careta indignada do ômega.
— Que absurdo! Pois saiba você…
— An… com licença — uma menina os chamou. Ela usava um uniforme escolar azul e óculos de grau. Seu rosto era pequeno e redondo, era fofa num total. — Você é Yoon Jeonghan?
— Sou, por quê?
— Meu nome é Im Nayeon, eu… eu sou a menina que tinha denunciado aquele cara antes — ela disse. — Eu queria agradecer pelo que você fez.
— Mas eu não fiz nada…
— Você fez. Você foi até a delegacia e denunciou ele também. Eu tinha ido quase dois meses atrás, eu levei amostras do sêmen, mas mesmo assim, eles disseram que não podiam fazer nada — contou com lágrimas brotando nos olhos. — E quando você denunciou, não precisou de muito pra ele ser identificado, eu fui e confirmei que era ele mesmo. Então… eu sinto muito que tenha acontecido com você, mas isso acabou me ajudando também.
— Eu… — antes que o alfa pudesse completar, Nayeon abraçou-o apertado, acabando por derramar algumas lágrimas no ombro dele.
— Obrigada — ela sussurrou.
Jeonghan não teve tempo de retribuir o contato, logo a garota afastou-se rapidamente, entrando em um carro e indo embora.
— Você está bem, amor? — Seungcheol perguntou, tocando o rosto do namorado.
O alfa concordou mudo, secando uma lágrima teimosa que escorreu por sua bochecha.
— Vamos indo? — sorriu ao segurar a mão de seu ômega, seguindo seu caminho.
Chapter 11: Café Expresso
Chapter Text
O restante da semana se arrastou devagar para Jihoon, algumas provas e datas para entrega de trabalhos escolares estavam se aproximando. Mesmo assim, ele conseguiu tirar algumas coisas boas da semana que passou. Estava ajudando seus pais com a decoração do quarto de sua irmã, assim como estava passando mais tempo com os progenitores — que alegavam que iriam ter menos tempo para o filho quando o bebê nascesse —, também conversava com Soonyoung todos os dias, por mensagens e na escola durante alguns intervalos.
Não podia negar que estava… sentindo alguma coisa pelo alfa. Era difícil explicar, mas sentia-se bem e confortável na presença dele, sempre prestando atenção nas coisas que ele contava, assim como ele prestava total atenção quando Jihoon falava sobre algo, seja sobre sua família ou algum trecho de livro que mais gostava.
Descobriram vários gostos em comum e também aspectos em que discordavam bastante — como o fato de Soonyoung adorar filmes de ação e Jihoon simplesmente detestá-los —, ainda assim, estavam sempre trocando ideia e fazendo alguns planos de assistirem filmes juntos ou saírem em outro encontro. Estavam se aproximando aos poucos, eram amigos por enquanto.
— Eu não tô afim de sair essa semana, quase congelo em casa onde tem aquecedor, imagina na rua — reclamou o ômega, deitado em sua cama enquanto falava com Soonyoung pelo celular.
As ligações de voz eram como um pequeno passo para o relacionamento, não aconteciam muito frequentemente, mas quando aconteciam, perdiam a noção do tempo entre as conversas.
— Já falei que eu te esquento, bobinho — respondeu, rindo em seguida, quando Jihoon o mandou calar a boca. — Brincadeira, mas nem tanto. Enfim, se você quiser, a gente pode assistir filme aqui em casa.
— Sei não, a gente ainda precisa estudar pras provas.
— Eu sei, mas vou procrastinar mais um pouco.
— Até você não ter mais tempo pra estudar tudo?
— Exatamente.
Jihoon riu, rolando na cama para pular a música que tocava em um volume baixo em seu notebook.
— Soonyoung, você está brincando com o perigo — avisou.
— E, mesmo assim, cheguei no segundo ano. Relaxa, eu conheço meus limites.
— Se você diz. Não vem chorar pra mim depois — brincou, aumentando um pouco o volume.
— Prometo. Mas enfim, como estão as coisas com sua família?
— Tudo ok, eu acho — deu de ombros, mesmo que o outro não pudesse vê-lo. — Eu e meus pais estamos fazendo mais coisas juntos, é estranho, ao mesmo tempo que é bom. Ontem a gente tentou ajudar meu pai a fazer a janta e eu deixei as algas queimarem, o cheiro ainda não saiu da cozinha — o alfa riu baixo do outro lado. — A gente assistiu um filme também, foi engraçado porque teve uma cena de sexo muito inesperada, meus pais quase morreram de vergonha. Minha mãe também chorou muito durante o filme, mas era uma comédia!
— Ela deve estar explodindo de hormônios, coitada.
— Sim, eu sei — ficaram em silêncio por alguns segundos. — Não te incomoda eu falar sobre meus pais? Parece meio escroto eu exibir como minha família é feliz, e você… bem…
— Não incomoda, não se preocupa. Eu fico feliz que sua família é boa — respondeu. — E não é como se meus pais estivessem mortos, eles só estão distantes. Eles me ligaram algumas horas atrás.
— E foi legal?
— Sim, eles estão em Portugal agora, contaram várias coisas sobre o país e disseram que vão mandar alguma lembrança — contou. — Eu contei algumas coisas pra eles, também. Eles estão vendo quando vão poder voltar pra cá e ficar um tempo.
— Isso é bom. Tomara que eles voltem logo e você mate um pouco da saudade.
— Sim — murmurou. — Ei, que música é essa que tá tocando aí?
— ‘Pera, deixa eu ver — virou-se para olhar o notebook. — É Oh my blue sky do The Well Pennies. Você gostou?
— Primeiro: você falando inglês é muito fofo. Segundo: achei a música meio irritante, mas ela combina com você.
— Você tá dizendo que eu sou irritante?
— Não! Você sabe que eu sou incapaz de pensar algo ruim sobre você. Só disse que a música é irritante.
— Que absurdo, música mó gostosinha de ouvir — retrucou, ouvindo Soonyoung rir de sua indignação.
— Parece som de despertador de celular.
— E qual música seria de seu agrado, oh, senhor anti folk?
Soonyoung riu baixo antes de responder:
— Eu gosto de músicas mais agitadas, tipo…
— Soonyoung, o jantar tá pronto! — Jihoon pôde ouvir ao fundo na chamada.
— Já vou! — o alfa gritou de volta. — Por exemplo, meu artista favorito é…
— Soonyoung, desce agora, ninguém vai te esperar — disse alguém, soando mais alto e claro para o ômega, levando-o a acreditar que a pessoa tinha entrado no quarto.
— Tô conversando aqui, eu já vou.
— Você pode ligar pro Seokmin outra hora.
— Não é o Seokmin, dá licença.
— Quem é, então? — Jihoon ouviu alguns sons indecifráveis, assim como Soonyoung mandando quem quer que fosse soltar seu celular. — Caralho, seu gay! Não basta salvar o nome do menino com um coração, tem que incomodar ele por quase uma hora?
O ômega riu baixo ouvindo a conversa. Afastou o celular do rosto e confirmou que estavam naquela chamada por 53 minutos.
— Dá licença, Joshua, eu já vou descer…
— Ei, Jihoon, ele salvou seu contato como Jihoonie e colocou emoji de coração! — o tal Joshua começou a falar alto. — Ele tá apaixonadão por ti, fica falando de você o tempo todo, eu sei toda sua vida porque ele não cala a boca…
— Cala você a boca, seu idiota! Sai daqui antes que eu te bata — com mais alguns sons estranhos e as vozes ficando um pouco mais distantes, Jihoon ria alto enquanto Soonyoung pedia desculpas.
— Quem é esse?
— A besta do meu primo, nem liga. Mas eu vou precisar ir antes que ele volte, eu te mando mensagem antes de dormir.
— Tá bem — respondeu entre risos. — Tchau.
[...]
Jihoon acordou de madrugada após ter um pesadelo, despertou em um pulo quando ouviu um barulho estranho. Quando reconheceu que estava em seu quarto ficou calmo. Levantou da cama e desceu até a sala após calçar suas pantufas.
Sua mãe estava sentada no sofá, com um cobertor sob suas pernas, enquanto mexia no celular.
— Mãe? Aconteceu alguma coisa? — quis saber, ainda meio rouco, aproximando-se devagar.
— Acordei morrendo de vontade de tomar sorvete — ela disse dando tapinhas no assento ao seu lado, convidando-o para sentar ali.
— Uma coisa super normal de se querer quando a temperatura está negativa — brincou sentando ao lado da mulher, que o abraçou de lado.
— Desejos de grávida — riu baixo. — Sabia que quando eu estava grávida de você eu senti vontade de comer kimchi com sorvete de chocomenta?
— Ew, que nojo — fez careta olhando-a.
— Sim, eu vomitei depois — torceu o nariz. — Você quer sorvete também? Vou pedir por um app.
— Humm pode ser — aproximou-se para ver os sabores disponíveis. — Pede Cookie & Cream.
— Boa ideia — ela sorriu, adicionando os doces ao carrinho virtual. — Prontinho.
— Quase três da manhã e a gente pedindo sorvete — riu o ômega, se aconchegando melhor no abraço.
— Eu acho que essas são as melhores lembranças — sorriu ao acarinhar o filho. Logo continuou: — Uma memória muito vívida que eu tenho da minha mãe, é que toda manhã ela acordava muito, muito cedo, o sol estava começando a nascer quando ela levantava; e antes dela fazer o café da manhã, ela tocava o piano e era sempre a mesma música, e eu acordava todos os dias com essa mesma melodia.
— Que música era? — perguntou curioso.
— Eu não me lembro o nome, mas era mais ou menos assim: — ela cantarolou o que mais lembrava da melodia, Jihoon ouviu atentamente, sentindo que aquilo lhe soava muito familiar também.
— Ah! Eu sei qual é, já ouvi a vovó tocando — exclamou. — É… É Andagio un poco mosso, não é?
— Eu não sei — Daeun riu, acariciando-lhe os cabelos. — Você pode tocar pra mim algum dia, que tal?
— Claro.
Ficaram um tempo em silêncio, sem nada mais para acrescentar. Em poucos minutos, o sorvete havia chegado. Sentaram-se na cozinha para comer e o ômega achava até um pouco engraçado como sua mãe parecia completamente satisfeita em comer algo tão simples.
— Quando nós temos vontade de alguma coisa parece que fica mil vezes melhor quando nós comemos — disse ela, lambendo os dedos com resquícios do doce.
— Acho que sim — riu baixinho. — Espero que você não vomite depois.
— Espero também, mas na gravidez tudo nos deixa enjoada — sorriu. — Eu desconfiei que estava grávida de você quando eu fui escovar os dentes um dia e aquilo me deixou com muita vontade de vomitar. Sua avó tinha me dito que isso acontecia normalmente durante a gravidez.
— E como foi depois? Digo… Como você se sentiu quando descobriu que estava me esperando?
— Eu fiquei muito assustada, acho que é normal com o primeiro filho. Comecei a pensar no futuro, que nós não tínhamos as coisas pro seu quarto, como seria o parto, quase entrei em pânico. Quem me acalmou foi seu pai, ele disse que nós ainda teríamos meses pra nos preocupar com essas coisas e que ele ia estar do meu lado todos os dias — contou com um sorriso pequeno. — Depois que eu me acalmei, eu consegui digerir melhor. Eu nunca tive o sonho de ser mãe, mas quando aconteceu eu fiquei feliz.
Jihoon sorriu ouvindo o relato. Levou mais um pouco do doce à boca, deixando que a alfa continuasse:
— Era engraçado também, porque eu nunca tinha pensado em ser mãe, mas sempre que eu e seu pai saíamos, eu ficava com uma sensação muito estranha de estar faltando alguma coisa. Eu sentia sua falta antes mesmo de você nascer — olhou o filho com lágrimas nos olhos. — E quando você nasceu eu estava meio grogue por causa da anestesia, então os médicos entregaram você pro seu pai primeiro, ele disse que você era tão pequeno, e parecia tão frágil, que ele ficou com medo de te quebrar — riu nasalmente. — E umas horas depois, eu te segurei pela primeira vez. Acho que chorei por uns vinte minutos, só olhando pra você, com aquela carinha de joelho agarrado no meu peito.
— Eu nunca tinha ouvido essa história — sorriu ele.
— Você nunca tinha perguntado sobre — ela deu de ombros, retribuindo o sorriso. Levou a mão livre até o rosto do filho, acariciando-o com carinho. — E você? O que me conta de novo?
Jihoon deu de ombros, dando mais uma mordida no biscoito de sorvete.
— Acho que nada.
— Não tem mais saído com aquele menino?
— A gente não saiu mais, mas é porque a semana de provas está se aproximando, então não sobra muito tempo — explicou.
— Mas você gosta dele?
— Não desse jeito — suspirou. — A gente conversa bastante, ele é fofo, atencioso e tá super apaixonado por mim, mas eu não me sinto apaixonado por ele, sabe? Eu considero ele meu amigo no momento.
— Entendi — ela murmurou. — A gente não vai conhecer ele?
— Preferia você falando do meu nascimento — olhou-a com um sorriso arteiro.
— Ok… Sabia que a bolsa estourou quando eu estava na recepção do hospital? Uma criancinha apontou para mim e disse: “a moça fez xixi!” — riram juntos.
— Meu Deus, por que vocês não me contam essas histórias?
— Porque, sei lá, você nunca perguntou — deu de ombros. — Não é todo mundo que gosta de ouvir essas coisas.
— Eu gostei — fez beicinho.
Eles, então, ouviram passos arrastados, viraram-se a tempo de ver Taesuk entrando na cozinha, parecendo ainda muito sonolento.
— O que estão fazendo? — ele perguntou olhando para o relógio da cozinha. — São três e meia da manhã.
— Mãe 'tava com desejo de sorvete — disse o mais novo, pondo mais um pedaço do doce na boca.
— Eu também estava falando do dia que ele nasceu — contou a alfa, sorrindo para o marido, que acariciou-lhe os ombros.
— Ah, eu me lembro muito desse dia — relatou ele, sentando ao lado deles e pegando um pacote fechado de sorvete para si. — Eu estava com a agenda lotada no salão, ia ficar o dia todo lá, mas perto das três da tarde sua mãe me ligou, dizendo que você ia nascer — sorriu na direção do filho, que ouvia atentamente. — Ela acabou indo pro hospital sozinha, sem ajuda de ninguém…
— Na força do ódio, que nem falam hoje em dia — acrescentou ela.
— É, e quando eu cheguei mal consegui explicar pra recepcionista o que estava acontecendo — soltou um riso baixo. — Quando finalmente entenderam, me levaram pra sala de parto correndo, e quando eu cheguei, já estava ouvindo seu choro. Senti que eu nasci de novo naquele dia.
Jihoon sorriu, tentando esconder uma vontadezinha de chorar que crescia em seu peito.
— Eu realmente gostei de ouvir essas histórias — constou emocionado.
— Você era muito pequenininho — continuou o homem. — Você cabia aqui, na minha mão — indicou a própria palma.
E vocês sempre vão caber aqui, no meu coração — pensou, mas não teve coragem de externar.
[...]
— Sabe que não precisa me levar até em casa, né? — Jihoon perguntou para Soonyoung quando estavam na metade do caminho até sua residência.
— Eu sei, mas não custa nada e eu posso ficar mais tempo com você — sorriu.
Jihoon negou com a cabeça, não sabendo como reagir.
— E você chega mais tarde em casa — completou.
— É, também — deu de ombros. — Meus tios chegam em casa só de noite hoje, então vou ficar a tarde toda com meu primo.
— Vocês se dão bem? — olhou-o interessado.
— Sim, ele é legal, a gente conversa bastante, assistimos filmes e essas coisas — contou. — Na verdade, ele não é bem meu primo. Eu tenho esse tio, que se casou com uma mulher divorciada, e ela é mãe do Joshua, então ele é meio que “emprestado”.
— Ah, entendi. Por isso ele tem esse nome diferente.
— Sim. Ele tem um nome coreano, o nome do meio dele é Jisoo, mas eu prefiro o primeiro nome mesmo. Ele nasceu nos Estados Unidos, aí ele e a mãe se mudaram pra cá, ela conheceu meu tio e eles casaram — continuou.
Ambos diminuíram a velocidade dos passos inconscientemente.
— Agora eu sei toda vida dele e ele sabe a minha, né? — brincou, rindo da careta que o alfa fez.
— Ele exagerou, eu só falei umas coisinhas — retrucou.
— Ele é mais velho que você?
— Só por um ano.
— Por que ele não estuda na nossa escola?
— Meus tios quiseram que ele estudasse numa escola “de elite” — fez aspas com os dedos. — Não tem muita diferença, mas meus tios acham que uma escola maior significa uma educação melhor. Balela.
Jihoon riu nasalmente pela forma quase debochada que Soonyoung falava.
— Cada um com sua vida — respondeu dando de ombros.
— É, quem somos nós pra julgar — ironizou cutucando o menor com o cotovelo. — Mas, mudando de assunto, quando nós vamos pro fliper, ein? Tô ansioso, faz tempo que eu não vou.
— A gente pode esperar ficar menos frio? — pediu com manha. — Pelo menos uns dez graus, que tal?
— Hum, pode ser — concordou. — Vou assistir a previsão do tempo todo dia agora.
— Para, garoto — riu o ômega, empurrando-lhe de leve.
Logo já haviam chegado a casa do menor.
— Obrigado por me trazer — sorriu. — Até amanhã.
— Até — com um suspiro discreto, Soonyoung observou o outro entrar em casa.
Desde o incidente, Jihoon não beijava mais seu rosto quando se despediam, e isso lhe deixava um pouquinho frustrado.
— É tudo sua culpa — acusou ele, apontando para o cachorro da casa vizinha, o mesmo que havia latido naquela ocasião.
Quando entrou em casa, Jihoon pôde jurar que quase morreu do coração. Seus pais chegavam apenas no final da tarde e, mesmo assim, havia duas pessoas sentadas em seu sofá: Jeonghan e Wonwoo.
— Ai, gente, caralho, vocês têm que parar de invadir a casa alheia — reclamou ao acalmar-se. — O que vocês estão fazendo aqui?
— A gente ia te esperar pra voltarmos juntos — começou o mais velho. — Mas você não aparecia nunca, então a gente achou que você já tinha vindo e viemos pra cá. Você não tava aqui, mas sua mãe estava saindo de casa e deixou a gente ficar pra te esperar.
— Eu fiquei tirando uma dúvida com o professor de física e Soonyoung me trouxe em casa — explicou. — Mas isso ainda não explica porquê vocês estão aqui.
— Pra variar, você tava com o Soonyoung de novo — Wonwoo resmungou.
— E o que tem? — perguntou se aproximando.
— Agora você só fica com ele.
— E daí? Você passa a maior parte do seu tempo com o Mingyu e eu não falo nada — cruzou os braços.
— Nem fala do Mingyu, ok? — retrucou mal humorado.
— Ué, o que aconteceu? — o mais velho perguntou.
— Não quero falar sobre isso.
— Você tá sendo passivo agressivo por razão nenhuma — apontou Jihoon sentando ao lado do Yoon, deixando-o no meio. — Então se abre com a gente e para de magoar meus sentimentos por nada.
O mais alto bufou, jogando a cabeça para trás e respirando fundo em seguida.
— Achei que estivesse tudo bem entre vocês — Jeonghan disse. — Você até pediu ele em namoro esses dias.
— Esse foi o problema — começou. — Ele disse que não.
— O que!? — Jihoon e Jeonghan exclamaram juntos. — Por quê?
— Ele disse que eu não tava falando sério, que eu ia enjoar dele em alguns meses e ir embora — cruzou os braços. — Como se eu fosse um alfa escroto qualquer, porra!
— Ok, ok. Vamos com calma — o mais velho tentou intervir. — Respira e nos conta certinho.
Wonwoo bufou tirando os óculos do rosto, passou as mãos pelo mesmo em sinal de frustração. Jihoon levantou-se e foi até a cozinha enquanto o maior juntava e organizava seus pensamentos.
— Eu convidei ele pra sair aquele dia, fomos no parque, caminhamos um pouco, conversamos e depois eu perguntei se ele queria ser meu namorado — contou encarando os próprios dedos.
— E por que deu errado? — Jeonghan perguntou confuso.
— Porque ele disse que eu não tava falando sério, que era coisa do calor do momento ou sei lá.
— 'Pera aí! — Jihoon exclamou voltando da cozinha, carregando nas mãos alguns sorvetes que sobraram da noite anterior. — Vocês estão ficando há três semanas, não é?
— Sim, mas eu gosto dele faz uns três meses — justificou o Jeon, abrindo um dos doces e dando uma mordida generosa. — A gente conversa faz uns meses também, eu achei que ele gostasse de mim.
— Mas ele gosta de você! — o ômega disse.
— Ele literalmente disse que eu sou igual a todos os outros alfas idiotas que tem por aí! — rebateu irritado.
— Ele disse isso? Com todas as palavras?
— Não, mas doeu igual.
— Wonwoo, pelo amor, não seja burro — Jihoon exclamou, aproximando-se do amigo ao passar por cima do mais velho no sofá. — Ele tá traumatizado, sua anta! Ele passou 17 anos da vida dele sendo só passatempo pra pessoas escrotas, é óbvio que ele não vai pular de cabeça em qualquer relacionamento que parece dar minimamente certo!
— Eu continuo não achando justo, eu não sou essas pessoas!
— Tá! Chega os dois! — Jeonghan interrompeu expandindo sua presença, fazendo com que Jihoon se encolhesse instintivamente. — Nem parece que são amigos há tanto tempo.
Os dois ficaram quietos, cada um num canto do sofá.
— O que o Jih quer dizer, é que o Mingyu talvez precise de uma prova de amor ou sei lá — explicou para o maior, que apenas bufou novamente. — Qual é, Nonu. Você gosta daquele garoto, não gosta?
— Gosto.
— Quer abraçar ele?
— Quero.
— Beijar?
— Quero.
— Agradar?
— Quero! — gritou.
— Pois então você precisa provar isso! Se sacrifique no altar da dignidade! — segurou o amigo pelos ombros e o chacoalhou. — Você precisa provar pra esse garoto que você faria tudo por ele.
— Pff… esquece — Jihoon disse. — Se você está esperando um grande gesto estilo filme clichê, não vai dar certo. Wonwoo é tão introvertido quanto eu, ele prefere ficar sem as notas dos trabalhos orais do que ter que falar na frente da turma.
— É verdade — suspirou o Jeon, assumindo uma feição chateada. — Não sei o que fazer, mas eu gosto demais do Mingyu.
— Tenho certeza que você vai pensar em alguma coisa — o mais velho garantiu, acariciando os cabelos do alfa mais novo.
— Eu não tenho tanta certeza…
[...]
Na manhã seguinte, Jihoon aceitou ir à escola mais cedo que o habitual para que ajudasse Soonyoung a encontrar um livro que gostasse. Obviamente ele sabia que era apenas uma desculpa esfarrapada do alfa para passar mais tempo consigo, mas não se importava. Aos poucos estava começando a gostar dessas justificativas bobas.
— Que tal esse? — perguntou o menor ao achar um livro cujo título lhe chamou atenção. — Todas as flores que não te enviei.¹
— Bonito — deu de ombros aproximando-se. — É sobre o que?
— São poesias — folheou-o. — São bem curtinhas, você pode terminar em alguns dias.
— Não sei, eu não entendo muito de poesia e essas coisas — fez careta, sentando ao lado do ômega.
— Mas elas são fáceis, o livro é recente, o autor não usa palavras muito difíceis — abriu-o. — Olha essa... dizem que nada muda da noite para o dia, mas isso é um engano. Podemos sempre acordar e decidir dizer: não mais!
— É, até que vai — murmurou apoiando o queixo entre os braços repousados sobre a mesa, seus olhos fixados em Jihoon.
— A maior parte do livro é só isso, uns poeminhas simples. “Com o tempo, você descobre que não precisa sentir borboletas no estômago… precisa apenas se sentir tranquilo.”
— Mas eu sinto borboletas quando tô com você…
— Cala a boca.
Jihoon continuou lendo alguns versos, abrindo as páginas aleatoriamente e Soonyoung ficou o ouvindo com toda atenção, gostando de ouvir o outro dizendo coisas tão bonitas, e o ômega parecia mais feliz quando podia ler alguma coisa.
— Eu gostei de ouvir você lendo — confidenciou alguns poemas mais tarde, fazendo com que o rosto bonito ganhasse um tom de rosado, como era comum sempre que o alfa dizia o que estava pensando.
Talvez seus pensamentos ainda fossem sinceros demais para o coração inexperiente de Jihoon, e estava tudo bem.
— Vou levar esse mesmo.
Assim que fizeram o registro do livro, saíram da biblioteca e começaram a andar pelos corredores, que eram pouco movimentados aquela hora.
— Você promete que vai ler?
— Prometo, Jih, confia em mim — garantiu guardando o livro na mochila.
— Acho bom, porque…
Pararam de falar ao ouvirem um som estranho ali perto.
Apressaram o passo e dobraram o corredor, vendo dois alunos. Um garoto estava encurralando o outro contra os armários. Jihoon reconheceu Mingyu, que estava de cabeça baixa, enquanto os braços do garoto impediam sua fuga. O ômega era o maior, mas parecia tão pequeno e indefeso ali.
— Eu só pedi um beijo, não é nada demais — falou o alfa tentando se aproximar mais do Kim, que o empurrava sem muito sucesso. — Além do mais, quem mais iria te beijar? Se pensar bem, estou te oferecendo uma chance única.
Jihoon sentiu o sangue subindo a cabeça muito rapidamente, de uma forma que nunca havia sentido. Mas antes que pudesse dar um passo sequer, uma terceira pessoa chegou rápido como um raio, pondo-se entre os dois e empurrando o alfa com a força que tinha.
— Cai fora, Soojin — disse o beta chamado Lee Chan. — Você é grande mas não é dois, não tenho medo de sair no soco com você.
— E seu amigo é grande e não dá metade de um ômega de verdade — cuspiu as palavras, segurando o menor pelo colarinho, este, entretanto, não hesitou em nem um momento, nem ao menos piscou. — Sai daqui antes que eu arrebente sua cara.
Foi ouvindo isso que Soonyoung andou até ele, parecendo acordar de um transe com aquela ameaça. Mingyu já estava quase chorando quando o Kwon fez Soojin soltar Chan, ficando cara a cara com o outro alfa.
— É bem fácil ameaçar alguém quando eles são de uma classe abaixo da sua, né? Não tem coragem de se meter com alguém do seu tamanho? — disse calmo apesar de estar irritado, o cheiro forte dos dois estava por todo corredor. — Vai embora antes que eu arrebente sua cara, seu covarde.
Soojin não respondeu, apenas afastou-se com o mesmo ar prepotente de quando entrou.
— Hyung, você tá bem? — Chan perguntou ao se aproximar de Mingyu, que continuava encolhido com lágrimas brilhando nos olhos.
— Tô sim, não foi nada — respondeu fraco. — Obrigado, Soonyoung-ah — curvou-se para o alfa.
— Não precisa me agradecer — sorriu, secando com delicadeza uma lágrima que escorreu pelo rosto dele. — Você vai falar com o diretor? Isso não pode acontecer de novo.
— Sim, eu vou lá agora — curvou-se uma última vez e seguiu pelo corredor.
— Valeu, Soonyoung hyung — Chan sorriu antes de correr até Mingyu.
Assim que ficaram os dois sozinhos no corredor novamente, Jihoon respirou aliviado, chegando mais perto do alfa.
— Você tá bem? — olhou-o.
— Eu tô, e você? — virou para o ômega.
— Eu ainda tô puto da cara — cerrou os pequenos punhos, respirando fundo. — Mas, por outro lado, se Wonwoo não fosse apaixonado pelo Mingyu, eu diria que você e ele dariam um casal bonitinho — sorriu ladino, seguindo seu caminho.
— Ah, qual é, Jihoonie! Shippa eu com você, não com outro ômega — manhou ao ir atrás dele.
[...]
— Aconteceu o quê!? — Wonwoo exclamou irado, segurando a vontade de socar a mesa do refeitório.
Jihoon esperou o momento certo para contar o que presenciou ao amigo, mas talvez nenhum momento fosse realmente o certo.
— Calma, Nonu, tá tudo bem. Soonyoung não deixou nada acontecer — tentou acalmá-lo. — Acho que ele já falou com o diretor também.
— Isso não me deixa menos irritado.
Jihoon suspirou, seguindo o olhar do maior para a mesa onde Mingyu estava com seus amigos. Apesar de tímido, o ômega tinha um grupo de amigos até grande, ele nunca estava realmente sozinho.
Haviam quatro pessoas almoçando com ele: Lee Chan, o beta que havia o defendido mais cedo; Myoui Minari, uma ômega transferida do Japão; Park Jihyo, uma alfa líder do grêmio estudantil; e Jeon Jeongguk, um beta de cabelos roxos que tocava bateria na banda da escola. Ele, inclusive, estava com uma bateria portátil sobre a mesa, tocando-a sem força para não causar um escarcéu.
— Ele tá bem, está com os amigos dele — Jeonghan disse acariciando os ombros tensos do outro alfa. — Que bom que você chegou atrasado, se você tivesse visto a cena com certeza estaria expulso por quebrar a cara daquele alfa.
— Alguém realmente deveria quebrar a cara dele — rosnou baixo, tentando voltar a atenção para sua comida.
— Não vai fazer merda, por favor — Jihoon pediu, notando um brilho feroz nos olhos do Jeon.
— Não vou — respondeu seco.
Logo todos ficaram em silêncio, sem saber o que dizer.
— E aí, gente, bom dia! — Minghao chegou animado, sentando-se ao lado de Wonwoo sorridente. Logo, percebeu o clima tenso. — Credo, alguém morreu? Amanhã é sábado gente, cadê a animação?
Ninguém respondeu. Jihoon respirou fundo:
— Mingyu foi atacado por um cara que queria forçar um beijo.
— Ah — soltou, ficando estático. — Caralho, eu realmente cheguei com a vibe errada.
— Muito errada — Wonwoo disse levantando-se e andando para fora do refeitório.
— Eu vou lá falar com ele — respondeu o chinês, logo indo atrás do alfa.
Os três restantes ficaram observando Minghao se distanciar, assim como notaram o olhar triste de Mingyu para a porta por onde o Jeon havia saído.
— A gente deveria fazer alguma coisa? — Seungcheol perguntou, apreensivo.
— Por enquanto não — Jeonghan respondeu. — Tá fora do nosso alcance.
[...]
— Ok, pessoal — disse o professor assim que terminou de escrever no quadro. — Antes de acabar a aula, eu tenho uma proposta interessante para um trabalho. Vocês precisam ler e escrever mais, então eu pensei em utilizar um recurso que vocês gostam muito: música.
Alguns alunos começaram um burburinho, alegando que não sabiam escrever músicas e outros um pouco mais convencidos dizendo que já haviam escrito várias.
— Ok, ok, deixem eu terminar — pediu o professor. — Eu quero que vocês escolham a música preferida de vocês, e escrevam um poema inspirado. Lembrando que os poemas não têm obrigação de rimar, então não se preocupem com isso.
— Temos que fazer agora? — uma aluna perguntou.
— Não, é um dever de casa. Mas como eu sei que algumas pessoas têm dificuldade, vou dar um prazo bem longo, então a gente vê essa trabalho depois da semana de provas, tudo bem?
— Põe dificuldade nisso — Jihoon murmurou sozinho.
Mas pode ser interessante — pensou.
Logo o sinal tocou e a turma pôde sair. Como de costume, o ômega ficou guardando seus materiais com calma, esperando que houvesse menos pessoas para ir embora. Assim que se levantou para sair, viu Soonyoung sorrindo enquanto o esperava na porta.
— O que foi? — perguntou meio confuso andando até o alfa.
— Eu tenho uma notícia muito boa — sorriu arteiro. Jihoon arqueou uma sobrancelha, desconfiado. — Amanhã a temperatura vai subir. Vai fazer 15 graus.
— Humm. E daí? — fez-se de desentendido, seguindo caminho ao lado do maior.
— Como assim “e daí”? — ele colocou as mãos na cintura. — A gente vai no fliperama, ué. Você prometeu — fez bico.
— Eu sei, tava só brincando — riu anasalado, fazendo Soonyoung revirar os olhos.
— Você realmente quer ir? — ele perguntou sério, parando de andar para que Jihoon o olhasse.
— É óbvio que eu quero, Soon-ah — afirmou tocando o braço dele, deslizando a palma suavemente até a mão maior que a sua. — Não fica assim senão eu me sinto culpado.
— Desculpa, é que… não quero que você se sinta forçado a nada — explicou fitando suas mãos juntas.
Deixou-se cruzar os dedos ao do ômega, sentindo-os gelados sob os seus quentes.
— Eu prometo que não me sinto assim — sorriu pequeno, aproximando-se um pouquinho mais dele.
O aroma forte de café ainda era muito peculiar para si, mas era tão bom que Jihoon sentia uma vontade quase incontrolável de afundar o rosto no pescoço alheio para senti-lo o máximo que podia.
Quando notou, estava muito perto do alfa, quase hipnotizado pela fragrância.
Abriu a boca para falar algo, mas Soonyoung foi mais rápido:
— Se você continuar tão perto... eu não vou conseguir não te beijar — Jihoon, então, engoliu em seco e afastou-se depressa. — Me desculpa.
— Tá tudo bem — respondeu sentindo o sangue pulsando em suas bochechas. — Você é tão direto, credo, nunca vou me acostumar com isso.
— E você é lindo pra caralho, eu também não me acostumei com isso!
— Cala a boca! — pediu envergonhado, voltando a caminhar rápido. Soonyoung o seguiu, rindo de sua reação. — Que horas nós vamos?
— Pode ser no final da tarde? Fliperama é mais legal de noite.
— Verdade — concordou. — Então, lá pelas cinco?
— Combinado — sorriu tão logo eles chegaram ao portão da escola. — Não vou poder te levar em casa hoje, tudo bem?
— Claro, sem problemas — pararam para que pudessem seguir seus caminhos, em direções opostas. Soonyoung o olhava intensamente, sem motivo aparente. — O que foi?
— Posso beijar seu rosto? — pediu com algum resquício de coragem insana.
Jihoon sentiu de novo o sangue pulsando loucamente em sua face enquanto ponderava, logo acenou com a cabeça. O alfa teve de conter um sorriso grande demais. Aproximou-se lentamente e deixou um beijo suave e doce sob a bochecha avermelhada.
— Tchau.
— Tchau — respondeu, envergonhado.
Soonyoung sorriu e foi embora em seguida. Olhou para trás após alguns dez passos, acenando para o outro antes de dobrar a esquina.
Assim que o alfa estava fora de sua vista, Jihoon tocou o próprio rosto.
— Droga — resmungou feliz.
Chapter Text
— Você acha que eu deveria beijar ele? — Jihoon perguntou enquanto Jeonghan passava base em seu rosto.
— Eu não acho nada, só você pode saber — murmurou passando a esponja sob o rosto pequeno. — Você é muito branco, credo, mais fácil passar farinha na sua cara.
— Cala a boca, me ajuda.
— Eu já tô te ajudando — virou para pegar um lápis de olho. — Mas, já que você quer tanto assim meu conselho, eu digo que Soonyoung gosta de você do jeito que você é. Ele se apaixonou antes mesmo de te conhecer, então continua assim porque tá dando certo, aparentemente.
O mais novo suspirou, deixando que o alfa aplicasse um brilho labial em si.
— Tá, faz sentido — deu de ombros, levantando-se tão logo Jeonghan terminou sua maquiagem. Olhou-se no espelho e sorriu de leve. — É, até que tô bonito.
— Tá gato, só precisa relaxar mais.
Jihoon revirou levemente os olhos, checando sua aparência de novo. O moletom azul bebê era seu favorito, a calça jeans escura marcava levemente suas pernas, em seus pés estavam seus coturnos pretos.
Batidas foram ouvidas na porta e logo esta foi aberta, revelando os pais do ômega.
— Oi, filhote — disse a mulher. — Oi, Jeonghan-ah, como você tá, querido?
— Olá, Sra. e Sr. Lee. Eu estou bem — sorriu cumprimentando-os. — Eu vim ajudar o Jih a se arrumar pro encontro dele.
— Deus, meu coração vomitou de novo — falou o ômega mais velho, cambaleando dramaticamente até a cama.
Os demais presentes no quarto riram do homem, que olhava o filho de cima a baixo com uma careta tristonha.
— Você vai ficar mais tranquilo depois de conhecer o Soonyoung — acalmou Jeonghan, sentando ao lado do homem. — Ele é muito apaixonado pelo Jih, nunca vi uma pessoa tão boiola por outra.
— Você literalmente manda mensagem para mim falando o quanto ama seu namorado — rebateu o menor, causando mais risos nos outros.
— A gente quer conhecer ele, filho — pediu a mulher sentando na cama também. — Quando nós vamos poder?
— Ah, meu Deus, eu não vou ter essa conversa de novo — negou pegando seu celular e um dinheiro que tinha guardado em sua escrivaninha. — Eu vou indo, tchau.
Ouviu alguns protestos enquanto descia as escadas rapidamente, percebeu muito tarde que havia esquecido de pegar um casaco e não iria voltar, não estava com tanto frio naquele momento.
Assim que saiu de casa, pegou o celular e enviou mensagem para Soonyoung, avisando que já tinha saído. Ele prontamente respondeu, dizendo que já estava o esperando no ponto de ônibus perto da escola.
Após alguns minutos de caminhada, avistou o alfa esperando-o enquanto ouvia alguma música com fones de ouvido, distraído demais para notar o ômega se aproximando e sentando ao seu lado. Foi somente quando o aroma de camomila chegou ao seu olfato, que ele percebeu o menor ali.
— Meu Deus, me desculpa, não tinha te visto — pediu puxando os fones. — Por um momento, achei que eu tava ficando doido de sentir seu cheiro só pensando em você.
Jihoon riu negando com a cabeça, bateu de leve em seu braço.
— Eu pensei isso uma vez também, mas acabou que minha mãe tava passando café — contou, causando risadas no maior. — Vamos?
— Só precisamos esperar um ônibus, não deve demorar muito — disse, oferecendo um lado do fone para o menor, que aceitou, ouvindo a melodia animada soando. — Esse é o tipo de música que eu gosto.
— É bom — sorriu batendo um pé no ritmo. — Meus pais estão doidos pra te conhecer.
— Sério? — ele riu meio encabulado.
— Sim, eles falam disso toda vez que a gente sai, ou em qualquer oportunidade — contou. — E até poderia, mas assim que eles te conhecerem, é capaz deles começarem a planejar nosso casamento.
O alfa gargalhou, jogando o corpo para trás e batendo palma.
— Mas por que?
— Qual é, Soonyoung? — olhou-o. — Porque você é o alfa perfeito! Você é doce, gentil, engraçado, e sabe ser intimidador quando precisa… aposto que você cozinha bem também, se você souber cozinhar, meu pai com certeza vai te adorar!
Ele riu mais, sentindo o rosto ficar avermelhado pelos elogios vindo da pessoa que gostava. Seu coração já estava batendo de um jeito diferente.
— Se eu sou tão bom assim, o que falta pra você gostar de mim? — perguntou assim que parou de rir, encarando o outro com um ar sério. Estavam próximos, mas não o suficiente.
Jihoon ficou em silêncio, pensando numa resposta, enquanto analisava com cuidado todos os detalhes do rosto de Soonyoung, e ele fazia o mesmo consigo.
Por fim, respondeu:
— Eu não sei… Não sou eu que escolho, sabe? — desviou o olhar, fitando os próprios pés. — Se você pudesse escolher, teria escolhido gostar de mim?
— Eu também não sei, honestamente — aproximou-se, tocando com carinho o rosto do menor, fazendo com que ele voltasse a olhar para si. — Mas eu até hoje não me arrependi de ter me aproximado de você, porque, mesmo que a gente nunca fique junto, você é muito divertido, e eu adoraria ser seu amigo se eu não quisesse quase desesperadamente ser seu namorado.
Jihoon suspirou, nem se dando ao trabalho de pensar em uma resposta, sabia que seria inútil. Tinha perdido as palavras outra vez por causa de Soonyoung.
Fechou os olhos e apoiou a testa no ombro dele.
Ficaram naquela posição em silêncio por um tempo, o ômega sentiu quando o maior encostou o nariz entre seus cabelos, aspirando o cheiro de maneira sutil. Ele também sentia bastante do odor forte do alfa.
Afastou-se brevemente e apoiou o queixo no ombro dele, vendo seu rosto tão de perto.
— Você sabe que é difícil pensar em outra coisa quando você fica tão perto, né? — ele perguntou encarando os lábios rosados. Jihoon riu baixo e concordou com a cabeça.
— Eu sei — voltou a sentar normalmente. — Mas, se ajuda, eu já te acho mais atraente agora do que quando nos conhecemos.
— Como assim? Eu não era atraente antes? — franziu o cenho, cruzando os braços.
— É um pouco mais complicado que isso — deu de ombros, levantando quando viu o ônibus chegando. — Vem.
Soonyoung o seguiu, ainda com uma expressão desconfiada.
[...]
— O que você quer jogar primeiro? — Jihoon perguntou assim que compraram as fichas no fliperama.
Não havia muitas pessoas no local, mas também não estava vazio. O alfa olhou ao redor, observando e escolhendo algum dos jogos.
— Vamos de Street Fighter? — apontou para a máquina, seguindo até ela com o menor em seu enlaço.
— Eu não sou muito bom, me dá um desconto — pediu sentando-se na banqueta alta. Inseriram as fichas e começaram.
— Não se preocupa, vou ser bonzinho — sorriu enquanto escolhia seu personagem.
Jihoon riu anasalado e logo começaram a partida.
Soonyoung era obviamente muito melhor que o ômega, mas também era óbvio que ele deixava que o outro acertasse alguns golpes. Ele também dava algumas dicas, dizendo onde ele apertava para fazer seu personagem defender-se ou usar algum poder especial.
No fim, entretanto, o alfa ganhou facilmente, mesmo tentando jogar no mesmo nível do baixinho.
— Tá, vamos jogar um que nossas habilidades sejam parecidas — pediu o mais novo, segurando a mão de Soonyoung e andando entre os diversos jogos. — Que tal aquele ali? — apontou para um jogo de corrida.
— Se você está tão confiante — sorriu de canto, debochado, sentando de frente para o volante falso.
— Ah, pronto — riu baixo, empurrando a língua contra a bochecha. — Vamos ver, então.
Com o desafio lançado, começaram o jogo já pisando fundo no acelerador. Soonyoung saiu na frente, ultrapassando os outros carros. Estava confiante de que iria ganhar outra vez, mas o carro de Jihoon logo estava colado no seu, ouvia a risada dele chegando em seus ouvidos como uma melodia que poderia facilmente tirar sua concentração — adorava aquele som, afinal —, mas seu lado competitivo o fez continuar concentrado em vencer a corrida.
— Soonyoung, você já fez 18, deveria saber dirigir melhor que isso — provocou assim que o ultrapassou, acelerando mais para tentar aumentar a vantagem.
— Ah, ele colocou as garrinhas pra fora — exclamou ele, aumentando a velocidade, tentando alcançá-lo. Jihoon riu novamente ao fazer uma curva acentuada de forma perfeita. — Caralho, isso foi incrível!
— Eu sei — sorriu convencido assim que chegou a linha de chegada. — Whoo! É assim que se faz — o alfa riu vendo-o contente, comemorando a própria vitória. — Quer mais uma?
— Definitivamente não — levantou-se. — Por enquanto, estamos empatados.
— Não sabia que era uma competição — alegou ao se aproximar do maior.
— Vamos tornar uma competição então.
— E o ganhador ganha o que?
— O que ele quiser — deu de ombros.
— Você não pode me pedir um beijo — avisou apontando para o alfa, que riu dando de ombros.
— Ok, você paga o lanche então — disse abraçando-o pelos ombros, andando até a máquina de Dance Dance Revolution. — Bora?
— Ok, vamos — sorriu subindo e pondo a ficha. — Qual música?
— Coloca aleatório — apertou o botão de iniciar.
Na tela colorida, o cursor passou rapidamente pelas diversas opções de músicas, parando em The Best Damn Thing de Avril Lavigne. Eles, então, exclamaram juntos:
— Eu amo essa música!
Riram com a coincidência e logo a melodia começou, assim como as setas subindo no visor, indicando onde eles deveriam pisar para ganhar pontos.
Let me hear you say “hey hey hey”
— Hey, hey, hey — cantaram juntos, rindo novamente em seguida.
Vez ou outra, Jihoon via Soonyoung dançando com todo seu corpo, enquanto ele mesmo mexia somente os pés para fazer a pontuação. Não conseguia conter seu sorriso ao ver como eram diferentes, Soonyoung tinha animação e energia para dar e vender, enquanto ele era mais contido, tendo apenas certos momentos onde a excitação tomava seu corpo e ele dançava como se não houvesse amanhã. Eram diferentes e pareciam se encaixar tão bem.
That you’re not, not, not gonna get any better
And you won’t, won’t, won’t, won’t get rid of me never
Like it or not, even though she’s a lot like me, we’re not the same
And yeah, yeah, yeah, I’m a lot to handle
You don’t know trouble, but I’m a hell of a scandal
Me, I’m a scene, I’m a drama queen
— I’m the best damn thing that your eyes have ever seen! — cantaram novamente.
— Você está perdendo! — brincou o ômega.
— Tá empatado! — rebateu o maior, quase gritando. A exaltação repentina causou uma crise de risos no mais novo, que acabou perdendo a rodada por alguns pontos de tão forte que ria. — Meu Deus, Jihoon, você vai passar mal.
Aproximou-se dele, que parava de rir aos poucos.
— Eu tô bem — respirou fundo, limpando uma lágrima do canto dos olhos. — Fazia um tempo que eu não ria assim.
Soonyoung sorriu negando com a cabeça, acariciou os cabelos do ômega, fazendo com que ele lhe olhasse.
— O que foi? — ele perguntou.
— Eu ganhei.
— Ainda tá cheio de jogos, você tá ganhando por enquanto — corrigiu segurando a mão dele e puxando-o pelo local em busca de outro jogo.
Haviam comprado bastantes fichas, então puderam aproveitar sem preocupações. Após algumas rodadas de Pac-Man, Aero hockey e Time Crisis, resolveram parar para fazer um lanche. Como estavam empatados na própria competição, cada um pagou o seu, assim que pegaram os pacotes com seus pedidos decidiram procurar um lugar menos movimentado para comerem.
— A gente pode ficar na praça de alimentação que tem na esquina — sugeriu Jihoon pegando uma batata frita da sacola. — O que você acha?
Quando olhou para Soonyoung, viu ele com o celular erguido fazendo um vídeo curto dos dois andando. Fez uma careta de desaprovação por estar distraído e não ter sido avisado. A pequena gravação acabou com o alfa rindo.
— Não vou postar em lugar nenhum, prometo — garantiu, sorrindo ao rever o vídeo. — Posso tirar uma foto nossa?
— Você não pediu permissão pra gravar o vídeo, por que tá pedindo agora?
— Pra dar tempo de você dar aquele sorriso lindo que me deixa todo boiola — disse naturalmente, fazendo com que Jihoon risse envergonhado. — Aí, ficou linda — exclamou ele, fazendo um biquinho de gana enquanto admirava a foto.
O ômega ainda ria baixinho revirando os olhos e sentindo o rosto quente, mas já estava acostumado àquela sensação quando estava com Soonyoung.
Sentaram-se na primeira mesa vazia que acharam, de frente um para o outro. Estava perto das oito da noite, o sol já havia se posto e as luzes dos diversos estabelecimentos e postes iluminavam o local onde estavam. Não ventava mas continuava frio. Várias pessoas andavam de um lado para o outro, carregando sacolas, rindo, conversando e tirando fotos.
— Jihoonie, tira uma foto minha? — pediu o alfa, entregando seu celular aberto na câmera. — Sabe aquelas fotos espontâneas planejadas?
— Acho que sei — a esse ponto, já é inútil dizer que Jihoon riu, afinal, ele fazia isso muito na presença de Soonyoung.
O maior ajeitou os cabelos e olhou para o lado, fingindo estar muito distraído enquanto se esforçava para não mexer nenhum músculo.
Jihoon tirou várias fotos para garantir que uma saísse boa. Soonyoung voltou a movimentar-se e sorriu agradecido, porém, o ômega não devolveu seu celular. Quando notou que ele estava tirando selfies, sentiu o coração acelerar um pouco.
— O que você tá fazendo? — perguntou pousando o braço estendido sob a mesa, ainda esperando seu celular.
— Tô tirando foto, sua câmera é muito boa — falou fazendo um sinal de V com os dedos ao tirar outra. — Pronto, agora você tem várias fotos minhas — sorriu deixando o aparelho na mão do alfa; ele fechou os dedos, prendendo a mão do ômega entre eles. — O que foi? — perguntou confuso.
— Nada, eu só gosto de segurar sua mão — contou suave, vendo o menor abrir um sorriso pequeno, desviando o olhar de maneira tímida. — Vamos comer? Ainda tenho que ganhar de você no fliper.
— A gente já lanchou, o que você vai pedir se ganhar? — quis saber curioso, começando a comer seu lanche.
— Não sei — deu de ombros. — Não posso pedir um beijo, né?
Jihoon balançou a cabeça negativamente, sorrindo de canto enquanto mordia seu hamburger.
— Eu falei brincando, mas você realmente quer me beijar — constou.
— Claro, seu besta, eu gosto de você.
— Mas você nunca tentou me beijar…
— Quando um não quer, dois não beija, né? Toda vez que eu penso em tentar, eu consigo enxergar você virando o rosto e fingindo que nada aconteceu — pôs mais batata na boca, vendo o menor rir ao constar que ele estava certo. — Eu vou ter que esperar você me beijar primeiro.
— Ok — concordou dando de ombros.
— Posso pedir um abraço? — perguntou esperançoso.
Jihoon ergueu as sobrancelhas enquanto ponderava.
— Pode.
Soonyoung sorriu, ainda mais determinado.
Assim que terminaram de lanchar, ficaram conversando por uns minutos. Voltaram para o fliperama às 21h, então iriam se apressar para não voltarem muito tarde para casa.
Jogaram duas partidas de Mortal Kombat e continuaram empatados.
— Acho que nós dois somos muito bons em jogos de fliperama — disse o alfa, andava ao lado do menor enquanto decidiam o último jogo.
— Ou igualmente ruins — respondeu Jihoon.
Soonyoung notou o olhar interessado dele na máquina de pegar bichinhos de pelúcia, sorrindo ao segurar sua mão e ir para perto da mesma.
— Vamos fazer uma rodada mata-mata — propôs tirando a ficha do bolso. — Só temos duas fichas, quem conseguir pegar uma pelúcia ganha.
— E se empatar de novo? — abraçou os próprios braços, sentindo um pouco de frio.
— Então os dois ganham — deu de ombros.
— Ok — o menor concordou. — Eu vou primeiro — falou pondo a ficha, logo começou e tentou pegar o bichinho que estava mais próximo do alvo, entretanto a pelúcia caiu. — Não! Droga!
— Eita! Eu tô muito perto da vitória — o alfa cantou vantagem, sorrindo ao chegar perto para tentar.
Ficou em silêncio ao se concentrar, escolhendo um bichinho que parecesse mais leve e fofo. A garra abaixou e puxou uma pelúcia de lhama, logo ela caiu no compartimento certo.
— Eu ganhei — ele sorriu convencido ao exibir o bichinho.
— Parabéns, seu prêmio é um abraço — brincou, andando ao lado dele para fora do local.
— Um abraço seu — corrigiu ainda satisfeito. — É pra você, aliás — estendeu a lhama.
— Obrigado — sorriu segurando o bichinho, cheirando-o em seguida por instinto ou mania. — É meio ridículo, mas eu adoro bichinhos de pelúcia, devo ter uns dez no meu quarto.
— Você é muito fofo — comentou olhando-o. Ele estava encolhido, abraçando os braços. — Está com frio?
— Só um pouco, não achei que fosse esfriar — deu de ombros.
— Pega meu moletom — disse já parando de andar para tirar a peça de roupa escura. Jihoon nem teve tempo de negar.
— Valeu — sorriu fechado. — Segura aqui — entregou a lhama para Soonyoung.
Vestiu o moletom um pouco maior que si, sentindo-se esquentar quase instantaneamente, o cheiro do alfa lhe envolveu junto do calor.
— Obrigado.
— Não é nada — negou. — Vamos rápido? Temos que pegar o ônibus.
O ômega concordou e eles apressaram-se, conseguindo alcançar o transporte alguns segundos antes dele sair do ponto.
Pelo horário, não haviam muitas pessoas, então eles conseguiram sentar lado a lado, o alfa ficou na janela desta vez.
Assim que sentou, sentiu os braços do ômega em sua cintura, enquanto ele sentou-se ao seu lado e deitou a cabeça em seu peito.
— O que é isso? — o maior perguntou, confuso pelo contato inesperado.
— É seu abraço, ué — falou como se dissesse algo muito óbvio.
Soonyoung abriu um sorriso, passando o braço pelos ombros do menor, puxando-o para um pouco mais perto. Suspirou baixo, inalando o aroma que tanto gostava, deixando-se perder em pensamentos bobos, como a forma como poderiam estar parecendo um casal e como ele gostaria que aquilo fosse verdade.
No fundo, sentia medo de Jihoon nunca sentir o mesmo por si, mas ele era confiante. O ômega ainda queria sua amizade, então o teria por perto independente de seus sentimentos.
Seu olhar estava perdido na paisagem que passava pela janela, quando voltou-o para Jihoon, notou que ele estava de olhos fechados, provavelmente cochilando. Sorriu e acariciou os cabelos claros, podia ver a raiz escura crescendo aos poucos, e sentia-se um pouco bobo ao pensar que aquilo o deixava mais bonito.
Voltou a observar a janela, cantando baixinho uma música que estava em sua cabeça.
— Why can’t I breathe whenever I think about you? Why can’t I speak whenever I talk about you?
Jihoon, entretanto, estava acordado e apertou-o inconscientemente mais entre seus braços.
Poucos minutos depois, o ônibus parou e eles saltaram, andando em direção à casa do ômega.
— Obrigado pelo encontro — disse o baixinho, apertando os dedos de Soonyoung entre os seus. Não lembravam quando exatamente deram as mãos. — Eu realmente gostei… Se bem que eu sempre gosto de sair com você.
— Eu também gosto de sair com você — sorriu olhando para ele. — Assim que a semana de provas acabar, eu te convido para sair de novo.
— Ok, eu espero — respondeu sorrindo para o maior, que retribuiu prontamente.
Logo pararam na frente da casa, algumas luzes ainda estavam acesas mas Jihoon sabia que seus pais já estavam dormindo.
— Então tchau. Me manda mensagem quando chegar em casa, tá tarde — pediu o ômega. — Ah, deixa eu devolver seu moletom…
— Não, tudo bem, pode me entregar segunda — segurou as mãos que estavam prontas para despi-lo.
O alfa, levando-se pelo momento, arrastou os dedos pelos braços do menor, tocou seu rosto e acariciou as bochechas. O coração de Jihoon estava acelerando, mas estava curioso, querendo saber o que Soonyoung faria. Ele aproximou-se, deixando um beijo sob sua testa.
— Boa noite — sussurrou após se afastar.
— Boa noite — falou baixo, seguindo para dentro e acenou para o maior antes de fechar a porta.
Soonyoung foi para sua própria casa em passos rápidos, sentia que estava flutuando se fosse ser totalmente sincero, não conseguia parar de sorrir.
Assim que chegou, ajeitou-se para dormir e ignorou seu primo fazendo piadas com seu bom humor.
Ao deitar, sentiu o celular vibrando com uma mensagem de Jihoon:
vc já chegou?
já faz um tempo que vc foi e ainda não me mandou mensagem
não me faz ligar pra polícia
cheguei sim
desculpa, esqueci de avisar
tô bem
[Mídia]
Enviou uma foto de si próprio na cama, fazendo um coração com os dedos perto do rosto.
não esquece da próxima vez >:(
fiquei preocupado
desculpaa
não vai mais acontecer
acho bom
boa noite <3
vou dormir com a pelúcia que vc me deu
[Mídia]
boa noite
Soonyoung teve que segurar a vontade de gritar igual um doido ao abrir a foto de Jihoon abraçado a lhama. O rosto bonito estava limpo, sem maquiagem, também podia notar que o quarto estava escuro e que a foto fora tirada com o flash. Entretanto, o detalhe que deixou o alfa com as estruturas abaladas era que Jihoon ainda estava usando moletom.
[...]
Assim que acordou, Jihoon ficou deitado, refletindo. Sobre o encontro, sobre o que iria fazer no restante do final de semana, sobre ainda estar usando o moletom de Soonyoung e sobre um sentimento estranho de querer vê-lo novamente.
Seus pais foram visitar seu avô paterno, então iriam voltar somente à noite. Sendo assim, teria de ficar o dia sozinho com seus pensamentos, e a ideia de cair numa espiral de conflitos que não levariam a lugar nenhum não lhe pareceu agradável.
Pegou seu celular e checou as mensagens:
Jeonghan hyung: Me conta dps como foi a noite
Minghao: me manda resposta da tarefa de coreano?
Soonyoung: bom dia, vc dormiu bem? não ia te incomodar logo cedo mas vim avisar que tenho uma surpresa pra vc
Gif
Jihoon franziu o cenho ao ler a mensagem de Soonyoung, clicando na conversa em seguida.
bom dia, dormi bem sim e vc?
que surpresa?
Enviou as mensagens e se levantou. Havia visto no celular que estava perto do meio-dia, então iria almoçar para depois pensar no que iria fazer no restante daquele dia tão chato que era o domingo.
Enquanto esquentava a água para fazer lamen, pegou o celular novamente e enviou mensagem para Jeonghan.
bom dia
o encontro foi legal
amanhã eu te conto melhor
ele me deu um bichinho de pelúcia
Abriu o aplicativo de música procurando algo para preencher o silêncio. Estava com uma melodia na cabeça mas não lembrava onde havia escutado, nem sabia o nome da música. Selecionou uma playlist mais animada e pôs no aleatório. Dear Maria, Count me In começou a tocar.
O ômega deixou-se levar pela batida animada, balançando a cabeça e mexendo os pés enquanto preparava seu almoço. Aquele era um dos raros momentos em que alguma música o contagiava e ele dançava de maneira errônea, sabendo que não havia ninguém lhe olhando.
Assim que estava tudo pronto, sentou na mesa para comer. Pegou seu celular e respondeu as mensagens novas que haviam chegado.
[Soonyoung]
se eu te contar não é mais surpresa né
mas vc já disse que tem uma surpresa
ent ñ é mais surpresa pq eu ja vou estar esperando alguma coisa
tá vc tem razão
mas n vou falar oq é msm assim
Gif
Jihoon riu nasalmente, revirando os olhos ao ver o gif de um desenho animado rindo maleficamente.
ok
eu espero então
vc ja comeu?
eu já
e vc?
vou comer agr
se alimente direitinho <3
Com um sorriso pequeno crescendo no canto dos lábios, Jihoon abriu o chat com Jeonghan.
AAA
Que bonitinho
Manda foto da pelúcia po
Quero relatório completo
Depois que eu comer eu mando
Soltou o celular e começou seu almoço, ainda com a melodia misteriosa em sua cabeça.
Assim que terminou de lavar a louça, o ômega sentou-se no sofá da sala e ligou a tv em um canal qualquer. Seu celular apitou com uma notificação e ele checou. Havia uma chamada perdida de Wonwoo.
Franziu o cenho e ligou de volta. No terceiro toque o alfa atendeu.
— Oi. Por que me ligou?
— Foi engano, cliquei errado, sei lá — explicou ele, falando alto. Jihoon notou o som de alguns instrumentos musicais ao fundo.
— Onde você tá? Que barulheira toda é essa?
— Tô numa loja de música com meu pai.
— Ah tá… era só isso?
— Era.
— Ok, até amanhã. Qualquer coisa manda mensagem.
— Certo — e então ele desligou.
Jihoon deu de ombros, indo responder as mensagens de Jeonghan. Ergueu o braço para que a manga deslizasse, para que pudesse digitar, foi então que relembrou que estava com o moletom de Soonyoung. O cheiro de café ainda estava forte e ele teve que segurar a vontade de jogar-se de cara no sofá e gritar enquanto debatia as pernas, como um protagonista de filme adolescente.
hyung
alguma coisa tá acontecendo cmg
Como assim?
Tá tudo bem?
Soonyoung me emprestou o moletom dele ontem
e eu não consegui tirar ainda…..
Oh….
Oh.
oq isso quer dizer??
:)
Jeonghan??
oq isso significa???
Só vc pode dizer :)
— Droga!
[...]
Na manhã seguinte, Jihoon guardou o moletom de Soonyoung na mochila antes de ir para a escola. Seguiu o caminho um pouco nervoso e ainda muito pensativo sobre si mesmo e aqueles sentimentos novos que iam surgindo. Era estranho.
Andou pelos corredores, distraído com a música que saía dos fones de ouvido, abriu seu armário e trocou alguns livros que estavam em sua mochila.
— Bom dia, Jih — ouviu abafado. Ergueu o olhar e viu Jeonghan sorrindo.
— Bom dia — murmurou guardando os fones.
— Eu ainda tô esperando você me contar sobre o encontro — disse sorrindo ladino.
— Ai, Deus — suspirou. — Na hora do almoço eu conto, pode ser?
— Eu espero, mas quero muitos detalhes.
— O mais interessante foi que ele ganhou um tipo de aposta e ganhou um abraço meu — deu de ombros. — E o lance do moletom, mas se você contar isso pra alguém, eu espalho os áudios chorando que você me mandou quando brigou com Seungcheol hyung.
— Uuh, ele tá entendendo das ameaças — debochou bagunçando os cabelos do menor. — Não vou contar, relaxa.
— Valeu — fechou o armário. — Eu preciso ir agora, tenho que devolver o moletom dele.
— Ok, te vejo no almoço.
Jihoon acenou e passou a procurar por Soonyoung pela escola. Estava quase na hora da aula começar e ainda não havia o encontrado.
Foi então que ele avistou Mingyu conversando com um amigo e resolveu se aproximar para perguntar do alfa.
— Mingyu — chamou tímido.
— Oi, Jihoon-ah — ele sorriu doce.
— Eu só queria perguntar se você viu o Soonyoung por aí.
— Não, não vi. Desculpa.
— Ele tava na sala de artes com Seokmin hyung e Junghwa Noona — Chan, o beta amigo de Mingyu, respondeu.
— Certo. Obrigado — fez uma reverência pequena, logo virando para seguir o caminho.
— Jihoon, espera — o outro ômega chamou. — Como… — abaixou o olhar, as bochechas ficaram vermelhas. — Como o Wonwoo tá?
— Olha, eu realmente não quero me envolver nesse rolo de vocês — respondeu sem graça.
— Não, eu sei, só… ele não falou comigo desde… você sabe.
— Ele só tá chateado — suspirou coçando a nuca. — Acho que ele precisa de um tempo.
O maior acenou com a cabeça.
— Eu sei que foi escroto da minha parte e que ele está muito irritado — disse tristonho. — Mas eu realmente gosto dele.
— Eu sei — afirmou. — Eu preciso ir agora.
— Tudo bem.
Jihoon seguiu seu caminho e assim que chegou a sala de artes, pôde ouvir conversas e risos altos. Olhou ao redor procurando por Soonyoung e o viu conversando distraído com seus amigos
Respirou fundo, tentando buscar um pouco de coragem para chamá-lo, mas não foi preciso, pois logo ouviu alguém gritando:
— Jihoon-ah! — Seungkwan chamou ao vê-lo na porta. — O Soonyoung tá aqui — olhou para o alfa, que também o olhava com um sorriso pequeno no rosto. — Vai lá, seu lerdo, ele tá te esperando.
O ômega riu baixinho de Seungkwan, logo o alfa estava vindo em sua direção enquanto seus amigos voltaram a conversar. Jihoon pôde ouvir claramente a hora que Junghwa falou: acho que isso vai dar namoro.
— Oi — ele sorriu assim que estava de frente para o menor no corredor.
— Oi. Eu só queria devolver seu moletom — falou abrindo a mochila e pegando a vestimenta. — Eu só não tive tempo de lavar, foi mal.
— Não tem problema. Ah, isso me lembra… — correu para dentro da sala e buscou sua mochila, voltando para perto de Jihoon em seguida. — Só um minuto — murmurou abrindo o zíper menor, logo puxou uma embalagem de papel pequena. — Aqui, é a surpresa que eu falei.
— Ah, o que é? — perguntou curioso, apesar de já estar abrindo o presentinho. Era um lenço pequeno, com várias flores pequenas bordadas e uma frase em letras cursivas coloridas em um idioma que não conhecia.
— É chamado de pano dos namorados, é uma coisa lá de Portugal — ele explicou, segurando as mãos atrás do corpo de maneira nervosa. — Meus pais explicaram que vem de uma tradição, as moças bordavam para seus maridos que iam para a guerra, aí acabou ficando, sabe? Eles conseguiram um e mandaram pra eu dar pra você. Eles já te adoram, por falar nisso.
Jihoon riu um pouco envergonhado, ainda admirando o lenço em suas mãos, passando a ponta dos dedos de forma delicada sob as elevações em cores diversas.
— Obrigado, de verdade — sorriu ao olhá-lo nos olhos. — Você é muito fofo, sabia?
— É, você já tinha me dito — brincou.
— E o que tá escrito?
— Ah, eu não faço ideia. Se for algo super creepy, me desculpa — disse fazendo Jihoon rir.
— Tudo bem, eu pesquiso depois. Mas obrigado de novo — aproximou-se, ficando na ponta dos pés para deixar um beijo rápido no rosto do alfa. — Tenho que ir agora, tchau.
Virou e se apressou para sair dali, antes que a timidez subisse à cabeça. Entretanto, ainda pôde ouvir algumas exclamações dos amigos de Soonyoung.
[...]
Como havia prometido, na hora do almoço Jihoon contou para os amigos sobre o encontro, omitindo a maioria dos detalhes e as conversas. Estava se perguntando quantos encontros mais teria de ter para que eles deixassem de ficar curiosos sobre o que fizera.
— Aí, ele me deixou em casa e fim — finalizou, pondo um mochi na boca em seguida.
— Você tá dando pra ele? — Minghao perguntou, fazendo com que o ômega se engasgasse, tossindo alto.
— Meu Deus, Minghao, que pergunta é essa? — Seungcheol se meteu, enquanto Jeonghan ria do Lee.
— Sei lá, só fiquei curioso — o chinês deu de ombros.
— Não, por Deus, nem beijar ele eu beijei — negou o ômega, tomando alguns goles de água. — Alosexuais são fodas, puta que pariu.
— Foi mal — o Xu riu novamente.
— Tanto faz — murmurou. — Ah, e hoje ele me deu isso — puxou o lenço de seu bolso. — É um paninho romântico de Portugal, ou alguma coisa assim.
— De onde ele tirou isso? — o mais velho perguntou, estendendo a mão para pegar o pano, mas Jihoon guardou-o antes.
— Os pais dele estão em Portugal e mandaram. Acho que ele pediu, mas aí é outra questão — explicou.
— Awn, agora eu quero dar pra ele — Minghao disse sorridente, como se fosse nada. Seungcheol e Jeonghan riram enquanto Jihoon apenas negou com a cabeça.
— Aliás, alguém viu o Wonwoo? — perguntou o baixinho, olhando ao redor do refeitório.
— Eu tinha visto ele conversando com Hyujin, o capitão da banda da escola, sabe? — falou Jeonghan, dando de ombros. — Ele ainda tá chateado pelo lance com o Mingyu.
— Deu pra notar. Eu vi ele antes da aula começar, mas ele só disse “agora não” e continuou andando — contou Seungcheol. — Por um lado, eu entendo o Mingyu, mas...
— Shh, ele tá vindo — Jeonghan interrompeu, tocando o rosto do namorado ao ver o outro alfa se aproximando.
— Ei, não faz isso, que grosso — resmungou o Choi.
— E aí, Wonu, como você tá? — perguntou o mais velho, assim que o amigo chegou perto.
— Tô ótimo — ele disse, abrindo sua mochila e pegando um microfone.
— De onde você tirou isso? — Jihoon franziu o cenho.
— Da sala do diretor — explicou o Jeon, ligando o aparelho e subindo em cima da mesa, fazendo com que todos afastassem seus almoços.
— Meu Deus, o que ele tá fazendo? — o mais baixo se levantou, afastando-se da mesa quase automaticamente ao perceber que algumas pessoas estavam olhando.
— Atenção, todo mundo — disse Wonwoo, sua voz ecoou pelos altos falantes da escola. — Eu tenho uma coisa importante pra dizer — informou engolindo em seco quando vários alunos se aproximaram, incluindo Mingyu, que estava com os olhos arregalados e confusos. — Tem essa pessoa que é muito especial pra mim mas, por algum motivo, ela tem medo. Medo dos meus sentimentos não serem como eu digo, então... Eu vou me sacrificar no altar da dignidade — sorriu nervoso antes de olhar para o ômega. — Kim Mingyu, isso é pra você.
— O que você tá fazendo? — o Kim perguntou, perplexo com a situação.
Wonwoo não respondeu, segurou o microfone melhor e respirou fundo, acenando com a cabeça. Então, todos puderam ver quando dois alunos se aproximaram, um tocando um saxofone e outro uma guitarra. Wonwoo, então, começou a cantar:
You run around town like a fool and you think that it's groovy
(Você corre ao redor da cidade como um bobo e acha que isto é descolado)
You're givin' it to some other guy who gives you the eye
(Você dá isso para outro cara que te dá o olhar)
You don't give nothing to me
(Você não dá nada para mim)
You painted a smile and you dress all the while to excite me
(Você pintou um sorriso e se veste o tempo todo para me excitar)
But don't you know I'm out of my mind
(Mas você não sabe que eu estou enlouquecendo?)
So give me a sigh and help to ease the pain inside me
(Então me dê um sinal e ajude a aliviar a dor dentro de mim)
Antes de chegar ao refrão, Wonwoo estendeu uma mão na direção do ômega.
Baby, love really hurts without you
(Baby, o amor realmente dói sem você)
Love really hurts without you
(O amor realmente dói sem você)
And it's breaking my heart
(E isso está partindo meu coração)
But what can I do without you?
(Mas o que eu posso fazer sem você?)
O alfa sorriu assim que terminou, vendo os alunos aplaudirem e assobiarem. Vários já tinham sacado seus celulares para filmar o que acontecia.
— Ele é doido — falou Jihoon, aplaudindo também.
— Calma, calma, gente — continuou Jeon. — Eu não terminei ainda.
— Não? — Mingyu perguntou arregalando os olhos, seu rosto estava corado.
— Claro que não — respondeu o alfa, e logo outro aluno chegou, colocando um teclado sobre uma das mesas e começando a tocar outra melodia.
Muitos presentes reconheceram a música e soltaram exclamações animadas.
Wonwoo desceu da mesa e aproximou-se de Mingyu, que olhava-o totalmente surpreso, sem reação. A mão do alfa acariciou a bochecha avermelhada, então ele cantou novamente:
Oh, his eyes, his eyes
(Oh, os olhos dele, os olhos dele)
Make stars look like they're not shining
(Fazem parecer que as estrelas não tem brilho)
His hair, his hair
(O cabelo dele, o cabelo dele)
Falls perfectly without him trying
(Recai perfeitamente sem que ele tente)
He's so beautiful, and I tell him everyday
(Ele é tão lindo, e eu digo a ele todo dia)
Cantou docemente, descendo sua mão até a de Mingyu, cujo os olhos, brilhantes por algumas lágrimas, lhe encaravam.
Yeah, I know, I know
(Sim, eu sei, eu sei)
When I compliment him, he won't believe me
(Quando eu o elogio, ele não acredita em mim)
And it's so, it's so sad to think that he don't see what I see
(E é tão, tão triste pensar que ele não vê o que eu vejo)
But every time he asks me: Do I look okay?
(Mas toda vez que ele me pergunta: como eu estou?)
I say
(Eu digo)
Wonwoo segurou a mão de Mingyu, apertando-a entre seus dedos e levando-a para perto de seu peito.
When I see your face
(Quando eu vejo seu rosto)
There's not a thing that I would change
(Não tem uma coisa que eu mudaria)
'Cause you're amazing
(Porque você é incrível)
Just the way you are
(Do jeito que você é)
And when you smile
(E quando você sorri)
The whole world stops and stares for a while
(O mundo inteiro para e olha por um momento)
'Cause, boy, you're amazing
(Porque, garoto, você é incrível)
Just the way you are
(Do jeito que você é)
Mingyu sorria abertamente, as bochechas começando a doer de tanto fazê-lo. Lágrimas fininhas escorriam pelo seu rosto, e Wonwoo as secava com delicadeza.
— Isso foi muito clichê? — ele perguntou, ainda com o microfone perto dos lábios.
— Sim! — gritaram algumas pessoas, fazendo outras rirem, inclusive o Kim.
— Ok — o alfa afastou-se, subindo na mesa novamente. — Hey, where's the drums? (Hey, onde está a batida?)
Para a surpresa de todos, uma bateria começou a tocar. Jeongguk tocava sua bateria portátil, enquanto os outros continuaram a nova melodia em seus instrumentos. Wonwoo batia o pé no ritmo animado enquanto sorria para o ômega.
Woo, boy, you're shining
(Woo, garoto, você é brilhante)
Like a 5th avenue diamond
(Como um diamante da 5ª Avenida)
And they don't make you like they used to
(E eles não te fazem como costumavam)
You're never going out of style
(Você nunca vai sair de moda)
Alguns alunos batiam palmas ritmadas, cantando junto a música, enquanto os instrumentistas continuavam tocando com perfeição. Mingyu ainda sorria sem saber como reagir.
Woo, pretty baby, this world might have go crazy
(Woo, coisinha linda, esse mundo pode ter enlouquecido)
The way you save me, who can blame me
(Do jeito que você me salvou, quem pode me culpar)
When I just wanna make you smile
(Quando eu só quero te fazer sorrir)
I wanna thrill you like Michael
(Eu quero te emocionar como Michael)
I want to kiss you like Prince
(Eu quero te beijar como Prince)
Let's get it on like Marvin Gaye, like Hathaway
(Vamos nessa como Marvin Gaye, como Hathway)
Write a song for you like this
(Escrever uma música pra você assim)
Antes de chegar ao refrão, o alfa saltou da mesa, parando na frente do Kim novamente, lhe estendendo uma mão de forma dramática.
You' re over my head, I'm out of my mind
(Você está na minha cabeça, eu estou louco)
Thinking I was born in the wrong time
(Pensando que nasci na época errada)
One of a kind, living in a world gone plastic
(Único, vivendo num mundo que virou plástico)
Baby, you're so classic
(Baby, você é tão clássico)
Os amigos de Wonwoo observaram a cena toda achando fofa — Jihoon sentindo uma certa vergonha alheia — e surpreendente a declaração dele. Os demais alunos gritavam e assobiavam, alguns continuavam cantando.
O alfa, então, largou o microfone, aproximando-se de Mingyu e o olhando nos olhos.
— Você quer, por favor, ser meu namorado?
O mais alto sorriu, abraçando Wonwoo pelos ombros.
— Claro que eu quero, seu alfa idiota — respondeu, sentindo os lábios do alfa sobre os seus, ao mesmo tempo que a "platéia" foi a loucura, gritando e comemorando junto, até chegar o diretor para acabar com a bagunça.
— Ele é doido — reafirmou Jeonghan, vendo Wonwoo tirar Mingyu no chão e o rodar ainda beijando-lhe os lábios.
[...]
— Roubar os microfones da direção, causar um tumulto e atrapalhar a hora do almoço — o diretor da escola citou, batucando a mesa com os dedos. — Foram essas violações. Alguma coisa a dizer em sua defesa?
— Foi por amor...? — Wonwoo deu de ombros, sem se importar muito.
— Ótimo motivo, continua sendo contra as normas. Você está suspenso. Quarta-feira você pode voltar com seus pais presentes.
— Ok, obrigado — o alfa respondeu calmo, levantando e saindo da sala em seguida.
Mingyu esperava ansioso. Quando viu o Jeon no corredor, foi até ele.
— E aí? — perguntou apreensivo.
— Um dia de suspensão — deu de ombros, sem interesse. Segurou a mão de Mingyu e cruzou seus dedos. — Não foi nada demais.
— Não precisava ter feito aquilo — ele murmurou cabisbaixo.
Wonwoo tocou seu queixo, trazendo o olhar do maior para si.
— Você aceitou ser meu namorado, não é?
Ele riu envergonhado, desviando os olhos de maneira tímida.
— Aceitei.
— Então eu precisava muito fazer aquilo, e eu faria de novo quantas vezes fossem preciso — garantiu, selando os lábios rapidamente. Mingyu sorriu fechando os olhos. — Mas agora eu preciso de um favor.
— Qual?
— Preciso que você vá pra casa comigo — aproximou-se, roçando seus narizes, quase hipnotizado pelo aroma doce de baunilha. — Alguém precisa explicar pro meu pai porque eu fui suspenso.
O ômega riu, escondendo o rosto no pescoço de Wonwoo, sentindo ele abraçar sua cintura.
— Tem certeza que é uma boa ideia?
— Ele vai te adorar.
[...]
Wonwoo estava certo, seu pai havia adorado Mingyu. Ele não gostou muito de saber da suspensão, mas acabou relevando ao ver o quão feliz o filho estava. O ômega, por sua vez, estava bastante nervoso ao conhecer o Sr. Jeon — seu sogro —, sem saber o que fazer e sendo mais desastrado que o normal.
Quando chegou o final da tarde, o Sr. Jeon teve que sair para trabalhar, deixando os dois garotos sozinhos. Foi quando Mingyu suspirou aliviado, assim que ficou a sós com o namorado.
— Eu disse que ele ia te amar — o alfa disse, fechando a porta do quarto e vendo o maior se jogar em sua cama.
— Teria sido melhor se eu não tivesse quebrado o copo — choramingou cobrindo o rosto.
Wonwoo riu baixo e sentou ao lado dele, beijando as bochechas.
— Não foi nada. Você não sabe, mas eu adoro esse seu jeito desastrado — sussurrou no ouvido dele, deixando um beijinho ali em seguida.
Mingyu se arrepiou, virando o rosto para beijar os lábios do outro.
Beijaram-se uma, duas, três vezes… Depois perderam a conta. Eram adolescentes cheios de hormônios, tudo ainda não parecia ser suficiente. Mingyu sempre era o primeiro a se render, o primeiro a arfar mais alto e fechar os olhos. Gostava de sentir Wonwoo beijando seus lábios, rosto, pescoço, ombros…
Porém, quando sentiu o corpo dele sob o seu, e as mãos grandes acariciando a pele de sua cintura, o ômega sentiu-se um pouco assustado, lembrando que ainda não estava pronto para aquilo de novo. Seria diferente com Wonwoo, ele sabia, mas ainda sentia medo.
— Espera — pediu um pouco afobado, sentindo a respiração do menor em seu rosto. — Eu… Eu não quero fazer sexo ainda — murmurou, temendo em segredo a reação do alfa.
— Tudo bem — ele sorriu doce, acariciando sua bochecha.
— Você não tá bravo?
Wonwoo franziu as sobrancelhas sem entender.
— Por que eu ficaria bravo?
Os olhos de Mingyu perderam-se por um instante, questionando a si mesmo o que Wonwoo havia perguntado.
Com a voz embargada, ele respondeu:
— E-Eu não sei.
Chapter 13: Café Duplo
Chapter Text
Assim que a semana de provas acabou, Jihoon conseguiu respirar mais aliviado sem ter que se preocupar em estudar para provas ou entregar trabalhos. O ensino médio pode ser difícil para quem está vivendo-o.
Durante a semana, o ômega mal teve tempo de conversar com Soonyoung ou com seus amigos, passava a tarde estudando e ajudando seus pais. A gravidez de sua mãe estava chegando no quinto mês, já era possível ver a barriga tomando forma, assim como algumas alterações no corpo da alfa. Ajudava como podia, tentando equilibrar com suas obrigações e os estudos, com o final das provas teria mais tempo.
Soonyoung, por sua vez, já estava planejando convidar Jihoon para sair outra vez.
Era completamente visível que estava apaixonado, todos sabiam disso, mas ele sentia que cada vez gostava mais do ômega. A princípio, havia apenas se interessado pelo garoto baixinho, fofo, de cheiro doce que estava quase sempre com um livro nas mãos. Aos poucos, foi colhendo informações sobre ele com a ajuda de Seungkwan — que conhecia quase todo mundo —, e a informação de que Jihoon detestava alfas o fez recuar por um tempo, incerto se deveria ou não se aproximar dele.
Ficou quase um ano apenas observando-o de longe, descobrindo pequenas coisas que não diziam muito. Se fosse sincero, achava que aquele alfa ter derrubado o baixinho no chão foi muita sorte, pois finalmente juntou coragem para falar com ele.
E o resto era só confeti.
Soonyoung estava voltando pra casa depois de comprar algumas coisas que seus tios pediram do centro da cidade. Sentou-se no ponto de ônibus ao lado de uma moça, percebeu o cheiro forte de canela vindo dela, quando olhou-a percebeu a barriga arredondada. Sorriu levemente, pois achava bonito o nascimento de outra vida.
— Ah! — ouviu-a exclamar de repente. Quando virou o rosto, percebeu a expressão desconfortável.
— Noona, você está bem? — resolveu perguntar, aproximando-se um pouco.
— Uh, eu não sei, senti uma coisa estranha — ela respondeu tocando a própria barriga, perto da virilha. — Parece contração mas- ai! Deus, tá doendo.
— Ok, ok, tenta respirar fundo — o alfa se aproximou, deixando que a mulher segurasse sua mão.
— E se for trabalho de parto? Ainda é muito cedo- ah, cacete!
— Ai! Meus dedos! — exclamou quando os mesmos foram apertados pela alfa. — Tudo bem, respira fundo — ela o fez. — Você está sentindo dor nas costas?
— Não.
— Tá sentindo alguma dor como cólica?
— Não.
— Teve corrimento com sangue?
— Também não.
— Ok, provavelmente não é um parto prematuro, então fica calma — falou suave, apesar do aperto doloroso em sua mão. — Tem um hospital a algumas quadras, eu vou com você. Consegue andar?
Ela assentiu com a cabeça, ficando de pé em seguida. Outra contração a atingiu, levando-a a apertar novamente a mão do garoto.
— Ai, ai, ai! Ainda bem que estamos indo pro hospital — ele disse.
[...]
— Tudo bem, senhora, continue calma e logo o médico irá lhe atender — disse uma enfermeira, saindo logo em seguida.
— Certo — ela sorriu fraco, respirando fundo em seguida. Virou para olhar o garoto que ainda estava ao seu lado. — Pode me fazer outro favor?
— Claro, noona, o que foi?
— Pode ligar para o meu marido?
— Claro, qual o número? — sacou seu celular do bolso. A alfa ditou o número e ele ligou, entretanto, ninguém atendeu. — Deu caixa postal.
— Ah, que ótimo — resmungou irônica. — Liga pro meu filho, então? O número é 190928.
Soonyoung assentiu e digitou o número, franzindo o cenho ao perceber que já tinha o mesmo salvo.
— Você é mãe do Jihoon!? — exclamou surpreso, vendo a mulher assumir uma expressão confusa.
— E como você sabe?
— Eu sou Kwon Soonyoung, o menino que tá apaixonado por ele!
— Ah, meu Deus, é você!? Que coincidência incrível! — disse embasbacada.
— Eu sei! — sorriu surpreso. — Muito prazer em te conhecer — ele curvou-se.
— O prazer é meu, querido — sorriu. — Eu preferia que não fosse nessas circunstâncias, ou que pelo menos eu não estivesse usando uma camisola de hospital, mas ainda sim é um prazer.
Soonyoung riu baixo, coçando a nuca.
— Enfim… eu vou ligar pra ele.
[...]
— Essa, com certeza, é uma das cenas mais estranhas que eu vi na vida — Jihoon declarou assim que chegou na porta do quarto onde sua mãe estava, com Soonyoung ao lado.
— Oi, filhote — ela sorriu. — Adivinha quem eu conheci hoje?
— Sim, mãe, ele me ligou — aproximou-se, ainda com uma expressão estranha. — Aquela também foi a ligação mais estranha que eu já recebi.
— Foi muita coincidência, né? — a alfa disse. — Ele foi um anjo, filhote, eu adorei esse menino.
Soonyoung riu envergonhado enquanto Jihoon riu nasalmente negando com a cabeça.
— Eu te disse — falou o ômega para o maior. — Mas por que vocês vieram pro hospital?
— Ah, eu senti umas contrações estranhas quando eu estava no ponto de ônibus, aí ele me ajudou e me trouxe até o hospital. No fim, era só contração de Braxton Hicks, coisa boba. Mesmo assim, pediram pra eu ficar um tempo em observação — explicou ela. — Você não tá no ensino médio, querido? — virou para Soonyoung, mudando completamente o assunto.
— Eu tô, sim.
— Mas como você sabe tanta coisa de gravidez? — perguntou curiosa. Jihoon franziu as sobrancelhas, sem entender nada.
— Ah, meu tio é obstetra, eu sei algumas coisas por causa dele — disse balançando os ombros. — Nunca achei que seria útil eu saber sintomas de parto prematuro, mas olha como a vida é louca, né?
— Jihoon sempre fala que o destino é ditado pela ironia — contou a mulher.
— Ou por um senso de humor muito distorcido — ele completou, sentando aos pés da mãe.
Antes que ela pudesse continuar falando, o médico chegou para dar alta. Jihoon e Soonyoung saíram do quarto para que a alfa se vestisse novamente.
— Isso foi realmente muito estranho — o ômega comentou assim que sentou ao lado do maior na recepção. — Mas que bom que não era nada demais. E que vocês se deram bem.
— Sua mãe é muito legal — sorriu. — E forte pra caralho, ela quase quebrou meus dedos — fez careta erguendo sua mão avermelhada.
Jihoon riu e segurou a mão do alfa entre as suas, fazendo uma carícia tímida. Soonyoung sorriu, sentindo seu coração acelerado.
— Obrigado por ajudar, aliás — falou olhando-o. — A maioria das pessoas teria ignorado.
— Não foi nada — retribuiu o olhar. Pela proximidade podia ver todos os detalhes do rosto de Jihoon, os lábios rosados capturando toda sua atenção.
Engoliu em seco e decidiu arriscar, chegando mais perto para tentar beijá-lo...
Mas o ômega desviou, deitando a cabeça no ombro dele.
Soonyoung soltou um riso, um pouco constrangido pela investida mal sucedida.
— Eu sabia que você ia fazer isso — resmungou, escutando o menor rir baixo.
— Desculpa — escondeu o rosto no ombro dele.
— Tudo bem. Eu precisava tentar, né?
Jihoon resmungou algo incompreensível, incerto do que deveria falar, ficando em silêncio em seguida. O alfa também não disse nada, apenas ficou cantarolando uma melodia, que soava estranhamente familiar para o baixinho.
— Que música é essa? — afastou-se para poder olhá-lo de novo, mantendo uma distância “segura” desta vez.
— É uma música que ando meio viciado.
— Meu Deus, fiquei um tempão com ela na cabeça, agora eu lembrei que você já ficou cantarolando ela! — exclamou. — Cacete, foi por sua causa.
— Desculpa…? — pediu rindo.
— Não, foi mal, eu só fiquei enfurnado pensando de onde caralhos eu conhecia essa música — explicou, e logo ficaram em silêncio mais uma vez.
Jihoon mexia o pé de forma quase ansiosa, tentando achar algum assunto para que saíssem daquela quietude, por mais que não se importasse com isso em outras vezes. Era estranho. Soonyoung deixava-o estranho.
— Mas então… é... — começou o ômega. — Vai fazer alguma coisa agora que a semana de provas acabou?
— Não planejei nada especial. Por quê?
— Sei lá — deu de ombros. — A gente podia fazer alguma coisa, se você quiser…
— Você está me convidando pra um encontro, Jihoon? — arqueou uma sobrancelha, aproximando-se um pouco.
— Se você quer chamar assim — desviou o olhar, tímido.
Soonyoung sorriu, acariciando os cabelos do menor.
— Quer assistir um filme qualquer dia? — convidou doce, vendo Jihoon assentir com a cabeça.
Logo, a alfa apareceu na recepção procurando pelos meninos.
— Prontinho, filhote, tudo certo — sorriu ajeitando a alça da bolsa no ombro. — Vamos indo?
— Uhum — concordou levantando-se. — Você quer carona, Soonyoung-ah?
— Que carona? — a alfa perguntou.
— Eu vim de carro, ué — respondeu Jihoon tirando as chaves do bolso do casaco. — Ainda não entendi porque você saiu a pé.
— Eu só estava afim de caminhar, mas você não pode tirar o carro, ainda não tem carteira — repreendeu, pegando as chaves do filho.
— Você me ensinou a dirigir justamente por causa de situações assim — cruzou os braços.
— Enfim! — ela ergueu as mãos. — Soonyoung-ah, precisa de carona?
— Se não for incomodar — levantou também.
— Claro que não, querido, vamos — sorriu simpática. — Eu dirijo dessa vez.
— Como quiser — o ômega riu baixo, andando ao lado do Kwon até o estacionamento. A alfa saiu na frente, tagarelando sobre a consulta. — Essa é minha mãe.
Soonyoung riu baixinho, observando a mulher abrir o carro e jogar sua bolsa no banco do passageiro.
— Eu achei ela incrível — abriu a porta para entrar na parte de trás.
Jihoon sentou ao lado da mãe, que logo colocou o endereço do alfa no celular e começou a dirigir.
— Ah, filhote, agora que eu conheci o Soonyoung, acho que seria justo seu pai conhecer ele também, né? — disse a alfa naturalmente, concentrada demais na estrada para ver o momento que o ômega arregalou os olhos, reprovando a ideia.
— Não, mãe, pelo amor de Deus — cobriu o rosto, envergonhado por Soonyoung estar ouvindo. — Vocês não podem esperar um pouco?
— Mas eu já conheci e adorei ele…
— Mãe, meu tempo, meus motivos, respeita! — exclamou, enquanto o alfa tentava inutilmente segurar a risada.
— Tá bem, tá bem! — ela riu, parando na frente da casa. — Está entregue, querido, e obrigada de novo, você foi incrível.
— Obrigado, noona, e não foi nada — sorriu tirando o cinto de segurança, tocou rapidamente o ombro de Jihoon como uma despedida. — Tchau. Eu te mando mensagem depois.
— Ok, tchau — acenou, vendo ele entrar na casa.
O baixinho nem notou quando um suspiro escapou de seus lábios, tampouco notou que estava olhando o portão fixamente, como se a imagem de Soonyoung ainda estivesse ali. Apenas voltou à terra quando ouviu um riso nasal de sua mãe. Virou o rosto corado para escondê-lo e a alfa deu a partida.
[...]
— Mas o que falta pra você gostar dele? — Jeonghan perguntou enquanto mexia nos livros no quarto de Jihoon.
— Eu gosto dele, só não desse jeito — rebateu o ômega revirando os olhos. — E colocar pressão não vai fazer eu "gostar" dele mais rápido.
— Mas se você já gosta dele, você gosta — Mingyu falou.
Sim, agora o ômega maior frequentava a casa do Lee junto de Wonwoo. Minghao também se juntou aos alfas, fazendo o dono do quarto pensar que o ambiente já estava ficando pequeno para tanta gente.
— Não tem jeito certo de gostar — o Kim completou.
— O problema é que Soonyoung gosta do Jih pra valer — Wonwoo explicou, abraçando a cintura do maior de forma protetora, enquanto ele apoiava as costas em seu peito. — Fora que ele tá doido pra dar uns beijo também.
Jihoon bufou sentando em sua cama e olhando ao redor do quarto.
— Por que minha vida pessoal sempre vira assunto na roda? — perguntou quase retoricamente.
— Porque a gente não tem nada melhor pra falar — Minghao respondeu enquanto brincava com uma de suas pelúcias.
O ômega revirou os olhos apesar de sorrir levemente.
— Mingyu-ah, como você soube que gostava do Wonwoo? — Jihoon resolveu perguntar, virando para encarar o maior.
O Jeon arqueou as sobrancelhas, curioso para ouvir a resposta do namorado à pergunta repentina.
— Eu não tenho certeza, foi só acontecendo — murmurou pensativo. — Mas tem uma coisa que me marcou um pouco. Eu tava conversando com o Chan sobre o Nonu um dia, faz um tempinho — contou gesticulando. — Aí eu disse: "Eu gosto dele, mas ele não me dá borboletas no estômago, eu fico de boa." Aí o Chan: "Ele não te deixa com ansiedade? Então talvez ele seja o cara certo."
— Caralho — Jihoon soltou. — Eu já adorei esse menino, será que ele toparia me dar uns conselhos assim?
Mingyu riu baixo, cobrindo a boca com uma mão.
— Acho que sim — deu de ombros. — Ele também é ace, igual você.
— Ah, meu Deus, isso é incrível — o baixinho sorriu. — Espera aí, como você sabe que eu sou ace?
— Wonwoo é fofoqueiro, ele conta muita coisa sobre vocês — expôs Mingyu.
O alfa apenas disfarçou, como se não tivesse sido entregue pelo próprio namorado e como se os amigos não estivessem o encarando de olhos cerrados.
— Que feio — Minghao murmurou, estalando a língua no céu da boca enquanto balançava a cabeça de forma negativa. — Ele contou que eu ajudei ele a pensar no pedido de namoro?
— Sério? — Mingyu perguntou, junto de Jeonghan e Jihoon, todos virando para encarar o alfa.
— Minghao deu a ideia e me incentivou bastante — explicou Wonwoo, balançando os ombros enquanto acarinhava o ômega maior. — Mas também não é como se você escondesse que é assexual, Jihoon — fugiu do assunto, apontando para a bandeira demissexual de tamanho mediano pendurada em uma das paredes.
— Ninguém aqui tá no armário, ótimo! — Jeonghan exclamou animado, pegando a bandeira da parede e usando-a de capa sob os ombros.
— Não! Deixa onde tava! — o dono do quarto reclamou, levantando para tirá-la das mãos do mais velho. — Para de mexer nas minhas coisas, vai — ralhou, empurrando-o sem força, e pôs a bandeira no lugar novamente.
— Já parei — o alfa disse sentando-se na cama. — Mas falando sério, eu acho que você deveria sair mais com ele.
— Ué, pra quê? — franziu o cenho.
— Pra vocês ficarem mais próximos e tal.
— Eu também acho uma boa ideia — Mingyu falou baixinho. — Você já gosta dele, então pensa que vocês só vão passar mais tempo se divertindo juntos.
— Eu sei, e eu gosto de sair com ele — respondeu olhando o outro ômega. — Só fico muito tímido perto dele.
— Pensa que daqui uns seis meses, vocês vão estar fazendo três meses de namoro e você vai deixar ele entrar no quarto e pegar na sua bunda — Minghao determinou, rindo ao defender-se de uma almofada que foi jogada em si pelo baixinho. — Meu Deus, é muito fácil te tirar do sério, tenho pena do Soonyoung.
— Mas você é especialista nisso, Minghao — enfatizou um pouco bravo. — Vou te trocar pelo Chan, cansei de você.
— Ahh, não — choramingou o chinês sentando ao lado do ômega e o abraçando. — Eu gosto muito de você — falou forçando uma voz fofa.
— É muito estranho porque, normalmente, tem os extrovertidos que adotam introvertidos — Jeonghan falou, observando Jihoon tentar empurrar o beta. — Nesse caso, foi o contrário: o Jih adotou o Hao, que é extrovertido.
— Não tem como devolver, não? — o Lee resmungou empurrando o amigo, que caiu deitado em sua cama enquanto ria alto, contagiando os demais presentes.
— Não, não tem mais troca, você deveria ter pensado melhor — Wonwoo riu. — Você adotou o Hao e eu fiquei com mais gente pra proteger.
— Fofo — Mingyu murmurou baixinho, cruzando seus dedos aos do namorado.
Em contrapartida, Jihoon exclamou:
— Ninguém pediu sua proteção, alfa idiota!
[...]
— Certo, nós ainda temos cinco minutos de aula — o professor dizia olhando em seu relógio de pulso. — Acho que vocês podem ficar conversando baixinho…
— Professor — uma aluna levantou a mão. — E o dever que o senhor passou algumas semanas atrás? Aquele da música.
— Puta merda — Jihoon sussurrou ao lembrar que havia esquecido.
— Droga, Jiae-ah, por que você lembra dos trabalhos que ninguém fez? — outro aluno reclamou.
— Gente, ele passou o trabalho quase três semanas atrás — a menina se defendeu.
Logo, um burburinho começou na sala de aula e o professor interveio:
— Ok, ok, fiquem calmos — pediu alto. — A gente tem aula de novo essa semana, então me entreguem nesse dia. Assim, quem não fez, vai ter mais uma chance.
— Valeu, professor, você é foda — um aluno do fundão disse, causando risos em alguns colegas.
O sinal tocou e a turma foi liberada.
Jihoon esperou em sua mesa até que a maioria já tivesse saído, então recolheu seus materiais e foi embora. Estava bastante distraído pensando em como faria o tal trabalho, e tinha apenas mais três dias.
— Oi, gato, tá perdido? — virou-se depressa ao ouvir alguém atrás de si, dando de cara com um Soonyoung risonho. — Você estava no mundo na lua, né?
— Ah, tava, foi mal — riu baixo, andando ao lado do maior. — E você?
— Tava perdido no brilho dos seus olhos, mas já me achei no seu sorriso — respondeu, soltando uma piscadela.
— Uau, pensou nessa agora? — riu, olhando-o divertido.
— Por incrível que pareça, sim — sorriu convencido. — Mas por que você tá tão aéreo?
— Esqueci de fazer um trabalho de coreano.
— Oh, meu Deus, e o que vai ser da sua vida agora? — brincou o alfa, forçando uma careta apavorada, enquanto Jihoon estapeou seu braço.
— Tô falando sério, seu bobo — revirou os olhos, apesar de estar rindo junto do outro.
— Mas não é nada demais, é só um trabalho — deu de ombros.
— Eu não gosto de esquecer as coisas, gosto de ser um aluno exemplar — fez beicinho.
— Você é uma pessoa exemplar, Jihoon, não consigo nem imaginar qual foi a coisa mais errada que você já fez — parou de frente pro baixinho, fazendo-o parar de andar. O corredor estava ficando vazio conforme os alunos se dirigiam para suas salas de aula.
Jihoon pensou por um tempo, buscando em sua mente algo que pudesse usar como argumento contra Soonyoung, mas não achou nada. Acabou que ele era, de fato, muito certinho.
— Eu já roubei uma tesoura do salão do meu pai — contou por fim, vendo o alfa arquear as sobrancelhas.
— Pra matar alguém ou…?
— Não! Eu só achava ela muito bonita e ele nunca deixava eu pegar ela, por motivos óbvios — explicou. — Eu tinha uns oito anos.
— Você nunca fez algo errado depois que cresceu?
— Tipo o que? Matar aula e fumar maconha? — riu nervoso desviando o olhar.
— É! Tipo isso!
— Eu não! — arregalou os olhos. — Você já?
— Óbvio! — exclamou um pouco alto. — Quer dizer, a parte de fumar maconha não, mas já matei aula, bebi antes de ter idade...
— Eu não matei aula nem depois de um certo alfa quase me matar de vergonha numa festa, então — desviou de Soonyoung, seguindo pelo corredor até sua sala, mas a mão do maior segurando a sua o fez parar. Logo, estava sendo puxado na direção oposta a qual deveria ir. — Pra onde você tá indo, Soonyoung?
— Tô te levando pra fazer alguma coisa louca e inconsequente — decretou, olhando para os lados para garantir que não havia nenhum inspetor por perto.
— Soonyoung, não! — o ômega exclamou, tentando pará-lo. — Qual é, já tô nervoso só de pensar nisso.
— Vem logo — o maior sorriu, correndo com ele pelo pátio até a parte de trás da escola. — Pensa que daqui a 30 anos você não vai poder contar pros seus filhos que você matou aula só por matar. Vai ser legal, confia em mim.
Jihoon respirou fundo, aceitando a ideia, apesar de ainda sentir o estômago revirando.
— Pra onde a gente vai? — perguntou baixinho, como se alguém estivesse por perto e pudesse ouvi-los.
— Não sei, uma coisa de cada vez — respondeu no mesmo tom. Então, parou abruptamente quando avistou uma monitora por ali. — Vem, vem — sussurrou, puxando o menor para esconderem-se atrás de uma mureta.
Abaixaram-se próximos um do outro, já que o espaço era pequeno e não muito favorável. Soonyoung crispava os lábios numa linha reta, tentando prender um riso que vinha acompanhado da adrenalina; Jihoon, por outro lado, sentia que seu coração iria saltar pela boca a qualquer momento, tanto pelo medo de estar se arriscando, quanto pela proximidade quase exagerada que estava do alfa. Podia ver seu rosto muito claramente e ouvir sua respiração baixa, mas não notou que ele estava olhando-o também. Soonyoung sempre se perdia em Jihoon, afinal.
— Acho que ela já foi — o baixinho sussurrou após alguns segundos. Olhou para Soonyoung, notando que ele ainda estava lhe encarando. — O que foi? — perguntou confuso.
Num movimento rápido, o alfa deixou um beijinho singelo na ponta de seu nariz, deixando-o surpreso e com os olhos quase o dobro do tamanho. O alfa sorriu ao contemplar a expressão fofa do mais novo, levantando em seguida.
— Vamos rápido — segurou a mão do Lee e correram para o fundo da escola, que ficava de frente para uma rua pouco movimentada. — Consegue pular a cerca?
— Quê!? Claro que não — negou rapidamente, olhando a grade não muito alta, mas que parecia muito assustadora.
— É fácil, olha — ele disse, tirando a mochila de suas costas e jogando-a por cima do cercado. Em seguida, começou a escalar segurando entre os vãos e firmando os pés. Em poucos segundos, estava do outro lado. — Vem, eu te seguro se você cair.
Jihoon fez uma careta desconfortável, olhou para os lados, jogou sua mochila e tentou imitar o que Soonyoung havia feito. Quando chegou no topo, entretanto, travou assustado, não sabendo como descer. Sentiu vontade de chorar, estava se sentindo patético.
— Soonyoung-ah, que porra, eu não consigo — choramingou apertando os olhos.
— Tá tudo bem, você tá indo bem — encorajou-o. — Se quiser soltar, eu te seguro — garantiu.
O ômega respirou fundo, pensando que seria vergonhoso demais se jogar nos braços de Soonyoung, então, com um leve tremor nas mãos e pernas, tentou descer um pouco mais, o suficiente para pular e não se machucar. Entretanto, acabou pisando em falso e caiu, mas foi segurado pelo alfa muito facilmente.
— Você tá bem? — ele perguntou, segurando Jihoon nos braços.
— Tô, sim — respondeu um pouco sem jeito, assustado. — Caralho, você é forte para cacete.
O mais velho riu, soltando-o e entregando sua mochila após pegá-la do chão.
— Quer ir assistir um filme?
— Ok.
Correram pelas ruas de mãos dadas, rindo da pequena fuga que realizaram e da forma que Jihoon ainda estava com o coração acelerado.
— Ser uma pessoa sem graça dá nisso, qualquer coisa fora da rotina o coração já fica doido — reclamou o baixinho, esfregando o peito com a mão livre.
— Jihoon, primeiro: você é tudo, menos sem graça — apontou Soonyoung, erguendo o dedo indicador. — Segundo: vamos, foi legal. Essa deve ter sido a coisa mais emocionante que você já fez.
— Talvez, só talvez, você esteja certo, mas seu argumento só se solidifica porque eu não tenho memória o suficiente pra rebater.
Soonyoung soltou um riso curto, pendendo a cabeça para trás enquanto fechava os olhos e buscava acalmar seus instintos.
— Você não tem ideia da vontade que eu fico de te beijar quando você fica falando essas palavras difíceis — confessou, voltando a olhar para Jihoon, que apenas riu sem jeito, com as maçãs do rosto ficando vermelhas aos poucos.
— Eu gostaria de ver você tentar — provocou, não sabendo de onde havia tirado coragem para tal, apenas se deu conta quando teve sua cintura abraçada e seu corpo foi puxado na direção de Soonyoung. — Não! Eu tava brincando! — ria nervoso, cerrando os punhos enquanto tentava – inutilmente –, manter uma distância segura entre si e o alfa, porém não tinha força suficiente, e sentia o corpo dele muito próximo do seu.
E, apesar do que poderia parecer, aquele contato, aquela ação, não foi intimidante ou ameaçadora, sentia que podia confiar em Soonyoung. Sabia que podia confiar em Soonyoung.
— Você tá ficando muito atrevido, sabia? — apontou o alfa, aproximando seu rosto ao de Jihoon, que ria enquanto se esquivava como conseguia.
— Eu sei, estou despertando um monstro e vice-versa — olhou-o de perto, com uma distância segura.
Soonyoung sorriu, subindo uma mão até tocar a bochecha branquinha do ômega, acariciando o local com as costas dos dedos de forma delicada.
Jihoon engoliu em seco, desviando os olhos para os lábios do maior, quando percebeu que ele fazia o mesmo. Seu coração acelerou de maneira descomunal, fazendo-o perceber algo já florescido em seu interior.
Abriu a boca para falar alguma coisa, mas um som quase súbito de um ônibus se aproximando trouxe-os de volta para a realidade.
— Eita! Se a gente correr, a gente alcança ele — disse o Kwon, segurando o ômega pela mão e correndo até a parada onde o transporte havia parado.
Foram segundos desesperadores — e cômicos — até conseguirem embarcar às pressas. Sentaram-se lado a lado e Jihoon cobriu a boca ao não conseguir segurar um riso.
— Você é uma má influência, Soonyoung — acusou, apoiando a cabeça no ombro do alfa, que ria também enquanto buscava seus fones de ouvido e sua playlist no celular.
[...]
Após uns dez minutos de ônibus, Jihoon e Soonyoung desceram na frente do shopping da cidade. O alfa segurava a mão do Lee, tagarelando sobre a música que estavam ouvindo antes de saltar.
Soonyoung falava muito sobre muitas coisas. Jihoon tinha impressão de que ele não se aprofundava nos assuntos, mas ele sempre poderia falar sobre qualquer coisa, mesmo que não se estendesse demais em nenhum deles, sempre achando um outro ponto e começando outro tópico.
— Soon-ah — chamou-o assim que adentraram o shopping, interrompendo a fala do mais velho sobre passos de dança. — Posso perguntar uma coisa?
— Claro.
— Tem alguma coisa que você conseguiria falar por horas sem parar?
— Como assim?
— Alguma coisa que você goste muito e que te deixe com vontade de ficar falando sobre aquilo por horas — explicou, curioso para saber a resposta.
— Humm — ele fez um bico pensativo. — Eu gosto muito de biologia, biomoléculas, citologia… mas são assuntos meio chatos que ninguém gosta muito.
— Eu não entendo, mas não tenho nada contra também — o baixinho deu de ombros.
— Mas é fácil, só tem muitos nomes e termos, várias coisas acontecendo numa célula só, mas quando a gente entende direitinho fica incrível!
— Ah, cara, é assim que as pessoas se sentem quando eu falo sobre literatura? — fez uma careta.
Soonyoung riu, empurrando-o levemente com o ombro.
— Eu gosto de te ouvir — contou baixo. — O cinema é no segundo andar, vamos achar a escada rolante.
— Mas o elevador tá bem ali — Jihoon apontou.
— Ok… vamos — respondeu baixo, seguindo caminho.
Apertaram o botão e esperaram. O ômega notou como Soonyoung estava estranhamente quieto, batendo o pé no chão.
— Tá tudo bem? — perguntou, tocando o braço do maior para chamar a atenção, que parecia estar longe dali.
— Hm? Ah, tô, tô sim — limpou a garganta. — Só sou meio claustrofóbico.
— Eu não sabia — murmurou. — A gente pode pegar a escada rolante, se você quiser.
— Não, tudo bem, o elevador até já chegou — apontou para as portas que abriram em seguida, algumas pessoas desceram e eles entraram.
— Tô aqui, ok? — Jihoon disse, tentando acalmar o alfa.
Soonyoung sorriu para si, encolhendo-se no canto do elevador e mantendo a cabeça baixa. Jihoon ficou ao seu lado, segurando sua mão, e sentiu quando esta foi levemente apertada quando a caixa metálica começou a subir. Em menos de quinze segundos, as portas foram abertas e eles puderam descer, dando de cara com a praça de alimentação.
— Nem acredito que você me viu igual um filhotinho — resmungou o alfa, assim que voltaram a caminhar pelo local iluminado.
— Que nada, todo mundo tem medos sem sentido — sorriu, acariciando a mão do outro. — E você ficou até fofo com medo.
— Ah, para.
— É sério, eu… — interrompeu-se ao ouvir seu celular tocando na mochila. — Ai, caralho, meu cu tá na mão — praguejou pegando o aparelho. Era Jeonghan. — Oi, hyung.
— Onde você tá? Wonwoo e Minghao disseram que não te viram nas aulas.
— Então — riu nervoso. — Eu não tô na escola, mas eu te explico melhor depois.
— Como assim? Onde você tá? Tá tudo bem?
— Sim, tá tudo bem, eu tô com Soonyoung…
— Ah! Já entendi tudo — pôde ouvir o mais velho rir maliciosamente.
— Que!? Não, você não entendeu nada…
— Depois você me conta, relaxa. Tchau!
— Jeonghan… droga — resmungou quando a chamada foi encerrada.
Olhou ao redor, procurando por Soonyoung, vendo-o na fila de um fast food. Andou até ele enquanto mandava uma mensagem para Jeonghan.
— Qual lanche você vai querer? — o alfa perguntou assim Jihoon chegou ao seu lado.
— Não, eu não trouxe dinheiro…
— Eu não perguntei se você tem dinheiro — começou, encarando o menor. — Eu perguntei qual lanche você quer.
Jihoon piscou atônito, sem reação, enquanto Soonyoung continuava o olhando à espera de uma resposta.
— Pode escolher — disse por fim.
— Ok, quer me esperar numa mesa? Não vai demorar muito aqui.
— Certo — respondeu indo escolher uma mesa para eles ficarem. — Que garoto mais… — sussurrou sozinho assim que sentou, um sorriso crescia no canto de seus lábios.
Pegou seu celular e enviou uma mensagem para Jeonghan.
olha aqui vc ñ entendeu nada
deixa eu explicar
eu tava indo pra aula
ele veio falar cmg no corredor
e a gente começou a falar sobre coisas erradas que a gnt ja fez
e como vc deve saber eu n fiz nada de mt errado
aí ele me puxou e a gnt ta matando aula
SÓ ISSO
Poucos segundos depois que enviou as mensagens, Jeonghan respondeu com um áudio curto de uns cinco segundos. Jihoon deu play e trouxe o celular para perto do ouvido, mas o som alto o fez afastar o aparelho rapidamente, já que o áudio era de seus amigos gritando algumas coisas que ele quase não conseguiu decifrar. Apenas ouviu claramente quando o mais velho gritou perto do microfone:
— GAYS DEMAIS, CARALHO!
Jihoon tentou parar a gravação em desespero, mas era tarde demais, várias pessoas já haviam ouvido e o encaravam com olhares confusos e alguns julgadores. Ele guardou o celular e escondeu o rosto entre os braços.
— O que aconteceu? — Soonyoung perguntou ao sentar ao lado do ômega.
— Meus amigos nos chamaram de gays — explicou fazendo o alfa rir enquanto lhe entregava seu lanche.
— Eu sou bissexual, mas tudo bem, pode ser gay — ele sorriu. — Peguei o mesmo lanche pra nós dois.
— Valeu — retribuiu o sorriso, pegando seu lanche. — Você sabe que eu não trouxe dinheiro, vai pagar o filme também?
— Claro, tá com sua carteirinha de estudante? A gente consegue metade do preço.
Jihoon riu e concordou com a cabeça, focando em comer seu lanche. Soonyoung ficou preenchendo o silêncio, falando sobre os filmes que estavam em cartaz, e não muito tempo depois eles já haviam terminado de comer e ficaram conversando.
— Você disse que é bi, né? — o ômega perguntou após um tempo.
— Sim, por quê?
— Por nada, só… — deu de ombros, olhando-o. — Quando você descobriu?
— Hum — ele fez um bico, erguendo levemente os olhos ao pensar. — Quando eu tinha uns… 14 anos, eu acho. Eu tava numa festa de aniversário de um amigo, ele era bem popular…
— O Seungkwan?
— Não, não era ele — riu baixo. — Mas enfim, tinha vários alunos da escola e então todo mundo decidiu jogar o jogo da garrafa, sabe?
— Típico — constou sorrindo.
— É, mas aí, tá, todo mundo sentou na roda e começou — continuou contando, enquanto Jihoon mantinha o olhar em si. — Uma menina girou e parou em mim, dei um beijinho nela, aí girei a garrafa e parou num outro garoto, Jooheon, e antes de qualquer pessoa falar qualquer coisa, ele veio e me beijou, mas me pegou de jeito, sabe? Fiquei até sem reação — cobriu o rosto ao rir. — Mas aí depois eu comecei a me questionar sobre minha sexualidade.
— Hum — o ômega murmurou para demonstrar que ainda estava ouvindo.
— Foi até tranquilo, um mês depois eu já tinha aceitado, fiquei com outros meninos e…
Soonyoung parou de falar quando Jihoon tocou delicadamente seu cabelo, afastando uma mecha que cobria seus olhos. Os fios negros estavam crescendo, recaindo em ondas aos poucos sob o rosto bonito.
— Eu gosto do seu cabelo — o menor respondeu quando um olhar confuso foi direcionado a si. — Você dizia?
— Não, era só isso — deu de ombros, limpando a garganta. — Meus pais não aceitaram muito bem no começo, mas agora eles não ligam muito.
— Eles sabem… sobre mim? — perguntou, um pouco sem jeito.
Soonyoung concordou com a cabeça.
— Eles te adoram — sorriu.
Jihoon desviou o olhar, sentindo o rosto ficando quente, apesar de sorrir discreto.
— Ainda quer assistir um filme? — mudou de assunto, voltando a encarar o alfa.
— Claro, vamos.
[...]
— Nossa, vai se foder, essa é a última vez que você escolhe um filme, Soonyoung — Jihoon reclamava ao sair da sala do cinema, muito indignado.
— Eu não pensei que fosse ser tão ruim — justificou o alfa, correndo atrás do baixinho. — A gente podia ter esperado pra ver o desfecho pelo menos.
— Não! Eu não termino de assistir aquela porcaria, só por meio milhão — virou-se irritado, vendo o alfa rir da sua cara. — E, se quer saber o desfecho, eu digo que ela vai desenvolver síndrome de estocolmo, se “apaixonar” — fez aspas com os dedos, forçando uma careta. — e ficar grávida. Eu já não tava aguentando mais na cena daquele jantar com musiquinha romântica, caralho, ela foi sequestrada! Devia tá tocando o hino da Alemanha nazista!
Soonyoung nem tentava mais conter a risada, sua gargalhada podia ser ouvida por muitas pessoas, mas todas ignoravam. Aproximou-se do ômega, que ainda estava pisando forte, sem saber exatamente para onde estava indo.
— Me desculpa, ok? — pediu ao chegar perto dele. — Nunca mais escolho um filme, eu juro.
— Nunca mesmo — resmungou cruzando os braços. — Puta merda, vou precisar de terapia pra esquecer aquela cena. Teria sido melhor ficar na aula.
— Eu vou compensar, tudo bem? — sorriu tocando o rosto do menor. — Vamos.
Segurou a mão dele e voltaram a caminhar pelo shopping, fazendo críticas ao filme. Jihoon falava mais do que o Soonyoung, o alfa já havia notado que ele tinha um senso crítico muito aguçado, como se ele já tivesse uma opinião formada sobre tudo, assim como sempre teria argumentos e teses muito boas para defendê-las. E o Kwon sabia que isso poderia ser irritante algumas vezes, e também seria um problema se namorassem e tivessem alguma DR. Mas, por hora, o alfa conseguia apenas ouvir o que o baixinho dizia, admirando como ele parecia encantador demais só falando mal de alguma coisa.
— Soonie-ah, você precisa me dizer pra calar a boca quando minha voz começar a te incomodar.
— Isso nunca vai acontecer — garantiu. — Gosto de te ouvir falar.
— Aish… Você continua sendo muito direto.
— E você ainda não se acostumou com isso — riu apertando os dedos dele entre os seus.
— Acho que nunca vou.
Caminharam pelo local por mais algumas horas, entraram em algumas lojas, olharam algumas vitrines, mas não compraram nada. Passaram o tempo todo conversando, Jihoon nem sabia que era capaz de falar por tanto tempo, sobre coisas tão diferentes. Uma hora estavam falando sobre estilos de roupas que gostavam mais, poucos minutos depois, estavam discutindo sobre o Manifesto Comunista e assuntos mais polêmicos.
Jihoon descobriu que também gostava de ouvir Soonyoung falar.
Em um contraponto, fizeram a pequena viagem de ônibus em silêncio, apenas dividindo o fone de ouvido e observando o mundo passar pela janela. Em dado momento, o ômega segurou a mão do mais velho e deitou a cabeça em seu ombro, sentindo um conforto que nunca havia sentido até então.
Muitas coisas começaram a fazer sentido, enquanto outras se perderam ainda mais.
— Prontinho, está entregue — Soonyoung disse assim que chegaram à casa do menor. — Eu prometo pensar em alguma coisa pra compensar o filme merda que a gente assistiu.
— Não, tudo bem, o resto da tarde já valeu a pena — respondeu sorrindo.
Soonyoung retribuiu o gesto, feliz.
— Ok, então… — aproximou-se, incerto. — Tchau.
O alfa, então, inclinou o corpo para deixar um beijo no rosto do menor, entretanto, Jihoon virou a face, fazendo com que suas respirações se misturassem e os narizes se tocassem.
Soonyoung sentiu seu coração batendo mais rápido, não entendendo direito o que deveria fazer, e o ômega não parecia disposto a lhe dar uma resposta, já que os olhos pequenos fitavam seus lábios sem nem ao menos piscar.
Engoliu em seco, levando uma mão até o rosto de Jihoon. Com o toque suave, seus olhos se encontraram tão de perto, e algum brilho presente nas íris do menor fez com que Soonyoung tomasse coragem para segurar sua cintura e, finalmente, beijá-lo.
Fogos de artifício pareciam explodir dentro de ambos, Soonyoung estava com medo de cair da cama a qualquer momento. Pedia que, se aquele momento fosse um sonho, que não lhe acordassem.
Selou lentamente os lábios do ômega, uma, duas, três vezes, e já parecia estar flutuando. Era melhor do que ele havia imaginado e nem havia o beijado de verdade.
Segurou firmemente a cintura do baixinho, tentando aprofundar o contato ao tocar o lábio inferior dele com a língua, porém, Jihoon o afastou assustado de repente, jogando um balde de água fria no momento.
— E-Eu.. Eu preciso ir, me desculpa — gaguejou, uma mão cobrindo a própria boca enquanto os olhos fugiam de Soonyoung com afinco.
— Jihoon, espera… — antes que o alfa pudesse falar, o mais novo já havia fugido para dentro de sua casa e batido a porta. — Merda!
Chapter 14: Café Latte
Chapter Text
[Soonyoung]
Jih por favor fala cmg
Me desculpa eu não queria
Quer dizer eu queria
Mas não teria feito se soubesse que vc não queria
Vc vai para aula hoje pelo menos?
Não pode faltar de novo só pra me evitar
Responde por favor
A gente pode conversar
Jihoon suspirou ao ler as mensagens, nem se dando ao trabalho de escrever uma resposta. Virou-se na cama e se cobriu até a cabeça.
[Jeonghan hyung]
Tá tudo bem?
Vc tá doente?
Vc nunca falta aula, aconteceu alguma coisa?
aconteceu
mas eu não quero falar sobre isso
quero ficar um pouco sozinho
Aconteceu alguma coisa séria?
defina séria
Sla tipo oq aconteceu cmg
não
não foi nada disso
eu tô bem
só tô confuso com algumas coisas
Tem certeza que não quer falar sobre?
sim, eu tenho
vc vai fazer um drama enorme em cima disso
Achei meio ofensivo mas tudo bem
Qualquer coisa tamo aqui
vlw
Bloqueou a tela do celular e soltou o aparelho de qualquer jeito sob a cama. Com outro suspiro, ele virou novamente sob o colchão, enrolando-se nos cobertores, tentando se esconder de algo que não sabia bem o que era. Talvez de si mesmo.
— Filhote? — ouviu a voz de sua mãe entrando no quarto, porém não se mexeu. — Tá se sentindo melhor?
— Tô, mas eu ainda quero ficar sozinho — falou, sua voz soando abafada.
— Tudo bem, mas mamãe tá aqui, ok? — sentiu a mão gentil acariciando sua cabeça. — Mamãe e a maninha também.
— Valeu, mãe — respondeu, saindo debaixo das cobertas. — E valeu, mana — acariciou a barriga saliente.
A alfa sorriu, deixou um beijo em sua testa e saiu do quarto novamente.
Jihoon suspirou outra vez, cobrindo o rosto com uma de suas pelúcias. Sentia-se cansado, não havia dormido direito, todos seus sonhos o levavam ao beijo, e até mesmo seu corpo o traía ao crescer uma ereção notável toda vez que acordava assustado.
Eram tantas coisas acontecendo, tantos sentimentos colidindo em sua cabeça que ele acabava não sabendo o que pensar, não encontrando coragem para falar com Soonyoung — nem com qualquer outra pessoa —, nem ao menos encontrando palavras para expressar tudo aquilo.
[...]
Jihoon estava distraído, assistindo um vídeo qualquer no YouTube, quando alguém bateu na porta de seu quarto. Bufou um pouco impaciente antes de reclamar:
— Mãe, pela última vez, eu não tô com fome!
— Não é sua mãe, mas agora eu tô preocupado — Wonwoo disse ao abrir a porta. — Você comeu alguma coisa hoje?
— O que você tá fazendo aqui? — perguntou confuso, sentando na cama e dando espaço para o alfa sentar ao seu lado.
— Você não apareceu na escola por dois dias, vim ver se tava tudo bem — abraçou o amigo passando o braço sob seus ombros.
Jihoon fechou os olhos e retribuiu o abraço, deitando a cabeça no peito do maior.
— Podia ter mandado uma mensagem.
— Pra você mentir na minha cara dizendo que tá tudo bem e só quer ficar sozinho? Nem vem.
O ômega riu nasalmente, odiando como Wonwoo o conhecia bem.
— Aconteceu uma coisa — começou. — Mas você precisa prometer que não vai contar pra ninguém.
— Ok.
— Soonyoung me beijou...
— Contra sua vontade? — o alfa ergueu uma sobrancelha, desconfiado.
— Não! Claro que não, ele não faria isso — distanciou-se do amigo para poder olhá-lo melhor. — Eu quis, eu deixei, é que…
— Ele beija mal?
— Dá pra parar de me interromper?
— Desculpa — riu baixo, empurrando os óculos pela ponte do nariz.
— É só que eu senti tanta coisa quando ele me beijou. Foi muito, muito bom, ao mesmo tempo que eu tava com muito medo e… — engoliu em seco, estalando os dedos, nervoso. — E eu senti um arrepio muito doido quando aconteceu.
— Oh — Wonwoo soltou, arregalando os olhos em seguida: — Oh!
— Que merda isso significa!?
— Sei lá, quando aconteceu comigo eu aceitei que tava apaixonado pelo Mingyu.
— Mas eu não tô apaixonado pelo Soonyoung!
— Ah, Jih, nem você acredita nisso! — exclamou cruzando os braços. — Aceita que você gosta dele de uma vez por todas, não tem nada de errado, tá todo mundo pedindo!
— Tá! Digamos que eu esteja gostando dele, o que acontece depois? — cruzou os braços.
— Eu sei lá, vocês se beijam, começam a passar mais tempo juntos, trocam mensagens fofas. Você já tá se precipitando de novo!
Jihoon choramingou e jogou-se na cama, cobrindo o rosto e batendo as pernas.
— Eu não sei o que fazer, Nonu, foi tanta coisa — suspirou encarando o teto.
— O que aconteceu depois do beijo? — Wonwoo deitou ao seu lado.
— Eu fugi, igual um covarde.
— Você não falou com ele? — perguntou indignado.
— Eu não posso conversar com ele agora, preciso de um tempo pra pensar — choramingou, abraçando um travesseiro. — E eu ainda me sinto péssimo em não contar pro Jeonghan hyung, mas ele ia fazer um escândalo e eu não preciso disso agora.
— Tudo bem, ele vai entender — garantiu o alfa, fazendo um carinho nos cabelos do amigo. — Mas você não pode deixar Soonyoung pensando que ele fez algo errado...
Uma música começou a tocar pelo quarto, Jihoon sentou-se confuso e viu Wonwoo atendendo ao celular e deixando no viva-voz.
— Oi, bae.
Jihoon riu nasalmente ao ouvir o apelido fofo.
— O que você tá fazendo, amor?
— Eu vim ver o Jih, e você?
— Eu vim no centro com Chan, ela queria comprar umas coisas e não queria vir sozinha — explicou o ômega. — Jihoon sabe o que aconteceu com Soonyoung hyung?
— Ah, se sabe — olhou para o Lee, que revirou os olhos. — Eles se beijaram, mas o Jih saiu correndo porque não quer admitir que gosta dele!
— Para de expôr minha vida pros outros! Eu pedi pra você não contar pra ninguém!
— O Mingyu é exceção, eu conto tudo pra ele — rebateu o alfa.
— Não vou contar pra ninguém, hyung, relaxa — Mingyu disse. — Quer dizer, Chan já ouviu.
— E ninguém pediu minha opinião, mas eu achei meio escroto — a beta falou do outro lado da linha. — Soonyoung oppa tava bem chateado, você devia falar com ele antes que isso estrague de vez o relacionamento de vocês.
— Valeu, Chan e Mingyu, agora tchau — Jihoon respondeu, aproximando-se de Wonwoo e encerrando a chamada.
— Não queria os conselhos do Chan? Tá aí — riu o alfa.
— Cala a boca, idiota — bufou. — Eu vou falar com ele, só preciso de um tempo pra processar o que aconteceu e tudo que eu tô sentindo.
— Ok, mas eu acho que seria melhor…
— Não! Quer saber? — levantou-se. — Eu tô cansado de todo mundo dizer o que é melhor ou não! Eu preciso pensar e chegar a uma conclusão sozinho sobre como eu me sinto, e como eu acho que vai ser melhor, ok?
Wonwoo o encarou por alguns segundos, sem reação a pequena explosão do ômega — que, normalmente, era bem calmo —, logo em seguida, sorriu e aproximou-se do amigo, bagunçando seus cabelos.
— Finalmente você entendeu — pegou sua mochila. — Eu vou indo. Pensa com calma, ok?
E então ele saiu.
Jihoon revirou os olhos.
— Alfa idiota.
[...]
Jihoon não sentia fome, mas aceitou jantar com os pais, visto que era uma pequena tradição. Nenhum dos progenitores perguntou o que tinha acontecido, apenas focaram em falar sobre outras coisas, como a decoração para o quarto de sua irmã, fofocas que as clientes de seu pai haviam contado e o plano pós-natal que sua mãe estava fazendo.
— Hum, filhote, nós começamos a pensar em nomes para sua irmã — sua mãe começou, animada. — Quer nos ajudar a pensar em um?
— Não podemos esperar ela crescer e escolher o próprio nome? — murmurou, não muito interessado.
— Vamos, participa, se você escolher um nome bem bonito, ela pode se chamar assim — o ômega mais velho pediu.
— Hum… Eu não sei — respondeu, correndo os olhos pela sala enquanto pensava. — Gosto do nome Yoona, acho bonito.
— Yoona… — ponderou a alfa. — É bonito mesmo, podemos considerar.
Jihoon sorriu fechado, voltando a revirar sua comida, sem muita vontade de comer.
— Então… Como estão as coisas na escola, o Soonyoung…?
— Eu vou dormir — o ômega interrompeu, levantando-se da mesa e subindo as escadas rapidamente.
Fechou a porta de seu quarto e suspirou pesado. Sentou em sua cama e pegou seu celular após vê-lo acender com uma notificação. Eram mais mensagens de Soonyoung:
Vc tá fazendo eu me sentir péssimo
Me desculpa mas vc me deixar sem saber oq eu fiz de errado não me ajuda a melhorar
Enf im
Vou parar de mandar mensagem agr
Jihoon engoliu em seco, sentindo algumas lágrimas molhando seus olhos.
— Droga!
[...]
A noite passou devagar para o ômega, que só conseguia ficar flutuando com seus pensamentos e tentando chegar a alguma conclusão.
Não obteve sucesso.
Mas todas suas reflexões começavam em Soonyoung, e paravam na forma como se sentia incrivelmente bem ao seu lado e como queria muito beijá-lo novamente, mesmo que a ideia ainda parecesse assustadora em certo nível.
Na verdade, ele chegou, sim, a uma conclusão: não precisava chegar em lugar nenhum, não precisava colocar seus sentimentos em uma caixinha, não quando Soonyoung conseguia fazê-lo sentir coisas totalmente únicas, que nunca havia sentido antes.
Só teria que consertar as coisas entre eles, antes que aquilo causasse uma ferida que não poderia ser cicatrizada.
Estava se sentindo determinado quando chegou na escola, mas parte dessa determinação foi se esvaindo ao ver o alfa. Ele estava distraído ajeitando alguns livros dentro de seu armário. Seus amigos não estavam por perto e isso facilitava.
— Soonyoung-ah — Jihoon chamou ao se aproximar devagarinho.
O alfa se virou, encarando-o sério, de uma maneira que Jihoon não estava acostumado a ver. Um ar melancólico que, definitivamente, não combinava com Kwon Soonyoung.
— Decidiu parar de me ignorar? — bateu a porta metálica.
— Me desculpa — pediu, abaixando a cabeça, não conseguimos sustentar o olhar do maior. — A gente pode conversar?
— Claro — disse seco. Jihoon o segurou pelo pulso, puxando-o pelos corredores. — Pra onde você tá me levando?
— Só vem comigo.
Soonyoung revirou os olhos, deixando que o ômega o levasse até uma pequena sala usada para guardar alguns materiais de limpeza. Entraram e o menor fechou a porta.
— Ok... Por que estamos num armário de vassouras? — o alfa perguntou, suspeito.
— É uma conversa particular, não quero que ninguém escute.
— Tá — ele cruzou os braços, nem tentando argumentar. — Posso, pelo menos, falar primeiro?
— Pode — murmurou, encostando-se na parede para ouvi-lo.
Soonyoung tomou ar antes de começar:
— Lembra de um tempo atrás, quando eu falei que não me importaria se você nunca gostasse de mim como eu gosto de você? — Jihoon assentiu com a cabeça. — Isso não mudou, ok? Eu não me importo se você se arrependeu de ter me beijado, se sentiu nojo, ou qualquer coisa parecida...
— Não foi...
— Deixa eu terminar, por favor — ele pediu. — Eu não me importo com nada disso, mas me machucou você ter me ignorado. Eu quero que a gente seja sincero um com o outro, não é justo você só fingir que eu não existo quando algo te incomodar.
— Me desculpa — Jihoon respondeu. — É só... É tanta coisa acontecendo muito rápido — suspirou, estralando os dedos em sinal de nervosismo. — Mas eu não me arrependi de ter te beijado, eu não senti nojo, não foi nada disso.
— E então? — ele cruzou os braços.
— É que... Caralho, eu nem sei explicar... — respirou fundo. — Quando você me beijou eu senti tanta coisa — começou, gesticulando perto do próprio corpo. — Subiu um arrepio muito forte na minha espinha, meu estômago começou a revirar de um jeito que parecia que eu ia morrer! E na minha cabeça, pelo amor de Deus, passou tanta coisa tão rápido! — exclamou, quase não controlando a forma que as palavras saíam de sua boca. — Foi tipo: caralho, vou morrer, isso é muito estranho mas é bom ao mesmo tempo. Por que ele tá com a mão na minha cintura? O que eu faço com minhas mãos? Tô ficando sem ar, eu não consigo respirar, isso é realmente bom, o que tá acontecendo!? — falou sem pausas, o maior apenas olhava-o com o cenho franzido. — Ao mesmo tempo que minha cabeça tava totalmente em branco e as únicas coisas que faziam sentido era eu estar ali, eu estar com você, todas as dúvidas que eu tinha sobre você desapareceram completamente! Eu descobri que realmente gosto de você!
Jihoon falava alto, sem parar para respirar, fazendo gestos e dando passos pequenos no espaço limitado, deixando Soonyoung um pouco atordoado pela enxurrada de informações que eram jogadas sobre si.
— Aí, eu lembrei que só tinha beijado uma pessoa na vida, há quase três anos atrás, então eu não sei como se beija, entrei em pânico e sai correndo — concluiu, cruzando os braços. — E também...
Então, antes que Jihoon pudesse falar mais alguma coisa, Soonyoung aproximou-se, segurando seu rosto com ambas as mãos e deixando vários selinhos rápidos sob seus lábios. O ômega apenas pôde fechar os olhos com força e segurar os braços do maior, enquanto tentava se esquivar para que pudesse questionar...
— Que merda deu em você!? — exclamou, tão logo conseguiu afastar o rosto do alfa.
— Desculpa, você é tão fofo que eu não resisti — sorriu, abraçando-o pela cintura. — Ainda mais depois de ouvir todas essas coisas... Você realmente gosta de mim?
Jihoon acenou a cabeça positivamente, acariciando os braços do maior enquanto mordia o próprio lábio.
— Você não tá mais bravo? — perguntou, ainda um pouco inseguro.
Soonyoung não respondeu, apenas se inclinou e beijou Jihoon, que, por sua vez, sentiu novamente todas aquelas borboletas no estômago. Para sua sorte, o contato não foi aprofundado, e o alfa ficou apenas roçando seus narizes enquanto mantinha os olhos fechados.
— Eu também gosto de você — Soonyoung sussurrou, deixando o menor arrepiado. — E, se você quiser, eu posso te ensinar a beijar...
— Cala a boca, garoto — reclamou, empurrando-o sem sucesso. — A gente tem que ir pra aula.
— Estou te oferecendo aulas particulares agora mesmo, aceita?
— Não aqui! Vamos logo, que o sinal já tocou.
Soonyoung riu anasalado, deixando um beijo estalado na bochecha do ômega, soltando-o do abraço e logo saíram do cubículo onde estavam. Continuava olhando Jihoon da maneira apaixonada que somente ele conseguia.
— Quer que eu te leve até sua sala? — perguntou tocando seu rosto.
— Não, não precisa. Vai logo que a sala de geografia é longe — mandou, tentando ignorar a vergonha que lhe atingiu ao absorver tudo que havia acontecido.
— Ok — o maior respondeu, deixando um último selar em si.
Entretanto, antes que pudesse se afastar, o ômega tocou seu pescoço, mantendo-o próximo.
— A gente pode... Ter aquelas "aulas particulares" depois da escola? — perguntou com o último resquício de coragem que tinha. Soonyoung apenas sorriu mais e concordou com a cabeça. — Ok. Tchau.
Jihoon deixou um selinho nos lábios do maior e pôs-se a caminhar muito rápido até a sala de aula, sentindo o rosto muito, muito quente e o coração batendo desenfreado no peito.
Assim que o ômega estava fora de sua vista, Soonyoung começou uma dança alegre, dando soquinhos no ar enquanto exclamava:
— Yes! Yes! Yes! — segurou a vontade de gritar. — Caralho, eu posso ouvir Queen tocando nesse momento.
[...]
— Você vai ficar irritado se eu gritar, não vai? — Jeonghan perguntou, tentando, com muito afinco, conter a vontade que estava de fazê-lo.
Jihoon havia aproveitado a hora do almoço para contar tudo que havia acontecido aos seus amigos. De maneira resumida, claro.
— Vou. Por favor, não grita — Jihoon pediu, cobrindo o próprio rosto. — Eu sei que vocês estão felizes ou qualquer coisa, mas eu ainda quero discrição sobre isso.
Jeonghan escondeu o rosto no ombro do namorado, bateu os pés no chão e urrou não muito alto.
— Ah, que ódio, eu tô tão feliz por você. Finalmente admitiu que gosta dele! — exclamou, batendo palmas.
— Ai, Deus, eu já me arrependi — murmurou o baixinho. — Alguém quer falar mais alguma coisa?
— O quão sério é? — Minghao perguntou. — Tipo, só a gente sabe? Ninguém mais pode saber?
Jihoon bufou revirando os olhos, desviou o olhar e viu Soonyoung entrando no refeitório com os amigos. Vernon estava com um braço sob seus ombros, enquanto Seungkwan e Junghwa falavam juntos de forma afobada. Quando adentraram o local, todos olharam para o ômega sem nem tentar disfarçar.
— Pelo visto, ele já contou pros amigos dele — Wonwoo apontou, sorrindo de canto. — E se Seungkwan sabe, todo mundo sabe.
— Eu devo merecer isso — resmungou. Seu olhar cruzou com o de Soonyoung e ele não pôde evitar sorrir, acenando na direção do alfa. — Mas eu nem consigo me importar.
— Vocês são adoráveis — Seungcheol comentou, observando a troca de olhares entre eles.
O Kwon então, aproximou-se da mesa onde o ômega estava com seus amigos, após deixar seu almoço com os próprios. Jihoon sentiu o estômago afundando enquanto via o maior andando em sua direção.
Soonyoung sempre o deixava com borboletas.
— Oi, gente, como estão? — ele sorriu assim que chegou perto, cumprimentando os amigos do Lee.
— Tudo ótimo, não é? — Jeonghan respondeu, com um tom insinuante um tanto alto.
— Hyung, fica quieto, por favor — Jihoon pediu. — O que foi, Soon-ah?
Inclinando-se para chegar mais perto do ômega — que estava sentado na ponta da mesa —, Soonyoung falou baixinho:
— Eu queria saber se vai rolar mesmo aquilo que você disse… sabe?
— Uhum — concordou brevemente com a cabeça. — Era só isso?
— Era — sorriu. — Selinho de tchau na frente dos seus amigos, muito rápido, não pode impedir.
— O que…? — perguntou confuso, sendo interrompido quando Soonyoung selou seus lábios de forma rápida, saindo dali em seguida. — Idiota.
— Desculpa, eu vou gritar — Jeonghan disse.
— Não, não faz…
Bem, tarde demais.
[...]
— Jihoon-ah, posso falar com você? — o professor perguntou, antes do ômega sair da sala.
— Claro — respondeu, aproximando-se da mesa do mais velho.
— Eu notei que você não entregou o trabalho que eu pedi — começou ameno, cruzando os braços. — E eu sei que você é um aluno excelente, então quis saber se aconteceu alguma coisa.
— Bem… Acontecer, aconteceu. Mas não acho que justifique, eu só esqueci mesmo — deu de ombros. — Me desculpe.
— Mas eu lembrei vocês no início da semana.
— Eu sei, acontece que naquele dia, aconteceu uma coisa, então eu tive uma crise existencial que durou dois dias, acabei esquecendo — explicou rapidamente, querendo ir para a próxima aula.
O professor suspirou, tirando os óculos e esfregando o rosto.
— Bom, você sempre foi um bom aluno, então vou te dar uma segunda chance.
— Sério?
— Você pode me entregar amanhã, mas vai valer só metade da nota, tá bem?
— Tá ótimo! Nossa, muito obrigado, professor — juntou as mãos, fazendo uma reverência. — Você é demais, mas eu preciso ir agora, ok? Tchau.
O mais velho riu vendo o baixinho sair correndo, ao mesmo tempo que os novos alunos iam chegando.
— Crianças…
[...]
Assim que a última aula terminou, Jihoon saiu da sala e esperou por Soonyoung. Sentou no banco perto do portão e ficou refletindo sobre as coisas que haviam acontecido em sua vida.
Há pouco menos de três meses, sua vida estava normal e monótona como sempre fora. Então, de uma hora para outra, alguém o jogou no chão e Soonyoung apareceu para ajudá-lo. E ele continuou ali, bagunçando tudo que antes estava organizando, mas não onde deveria estar.
Sentia que estava vivendo um perfeito paradoxo e não podia dizer que era ruim, estava gostando de como as coisas estavam indo.
— E aí, lindo? — deu um pulinho no lugar ao ouvir a voz de Soonyoung perto de si. — Você é muito distraído, né?
— Sou — riu baixo. — É culpa sua, eu tava pensando em você.
O alfa sorriu, sentando ao seu lado a aproximando-se para alcançar sua boca, porém, o menor virou o rosto, olhando para os próprios pés.
— O que foi?
— Tem muitas pessoas aqui — murmurou. — Vamos indo?
— Pra onde a gente vai? — ergueu uma sobrancelha.
— Pra minha casa, não vai ter mais ninguém.
Soonyoung abriu a boca como se fosse falar algo, mas fechou-a, franzindo o cenho. Resolveu perguntar:
— Você não vai se incomodar? Tipo… Só nós dois?
— Eu não — deu de ombros. — E você?
— Não, acho que não.
— Então vamos?
O alfa concordou. Levantaram-se e saíram da escola, andando pelas ruas de mãos dadas. Soonyoung estava estranhamente quieto, olhando para baixo e mordendo o próprio lábio.
— Soonyoung-ah, tá tudo bem? — Jihoon resolveu perguntar.
— Tô sim, eu só tô meio nervoso, sabe? — olhou-o.
— Ei, eu sou o bv aqui, quem tá nervoso sou eu — retrucou, fazendo o maior rir.
— Eu sei, é só… sei lá, eu não quero estragar tudo — suspirou.
— Você não vai estragar nada — sorriu apertando a mão do alfa. — Você fez tudo certo até aqui, agora que, finalmente, conseguiu alguma coisa, você vai ficar com medo?
— Não, não vou — riu baixo, puxando o ômega para perto e o abraçando pelos ombros.
Jihoon sorriu e ficou na ponta dos pés, deixando um beijinho no rosto do maior, puxando sua mão para que seguissem caminho.
[...]
Assim que chegaram em frente a casa, o ômega abriu o portão e deixou que Soonyoung entrasse. Podia sentir que o alfa estava nervoso, já que o aroma de café e livro novo estava ficando mais forte conforme eles adentravam a residência.
— Bem-vindo, essa é minha casa — Jihoon falou, assim que tiraram os sapatos e chegaram na sala. — Aqui é a sala, ali é a cozinha, tem uma mini sala de jantar, o banheiro, e lá em cima são os quartos.
— Sua casa é muito aconchegante, sabia? — comentou o mais velho, olhando ao redor. — Tem cheiro de camomila, canela... e lavanda.
— Sim, basicamente: eu, minha mãe e meu pai — deu de ombros. — Vem, vamos subir.
Jihoon segurou a mão de Soonyoung e o puxou escada acima, deixando o maior ainda mais nervoso. O ômega, porém, estava exalando tranquilidade até demais.
— E esse é meu quarto, pode ficar a vontade, só não mexe nos meus livros — pediu, deixando o alfa entrar enquanto ele deixava a mochila jogada ao lado da porta.
— Caralho, esse lugar tem seu cheiro muito forte — disse baixo, sentindo-se até meio tonto. — Ei, essa é a pelúcia que eu te dei?
Jihoon olhou para o alfa, que estava apontando para a pelúcia de lhama em sua cama.
— É, sim. Eu falei que dormia com ela — sorriu subindo na cama e sentando como "índio".
— Você é tão adorável.
Jihoon riu anasalado e desviou o olhar para as próprias mãos, envergonhado de repente. Soonyoung, por sua vez, estava concentrado em admirar sua decoração.
As paredes eram pintadas de branco, havia luzinhas de natal penduradas ao lado da cama, acima da escrivaninha, com algumas poucas fotos penduradas, junto de post-its coloridos em tons pastéis com algumas frases de filmes, livros e músicas. Um guarda-roupa não muito grande de cor clara em um canto da parede, ao lado deste, haviam alguns puffs também brancos, com almofadas coloridas. Acima deles, a bandeira demisexual pendurada na parede, ao lado algumas ilustrações de "memes assexuais".
"Eu sou um completo estereótipo de ace" — pensou o baixinho.
— De que país é essa bandeira? — Soonyoung perguntou, virando para si.
Jihoon juntou as sobrancelhas, confuso, e, logo em seguida, explodiu em uma gargalhada alta. Riu tanto que caiu deitado na cama, enquanto o maior o olhava de braços cruzados.
— Eu sou uma piada pra você, Lee Jihoon?
— Não! Não, não, me desculpa é que... — riu mais. — Foi muito aleatório. Essa é a bandeira demisexual, seu bobo!
Soonyoung franziu o cenho, aproximando-se do mais novo e sentando de frente para ele na cama.
— E o que é isso?
Jihoon respirou fundo, tentando controlar a crise de risos e olhou-o.
— É quando uma pessoa só sente atração sexual por pessoas que ela tem uma conexão emocional — explicou calmamente. — E não vem me dizer que isso é querer conhecer uma pessoa antes de transar com ela! Se você disser isso, a gente vai brigar.
Soonyoung riu baixo, aproximando-se um pouco mais do ômega.
— Não vou dizer — garantiu. — Mas eu ainda não entendi direito.
— Ai, droga — resmungou. — É tipo… eu não sinto atração sexual, ok? Sexo é totalmente indiferente pra mim. Porém, se tem essa pessoa e eu tenho uma conexão muito forte com ela, eu posso sentir atração sexual por ela. Entendeu?
— Tipo… você só quer ficar com pessoas que você é apaixonado?
— Não exatamente. Conexão não significa necessariamente paixão — encolheu os ombros. — Mas eu gosto de você.
O alfa sorriu, inclinando-se na direção do menor para lhe dar um selinho. Jihoon fechou os olhos e retribuiu o contato, sentindo seu coração acelerar aos poucos.
— Eu vou fazer uma pesquisa depois — Soonyoung falou baixinho, ainda com o rosto próximo ao do ômega. — Mas, agora, que tal se a gente…
— Uhum — acenou com a cabeça.
— Você… você não se importa se a gente for devagar, né? — ergueu o olhar para fita-lo.
Jihoon riu irônico:
— Você se deu mal, eu curto ir devagar — fechou os olhos e segurou o rosto do alfa, juntando seus lábios.
Soonyoung sorriu levemente antes de retribuir o beijo. Deixou suas mãos apoiadas nas próprias pernas, incerto se deveria — ou poderia — tocar o outro, então apenas relaxou e deixou que Jihoon fizesse como preferisse.
O baixinho beijava devagar, sem usar a língua, apenas selando os lábios do mais velho quase delicadamente, como se estivesse testando e descobrindo aquelas sensações quase novas. As mãos pequenas tocavam as bochechas do alfa, enquanto ele arrastava os lábios sob os semelhantes.
Ficaram alguns segundos apenas trocando aqueles salares simples, até Jihoon se afastar para respirar. Soonyoung o encarou e mordeu o lábio inferior. De fato, não estava em uma situação tão favorável, mas estava se esforçando muito para não estragar tudo.
— Posso tocar você? — perguntou, quase num sussurro.
O ômega concordou com a cabeça, sentindo as mãos do mais velho acariciarem seu rosto suavemente, logo, o toque desceu para seu pescoço, deixando-o arrepiado.
Então, sua cintura foi segurada de maneira firme e ele pôde jurar que teria caído caso estivesse em pé. Arrastou-se para mais perto e o abraçou pelo pescoço, seus joelhos se tocaram e as bocas se encontraram novamente.
Jihoon sugou com timidez o lábio inferior do alfa, sentindo os dedos grandes apertarem sua cintura conforme o fazia. Entreabriu os próprios lábios, mas acabou se afastando depressa, assustado, quando sentiu a ponta da língua de Soonyoung entre eles.
— Desculpa… — murmurou, de olhos fechados.
— Ei, ei, tá tudo bem — o maior sorriu, mesmo que Jihoon não pudesse vê-lo. — No seu tempo, ok? — acariciou o rosto do ômega. — Você quer tentar?
— Eu quero, só… fico um pouco nervoso.
— Vamos com calma, não tem problema — sussurrou, deixando um selinho no menor.
Jihoon concordou com a cabeça, respirando fundo e tentando relaxar. Sentiu os lábios de Soonyoung contra os seus e apertou os olhos, sentiu a língua dele novamente e travou.
As mãos do maior foram de encontro a sua cintura outra vez, puxando-o para mais perto, acariciou o local de forma gentil, buscando acalmar o baixinho. Funcionou de certa forma, então Jihoon ousou mover sua língua e encontrou com a do alfa, fazendo-o gemer involuntariamente e apertar os braços ao redor do pescoço alheio.
Soonyoung abraçou a cintura do menor, inclinando-se para mais perto dele, fechando seus lábios e sugando a pontinha da língua de Jihoon, fazendo-o soltar um arfar baixo.
Afastaram-se e o ômega escondeu o rosto no ombro do maior, envergonhado por ter soltado sons tão constrangedores ao seu ver.
— Essa posição tá machucando minhas costas — o mais velho reclamou, porém Jihoon não se mexeu. Ele, então, riu anasalado e segurou-o pelo quadril, erguendo-o apenas um pouquinho, com muita facilidade. Descruzou as pernas e deixou Jihoon entre elas. — Tá tudo bem?
— Uhum — murmurou, afastando-se o suficiente para olhá-lo. — Podemos…?
— Você quer parar?
— Não — negou com a cabeça. — Podemos tentar de novo?
Soonyoung sorriu, acenando positivo. Fechou os olhos e deixou que Jihoon o beijasse novamente.
[...]
Jihoon e Soonyoung ficaram trocando beijos por alguns longos minutos. O ômega já estava pegado o jeito da coisa e estava até gostando de fazê-lo, pararam apenas quando sentiam os lábios quase dormentes e inchados demais.
Então, ficaram ouvindo músicas de alguma playlist do Lee, ainda próximos o suficientes para que o maior pudesse abraçá-lo pela cintura. Soonyoung ouvia o ômega falar sobre seu livro favorito, sobre sua sexualidade e algumas outras coisas que não se recordava. Ele também comentava sobre algumas coisas triviais, como alguns dance covers que ele estava ensaiando, o país onde seus pais estavam e os planos que ele tinha para quando fosse revê-los.
— Tô torcendo pra eles voltarem logo, posso ver como você sente saudade deles — Jihoon disse, deitando a cabeça no ombro do mais velho.
— É, eu também — sorriu olhando para o menor, deixando um selinho rápido em seus lábios. — Eles vão ficar felizes de saber que eu finalmente consegui te beijar.
— Cala a boca — resmungou o baixinho, empurrando-o sem força, apesar de rir junto.
A música que tocava no celular acabou, dando início a uma outra, que fez Jihoon aumentar o volume e dizer:
— Eu sempre lembro de você ouvindo essa música.
— Sério? — sorriu. — Por que?
— Nos identifico com a letra — deu de ombros, tímido.
Soonyoung abraçou-o novamente, prestando atenção quando o cantor começou:
I could hang about and burn my fingers
(Eu poderia andar por aí e queimar meus dedos)
I've been hanging out here, waiting for something to start
(Tenho andado por aqui, a espera de algo para começar)
You think I'm faultless to a T
(Você acha que eu sou incrivelmente perfeito)
My manner set impeccably
(Minhas maneiras soam impecáveis)
But underneath, I am the same as you
(Mas no fundo, eu sou o mesmo que você)
— Ok, tem um pouco a ver — concordou o alfa.
— Shh, tem mais.
I could dance all night like I'm a soul boy
(Eu poderia dançar toda noite como um menino fantasma)
But you know I'd rather drag myself across the dance floor
(Mas você sabe que eu prefiro me arrastar pela pista de dança)
I feel like dancing on my own
(Tenho vontade de dançar sozinho)
Where no one knows me, and where I
(Onde ninguém me conhece, e onde eu)
Can cause offense just by the way I look
(Posso causar ofensa apenas pela minha aparência)
And when I come to blows
(E quando chegar as vias de fato)
When I am numbering my foes
(Quando eu estiver numerando meus inimigos)
Just hope that you are on my side, my dear
(Só espero que você esteja do meu lado, meu amor)
But it's best to finish as it started
(Mas é melhor terminar como começou)
With my face head down, just staring at the brown formica
(Com o meu rosto voltado para baixo, apenas olhando a fórmica marrom)
It's safer not to look around
(É mais seguro não olhar em volta)
I can't hide my feelings from you now
(Eu não consigo esconder meus sentimentos de você agora)
There's too much love to go around these days
(Há muito amor por aí nos dias de hoje)
You say I've got another face
(Você diz que eu tenho outra face)
That's not a fault of mine these days
(Não é minha culpa nos dias de hoje)
I'm brutal, honest and afraid of you
(Eu sou brutal, honesto e estou com medo de você)
It's safer not to look around
(É mais seguro não olhar em volta)
There's no hide my feelings from you now
(Não há nada escondendo meus sentimentos de você agora)
There's too much love to go around these days
(Há muito amor por aí nos dias de hoje)
Soonyoung sorriu e apertou o ômega entre seus braços.
— Eu realmente gostei dessa música e eu entendi o que você quis dizer — falou olhando-o. — Você é tão fofo que... Ugh... Posso beijar você?
Jihoon riu anasalado antes de concordar com a cabeça, sentindo o mais velho deixar vários selinhos em si.
— Pode me enviar essa música depois?
— Claro — sorriu, fechando os olhos quando Soonyoung roçou seus narizes de forma carinhosa. — Não estou te expulsando, mas quando você pretende ir? Daqui a pouco meus pais vão chegar.
— Muito cedo pra conhecer eles?
— Não sei — riu baixo. — Se você tiver coragem de falar que ficou beijando o filho deles até agora.
Soonyoung fez uma careta desgostosa.
— Acho que eu vou indo, então — ele levantou, fazendo Jihoon rir.
Entretanto, logo puderam ouvir a porta da frente sendo aberta, assim como as vozes dos pais de Jihoon.
— Filhote, chegamos! — sua mãe exclamou. — Jihoon? Por que tem cheiro de alfa aqui?
O ômega prendeu um riso ao ver a expressão de desespero de Soonyoung, que o encarava sem saber o que fazer.
— Vem, eles são de boa — levantou e abriu a porta.
O mais velho pegou sua mochila e seguiu o menor, descendo as escadas.
— Jihoon, o que você… — a voz da alfa parou ao ver o Kwon. — Soonyoung-ah, querido, você por aqui? Que surpresa!
— O-Oi, Sra. Lee — ele sorriu acanhado.
— Quem tá aí? — o ômega mais velho perguntou saindo da cozinha.
— Querido, esse é o Soonyoung, lembra? — a alfa dizia, sorridente.
O mais velho, entretanto, olhou para o alfa sério, cruzando os braços e estufando o peito.
O Sr. Lee tinha 1,68 de altura, era pequeno e nem um pouco assustador, mesmo assim, o Kwon ficou assustado ao vê-lo.
— E o que ele tá fazendo aqui?
— E-Eu…
— A gente tava ficando — Jihoon respondeu calmo, fazendo Soonyoung arregalar os olhos.
— Ah, é? — o Sr. Lee se aproximou. — Você estava beijando meu filho?
— B-Bem… S-Sim, mas eu n-não faria nada que ele não quisesse — tentou se explicar, enrolando-se nas palavras, movendo as mãos de maneira estranha. — E-Eu gosto m-muito do seu filho e-e…
O ômega mais velho, então, riu alto, curvando o corpo para frente.
— Gostei de você, garoto. Ninguém nunca ficou intimidado comigo — aproximou-se, dando tapinhas no ombro do alfa. Soonyoung era bem maior que o ômega, mas estava, de fato, intimidado. — Apareça para jantar qualquer dia.
O Sr. Lee subiu as escadas, deixando um Soonyoung confuso para trás, enquanto Jihoon e sua mãe tentavam prender um riso.
— Ouviu, né? Está convidado, querido — a mulher sorriu, indo atrás do marido em seguida. — Ah, filhote, depois a gente tem que ver o que você vai querer fazer no seu aniversário!
— Tá bom, mãe — o ômega respondeu. Segurou a mão de Soonyoung e levou-o até a saída. — Viu? Eu disse que eles iam te adorar.
O alfa riu nervoso enquanto colocava seus sapatos de volta.
— Nunca fiquei tão nervoso na minha vida, credo — falou fazendo careta. — Mas ainda bem — sorriu, indo até o portão junto do baixinho. — Eu te mando mensagem quando chegar em casa.
— Certo — Jihoon sorriu, deixando que o alfa lhe desse um selinho antes de sair.
[...]
Quando a noite chegou, Jihoon não conseguia dormir, pensando em todos os acontecimentos do dia. Surpreso com toda coragem que teve, fez coisas que jamais tinha imaginado, que podiam soar normais para qualquer outra pessoa, mas que eram grandes passos para si.
Levantou da cama e andou até a janela, sentou no batente e observou a lua cheia. O brilho noturno apenas serviu para regar os pensamentos que o mantinham acordado, todos sendo sobre Soonyoung e tudo que estava sentindo.
Então, com um estalo, ele lembrou da música que tinha como favorita e do trabalho que deveria entregar na manhã seguinte. Havia esquecido novamente.
Buscou um caderno e encarou a folha em branco por um tempo, pensando na letra da música e buscando inspiração.
Logo começou:
Eu não sabia que você estava aí
Não sabia quem você era, até você chegar como um furacão
Bagunçando tudo aqui dentro, e paradoxalmente, deixando tudo exatamente onde deveria estar
E agora que te conheço, te quero de volta
Te quero de volta toda vez que vejo você ir embora
O que me consola é a certeza de que te verei na manhã seguinte
Mas, enquanto a manhã não chega, eu fico sozinho, observando a lua iluminando meus pensamentos
E pergunto a ela, se eu sou merecedor de tanta sorte
Assim que terminou, sorriu satisfeito.
Chapter 15: Café Americano
Chapter Text
— A gente se beijou.
— AAH! Caralho, finalmente!
Soonyoung riu alto, deixando que Joshua, seu primo, segurasse suas mãos e desse pulos de alegria enquanto gritava vários “aleluia”. Estavam sozinhos em casa, no quarto que dividiam, e o alfa finalmente estava contando onde havia passado a tarde.
— Eu sei! Eu tô tão feliz que eu vim dançando o caminho todo! — o alfa exclamou, jogando-se em sua cama e batendo as pernas no colchão, igual adolescente em filme clichê. — Nem vou dormir essa noite com medo disso ser um sonho e eu acordar sozinho.
O beta riu, aproximando-se do maior e beliscando seu braço com força.
— Ai, caralho! Pra que isso?
— Agora você sabe que não tá sonhando — sentou-se ao lado dele. — Você vai ter que me contar tudo direitinho, do início ao fim!
— Ai, tá — ajeitou a postura rapidamente. — Primeiro, ele veio falar comigo na escola, aí…
Foi interrompido quando a porta do quarto foi aberta, a mãe de Joshua havia chegado. Ela era uma bela ômega branca de meia idade, nascida em Los Angeles.
— Oi, meninos, chegamos — ela disse. — Venham ajudar a gente com as compras.
— A gente já vai, mãe, só deixa o Soonyoung terminar de contar sobre o namoradinho dele…
— Ele não é meu namorado — exclamou, empurrando o primo. — Ainda!
— Gay! — o beta riu.
— Chega. Não quero ouvir essa palavra aqui dentro e não quero vocês falando nesse assunto — a mulher disse séria, matando o clima amigável entre os jovens.
Soonyoung fechou a expressão e Joshua abaixou a cabeça.
— Já estamos indo, mãe.
— Ótimo, venham logo — então ela saiu batendo a porta.
Soonyoung bufou e revirou os olhos, levantando para fazer o que foi mandado. Olhou para seu hyung que ainda estava sentado na cama, encarando os próprios dedos enquanto crispava os lábios.
— Você não pode continuar escondendo… — tentou se aproximar, porém o beta levantou, passando por si enquanto secava o rosto de forma rápida e discreta.
— Não tô escondendo nada.
O alfa suspirou.
Estava fora do seu alcance.
[...]
Na manhã seguinte, Soonyoung chegou à escola com muito bom humor, ou quase isso. Alguns desentendimentos em casa abalaram um pouco seu ânimo, mas uma troca de mensagens com Jihoon antes de dormir e ele já estava dando pulinhos por aí.
Ainda estava difícil acreditar que, finalmente, havia beijado Lee Jihoon. Muitos diriam que não era grande coisa, era só um beijo, mas não para ele(s).
Foram passos muito pequenos e cautelosos até que chegasse àquele ponto. Aproximar-se do ômega foi mais difícil do que ele esperava, mas não menos emocionante, e ele não se arrependia de nada e faria tudo de novo se fosse preciso.
Andou até seu armário para fazer a troca de materiais e achou ali o livro de poesias que havia pego na biblioteca.
— Que merda, esqueci disso — murmurou sozinho ao pegar o objeto.
Guardou os livros didáticos e fechou a porta. Jogando a mochila sobre o ombro, ele andou até as mesas que ficavam no pátio, que estavam deveras vazias naquele horário.
As aulas começariam em 20 minutos e seus amigos provavelmente chegariam atrasados, já que ficaram a noite inteira jogando online, então Soonyoung decidiu fazer um esforço e começar a ler.
As poesias eram curtas e simples, em menos de 10 minutos, Soonyoung havia lido quase metade do livro não muito grande, mesmo que tivesse que ler algumas páginas mais de uma vez para que entendesse por completo.
Estava distraído com as palavras e nem notou um certo ômega aproximando-se de si quase que na ponta dos pés.
— Bom dia, Soon-ah — Jihoon falou baixo, pertinho do ouvido do mais velho, fazendo-o ter um pequeno sobressalto. — Quem estava viajando agora, ein? — riu ao sentar ao lado dele.
— Bom dia, Jihoonie — sorriu fechando o livro e virando para o menor. — Eu estava distraído por sua causa, viu?
— Posso saber por quê?
— Eu estava lendo, e você me convenceu a ler — explicou mostrando o livro. — É realmente bom esse, li quase metade agora.
— Uau — soltou, aproximando do maior. — Por que eu me sinto mais atraído por você agora?
— Como é?
— Brincadeira — Jihoon riu, desviando o olhar. — Eu, com certeza, não te acho mais atraente agora, você não fica incrivelmente bonito segurando um livro.
— Caralho, você tem fetiche em livro.
Jihoon riu alto, batendo em seu ombro e escondendo o rosto corado.
— Cala a boca, vai — resmungou.
— Vem calar — provocou, vendo o ômega fechar a cara e lhe encarar sério. — Ai, brincadeira, não precisa me olhar assi…
Teve sua fala cortada quando Jihoon lhe deu um selinho, sorrindo sapeca em seguida ao ver a feição surpresa do alfa.
— Calei.
Soonyoung o encarou sem reação, o canto dos lábios tremendo em um sorriso eufórico demais.
Droga, o que poderia fazer?
— Posso beijar você? — perguntou baixinho.
O sorriso do ômega foi ficando menor, seu rosto foi ficando corado aos poucos e ele apenas conseguiu assentir com a cabeça, deixando que Soonyoung se aproximasse e beijasse-o.
Fechou os olhos e deixou que o maior tocasse seu rosto enquanto deixava selares demorados em seus lábios, os dedos longos acariciavam suas bochechas e nuca, causando um arrepio e um frio na barriga.
Assim que quebraram o contato, Soonyoung sorriu e roçou seus narizes, fazendo Jihoon rir baixo.
— Oi, Jih! — ouviram a voz de Jeonghan se aproximando. Jihoon afastou-se um pouco do alfa para ver o amigo que vinha em sua direção. — Eu nunca mais quero ver você reclamar de mim e do Cheolie, onde já se viu ficar beijando em plena sexta de manhã?
Jihoon bufou revirando os olhos.
— Não mandei você olhar.
— Eu sei, mas eu olhei mesmo assim. É estranho te ver beijando alguém, mas é fofo, eu até tirei uma foto de vocês — mostrou o celular aberto numa imagem dos dois com os lábios colados. — Fofos, né?
— Faz o favor de apagar isso? Qual o seu problema? — brigou o ômega, indignado.
— Pode me mandar essa foto antes de apagar? — Soonyoung pediu, levando um chute leve de Jihoon.
— Claro — o mais velho sorriu. — Ah, Jih, Nonu e eu queremos ir na sua casa qualquer dia. A gente quer pintar nossos cabelos e você vai junto nessa.
— Ok, eu preciso ajeitar meu cabelo mesmo, a raiz tá crescendo de novo.
— Verdade, então a gente vê um dia depois — ele sorriu animado. — Eu vou indo, vou deixar os dois a sós — piscou para eles. — Ah, mais uma coisa. Soonyoung, você sabe que eu te adoro, mas eu tenho a obrigação de te dizer: se você machucar o Jih, eu faço da sua vida um inferno — sorriu doce, deixando o local em seguida.
Jihoon riu baixo ao ver a expressão assustada do alfa.
— Ouviu, né?
— Ouvi, e tô considerando se quero mesmo ficar com você — brincou, vendo a forma indignada que o ômega lhe olhava. — É brincadeira, eu quero sim, muito — aproximou-se e selou seus lábios, sentindo-o sorrir contra sua boca. — E eu prometo que não vou te machucar. Nunca de propósito.
— Pra ser sincero, eu não consigo imaginar você me magoando em nenhum momento — sussurrou o menor, sentindo o sangue pulsar pelas bochechas, envergonhado ao falar aquelas coisas. — Você parece bom demais pra ser verdade, sabe?
Soonyoung, por sua vez, sorriu feliz, um tanto sem jeito, não sabendo como reagir àquilo. Ainda temia estar sonhando, pois aquela realidade parecia muito distante.
— Eu adoro você — falou baixinho, olhando o ômega nos olhos. — Você é incrível e eu ainda tô com medo de cair da cama a qualquer momento.
Jihoon riu, desviando o olhar enquanto mordia os próprios lábios.
— Como eu disse, bom demais pra ser verdade.
Antes que pudessem continuar, o sinal tocou anunciando que faltava pouco para as aulas começarem.
— Droga, eu preciso ir, tenho que falar com o professor Kim antes de ir pra aula — disse o menor, levantando-se depressa e jogando a mochila sobre os ombros. — Depois a gente se fala.
Selou rapidamente os lábios do alfa antes de sair caminhando às pressas pela escola. Soonyoung soltou um suspiro apaixonado, observando o baixinho desviando de algumas pessoas enquanto caminhava.
— Eu tô tão ferrado.
[...]
Assim que o sinal tocou, os alunos saíram rapidamente para o almoço. Já Jihoon, seguiu contra a multidão de alunos até a sala onde estava o professor de coreano, ele ainda estava lá tirando dúvidas de alguns alunos.
— Com licença, professor — bateu na porta timidamente. — Posso falar com você?
— Claro, entre — respondeu, voltando a falar com os outros alunos.
O ômega entrou e ficou esperando perto da porta o professor explicar para os alunos uma questão sobre um livro de literatura clássico.
Logo, os alunos saíram e o baixinho se aproximou.
— O que você precisa, Jihoon-ah?
— Eu queria te entregar o trabalho, o senhor disse que eu poderia entregar hoje — mostrou a folha.
— Ah, sim claro, posso ler agora? — perguntou o homem ao pegar o papel, empurrando os óculos de grau. Jihoon concordou e ele começou a ler.
O ômega esperou poucos segundos até que o ensinador terminar a leitura, ele aproximou-se pegando o trabalho de volta.
— Está simples, mas está bem feito, se você não tivesse esquecido podia ganhar nota máxima — disse o professor.
— Eu sei, não vou mais esquecer, eu prometo — sorriu.
Jihoon estava virando para sair quando foi chamado novamente:
— Jihoon-ah, tudo bem se eu perguntar sua inspiração para escrever esse poema? Digo… você é tão tímido e…
— Jihoonie! Te achei! — Soonyoung exclamou ao parar na porta, com um sorriso de orelha a orelha e uma expressão cansada. — Oi, professor.
O ômega olhou para o mais velho, apontando discretamente para o alfa na porta, logo se despediu e foi até o Kwon.
— Oi, Soon — sorriu, deixando o alfa lhe dar um selinho rápido.
— Quer almoçar comigo hoje? A gente pode ficar embaixo daquela árvore.
— Claro — assentiu, estendendo a mão para o alfa, que a segurou. — Eu entreguei o trabalho hoje. Depois eu deixo você ler.
— Por que? É sobre mim? — brincou.
— É, sim — afirmou, vendo o olhar surpreso do mais velho. — Eu disse que você é uma má influência, mas eu até que gosto disso.
Ele riu envergonhado, dando de ombros sem saber o que falar. Cruzou seus dedos com os do ômega e seguiram o caminho até o pátio da escola. Sentaram sob a sombra da mesma árvore, as flores estavam começando a aparecer pela chegada da primavera e a cair pela brisa suave.
— Faz um tempo desde que almoçamos juntos — comentou o alfa, separando os hashis. — Lembra que você tocou pra mim naquele dia?
— Lembro, mas você nunca mais pediu.
— Agora eu não preciso mais arranjar tantas desculpas pra ficar com você — piscou para o menor, que riu abaixando o rosto corado. — Falando em desculpas pra ficar com você, quer assistir um filme lá em casa hoje?
Jihoon ergueu as sobrancelhas, pensando na proposta enquanto levava um pouco de comida à boca.
— Você diz só assistir filme, ou você diz "assistir filme" como uma desculpa pra gente se beijar?
Soonyoung riu baixo, como se tivesse sido pego no flagra.
— O que você quiser — olhou-o. — Não vou tentar nada que você não queira, sabe disso, né?
— Eu sei, mas é só... — deu de ombros. — Você sabe que, se eu for, não vai acontecer nada além de beijos, né?
O alfa ficou sério, aproximando-se do mais novo e segurando seu rosto em forma de concha, de forma delicada.
— Jihoonie, você sabe que meu interesse por você não é só sexual, não sabe? Eu te acho lindo pra caralho, mas a gente começou a ter alguma coisa literalmente ontem, e eu sei que você é inexperiente, eu também sou com a maioria das coisas — contou de maneira doce, tendo os olhinhos brilhantes do ômega presos em si. — Eu gosto de estar com você, eu gosto da sua companhia, beijar você é só um bônus. Um bônus muito, muito bom, mas só um bônus.
Jihoon sorriu, tocando as mãos do alfa sob seu rosto e inclinou-se para esfregar seu nariz ao dele.
— Porra, Soonyoung, você é mesmo de verdade? Parece que você tem meu manual de instruções, alguma coisa assim, porque você sempre fala a coisa certa pra me deixar todo… ugh!
O outro riu em resposta, abraçando o menor pela cintura e lhe dando um selinho rápido.
— Você pode não acreditar, mas é muito fácil não ser um babaca, você também acha que eu sou incrivelmente perfeito, mas eu sou só… eu — falou, referenciando a música que o ômega havia lhe mostrado no dia anterior.
— E eu te acho incrível só sendo você.
— Se a gente continuar assim, vamos ficar só se elogiando e vamos esquecer de almoçar.
— Tá certo — deu um selinho no alfa antes de se afastar e voltar a comer.
— Você ainda não respondeu se vai querer assistir o filme na minha casa.
— Ok, eu vou — afirmou. Soonyoung fechou os punhos em comemoração. — Mas se for de ação eu vou dormir.
— Ai, como pode isso? Melhor gênero que tem — resmungou, fingindo indignação. — Mas eu já sei qual filme vamos assistir.
— Qual? Depois daquela bomba que a gente assistiu no cinema, eu não sei se confio em você pra escolher.
— Confia em mim, vai ser o filme daquele livro que você gostou, sabe? Aquele que o cara se apaixona pela idosa — explicou, fazendo Jihoon franzir o cenho.
— Mas não tem um filme.
— Tem sim, eu fiz uma pesquisa e descobri — contou animado, pegando o celular no bolso da calça e abrindo o navegador. — Achei até que você já conhecia, você gosta tanto daquela história.
— Pra ser sincero, eu tô decepcionado comigo mesmo por não ter descoberto antes — aproximou-se do alfa para olhar o aparelho junto dele.
— Então vai ser legal, você não conhece o filme e eu não conheço muito bem a história, então vamos assistir juntos pela primeira vez — constou com entusiasmo, mostrando o celular aberto na página principal, que mostrava várias coisas sobre o filme de Ensina-me a Viver.
— Agora tô empolgado, nossa — o ômega sorriu, deitando a cabeça no ombro do maior.
Observou ele clicar no botão de voltar do celular várias vezes, voltando para pesquisas anteriores, até chegar na página do Google e fechar o navegador. Jihoon mordeu o lábio inferior e segurou a vontade de apertar Soonyoung entre os braços quando viu na tela, muito rapidamente, alguns lampejos de páginas onde ele conseguiu ler palavras como: “assexualidade”, “demissexualidade, o que significa?" e outras coisas que não conseguiu entender.
O alfa nem havia notado a forma que era olhado pelo outro, estando concentrado demais em seu almoço e nos planos que ele tinha para o restante da tarde juntos.
[...]
O caminho até a casa de Soonyoung levava pouco menos de 20 minutos a pé, era um pouco longe, mas Jihoon não se importou. Foram caminhando devagar, conversando sobre assuntos diversos, rindo e nem notaram o tempo passar.
O alfa deixou que o menor entrasse primeiro. A casa era grande e bonita por fora, possuía um pátio também grande, com flores bem cuidadas.
— Pode entrar, fica à vontade — ele disse, dando espaço para que Jihoon adentrasse.
Por dentro, a casa parecia ainda maior. A sala de estar era espaçosa, com decoração em tons de preto e cinza, com quadros abstratos nas paredes brancas. Uma televisão tela plana estava presa na parede, de frente para sofás grandes e escuros, uma mesinha de centro com um vaso com pedras coloridas em tons pastéis.
Mais para frente, dava para ver uma escada grande levando ao segundo andar, uma porta que dava entrada para a cozinha em estilo americana. Todo o local possuía uma aura fria, em preto e branco e toques muito sutis de cor.
— Sua casa é bonita — elogiou o baixinho, olhando ao redor admirado.
— Não é minha, é dos meus tios — o alfa deu de ombros, andando em direção às escadas. — Josh! Cheguei!
Jihoon juntou as mãos, parado no meio da sala, sem saber o que fazer. Soonyoung havia subido quase correndo, deixando-o sem saber se deveria o seguir. Entretanto, acabou esquecendo quase completamente onde estava quando viu dois gatos parados na entrada da cozinha, olhando para si com as pupilas dilatadas. Um deles era cinza de olhos verdes, o outro era um gato frajola, com pelos longos.
— Oi, nenéns — falou baixinho, com uma voz “fofa” que ele quase nunca usava. Aproximou-se devagar dos felinos, sentando no chão e se arrastando aos poucos para não assustá-los. Estendeu a mão e deixou que eles chegassem mais perto e o cheirassem, esfregando-se contra seus dedos em seguida. — Ai, meu Deus, que gatinhos mais fofos.
Sorriu sozinho, acariciando os bichanos enquanto Soonyoung não aparecia. O gatinho frajola havia subido no colo de Jihoon e brincava com o cordão de seu moletom, enquanto o cinza esfregava o rosto em seu joelho.
— Mas se conheceram agora e estão nessa intimidade toda? — virou o rosto ao ouvir a voz do alfa, que olhava para eles no pé da escada com um sorriso ameno. — Eles normalmente são bem antissociais.
— Onw, tô até me sentindo especial — brincou o ômega, acariciando ambos os gatos.
— Você já é — respondeu o alfa, sentando de frente para ele. — Meu primo não tá em casa, deve ter ficado pra estudar na escola dele, sei lá — deu de ombros, acariciando o gatinho frajola. — Esse é o Howl, ele é meu — apresentou. — E aquele é o Tokki, ele é do Shua hyung.
— Por que Howl?
— Porque eu gosto de Castelo Animado — disse simplista, dando um selinho rápido no menor, levantando em seguida. — Meus tios só chegam de noite, então você quer assistir filme na sala ou no quarto?
— Tanto faz — respondeu sem muito interesse, concentrado demais em brincar com Howl e Tokki.
Soonyoung riu anasalado, indo até a cozinha para fazer pipoca, aproveitando que o ômega estava distraído com os gatos.
Quando tudo estava pronto, Soonyoung buscou um cobertor e deixou tudo na sala. A muito custo, Jihoon deixou os bichanos e sentou ao lado do alfa, esperando ele colocar o filme.
— Você promete que não vai chorar? — pediu o maior assim que deu play.
— Não prometo nada — riu o outro, deixando que Soonyoung passasse um braço por seus ombros, numa espécie de abraço.
Jihoon sabia que, provavelmente, iria chorar, mas sua preocupação, entretanto, era que poderia cair no sono facilmente, visto que o cobertor cheirava á Soonyoung, e ele estava muito próximo dele. As essências estavam se misturando e acalmando um ao outro.
[...]
Jihoon estava chorando. Chorando muito. Lágrimas grossas escorriam por seu rosto e Soonyoung nem as via, pois estava surpreso demais com o rumo que a trama tomou. Faltavam pouquíssimos minutos para o filme acabar. Na TV, um carro corria em alta velocidade, intercalando com cenas em um hospital, com a música calma tocando ao fundo.
— ‘Peraí, ela morreu!? — o alfa exclamava indignado, intercalando seu olhar entre a tela e o ômega.
Jihoon estava preso entre chorar pela história e rir das reações de Soonyoung, que parecia mais imerso que si, apesar de falar muito.
O som alto do carro batendo calou o alfa por um tempo, as mãos grandes cobriam sua boca e os olhos ficaram vidrados na televisão.
— Ele morreu também!? Jihoon, ele morreu também!? — tocou o braço do menor às cegas, já que não tirava os olhos da tv.
O ômega riu baixo, segurando a mão dele.
— Não, ele não morre — acalmou-o, ouvindo o suspiro aliviado. — Ali ele, ó.
O personagem de Harold começou a tocar o banjo, virando para descer a colina, então os créditos começaram a subir.
Uma careta formou-se no rosto de Jihoon conforme ele começou a chorar como uma criança sem colo da mãe, cobrindo-se com as mãos enquanto tentava conter os soluços.
— Ah, Jihoonie, não fica assim — Soonyoung pediu, abraçando o menor, tentando acalmar seu pranto. — Pronto, pronto. Já passou, é só um filme.
— E-Eu sei, mas eu acho tão triste — murmurou, secando as lágrimas com as mangas do moletom. — Como você não chorou?
O alfa deu de ombros, ajudando-o a limpar seu rosto.
— Eu não choro muito fácil. Mas eu fiquei muito triste quando ela morreu, não esperava por essa.
— Mas eu te dei spoiler disso muito tempo atrás, lembra? A gente mal tinha começado a conversar, e eu terminei de ler na biblioteca, aí você apareceu — contou, tentando lembrá-lo.
— Eu lembro desse dia, mas eu só lembro que eu te abracei pela primeira vez — riu baixo. — Acha mesmo que eu funcionei depois de sentir seu cheiro tão de perto?
— Imagino que não — resmungou num riso baixo. Os cílios estavam molhados e o nariz levemente vermelho, algumas lágrimas fininhas ainda escorriam pelas bochechas. — Ai, que droga, eu não consigo parar de chorar.
Soonyoung riu baixo, beijando a testa do menor de maneira carinhosa, levantando em seguida para pegar seu celular.
— Que tal uma música pra animar? — propôs, logando o Spotify na TV.
Jihoon viu o alfa procurar por Yungblud e exclamou:
— Esse é seu plano pra me fazer parar de chorar? Que plano horrível, Soonyoung!
— Eu não vou colocar as tristes!
O alfa riu, colocando acting like that e aumentando o volume. Assim que a batida pesada começou a tocar, ele levantou e começou a dançar enquanto balançava a cabeça no ritmo.
Who’s that knocking at four in the morning?
(Quem está batendo às quatro da manhã?)
‘Cause it don’t rain, but tonight it’s pouring
(Porque não chove, mas nesta noite está chovendo)
Soonyoung cantava ao passo que movia seu corpo em passos sem ritmo, olhando Jihoon em forma de convite. Estendeu uma mão na direção dele, que aceitou e levantou-se com a ajuda do alfa, então começou a cantar também:
Uh, you like it more when I ignore it
(Você gosta mais quando eu ignoro)
And since I left, LA got boring
(E desde que eu saí, Los Angeles ficou entediante)
Conforme o refrão ia se aproximando, os dois dançavam e cantavam, pulando e balançando a cabeça. Soonyoung segurava o menor pelas mãos, incentivando-o a se soltar mais.
Hey, I’m back on my bullshit
(Ei, estou de volta na minha besteira)
You’re a libra, I’m a taurus
(Você de libra e eu de touro)
Heard you hooked back up with your ex
(Ouvi dizer que você voltou a ficar com seu ex)
And now you’re asleep on my doorstep
(E agora você está dormindo na minha porta)
Quando o refrão chegou, os dois cantaram a plenos pulmões, com um pouco de dificuldade por estarem dançando como doidos, a música estava alta e mesmo assim conseguiam ouvir um ao outro pela proximidade que estavam.
You’re way too hot to be acting like that
(Você é gostosa demais pra estar agindo assim)
Acting like that, acting like that
(Agindo assim, agindo assim)
I don’t wanna talk right now
(Eu não quero falar agora)
You’re asleep outside my house
(Você está dormindo do lado de fora da minha casa)
Jihoon estava se deixando levar pela música, era uma das que mais gostava de dançar. Pulava e cantava alto, rindo junto de Soonyoung, que cantava apontando para si e roçava seus narizes, causando mais risos em ambos.
You’re way too hot to be acting like that
(Você é gostosa demais pra estar agindo assim)
Acting like that, acting like that
(Agindo assim, agindo assim)
Antes de chegar a segunda parte da música, Jihoon abraçou o alfa pelo pescoço, selando seus lábios e deixando que ele segurasse sua cintura. A batida ficou mais distante conforme sentia a língua de Soonyoung se arrastar pela sua, lhe arrepiando daquela mesma maneira de antes, enquanto suas mãos seguravam e acariciavam-lhe a nuca.
Assim que chegou o refrão novamente, separaram o beijo. Soonyoung deixou selinhos sob seus lábios, cantando palavras soltas da música entre um selar e outro, fazendo Jihoon sorrir contra sua boca.
Porém, antes que outro beijo — ou outra música — pudesse se iniciar, a porta da frente foi aberta com certa brutalidade, fazendo com que os dois garotos se afastassem rapidamente.
O Sr. e a Sra. Hong falavam alto, parecendo bravos, tanto que quase não notaram a presença do ômega ali, estático com a situação.
— Soonyoung, o que é isso? Quem é esse? — o homem perguntou, a voz alta e grave deixava claro que ele era um alfa, assim como o cheiro forte de sândalo.
— Esse é Lee Jihoon, a gente… se conhece — deu de ombros. — Eu convidei ele pra assistir um filme.
— Hum — o homem soltou, olhando para o baixinho fixamente.
— Olá, senhor…
— Hong — Soonyoung sussurrou para si.
— Senhor Hong — curvou-se em cumprimento. — Sra. Hong.
— Ele é educado, pelo menos — comentou a mulher, passando por eles sem retribuir a saudação.
Jihoon não estava gostando de ficar ali.
— Oi, Jihoon-ah — entretanto, uma voz doce falou. Joshua caminhava devagar até ele. O beta havia chegado junto dos pais, mas manteve-se atrás deles, com a cabeça baixa até então. — É um prazer finalmente te conhecer.
— I-Igualmente — o ômega respondeu, ficando cada vez mais desconfortável, principalmente ao ver o rosto machucado do beta, que sorria gentilmente em sua direção.
Olhou de canto para Soonyoung, vendo que ele encarava o primo com os olhos arregalados, também surpreso pelos hematomas.
— Eu acho que vou indo, Soon-ah. Foi um prazer conhecer você — sorriu para Joshua, curvando-se para ele uma última vez antes de pegar sua mochila.
— Eu te levo até a porta — o alfa disse, guiando-o o baixinho.
O Sr. e a Sra. Hong nem estavam mais na sala, mas as vozes altas podiam ser ouvidas ao longe.
Assim que chegaram no portão, Jihoon conseguiu respirar mais aliviado, não entendendo que sensação estranha era aquela.
— Desculpa não poder te levar até em casa — Soonyoung disse, despertando-o dos devaneios. — Aconteceu alguma coisa, eles chegaram muito cedo, e eu preciso estar com meu primo.
— Não, claro, eu entendo. Não se preocupe, não está tão tarde, não tem perigo — respondeu olhando para o maior, que estava visivelmente aflito. Aproximou-se e tocou o rosto dele, trazendo o olhar para si. — Não foram seus tios que fizeram aquilo, né?
— Não! Eles nunca fariam isso, eu garanto, mas eu tô preocupado — mordeu o lábio inferior, olhando a casa por cima do ombro. — Manda mensagem quando chegar em casa tudo bem?
— Mando, sim — sorriu fechado, aproximando-se e deixando um selinho no maior. — Qualquer coisa, pode me chamar também, ok? Vou estar aqui.
— Obrigado, Jihoonie — retribuiu o selar.
O ômega lançou-lhe um último sorriso antes de seguir seu caminho.
Aquela, com certeza, não havia sido uma boa primeira impressão da família de Soonyoung.
Chapter 16: Café Macchiato
Chapter Text
Assim que Jihoon chegou em casa, mandou mensagem para Soonyoung, avisando que havia chegado bem, porém o alfa demorou algumas horas para responder, o que deixou o ômega aflito. Tentou se concentrar nas atividades da escola, nas conversas com seus pais durante o jantar, na montagem do berço de sua irmã, mas simplesmente não conseguia tirar Soonyoung da cabeça.
Ficava imaginando todos os cenários possíveis — e até os impossíveis — do que poderia ter acontecido assim que ele saiu, e não parava em lugar nenhum, apenas em um loop infinito de possibilidades inviáveis.
O que o consolava era que seria sábado no dia seguinte, então poderia esperar a madrugada inteira por Soonyoung, se fosse necessário. Bom… Pelo menos, não foi.
Era quase uma hora da manhã quando recebeu as mensagens do alfa.
[Soonyoung]
Oi, só consegui responder agr
Que bom que vc chegou bem
Acho que vc tá dormindo agr né
Eu tô na piscina
[Mídia]
Jihoon abriu o chat e viu as mensagens, acompanhadas de uma foto dos pés do alfa, mergulhados numa piscina grande.
eu tô aqui
tá td bem?
Achei que vc tivesse dormindo
Tá tarde
amanhã é sábado
não tem problema ir dormir um pouco mais tarde
Sim vdd
Posso te ligar?
Jihoon franziu o cenho com o pedido, mas concordou. Poucos segundos depois, apareceu na tela a ligação sendo feita. Ajeitou melhor os fones de ouvido e atendeu.
— Oi — falou baixinho. — Tá tudo bem?
Soonyoung suspirou do outro lado antes de responder:
— Não muito — no fundo da chamada, podia ser ouvido um som suave de água. — Meio que briguei com o Shua hyung.
— Você quer conversar sobre isso? — perguntou manso, notando o silêncio pensativo do alfa.
Levantou de sua cama e andou até a janela para sentar-se no batente, observando a rua iluminada pelos postes e pela luz da lua cheia.
— Promete que não vai contar pra ninguém?
— Prometo — fez um ‘x’ no peito, mesmo que o outro não pudesse vê-lo.
— Bem… Depois que você foi embora, eu fui conversar com o Joshua. Ele disse que alguns alunos da escola bateram nele, mas não explicou muito bem o motivo. Meus tios estavam muito putos, querendo falar com o diretor pra punir as pessoas que fizeram isso, mas ele insistiu que não precisava, ficaram discutindo por horas e, no fim, decidiram só tirar ele de lá. Vão tentar transferir ele pra nossa escola — contou. Jihoon permaneceu quieto, apenas murmurando algumas vezes para mostrar que estava ouvindo. — Ele vai estudar com a gente agora, pelo menos.
— Isso é bom — comentou, abraçando uma de suas pelúcias.
— Acho que sim. Mas enfim... depois que decidiram isso, eu tentei conversar com ele a sós porque eu tinha uma ideia porque ele tava machucado, mas ele ficou muito irritado — riu sem humor. — Meus tios tinham saído pra comprar uns curativos, então eles não ouviram, mas Joshua gritou muito, ele tentou me bater também, mas eu consegui só segurar as mãos dele — o ômega arregalou os olhos com o relato, porém continuou apenas ouvindo o mais velho. — Ele chorou bastante também, me disse umas coisas ruins, mas sei que ele só tava com raiva do que aconteceu. Ele não quis conversar e disse que queria ficar sozinho — suspirou ao terminar. — Dá pra imaginar que o jantar foi uma merda, né? — tentou brincar.
— Eu sinto muito, Soonyoung-ah — murmurou o ômega, incerto do que deveria fazer. — Acho que ele só precisa de um tempo sozinho, mesmo. Ele sabe que não foi sua culpa.
— Eu sei, mesmo assim é uma situação meio merda.
— Eu imagino — crispou os lábios, procurando pelas palavras certas, mas todas pareciam ter fugido. — Você… Não foram seus tios que fizeram aquilo, né?
— Não, não foi. Eles são muito sérios e tal, mas eles não são agressivos, eles nunca fariam isso — afirmou sério. — Eles são médicos, então eles têm o mínimo de ética. Eles só acabam sendo… éticos demais, eu acho.
— Como assim?
Soonyoung não respondeu de imediato, passou alguns segundos em silêncio, podendo ser ouvido apenas suas respirações e o barulho da água.
— Você quer saber por que ele voltou machucado?
— Só se você quiser contar.
Soonyoung suspirou novamente, o som da água ficou mais alto e Jihoon começou a se preocupar pelo frio que estava fazendo, e o fato que o alfa estava, provavelmente, no quintal de sua casa, no sereno.
— Joshua hyung não sente atração por mulheres — contou baixinho, segredando ao ômega algo que somente ele sabia até então. — Ele me contou uma vez quando a gente roubou bebida da mãe dele, ficamos bêbados e ele deixou escapar — riu baixo com a lembrança. — No dia seguinte, ele disse que falou da boca pra fora e que não era verdade, mas eu sei. E eu me sinto péssimo por estar contando isso, mas… Parece muito pra eu carregar sozinho.
Jihoon sentiu seu coração se partindo ao ouvir a voz embargada do alfa, sentiu um nó em sua garganta como se estivesse prestes a chorar também.
— Você não tá sozinho — respondeu firme. — Eu tô aqui. E tá tudo bem, eu não vou contar pra ninguém, esse segredo tá seguro comigo.
— Eu sei, por isso eu contei — fungou. — Mas eu não acho que deveria ser um segredo, não é justo, ele só tá mentindo pra ele mesmo. Ele esconde isso dos pais, mas eles meio que sabem, por isso tão sempre repreendendo ele, como se eles pudessem fazer essa parte dele sumir apenas ignorando ela.
— Eu entendo como você se sente, mas isso é uma questão dele e só dele. Você não pode dizer se ele deve, ou não, se assumir, até porque vocês têm vidas, amigos, pais, costumes diferentes — falou suavemente. — Mas eu sei que você só pensa assim porque gosta muito dele, então seria melhor você só apoiar ele, independente de qual decisão ele tome.
Um silêncio permaneceu por alguns segundos, sendo preenchidos apenas pelas fungadas de Soonyoung.
— É, acho que você tá certo — concordou o alfa. — É bom poder conversar sobre isso com alguém.
— Eu imagino — sorriu. — Mudando um pouco o assunto, você não vai ficar doente molhando os pés no frio?
— Não sei, acho que não — respondeu brincando com a água. — Eu não quero voltar pra dentro ainda, também preciso de um tempo sozinho.
— Entendi — mordeu o lábio inferior, apreciando o curto silêncio que se instalou entre eles. — Você quer ouvir o poema que eu escrevi pra aquele trabalho?
— Aquele sobre mim?
— É — concordou num riso, levantando para buscá-lo.
Sentou na janela novamente, tomando ar para começar a ler:
Eu não sabia que você estava aí
Não sabia quem você era, até você chegar como um furacão
Bagunçando tudo aqui dentro, e paradoxalmente, deixando tudo exatamente no mesmo lugar
E agora que te conheço, te quero de volta
Te quero de volta toda vez que vejo você ir embora
O que me consola é a certeza de que te verei na manhã seguinte
Mas, enquanto a manhã não chega, eu fico sozinho, observando a lua iluminando meus pensamentos
E pergunto a ela, se eu sou merecedor de tanta sorte
Assim que terminou, ficou em silêncio, esperando alguma reação de Soonyoung.
— Jihoon-ah — chamou baixinho.
— O que foi?
— A lua está linda hoje.
Erguendo os olhos para o céu, o ômega contemplou a lua cheia brilhante, com milhares de estrelas ao seu redor. Por fim, respondeu:
— As estrelas também.
Soonyoung sorriu do outro lado, admirando a noite estrelada. Quase conseguia sentir a presença do menor perto de si, seu coração batia em um ritmo diferente, sentia que já havia vivido aquelas sensações, mas sabia que não era verdade.
— Jihoon… — chamou-o, tentando organizar as palavras antes de dizê-las, mas o som de passos aproximando-se cortaram sua linha de raciocínio. — Eu preciso ir agora.
— Tudo bem. Qualquer coisa eu tô aqui, ok?
— Eu sei. Boa noite — respondeu, desligando a chamada em seguida.
Joshua aproximou-se e sentou ao seu lado. Sem dizer nada, ele mergulhou os pés na piscina também, causando mais movimento à água. Soonyoung também não abriu a boca, esperando.
— Me desculpa — o beta pediu, por fim. A voz doce saía quebrada, lágrimas fininhas escorriam por seu rosto. — E-Eu não queria… Eu não quis…
Num movimento rápido, o alfa puxou-o para um abraço apertado. Joshua fechou os olhos com força, enquanto retribuía o ato, derramando mais algumas lágrimas no ombro do mais novo.
— Tá tudo bem, eu sei que você não quis fazer nada daquilo — acalmou, afastando-se para secar o rosto do outro. — Me desculpa também.
— Você não fez nada de errado — negou com a cabeça, voltando a encarar a água. — Mas eu iria ficar feliz se você parasse de insistir naquela história.
— Ok, eu prometo — estendeu o dedo mindinho para o mais velho, que sorriu fechado e cruzou com o seu próprio. — Mas eu tô aqui pra você, ok? A gente tem que se apoiar, confiar um no outro.
— Eu sei — agitou os pés. — Pelo menos, vamos estudar juntos agora — sorriu, chutando um pouco de água no alfa.
— Para — riu ao defender-se dos respingos. — Mas, sim. E eu não vou deixar ninguém te machucar.
Olharam-se, sorrindo cúmplices.
— É injusto, eu sou o mais velho, eu deveria proteger você — resmungou.
— A gente protege um ao outro, então — propôs Soonyoung, aproximando-se um pouco mais.
— Fechado — tocaram seus punhos, selando o “acordo”.
Soonyoung inclinou-se, tocando o rosto do beta com delicadeza, vendo ele fazer careta pela dor.
— Ainda quero quebrar a cara de quem fez isso — resmungou irritado, balançando a cabeça para afastar alguns pensamentos.
— Não foi nada, já passou. Eu não vou mais voltar naquela escola — deu de ombros.
— Jihoon ficou preocupado com você — contou, como quem não quer nada. Joshua riu anasalado. — Ele achou que tivesse sido os tios que te bateram.
— Credo, que horror — negou com a cabeça. — Eles passam muito a vibe errada, e a gente já cansou de dizer isso.
— Pois então. Azar deles — riram juntos e ficaram em silêncio em seguida, até Soonyoung perguntar: — O que você achou dele?
Joshua ficou quieto por alguns segundos, ergueu os olhos e fez um bico ao ponderar.
— Eu não consegui falar muito com ele, mas ele parece legal — falou. Soonyoung sorriu, um pouco aliviado. — Vai me apresentar quando eu for pra escola?
— É claro — abraçou-o pelos ombros.
— A gente pode entrar agora? Tô quase congelando.
Soonyoung riu, levantando em seguida e estendendo a mão para ajudar Joshua.
— Vamos, tá tarde.
[...]
Jihoon dormiu até perto de meio-dia naquele sábado, acordou apenas com sua mãe avisando que iria trabalhar e deixou o almoço pronto. Seu pai também estava trabalhando, visto que nos finais de semana os horários do salão ficavam lotados.
O ômega aproveitou o sono, levantou para comer e decidiu tomar um banho antes que os amigos chegassem. Assim que desligou o chuveiro e se secou, seu celular começou a tocar, atendeu enquanto limpava o espelho embaçado.
— Oi, hyung — colocou no viva-voz.
— E aí, Jih? Nonu e eu estamos a caminho, daqui uns vinte minutos estamos chegando — Jeonghan falou, o som saindo abafado pelo vento que soprava na rua.
— Certo, tô esperando — respondeu secando os cabelos com a toalha.
— Eu comprei a tinta preta que você pediu.
— Certo, obrigado. Venham rápido.
— Ok.
Encerrou a ligação e deu play na música novamente. Encarou seu reflexo no espelho e deu de ombros, acatando uma ideia. Abriu o armário embaixo da pia e pegou uma máquina de seu pai.
— Caralho, o que você fez? — Jeonghan perguntou ao entrar no banheiro de Jihoon. A porta da frente estava aberta então o alfa tomou a liberdade de entrar, encontrando o mais novo no banheiro, com alguns fios de cabelo descoloridos sob a pia.
— Fiz um undercut — falou simplista, virando para mostrar melhor.
— Ficou legal — elogiou Wonwoo, entregando a embalagem da tinta preta para o menor.
— Valeu — sorriu abrindo o pacote. — Vocês querem começar?
— Sim, e já vamos começar com fofoca — Jeonghan tomou a frente, começando a falar sem parar sobre alguns alunos da escola, os quais Jihoon não conhecia ou não se importava o suficiente para lembrar o nome.
O banheiro da casa era bem espaçoso, então ficaram os três ali, Wonwoo encostado na porta enquanto Jihoon aplicava descolorante no cabelo do mais velho, que por sua vez, continuava falando sobre outras pessoas.
— Vocês nem tão prestando atenção na história! — reclamou o Yoon, cruzando os braços.
— Eu tô. Minho e Siwoo estão namorando, mas umas pessoas viram o Siwoo beijando outra pessoa — Wonwoo defendeu-se.
— Eu tô mais concentrado em descolorir seu cabelo sem causar um corte químico — Jihoon disse, aplicando a mistura com a ajuda de um pincel. — Mas eu não conheço essas pessoas, então não iria estar interessado de qualquer jeito.
— Tá, então nos conta como estão as coisas com o Soonyoung — pediu o mais velho, virando animado para olhar o ômega.
— Vira pra lá, antes que eu tire a cor das suas sobrancelhas — empurrou-o levemente pelos ombros. — Mas tá tudo bem. Eu fui na casa dele assistir filme ontem, não aconteceu nada, a gente só assistiu filme mesmo. Conheci os tios e o primo dele, mas não foi uma boa primeira impressão.
— Ih, por que? — Wonwoo se interessou.
— Eles parecem só… — fez careta, dando de ombros. — Sei lá, muito sérios e… Não sei, é uma energia muito estranha.
— Eu ein — Jeonghan resmungou. — O primo dele também?
— Não, o primo dele parece legal — contou, deixando o pote do descolorante sob a pia. — Ele vai estudar na nossa escola por causa de umas coisas que aconteceram, acho que vamos conhecer ele um pouco.
— Ele é bonito? — Wonwoo perguntou, sentando na cadeira onde Jeonghan estava anteriormente.
Jihoon franziu o cenho com o questionamento, ajustando uma toalha nos ombros do maior antes de responder.
— Acho que sim — deu de ombros, começando a aplicar descolorante nos cabelos do alfa.
— Mas com certeza Mingyu é mais, né? — Jeonghan riu, fazendo os dois fazerem caretas confusas, olhando-o de forma engraçada. — Tô dizendo que quando a gente gosta muito de alguém, essa pessoa é a mais bonita do mundo pra gente.
— Ah, tá, agora você que traduziu eu entendi — Jihoon disse. Wonwoo riu baixo.
— Mas é verdade, acho Mingyu o homem mais lindo do mundo.
— Mingyu é realmente um bruxo, nunca ia imaginar Jeon Wonwoo tão boiola por alguém — o mais velho exclamou.
— Fazer o que, né? — o maior deu de ombros, rindo baixo. — Só tem uma coisa…
— Ih, o que foi? Seu sorriso morreu muito rápido — o ômega perguntou.
— Vai, Nonu, pode se abrir — o mais velho disse, sentando no chão de frente para o outro alfa.
Wonwoo suspirou baixo, remexendo-se na cadeira enquanto pensava como começar.
— É só que… eu tô um pouco inseguro, porque Mingyu disse que não quer fazer sexo comigo — contou, desviando o olhar. — Espero que esse assunto não te incomode, Jih.
— Do que você tá falando? — juntou as sobrancelhas. — Eu sou demisexual, não sou sexo repulsivo. Vocês acham que minha mente parou nos meus dez anos?
— Não, só não sabemos o quanto você se sente confortável…
— Não me importo que falem de sexo, ok? Continua a história — disse pincelando a cabeça do amigo, que riu anasalado.
— Mas é só isso mesmo — deu de ombros, brincando com os próprios dedos. — Ele disse que não quer fazer sexo comigo ainda…
— Ah! Ainda! — Jeonghan apontou, levantando-se rápido. — Ele não disse que não quer!
— Não dá no mesmo?
— Claro que não! Ele só não tá pronto ainda — explicou o mais velho. — Deve ser normal, seria a primeira vez dos dois…
— Mingyu não é virgem — Wonwoo interrompeu.
— Não!?
— Claro que não! Ele teve uns namorados antes, o Doyoon do time de futebol, por exemplo.
— Credo, aquele projeto de Chernobyl? — Jeonghan perguntou, tocando o próprio peito ao fazer uma careta de nojo.
— Pois é, mas isso não importa, eles terminaram há uns três anos — sacudiu as mãos. — Mas isso me deixa inseguro também, porque ele seria minha primeira vez. E não tem nada a ver com ele ser ômega e eu ser um alfa, foda-se isso.
— Ninguém falou nada sobre isso — Jihoon disse.
— Eu sei, vocês não ligam pra isso também. Eu ouvi uns idiotas da escola falando isso — resmungou revirando os olhos. — "Nossa, quem iria namorar um ômega que já deu pra meio mundo? Bibibi bobobó" — debochou, forçando uma voz fininha.
Jeonghan e Jihoon riram com a imitação do amigo.
— Que bom que você não liga pra isso — o ômega frisou.
— Eu não ligo mesmo — cruzou os braços. — Eu só fico inseguro, sabe? Porque ele tem experiência com isso, enquanto tudo que eu fazia era bater sozinho pensando nele.
— "Fazia"? — Jeonghan arqueou uma sobrancelha.
— Tenho meus momentos de fraqueza, vocês já viram aquele homem? Quase dois metros de pura gostosura — exclamou. Os amigos riram novamente, quase gargalhando pela sua declaração.
— Ai, o gado de namorado — o ômega riu baixo.
— Eu sou, não posso negar — o maior fez bico. — Mas é só isso... Ele ainda falou que não quer fazer sexo comigo, e sei lá, vai que é porque eu vou ser bem ruim? Porque, provavelmente, vai ser uma bosta até eu aprender, sabe? E se for por isso que ele não quer?
— Wonwoo, olha pra mim — Jeonghan falou, aproximando-se dele. Olhou-o fundo nos olhos e decretou: — Você tá ficando paranóico.
— Né? — Jihoon concordou, colocando uma touca no Jeon. — Você tinha que falar sobre isso com ele.
— É que nossa relação é um pouco complicada ainda — o maior disse. Levantou e Jihoon tomou o lugar dele, deixando que os amigos começassem a pintar seu cabelo.
— Complicada por que? — Jeonghan perguntou.
— Sei lá, a gente namora há quase um mês, mas eu não conheci a família dele, ele não fala muito sobre o passado — mordeu o lábio inferior. — Ainda piso em ovos algumas vezes.
— Mas você gosta dele — o ômega acrescentou. — E ele também gosta de você, então é melhor que vocês só conversem sobre isso.
— É, eu acho que seria o melhor — o mais velho comentou.
— Eu vou pensar — prometeu Wonwoo.
— O Nonu tá, literalmente, aquele meme: pintei o cabelo ao invés de fazer terapia — Jihoon falou, fazendo Jeonghan rir alto.
— Hahaha como ele tá engraçadinho — o maior ironizou, tocando a tinta escura que estava sendo aplicada nos cabelos do ômega, sujando o rosto dele em seguida.
— Filho da puta — xingou-o, limpando o rosto com a camisa velha que estava usando.
— Não fala assim, você sabe que minha mãe morreu — argumentou. Apesar do triste fato, o alfa não parecia melancólico.
— Ai, desculpa, mas foi sacanagem — reclamou o baixinho.
Wonwoo riu baixo, tentando tocar o rosto para sujá-lo novamente. Jihoon gritou e tentou segurar as mãos do amigo, esquivando dos dedos melecados enquanto Jeonghan apenas ria deles.
Depois de uma hora, os três já estavam prontos, com os cabelos pintados e secos. Jihoon com os fios pretos e o undercut feito por ele mesmo, Jeonghan optou pela cor rosa, diferente porém bonito, e Wonwoo pintou de cinza arroxeado.
— A gente vai parecer uns doidos na escola — o mais velho disse, olhando para o maior.
— Vocês dois, eu pintei de uma cor normal — apontou Jihoon.
— Tanto faz, ficou legal — Wonwoo deu de ombros, mais concentrado em comer o picolé em sua mão. — Por que tem tanto sorvete na sua casa mesmo?
— Minha mãe sente desejo todo dia — explicou o ômega. — Tem até sorvete de chá verde, ela misturou com molho shoyu.
— Que nojo — Jeonghan fez careta.
— Sim, mas ela gostou — o menor deu de ombros.
— Tá, mas mudando de assunto, o que você vai fazer no seu aniversário, Jih? — o mais velho quis saber, ajeitando-se no sofá para encarar o baixinho.
— Não sei ainda, meus pais querem almoçar com meus avós — contou sem muito interesse. — Vocês querem fazer alguma coisa?
— A gente podia fazer uma festa parecida com a do Seungkwan, o que você acha? — propôs o Yoon.
— Onde a gente faria? Isso é uma má ideia.
— Pode ser lá em casa, meus pais saem todo final de semana mesmo — Jeonghan ofereceu. — Vamos, vai ser legal! Você não vai precisar se preocupar com nada, você só precisa aparecer. Eu cuido da decoração, a gente pede ajuda pro Seungkwan pra chamar só o pessoal legal, cada um leva uma garrafa de bebida, seus pais são legais então eles vão amar a ideia…
— Tá bem! Eu prometo que vou pensar — Jihoon disse, fazendo Jeonghan sorrir animado.
— Você vai fazer 18, bora comemorar!
— É, pode ser legal, Jih — Wonwoo falou, abraçando o baixinho pelos ombros.
— Eu disse que vou pensar.
[...]
Os amigos passaram a tarde conversando, quando os pais do ômega voltaram para a casa, eles despediram-se, deixando os mais velhos descansarem. Jihoon ajudou seu pai com o jantar, visto que sua mãe parecia bastante cansada do trabalho. Conversaram durante a refeição sobre algumas coisas, a alfa contava sobre uma nova loja que foi contratada para arquitetar, empolgada com os desings da mesma. Quando o bebê nascesse, ela iria ficar de licença da maternidade, então estava trabalhando duro em alguns projetos.
Após o jantar, os mais velhos deitaram e Jihoon subiu para seu quarto também, ficando fazendo algumas tarefas enquanto escutava música. Estava concentrado em fórmulas de matemática quando um som de notificação interrompeu a melodia, seguido de vários outros e o ômega já sabia que era Soonyoung, enchendo seu chat de mensagens, como ele sempre fazia. Riu anasalado pela constatação, pegando seu aparelho e abrindo as mensagens do alfa.
[Soonyoung]
Boa noite
Como vc tá?
Fiquei off o dia todo kakak
A gnt saiu durante a tarde, meus tios foram fazer a matrícula do Josh na escola
Dps a gente saiu pra tomar sorvete no shopping
Fomos em algumas lojas
Eles quiseram comprar roupas novas pro hyung pq ele tava desanimado
Acho que essa é a linguagem do amor deles
oi
que legal que seu dia foi bom
tô começando a desconfiar menos dos seus tios
eu pintei e cortei meu cabelo hj
Jeonghan hyung e Wonwoo pintaram tbm
Ai que tudo
Posso ver?
Manda foto
não sei tirar foto
segunda vc vê
Aff que mentira
Vc tirou várias fotos quando a gnt foi pro fliperama
[Mídia]
[Mídia]
aaaa
não quero ver, apaga
Me chame de boiola mas essa é meu papel de parede
nossa
boiola demais
Fazer oq se vc me deixa todo bobo
Gif
Jihoon riu baixo vendo o gif de um desenho com cara de apaixonado e corações em sua volta. Procurou no teclado e enviou um gif de um coelhinho cobrindo o rosto, envergonhado.
Fofo
é minha sina
tava terminando o dever de matemática antes de vc mandar mensagem
Eu já terminei
Quer que eu mande as respostas?
não precisa, vou terminar antes de dormir
Tudo bem
Vai fazer alguma coisa amanhã?
não tenho planos
pq?
A gnt podia sair pra fazer alguma coisa
Seria muito gay eu dizer que tô com sdd né?
sim hahaha
mas...
eu tbm tô com sdd
AJNDIUNDIWUWAA
Pane no sistema, alguém me desconfigurou
hahahah bobo
mas se vc tiver alguma ideia eu topo
Ah sla
Qualquer coisa sabe
Domingo é um dia meio preguiçoso
Então a gnt podia sair pra caminhar num parque sla
hmm pode ser
te encontro na frente da escola
Lá pelas 14h?
pode ser
Yay
Vou parar de te atrapalhar agr
Termine a atividade
E me manda mensagem antes de dormir <3
ok
<3
Soonyoung sorriu ao ver o coração enviado por Jihoon. Bloqueou o celular e virou na cama, observando Joshua andar pelo quarto e arrumar os materiais em sua mochila, separando os livros didáticos e o uniforme que seria devolvido à sua antiga escola.
— Por que na sua escola vocês não usam uniforme? — ele quis saber, olhando o mais novo deitado de forma preguiçosa na cama, com um sorriso bobo adornando seus lábios.
— Nós usamos em dias importantes e em passeios — explicou o alfa. — O diretor é esse cara tipo… "muito mente aberta" — fez aspas. —, ele diz que escolhermos nossas roupas é um jeito de mostrar nossa identidade, e ele é bem individualista e tal. Ele só ficou bravo uma vez quando Chan usou uma saia… não é tão mente aberta assim.
— Quem é Chan? — Joshua franziu as sobrancelhas.
— Ah, é esse garoto da escola, ele se identifica como gênero fluído, então ele quis usar saia um dia que ele tava no feminino, mas muitas pessoas se incomodaram por algum motivo, e aí o diretor não gostou nada — contou sentando-se na cama. — Entendeu?
— Não muito bem, você falou coisas sem muito sentido pra mim — deu de ombros, dobrando a veste azulada e jogando sob a escrivaninha.
— Você não entende porque não conhece a comunidade lgbt. Só gente boa e sequelada, você iria adorar — riu baixo.
— Haha, muito engraçado — revirou os olhos, andando até sua cama, ao lado da de Soonyoung. — Você que passa muito tempo pesquisando sobre pessoas assim.
— Você diz pessoas como eu? — ergueu a sobrancelha.
— Sim, como você disse: boas e sequeladas — riu quando o alfa lhe mostrou o dedo do meio.
— Não sou sequelado — virou os olhos. — Só gay.
— Achei que você fosse bi…
— Ah, agora você sabe a diferença? — viu o outro rir enquanto checava o próprio celular. — Não, mas sério, é muito legal pesquisar sobre gêneros e sexualidades — Soonyoung começou a falar, enquanto Joshua estava concentrado em arrumar sua cama. — Recentemente, eu descobri que a assexualidade tem vários aspectos! Tem cupiosexuais, os sexo repulsivos, e demisexuais, que é como Jihoon se identifica!
— Ok, primeiro: você tá falando alto demais — o beta disse, pegando um livro que estava sob o móvel pequeno ao lado da cama. — Segundo: Jihoon, seu namorado?
— Ele ainda não é meu namorado, mas sim, esse Jihoon — sorriu, rolando na cama e abraçando um travesseiro. — Tô pensando em pedir ele em namoro…
— Não! Muito cedo! — o mais velho exclamou fechando o livro com rapidez, Soonyoung fez careta.
— Pessoas gays são assim! Nós adotamos bichinhos juntos no primeiro encontro!
— Você é bissexual! Se controla!
— Meninos! Falem mais baixo! — a voz do Sr. Hong reverberou pelo corredor, fazendo os dois garotos rirem contidos, cúmplices.
— Espera um pouco mais, vocês estão recém trocando beijos — o beta disse após uns segundos, voltando a abrir o livro. — Você pode assustar ele.
— É, eu sei — disse fazendo um beicinho. Ajeitou-se em sua cama e puxou seu cobertor. — Nós vamos sair amanhã
— Isso é ótimo — murmurou o outro, mais concentrado no livro em suas mãos. — Só não traz ele pra cá, já foi ruim o suficiente aquela vez. Vai demorar pra ele desfazer uma primeira impressão daquelas.
— Não, nós vamos pra um parque, provavelmente. A boa notícia é que você vai poder conhecer ele melhor na escola, já os tios… eles que lutem.
Joshua riu nasalmente, negando com a cabeça.
[...]
— Uau.
Foi o que Soonyoung disse assim que viu Jihoon de perto. Os cabelos tingidos de preto faziam um contraste bonito com a pele clara, ele também usava um moletom de cor escura.
— O que foi? — o baixinho perguntou, um pouco confuso e tímido pela reação do alfa.
— Nada, só… uau, você tá lindo — aproximou-se alguns passos, admirando-o de perto.
— Valeu — sorriu envergonhado, olhando para o maior. — Você também tá.
— Você fala isso porque realmente acha ou é só pra retribuir o elogio?
— É pra ver se assim você me beija antes da gente ir.
Soonyoung encarou-o por alguns segundos, pego de surpresa pela investida nada discreta do ômega. Então sorriu, chegando bem pertinho e segurando o rosto bonito com ambas as mãos antes de juntar seus lábios, deixando selinhos doces e suaves, o que fez Jihoon sorrir entre os beijos.
Assim que o ósculo foi quebrado, o ômega abraçou o mais velho pelos ombros, ficando na ponta dos pés para conseguir roçar seu nariz ao dele, admirando os olhos brilhantes de Soonyoung, apesar da visão ser meio engraçada pela proximidade.
— O que é isso? — Jihoon perguntou, tocando um pequeno machucado perto do olho esquerdo do alfa.
— O que? — franziu as sobrancelhas, levando seus dedos ao mesmo lugar que o baixinho tocava. — Ah, não foi nada — deu de ombros. — Eu disse que o hyung tentou me bater quando a gente discutiu. Tá tudo bem, já passou.
— Eu tô começando a ficar seriamente preocupado com sua situação familiar — cruzou os braços ao se afastar.
— Não precisa, eu garanto — sorriu, deixando um último selinho no menor antes de segurar sua mão e começarem a caminhar. — Você vai gostar mais do Shua hyung depois que conhecer ele.
— Ele parece legal, só não tivemos a chance de conversar.
— Ele já vai pra escola amanhã, aí eu “reapresento” vocês.
— Ok, mal posso esperar — sorriu, cruzando seus dedos com os do alfa.
Caminharam tranquilamente até um parque que tinha ali, não era muito grande, mas haviam diversas árvores, alguns brinquedos e várias crianças brincando acompanhadas de seus pais. Os dois garotos sentaram perto de uma árvore e conversavam sobre coisas da escola, provas que acharam muito difíceis, sobre os professores que eles gostavam e os que mal podiam ouvir a voz, algumas situações engraçadas que aconteceram em determinadas aulas.
— Aí duas alunas começaram a discutir com o menino, eu nem lembro porquê — Soonyoung contava animado, fazendo gestos com as mãos e rindo entre as falas. — Aí o professor tentou chegar perto pra acalmar eles e a Jeongyeon virou pro professor e falou: ‘Pera aí que eu tô discutindo aqui! — ouviu o ômega prender um riso. — Só que foi muito alto e inesperado, aí todo mundo na sala começou a rir.
— Adorei, de verdade — o mais novo disse, negando com a cabeça ao pensar no relato. — Sério, Jeongyeon é uma figura. Ela parece ser legal, já vi ela ajudando várias meninas pela escola.
— Ela é, mas ela assusta um pouco quando tá irritada — constou o alfa, olhando para o Jihoon, que brincava com a grama.
— Acho que é normal — murmurou, sentindo uma mão do outro acariciar sua nuca, tocando os fios mais curtos dali. — O que foi?
— Nada, só queria te tocar. Tudo bem?
— Claro, sem problemas — sorriu, aproximando-se um pouco mais do maior, deixando que ele o abraçasse de lado, apoiando a cabeça no ombro dele, inspirando o cheirinho de café fresco que tanto gostava. — Isso é legal.
— O que é legal?
— Estar com você, sei lá… — deixou a fala morrer no ar, não sabendo exatamente como continuar. — Nunca fiquei com ninguém antes, sabe? Eu nunca fui de me abrir pra qualquer pessoa que não fosse meus amigos, só gostei de uma pessoa a vida inteira e agora… eu gosto de você.
Soonyoung sorriu feliz, o coração agitando-se ao ouvir aquelas palavras. Abraçou a cintura de Jihoon, e virou seu rosto para chegar perto do dele, esfregando seus narizes antes de dar selinhos nos lábios rosados. Acariciou a bochecha dele com a mão livre, a outra apertava sua cintura de forma sutil — mas uma forma que ainda deixava o ômega com sensações estranhas no estômago.
— Eu também gosto de você — falou ao quebrar o contato. — Mas você já sabe disso.
— Me conta algo que eu não sei, então — pediu.
O alfa pensou por alguns segundos, buscando algo interessante para compartilhar.
— Eu já gostei de outras pessoas antes, mas nunca como eu gosto de você. Eu me sinto tão bem do seu lado, como se nada mais importasse, sabe?
— Sei — concordou, beijando a bochecha do maior. Soonyoung fechou os olhos conforme sentia os lábios alheios passeando por seu rosto, perto de sua boca, nas maçãs do rosto, próximo de seu ouvido… eram extremamente raros aqueles momentos, em que Jihoon apenas fazia o que tinha vontade, deixando-se levar pelos seus instintos, por uma parte sua que jurava não existir. Deslizou suavemente até o pescoço do alfa, aspirando a essência dele antes de deixar um beijo demorado ali.
Soonyoung arfou baixo, encolhendo os ombros e afastando-se um pouco do ômega ao sentir um arrepio forte demais passando por seu corpo.
— Eu trouxe uma coisa pra você — falou, antes que Jihoon pudesse questionar o porquê daquela última ação.
—O que é? — perguntou curioso.
Soonyoung pegou no bolso do casaco um saquinho pequeno, fechado por um laço ainda menor, tudo na cor branca. Entregou para o menor e esperou que ele abrisse. Tirou dali de dentro um anel de metal preto.
— Que bonito.
— É, então... — Soonyoung começou, ajeitando-se para segurar a jóia. — Eu vi em uns lugares na internet que usar anel preto no dedo do meio é tipo um “símbolo assexual'', aí eu pensei que você poderia gostar.
Jihoon abriu um sorriso enorme, vendo o alfa segurar sua mão e colocar o anel — que ficou grande demais, mas ele ignorou esse fato.
— Você é muito fofo — falou, tocando o rosto de Soonyoung lhe dando vários selinhos. — Sério… Ugh! Isso é tão adorável.
O alfa riu tímido, satisfeito com a reação de Jihoon.
— Que bom que você gostou — passou um braço pela cintura dele, beijando seu rosto. — Fiquei com medo que você não gostasse, ou não usasse anel.
— Eu normalmente não uso, mas eu vou usar esse — garantiu, olhando para a própria mão. — E você? O que você usa como símbolo bi?
— Eu sou a própria energia bi, saca só — apontou para as roupas. — Casaco xadrez, camisa pra dentro da calça, a barra da calça dobrada, all star.
Jihoon riu, cobrindo o rosto com uma mão.
— Agora que você falou, realmente, muito bissexual.
— Ah, muito obrigado, eu tento — mexeu nos cabelos, rindo em seguida. — Muita gente pensa que eu sou hetero às vezes.
— Se você não tivesse dado em cima de mim desde a primeira vez que conversamos, eu poderia pensar também.
— Primeiro: não dei em cima de você, eu tentava disfarçar — ergueu o indicador. O baixinho desviava o rosto por não conseguir conter uma risada. — Segundo: você tá se contradizendo, agora há pouco disse que eu tinha energia bi…
Jihoon calou Soonyoung ao segurar seu rosto e selar seus lábios. O restante da tarde seria todo assim.
Chapter 17: Limão e baunilha
Chapter Text
Wonwoo era um cara quieto, ele não falava muito.
Não por ter poucos pensamentos, ou pouco pra dizer, mas por não saber externar o que pensava. Ele achava que por isso se dava bem com Jihoon. Eles se entendiam, mesmo sem precisar falar tanto.
Mas havia certas coisas que ele gostaria de falar, mas nunca conseguiu, nem mesmo para seus amigos.
Por exemplo…
Sua mãe morreu quando ele tinha apenas 10 anos de idade. Seu pai batalhou muito para superar e poder criar dois filhos sozinhos, mesmo assim, seu irmão mais velho foi embora assim que conseguiu dinheiro e idade o suficiente. Desde então, eram só ele e o progenitor.
Wonwoo sempre foi quieto, e era muito novo quando tudo aconteceu, então não soube ao certo como ajudar o irmão, ou o que fazer quando via o pai chorando na cozinha de madrugada — o que piorou quando seu irmão foi embora. Nem mesmo sabia como deveria se sentir em relação aquilo, chorou pela morte da mãe apenas no dia do falecimento e no funeral, um choro silencioso que molhava seu rosto sem chamar atenção de ninguém.
Ele tentava ajudar com a casa, arrumando seu quarto quando acordava, fazendo a cama de seu pai quando ele saía para trabalhar, tentando lavar a louça mesmo que ele ainda fosse muito pequeno para alcançar a pia.
Seu pai estava tão cansado e estressado que quase não notava os esforços do filho, apenas "acordou" no dia que encontrou-o com um corte profundo no braço, tentando estancar o sangramento com o guardanapo da cozinha. Acontece que ele acabou se cortando por acidente quando tentou fazer uma tarefa doméstica.
O mais velho ficou desesperado, correu para o hospital mas, no fim, ele quem precisou tomar soro e ficar em repouso pois estava à beira de um colapso nervoso.
Alguns médicos o convenceram a falar com um terapeuta e isso ajudou, ele tentou ser um pai mais presente conforme o filho foi crescendo, acompanhando de perto as mudanças da puberdade.
Ainda assim, Wonwoo era quieto, não conversava sobre as coisas que aconteceram e não tinha amigos muito próximos, por não saber se aproximar das pessoas ou o que deveria falar perto delas.
Isso melhorou quando ele conheceu Yoon Jeonghan, no ônibus que ia pra escola. Quando o viu, não tinha nenhuma intenção de se aproximar, mas ao perceber que ele estava sendo importunado por um alfa, chegou mais perto e se pôs entre eles para afastar o homem como quem não queria nada, puxando um assunto qualquer com o menor para que o tal alfa fosse embora.
E, bem, depois disso Jeonghan permaneceu em sua vida. Tiveram a sorte de estudar na mesma escola no ensino médio e de Jeonghan ser uma pessoa muito social, pois apesar de Wonwoo ser quieto, o mais velho conseguia manter um diálogo com as poucas palavras do outro.
Junto de Jeonghan, veio Choi Seungcheol, seu namorado. Ele era um ômega doce, prestativo e atencioso. Sempre que Wonwoo não levava almoço — o que acontecia quase sempre —, o Choi sempre dividia o seu ou comprava algo para ele comer. Wonwoo passou a levar almoço todo dia para que aquilo não prejudicasse o mais velho.
Poucos meses depois, eles conheceram Jihoon ao defendê-lo de alguns alfas inconvenientes. Foi a primeira vez que Wonwoo realmente enfrentou alguém para defender outra pessoa, ele achou bom poder ajudar alguém daquela forma e, de praxe, acabou ganhando um novo amigo.
Jihoon também era quieto, mesmo assim falava mais que o Jeon, entretanto, eram seus silêncios que Wonwoo entendia melhor. Ele entendia, mais do que ninguém, o que era não conseguir expressar o que tinha em mente, e, por isso, sempre prestou atenção quando seus amigos estavam mais calados que o normal.
Era isso que ele e o ômega tinham em comum.
Ou quase.
Jihoon ainda conseguia falar melhor sobre seus sentimentos do que o alfa, essa era uma coisa que Wonwoo não sabia fazer, não se sentia bem fazendo e não era realmente algo que o incomodava. Ele não gostava de falar sobre o passado, mas sabia pedir ajuda quando era necessário, como quando Minghao o ajudou com o pedido de namoro com Mingyu.
Ah, sim… Kim Mingyu. Ele foi um acontecimento muito estranho e repentino na vida de Wonwoo.
Eles se conheceram perto da escola, quando alguns garotos estavam mexendo com o ômega e Wonwoo, como era de seu costume, tentou defendê-lo.
Estavam em menor número, então o alfa tentou afastar os outros conversando — de uma forma um tanto agressiva, pois estava irritado —, mas acabou não dando certo e ele levou um soco. Entretanto, antes que pudesse reagir, Mingyu segurou sua mão e o puxou para saírem correndo dali.
Conseguiram despistar os garotos quando entraram na escola, e o Kim levou-o para a enfermaria para ajudar a limpar o corte na boca.
— Foi muito corajoso da sua parte — Mingyu comentou, molhando o algodão com antisséptico. — Não precisava fazer aquilo.
— Eu sei, mas… Meio que é mais forte que eu — riu sem humor.
Mingyu sentou na sua frente, encarando-o.
— Você é inconsequente, então?
— Ah, não. Nem um pouco — balançou a cabeça, negando. — Só... — deu de ombros. — Acho que eu gosto de proteger as pessoas.
— Que fofo da sua parte — respondeu. Wonwoo pôde sentir uma pontinha de ironia. — Fique quieto agora — pediu, limpando o pequeno corte no lábio inferior do alfa.
— Aquilo... hum… Aquilo costuma acontecer muito? — perguntou, podendo ver o rosto do maior com mais calma e de perto.
— Só quando meu cheiro está muito forte, ou quando eu… simplesmente ando — revirou os olhos, jogando o algodão no lixo.
— Ah, que merda — resmungou, observando ele levantar e procurar algo nos armários. — Mas hum… É, você tem um cheiro doce pra um alfa, mas você é grande e parece forte, sabe…
A porta do armário foi fechada com força, assustando um pouco Wonwoo. O maior voltou a sentar em sua frente, pôs um pouco de pomada no indicador e aplicou no pequeno corte. Wonwoo sentiu a maciez do seu dígito e corou levemente.
— Não sou um alfa, eu sou um ômega — Wonwoo não pode impedir seus olhos de arregalarem, abriu a boca para falar algo mas Mingyu o interrompeu: — Eu sei, chocante! Mas você não pode falar nada, tá com pomada na boca.
O alfa desistiu de dizer qualquer coisa, ficando de boca fechada e apenas olhando ele andar de um lado para o outro, limpando sua mão e guardando a caixa de curativos.
Não tinham muito o que fazer, achavam que os garotos ainda estavam os esperando do lado de fora, então ficou observando Mingyu, notando-o pela primeira vez.
Já havia visto Mingyu pelos corredores algumas vezes, mas nunca havia prestado atenção nele. Talvez por achar que ele era um alfa, ou talvez por nenhuma razão.
Ele era bonito e era legal da sua parte estar o ajudando — mesmo que tenha levado o soco por causa dele.
— Acho que eu vou deixar você falar porque parece que você vai me matar com os olhos — o Kim disse, despertando-o de um transe, virou para ele e apoiou o corpo em um dos balcões. — O que foi?
— Você quer que eu diga a verdade ou só diga: “não é nada, me desculpe”? — perguntou, cruzando os braços e ajeitando a postura na cadeira.
— A verdade — cruzou os braços também.
— Ok. Eu estava pensando que você é incrivelmente bonito e que foi incrivelmente burro eu não ter notado isso antes.
Mingyu ergueu as sobrancelhas, olhou ao redor, perdido com a fala do menor.
— E-Eu… hum… — engoliu em seco, sem saber o que dizer.
— Me diz uma verdade também — pediu Wonwoo. — O que você pensa de mim, agora que você notou minha existência?
— Eu já sabia que você existia — discordou. — Você tem um cheiro bom de limão, já senti antes na escola.
— Oh — e assim, Wonwoo estava perdido também.
— Mas… — Mingyu riu anasalado, desviando o olhar. — Eu estava pensando em como eu odeio quando caras me perseguem, mas que foi legal você ter vindo me ajudar.
Wonwoo não se apaixonou naquela tarde, nem na primeira conversa depois do acontecido, nem quando finalmente teve coragem de pedir o número dele, nem na primeira madrugada que passaram acordados conversando.
Wonwoo não sabia exatamente quando se apaixonou por Mingyu, mas ele sabia que se apaixonava por ele todos os dias.
Não havia sido fácil se aproximar de Mingyu, ele era fechado no começo, demorava para confiar nas pessoas. Mas Wonwoo foi persistente, e não era como se tivesse muita escolha, porque havia se apaixonado perdidamente por Kim Mingyu.
Não demorou muito para que o ômega se apaixonasse também, pouco menos de dois meses e tudo que Mingyu conseguia pensar era Wonwoo... e isso deixava-o em pânico.
Ele não queria se apaixonar, não queria gostar de alguém, não queria passar por certas coisas de novo. Seu coração batendo mais rápido sempre que o Jeon sorria para si, era como um alarme apitando em sua cabeça, mandando-o correr para longe e ignorar todos aqueles sentimentos até que o alfa desistisse de se aproximar.
Bem, isso não aconteceu. Wonwoo fez tudo que era possível para chegar ao coração de Mingyu, teve que se aproximar devagarinho, com cautela para não assustá-lo.
No começo, gostaria apenas de ter a amizade do ômega, achava-o divertido, engraçado e eles simplesmente se davam bem, a conversa fluía com facilidade.
Mingyu foi a primeira pessoa fora de sua família que viu a cicatriz em seu braço, a primeira pessoa para quem Wonwoo contou a história, a primeira pessoa que o viu chorar. Não conseguiu controlar as palavras que saíram de sua boca quando o ômega perguntou a história daquela cicatriz tão visível, tampouco conseguiu segurar as pouquíssimas lágrimas que escorreram por seu rosto, silenciosas como sempre.
Wonwoo não sabia ao certo quando se apaixonou por Mingyu, mas teve certeza que estava apaixonado depois que o beijou pela primeira vez, na festa de Seungkwan.
Eles já estavam conversando há alguns meses então o alfa aproveitou a oportunidade da festa para se aproximar mais, conversando com ele sobre várias coisas enquanto bebericavam qualquer drink com álcool suficiente para deixá-los mais à vontade.
Apontavam para as pessoas presentes na festa, rindo do quão ruim eram alguns passos de dança, comentando sobre como Jihoon ficava extremamente sem graça perto de Soonyoung, tentando adivinhar sobre o que outras pessoas estavam conversando pelos cantos.
Mingyu estava encostado numa parede, Wonwoo na sua frente apoiando o cotovelo ao lado de sua cabeça. O maior era quem mais falava, apontando para os demais convidados e rindo de qualquer coisa. O alfa tentava acompanhar, mas tudo que via eram os lábios do Kim bem na sua frente, próximos demais e, ainda assim, tão distantes.
Não aguentando mais aquela tortura estabelecida por ele mesmo, Wonwoo largou o copo vazio e deixou que ele caísse no chão, segurou a cintura de Mingyu e aproximou seus rostos, mas não o beijou ainda.
O ômega ficou surpreso com a investida, prendendo a respiração ao sentir o calor do menor tão perto de si, o hálito quente se chocando contra seus lábios, dos quais Wonwoo não tirava os olhos.
— Por favor… — Mingyu sussurrou. Suas mãos tremiam e seu coração parecia prestes a explodir sua caixa torácica. — Por favor, não faz isso se for se arrepender mais tarde.
Wonwoo balançou a cabeça negativamente.
— Nunca — respondeu antes de segurar o rosto dele e, finalmente, beijar seus lábios.
Todos os poros de Wonwoo se arrepiaram.
Mingyu acabou gemendo curto com o contato, largando seu copo meio cheio sem pensar direito, abraçando o alfa pela cintura. A proximidade de seus corpos esquentando-os por fora, enquanto os toques de suas mãos e o contato de suas línguas aqueciam tudo ali dentro.
Wonwoo não esperou muito para prensar o ômega contra a parede. O álcool presente em seu organismo lhe tirando totalmente a timidez e lhe dando um pouco mais de coragem para que apertasse o corpo grande contra o seu.
Uma de suas mãos estava na cintura do maior, trazendo para o mais perto que conseguia — mesmo que já estivessem o mais próximo possível —, enquanto a outra segurava seu rosto, guiando o beijo, explorando cada canto da boca do ômega, tocando a língua dele com a sua e chupando-a sempre que tinha oportunidade.
Em dado momento de sua vida, Mingyu passou a não gostar que outras pessoas o tocassem, mas a forma que Wonwoo lhe tocava parecia certa. Ele estava quase em êxtase, o menor tocava-o tão intensamente que sentia suas pernas ficando fracas.
Nunca havia sido tocado daquela forma.
Era como se ele fosse água e o alfa estivesse morrendo de sede.
Wonwoo quebrou o beijo para puxar ar, os pulmões doendo pela falta deste. O ômega, então, aproveitou a oportunidade para segurar as mãos dele, guiou-as para seu corpo, fazendo-o tocar seus ombros, depois deslizar para seu peito, que subia e descia frenético.
— Me toque, por favor — sussurrou, embriagado por ambos os entorpecentes: o álcool e os beijos de Jeon Wonwoo.
As mãos do alfa acariciaram seu corpo, apertando, tentando, novamente, trazê-lo para mais perto. Enquanto isso, Mingyu se permitiu afundar o rosto no pescoço branco do alfa, embebedando-se do aroma de limão amadeirado, não resistindo a tentação de beijar e marcar aquela pele.
Somente pararam ao serem interrompidos por um Chan bêbado demais. Mingyu saiu para ajudar o amigo, mas Wonwoo continuou parado, ainda formigando em todos os lugares por onde o ômega havia tocado.
É, Wonwoo estava apaixonado. Não levou muito tempo para que ele aceitasse aquele fato — literalmente um dia foi o suficiente —, mas ele não podia estar naquela relação sozinho, ele tinha que esperar por Mingyu.
Era como se o alfa estivesse com ambas as mãos estendidas em sua direção, enquanto ele continuava com os braços ao redor do próprio corpo, abraçando-se com medo.
Mesmo assim, Wonwoo conseguiu chegar até o coração do ômega, onde ele jurava que ninguém mais entraria, mas ele deveria imaginar que o Jeon seria diferente. Ele não desistiu quando Mingyu tentou afastá-lo — mesmo que inconscientemente —, pelo contrário, ele lutou ainda mais.
E assim, eles faziam um mês de namoro. Depois da declaração de Wonwoo na frente da escola, depois que Mingyu aceitou o pedido de namoro, eles não se desgrudaram mais. Gostavam de estar juntos, apesar de também ficarem ocupados com suas coisas pessoais e seus próprios amigos. E por mais que o ômega gostasse de estar junto do Jeon, ele gostava do espaço que tinha para si, diferente de suas outras relações, onde se sentia sufocado e abandonado ao mesmo tempo.
Eles gostavam de ficar na casa de Wonwoo alguns dias após a escola, o pai dele saía para trabalhar no final da tarde e eles tinham a casa somente para eles.
Por mais intenso que o primeiro beijo deles tenha sido, os que vieram nos dias seguintes não voltaram para aquele ponto. Nunca haviam passado de beijos e algumas mãos bobas, já que Wonwoo esperava até que o Kim estivesse confortável em avançar.
O problema era que Mingyu nunca mostrava intenção de dar esse passo e, bem, algumas inseguranças começavam a atormentar o alfa.
Seu pai já havia saído para o trabalho, então os dois garotos ficaram na sala, assistindo um programa qualquer. Mingyu estava ao seu lado, com a cabeça deitada em seu ombro enquanto prestava atenção na TV.
Wonwoo pensava no que Jeonghan e Jihoon haviam aconselhado. Buscava coragem para começar aquela conversa com o namorado, mas Mingyu era um tanto fechado sobre seus sentimentos e seu passado.
Mesmo assim, precisava tentar.
— Bae — chamou-o. — Posso perguntar uma coisa?
— Claro — ele respondeu, ajeitando-se no sofá para olhá-lo, porém o alfa encarava as próprias mãos.
— Você… — respirou fundo. — Você não quer fazer sexo comigo porque eu sou virgem?
Mingyu o encarou por alguns segundos, franzindo o cenho e piscando confuso.
— O que?
— É que… — Wonwoo afastou-se um pouco, virando na direção do ômega. — Eu sei que você já tem experiência nisso, enquanto tudo que eu fiz foi dar uns beijo na boca e bater umas pensando em você — sentia-se envergonhado por estar usando o mesmo discurso, mas não sabia pôr de outro jeito. — E eu entendo se for isso, porque provavelmente eu devo ser bem ruim mesmo, com certeza não vai durar nem cinco minutos a primeira vez, provavelmente vai ser horrível até eu pegar o jeito da coisa, ou talvez continue sendo horrível e... Eu não tô me ajudando, né?
Mingyu cobriu a boca ao rir baixo, tentando controlar-se pois percebeu que era um assunto um tanto quanto delicado, mas Wonwoo era naturalmente engraçado e fofo para si, principalmente quando ficava sem jeito.
— Não é por nada disso, amor, eu juro — falou, sorrindo da afobação do namorado.
Entretanto, logo ficou sério por ter que tocar naquele assunto. Aproximou-se e segurou a mão dele.
— É que... Eu não gostei de fazer sexo. Sempre que eu fazia era porque eu sentia que devia aquilo pra pessoa que estava comigo, como se elas merecessem me comer porque me tratavam minimamente bem — suspirou, não conseguindo encarar Wonwoo nos olhos. — E não foi muito legal. Meus parceiros nem se preocupavam em me preparar, então doía pra caralho e eu acho que só cheguei a gozar uma vez — riu sem humor. — E eu sei que você não é assim, eu sei que vai ser diferente, mas eu ainda tenho medo. Me desculpa.
— Você não precisa se desculpar, Gyu — aproximou-se, segurando o rosto do ômega entre suas mãos e beijando os lábios rosados de maneira apaixonada. — Eu entendo, e me desculpa por falar nisso, mas eu também fico inseguro às vezes.
— Por que você ficaria inseguro? — resmungou baixinho, roçando seu nariz no do mais velho.
— Porque você merece o universo inteiro e eu tô aqui tentando ser o suficiente pra você — ele disse sério, olhando no fundo de seus olhos.
Mingyu o encarou por longos segundos, sentindo seus olhos marejarem.
Por Deus, amava Jeon Wonwoo demais, e às vezes ainda sentia que nem merecia tanto assim. Estava tentando se convencer aos poucos de que merecia, sim, ser amado e tratado da forma que o alfa lhe tratava.
Abraçou-o pelos ombros e beijou-lhe os lábios novamente.
— Droga, eu amo você — falou, fazendo com que Wonwoo abrisse os olhos depressa.
— O que você disse?
E então, percebeu que aquela era a primeira vez que dizia amá-lo. Entretanto, não sentiu vergonha ou arrependimento. Pelo contrário, teve mais certeza.
— Disse que eu amo você — repetiu num sussurro, fechando os olhos quando o menor começou a beijar seu rosto e pescoço. — Eu amo você. Eu amo você, Wonwoo, amo demais.
— Porra, Mingyu, você não pode falar isso sem avisar — praguejou, apesar de sentir-se feliz, com o coração saltando dentro do peito. Segurou a cintura fina, cheirando o pescoço para aspirar o aroma doce. — Eu também te amo. Porra, eu te amo pra caralho.
Mingyu sorriu, deixando que o mais velho lhe puxasse para sentar em seu colo. Wonwoo beijava e cheirava seu pescoço, abraçando sua cintura, quase enfeitiçado pelas palavras e a essência de baunilha.
— Eu amo você.
— Eu também amo você — o mais velho respondeu, deixando vários selinhos em seus lábios.
O ômega sorriu, sentindo lágrimas fininhas escorrendo por seu rosto. Estava feliz.
Abraçou Wonwoo pelos ombros, puxando-o para mais perto e beijando seus lábios com rapidez, com vontade, com desejo. Deixou que o menor chupasse sua língua e apertasse sua cintura, sentia a pele quente dele se arrepiando conforme arranhava de levinho sua nuca.
Em meio ao ósculo, Mingyu deslizou uma mão com uma suavidade ímpar do peito do alfa até o cós de sua calça, entretanto, antes que pudesse fazer qualquer coisa, seu pulso foi segurado e Wonwoo quebrou o contato de seus lábios com arfares pesados.
— O que foi? — o ômega perguntou, confuso pela ação do namorado.
— A gente não tem que fazer se você não quiser, eu não falei aquilo pra... Te convencer, pressionar, nem nada disso — explicou, com medo do maior estar se forçando.
Porém, Mingyu sorriu de canto, de um modo que deixou-o hipnotizado, aproximou-se e sussurrou no ouvido do alfa:
— Eu sei, amor — deixou um selar suave perto de sua orelha. — Eu não quero fazer sexo agora. Mas isso não quer dizer que a gente não possa tentar umas coisinhas, certo?
— D-Do que você tá falan- ah! — Wonwoo gemeu, sem conseguir se controlar, ao sentir a mão grande de Mingyu tocar seu membro por cima da calça, apertando levemente e acariciando de maneira intensa, fazendo-o pulsar dentro das roupas. — Mingyu... Mingyu, por favor, isso é…
— Calma, amor — sorriu doce, beijando os lábios do mais velho. — Vou fazer você se sentir bem.
— Sim, sim, por favor — segurou a cintura dele, afundando o rosto em seu pescoço, deixando lambidas e mordidas leves. Ondulava o quadril na direção do ômega, esfregando-se contra a palma quente e os dedos esguios. — Porra...
— Você fica tão bonito assim — Mingyu sussurrou, suspirando a cada mordida mais forte que era depositada em sua pele.
Abriu o botão da calça de Wonwoo e trouxe o membro grosso para fora. Tentou baixar os olhos para ver, mas o alfa segurava sua nuca com um pouco de força, empenhado em brincar com a pele de seu pescoço e as orelhas (onde sabia que Mingyu era sensível), pois ainda não sabia se podia tocá-lo mais intimamente.
Um gemido mais alto ficou preso na garganta do menor quando o ômega começou a masturba-lo devagar e intensamente. As unhas curtas arranhavam a nuca de Mingyu. Vez ou outra, as mãos apertavam a cintura e o puxava para mais perto.
— Mingyu... Por favor — palavras desconexas escapavam de seus lábios, suor escorria por suas têmporas e seus olhos não paravam abertos. A audição era preenchida pelos barulhos molhados.
Porra, Wonwoo estava quase lá com tão pouco.
A mão do ômega subia e descia em sua intimidade, acariciando firme, apertando a glande entre os dedos e espalhando o pré-gozo para, então, deslizar com mais facilidade.
Não demorou muito tempo para que Wonwoo chegasse ao orgasmo, gemendo mais alto do que gostaria, agarrando a cintura de Mingyu e tentando beijar seus lábios de forma bagunçada, já que seu corpo inteiro tremia como nunca.
— Você gostou? — o maior perguntou sorrindo ladino.
— Nossa, pra caralho — Wonwoo sorriu, beijando os lábios do ômega mais algumas vezes. — Posso retribuir? — perguntou baixinho, descendo suas mãos para as coxas grossas, subindo para perto de sua virilha, ainda de maneira hesitante.
Mingyu mordeu o lábio inferior antes de acenar positivamente com a cabeça. Sentiu o próprio membro dando sinais de vida ao ouvir Wonwoo lhe oferecendo algo que ele, infelizmente, não estava acostumado a receber de outras pessoas: prazer.
O ômega fechou os olhos ao retribuir outro beijo de Wonwoo. As mãos firmes acariciaram o meio de suas pernas, podia sentir que o mais velho tremia, pelo nervosismo e pelo orgasmo recente, mesmo assim, ele estava decidido.
Sentiu o menor segurar em suas coxas firmemente, foi deitado no sofá com o corpo do alfa sob o seu, o ósculo foi quebrado pela falta de ar e Wonwoo voltou a distribuir beijos e leves chupões pelo seu pescoço.
— Você gosta do meu pescoço, não é? — riu baixinho, deixando o menor se encaixar entre suas pernas, o rosto corou pela posição um tanto íntima, porém Wonwoo não parecia se importar.
— Eu gosto de tudo sobre você — segredou rente aos lábios dele, mordendo o inferior em seguida. — Gosto dos seus olhos, do seu nariz, da sua boca — deu-lhe um selinho. — Dos seus dentes também, esses caninos afiados tão fofos — sorriu de canto, passando o polegar pelos lábios de Mingyu. — Eu gosto do seu pescoço, gosto de beijar ele e sentir seu cheiro que me deixa louco — sussurrou, encostando o nariz no local e aspirando a essência doce que, aos poucos, estava se misturando com a sua. — Eu ainda não vi, mas eu sei que vou gostar daqui — deslizou a mão pelo peito de Mingyu até seu abdômen, sentindo a barriga fazendo ondas. — Você é perfeito, Kim Mingyu, perfeito.
— Se você continuar assim, eu vou gozar só ouvindo você me elogiar — frisou o ômega, fechando os olhos envergonhado.
Todos seus pelos se arrepiaram ao ouvir Wonwoo rosnar baixinho.
Sua calça foi aberta com certa rapidez, o alfa segurou seu membro e começou a masturba-lo por cima da cueca, somente isso foi o suficiente para fazer o Kim gemer contido.
— Como você normalmente faz isso, amor? Como quer que eu faça? — Wonwoo perguntou, tão naturalmente que fez Mingyu corar ainda mais, virando o rosto avermelhado quando sua cueca foi abaixada também, e seu membro foi liberto dos tecidos. — Não vai responder?
Negou com a cabeça.
— Tudo bem, vou fazer como eu geralmente faço em mim — decretou o alfa, segurando o pênis do Kim firmemente, começando a subir e descer sua mão, aumentando o aperto ao chegar na ponta. Mingyu mordeu o lábio inferior, tentando inutilmente conter gemidos baixos. — Está bom, amor? Eu faço assim pensando em você, sabia?
— Wonwoo... Não diga essas coisas — pediu acanhado, finalmente abrindo os olhos para encarar o mais velho.
— Você não gosta? — inclinou levemente a cabeça.
— N-Não é isso, é que... É constrangedor — murmurou, abraçando o menor pelos ombros quando ele aumentou a velocidade. — Wonwoo!
— Mas eu não menti, bae — beijou-o novamente, separando seus lábios apenas para que Mingyu gemesse. — Eu gosto de você há tanto tempo, era difícil não pensar em você quando eu estava excitado, no seu rosto tão bonito e no seu corpo perfeito... Céus, eu gozava tanto.
— Wonwoo! — ralhou alto, torcendo os dedos dos pés. — Por favor, por favor, por favor...
— Shh, calma, amor — sussurrou, subindo e descendo sua mão mais rápido. Mingyu estava quase lá. — Já vai passar, você vai se sentir tão bem.
— Vou me sentir tão bem… I-Isso é bom, Wonwoo — resmungou coisas sem nexo, arqueando levemente as costas ao atingir seu limite, deixando a boca aberta em um perfeito 'o'.
As respirações pesadas preencheram a sala. As testas encostadas enquanto ambos tentavam recuperar o fôlego.
— Mingyu — o mais velho chamou, fazendo-o abrir os olhos depressa.
— O que?
— Eu amo você.
O ômega sorriu, acariciando a nuca do menor enquanto deixava selinhos em seus lábios.
— Eu também te amo — suspirou satisfeito.
Wonwoo deitou sob seu peito, esfregando o rosto ali como um gatinho. Mingyu acariciou os cabelos arroxeados, sentindo os olhos pesarem um pouco, fazia tanto tempo que não se sentia tão bem assim.
Desceu os dedos da cabeça até os ombros do menor, numa carícia tão suave que fez ele se arrepiar. Quando tocou seu ombro, percebeu que a camisa escura estava suja de sêmen.
— Eu sujei sua camisa, sem querer — contou ao mais velho, que ergueu a cabeça com um olhar um tanto confuso. Mostrou os dedos melados do líquido branco.
— Tecnicamente, eu sujei sua mão, então — riu anasalado quando Mingyu revirou os olhos. — Eu não sujei sua roupa, né? — saiu de cima do maior, checando as vestes dele. Estavam limpas.
— Não, mas sua mão ainda tá suja — respondeu o ômega, vestindo-se novamente.
Wonwoo encarou sua palma, vendo que, de fato, ainda estava com gozo do mais novo ali.
— Não tem problema — deu de ombros, levando-a até os lábios e lambendo o sêmen do ômega.
— Não lambe isso, é nojento — reclamou o outro, segurando as mãos do menor.
— Por que seria nojento?
— Porque sim, Wonwoo, para com isso — riu baixo, limpando a mão do alfa com a própria camisa. — Agora você vai ter que me emprestar uma roupa pra eu ir pra casa.
O alfa fez um bico, deitando sobre o maior novamente, deixando seus rostos próximos e roçando seus narizes.
— Você não pode ficar hoje? — perguntou com manha.
— Não posso, minha mãe já tava mandando mensagem pra eu voltar — resmungou baixinho, fazendo carinho no rosto bonito.
— Quando eu vou poder conhecer ela?
Mingyu suspirou, sentando-se e, consequentemente, afastando Wonwoo, mas ele se aproximou.
— Eu não sei, eu não quero criar uma situação ruim pra você — explicou olhando o menor. — Ela nunca gostou dos meus namorados, e em partes, eu nem posso culpar ela porque meu histórico não é lá muito bom — riu amarelo. — E eu sei que você é diferente, eu amo você, mas ela também cansou de me ouvir dizer "vai ser diferente dessa vez", ela vai demorar muito pra confiar em você e...
— Ei, ei — Wonwoo tocou o rosto do ômega, trazendo o olhar aflito para si. — Tá tudo bem, sem pressa. Eu espero quanto tempo precisar — sorriu, deixando um selinho nele.
Mingyu balançou a cabeça, deitando-a sobre o ombro do menor ao abraçá-lo.
— Você me leva até em casa? — perguntou baixinho.
— Claro — selou seus lábios rapidamente e levantou. — Vem, vou te emprestar uma camisa.
[...]
O caminho até a casa de Mingyu foi regado pelas conversas de ambos. Conversas que sempre tinham, sobre as coisas mais triviais, sobre seus amigos, sobre a escola, sobre planos do que iriam fazer, mas o alfa estava mais quieto que o normal.
— O que você tá pensando? — o ômega perguntou, ao notar o olhar distante de Wonwoo.
— Ainda tô pensando em tudo que aconteceu, tipo... Uau — comentou, sentindo o maior lhe abraçar pelos ombros e beijar seu rosto.
— Que bom que você gostou — sorriu.
Wonwoo retribuiu o sorriso, virando para segurar o Kim pela cintura, deixou selinhos doces nos lábios dele, sentindo as mãos grandes acariciarem seu rosto. Quase não notaram que já haviam chegado a casa do ômega.
— Eu te mando mensagem quando chegar em casa — o alfa disse, deixando um selar sob o queixo de Mingyu.
— Ok — sorriu, abraçando o menor mais uma vez. — Eu te amo — falou baixinho no seu ouvido.
— Eu também te amo — sorriu abraçando a cintura dele.
Com um último selinho, o ômega entrou em sua residência, acenando para Wonwoo antes dele virar para voltar para casa.
Mingyu fechou a porta, um sorriso bobo ainda enfeitando seu rosto.
— Quem era, filho? — a voz de sua mãe perguntou, fazendo-o dar um pulinho assustado.
— Que susto, mãe — reclamou com manha. — Ele é Wonwoo. A gente... Hum... Nós estamos namorando.
— Oh — ela murmurou, com uma expressão de entendimento. — Ele é da escola?
— Sim.
— E você gosta dele?
— Muito — afirmou sem nem pensar.
A mulher balançou a cabeça, levantando do sofá em seguida, andou até o filho e tocou seu rosto ficando na ponta dos pés.
— Abaixa um pouco pra eu conseguir beijar sua testa — pediu risonha, tendo seu pedido acatado. — Chama ele pra jantar qualquer dia.
— Sério? — franziu as sobrancelhas, confuso.
— Claro — ela sorriu, beijando o rosto do filho. — Eu vou dormir agora, ok?
— Ok...
Ela sorriu e se retirou, indo até seu quarto, deixando Mingyu com a mesma expressão confusa.
— Isso é estranho.
Chapter 18: Café Capuccino
Chapter Text
A segunda-feira havia chegado mais cedo do que Joshua gostaria. Não que ele preferisse ficar em casa, muito menos retornar para sua antiga escola, mas começar de novo era sempre difícil, entrar em um ambiente estranho também. Estava nervoso e não eram nem 07:30.
— E aí, tá pronto? — Soonyoung perguntou, abrindo a porta do quarto.
O beta suspirou, olhando-se no espelho.
— Acho que sim. É estranho não precisar usar aquele uniforme de blazer e gravata.
— É, você ficava ridículo naquilo — Soonyoung aproximou-se, ficando ao lado do primo.
— Respeito você não tem, né? — reclamou empurrando o alfa.
— É brincadeira — abraçou-o de lado. — Mas você fica melhor com suas roupas normais.
— Valeu — ajeitou a blusa. — Vamos?
— Sim, a tia tá esperando você pro café.
[...]
— Prontinho, meninos — o Sr. Hong disse ao parar no carro em frente a escola. — Amanhã vocês podem vir a pé.
— Boa aula, meninos — a ômega sorriu, virando no banco do passageiro para olhá-los. — Qualquer coisa você pede ajuda pro Soonyoung, tudo bem, filho?
— Isso é ridículo, eu sou mais velho que ele — reclamou o beta.
Soonyoung riu abrindo a porta do carro.
— É, mas ele é mais cara de pau — acrescentou a mulher.
— Ei, eu ouvi! — o Kwon reclamou, fazendo a família rir baixo.
— Tchau — Joshua sorriu, saindo do carro junto do mais novo.
Adentraram a escola lado a lado enquanto Soonyoung falava sobre as aulas e onde ficavam algumas das salas, assim como apontava para algumas pessoas e as apresentava brevemente.
— Aquele é o time de futebol, eles são os "populares" mas eles são insuportáveis, então não chega perto — explicou, puxando o menor para perto de si. — Evita fazer contato visual.
— Ok, ótimo começo — comentou o beta. — Eu preciso ir falar com o diretor pra pegar meus horários e o número do meu armário.
— Ok, eu vou com você — acalmou, começando a andar mais rápido.
Adentraram o corredor principal, onde havia vários alunos, conversando, caminhando, mexendo em seus armários, e alguns poucos trocando beijos.
— São oito horas da manhã, quem tem disposição pra ficar beijando? — Joshua resmungou baixinho.
— Muitas pessoas têm — deu de ombros.
Antes que pudesse continuar falando, entretanto, Soonyoung ouviu a voz de seus amigos atrás deles, chamando-o.
— Kwon Soonyoung! — Seungkwan gritou, chamando, não só sua atenção, mas de metade dos alunos no corredor. — A gente tava te procurando!
— Oi, pessoal — ele sorriu, virando ainda com Joshua sob seu braço. — Meu primo vai estudar com a gente!
— Joshua! Que legal! — Junghwa sorriu, aproximando-se dele. — Você vai adorar aqui, tenho certeza. Você pode almoçar com a gente, e a gente te mostra os lugares mais legais pra matar aula.
— Que bom exemplo você é, Junghwa — Seokmin riu, cruzando os braços. — Ele mal chegou e já tá pensando em fugir.
— Não, não tô — sorriu, um pouco sem graça. — Eu só preciso ver o diretor pra pegar meus horários e…
— Isso! Eu vou levar ele lá, mas a gente se encontra antes da aula começar — Soonyoung falou, virando-se após acenar para os amigos.
— Eu tinha esquecido que seus amigos eram tão barulhentos — comentou o beta, rindo baixo enquanto olhava Soonyoung de canto.
— Você adora eles que eu sei. E eles adoram você, então tá tudo certo. Sozinho você não vai ficar — sorriu, abraçando o primo de lado.
— Ainda tô um pouco nervoso — murmurou, notando alguns olhares de alunos. — Mas é bom ter saído daquele lugar. Só vou sentir falta dos meus amigos.
— Eles ainda vão poder te visitar, você não vai perder o contato — argumentou Soonyoung, tentando espantar um pouco daquela aflição do mais velho.
Chegaram à sala do diretor, mas Joshua entrou sozinho. O alfa ficou esperando do lado de fora, vendo os alunos passarem e alguns professores irem para suas salas. Ficou distraído com seus próprios pensamentos e mal notou quando Jihoon caminhou em sua direção.
— Bom dia, Soon-ah — ele disse, sorrindo fechado.
— Oi, Jihoonie, bom dia — o maior retribuiu o sorriso, deixando que o ômega se aproximasse e deixasse um beijo em seu rosto. — Como você tá?
— Bem, eu acho. Acabei dormindo tarde, então tô caindo de sono, mas bem — deu de ombros. Soonyoung abraçou sua cintura, deixando seus corpo próximos. — E você? O que você fez pra estar esperando o diretor?
— Eu não fiz nada — riu baixo. — Shua hyung veio pegar os horários e tals, só vim junto.
— Ah, ele já tá aqui, que legal. Espero que ele se adapte.
— Tenho certeza que ele vai gostar, eu vou estar do lado dele, as pessoas não são tão ruins — disse calmo. — Ele só precisa de um tempo pra se acostumar.
— Acho que sim — concordou, aproximando-se mais e deitando a cabeça no peito de Soonyoung.
— O que foi? — perguntou, acariciando os cabelos curtinhos da nuca do menor.
— Tô com sono — resmungou baixinho.
O alfa riu baixo, deixando um selar carinhoso na testa do outro.
— Pena que a gente não tem nenhuma aula juntos, eu deixaria você dormir no meu ombro — fez bico.
Jihoon riu nasalmente, erguendo a cabeça para olhar o maior.
— Fofo. Mas eu não consigo dormir durante as aulas, meu cérebro de bom aluno me impede.
— Ai, pobrezinho dele — tocou as bochechas do baixinho e lhe deu alguns selinhos.
— Own, vocês são tão bonitinhos juntos — ouviram alguém falar e afastaram-se um pouco.
Lee Chan estava parada ao lado deles, encostada na parede e olhando-os com um sorriso ameno.
— Oi, Chan — Soonyoung cumprimentou, sorrindo simpático. — O que tá fazendo aqui?
— Mingyu tá com o namorado dele, e eu não consigo achar meus outros amigos, então eu vim importunar vocês — sorriu cruzando os braços. Os garotos lhe olharam franzindo as sobrancelhas, então ela riu: — É brincadeira… em partes. Mingyu tá com Wonwoo e meus amigos sumiram, mas eu vim falar com o diretor.
— Ah, tá. Ainda bem — o alfa disse. — A gente tá esperando meu primo, ele foi transferido hoje pra cá e tal.
— Entendo, é um saco — revirou levemente os olhos. — Mas se ele for legal, ele vai se dar bem.
— Ele é legal, sim — a porta da direção foi aberta e logo o beta saiu. — Olha ele aí!
— Meu Deus, do nada tem mais duas pessoas com você — constou o mais velho, fazendo-os rir. — Oi, Jihoon-ah — olhou para Chan. — Você eu não conheço.
— Ele é aquele menino que eu falei, lembra? — Soonyoung aproximou-se para sussurrar: — Do lance da saia.
— Own, estavam falando sobre mim? Que fofo — a beta sorriu e chegou mais perto. — Eu sou Lee Chan, muito prazer.
— Hong Jisoo — o outro beta respondeu, fazendo uma pequena reverência que foi retribuída.
— Você tem olhos lindos — elogiou a menor, passando por ele em seguida. Joshua notou que Chan tinha um cheiro suave de pêra. — Até mais, garotos e garotes — mandou um beijinho no ar e entrou na sala da direção.
— Ele parece legal — Joshua falou. — Enfim… eu preciso achar a sala de química, não quero me atrasar no primeiro dia.
— Não tem problema, eu te levo — Soonyoung se prontificou.
— Mas sua primeira aula é de história, fica muito longe — o ômega falou.
— Se eu correr, chego a tempo — o maior sorriu, dando um selinho no Lee.
— Ei, não seja assim — segurou o alfa quando ele tentou seguir caminho. — Minha primeira aula é física, as salas são próximas, eu posso mostrar o caminho… Se você não se importar — olhou o beta.
— Não, claro que não — sorriu gentil. — Desculpa o incômodo.
— Não é incômodo, vamos?
Joshua concordou com a cabeça e esperou que o "casal" se despedisse para que ele e Jihoon pudessem seguir caminho.
— Obrigado, Jihoon-ah — o beta disse enquanto eles caminhavam pelo corredor. — E também… cara, me desculpa por aquela primeira impressão, lá em casa, sabe? Normalmente não é assim, você chegou num dia ruim — riu sem jeito coçando a nuca.
— Não precisa se desculpar, não — assegurou o menor. — Você tá melhor?
— Tô, sim, já passou — sorriu para ele.
— Então tá tudo certo, o resto não importa — deu de ombros.
Joshua sorriu um pouco mais aliviado.
[...]
O sinal para o intervalo tocou e todos os alunos saíram apressados para o pátio. Joshua recolheu seus materiais e seguiu a pequena multidão, olhando o número de seu armário no papel que o diretor lhe entregou, junto da combinação do cadeado.
Parou de frente para a porta de metal e tentou a combinação. Não abriu, então ele tentou de novo.
— Que porcaria — resmungou na terceira tentativa falha, checando novamente o papel em sua mão.
— Tenta 12-78-30-28 — um garoto disse parando ao seu lado.
O beta franziu o cenho e tentou a combinação que ele havia dito, então o armário abriu.
— Ei, como sabia? — o Hong sorriu para o garoto, que possuía um cheiro forte de menta.
— Porque esse é meu armário.
— Oh, me desculpa — pediu envergonhado, vendo que seu armário era ao lado.
— Sem problemas — o alfa sorriu ladino, aproximando-se e guardando algumas coisas. Olhou Joshua de canto, encostando-se nas portas para observá-lo. — Você é novo por aqui, não?
— Sim, cheguei hoje — respondeu tímido, ajeitando os livros dentro do armário. — Sou Hong Jisoo.
— Seo Minjoon — pendeu a cabeça em cumprimento. O beta retribuiu.
— Muito prazer — sorriu, voltando a organizar algumas coisas na mochila.
O maior aproximou-se mais, ficando com o corpo quase colado ao do americano, que tentou se afastar.
— Você cheira muito bem pra um beta, sabia? — disse o alfa.
— Licença, eu… preciso encontrar meus amigos… — falou baixo, tentando se afastar.
— Ele tá te incomodando? — Jeonghan perguntou, chegando perto dos dois.
— Não tô fazendo nada — defendeu-se Minjoon.
— Então vai fazer nada em outro lugar, anda — respondeu o Yoon, ficando entre ele e Joshua. — Cai fora, vai.
— Posso pegar seu número? — o alfa perguntou, ignorando a presença de Jeonghan por alguns segundos.
— Não, foi mal, não tô interessado — o Hong negou, ainda de cabeça baixa.
Com um revirar de olhos, o alfa foi embora. Jeonghan bufou e negou com a cabeça, virando para Joshua em seguida.
— Você tá bem? — perguntou gentil.
— Tô, sim. Valeu — agradeceu, erguendo os olhos para o alfa e, por um momento, Joshua pensou que estivesse sonhando, porque aquele garoto era, simplesmente, a pessoa mais linda que ele vira na vida. — E-Eu… Eu sou Hong Jisoo.
— Yoon Jeonghan — sorriu, cumprimentando-o com um aceno de cabeça. — Você é novo?
— Sim, fui transferido hoje — explicou, apertando levemente a alça da mochila. Sentia-se nervoso, sem motivo aparente.
O alfa murmurou em entendimento, não sabendo o que deveria dizer em seguida. O que parecia loucura, porque Jeonghan sempre fora ótimo em socializar. Porém, alguma coisa naquele garoto estava lhe deixando intrigado, não sabia dizer se era a beleza, a essência quase viciante, ou a sensação estranha de que já o conhecia.
— Então… — o beta começou, mas o Yoon foi mais rápido:
— Eu não te conheço de algum lugar?
Joshua arregalou levemente os olhos, pois estava pensando a mesma coisa.
— Também tá sentindo isso?
— Você tá? — riu, um pouco desacreditado. — Cara, que loucura. Tem certeza que a gente não se conhece?
— Eu me lembraria de você, disso eu tenho certeza — afirmou.
— É, acho que eu também. Porque você é lindo, sabe? — fechou a boca ao perceber que havia falado sem pensar. O rosto corou. — Q-Quer dizer…
— Tudo bem — Joshua riu baixo, desviando o olhar por um momento, sentindo seu próprio rosto corar.
Quando ergueu os olhos para Jeonghan novamente, seus olhares se encontraram e ambos puderam perceber um brilho dourado correndo pelas íris, tão rápido quanto um piscar. O americano arfou baixo, sentindo-se agitado, podendo perceber melhor a essência do alfa a sua frente.
Abriu a boca para dizer algo, mas outra pessoa chegou, abraçando Jeonghan por trás, fazendo-o dar um pulinho no lugar, e sorrir para ele.
— Oi, amor — o alfa disse, segurando a mão de Seungcheol.
— Tava te procurando — o ômega fez um bico. Logo, ele percebeu a presença de Joshua. — Oi — sorriu. — Quem é você?
— Eu sou Hong Jisoo — respondeu, cumprimentando o menor. — Fui transferido hoje.
— E o Minjoon já tava incomodando, tive que espantar ele — contou Jeonghan, revirando os olhos.
— Ninguém merece — resmungou o Choi. — Eu sou Seungcheol.
— Prazer.
— A gente tava indo almoçar, quer ir com a gente? — o ômega convidou.
— Hum… não, obrigado. Eu preciso encontrar meu primo, mas foi legal conhecer vocês — sorriu, ajeitando a mochila no ombro.
— A gente se fala mais tarde? — Jeonghan perguntou.
— C-Claro — respondeu, acenando uma última vez antes de sair andando apressado pelo corredor.
Olhava para os lados à procura de Soonyoung. Seu coração estava acelerado, precisava contar o que aconteceu.
Depois de alguns minutos, encontrou o Kwon sentado em uma mesa no pátio, almoçando junto de Jihoon. Os dois riam e conversavam sobre algo que o beta não conseguia ouvir, então correu até eles.
— Soonyoung! Soonyoung, caralho! — chamou alto, parando próximo deles, recebendo olhares confusos de ambos.
— O que foi? Ficou doido? — o alfa perguntou, fazendo uma careta confusa.
— Minha alma gêmea! Eu encontrei minha alma gêmea! — exclamou, sentando-se na frente deles, puxando o ar com rapidez para os pulmões.
— Como assim? Do que você tá falando?
— Eu tava por aí, no meu armário, aí esse garoto veio falar comigo e, puta que pariu, ele é muito bonito — explicou, enrolando-se um pouco nas palavras. — E a gente tava com a mesma sensação de que a gente já se conhecia, mas a gente nunca se viu na vida! Quando eu olhei nos olhos dele, eles ficaram dourados e isso só acontece com almas gêmeas…
— Ah, é? — o alfa disse. — Acho que eu já vi isso em algum lugar…
— Tá, mas presta atenção! Eu também senti o segundo cheiro na essência dele, então eu tenho certeza absoluta que ele é minha alma gêmea!
— Que história é essa? — Soonyoung perguntou, confuso.
— Como assim? O segundo cheiro que sua alma gêmea sente, dizem que é um cheiro que só a outra metade sente, como se fosse feito especialmente pra te atrair — o beta explicou. — Qual é! Todo mundo sabe disso!
— Já ouvi falar — Jihoon disse. — Mas acho que não é verdade, porque eu sinto duas essências no Soonyoung e…
Interrompeu sua própria fala, virando para encarar o alfa, que já o olhava, com os olhos arregalados numa perfeita expressão de surpresa.
— Oh — o ômega soltou.
— É sério? — Joshua olhou-os. — Só descobriram agora? Se não fosse eu, vocês iam descobrir quando?
— E-Eu sei lá! A gente nunca pensou nisso — Soonyoung respondeu.
— Nossa, vocês realmente são almas gêmeas mesmo, a lerdeza é igual — o beta riu.
Jihoon levantou-se, guardando suas coisas.
— Eu preciso ir…
— Jih, espera! — Soonyoung levantou depressa, segurando a mão do ômega. — Não faz isso de novo.
— Isso o que?
— Fingir que eu não existo porque alguma coisa aconteceu…
— Não, não é isso, eu juro — assegurou, tocando o rosto do maior. — Eu só preciso de um tempo pra processar.
— Promete? — ele perguntou baixinho, inseguro.
— Prometo — Jihoon sorriu, dando um selinho demorado nele. — Eu te vejo depois.
— Tudo bem.
O baixinho, então, seguiu caminho pela escola. Soonyoung voltou para a mesa, onde Joshua devorava seu almoço.
— Você nem consegue esconder a cara de felicidade — apontou o beta, rindo de canto.
— Cala a boca — resmungou o outro, desviando o olhar ao, de fato, não conseguir conter um sorriso. — E aí? Agora que conheceu sua alma gêmea, vai abrir as portas do armário?
— Vai se foder, Soonyoung, esse assunto de novo? — olhou-o irritado.
— É brincadeira, calma — ergueu as mãos em sinal de rendição. — Mas depois quero ver quem é o sujeito — pediu, levantando para roubar um mochi do mais velho.
— Ei!
[...]
— Soonyoung é sua alma gêmea!? — Minghao exclamou surpreso.
— Não grita, por favor! Ninguém grita — pediu Jihoon, chacoalhando as mãos. — Eu acabei de descobrir, então é mais uma coisa pra eu processar. Credo, Kwon Soonyoung não me deu um dia de paz desde que ele apareceu — resmungou, deitando a cabeça na mesa.
— E mesmo assim, você tá apaixonado por ele — o chinês brincou, mas arregalou os olhos quando o ômega não negou. — Eita.
— Mas o que isso muda, sabe? — Wonwoo falou. — Vocês só tem essa conexão de almas, mas isso não significa que você vai passar o resto da sua vida com ele.
— E isso tá muito, muito no futuro — Seungcheol completou. — Tenta viver um dia de cada vez, sim?
— Isso faz muito sentido, mas eu, infelizmente, não funciono desse jeito — rebateu o baixinho, voltando a sentar normalmente. — Eu me preocupo, eu quero prever as consequências das coisas. E, nesse caso, não é muito por mim, é mais por ele, sabe? Eu não sei se vou gostar dele pra sempre…
— Nem se ele vai gostar pra sempre de você — Minghao interrompeu, fazendo um silêncio crescer na mesa. — Não faz sentido você se preocupar.
Jihoon suspirou, sem argumentos.
— Mas como vocês descobriram? — Jeonghan perguntou, tentando reviver a conversa.
— Porque o primo dele chegou falando que tinha achado a alma gêmea dele — explicou, gesticulando com as mãos de forma preguiçosa. — Que pessoa mais… sei lá, alguma coisa ele tem, porque ele veio pra cá hoje, e achou a alma gêmea.
— Ele veio hoje? — o alfa franziu as sobrancelhas.
— Sim, foi transferido…
— O nome dele é Jisoo?
— É, como você…? — Jihoon arregalou os olhos. — Caralho, você é a alma gêmea dele!?
— Porra, agora faz mais sentido! Por isso eu tava com aquela sensação estranha e por isso o cheiro dele era tão diferente!
— Amor, calma — Seungcheol pediu, tocando o ombro do namorado. — Você tá falando muito alto.
— Desculpa, me empolguei — riu. — Nossa, gente, eu tenho uma alma gêmea.
— É, mas… Você não conhece ele — Jihoon disse.
— Ainda não, mas acho que a gente deve se conhecer, né? — argumentou. — Eu vou procurar ele, quem sabe a gente até tem alguma aula juntos.
— Mas, amor… — Seungcheol tentou falar, mas o namorado estava deveras empolgado.
— Eu te procuro pra nós irmos pra casa depois, ok? — deu um selinho rápido no ômega antes de se levantar.
O Choi suspirou, formando um biquinho nos lábios ao ver o alfa saindo do refeitório.
— Devo me preocupar? — ele perguntou.
— Claro que não, hyung — Wonwoo falou, sentando ao lado do mais velho para acariciar os cabelos dele. — Ele tá empolgado, você deve ficar feliz por ele.
— Eu sei — suspirou.
[...]
— Isso é muita coincidência, né? — Soonyoung perguntou. — Digo… Primeiro Shua hyung descobre que Jeonghan hyung é a alma gêmea dele, e ainda fez a gente nos descobrir.
— Pois então — murmurou o ômega. — David Levithan segue certo: o destino é ditado pela ironia, ou por um senso de humor muito distorcido.¹
Depois que as aulas acabaram, os dois garotos decidiram sair juntos para caminharem. Como já era quase costume, foram parar em um parque, sentados à sombra de uma árvore.
Soonyoung estava escorado no tronco, Jihoon com a cabeça deitada em seu colo enquanto folheava um livro de contos qualquer. Os dedos do mais velho acariciavam os cabelos escuros do ômega de maneira gentil.
— Seu vocabulário é, no mínimo, 10% citações de livros — comentou o alfa, fazendo o outro rir.
— Valeu.
Soonyoung negou com a cabeça, enrolando os fios negros entre seus dedos.
— Jihoonie — chamou baixinho.
O ômega tirou os olhos das páginas e o fitou em questionamento. O maior se inclinou e deixou um selinho sob seus lábios. Um sorriso tímido cresceu no rosto de Jihoon.
— Era só isso?
— Por que? Quer mais? — segurou o rosto pequeno entre suas mãos e beijou-o repetidas vezes.
Jihoon fechou os olhos e riu baixo, sem conseguir conter-se. Tocou os cabelos do alfa depois de segurar o livro com apenas uma mão. Soonyoung roçou seus narizes algumas vezes antes de ajustar sua postura normalmente.
— Você é adorável, sabia? — comentou o ômega, crispando os lábios e voltando a ler.
— Sou grudento, é diferente — riu nasalmente, tornando a acariciar o cabelo do outro. — Ei, que dia é seu aniversário mesmo?
— Vinte e dois de novembro, por quê?
— É daqui duas semanas.
— Eu sei, mas acho que não ligo muito — deu de ombros. — Meus pais vão me levar para almoçar com meus avós, e depois não sei. Jeonghan hyung quer porque quer fazer uma festa tipo a do Seungkwan, mas eu ainda tô pensando.
— Se acontecer, eu posso ir?
— Hum — fingiu pensar. — Não, não quero que você vá — disse irônico.
Soonyoung, porém, não entendendo a entonação, assumiu uma expressão chateada, ainda que tentasse fingir que não. Jihoon, percebendo, sentou-se rapidamente e tocou o rosto do alfa.
— Ei, é brincadeira — avisou. — É óbvio que eu quero que você vá, mesmo que não tenha festa.
— Não me assusta assim, aish — resmungou, inclinando o rosto sob a palma do baixinho. — Já tava quase chorando.
— Não! Desculpa, não chora — pediu, abraçando-o apertado, deixando beijinhos sob seu rosto. — Eu tô acostumado a ser irônico.
— Tudo bem, não precisa se desculpar — garantiu o alfa. — Eu que sou sensível.
Jihoon fez um bico, selando os lábios do maior de forma mais arrastada. Logo, voltou a deitar a cabeça sob as pernas do mais velho.
— You're amazing, just the way you are — cantou baixinho para ele, causando um riso.
— Como você consegue conversar, ler e cantar ao mesmo tempo? — perguntou embasbacado.
— Sei lá, deve ser meu superpoder secreto.
— Que inveja, viu? Pra eu conseguir ler, preciso estar em silêncio total, sem nada pra tirar minha concentração.
— Talvez seja melhor pra você audiobook, sabe? Ficar ouvindo e lendo ao mesmo tempo — sugeriu o baixinho.
— Nunca tentei isso, não.
— Aqui, ó — levantou e ajeitou-se ao lado dele, mostrando a página e onde tinha parado de ler. — "Sentaram no balanço e começaram a conversar, conforme iam para frente e para trás. John descobriu que Emily morava com a mãe, o pai havia falecido cinco anos atrás. Cuidava de suas irmãs mais novas à tarde e sempre sonhara em ser modelo, que ela gostava de visitar museus e dançar quando ninguém estava olhando, assim como se aventurava na cozinha, aprendendo receitas de família que a mãe lhe passava."
Soonyoung fechou os olhos e apoiou a cabeça no ombro do menor, abraçando sua cintura e deixando que ele continuasse lendo o conto para si.
Chapter 19: Café Espresso Panna
Chapter Text
— Ok! Falta uma semana pro seu aniversário, temos que começar as preparações oficiais! — Jeonghan exclamava animado, andando de um lado para o outro no quarto do menor. — Você já disse que você vai jantar com seus avós no dia, agora temos que planejar uma festinha legal pros seus amigos.
— Fala a verdade, eu tenho uns cinco amigos, no máximo. Você tá procurando uma desculpa pra fazer festa — acusou Jihoon.
O alfa riu baixo, sentando ao seu lado na cama.
— Você vai gostar. Você não gostou da festa do Seungkwan?
— É, tava legal até o Soonyoung fazer aquela cena.
— Pois então! Agora vai ser ainda melhor, porque vocês já estão quase namorando, então não vai acontecer — argumentou. — Vão ser poucas pessoas, porque você não conhece muita gente. Eu, Wonwoo, Cheol e Joshua vamos cuidar de tudo, então você só precisa aceitar.
— Por que Joshua hyung tá metido aí?
— A gente é amigo, ele vai me ajudar — deu de ombros. — É incrível como a gente se aproximou tanto em só uma semana, sabe? Não tinha ideia de que ter uma alma gêmea é assim.
— Minha experiência foi bem diferente — o ômega riu anasalado. — Eu gosto muito do Soonyoung, mas a gente é diferente. O suficiente pra que eu pudesse duvidar da nossa conexão de alma.
— Eu acho que vocês têm mais em comum do que você imagina — o mais velho aproximou-se. — Na minha cabeça, vocês são aquela dupla dinâmica do idiota barulhento e do idiota quieto.
— Sai do meu quarto — reclamou apontando em direção a porta, fazendo o alfa rir alto enquanto lhe abraçava.
— Aceita que vai doer menos — soltou o baixinho. — Mas eu e Joshua não somos iguais, a gente tem vários gostos em comuns, pensamos coisas parecidas e às vezes eu consigo entender o que ele ‘tá sentindo só pelo olhar… Mas, ao mesmo tempo… sei lá, ao mesmo tempo ele me completa sendo daquele jeitinho quieto e calmo…
— Você tá se apaixonando por ele? — Jihoon juntou as sobrancelhas.
— Não! Meu Deus, a gente só se aproximou muito. Muito rápido — negou abraçando uma das pelúcias do ômega. — Fora que ele diz que é hetero e eu tenho o melhor namorado do mundo, então, obrigado, de nada.
Jihoon riu baixo, rolando os olhos enquanto balançava a cabeça negativamente.
— Beleza, eu aceito a ideia da festa — falou.
Jeonghan gritou animado, levantando-se num pulo e fazendo uma dancinha animada.
—Yes! Vamos fazer uma festinha pra comemorar seus 18 anos — sorriu, jogando-se ao lado do menor. — Você só precisa me dizer o que você não quer de jeito nenhum.
— Ok. Hum… — pensou por alguns segundos. — Não quero mais de cinquenta pessoas, de preferência ninguém vomitando por beber demais, ninguém no meu quarto nem no quarto dos meus pais, minha mãe me mata caso alguém faça sexo na cama dela!
— Relaxa, ninguém vai subir as escadas — garantiu o alfa. — Se é só isso, vai ser tranquilo. Só precisamos falar com seus pais e ver se eles deixam a gente usar a casa.
— Eles vão estabelecer as mesmas regras que eu, provavelmente. Mas acho que eles vão deixar — abraçou sua lhama de pelúcia. — E eu vou contar com vocês pra organizar tudo.
— Pode confiar — Jeonghan sorriu. — Mas, mudando de assunto…
— O que foi?
— Como estão as coisas entre você e o Soonyoung?
— Normais, eu acho — deu de ombros. Jeonghan ergueu uma sobrancelha. — Estão legais, tá? A gente sai, conversa, se beija, ouve música… eu gosto de estar com ele.
— Vocês são tão fofos — o mais velho sorriu. — Qualquer dia ele pode almoçar com a gente, né?
— Vou pensar nisso — disse o ômega, virando na cama para pegar seu celular. — Vou avisar ele que a festa vai acontecer.
— E confia em mim, vai ser incrível!
[...]
— Claro que eu vou — Soonyoung sorriu animado, segurando as mãos do ômega. — Quando vai ser?
— Ainda não sei, provavelmente no dia mesmo, vai cair no sábado que vem — explicou o baixinho, acariciando a palma de Soonyoung com seus polegares.
Ambos estavam sentados como "índio" na cama de Jihoon, de frente um para o outro enquanto tinham as mãos juntas sem motivo aparente. Decidiram aproveitar a tarde daquele sábado juntos.
— Uma semana então — comentou o alfa. — Ansioso pra fazer 18 anos?
— Eu sei lá — deu de ombros. — O que muda?
— Sei lá, também — imitou o outro. — Vai poder beber legalmente, fazer tatuagem, sexo, aprender a dirigir.
— Eu já bebi antes e já sei dirigir, então metade das coisas estão concluídas — riu anasalado. — E como assim "fazer sexo"? Não é ilegal fazer sexo sendo menor de idade, é crime entre um menor de idade e um maior.
— Ah… ah! Agora faz bem mais sentido — exclamou o Kwon, fazendo o ômega rir negando com a cabeça. — Então risca esse da lista, você já tá liberado pra transar.
Jihoon rolou os olhos enquanto ria da brincadeira.
— Obrigado — murmurou, soltando as mãos do alfa para apoiá-las em seu rosto.
Soonyoung sorriu antes de se aproximar para deixar alguns selinhos no menor, que retribuiu o gesto ao tocar suas bochechas. Jihoon fechou os olhos ao sentir Soonyoung roçando o nariz no seu. Já havia notado que ele fazia isso constantemente, e admitia que achava fofa — e até gostava — essa mania.
— Mas… hum… — o alfa começou após alguns segundos em silêncio. — Já que a gente tocou no assunto…
— Você tocou no assunto — corrigiu.
— Eu sei, mas não foi intencional — defendeu-se rindo, afastando-se um pouco do menor para poder olhá-lo melhor. — Não, mas sério, a gente pode tocar nesse assunto?
Jihoon deu de ombros, suspirando um pouco nervoso pelo tópico.
— Acho que sim — murmurou, olhando para baixo.
— Eu não vou dizer que quero fazer sexo agora, tudo bem? Acho que não tô pronto também — assegurou tocando o queixo no baixinho para que ele lhe olhasse. — Eu só preciso saber até onde eu posso ir, sabe?
— Como assim? — franziu as sobrancelhas.
— Tipo… — inclinou a cabeça nervoso. — Tipo quando eu te beijar, onde eu posso te tocar? Se tudo bem eu beijar seu pescoço… essas coisas, sabe?
— Sei — respondeu baixo. Escondeu o rosto entre as mãos e riu envergonhado. — Aish! Isso é tão constrangedor!
— Eu sei! Não pense que eu tô amando ter essa conversa — enfatizou Soonyoung, cobrindo o rosto também. — Mas a gente precisa ter essa conversa…
— Eu sei, eu sei — concordou, voltando a olhar o maior. Respirou fundo e fechou os olhos para se acalmar antes de responder: — Você pode me beijar, beijar meu rosto… nunca beijaram meu pescoço, parando pra pensar.
— Você beija meu pescoço várias vezes — apontou Soonyoung, fazendo Jihoon bater em si com uma pelúcia pequena.
— É só às vezes, eu me deixo levar — argumentou, fazendo bico. Sentia seu rosto quente e tinha certeza de que estava corado, assim como o mais velho. — Você pode beijar meu pescoço só pra eu saber como é? — perguntou tímido, tão baixo que, se não fosse pela proximidade, o alfa não teria sido ouvido.
Soonyoung sorriu daquele jeito fofo antes de concordar com a cabeça. Aproximou-se mais de Jihoon e segurou seu rosto, beijando seus lábios devagar.
O ômega fechou os olhos e retribuiu o selar, que não durou muito tempo, já que o maior já arrastava os lábios até seu rosto, beijando sua bochecha antes de descer até seu pescoço. Plantou ali alguns beijinhos suaves, sentindo a derme se arrepiar, assim como as mãos pequenas apertavam seus ombros.
— O que achou? — perguntou baixo após deixar um selinho em seus lábios.
Jihoon mordeu o próprio lábio e se limitou a acenar positivamente com a cabeça. Soonyoung sorriu e beijou-o algumas vezes antes de se afastar.
— Então eu posso beijar seu pescoço também? — perguntou, sorrindo arteiro.
— Pode — o ômega concordou. — E o que eu posso fazer com você?
— O que você quiser — riu quando o baixinho revirou os olhos. — Eu gosto quando você me toca, de verdade. Se acontecer algo que eu não goste, vou falar.
— Promete?
— Prometo — afirmou, deixando que um sorriso ainda maior enfeitasse seu rosto quando Jihoon o beijou. — Quer continuar lendo aquela história pra mim?
— Sério?
— Uhum.
— Você gostou? — animou-se enquanto levantava para procurar o livro.
— Gostei, é interessante — disse se ajeitando entre os travesseiros na cama, Jihoon logo deitou ao seu lado.
Há alguns poucos dias que eles adquiriram aquele hábito. Soonyoung deitava perto de Jihoon e deixava que ele lesse para si.
— Posso começar? — perguntou o baixinho. Sorriu fechado quando o mais velho deitou a cabeça em seu ombro e murmurou um "uhum". Então começou: — "Nuvens cinzentas aproximavam-se, vindas do litoral, e o vento agitava as árvores do cemitério. Erguendo a vista do ritual do sepultamento, o Padre Finnegan concluiu que ia chover. Deixou de lado a água benta…"
[...]
— O homem é o lobo do homem ou todo homem nasce bom e é corrompido pela sociedade? — o professor perguntou para os alunos, logo após apresentar as ideias opostas dos filósofos.
— Ah, pronto — Jihoon murmurou, virando-se para observar Minghao, que já levantava a mão de forma entusiasmada para responder junto de outros alunos.
— Sonhee-ah, pode falar — pediu o professor.
— Eu acho que é tudo questão da criação, professor, porque as pessoas pensam diferente e eles criam seus filhos com base nisso.
— A pergunta não foi essa — o chinês interveio. — Ele quer saber se a natureza humana é boa ou ruim.
— E qual sua opinião? — a garota cruzou os braços.
— Eu não tenho uma opinião formada, pois a origem humana é incerta. Não temos exatamente como saber qual foi ou qual seria nosso comportamento — ele explicou, gesticulando com as mãos. — Ambas as teorias fazem sentido e a gente pode comprovar elas com ciências sociais.
— Minghao-ssi, gostaria de explicar para turma? — perguntou o educador, interessado.
— Claro — ajeitou-se na cadeira, limpando a garganta.
Jihoon sorriu fechado, notando que o amigo estava um pouco nervoso.
— Se nós, por exemplo, fizermos um teste com crianças bem novas, onde elas presenciam uma situação de injustiça, pode-se dizer que a maioria dessas crianças vai agir contra aquilo ou ficar desconfortável — começou. — Assim, a gente pode dizer que o ser humano nasce bom, porque até que ponto uma criança pode ser ensinada, certo? Anos mais tarde, essas mesmas crianças são postas à prova de novo: outra situação de injustiça. O que elas vão fazer pode variar, porque elas foram criadas para agir de outra maneira, porque aquela situação pode ser vantajosa para elas e elas estão se adaptando a sociedade, assim sendo corrompidos por ela.
— Então você acredita que o homem nasce bom e a sociedade o corrompe? — outra aluna perguntou. Hirai Momo.
— Eu não vou afirmar com certeza, porque foi o homem que criou a sociedade. Nós criamos os padrões de ética, nós criamos o capitalismo, nós criamos o patriarcado, então não podemos dizer que a sociedade nos corrompe sem admitir nossa parcela de culpa.
A turma inteira ficou em silêncio por alguns segundos. Minghao já estava com as orelhas vermelhas.
— Woah, isso foi muito legal — Momo disse cobrindo a própria boca. — Você também concorda que o capitalismo é a fonte de 99% dos problemas da sociedade atual?
— Ah, não, Momo! — uma amiga dela, Sana, disse. — Pra você tudo é culpa do capitalismo!
— Mas ela tá certa! — Minghao exclamou, deixando a japonesa animada. — Para pra pensar…
O sinal tocou, interrompendo os alunos.
— Bem, eu detesto interrompê-los, mas o intervalo começou — o professor disse. — Fiquem à vontade para discutir essas ideias no almoço.
Ele, então, recolheu seus materiais e saiu da sala junto de alguns alunos.
— Professor, com licença — um aluno chamou-o antes de sair. — Eu não entendi nada.
— Eu muito menos — vários alunos riram. — Essa é a beleza da filosofia! — exclamou saindo pelo corredor.
— Esse cara é doido — Jihoon murmurou levantando. — Quer ir procurar o Soonyoung comigo? — perguntou para Minghao. — Ele vai almoçar com a gente.
— Eu até iria, mas tenho outros planos — disse o Xu. — Momo noona!
A alfa parou na porta, virando para olhar o garoto.
— Oi — ela sorriu.
— Você quer almoçar comigo? — convidou, segurando as mãos atrás das costas. — Podemos continuar discutindo o sistema opressor — brincou.
Momo riu baixo, ajeitando uma mecha dos cabelos escuros atrás da orelha.
— Claro — sorriu, seguindo caminho após o chinês indicar para ela ir na frente.
Minghao virou rapidamente para Jihoon antes de erguer os polegares com um sorriso no rosto.
— Você não vale nada, Minghao — o ômega riu, recolhendo seus materiais antes de sair da sala.
Seguiu pelo corredor tumultuado à procura da sala de artes, onde Soonyoung tinha a última aula antes do almoço.
Não estava muito longe, então logo chegou. Entrou na sala — já quase vazia — para evitar a multidão que seguia pelo corredor. O alfa ainda estava na sala junto de seus amigos, limpando as mãos sujas de tinta nas pias disponíveis na sala.
Jihoon aproximou-se devagar, sorrindo de canto ao ouvir a risada alta e contagiosa de Soonyoung, que era facilmente destacada entre as vozes altas dos colegas.
— Olha quem chegou! — Junghwa exclamou assim que o viu ali. — Jihoon-ah! Nos ajuda, a gente tá falando pro Soonyoung que tem tinta na cara dele mas ele não acredita.
— Não acredito mesmo, vocês tão querendo meter o dedo na minha cara pra sujar de verdade — alegou o alfa, virando-se para Jihoon. — Tá sujo?
O ômega riu baixo, aproximando-se deles e notando que, de fato, Soonyoung estava com o rosto um pouco sujo.
— Tá sujo, Soon-ah — ele falou chegando mais perto, molhando o indicador discretamente em uma tinta aberta. — Aqui ó — tocou a bochecha limpa do maior, manchando o local de verde.
— Traição! — ele exclamou segurando seus pulsos ao sentir o líquido pegajoso.
Todos os amigos do alfa caíram na risada, Jihoon acompanhou.
— Desculpa, deixa eu limpar — o baixinho pediu, tentando tirar o pouco de tinta.
— A gente passa no banheiro no caminho — o mais velho disse, segurando as mãos do baixinho.
— Ei, pra onde vocês vão? — Seungkwan perguntou.
— Eu vou almoçar com os amigos do Jih — Soonyoung respondeu pegando seu bentō.
— Ah, isso não é justo, a gente quer almoçar com o Jihoon hyung também — reclamou o Boo, cruzando os braços. Hansol, seu namorado, riu baixo e o abraçou apertado por trás por achá-lo muito fofo.
Jihoon baixou os olhos enquanto sorria fechado, sentindo o rosto esquentar um pouco.
— Amanhã eu almoço com vocês — prometeu.
— Pronto, felizes? — Soonyoung disse, segurando a mão do ômega. — Agora vamos que daqui a pouco o intervalo acaba.
— A gente tem uma hora de intervalo — Seokmin argumentou, mas o alfa já tinha saído da sala, puxando o menor junto dele.
Entraram no banheiro que tinha no caminho e Jihoon trouxe o outro até a pia.
— Vai sair, não se preocupa — murmurou enquanto lavava as próprias mãos para tirar a tinta.
Logo em seguida limpou o rosto do alfa com cuidado, quase focado demais em tirar a mancha para notar a forma apaixonada que ele lhe encarava.
Os olhos de Soonyoung brilhavam sempre que eles encontravam Jihoon.
— O que foi? — o baixinho perguntou, um tanto perdido.
O mais velho sorriu pequeno, segurando a cintura do ômega e o abraçando enquanto afundava o rosto no pescoço alheio, aspirando o perfume de camomila e mel.
— Eu gosto tanto de você — ele sussurrou, apertando-o um pouco mais entre seus braços.
Jihoon engoliu em seco, seu coração acelerou e as bochechas ficaram avermelhadas. Circulou os braços no pescoço do alfa e beijou ali suavemente.
— Eu também gosto de você — respondeu no mesmo tom, acariciando a nuca dele com a ponta dos dedos, fazendo um arrepio gostoso cruzar seu corpo.
Soonyoung afastou-se o suficiente para que pudesse segurar o rosto de Jihoon e selar seus lábios, beijando de maneira doce e demorada.
— Ah, pronto, era só o que faltava — afastaram-se depressa quando ouviram alguém dizer. — Tudo bem vocês serem gays, mas precisam ficar se pegando em público? — um alfa perguntou fazendo uma careta.
Soonyoung revirou os olhos muito fortemente.
— A gente não tava se pegando… — Jihoon murmurou baixinho, mantendo os olhos no chão.
— É, cara, isso não era nem sequer um beijo — o Kwon respondeu, então segurou o rosto do ômega com uma mão e o beijou novamente, empurrando sua língua dentro da cavidade dele logo de cara, sugando o músculo do baixinho antes de se afastar, deixando-o um pouco atordoado. — Isso foi um beijo. Quando você conseguir beijar alguém assim, talvez pare de se incomodar com a vida dos outros — pegou suas coisas e segurou Jihoon pela mão e o levou para saírem dali.
Assim que chegaram no corredor, o baixinho começou a rir enquanto batia de leve no braço no alfa.
— Seu deboche alcançou um nível muito alto — afirmou, sentindo as bochechas quentes.
— Me irrito com essa hipocrisia, é mais forte que eu — abraçou o menor pelos ombros.
Logo eles chegaram no refeitório e Jihoon tomou a frente e sentou junto de seus amigos dizendo:
— Vocês nem sabem o que o Soonyoung fez!
— Para, garoto — o alfa pediu, sentando ao seu lado. — Não era pra… — franziu o cenho ao ver todas as pessoas na mesa. — Shua hyung, o que tá fazendo aqui?
— Eu tive a última aula com o Jeonghan, ele me convidou para almoçar e eu aceitei — explicou o beta, deitando a cabeça rapidamente no ombro do Yoon. — Mas quero saber a fofoca! Conta!
— Espera, espera — pediu Jeonghan. — Antes só responde rapidinho, Jih: posso chamar os amigos do Mingyu pra sua festa?
— Pode, eles parecem legais — o ômega balançou os ombros. — Mas, então, a gente tava no banheiro…
— Jihoonie!
Chapter 20: Saquinhos de chá
Chapter Text
— Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida — a voz suave de sua mãe foi a primeira coisa que Jihoon ouviu ao acordar no dia 22.
Abriu os olhos, um pouco confuso, vendo os progenitores entrarem no quarto com sorrisos grandes. A alfa carregava um bolo pequeno com velas coloridas acesas, enquanto seu pai estava com três balões e um presente bem embrulhado.
— Feliz aniversário, filhote — Daeun desejou, sentando-se perto dele na cama.
— Parabéns, filho — o pai sorriu, dando a volta na cama para sentar do outro lado.
— Obrigado — o ômega mais novo não podia – nem tentava – conter um sorriso alegre.
— Faz um pedido — Taesuk falou.
Fechou os olhos e juntou as mãos por alguns segundos antes de abri-los e assoprar as velinhas. Segurou a bandeja com o bolo para que sua mãe pudesse bater palminhas animadas.
— Obrigado, de verdade — Jihoon falou, deixando que os mais velhos lhe abraçassem pelos ombros, de uma forma um tanto quanto atrapalhada. — Isso é pra mim? — perguntou olhando o pacote nas mãos do progenitor.
— Ah, sim — riu por ter esquecido por alguns segundos. — É de nós três: da mamãe, da mana e meu.
— Esperamos que goste.
O ômega mais velho pegou o bolo e entregou o presente, o qual Jihoon abriu devagar para não rasgar o embrulho — uma mania que ele tinha desde pequeno.
— Woah — exclamou o baixinho ao ver o presente, que consistia em uma câmera instantânea, um caderno de capa preta dura e várias canetas coloridas.
— Você disse que queria fazer um caderno de colagens, lembra? — disse a alfa, sorrindo ao ver como os olhos do filho brilhavam. — Você gostou?
— Eu adorei! — sorriu animado, ligando a câmera para tentar descobrir como funciona. — Sério, obrigado.
Assim que ligou a câmera, Jihoon tirou uma selfie com seus pais, mostrando o bolo e os presentes.
— Depois tira uma cópia que eu vou querer — falou Daeun. — Nós vamos deixar você levantar, tomar um banho e se arrumar pra tomar café porque daqui a pouco nós temos que pegar estrada pra ir ver seus avós. Seu avô já tava ansioso ligando.
— O vovô acorda muito cedo, credo — resmungou o ômega. — Quando o vovô levanta, o cara que apresenta o jornal da manhã ainda tá escovando os dentes.
Seus pais riram de sua brincadeirinha antes de saírem do quarto.
Jihoon se espreguiçou e rolou na cama, pegou seu celular e checou algumas mensagens de seus amigos lhe desejando parabéns.
Como sempre, Jeonghan mandou assim que o relógio bateu meia-noite, ele, entretanto, já estava dormindo naquele horário. Wonwoo também mandou felicitações, perto das duas da manhã. Soonyoung, por outro lado, também havia mandado parabéns à meia-noite.
[Soony]
Meia noite!! Feliz aniversário Jihoonie!!
♡♡♡♡♡♡♡♡♡
Gif
Você tá dormindo agr mas tudo bem
Depois se não for incomodar demais eu queria te ver antes da festa pra entregar seu presente
Jihoon sorriu bobo lendo as mensagens acompanhadas de um Gif de um bichinho dançando com um bolo de aniversário.
Bom dia
Obrigado Soonie <33
Vc e o Jeonghan hyung foram os primeiros
Já ganhei meu dia todo haha
Eu vou almoçar com meus avós mas vc pode vir aqui de tarde
Tá cedo então vc tá dormindo ainda
Mas obrigado de novo ❤️
— Jihoon! Já tá pronto? Não tô ouvindo o som do chuveiro!
— Já vou, mãe! — levantou-se depressa.
[...]
A viagem até a casa de seus avós levava mais ou menos uma hora. O percurso de carro foi bastante tranquilo, Jihoon adormeceu no banco de trás até chegarem.
Seus avós ficaram muito felizes de o verem, o abraçaram e beijaram seu rosto. Conversaram bastante, comeram o almoço especial que sua avó havia preparado e entregaram os presentes para o ômega.
Depois de algumas horas conversando, voltaram para casa.
— Nós só vamos pegar umas coisas e já vamos voltar pra casa dos meus pais — Taesuk disse assim que estacionaram o carro, ele desceu do veículo e abriu a casa.
— Podemos confiar em você que a casa vai estar inteira quando voltarmos? — a alfa perguntou.
— Em mim, pode. O problema vai ser o Jeonghan hyung — respondeu Jihoon fechando a porta do carro.
— Eu nada, garoto! — pulou no lugar ao ouvir a voz do melhor amigo aproximando-se.
Jeonghan vinha chegando em sua casa junto de Joshua e Soonyoung, que riam baixo da relação um tanto caótica dos amigos.
— A gente tá vindo organizar sua festa, mostra um pouco de gratidão — reclamou o mais velho, apesar de sorrir. Aproximou-se do ômega e o abraçou enquanto bagunçava seus cabelos. — Feliz aniversário, Jih.
— Valeu, hyung — riu baixo tentando se afastar das mãos arteiras.
— Oi, Jeonghan-ah — Daeun sorriu, chegando mais perto do garoto. — Que bom que chegaram cedo, nós já estamos de saída. Soonyoung-ah, que saudade, querido! Você nunca mais apareceu.
— Oi, Sra. Lee — o alfa sorriu tímido.
— Como está, querido? Meu marido foi deixar as coisas lá dentro, eu não tenho condições de subir a escada — riu gentil, tocando a própria barriga saliente. — E esse menino tão bonito, quem é? — olhou para Joshua.
— Ah, esse é meu primo — Soonyoung disse, trazendo o beta para mais perto.
— Minha alma gêmea! — Jeonghan exclamou, abraçando-o por trás apertado.
— Ai, garoto, vai me derrubar — reclamou Joshua, rindo. — Olá, Sra. Lee. Eu sou Hong Jisoo — curvou-se em cumprimento.
— Olá — ela sorriu. — Nós já estamos de saída, se divirtam mas não destruam a casa.
— Pode deixar — Jeonghan garantiu.
Assim que os mais velhos seguiram viagem, os garotos entraram na casa enquanto o Yoon tagarelava sobre as coisas que eles ainda precisavam buscar e organizar.
— Você pode subir pro seu quarto que Shua e eu vamos organizando, depois nós vamos no mercado.
— E eu? — Soonyoung perguntou.
— Sobe, dá pra ver na sua cara que você não aguenta mais ficar longe do Jihoon — Joshua disse e os outros riram.
— Vem, Soonie — o ômega pediu, puxando-o pela mão para subirem a escada.
Assim que entraram, Jihoon fechou a porta e deixou a sacola com seus presentes ao lado da cama.
— Deixa eu te parabenizar direito — Soonyoung pediu.
— Você me mandou mensagem à meia-noite…
— Tá, mas eu quero te abraçar — fez bico.
O ômega riu deixando que ele o abraçasse apertado enquanto beijava seu rosto.
— Feliz aniversário — sussurrou.
— Obrigado — sorriu quando as mãos grandes do outro tocaram seu rosto e, logo em seguida, ele plantou selinhos doces em seus lábios. — Você tá um tanto carente esses dias, né? — falou quando os braços do maior circularam sua cintura novamente.
— Só um pouquinho — riu tímido ao se afastar. — Aqui — entregou para o menor o pacote que estava em suas mãos.
— Posso abrir já? — perguntou animado enquanto se sentava na cama.
— Claro — respondeu Soonyoung sentando ao seu lado.
Jihoon abriu o embrulho com cuidado, abrindo a caixa de tamanho médio, curioso. Ali, havia uma pelúcia de filhote de tigre, um livro denominado "Um milhão de finais felizes" e vários bombons espalhados.
— Awn, isso é tão fofo — o ômega sorriu retirando os presentes da caixa.
— Que bom que gostou — o mais velho se aproximou. — Quer saber por que um tigre?
— Tem um porquê?
— Tem. Tigre é meu animal favorito e meu espírito animal também, e como você adora pelúcias, esse é pra te lembrar de mim quando eu estiver longe — explicou, sorridente e um pouco tímido. — E o livro é de mim e do Shua hyung, esperamos que goste.
— Obrigado… meu tigrinho — sorriu, aproximando-se dele para beijá-lo novamente.
— Seu? — o alfa perguntou erguendo uma sobrancelha.
Jihoon riu e chegou mais perto após deixar os presentes no pé da cama. Abraçou Soonyoung pelo pescoço e selou seus lábios outra vez.
— Só porque você tá carente — brincou, deixando o alfa apertar sua cintura, puxando-o para mais perto. — Mas quer saber um segredo?
— Que segredo? — perguntou interessado, roçando seus narizes.
Jihoon sorriu e lhe deu um selinho rápido antes de responder:
— É um segredo que Shakespeare me contou — sussurrou. — Que guardar algo que possa te recordar, seria admitir que eu poderia te esquecer. E eu nunca me esqueceria de você.
Soonyoung o encarou por alguns segundos, olhando-o com uma expressão indecifrável. Levou ambas as mãos ao seu rosto e o beijou de forma intensa. Os braços de Jihoon passaram pelos ombros do maior enquanto se ajeitava na cama da forma que conseguia, sentindo o corpo dele se aproximar mais e mais.
— Você me deixa louquinho quando fica citando autores, sabia? Falando essas coisas bonitas... — perguntou, meio direto, meio retórico.
Jihoon sorriu ofegante, apoiando-se na cabeceira da cama, permitindo que Soonyoung se debruçasse sobre si enquanto beijava seus lábios.
O contato de suas bocas e os toques de suas línguas já estavam se tornando familiares para o ômega, e ele gostava de familiaridade. Gostava da forma como Soonyoung estava se tornando parte de sua vida.
Por mais que estivessem conectados pelas almas, poderiam nunca ter se encontrado.
Jihoon gostava da forma que o alfa estava se tornando importante, sendo seu companheiro em suas primeiras experiências sobre relacionamentos. Não tinha medo de dar isso a ele, pois toda vez que o beijava, sentia que não iria se arrepender.
O corpo do maior estava parcialmente sob o seu. Sentia uma perna dele entre as suas, de uma forma preguiçosa. O tronco dele perto do seu, enquanto as mãos tocavam seu rosto e cintura.
Acabaram perdendo a noção do tempo em meio às carícias, os lábios de Soonyoung já estavam brincando pela pele do pescoço do ômega, que mantinha os olhos fechados e quase ronronava, apreciando o contato.
Tocou os cabelos escuros de Soonyoung, trazendo o olhar dele para encontrar o seu. Selou seus lábios rapidamente e deslizou-os até o pescoço do maior, retribuindo o carinho. Sentia a derme alheia se arrepiar sob seu toque, junto da respiração descompassada do maior em seu ouvido.
Quando Jihoon sentiu o alfa morder levemente seu lóbulo, ele se afastou, um tanto afetado, sentindo Soonyoung beijar sua testa.
— Tudo bem? — ele perguntou, baixinho.
— Tá sim, só…
— Ei, vocês aí! — ouviram a voz alta de Jeonghan no corredor. — Que cacete vocês tão fazendo aí dentro? O cheiro dos dois tá muito forte, tá me deixando agitado!
— Desculpa! — Jihoon pediu, sentindo uma vergonha absurda crescer em seu peito ao constatar que, de fato, o cheiro forte de camomila e café estava por todo canto.
Abriu a porta do quarto e deu de cara com o melhor amigo, que fechou os olhos e trancou a respiração, já que o cheiro estava mais forte ali dentro.
— Caralho, hein — resmungou o mais velho. — Enfim… daqui uns minutos a gente vai no mercado comprar umas coisas, então fiquem prontos.
— Ok — Jihoon murmurou, indo fechar a porta de novo, mas Jeonghan impediu.
— Deixa a porta aberta.
— Ok, mãe — debochou, ganhando uma língua do alfa que desceu as escadas em seguida.
Voltou a sentar na cama em seguida, mas não sabia o que dizer e ainda sentia seu rosto pegando fogo.
— Então… — Soonyoung começou. — Como foi com seus avós?
— Ah, foi legal — deu de ombros. — Minha vó fez o almoço, Jjajjangmyun, junto de Tteokbokki e umas coisas assim. Eles conversaram, falaram sobre como eu cresci e relembraram algumas histórias de quando eu era criança. Me deram uns presentes e logo voltamos já que vai ter a festa aqui em casa.
— Hum — murmurou, apenas para mostrar que havia ouvido. — E o que você ganhou?
— Meus avós me deram roupas e meus pais... — levantou para buscar o presente. — Eles me deram uma câmera polaroid e um caderno, já que eu queria começar um caderno de colagens.
— Que legal — sorriu, olhando a câmera de cor azul bebê que o ômega lhe mostrava. — É realmente sua cara um caderno de colagens.
— É, eu sei — riu baixo. — Olha pra cá — pediu após ligar a câmera, apontando para Soonyoung.
O alfa sorriu envergonhado deixando que Jihoon tirasse uma foto sua. Logo ela saiu pela parte inferior da câmera.
— Fofo — disse o baixinho, aproximando-se novamente. — Vamos tirar uma juntos.
— Tipo de casal? — perguntou, chegando mais perto do menor.
Jihoon riu anasalado enquanto revirava levemente os olhos.
— É, tipo isso — colou sua bochecha na do alfa e ergueu a câmera, tirando uma selfie deles. — Ficou bonitinha.
— Posso tirar outra?
— Claro — entregou a polaroid para o maior, usando alguns segundos para ensiná-lo como funcionava.
— Ok, entendi — levantou o braço e olhou para Jihoon. — Olha pra mim — pediu e, assim que foi atendido, selou seus lábios aos do ômega e clicou no botão.
O ômega sorriu ao perceber o que havia sido feito. Beijou o rosto do maior antes de checar como a foto tinha ficado.
— Eu adorei, posso ficar pra mim? — perguntou o maior guardando a foto contra o peito.
— Pode — sorriu, deitando a cabeça no ombro dele.
— Obrigado — respondeu de maneira fofa, guardando a foto no bolso da camisa de flanela.
Antes que pudessem falar mais alguma coisa, Jeonghan subiu as escadas novamente e os chamou para irem ao mercado comprar coisas para a festa.
— Não precisamos comprar muita coisa, né? — Jihoon perguntou, descendo as escadas atrás do Yoon.
— Eu já pensei em tudo, confia — respondeu o mais velho.
— Isso não responde minha pergunta.
[...]
Assim que voltaram do mercado com as sacolas cheias de bebidas alcoólicas e alguns salgadinhos diversos, Jeonghan e Joshua começaram a organizá-los. Desta vez, fizeram Soonyoung ajudar enquanto Jihoon trocava de roupa para a festa.
— Ok, como eu tô? — o ômega perguntou assim que chegou na cozinha, onde os demais estavam conversando enquanto improvisavam alguns drinks.
Jihoon usava uma blusa azul claro com alguns detalhes de mangas longas, calça jeans escura com alguns rasgos. Nos pés, usava all star branco e uma corrente fina prateada no pescoço.
Os três pares de olhos voltaram para si e os três assumiram expressões diferentes: Jeonghan levantou os polegares enquanto sorria de canto, Joshua apenas murmurou um "está bonito", e Soonyoung acabou soltando um "uau" quase sem perceber.
— Tá, acho que isso é bom — falou ao se aproximar deles.
O Kwon riu baixo, chegando mais perto do menor para tocar sua cintura.
— Você tá lindo — elogiou.
— Tá, mudando de assunto — Joshua interrompeu, fazendo Jeonghan rir contido. — A gente tá tentando fazer umas bebidas, mas ninguém sabe como…
— Então a gente pensou em deixar assim e cada um que se vire — o mais velho completou.
— Só… — Jihoon suspirou. — Espero que ninguém morra misturando coisa que não deve, ou que vomitem na casa, porque isso é pior.
— Relaxa, vai dar tudo certo — o Yoon riu, tocando seus ombros. — Não vão vir muitas pessoas, só gente consciente.
— O maior perigo é o Soonyoung, mas não se preocupa, eu vou tentar ficar de olho nele — o beta disse.
— Aish, foi só uma vez! — reclamou o alfa. — E o pior que eu fiz foi me declarar pro Jihoon.
— E depois que chegou em casa, ficou o final de semana todo chorando — acusou Joshua. — "Hyung-ah, eu estraguei tudo! Ele não vai mais olhar na minha cara!"
— Que mentira, seu… — tentou cobrir a boca do Hong, mas ele desviou e continuou imitando suas (supostas) falas com uma voz chorosa.
Logo, os dois estavam correndo pela casa como duas crianças. Jeonghan e Jihoon ficaram no mesmo lugar, rindo da relação dos primos.
— Essas são nossas almas gêmeas — o ômega resmungou.
— Eu gosto da minha — o mais velho deu de ombros. — E o único erro do Soonyoung foi amar demais.
— Cala a boca — mandou o baixinho, saindo da cozinha quando ouviu a campainha.
Abriu a porta e Seungkwan entrou, junto de Seokmin, Chan, Vernon e Junghwa.
— Chegamos, vamos organizar essa festa antes do pessoal chegar — o Boo disse, abraçando Jihoon pelos ombros. — Feliz aniversário, Jihoon hyung.
— Valeu, mas… quantas pessoas vão estar na minha casa?
— Não muitas, eu prometo — o ômega sorriu. — Jeonghan hyung foi bem específico quanto a isso, mas eu vou organizar a playlist e Hansolie vai ajudar com a caixa de som.
— Certo, certo… — afastou-se de Seungkwan. — Valeu.
O casal sorriu e começaram o trabalho. Seokmin o cumprimentou e logo foi falar com Soonyoung e Joshua.
— Daqui a pouco você se acostuma com eles — Chan falou se aproximando do ômega.
— Eu espero que sim.
— Trouxe algo pra você — entregou uma caixinha pequena de veludo.
— Você vai me pedir em casamento? — brincou e o beta riu.
— Quem sabe daqui uns anos.
Jihoon riu baixo e abriu o presente que era um broche da bandeira demisexual.
— Ai, meu Deus, eu amei — o ômega sorriu. — Eu vou ignorar a parte que você sabe minha sexualidade sem eu nunca ter te contato.
— Wonwoo é fofoqueiro, e o namorado dele também — Chan riu, pegando o pingente e arrumando na blusa do menor. — Seu segredo tá revelado, mas pouquíssimas pessoas sabem o que é assexualidade.
— Eu sei, quando Soonyoung viu minha bandeira ele perguntou de qual país era — contou, fazendo o beta gargalhar.
— Ele é adorável — olhou para o alfa, que estava discutindo com Seungkwan quais músicas escolher. — Cabeça de vento, mas adorável.
— Jihoonie! — ele chamou. — Fala pro Seungkwan que tem que tocar Yungblud!
— Ninguém gosta dessas músicas estranhas, Soonyoung — o Boo brigou.
— Seungkwan-ah, tá tudo bem, eu gosto também — o Lee garantiu fazendo um “joinha” com a mão.
O ômega estreitou os olhos.
— Eu acho que você tá só falando isso pra ter as músicas do seu namorado, mas tudo bem, sua festa — deu de ombros.
Jihoon e Chan apenas riram.
[...]
— Viu? Eu falei que não ia tá muito lotado! — Jeonghan exclamava, sua voz soava abafada pela música alta. — Agora, você só precisa se divertir!
— Eu tô no caminho, prometi que não ia me preocupar essa noite — Jihoon respondeu erguendo seu copo de bebida e fazendo um brinde com o amigo.
— Isso aí! — exclamou o alfa, virando uma dose de vodka. — Eu vou procurar o Cheol, ok?
— Ok, vai lá. Ainda vou esperar o Soonyoung voltar.
— Ele e Joshua ainda não voltaram? Eles só foram comprar gelo.
— Já devem estar voltando — deu de ombros.
Jeonghan imitou o gesto e saiu da cozinha em seguida. O ômega, por sua vez, esperou por mais alguns minutos até que Soonyoung estivesse de volta, o que não levou muito. Menos de dez minutos depois, o alfa havia adentrado o cômodo.
— Ei, por que você não tá se divertindo? — perguntou assim que chegou mais perto do menor.
— Tava esperando você — explicou enquanto o outro abraçava sua cintura e beijava seus lábios de forma rápida.
— Não precisa me esperar pra se divertir…
— Eu sei, seu besta — resmungou entregando um copo para ele. — Mas eu tenho vergonha de dançar sozinho e tem muitas pessoas que eu não tenho intimidade, aí, sim, eu preciso de você.
Soonyoung riu baixo, penteando os cabelos escuros de Jihoon para trás, percebendo que ele já estava levemente alterado pelo álcool.
— Então vamos dançar, denguinho — lhe deu um selinho.
— Você que é dengoso — retrucou, afastando-se do abraço.
O alfa riu e encheu seu copo com vodka e suco.
— Vamos? — estendeu a mão livre para o menor, que logo a segurou, entrelaçando seus dedos.
— Uhum.
Joshua chegou na cozinha antes dos dois saírem, o beta estava deveras animado, com uma aura mais leve e descontraída.
— Ei, meu casal favorito! — ele exclamou, chegando perto de ambos. — Estão sentindo falta de vocês na pista de dança.
— A gente tá indo — Soonyoung respondeu igualmente animado.
— Você pode misturar bebida com seus remédios? — Joshua olhou para o alfa, segurando seu braço.
— Eu só tomo antes de dormir, não se preocupa, não dá nada — bateu no ombro do primo e saiu puxando Jihoon para a sala, onde haviam improvisado uma pista de dança.
— De que remédios ele tava falando, Soon-ah? — o ômega perguntou, falando alto perto do ouvido do alfa graças a música das caixas de som.
— Nada demais, bebê — respondeu rápido antes de beijar a ponta do seu nariz.
Jihoon iria comentar sobre o apelido, mas teve preguiça de ter que sobressair a música, ainda mais quando uma de suas favoritas começou a tocar.
This is a song about a person I love
(Essa é uma música sobre uma pessoa que eu amo)
Soonyoung e ele cantaram juntos, começando a dançar em seguida conforme a música tocava. Jihoon apenas pulava baixo e balançava o corpo de um lado para o outro, enquanto o alfa executava alguns passos legais, quase como se seu corpo respondesse automaticamente a música.
They're gonna lock me in the closet but I'm coming out
(Eles vão me trancar no armário mas eu vou sair)
Saying fuck all the oppression and the self doubt
(Dizendo foda-se toda opressão e auto dúvida)
I'm gonna bite all of your fingers, put 'em in my mouth
(Eu vou morder todos os seus dedos, colocá-los na minha boca)
I'm on my knees
(Estou de joelhos)
Soonyoung cantou segurando a mão de Jihoon, pondo-se de joelhos enquanto olhava para o ômega, que apenas ria enquanto balançava a cabeça.
So take it easy, take it easy, take it easy, girl
(Então pegue leve, pegue leve, pegue leve, garota)
Take it easy, take it easy on me
(Pegue leve, pegue leve comigo)
I know you're so hard to please
(Eu sei que você é tão difícil de agradar)
Just take it easy, take it easy on me
(Apenas pegue leve, pegue leve comigo)
Jihoon sorria grande, com o riso frouxo e os movimentos mais rápidos que sua percepção, mesmo assim, estava se divertindo observando o alfa dançar e cantar alegre.
— Essa música também é pra você — Soonyoung falou em seu ouvido.
— De Carly Jepsen pra Yungblud é um salto muito grande — retrucou o baixinho, colando os lábios na orelha do maior para que ele escutasse.
— Eu sei!
O ômega riu novamente.
— Seungkwan reclamou, mas tá todo mundo dançando as "música estranha".
— Estão todos bêbados demais pra perceber — Soonyoung disse, segurando a cintura do baixinho quando voltaram a dançar.
Várias músicas tocavam, de artistas e bandas diferentes, diversas pessoas dançavam na pista de dança improvisada, cantando alto e derramando alguns goles de bebidas no chão, despreocupada demais para ligar.
Jihoon quase não ouvia as conversas paralelas, algumas frases sem sentido fora de contexto, alguns gritos mais animados quando uma nova música começava, estava imerso demais naquele calor, naquela empolgação que não enxergava dois palmos à sua frente.
Normalmente, gostava de silêncio, apreciava músicas calmas e a companhia de um bom livro, mas isso não significava, necessariamente, que aquele era o único tipo de ocasião que ele aproveitava. Mesmo que raramente, não negava que uma festa mais agitada e barulhenta poderia ser uma ótima maneira de aliviar o estresse, extravasar alguns sentimentos e suprir a necessidade de dançar até sentir as pernas doerem.
Era somente a vontade que Jihoon tinha de ser um adolescente aproveitando sua vida como qualquer outro.
Alguns copos depois, o ômega já se sentia mais zonzo do que deveria, então pediu para que Soonyoung o levasse para outro lugar. O baixinho ria sem conseguir se conter, não havia nada engraçado ao redor, apenas a noção de que estava embriagado parecia hilária.
— Pronto, acho que chega de bebida pra você — o alfa disse ao ajudá-lo a sentar no chão numa rodinha ao lado de Joshua e Chan.
— Eu não tô tão bêbado, é só porque eu não tô acostumado a beber — argumentou, puxando o Kwon para que sentasse ao seu lado.
— Tô com dó da ressaca que você vai tá amanhã — Chan falou, sorrindo divertido ao observar os dois.
— Não vou tá, nada! — exclamou Jihoon, fazendo algumas pessoas rirem.
— Aqui, bebe um pouco de água — Jeonghan falou ao se aproximar do pequeno grupo, entregando uma garrafinha de água para ele. — Do que estavam falando?
— Heterosexualidade compulsória — Momo falou animada, erguendo seu próprio copo.
— Tá mais ela e a Sana conversando, a gente não tem o que falar — Minghao disse.
O chinês estava ao lado da alfa, abraçando-a pelos ombros enquanto segurava um copo pela metade com a mão livre.
— Vivências de meninas cis que questionam sua sexualidade — Chan complementou, virando sua bebida em seguida.
— Minghao, você não namorava, não? — Jihoon perguntou com o cenho franzido.
Todos os sete presentes na rodinha o olharam.
— Nunca disse que nosso relacionamento era monogâmico — sorriu erguendo as sobrancelhas.
— Ui, que transcendental — Chan riu.
— Você usa palavras muito difíceis quando 'tá bêbada, Channie — Sana apontou.
— Eu não acho — o beta respondeu aos risos.
— Jihoon fala palavras difíceis mesmo quando está sóbrio — Soonyoung contou, chamando atenção para si. O ômega, que estava com a cabeça deitada em seu ombro, ergueu os olhos para si também. — Às vezes, a gente tá conversando e do nada ele solta: "sim, isso é muito condescendente."
Os jovens riram, alguns batendo palmas e outros cobrindo seus rostos.
— O que isso significa? — Momo perguntou.
— É uma pessoa que não é incapaz de se impor! Alguém flexível! — o ômega explicou, falando devagar pois estava se enrolando nas próprias palavras.
— Era só falar flexível — argumentou Jeonghan.
— Mas flexível também é sinônimo de tipo... — Chan disse, entrando no meio do ciclo e trazendo uma perna para cima do ombro, causando gargalhadas em todos.
— Meu Deus, como você consegue? — Soonyoung perguntou, embasbacado.
— Treinamento — sorriu de canto voltando ao seu lugar anterior.
— Isso soou meio lascivo — murmurou Jihoon.
— Aí as palavras difíceis! — acusou o alfa.
— Ah, lascivo não é uma palavra difícil — rebateu, cruzando os braços. — Vem de luxúria, pronto. Virei um dicionário.
— Todos aprendemos palavras novas hoje — Joshua falou, quase anunciando como algo importante. Mais risadas.
— Mas como vai ser luxúria se Chan é assexual? — Jeonghan perguntou.
— Mas eu já fiz sexo, hyung — o beta respondeu suavemente, fazendo com que todos, exceto Jihoon, assumissem expressões genuinas de confusão.
— Pff… — Jihoon soltou, gargalhando em seguida enquanto se jogava sob Chan, sem muita noção sob seu próprio peso. — Eu adoro quando as pessoas tem esse delay!
— Né!? — o outro riu, segurando o mais velho pelos braços para que sentasse. — É sempre muito engraçado. Pessoas assexuais podem fazer sexo, tá, gente?
— E gostar — acrescentou Jihoon.
— Essa é nova — Momo comentou, deitando a cabeça no ombro de Minghao.
— Expliquem aí pra gente — Soonyoung pediu, entretanto assim que outra música começou, ele exclamou: — Ah! Eu amo essa! Seokmin-ah, cadê você? Vamos dançar!
Então, levantou-se e saiu correndo para a pista de dança de encontro ao amigo que já dançava animado a batida rápida de Hello Kitty.
Jihoon riu anasalado e ficou observando o alfa dançar com Seokmin, acabou perdendo a breve explicação de Chan sobre aquele aspecto específico da assexualidade. Apenas voltou a prestar atenção quando Sana falou:
— Mas, de qualquer forma, deve ser mais fácil pra você que é um beta, né? Porque alfas e ômegas já nascem com esse instinto, não? — olhou para os demais presentes.
— Acho que não tem nada a ver, noona — o beta disse. — O Jihoon hyung, por exemplo, ele é um ômega e também não sente atração sexual…
— Só por pessoas específicas, mas aí é outra questão — o baixinho disse.
— Sim, outra questão — concordou sorrindo. — Atração sexual é algo complicado, pelo menos no meu ver, até porque eu não sinto isso, mas não quer dizer que eu odeio sexo. Mas não acho que tem a ver com alfas e ômegas.
— Todo esse lance de sexualidade é complicado — Joshua comentou, a voz soando suave, quase não sendo ouvida por causa da música alta. — Seria mais fácil se fôssemos só uma coisa.
— Mas qual seria a graça disso? — Jeonghan disse, abraçando-o pelos ombros. — Imagina que tédio se todo mundo inteiro fosse hétero, se todas as pessoas fossem exatamente iguais.
— É, talvez — deu de ombros.
— É estranho imaginar também um mundo onde não temos as "classificações" — Jihoon fez aspas com os dedos — de alfa, ômega e beta.
— Não sei. Eu, pessoalmente, não vejo essas classificações — Chan respondeu. — Porque, tipo alfas, ômegas, betas... Não são muito diferentes, é tudo questão de um gene dominante que te dá uma essência e alguns atributos físicos, como força ou um sentido mais aguçado, mas as pessoas conseguiram encontrar nisso uma forma de submeter outras, assim como fizeram com pessoas do sexo feminino por anos. Esses costumes erráticos têm consequências até hoje e é por isso que nós achamos que somos diferentes. Mas, no fundo, é todo mundo igual, todo mundo vai morrer de qualquer jeito.
— Lembre de que somos pó e ao pó retornaremos — Joshua completou.
Todos os sete ficaram em silêncio, refletindo sobre o assunto um tanto complexo.
— Então! — Jeonghan exclamou de repente, assustando alguns. — Vamos dançar pra espantar essa vibe meio pesada?
— Sim! — Jihoon sorriu, levantando rápido e quase se desequilibrando. — Tô bem.
Jeonghan suspirou, olhando Joshua em seguida.
— Você que vai lidar com a ressaca dele amanhã — o Hong apontou, rindo da cara do alfa.
Jihoon voltou para a pista de dança com um novo copo de vodka com suco na mão, procurando por Soonyoung enquanto era contagiado pelo ritmo envolvente de Swim de Chase Atlantic.
The water's getting colder, let me in your ocean, swim
(A água está ficando mais fria, me deixe entrar em seu oceano e nadar)
Out in California, I'll be forward stroking, swim
(Lá fora na Califórnia, vou estar desejando e nadando)
So hard to ignore ya', especially when I'm smoking, swim
(Tão difícil te ignorar, especialmente quando eu estou fumando e nadando)
World is on my shoulders, keep your body open, swim
(Carrego o mundo, nas costas, mantenha seu corpo aberto e eu nadarei)
O ômega sentiu um par de mãos segurando sua cintura e virou-se depressa, um pouco assustado, mas relaxou no lugar ao ver o sorriso de Soonyoung. Retribuiu o gesto e o abraçou pelos ombros, encostando seus lábios num selar rápido.
— Como você tá? — o baixinho perguntou, aproveitando que as músicas da playlist estavam voltadas para um estilo menos agitado.
— Mais pra lá do que pra cá — riu baixo. Jihoon pôde sentir o cheiro de álcool, mas não se importou, deveria estar igual.
— Eu também — falou, apertando mais o contato, mantendo seu corpo próximo do maior. — Tô me sentindo meio estranho…
— Tá passando mal? — Soonyoung alarmou-se.
— Não, só… — suspirou, tocando o rosto bonito do alfa, trazendo-o para mais perto do seu. — Tô com calor… Quero te beijar até ficar sem ar… É só estranho.
Soonyoung mordeu os lábios com certa força, tomou o copo da mão de Jihoon e deixou-o em qualquer lugar. Segurou a cintura do menor e colou seus corpos, trazendo o ômega para o mais perto que podia de si e o beijou. Beijou de forma intensa, deixando ambos sem ar rapidamente.
Jihoon arfava, gemia baixo e entrecortado, agarrando os cabelos da nuca de Soonyoung, puxando alguns fios toda vez que a língua dele se arrastava na sua.
Quando menos percebeu, estava sendo prensado entre uma parede e o corpo de Soonyoung. As mãos grandes seguravam sua cintura e, vez ou outra, tocavam sua bunda e coxas, mas o ômega estava tão imerso que nem conseguia sentir vergonha. Deixava que suas mãos também explorassem o alfa, tocando seu pescoço, ombros, peito e abdômen.
Jihoon sentiu sua intimidade latejando ao mesmo tempo que os lábios de Soonyoung começaram a beijar e marcar a pele de seu pescoço, causando arrepios que percorriam todo seu corpo. Seu pensamento lógico já estava longe e tudo que ele conseguiu dizer foi…
— Soonyoung… mais, por favor… vamos subir…? Eu… — arranhou sua nuca com força desmedida quando sentiu depositar um chupão em sua pele.
Em poucos segundos os dois já estavam no andar de cima, embriagados pelo álcool, pelos hormônios e pelo próprio tesão.
Continuaram se beijando, de maneira bagunçada enquanto seus corpos se moviam por instinto sob a cama. Jihoon tinha Soonyoung entre suas pernas, sentia ele movimentando o quadril contra o seu, causando uma fricção entre seus membros despertos por cima de suas roupas.
Era uma sensação estranha, nova, e que confundia seus sentidos. Não conseguia controlar os sons que saíam de sua boca nem a forma que sua essência era liberada em abundância, se misturando com a do alfa e a última parte lúcida de seu cérebro agradecia por ter trancado a porta.
— Jihoon — Soonyoung gemeu rouco, apertando sua cintura. — Porra, caralho...
— E-Está gostando? — perguntou baixo, não entendendo o brilho feroz que cintilou rapidamente nos olhos do alfa.
Os movimentos aceleraram, as mãos apertaram sua cintura e ele afundou o rosto em seu pescoço.
— Posso? — ele sussurrou em seu ouvido.
O ômega, entretanto, não conseguiu entender o que ele pediu, apenas concordava com qualquer coisa, ouvindo seu corpo implorar por algo que não conseguia assimilar.
Sentiu, então, uma das mãos de Soonyoung abrir sua calça e abaixar um pouco o tecido, deixando seu pênis duro — ainda coberto pela roupa íntima — à mostra. Poucos segundos depois e o alfa fez o mesmo em si, Jihoon viu a cueca do maior marcada, com uma mancha óbvia demais, e estremeceu.
Soonyoung se dedicou a acariciar seus membros com as mãos, continuando a mover os quadris juntos, enquanto Jihoon apenas conseguia gemer e lamber o suor que escorria pela pele do alfa.
— Soonyoung, eu… Soonyoung, acho que eu vou gozar — avisou com seu último resquício de sanidade, cruzando as pernas na cintura do maior.
— Eu também… você é tão gostoso, porra, isso é tão bom — rosnou baixo. — Jihoon!
Chamando um ao outro, gozaram ao mesmo tempo, sentindo tremores se arrastando por seus corpos. A sensação era completamente nova para Jihoon, que mantinha os olhos fechados enquanto sentia suas mãos tremendo. Soonyoung, por sua vez, já havia experimentado a sensação de um orgasmo, mas nunca daquela forma tão intensa.
Quando o mais velho ergueu o próprio corpo, Jihoon o abraçou, beijando seus lábios antes de pedir:
— Fica.
Soonyoung concordou.
Chapter 21: Chá de Maçã
Chapter Text
— Vai, então! Eu não tô pedindo pra você ficar!
— Esse é o problema! Você nem faz mais questão da minha presença!
Jihoon acordou ouvindo vozes vindo do andar de baixo da sua casa. Sua cabeça doía um pouco e ele estava confuso, aos poucos as lembranças da noite anterior estavam voltando.
Tentou sentar na cama mas sentiu um peso sob sua cintura, juntou as sobrancelhas ao virar-se e seus olhos se arregalaram ao ver Soonyoung dormindo pesado, agarrando seu corpo como um travesseiro.
— Não, não, não. Que merda — sussurrou para si mesmo, procurando desesperadamente pelo seu celular.
Não encontrou o aparelho, então afastou o braço do maior de si e sentou, pondo os pés pra fora da cama. Ainda usava as roupas da noite anterior, sentia um desconforto estranho no meio de suas pernas e sua cabeça doía toda vez que lembrava porquê.
As vozes irritadas ainda eram ouvidas na sala, isso fez com que o ômega tomasse coragem para levantar. Destrancou a porta e desceu as escadas de forma um pouco cambaleante.
— Você realmente quer discutir isso aqui? Eu tô um pouco ocupado… — Jeonghan exclamou.
— Sim! Você só tem estado ocupado esses dias! — Seungcheol rebateu com a voz embargada.
— Hyung — Jihoon disse, chamando atenção dos mais velhos para si.
— Jih, você acordou — o alfa disse. — Desculpa, nós… eu tava limpando a casa antes dos seus pais chegarem…
— Vocês estão brigando? — olhou para o Choi, que secava discretamente seu rosto.
— Não, tá tudo bem — ele respondeu, aproximando-se do menor. — Me desculpa por não vir ontem. Feliz aniversário — sorriu doce, estendendo uma sacola bonita em sua direção.
— Obrigado, hyung — disse, sentindo-se cada vez mais perdido. — Vocês nunca brigaram antes…
— Acho que pra tudo tem uma primeira vez — Jeonghan murmurou de cabeça baixa.
— É… — Seungcheol sussurrou. — Me desculpa, Jih, amanhã a gente conversa melhor, sim? Eu preciso ir agora.
— Cheol… — Jeonghan tentou chamar, mas o mais velho já havia fechado a porta.
— O que aconteceu? — Jihoon perguntou.
— Nada demais, não se preocupa — o alfa se aproximou. — Desculpa ter te acordado. Você pode voltar a dormir, tá cedo ainda.
— Que horas são?
— Quase oito da manhã — falou após olhar seu celular. — Você tá bem? Acho que você bebeu demais ontem.
— Só tô com um pouco de dor de cabeça e nas pernas — resmungou, escorregando pela parede até sentar em um degrau da escada. — Mas isso é o de menos.
— Ué, como assim? — Jeonghan sentou ao seu lado.
— Soonyoung dormiu comigo…
— Vocês transaram!? — exclamou surpreso, voltando a ficar em pé na velocidade da luz.
— Não! E fala baixo, por favor — apertou as próprias têmporas. — A gente fez… Alguma coisa, mas não aconteceu "sexo". Mas eu tô me sentindo tão estranho.
— Por que? Foi ruim?
— Não.
— Você tá arrependido?
— Não sei...
— Ainda gosta do Soonyoung?
— Óbvio que eu gosto!
— Então só sobe e conversa com ele, aproveita pra refletir enquanto ele não acorda e eu termino de limpar a casa — mandou o mais velho, ajudando-o a ficar de pé e o empurrando escada acima.
Jihoon resmungou enquanto fazia o que foi mandado, trancando a porta do seu quarto e fechando os olhos por um momento.
Eu vou voltar a dormir e fingir que nada aconteceu por enquanto — pensou, andando até seu guarda roupa. Olhou rapidamente para garantir que Soonyoung ainda estava dormindo e então trocou de roupa depressa, colocando uma camisa folgada, uma calça confortável e uma cueca limpa.
Voltou a se deitar na cama e ajeitou o cobertor sobre si e o alfa. Observou por alguns segundos o rosto dele, os cabelos estavam bagunçados, os cantos dos olhos borrados de maquiagem e ele roncava baixinho, mesmo assim, ele continuava lindo e Jihoon sentia-se bobo por pensar isso.
Uma mão de Soonyoung repousava ao lado do rosto, então o menor tocou-a e cruzou seus dedos, aproximando-se mais dele.
Parecia besteira tentar pensar seriamente quando o cheiro do mais velho estava por todo lugar e aquele cheiro sempre o deixava meio aéreo, então apenas fechou os olhos e voltou a dormir, sentindo o outro braço do maior pousar em sua cintura outra vez.
[...]
Quando abriu os olhos novamente, Jihoon podia sentir os dedos gentis de Soonyoung acariciando seus cabelos. Encontrou os olhos brilhantes e doces dele o encarando, como se ele estivesse apenas esperando que acordasse, o que, de fato, estava.
— Bom dia — o alfa falou baixinho.
— Bom dia — respondeu, desviando o olhar para suas mãos que continuavam juntas.
Ficaram em silêncio alguns segundos, procurando palavras e tentando organizar os próprios pensamentos.
— Sobre o que aconteceu ontem… — Soonyoung começou.
— O que tem?
— Eu não tenho certeza — murmurou, brincando com os dedos de Jihoon que estavam entre os seus. — Se eu fosse falar só por mim, eu diria que eu gostei bastante, mas só a ideia que eu posso ter feito sem você querer, me faz querer vomitar…
— Não pensa assim — o ômega interrompeu, tocando o rosto do maior para que ele lhe olhasse. — Eu também queria, não pense que você me forçou, nem nada disso.
— Ainda bem — sorriu aliviado. — E… Você gostou?
O coração de Jihoon acelerou.
— Eu não sei dizer… Não foi ruim, mas… — mordeu o lábio inferior. — Eu me sinto estranho, nunca passou pela minha cabeça fazer algo assim. Parece meio surreal que outra pessoa me tocou e que eu gostei. Foi algo muito novo.
Soonyoung concordou com a cabeça, ouvindo atentamente o que Jihoon falava, mesmo que não soubesse como responder.
— Não sei como as pessoas transam e depois se vêem no outro dia como se nada tivesse acontecido, a gente não fez nada demais e ficou esse clima estranho — o baixinho disse, rindo junto de Soonyoung.
— Entendo. Foi novo pra mim também e foi bom, eu gostei — falou, acariciando a mão pequena. — Mas é como se eu não soubesse o que fazer depois disso.
— É — respondeu baixo, desviando os olhos novamente.
Alguns segundos em silêncio se passaram, ambos pensando no que deveriam fazer a seguir e como o fariam.
Então, Jihoon respirou fundo e tomou coragem para dizer:
— Soon, acho que eu não tô pronto pra dar mais um passo — segredou. — Tudo bem se a gente não fizer algo parecido de novo? Só por agora, enquanto eu me acostumo e penso na ideia.
Soonyoung olhou-o nos olhos antes de acenar com a cabeça.
— É claro.
Jihoon sorriu e se aproximou, abraçando-o de maneira torta pela posição.
— Obrigado por entender.
— Não tem que me agradecer — garantiu o alfa, acariciando suas costas.
— Vamos descer pra tomar café? — olhou-o.
— Que horas são?
— Eu não faço a menor ideia, meu celular sumiu — resmungou, afundando o rosto no peito do alfa, que ria baixo.
— Acho que eu preciso ir embora antes dos seus pais chegarem…
— Provavelmente — fez bico. — Preciso abrir as janelas porque seu cheiro tá por todo meu quarto.
Soonyoung fungou algumas vezes, procurando sua essência no ambiente, já que estava focado demais no aroma de camomila com um toque leve de mel.
— Eu gostei do nosso cheiro misturado — comentou, fazendo Jihoon rir e negar com a cabeça, sentando na cama em seguida. — Fica aqui mais um pouquinho — fez manha.
— Soon, a gente tem aula amanhã e meus pais vão voltar daqui a pouco — argumentou, levantando-se e puxando o maior pela mão. — Vamos, sim?
O alfa resmungou antes de se levantar, ajeitando suas roupas e esticando seus braços.
Jihoon desceu para a cozinha enquanto Soonyoung usava o banheiro. Jeonghan estava sentado no sofá da sala mexendo no celular de maneira despreocupada, todo o local estava limpo e com um odor neutro e agradável.
— Você deixou a casa mais limpa do que tava antes — disse ao se aproximar.
O mais velho riu nasalmente, soltando o celular.
— É claro, eu prometi que você não ia precisar se preocupar com nada.
— Valeu, hyung. Eu realmente gostei — sorriu, andando até o alfa e sentando do seu lado antes de se enfiar entre seus braços.
Jeonghan franziu o cenho pela atitude, não estando nem um pouco acostumado com contato físico vindo do ômega.
— Ih, qual foi? Por que essa carência toda? — perguntou, acariciando os cabelos escuros. — Precisa lavar esse cabelo, hein.
— Cala a boca — riu baixo. — E não sei, acho que ainda tô com sono. Que horas são?
— São… 10h20 — falou após checar no celular. — Soonyoung ainda tá dormindo?
— Tá no banheiro.
— Vocês conversaram?
— Uhum — acenou com a cabeça.
— Tudo certo?
— Sim.
— Que bom — sorriu, apertando as bochechas do menor. — Não sei o que tem pra fazer café, tava esperando vocês acordarem.
— Vou fazer lamen, pode ser?
— Pode — concordou, observando Jihoon se levantar. — Só não quero que você e o Soonyoung me deixem de lado.
— Até parece — resmungou o baixinho. — Aliás, o que aconteceu entre você e o Seungcheol hyung?
Jeonghan bufou, afundando no sofá enquanto escondia-se com uma almofada.
— Não dá para falar disso agora — negou, levantando rapidamente para ir até a cozinha. — Soonyoung tá descendo a escada, não quero que ele saiba.
— Por que? — franziu o cenho enquanto pegava os pacotes de lamen no armário.
— Porque ele é próximo do Jisoo, e eu não quero que ele saiba — sussurrou.
— Isso nem faz sentido, você vai acabar falando pro Jisoo hyung de qualquer forma...
— Shh, cala a boca — mandou abanando as mãos.
— Bom dia, hyung — Soonyoung sorriu ao chegar na cozinha.
— Bom dia — o mais velho respondeu.
Jihoon revirou os olhos e voltou a preparar o café da manhã. Os alfas comentavam sobre a festa da noite anterior, rindo quando lembravam de algumas cenas mais cômicas.
— Que bom que todo mundo gostou, percebi que eu sou ótimo organizando festas — gabou-se Jeonghan, rindo tímido pela brincadeira.
— É, você e Seungkwan poderiam abrir um negócio e montar festa de adolescentes — Jihoon falou, servindo o lámen nas cambucas pequenas e entregando para os demais.
Soonyoung riu baixo, pegando seu lámen e sentando na mesa pequena que havia na cozinha, ao lado de Jeonghan. Logo, o ômega se serviu e sentou ao lado dos amigos.
— Olha, eu não ia comentar nada, mas… — Jeonghan começou.
— Mas eu cozinho melhor que você? Já sabia — brincou o menor.
— Ai, como ele tá engraçadinho — retrucou. — Ficou mudado depois dos 18, né? — os mais novos riram. — Mas não é isso, é que assim — limpou a garganta. — Não ia falar nada, mas vocês não perceberam e o cheiro dos dois tá… o cheiro dos dois tá tipo misturado, dá pra sentir seu cheiro no Soonyoung e vice-versa — explicou, vendo os rostos de ambos tomarem um tom avermelhado. — E, bem, isso acontece depois de… certas coisas.
— Mas que caralho, a gente nem chegou a… — Jihoon reclamou, soltando os hashis sobre a mesa.
— Calma — pediu o mais velho. — “Certas coisas” não significam necessariamente sexo, mas… coisas tipo… ai, que merda, vocês sabem do que eu tô falando! — balançou as mãos. — Em que momento eu virei mãe de vocês? — massageou as têmporas.
— Eu não pedi pra você ser minha mãe — o baixinho rebateu.
Soonyoung permaneceu quieto no meio deles, não sabendo se deveria interferir na conversa.
— Pois devia, pois o sermão que você vai ouvir da sua mãe quando eles chegarem vai ser pior! Quero ver você explicar pra eles que Soonyoung dormiu aqui e que “nada aconteceu”.
— Soonyoung dormiu aqui? — a voz da senhora Lee fez os garotos pularem no lugar, Jihoon soltando um “ai, que susto” enquanto massageava o peito.
— Hum… — Jeonghan começou, porém o olhar questionador dos pais de Jihoon estavam o deixando intimidado. Nem queria imaginar como estava o coração de Soonyoung.
— Jeonghan, você se importa de nos deixar a sós, querido? — Daeun pediu, sorrindo doce como de costume.
— Claro, Sra. Lee — o mais velho disse, levantou-se rapidamente e juntou suas poucas coisas antes de sair. — Vou ver se o Jisoo não quer dar uma volta. Tchau, gente, até amanhã.
Assim que a porta foi fechada, um silêncio ensurdecedor se instalou. O Sr. e a Sra. Lee encaravam os meninos sentados à mesa, ambos mantinham o olhar baixo, Soonyoung balançava a perna freneticamente.
— Pra sala, os dois. Por favor — a mulher disse, abrindo espaço para que eles passassem pela porta.
O pedido — ou ordem — foi prontamente atendido e logo os dois garotos estavam no sofá, sentados lado a lado enquanto mantinham o olhar fixo no chão.
Os mais velhos respiraram fundo antes de tomarem os lugares de frente para eles.
— Então — a alfa começou. — Nós ouvimos a conversa pela metade, e foi totalmente sem querer, você sabe — olhou para o filho, que acenou positivamente com a cabeça. Sabia que seus pais respeitavam sua privacidade. — Mas, vocês são jovens, e precisamos saber se vocês estão seguros. Nós gostamos muito do Soonyoung, você sabe. E você é nosso filho, nós nos preocupamos com você.
— Eu sei, mas nada aconteceu…
— Jihoon, não minta — seu pai disse, sério. — A gente ouviu, a gente tá sentindo o cheiro, então…
— Eu não tô mentindo — insistiu.
— Ok, calma, respira — ele disse. — Nós sabemos que alguma coisa aconteceu, não precisamos ouvir exatamente o que. Só precisamos saber se tá tudo bem, como vocês estão, se usaram proteção...
— A gente não fez sexo, ok? — o ômega respondeu.
— Só umas coisas por cima da roupa! — Soonyoung exclamou agitado.
— Isso já é informação demais! — Jihoon rebateu.
— Desculpa, eu tô nervoso!
Os mais velhos fecharam os olhos ao prender um riso. Soonyoung crispou os lábios enquanto o ômega desviava o olhar.
— Ok, e fora isso, vocês estão bem? — perguntou Daeun.
Soonyoung olhou para o menor, esperando que ele respondesse primeiro.
— É um pouco constrangedor ter que falar isso na frente do Soonyoung, mas, sim. Eu tô bem, não foi ruim, tudo foi consentido — ele disse, não focando os olhos em nada, apesar de sentir três pares de olhos lhe encarando.
— Eu também. Tá tudo bem — o alfa disse.
— Certo — a mulher sorriu. — Nós vamos deixar vocês se despedirem, hora de ficar cada um na sua casa.
Os dois assentiram. Os pais do ômega levantaram-se e subiram as escadas, podia-se ouvir Taesuk elogiando a limpeza da casa.
— Credo, Soonyoung, me desculpa por isso — pediu Jihoon, rindo baixo enquanto escondia o rosto com as mãos.
— Imagina, achei até legal da parte deles. Eles realmente se importam com você.
— Eu sei — murmurou. — Mas tô pensando se quero tentar coisas a mais com você se toda vez for assim — brincou, entretanto, alarmou-se quando ouviu o alfa fungar. — Soonie?
— Hum? Desculpa, eu… — ele disse sem graça, enxugando algumas lágrimas fininhas que insistiam em escapar.
— É brincadeira, viu? É claro que eu quero tentar ir adiante com você — aproximou-se, tocando o rosto dele e acariciando as bochechas proeminentes.
— Não é isso — riu baixo, segurando as mãos do menor. — É que… Sei lá… Essa conversa com seus pais foi super estranha, mas eu achei fofo, sabe? Aí eu senti muita falta dos meus pais e… Você deve estar me achando ridículo.
— Que absurdo, eu nunca pensaria isso de você — frisou, abraçando-o e enquanto acariciava seus cabelos, sentindo ele apoiar a cabeça em seu ombro. — E não é ridículo você se sentir assim, é totalmente compreensível.
Soonyoung acenou com a cabeça, apertando Jihoon um pouco mais entre seus braços.
O ômega sentiu-se um pouco perdido conhecendo esse lado tão sensível do alfa assim, de repente. Sentia seu coração apertado e uma parte sua sabia que estava assim somente porque o outro estava.
Com um suspiro, Jihoon acariciou os fios escuros, beijou seu rosto e falou baixinho:
— Eu tô aqui, ok?
— Eu sei — Soonyoung sorriu para si, deixando que as mãos pequenas secassem seu rosto. — Você é incrível, sabia?
Jihoon negou com a cabeça.
— Não quero te ver triste — murmurou. — Apesar de eu saber que tristeza faz parte da vida.
— Quer saber um segredo? Se me der um beijo eu não fico triste nunca mais — sorriu fechado, gesto que foi imitado pelo baixinho, que logo juntou seus lábios num selinho singelo.
— Sabe que pode conversar comigo sobre essas coisas, né? Eu sempre vou te ouvir — disse Jihoon, segurando as mãos do maior entre as suas.
— Eu sei, mas eu não quero te incomodar com meus problemas ainda — discordou, deixando mais selares rápidos sob os lábios do ômega. — E é melhor eu ir, já foi uma situação estranha demais pra um dia só.
Jihoon riu baixo, acenando negativamente com a cabeça. Soonyoung pegou seu casaco, celular e chaves e deixou que o baixinho o acompanhasse até o portão.
— Manda mensagem quando chegar em casa — pediu, dando um último selinho no maior.
— Pode deixar — sorriu. — Até amanhã.
Jihoon acenou, esperando que Soonyoung sumisse de sua vista para voltar para dentro de casa. Seus pais ainda estavam no andar de cima, tirando da pequena mala as roupas que usaram na viagem de uma noite. Ele, então, aproveitou para ir até seu quarto, abrir a janela e trocar a roupa de cama, visto que tudo naquele ambiente estava com o cheiro de Soonyoung, o que não significava uma coisa ruim, apenas que o ômega sentia-se particularmente afetado pelo aroma forte de café.
Sua mente mal teve tempo de aprofundar-se quando perguntou para si mesmo se o mais velho também sentia-se assim quando sentia o seu cheiro, pois logo batidas foram ouvidas na porta.
— Filhote, a gente pode conversar? — a voz doce de sua mãe perguntou.
— Mais? Eu ainda tô com vergonha da conversa que a gente teve na sala — falou, fazendo a mulher rir ao se aproximar.
— Eu sei, querido, mas eu pensei se, talvez, você não quisesse conversar sobre isso de uma forma diferente. Quem sabe, me falar alguma coisa que não queria falar na frente do Soonyoung — Daeun disse.
Jihoon suspirou, pensando novamente em tudo que tinha acontecido e não era pouca coisa.
— Acho que nada — murmurou. — A gente… sei lá, eu também não sei, e nem quero, explicar exatamente o que aconteceu, só foi algo novo. E… Não sei, apesar de não ter sido ruim, eu disse que ainda não me sentia pronto pra algo assim e pedi pra esperar um pouco.
— E ele disse…?
— Que tudo bem. Mas eu já sabia que ele ia respeitar, então… — balançou os ombros.
A alfa sorriu novamente, acariciou os cabelos do filho e tocou seu rosto. Era difícil vê-lo crescer.
— Então tudo certo?
— Sim — balançou a cabeça.
— Certo — aproximou-se, beijando sua testa. — Qualquer coisa, pode conversar comigo, ok?
— Ok.
— Te amo.
— Também te amo, mãe — sorriu.
Assim que a porta foi aberta, Jihoon caiu sob a cama, suspirando pesadamente enquanto esfregava o rosto. Mordeu os lábios e abraçou uma de suas pelúcias, o tigrinho que havia ganhado de Soonyoung.
— O que eu deveria fazer?
[...]
— Eu não sei o que fazer, entende? — Jeonghan falou, passando as mãos pelos cabelos.
— Talvez você só deva falar com ele — Jisoo respondeu, observando a forma como o mais velho (por poucos meses) parecia aflito.
— Eu tentei, mas ele ficou irritado e começou a gritar… ele não é assim normalmente, ele é a pessoa mais calma que eu conheço.
— Então dá um tempo pra vocês se acalmarem e depois tenta conversar com mais calma — aconselhou.
Jeonghan fez um bico e abraçou uma almofada da sala, visivelmente chateado pela discussão com o namorado.
— A gente nunca tinha brigado antes e foi por… sei lá, nada — resmungou baixinho, deitando a cabeça no colo do beta.
— Nunca?
— Ah, já tivemos umas discussões bobas mas nunca algo que fosse mais sério, da gente gritar e tal — explicou. — Só tinha ouvido ele gritar daquele jeito no quarto.
— Ai, que nojo, Jeonghan — brigou Joshua, rindo junto dele. — Eu lá quero saber da sua vida sexual com seu namorado?
— Você é meu melhor amigo, vai ter que saber! — argumentou aos risos, segurando uma mão do Hong e levando-a até seus cabelos, pedindo carinho, porém ele estava parado o encarando com uma expressão um pouco surpresa. — O que foi?
— Eu sou seu melhor amigo?
As bochechas do alfa ganharam um tom avermelhado.
— Você é — afirmou, sorrindo suave. — Mas você tem que prometer que não vai contar pro Jihoon que eu disse isso.
— Prometo — riu, cruzando seu mindinho ao do mais velho. — Desde que você não conte pro Soonyoung que eu te considero meu melhor amigo, também.
— Prometo — jurou, puxando a mão de Jisoo e deixando um beijinho entre seus dedos. — Sua vez.
— De que? — franziu as sobrancelhas.
— Selar nossa promessa, beija — estendeu as mãos em sua direção.
— Nunca vi selar promessa assim.
— É assim que eu faço com o Cheol — contou, ajeitando-se no sofá e sentando próximo do beta. — A gente cruza os dedinhos, promete, beija os dedos e depois dá um selinho, mas a gente pode pular a última parte.
— Tá bem — concordou, cruzando seu dedo mínimo com o do alfa e beijando ali rapidamente. — Prometo.
Jeonghan sorriu, deitando a cabeça no ombro de Joshua. Ficaram alguns segundos em silêncio, o Yoon ainda um pouco perdido em pensamentos, enquanto o beta observava suas mãos ainda juntas.
— Eu tô feliz que você tá aqui — Jeonghan disse. — Não tô tão triste porque você tá aqui, e seu cheiro me deixa mais calmo também. Eu não fazia a menor ideia que ter uma alma gêmea era assim.
— Eu sei, às vezes ainda parece surreal — murmurou Jisoo. — Acho que eu nasci no último dia do ano porque o universo sabia que você precisava de uma alma gêmea.
— Eu não precisava de "uma alma gêmea" — negou o outro, afastando-se para olhá-lo. — Eu precisava de você.
Joshua o encarou por alguns segundos antes de sorrir tímido e abaixar a cabeça. Quando abriu a boca para falar algo, a campainha tocou e o alfa levantou para atender.
Seungcheol estava parado na porta, com os olhos ansiosos e os dedos tremelicando nervosos pelo cabo de um lírio branco.
— Cheol…
— Me desculpa — o ômega pediu, antes que Jeonghan pudesse falar mais alguma coisa. — Eu não quero brigar, então eu acho que a gente pode conversar sobre isso e… — o olhar choroso encontrou o beta. — Ah, desculpa, Jisoo-ah, eu não percebi que você tava aí.
— Não, tudo bem — ele levantou. — Eu já vou indo, vou deixar vocês conversarem — disse enquanto calçava seus sapatos.
— Eu também não quero brigar, amor — Jeonghan falou, tocando o rosto do namorado numa carícia terna. — Eu não suporto a ideia de te machucar, ou de ficar longe de você. Você sabe que eu te amo.
— Eu também amo você, mas eu não consigo fingir que certas coisas não estão me incomodando — murmurou.
— Vem, entra. Não tem nada que a gente não possa consertar com um pouco de honestidade — pediu Jeonghan, virando para Jisoo em seguida. — Tchau, Soo, manda mensagem quando chegar em casa.
— Mando, sim — sorriu fechado. — Tchau, Seungcheol-ah.
— Até amanhã, Jisoo-ah.
O beta sorriu e acenou uma última vez antes de seguir seu caminho após fechar a porta com cuidado.
Seus pés se moviam rápidos e seu coração estava apertado por uma razão a qual ele não conseguia entender.
— Que merda é isso? — sussurrou para si mesmo, apertando o tecido da camiseta que cobria seu peito.
Chapter 22: Chá de hibisco
Chapter Text
Encarar seus pais no dia seguinte nunca foi tão difícil, mas Jihoon não tinha muita escolha. O café da manhã ainda estava com um clima estranho, mas todos foram capazes de ignorá-lo graças a Daeun que falou sem parar sobre a gravidez, que já alcançava o quinto mês.
Entretanto, apesar de estar empolgado para o nascimento da irmã, a mente de Jihoon estava longe, preocupada com o fato de que Soonyoung não respondeu mais suas mensagens após avisar que havia chegado em casa no dia anterior. Tentava se convencer que estava tudo bem e ele apenas havia dormido demais, ou estava sem sinal, mesmo que essas desculpas não fossem cabíveis nem para si.
— Filhote, eu tô indo pra empresa agora, você quer carona? — sua mãe perguntou, despertando-o dos seus devaneios.
— Hum? Ah, pode ser — levantou-se e pegou sua mochila. — Tchau, pai.
— Se cuidem — desejou o mais velho.
Logo, os dois estavam dentro do veículo com a alfa dirigindo até a escola. O percurso levava menos de cinco minutos de carro, mesmo assim, ela arranjou tempo para perguntar ao filho porque ele estava tão distante.
— Não é nada demais. É só que Soonyoung não respondeu minhas mensagens e isso nunca acontece — contou, brincando com o cordão do seu casaco.
— Acha que ele tá bravo com alguma coisa?
— Não, mas agora que você disse talvez eu me preocupe — resmungou.
Daeun riu baixo.
— Desculpa, mas não pensa o pior. Adolescente é assim mesmo, ele já deve tá na escola te esperando.
— Tomara — suspirou o baixinho. Logo o veículo parou e ele saiu. — Tchau, mãe.
— Até mais, filhote.
Jihoon fechou a porta e entrou no colégio, indo diretamente até seu armário, olhando para todos os lados à procura do alfa, mas não o encontrou.
— Bom dia, Jih — disse Seungcheol, aproximando-se de si com um sorriso ameno.
— Bom dia, hyung. Você tá melhor? — perguntou, abrindo a porta do armário e ajeitando alguns cadernos.
— Tô, sim. Hannie e eu conversamos ontem, ficou tudo certo — contou, apoiando-se no armário ao lado.
— Ainda bem, acho que eu não suportaria ver vocês dois brigados — murmurou o baixinho, fechando a porta metálica.
— Ué, por que? — o mais velho franziu o cenho.
— Ah, sei lá — deu de ombros, andando ao lado do outro ômega pelo corredor. — Acho vocês são toda razão que eu acredito no amor.
Seungcheol riu baixo, negando com a cabeça.
— Isso é fofo. Mas tem muita responsabilidade, não gostei — respondeu, fazendo Jihoon rir também. — Aliás, me desculpa por não ter ido na festa…
— Não, tudo bem, você tinha muito pra lidar — sorriu.
— É, acho que sim — deu de ombros. — Você gostou do presente?
— Ah! Eu amei! — exclamou animado, lembrando-se do presente. — Sério, obrigado. Eu tava há meses procurando aquele livro!
— Que bom que você ficou feliz — disse o Choi, bagunçando os cabelos do menor. — Eu preciso ir agora, tá? Tenho que falar com a professora Min sobre um trabalho.
— Ok, eu vou procurar o Soonyoung. A gente se vê no almoço — acenou para Seungcheol antes deles seguirem caminhos diferentes.
Jihoon andou pelos corredores, olhando para todos os lados à procura do Kwon, perguntando-se em qual ponto de sua vida havia se tornado tão "boiolinha". Se alguém lhe dissesse há alguns meses que estaria se sentindo daquela maneira, fazendo aquelas coisas e querendo descobrir novas, ele provavelmente não acreditaria. E se fosse sincero, admitia que às vezes não acreditava completamente, pois Soonyoung o fazia sentir coisas que nunca havia entendido, coisas que ele só ouvia dizer.
Droga, estava apaixonado…
O sinal tocou, despertando-o dos pensamentos. Bateu o pé impacientemente no chão. Onde diabos Soonyoung estava?
Enquanto andava para sua sala, sacou o celular e enviou uma mensagem para o alfa.
oi
onde vc tá? não te achei na escola
Antes dele chegar ao destino, a resposta veio:
Eu tô em casa
Não vou hoje
pq?
Por nada
Só não vou
Vc tá doente?
Não
Jihoon juntou as sobrancelhas. A forma como ele estava respondendo estava estranha.
Sentou-se em sua mesa e aproveitou que o professor ainda não havia chegado para descobrir o que estava havendo.
oq foi, Soon?
vc tá meio estranho…
Digitando…
Digitando…
Digitando…
Levou alguns longos segundos e o ômega, certamente, esperava uma explicação razoável, mas a mensagem era curta:
Você sabe que eu sou incrível né?
claro que eu sei
mas oq tem a ver?
Acontece que não estou tão incrível hoje
Não quero sair da cama
Eu não quero sorrir
Não quero ser simpático
Eu não quero ver a luz do dia
Então sei lá
mas oq aconteceu? :(
É só um dia ruim pra mim
vc precisa de espaço?
Não sei
posso ir te ver?
Não sei
Se vc quiser pode
Mas eu não tô legal hoje
Ent talvez não seja uma boa pra vc
não importa
eu vou aí dps que a aula acabar, ok?
Tá bem
Acho que vou voltar a dormir
tudo bem
descansa <3
Jihoon suspirou ao desligar a tela, ouvindo o professor chegar e começar a falar sobre a prova que fariam antes das férias de final de ano.
Soonyoung estava em um dia ruim… aquela informação não parecia certa, era difícil imaginar alguém tão alegre e radiante igual ele tendo um dia ruim. E o ômega teve vontade de chorar ao perceber o quão forte o mais velho tentava parecer o tempo todo, sentindo-se bobo por não ter percebido.
[...]
Seria inútil dizer que Jihoon não conseguiu se concentrar no restante das aulas pois isso era quase óbvio. Não ouvia as explicações dos professores ou a conversa de seus colegas, pensava apenas em Soonyoung e que precisava vê-lo.
Na hora do almoço, conseguiu conversar brevemente com Joshua, perguntando se tudo bem ele ir ver o alfa após as aulas. O beta concordou e até achou que, talvez, isso animasse o primo. Entretanto, ele não falou porque Soonyoung estava daquela forma.
O caminho até a casa dos Hong foi estranhamente silencioso, visto que Jihoon e Jisoo não eram tão próximos ou bons em puxar conversas, apenas engataram um assunto quando o mais velho explicou vagamente como o alfa estava.
— Ele não quer que eu conte porquê, mas aconteceu uma coisa, aí ele disse que não queria ir pra aula. Meus pais nem insistiram, deixaram ele dormindo, mas ele já deve ter acordado agora.
— Só espero que ele tenha saído da cama — respondeu Jihoon, chutando uma pedrinha.
— Acho difícil — murmurou o beta, abrindo a porta da casa. — Pode subir, o quarto é a segunda porta à direita.
— Ok. Obrigado, hyung — disse o baixinho, subindo os degraus de dois em dois.
Achou o local indicado pelo mais velho facilmente, visto que havia uma plaquinha azul com detalhes, escrito "Jisoo & Soonyoung" pendurada na porta. O objeto provavelmente era de quando eram crianças, pois o mesmo já parecia corroído pelo tempo.
Bateu duas vezes e entrou quando ouviu um murmúrio baixo e incompreensível.
Soonyoung estava deitado em sua cama, mexendo distraído no celular, com o rosto avermelhado e os olhos um pouco inchados.
— Oi — o alfa disse ao erguer os olhos para si, largando o aparelho sob o lençol. Não esboçou nenhum sorriso.
— Oi — Jihoon respondeu.
Ignorando totalmente algumas coisas — como o fato de estar no quarto do mais velho pela primeira vez —, o menor andou até a cama e sentou ao lado de Soonyoung, acariciando seus cabelos.
— Como você…?
— Deita aqui comigo? — o alfa cortou sua fala, mas não pareceu ter notado ou se importado.
Jihoon concordou mudo e se ajeitou ao seu lado quando o maior abriu espaço. A cama de viúva era grande o suficiente para acomodar os dois, mas deixaram um espaço considerável vazio ao ficarem bem próximos um do outro.
— Você quer conversar? — o ômega perguntou, notando como os olhos de Soonyoung não paravam em nada e focavam-se em observar seu rosto e suas vestes.
Ele suspirou triste antes de responder:
— Eu não sei. Não planejei você me ver assim tão cedo.
— Eu também não planejei me sentir atraído por você tão cedo, mas acabou sendo uma coisa boa — falou, sentindo-se um pouco mais aliviado ao ver o outro rir curto. — Fala comigo.
Soonyoung mordeu o lábio inferior e respirou fundo.
— Meus pais não vão poder passar o fim de ano aqui. Eles tinham prometido, mas aconteceu um imprevisto e eles não vão vir — contou ressentido, seus olhos ficaram cheios d'água. — E eu sei que é o trabalho-barra-sonho deles mas… Sei lá, às vezes eu só queria que eles fossem meus pais. Eu não vejo eles faz quase nove meses. Eles me ligam quase todo dia, mas não é a mesma coisa. E não me entenda mal, eu amo viver aqui, eu amo meus tios e o Shua hyung mas… — deu de ombros sem saber como continuar, lágrimas escorreram pelo seu rosto indo de encontro ao travesseiro. — E isso faz eu pensar demais, como sempre. Fico imaginando mil e um motivos que eles não querem me ver… E mesmo eu sabendo que é só minha mente me sabotando às vezes eu só não consigo… — escondeu o rosto com as mãos ao não conseguir conter soluços chorosos.
Jihoon sentia um nó se formando em sua garganta, o coração sendo quebrado em milhões de pedacinhos por ver Soonyoung tão triste e sensível, perguntando-se há quanto tempo ele guardava todas aquelas mágoas.
Aproximou-se mais e o puxou para perto, abraçando-o apertado de maneira um pouco desajeitada pela posição. Ajeitou para que o alfa deitasse a cabeça sob seu ombro, os braços fortes circularam sua cintura e seu corpo foi apertado contra o dele.
As mãos pequenas do ômega acariciaram os cabelos escuros e ele não falou nada por um momento, deixando que Soonyoung desabasse em si.
Estava pronto para juntar os pedaços de qualquer maneira.
— Tá tudo bem — sussurrou para ele, correndo as pontas dos dedos pela nuca alheia. — Pode chorar, não tem problema.
Soonyoung fechou os olhos e deixou-se chorar mais, sendo confortado pelo calor e o cheiro do mais novo, cujas mãos o acarinhavam e puxavam para mais perto a cada fungada pesada que escapava.
— Você quer que eu cante pra você? — Jihoon perguntou, sussurrando docemente no ouvido do alfa, que acenou com a cabeça sem pensar direito na proposta. Nunca havia ouvido o ômega cantar antes, afinal.
Jihoon pensou por alguns segundos em uma música, então começou:
I, I can’t be found
(Eu, eu não posso ser encontrado)
And I feel the weight of it all over town
(E eu sinto o peso disso por toda cidade)
And I'm so far away
(E eu estou tão longe)
But I get a little closer every day
(Mas eu chego um pouco mais perto a cada dia)
You’re my star
(Você é minha estrela)
You’re my shaker
(Você é meu "shaker)
You’re my ground
(Você é meu chão)
My aviator, and I say
( Meu aviador, e eu digo)
O pranto de Soonyoung foi se acalmando aos poucos. Jihoon sentia a manga de sua blusa molhada pelas lágrimas, que diminuíram até cessar de vez.
It’s alright, I'm okay
(Está tudo bem, eu estou bem)
And I’ve got nothing in my way
(E eu não tenho nada no meu caminho)
You’re my reason for a song
(Você é minha razão para uma música)
And now I feel like I belong
(E eu sinto que eu pertenço)
Take a breath, little light
(Respire, pequena luz)
Burn it up with me tonight
(Incendeie comigo hoje à noite)
Wide awake here with you
(Bem acordado, aqui com você)
‘Cause nobody loves me like you do
(Porque ninguém me ama como você)
— Você nunca me disse que cantava bem — murmurou o alfa, subindo e descendo suas mãos pelas costas do menor.
— Você nunca perguntou — respondeu risonho, afastando-se um pouco para secar o rosto de Soonyoung com seus polegares. — Está melhor?
Ele sorriu fechado antes de acenar positivamente com a cabeça.
— Muito.
Jihoon retribuiu o sorriso, aliviado.
— Ainda bem — acariciou as bochechas proeminentes e avermelhadas do mais velho. — Eu não sei como te ajudar com tudo que você tá sentindo, mas, por enquanto, vamos pensar somente no que vamos fazer no próximo minuto. Não pensa demais em coisas que sua insegurança tá falando, ok?
— Ok — acenou com a cabeça. — E o que vamos fazer?
— Eu vou beijar você — contou, aproximando-se para fazer o que dissera, entretanto, Soonyoung recuou. — O que foi?
— Eu ainda não escovei os dentes, nem tomei banho — contou envergonhado, abaixando o olhar.
— Isso é meio nojento — brincou, deixando um beijinho no nariz dele. — Então, no próximo minuto, você vai levantar pra se lavar.
— Eu não quero — resmungou baixinho, afundando o rosto no pescoço do ômega.
— Vamos — abraçou-o, ficando com os lábios bem próximos de sua orelha. — Se você levantar, tomar banho e escovar os dentes, eu te dou quantos beijos você quiser e... eu faço alguma coisa pra você comer. Que tal?
— Negociável — murmurou pensativo, ajeitando-se para olhar Jihoon nos olhos. — Quantos beijos eu quiser?
— Quantos quiser.
— E onde eu quiser?
— Só dos ombros pra cima.
— Posso escolher a comida também? — perguntou esperançoso, abrindo um sorriso pequeno.
— Pode — Jihoon riu anasalado, contente por ver o brilho natural de Soonyoung voltando aos poucos.
Ele, então, sorriu e levantou-se animado — não exatamente, mas melhor do que alguns minutos atrás — e andou até seu armário para pegar roupas limpas e toalhas.
O ômega sorria levemente ao observá-lo, parando também para admirar a decoração do quarto. O ambiente era grande — assim como todo restante da casa —, as paredes eram pintadas num tom escuro de azul, uma janela grande ficava de frente para a porta e, de frente para a mesma, havia duas escrivaninhas postas lado a lado, com livros e materiais. Jihoon pôde adivinhar qual era o lado de Soonyoung, pois haviam os mesmos livros didáticos que ele tinha.
As camas dos dois garotos também eram uma ao lado da outra, separadas por dois móveis de cabeceira com duas gavetas. No de Joshua, havia um abajur e livros; do de Soonyoung, uma luminária um tanto infantil de tigre — mas o ômega achou fofo —, além do livro de poesias que o mais velho estava lendo há quase três semanas, e, para completar, estava ali também a polaroid deles se beijando, que haviam tirado no aniversário do mais novo, emoldurado num pequeno porta retrato.
— Soonyoung, vai se lavar rápido, por favor — Jihoon pediu, pegando o quadrinho.
— Que? Por que? — o outro perguntou confuso, virando-se para encará-lo.
— Porque eu quero muito te beijar depois de ver isso — exclamou mostrando o objeto. — Você é muito fofo, que saco!
Soonyoung riu tímido, aproximou-se dele e beijou o topo de sua cabeça antes de sair para ir até o banheiro. Jihoon ainda tinha um sorriso bobo nos lábios quando a porta foi fechada.
Apesar da curiosidade quanto ao quarto e as coisas do alfa, o menor saiu do ambiente não muito tempo depois que o mais velho. Desceu metade das escadas e voltou quando lembrou de algo, batendo na porta do banheiro após achá-lo.
— Soonie — bateu na porta, ouvindo o som da torneira sendo fechada.
— O que foi? — ele perguntou após abrir.
Soonyoung estava com sua escova de dentes nas mãos e não vestia mais sua camisa.
— E-Eu esqueci de perguntar o que você quer comer.
— Ah, sim — fez um bico pensativo, virando para guardar a escova no armário. Jihoon notou que ele tinha costas bonitas. — Pode ser dalgyalmari? — voltou a ficar de frente para o mais novo.
— Tenho que ver se tem tudo pra fazer.
— Shua hyung te ajuda.
— Tá bem, vou falar com ele — acenou com a cabeça e, mesmo sabendo que deveria dar meia volta e descer, não conseguiu tirar os olhos do corpo de Soonyoung.
Ele era magro e alto, com quase 1,70, e não tinha um corpo definido. Tinha poucos músculos aparentes nos braços, sua barriga era lisa e ele tinha ombros largos.
— Jih?
— Hum? — piscou algumas vezes. — Ah, desculpa, eu…
— Eu já escovei os dentes — o alfa disse, aproximando-se devagar e tocando a cintura do mais novo, que riu nasalmente e deixou que ele o puxasse para perto, mantendo seus corpos próximos.
— E está esperando o que pra me beijar? — olhou nos olhos dele, quase o desafiando, mas fechou-os assim que Soonyoung o beijou.
Aquele beijo era um tanto diferente dos que já haviam trocado até então. Jihoon, de certo modo, podia sentir toda tristeza que Soonyoung ainda estava sentindo, como se ele estivesse buscando consolo em seus lábios e, ao mesmo tempo, estivesse agradecendo-o por ele estar ali consigo.
Correndo as mãos dos ombros ao pescoço do maior, Jihoon colou seus corpos, sentindo Soonyoung sorrir em meio ao ósculo quando o fez. Sorriu também.
Com alguns selinhos, o alfa quebrou o contato, mantendo seus corpos juntos enquanto esfregava seus narizes. As mãos do mais novo deslizaram pelos braços do outro, ele suspirou ainda de olhos fechados.
— Melhor eu descer agora — o baixinho disse.
Soonyoung concordou mudo, afrouxando o abraço.
— Já, já eu tô lá. Acha que consegue manter uma conversa com o hyung?
Jihoon riu baixo, rolando os olhos nas órbitas e se afastando alguns passos.
— Vou tentar — deu um último selinho nele e o empurrou em direção ao banheiro. — Agora, vai.
— Ok, tô indo.
A porta foi fechada e o ômega sorriu de canto, tocando os próprios lábios com a ponta dos dedos enquanto descia as escadas.
Joshua estava na sala colocando ração para os gatos, resmungando sobre como eles estavam comendo demais.
— Hyung — Jihoon chamou ao chegar mais perto. — Soonyoung quer dalgyalmari, tem as coisas pra fazer?
— Acho que tem. Você vai fazer? — recebeu um aceno positivo. — Você é muito fofo, sabia?
— Tô começando a acreditar — deu de ombros, seguindo o mais novo até a cozinha. — Mas, tipo… Não tem nada a ver, mas hoje eu percebi que tô apaixonado de verdade pelo Soonyoung.
— E você já não tava apaixonado antes? — perguntou enquanto abria os armários, pegando os ingredientes e colocando-os em cima da bancada.
— Eu não sei dizer há quanto tempo eu tô apaixonado, mas eu só me dei conta disso hoje — explicou sem jeito, mantendo os olhos fixos nos ovos sob a mesa. — Só o pensamento de alguma coisa ruim ter acontecido com ele me apavorou de uma forma que eu nunca pensei sentir.
— E com isso você percebeu que tá apaixonado?
— Acho que sim — balançou os ombros. — É só tudo muito confuso, eu nunca me senti assim antes.
— Vocês são tipo um clichê, né?
— Como assim? — franziu as sobrancelhas.
— Não sei, na minha cabeça faz sentido porque, tipo, você é inexperiente com as coisas e tá vivendo essas coisas agora. E mesmo que o Soonyoung já tenha ficado com algumas pessoas, desde que ele ficou interessado em você há um ano atrás, ele só ficava com pessoas quando tava em festas e sempre era coisa de uma vez só — contou o beta, ajudando Jihoon a cortar os legumes. — E, sério, faz algum tempo desde que eu vi ele tão radiante. É complicado quando os pais deles não aparecem por muito tempo, eu percebo que ele sente muita saudade deles, e mesmo que ele seja muito enérgico, eu sei que ele é mais frágil do que aparenta. E acho que agora que vocês estão quase namorando, ele não se sente tão sozinho.
Jihoon ouviu atentamente o que Jisoo dizia, apesar da fala parecer mais uma divagação do mais velho. Talvez fosse muita informação para um dia só, mas Jihoon sentia que deveria escutar, que aquilo era importante, era a parte de Soonyoung que ele ainda não conhecia.
Pensou, também, que não deveriam continuar com o assunto, por mais que estivesse preocupado — e até curioso —, o alfa poderia chegaria a qualquer momento e não seria bom ele ouvi-los falando sobre si, mas Jihoon precisou completar:
— Eu não quero que a estabilidade emocional dele dependa de mim, mas eu vou fazer o que puder pra ajudar.
— Eu sei disso — Joshua sorriu doce para si.
— Shua hyung! — Soonyoung gritou do andar de cima. — Traz minha garrafinha de água, por favor!
Os dois riram baixo se entreolhando.
— Leva lá pra ele, Jih? — o beta pediu, lhe entregando a garrafinha que pegou na geladeira. — Vou ligar o fogão porque ele é chatinho de ligar.
— Ok.
Jihoon subiu as escadas outra vez, batendo na porta do quarto antes de abri-la, com uma mão cobrindo os olhos.
— Você tá vestido?
Soonyoung riu baixo, afirmando. Ele estava usando uma camisa preta larga que passava de suas coxas e calça de moletom cinzas, o cabelo escuro quase na altura dos olhos estava úmido. Estava simples e, mesmo assim, tão bonito.
O ômega entrou no quarto e estendeu o objeto para o maior.
— Valeu — ele sorriu, jogando um comprimido dentro da boca e engolindo com ajuda da água. — Vamos descer?
— Pra que é esse remédio, Soon? — não conseguiu conter sua preocupação e curiosidade.
— Hum… Nada demais.
— Você tá doente? — aproximou-se.
— Não, eu tô bem, é só… — desviou os olhos do menor. — Esquece isso, vai.
— Eu só tô preocupado — murmurou em resposta. Tocou o rosto de Soonyoung, trazendo o olhar dele para si novamente. — Ei, você pode confiar em mim.
O alfa, então, suspirou pesado e andou alguns passos para trás, sentando-se na cama. Abaixou a cabeça e mexeu os dedos em sinal de nervosismo.
— Eu… — mordeu os lábios. — Eu não ia te contar agora, mas… Eu tenho transtorno de ansiedade — falou rápido, mantendo seu olhar no chão —, e eu preciso tomar remédios pra me ajudar com isso. Às vezes eu não consigo sair sozinho, as vezes é difícil de respirar sem motivo algum, coisas assim. E eu não queria te falar ainda porque… sei lá, eu não tenho certeza. Alguma coisa devia estar me dizendo que você não veria isso de boa, sabe? E em partes eu até entenderia, eu sei como é difícil. Mas eu não queria que você me visse como doido, ou algo assim.
— Soonyoung — chamou-o, segurando sua mão. O mais velho o olhou novamente. — Qual parte do que você disse me faria não querer você?
Soonyoung o encarou em silêncio, sem saber como responder.
— Não muda como eu me sinto, ok? — Jihoon continuou. — Eu ainda gosto muito de você.
O ômega percebeu o momento que os olhos escuros cintilaram ao lacrimejarem. O maior acenou com a cabeça e abraçou o outro apertado. Jihoon retribuiu, mexendo em seus cabelos de forma carinhosa.
— Você tá bem? — perguntou o baixinho.
— Em que sentido?
— Num geral.
— Já estive melhor — encolheu os ombros. — Mas você fez meu dia.
Jihoon sorriu de leve e afastou-se para tocar o rosto de Soonyoung e selar seus lábios. Tentou fazer com que fosse apenas um selinho rápido, mas o maior segurou seu pescoço para prolongar o contato, plantando vários beijos nos lábios do ômega, que sorria entre eles.
— Soonyoung! Jihoon! Desçam antes que eu suba aí — ouviram a voz de Joshua.
Os garotos riram ao quebrar o ósculo.
— Vamos, você precisa comer — disse o baixinho, segurando sua mão e o levando para fora do quarto.
Soonyoung cruzou seus dedos e não soltou-os até chegarem a cozinha.
— Deixei pra você fritar porque eu não sei cozinhar muito bem — o beta disse assim que viu os mais novos.
— Tudo bem, não vai demorar muito — Jihoon falou ao se aproximar do fogão, começando a fritar a mistura, enquanto Soonyoung e Jisoo conversavam entre si.
— Eu ia sair daqui a pouco — o mais velho disse —, mas se você quiser, eu fico, não tem problema.
— Não, eu já tô melhor, pode ir — o alfa respondeu, mexendo nos hashis. — Sabe que horas os tios chegam hoje?
— Acho que só de noite, mas eu vou chegar antes disso.
— Ok.
— Tem certeza que tá bem pra ficar sozinho?
— Tô, poxa vida. Eu não vou tentar me jogar da sacada nem nada — o alfa riu.
— Eu posso ficar aqui com você um tempo — Jihoon disse, colocando o prato com os enroladinhos no balcão.
Soonyoung sorriu e logo começou a comer.
— Viu? Você não vai negar a companhia do Jihoon, né? — brincou Jisoo, vendo o primo revirar os olhos.
— Para de me tratar como criança — resmungou. — E não, nunca vou negar sua companhia — virou para o menor, sorrindo bobo para ele.
O ômega sorriu sentando ao seu lado, aliviado por Soonyoung estar parecendo melhor.
— Ok, eu vou indo, então. Vou deixar vocês namorando sozinhos, mas tenham juízo — falou o beta, levantando e pegando seu celular e chaves. — Se vocês transarem na minha cama, eu juro que mato os dois! — exclamou antes de fechar a porta.
— Não liga — Soonyoung disse, enfiando mais comida na boca. — Isso tá muito bom, sabia? Você cozinha bem.
— Valeu — sorriu fechado, acariciando os cabelos dele. — Se eu não soubesse cozinhar, meu pai já tinha me deserdado.
Os dois riram.
— Seu pai não é cabelereiro? — ergueu uma sobrancelha.
— Ele é, mas adora cozinhar. É ele quem faz a maioria das refeições lá em casa — contou. — Ele já te convidou pra jantar com a gente um dia, eu só nunca passei o recado porque a gente ainda não era próximo.
— É, do jeito que eu sou cara de pau, eu iria.
— Até parece, você quase morreu quando conheceu meu pai — apontou o outro.
— Você também já chegou falando que a gente tava se beijando, com que cara eu tinha que ficar? — o alfa exclamou, fazendo Jihoon rir.
Assim que Soonyoung terminou de comer, eles subiram novamente. Jihoon ficou no quarto enquanto o maior escovava os dentes, ele se permitiu explorar um pouquinho as coisas do mais velho — sem invadir sua privacidade, obviamente.
Quando o alfa voltou, Jihoon estava deitado em sua cama, mexendo em seu celular e vestindo um moletom seu.
— Ficou com frio? — perguntou sentando ao lado dele.
— Hum?
— Meu moletom — apontou.
— Ah, não. Eu só queria dar uma de hétero e vestir algo do meu namorado — respondeu, largando o celular e olhando-o com expectativas, o coração pulando desenfreado dentro do peito.
Soonyoung juntou as sobrancelhas e não disse nada, o menor quase podia enxergar várias fórmulas matemáticas ao redor de sua cabeça.
— Quê? — ele soltou por fim.
Jihoon sentou e chegou mais perto, segurando as mãos dele antes de dizer:
— Soonyoung, você quer ser meu namorado?
Os olhos pequenos se arregalaram em surpresa, o rosto ficou até pálido e ele abria e fechava a boca várias vezes, sem palavras.
— S-Sério? — perguntou e Jihoon acenou com a cabeça. — Não tá falando isso porque eu tava mal hoje, né?
— Você realmente acha que eu faria isso?
— Não! É que foi completamente do nada!
— Soonyoung, eu tô apaixonado por você! — afirmou convicto, segurando o rosto do alfa entre suas mãos. — Você quer namorar comigo?
— S-Se eu quero…? Porra, é claro que sim! — abraçou-o com força, derrubando os dois na cama. — É de verdade mesmo?
— Sim! É de verdade! — riu com a reação de Soonyoung.
— Tipo, namorado mesmo?
— Namorados mesmo — beijou-o. — Meu namorado — sorriu contra seus lábios.
Soonyoung ainda demorou alguns segundos para raciocinar, não acreditando que aquilo realmente estava acontecendo. Como que para comprovar que não estava sonhando, ele tocou o rosto do menor e deixou diversos beijos sob sua boca, bochechas e pescoço.
— Meu namorado? — perguntou outra vez, roçando seu nariz ao do ômega, que respirou fundo de olhos fechados. — De verdade?
— Se você perguntar mais uma vez…
O alfa riu, mais do que feliz, voltando a beijá-lo.
Chapter 23: Chá de Boldo
Chapter Text
Para Jihoon, usar roupas iguais com o namorado era o cúmulo da breguice. Quase sempre revirava os olhos ao ver casais por aí usando peças iguais ou que "se completavam", e muitas vezes jurava de pé junto que nunca faria algo parecido.
Porém, ele começou a repensar todo esse conceito ao observar a forma como Soonyoung parecia mais do que feliz ao escolher dois moletons para que usassem juntos.
Desde o pedido de namoro feito pelo ômega haviam se passado dois dias, mas ainda não tinham contado para ninguém a novidade. Entretanto, não é como se estivessem escondendo, e como ninguém desconfiou, eles pensaram que talvez já agissem como um casal anteriormente.
— O que você acha desse, bebê? — Soonyoung perguntou, mostrando um moletom.
— "Bebê"? — ergueu uma sobrancelha.
— Você não gostou quando eu te chamei de chuchuzinho, tô tentando descobrir qual apelido eu vou te chamar — explicou fazendo bico. — Mas enfim, o que você acha? — colocou a peça na frente do corpo.
— Esse tem seu cheiro?
— Que? Claro que não.
— Então eu já não gostei — resmungou, abraçando o maior. — Eu pego seus moletons porque eles tem seu cheiro.
Soonyoung riu baixo, retribuindo o abraço e se segurando para não o beijar, visto que havia mais pessoas na loja e algumas já estavam olhando torto.
— Tá, mas suas roupas não servem em mim — apontou o alfa, soltando o baixinho para devolver a peça para o cabide.
— Claro que servem, você não é muito mais alto que eu — reclamou, cruzando os braços.
Soonyoung sorriu e se aproximou de novo, beijando a testa do ômega.
— Você tem o tamanho certinho pra eu beijar sua testa, viu? — riu baixo quando ele revirou os olhos, com as bochechas ficando vermelhas. — Tá bem, então eu vou na sua casa escolher uma roupa sua pra eu usar.
— Combinado — segurou a mão dele ao saírem da loja.
Começaram a caminhar pelo shopping enquanto Soonyoung tagarelava sobre as decorações de natal e a data que estava se aproximando, faltando exatamente um mês.
— Você quer alguma coisa de natal? — perguntou o alfa, assim que sentaram em uma mesa na praça de alimentação após fazerem seus pedidos.
— Hum… não precisa me dar nada — murmurou.
— Ah, não — fez bico, abraçando o menor pela cintura. — Vai ser natal e a gente vai ter um mês de namoro, eu quero te dar algo especial.
— Aigo, tá bem — deitou a cabeça no ombro dele. — Como a gente vai tá com um mês de namoro, você pode escolher o que me dar. Tem que me surpreender, quero ver se você me conhece.
— Aff, isso parece difícil — virou para ele, fazendo bico.
Jihoon riu travesso:
— Você que perguntou — lhe deu um selinho. — E o que você quer?
— Vou lançar o mesmo desafio pra você: me surpreenda — retribuiu o beijinho. — Mas, mudando-barra-voltando de assunto, a gente vai usar roupa um do outro, mas mesmo assim, a gente tem que usar alguma coisa igual.
— Mas você sabe que isso é meio brega, né?
— Não é brega, é fofo! — argumentou, afastando-se no enlaço entre eles para cruzar seus braços. — É uma forma de mostrar que somos namorados.
Jihoon sorriu de leve, ainda estava naquela fase de ficar bobo toda vez que lembrava de tal fato, ou toda vez que chamavam um ao outro de namorado.
— E você quer mostrar que somos um casal? — resolveu perguntar, mesmo que a resposta fosse clara.
— Jihoon, eu gosto de você tem um ano. Se eu pudesse, eu andava com uma camiseta com seu rosto dizendo: esse é meu namorado — respondeu o alfa, ouvindo o baixinho gargalhar enquanto estapeava seu braço.
— Se você fizer isso, a gente termina — avisou brincalhão. Soonyoung revirou os olhos. — Isso é um pouco demais, mas eu tive outra ideia: a gente usar all star igual. Um pé de cada.
— Tipo um pé vermelho e o outro branco?
— É.
— Eu amei! — sorriu, voltando a abraçar a cintura do ômega.
[...]
— A gente podia estar mais gay? — Jihoon perguntou, olhando seus pés juntos. Soonyoung sorriu e balançou-os, contente.
Os garotos estavam sentados de frente um para o outro em uma das mesas no pátio da escola, esperando o início das aulas.
Com a chegada do fim de ano, os professores não passavam conteúdo novo pois estavam ocupados corrigindo provas e trabalhos, então os alunos podiam ficar conversando, andando pelo pátio, entre outras coisas.
— Eu achei fofo — sorriu o alfa, aproximando-se para abraçar o baixinho e deitar a cabeça em seu ombro.
O ômega notou que Soonyoung estava mais carente que o normal naqueles dias, e sabia que era por saudades dos pais.
Ele nem conseguia imaginar como seria ficar nove meses longe de seus progenitores, sem o abraço de sua mãe, sem seu pai chegando no quarto e perguntando: "E aí, filhão, só no 'compiuter'?".
Não entendia como o mais velho se sentia, pois sempre teve os pais presentes em todos seus 18 anos, mas já sentia falta deles nas vezes que eles viajavam em "segundas luas de mel", então tentava suprir um pouco do vazio que Soonyoung sentia, deixando que ele o abraçasse como um coala e lhe desse alguns beijos, mesmo que Jihoon não fosse muito fã de afeto em público.
— Você vai fazer alguma coisa de tarde? — perguntou acariciando os cabelos escuros do namorado.
— Acho que eu tenho que arrumar minha parte do quarto e lavar a louça — murmurou. — Por quê?
— Tava pensando em ir pra sua casa, de novo — disse. Soonyoung se afastou para olhar seu rosto, então aproveitou para pentear os fios dele para trás com os dedos. — Pra te fazer companhia.
— Seus pais não vão desconfiar?
— Desconfiar do que? — juntou as sobrancelhas.
— Você sabe, sobre a gente.
— Eles trabalham a tarde toda, então eles não precisam saber. Mas eles vão saber, eu vou falar sobre o namoro hoje — sorriu, fechando os olhos quando foi beijado de forma rápida.
Soonyoung retribuiu o sorriso e ficou o olhando, observando cada detalhe de seu rosto, com um brilho nas íris que só nasciam quando estavam um com o outro. As mãos do alfa acariciavam as costas do baixinho, enquanto ele mexia nos cabelos escuros do outro.
— Você acha que seus pais vão aceitar o namoro numa boa? — perguntou o maior. — É que, sei lá, eu fico pensando e se eles não gostarem de mim? Eles podem me achar simpático, mas deve ser diferente quando eu tô namorando o filho deles...
— Tá, vamos por partes — afastou um pouquinho o alfa, fazendo ele sentar reto novamente para que o olhasse nos olhos. — Primeiro: eles não tem que aceitar, porque você é meu namorado, e eu gosto de você. Segundo: eles já sabiam que a gente tava ficando, então o namoro não vai deixar eles muito surpresos. E terceiro: eles te adoram, acredita em mim. Eles vão ficar muito felizes pela gente.
Soonyoung sorriu contente e tímido, acenando com a cabeça e se aproximando para dar alguns selinhos no menor.
— Eu vou contar pros meus pais quando eles me ligarem de novo — garantiu.
— Eu espero — selou seus lábios uma última vez antes de se afastar e sentar normalmente. — Agora você vai ter que jantar um dia com a gente, pra eu te apresentar como meu namorado oficialmente.
— Como é que é!? — a voz de Jeonghan soou alta perto deles, assustando-os.
— Caralho, você precisa parar de nos assustar — Jihoon reclamou.
— Não muda de assunto — aproximou-se. — Que história é essa?
— A gente tá namorando — o ômega contou, mostrando os pés com os tênis trocados. — Faz pouquinho tempo, eu ia contar pra vocês hoje.
— Sério? — sorriu para os mais novos.
— Sim, o Jihoon que pediu — Soonyoung acrescentou, abraçando o baixinho pelos ombros. — Eu também demorei pra acreditar.
— Meu Deus… — o Yoon cobriu a boca, mas logo aproximou-se mais e abraçou-os. — Eu tô tão feliz por vocês.
Soonyoung e Jihoon olharam-se por cima do ombro do alfa, franzindo as sobrancelhas com a reação dele. Acabaram por rir baixinho e agradecer as felicitações do amigo.
— Sério, nem acredito — continuou Jeonghan, com um sorriso enorme no rosto. — Eu preciso achar o Seungcheol, mas depois eu quero saber tudo! — avisou, caminhando em direção a escola e falando mais alto conforme o fazia.
O casal riu baixo assim que o alfa estava fora de vista.
— Mal sabe ele que a gente já contou tudo — murmurou Jihoon.
[...]
— Eu acho que a gente podia levantar um coro bem grande de “tá namorando”, mas eu sei que o Jihoon iria me bater — Wonwoo falou assim que o ômega contou a novidade durante o almoço. — Mas eu sinto que a gente deveria, por todas as vezes que você ficou reclamando quando a gente tava com alguém.
— Ah, vai se ferrar, Wonwoo — o baixinho rebateu. — Eu só achava injusto vocês ficarem de chamego e me deixarem de lado. E quem é você pra falar? Você colocou os olhos no Mingyu e nunca mais ficou com ninguém.
O Kim riu baixo, deitando sua cabeça no ombro do Jeon, que continuava discutindo com o amigo.
Jihoon, como quase de costume, aproveitou a hora do almoço onde sentava com todos seus poucos amigos, para contar a novidade.
Todos — exceto Jeonghan — ficaram bastante surpresos, mas ficaram felizes pelos dois.
— Isso é legal — Mingyu disse. — Parece até um filme na minha frente, porque eu cansei de ver o Soonyoung hyung suspirando apaixonado pela escola quando você passava.
— Que? Cala a boca — resmungou o baixinho, enchendo a boca de comida.
— Ele nunca acredita quando a gente conta que o Soonyoung era apaixonado por ele — Joshua apontou.
— Não é que eu não acredite — explicou, soltando os hashis para gesticular com as mãos, algo que fazia quando estava nervoso ou impaciente. — Eu só acho que vocês exageram um pouco.
Mingyu revirou os olhos, negando com a cabeça e ao olhar para o lado, viu Chan passando entre as mesas, então chamou-a ao segurar sua mão.
— Chan, vem cá!
— Ai, que foi? — a beta perguntou, parando ao lado da mesa deles. — Credo, quanta gente numa mesa só.
— O grupo tá crescendo — Minghao riu baixo.
— Chan-ah, não é verdade que o Soonyoung hyung é apaixonado pelo Jih faz mó tempão? — o Kim perguntou.
— Ah, sim, com certeza — ela afirmou, sem nem pensar. — Hansol até já me contou que ele chorou ouvindo Heather uma vez na casa do Seokmin oppa. Mas, por quê?
— O Jih acha que a gente tá exagerando — Jisoo explicou. — Aliás, eles estão namorando agora.
— Sério? — Chan sorriu. — Que legal. E por que você não tá com seu boy? — ela perguntou, em tom de brincadeira, enquanto apoiava uma mão na mesa para pegar um pouco do kimchi que Joshua oferecia.
— Eu vim contar pros meus amigos, mas agora, parando pra pensar, acho que eu vou ficar lá com ele — o ômega respondeu, levantando na mesa e ouvindo seus amigos “vaiarem” sua decisão.
— Eu vou ali também, gente — Jisoo falou, levantando-se. — Soonyoung já tá reclamando em casa que eu troquei ele por vocês.
Chan soltou uma gargalhada com a fala do beta e acompanhou os mais velhos até a mesa onde Soonyoung estava com Seokmin, Seungkwan, Hansol e Junghwa.
Jihoon aproximou-se do alfa pelas costas, enquanto Joshua sentou ao seu lado e já roubou um pouco do seu almoço. Quando chegou perto de Soonyoung, o ômega tocou seu rosto, o que acabou por assustá-lo.
— Ai, amorzinho, não chega assim — reclamou o maior, deitando a cabeça para trás para olhar o namorado.
— Desculpa — riu baixo, beijando a ponta de seu nariz. — Mas você não vai me chamar de amorzinho.
— Aff — resmungou cruzando os braços. — Me ajuda a pensar num apelido pra você.
— Nop — negou, dando a volta na mesa e sentando no colo do mais velho. — Você vai pensar num apelido pra mim, porque eu pensei em um pra você.
Soonyoung revirou os olhos, formando um bico fofo nos lábios e abraçando o baixinho pela cintura.
— Qual apelido você escolheu para ele? — Vernon perguntou, olhando para o casal recém formado.
— Soonie, tigrinho e dengo — Jihoon citou, enquanto acariciava o ombro do alfa.
— Ele pensou em três e você não pensou em nenhum? — Seungkwan indagou.
— Ele não pensou em nada, eu entreguei tigre e dengo de bandeja pra ele — retrucou Soonyoung, fazendo o baixinho rir enquanto beijava seu rosto.
— Reclama menos e pensa mais — falou o ômega.
— Jihoon, você tá muito abusado, sabia? — o Kwon falou, causando alguns risos nos presentes.
— Ele sempre foi, ele só escondia de você — Wonwoo respondeu ao passar por eles junto de Mingyu.
— Não se mete, alfa chato — brigou Jihoon.
— Vocês são tão fofos — Junghwa comentou, sorrindo para eles.
— Início de namoro é sempre assim — Seokmin disse. — Mas do jeito que o Soonyoung tá guardando amor há quase um ano…
— Cala a boca!? — o alfa interrompeu, chutando o beta por baixo da mesa.
O baixinho riu observando os amigos.
— Soonie, desde quando você gosta de mim? — resolveu perguntar.
— Ah, não, nem vem — Soonyoung reclamou. — Eu já não me humilhei o suficiente?
— Não! — Chan exclamou risonha. — Vai, conta. Quando você começou a gostar dele?
— Ai, gente, eu não sei, faz tempo — resmungou envergonhado, desviando os olhos.
Jihoon sorriu e o abraçou pelos ombros.
— Então, quando você me notou pela primeira vez? — perguntou, fazendo certa manha. — Me conta, por favor.
Soonyoung bufou revirando os olhos, buscando na memória a primeira vez que viu Jihoon. Sentia-se um pouco tímido de ter que falar sobre isso na frente de seus amigos, pois sabia que eles iriam tirar com sua cara depois, mas a voz do ômega em um tom suave e as mãos pequenas brincando com sua orelha poderiam lhe arrancar qualquer coisa.
— Foi no ano passado — começou, e todos na mesa ficaram em silêncio para ouvir. — Fazia poucos meses que o ano tinha começado, eu tava na biblioteca, fugindo da aula de coreano, e foi quando você chegou resmungando sobre um livro ruim que tinha lido. Você ficou conversando com a senhora Hwang por um tempo e eu acabei ouvindo, aí eu senti cheiro e fiquei curioso sobre você.
— Então foi por isso que você chegou perguntando se eu conhecia o Jihoon hyung do nada — Seungkwan bateu uma palma na outra, como se tivesse encontrado a última peça de algum quebra-cabeça. — Agora o mundo faz mais sentido.
O alfa riu baixo, negando com a cabeça, enquanto escondia o rosto nas costas do baixinho.
— E quando você conheceu o Soonyoung, Jihoon-ah? — Junghwa questionou.
— Faz pouco tempo, um idiota me derrubou perto da escola, aí o Soon me ajudou a levantar e não parou de falar desde então — explicou, fazendo os demais rirem.
— Então você conhece o Soonyoung há, tipo, dois meses?
— Mas o que é o tempo senão uma construção social pra vender calendário? — Chan brincou, fazendo alguns dos mais velhos rirem.
— E agora a gente tá namorando, então quem disse que não deu certo? — Soonyoung rebateu.
— Ninguém disse que não deu certo — Hansol apontou.
— É, Soonyoung hyung, baixa a bola aí. Você se acha demais — retrucou o Boo, o que acabou gerando uma discussão entre ele e o Kwon.
Os outros presentes na mesa apenas riam com a birra quase infantil dos amigos, estando acostumados com suas pequenas discussões sem sentido.
Vernon, por sua vez, intercalava o olhar entre o novo casal e o próprio namorado, que continuava batendo boca com Soonyoung.
Acabou lembrando-se de quando começaram a namorar, quando finalmente teve coragem de pedir Seungkwan em namoro e de como nunca foi tão feliz. Mesmo que não fosse o melhor em demonstrar, amava o ômega com todas suas forças, e até o atual momento — onde Seungkwan entendia que o alfa apenas não era o maior fã de trocar afeto em público —, levou algum tempo.
Com um sorriso bobo enfeitando o rosto, aproximou-se do menor e o abraçou pela cintura enquanto beijava seu rosto de maneira rápida.
— O que foi? — Seungkwan perguntou, confuso.
— Eu te amo — sussurrou baixinho no ouvido dele, vendo como as orelhas ficaram vermelhas rapidamente.
— Do nada? — o ômega riu nervoso.
— Eca! Casal feliz — Chan exclamou forçando uma careta, gargalhando enquanto se levantava. — Vou embora antes que eu seja contagiada.
— Vamos indo, também? — Jihoon virou para o namorado. — A aula começa daqui a pouco.
— Nossas aulas são separadas…
— Sim, mas eu quero que você me leve até a sala — fez um bico, o qual Soonyoung beijou de maneira rápida antes de levantar-se.
— Até mais, gente.
[...]
— Seus tios não estão em casa? — Jihoon perguntou assim que o alfa fechou a porta atrás de si.
— Não, eles trabalham o dia todo no hospital hoje — explicou, tirando os calçados e deixando a mochila ao lado da porta. — Você tá com fome?
— Hum… — pensou, seguindo o maior até a cozinha. — Um pouquinho.
— Vamos ver o que tem nos armários, depois a gente pode…
— Subir e assistir alguma coisa? — sugeriu, debruçando-se sobre o balcão.
— Subir e assistir alguma coisa — concordou, pegando alguns pacotes de salgadinhos e doces.
Assim que estavam com os lanches, eles subiram para o quarto do mais velho. Jisoo havia saído com alguns amigos de sua antiga escola, então o casal teria a casa somente para eles.
— O que você quer assistir? — Soonyoung perguntou enquanto ligava seu notebook.
— Pode escolher, só não coloca filme de ação, por favor — pediu o baixinho, ajeitando-se ao lado do maior após se cobrir com o cobertor que ele trouxera para ambos.
— Tá bem — o alfa riu, aproximando-se dele.
Jihoon deitou a cabeça no ombro do namorado e logo ele deu play em uma série de fantasia com uma premissa interessante.
Assistiram alguns episódios e acabaram com os pacotes das guloseimas. As horas passaram e lá pelo quinto capítulo, Soonyoung acabou pegando no sono, aninhado ao corpo do baixinho, que sorriu ao perceber, e começou um cafuné carinhoso nos cabelos do namorado.
Após sair do player, quando o maior se remexeu na cama, Jihoon aproveitou para se ajeitar ao lado dele e dormir um pouco também. Quase instintivamente, Soonyoung abraçou o ômega pela cintura, deixando-o bem perto de si.
[...]
— Mãe… Pai…
Jihoon acordou ao ouvir a voz de Soonyoung e sentou-se na cama, alarmado. O alfa mexia as mãos e os olhos, claramente desconfortável com o que quer que estivesse de passando em sua mente
— Pai! Mãe! — ele falou mais alto, com a voz chorosa.
— Soon, acorda — o baixinho chamou, balançando seu ombro devagar. — Soonyoung!
Os olhos dele se abriram depressa e ele olhou ao redor, percebendo que estava apenas sonhando. Ele sentou na cama e esfregou o rosto, respirando descompassado.
— Tá tudo bem? — Jihoon perguntou, chegando mais pertinho dele e acariciando seus ombros.
— Tá, sim. Foi só um pesadelo — murmurou.
— Você quer falar sobre isso? — abraçou-o. Soonyoung retribuiu o contato, mas negou, deitando a cabeça no ombro do ômega. — Eu tô aqui, ok? — sussurrou, beijando o rosto dele em seguida.
— Eu sei — o outro respondeu, retribuindo o selar.
Jihoon sorriu ao se afastar para ver seu rosto, acariciando as bochechas cheias com seus polegares.
Então, ambos os garotos, deram um pulinho no lugar com o susto que uma música repentina causou. Riram do acontecido e Soonyoung viu que o som vinha do seu notebook.
— São meus pais! — exclamou, trazendo o aparelho para perto. — Eles tão ligando!
Jihoon sorriu ao ver a empolgação do namorado, que não esperou nem mais um segundo para atender a chamada de vídeo pelo Skype.
— Oi, filho — a voz da mãe de Soonyoung soou, animada e doce.
— Oi, filhote — seu pai disse.
— Oi, mãe. Oi pai — Soonyoung sorriu, acenando para eles. — Como vocês estão?
— Nós estamos bem — o homem respondeu, virando o celular para mostrar a cafeteria onde estavam. — Nós estamos em Ancara!
— Oh, onde é isso? Na Espanha?
— Na Turquia — Jihoon respondeu baixo, não aparecendo na câmera para que o alfa conversasse com os progenitores.
— Na Turquia! — o Sr. Kwon disse. — São nove horas da manhã, nós viemos tomar café e aproveitamos para te ligar.
— A gente sente muito que não vamos poder passar o final de aí, filho — a mulher falou.
— Não tem problema, eu entendo — Soonyoung sorriu. E lá no fundo, aquele sorriso machucou o ômega. — Jihoon ficou comigo, eu me sinto melhor.
— Aigo! E como ele tá? — o outro alfa, pai de Soonyoung, perguntou.
— Ele tá aqui! — o maior exclamou, puxando o citado para perto antes que ele pudesse negar. — Olha ele aí!
— Ah! Jihoon-ah! — os dois sorriram, apertando-se para que pudessem ver o ômega pela tela pequena do celular. — Que prazer te conhecer.
— Olá, sr. e sra. Kwon — curvou-se para eles. — É muito bom conhecer vocês.
— Você é mais bonito do que nas fotos que Soonyoung nos mostrou — a beta disse, fazendo o baixinho rir envergonhado. — O que vocês estavam aprontando?
— A gente tava assistindo série. Os tios estão trabalhando e Shua hyung saiu, então Jihoonie veio pra me fazer companhia — explicou o maior, abraçando-o pela cintura. — Ah! A gente tem uma novidade!
— Mesmo? Nós também temos — sua mãe disse. — Mas podem falar primeiro.
— Ok — Soonyoung sorriu animado, olhando para Jihoon antes de contar: — A gente tá namorando.
— Sério? Que legal, filho! — a beta respondeu, batendo palminhas alegres. — Quando você fez o pedido?
— Quem pediu foi o Jihoon — contou Soonyoung, sorrindo ao olhar para o menor, que também mantinha um sorriso tímido e o olhar baixo. — Eu também não tava esperando, mas…
— Mas você já tava pensando em pedir, né? — o outro alfa disse, entregando o filho. — A gente sabe que faz tempo que você gosta do Jihoon-ah.
O ômega riu baixo, ouvindo Soonyoung falar para seus pais “pararem de expor ele”.
— Eu sei que todo mundo ficou surpreso, até eu fiquei — o baixinho começou. — Eu também não planejei pedir ele em namoro, eu tava só… me deixando levar pelas coisas novas que eu tava vivendo e, quando eu percebi, eu tinha me apaixonado e simplesmente não consegui ignorar e pedi ele em namoro.
— Own! Isso é tão doce — disse a Sra. Kwon. — Você realmente não mentiu quando disse que ele era fofo, Soonyoung.
— Obrigado — o ômega falou envergonhado. — E eu devo dizer que seu filho é uma pessoa incrível, e eu gosto muito dele — completou, olhando para o maior. — E eu tenho sorte dele gostar de mim também.
— Resolveu falar essas coisas fofas só porque eu não tenho a cara de pau de te beijar com meus pais olhando? — o alfa indagou, colocando as mãos na cintura.
Os pais de Soonyoung riram, sentindo-se felizes por ver o filho tão radiante. Tudo que eles conheciam de Jihoon era o que o garoto contava, e sabiam que pessoas apaixonadas tendem a idealizar demais a pessoa amada, então temiam em segredo que ele estivesse se apaixonando por alguém não tão bom assim. Mas, para seu alívio, Jihoon era, sim, um bom garoto e eles puderam perceber que ele realmente gostava e se importava com Soonyoung.
— A gente fecha os olhos, não tem problema — o Sr. Kwon falou, cobrindo os olhos da esposa com uma mão, fazendo-a rir enquanto estapeava de leve seu braço.
— Estamos felizes por vocês, queridos — ela disse sorridente, e Jihoon percebeu que Soonyoung tinha o sorriso igual ao da mãe. — Quando nós conseguirmos voltar, vamos marcar um jantar para nos conhecer melhor.
— Claro, eu vou adorar, Sra. Kwon — o ômega sorriu.
— E qual a novidade que vocês queriam contar? — o alfa perguntou.
— Ah, sim! Quase esquecemos — o progenitor falou. — Nós temos uma surpresa para você, filho.
— O que é? — perguntou, interessado.
— Como nós não vamos poder voltar pra Coréia pra passar o natal, nós compramos uma passagem pra você vir passar o natal com a gente — a mulher disse, esperando a reação do filho.
— Sério? — ele piscou desacreditado.
Jihoon olhava para o namorado, estando tão surpreso quanto ele pela novidade. Entretanto, ele não estava tão animado quanto os demais esperavam.
— Sim, filho. Você viajaria daqui uma semana, então passaria dezembro aqui com a gente e voltaria no início de janeiro — seu pai explicou. — O que você acha?
— É legal, eu acho. Só… eu vou pensar, ok? — murmurou.
— Oh… Tá bem — disse a beta. — Pensa com amor e depois nos fala, ok?
Soonyoung acenou com a cabeça.
— Tchau — os mais velhos acenaram. — Nós te amamos.
— Também amo vocês — sorriu pequeno, fechando o notebook assim que a chamada foi encerrada.
— Que merda foi isso? — Jihoon perguntou, cruzando os braços. — Soon, por que você não aceitou de primeira? O que aconteceu?
— Nada, é só que… — deu de ombros. — Eu não sei, foi surpreendente.
— Sim, mas é uma coisa boa — argumentou o baixinho, ficando de frente para o mais velho e segurando suas mãos. — Você tá morrendo de saudades deles, eu vi você chorando por causa disso e agora…
— Eu sei, Jihoon, eu sei — interrompeu, suspirando em seguida ao cobrir o rosto.
Jihoon suspirou, aproximando-se com cautela.
— Amor, fala comigo — pediu, tocando o braço do namorado. — Por que você tá com medo disso?
— Eu sei lá, eu só… — olhou para o menor. — É que as coisas estão tão bem entre nós agora. A gente começou a namorar faz dois dias, eu não quero sair correndo e ficar um mês longe de você justo agora.
— Soon, você não precisa se sentir inseguro quanto a gente, ok? — tocou o rosto dele. — Eu te pedi em namoro, mas minha ideia nunca foi ser sua prioridade. Eu quero que você faça as coisas que te façam feliz e que você me deixe ver isso de perto.
Soonyoung suspirou, sem saber o que dizer, desviando o olhar.
— Ei — Jihoon chamou-o, tocando seu queixo para que ele lhe encarasse. — E não é como se você fosse embora pra sempre. Vai ser só um mês, e eu vou estar aqui quando você voltar.
— Promete?
— Prometo — sorriu, segurando o rosto dele para selar seus lábios.
O contato não durou muito e logo o ósculo foi quebrado, os garotos, no entanto, continuaram com os rostos próximos, esfregando seus narizes juntos.
— Você adora beijinho de esquimó, né? — Jihoon apontou.
Soonyoung abriu os olhos e riu anasalado.
— Sabia que na verdade isso não é beijo de esquimó? — ele disse. — E, na verdade, esquimó é um termo meio racista.
— Sério? — o menor exclamou, apoiando o rosto numa mão, interessado. — Não sabia.
— Sim, é. Na verdade, eles são chamados de inuítes — explicou Soonyoung. — E eles não se beijam assim.
— Então, como é?
— Bem, eles chamam de kunik, e é assim: eles seguram o rosto da pessoa, e esfregam o nariz na bochecha — explicou, segurando o queixo do ômega e roçando seu nariz na bochecha dele.
Jihoon riu baixinho, fechando os olhos, apreciando a demonstração de carinho.
— Isso é fofo.
— É, né? — respondeu o alfa. — E quanto mais você gosta da pessoa, mais forte você faz.
— Como você sabe essas coisas?
— Você vai achar idiota, mas toda vez que eu sentia saudade dos meus pais, eu pesquisava sobre o país onde eles estavam — murmurou. — Eu sei várias coisas aleatórias de vários países.
— Own, tigrinho — fez bico, puxando-o para um abraço. — Mas, vamos ver o lado bom — afastou-se alguns centímetros. — Você vai visitar eles, e vai passar um mês na Turquia.
O baixinho se levantou, fazendo pequenos e desajeitados passinhos de dança.
— Você é muito fofo — o alfa disse, observando o mais novo dançando de maneira tímida.
— Vem dançar comigo, vamos comemorar! — chamou, movendo os pés, quadris e mãos, numa dança sem ritmo.
Soonyoung manteve os olhos fixos em Jihoon, e na forma que ele mexia o corpo. Havia certo tempo que um tipo fogo crescia em si a cada coisa que o ômega fazia, e algumas vezes, ele achava difícil se controlar para não jogá-lo na cama e beijar seus lábios até perder a sanidade.
— Você tá me deixando doido...
— O que? — o baixinho perguntou confuso.
O maior se levantou de repente, avançando na direção do baixinho que, por sua vez, desviou dele, correndo para o outro lado do quarto.
— Ei, Soonyoung, o que te deu?
— Você, oras! — alegou o maior. — Você fala e faz coisas tão… tão você! E eu fico… ugh!
Tentou alcançar o ômega novamente, mas ele escapou ao correr por cima da cama, rindo da situação.
— Respira fundo, Soonie — pediu, mantendo uma distância segura do alfa.
Jihoon podia perceber rastros de um brilho feroz nos olhos de Soonyoung, um brilho que ele nunca havia visto. Feixes suaves de um vermelho rubro cintilavam em suas íris, que permaneciam fixas no ômega.
Apesar de nunca ter visto aquele brilho de perto, o baixinho tinha uma ideia do que aquilo significava e, apesar de ainda não estar pronto para tal, não sentia medo daquela situação um tanto inusitada, pois confiava no alfa de olhos fechados.
Soonyoung tentou se aproximar de novo, mas sem sucesso. Jihoon pulou por cima da cama novamente e manteve a distância.
— Jih! Não foge de mim! — choramingou o maior, batendo o pé no chão de forma birrenta. — Vem aqui, por favor.
— Primeiro você se acalma e depois… Aish! — o baixinho exclamou ao ser jogado contra a cama, após uma investida falsa do mais velho, acabou correndo na direção dele e foi pego. — Soonyoung, calma. Respira fundo, sim?
— Eu tô calmo — ele respondeu, segurando as mãos do mais novo ao lado de sua cabeça, ficando com o corpo sob o dele.
— Dá pra notar — ironizou, apesar de sentir o coração acelerando por ter o outro tão perto. — Respira fundo comigo, vamos — inspirou profundamente, sendo imitado pelo outro.
Entretanto, ao invés de alcançar a calmaria que buscavam, Soonyoung rosnou baixo:
— Você tá cheirando tão bem — falou antes de colar seus lábios, num beijo intenso que o ômega nem pensou em recusar.
As mãos grandes desceram pelos braços do menor, tocando seu rosto e deslizando até sua cintura, apertando ali de maneira firme, puxando o corpo dele para junto do seu.
Jihoon, por sua vez, tocou as costas largas do alfa, sentindo o calor de sua pele com a ponta dos dedos. Soonyoung estava quente e aquele calor estava o esquentando também. O mais velho estava acendendo um fogo dentro de si, um fogo que ele sentia que seria difícil de controlar.
— Soon… — o menor suspirou ao que beijos e leves mordidas começaram a ser depositadas em seu pescoço.
— Você faz com que respirar seja tão difícil — sussurrou próximo do rosto do baixinho, prendendo o lábio inferior dele entre os dentes e puxando. — Se eu vou ficar um mês fora, preciso aproveitar esse tempo que tenho com você.
— Soonyoung...
— Posso? — ele perguntou, num sussurro que arrepiou o menor.
Jihoon olhou fundo em seus olhos ao assentir mudo, então fechou as pálpebras novamente quando Soonyoung se aproximou para beijá-lo.
Entretanto, não puderam iniciar outro beijo, pois a porta do quarto fora aberta e as vozes animadas de Jeonghan e Jisoo cortaram o momento.
— E aí, casal! — o alfa mais velho exclamou. — Querem assistir um filme com…? Eita.
Soonyoung suspirou antes de se jogar para o lado e sentar na cama, encarando os mais velhos.
— O que foi? — ele perguntou.
— A gente… hum… meu Deus, deu tela azul — o Yoon disse, tocando as próprias temporas.
— A gente vai assistir um filme, querem assistir também? — Joshua explicou.
O Kwon olhou para Jihoon, que estava sentado na cama de cabeça baixa e rosto vermelho, envergonhado.
— Quer?
— Pode ser — murmurou o ômega.
— Ok! Eu vou fazer pipoca pra gente — Jisoo exclamou animado.
— Ah, não. Deixa que eu faço, você sempre queima — Soonyoung protestou, levantando-se e indo atrás do primo até a cozinha.
— Eles já foram? — Jihoon perguntou.
Jeonghan deu uma olhadinha no corredor antes de confirmar, assim que o fez, o baixinho virou na cama, gritando contra o colchão enquanto batia as pernas.
— Eu, hein. O que te deu? — o mais velho perguntou, sentando perto do amigo.
— Eu tô sentindo uma coisa estranha…
— É só tesão, Jih, relaxa.
— É o que? — sentou na cama, encarando o mais velho.
— Tesão, ué — deu de ombros. — Vontade de foder.
— Ah! Cala a boca! — o ômega cobriu os ouvidos, voltando a esconder o rosto no travesseiro.
— Ok, calma, calma — disse o mais velho, acariciando os cabelos de Jihoon. — Eu sei que isso pode ser assustador, mas é algo natural.
— Parto também é natural e nem por isso deixa de ser assustador — argumentou.
— Mas fazer o bebê que é gostoso — rebateu, rindo quando um travesseiro foi jogado contra si. — É brincadeira. Mas do que exatamente você tem medo?
O baixinho suspirou ao sentar novamente, refletindo sobre a pergunta.
— Eu não sei — confessou, fitando suas próprias mãos. — Eu só… nunca parei pra pensar nisso, sabe? Eu nunca tive curiosidade sobre essas coisas, a primeira vez que eu assisti pornografia foi traumatizante, e agora é só…
— Novo?
— Tipo isso — balançou os ombros. — Ainda não sei o que pensar sobre sexo e eu estar incluso nesse pensamento.
— Bem, tá na hora de pensar. Porque, diferente de você, Soonyoung não é assexual, ele com certeza já te imaginou pelado — disse Jeonghan, tentando não rir da careta que o amigo fez. — E se você acha que não vai querer nunca, é justo ele ficar sabendo, né?
— Sim, mas não é como se eu não quisesse tentar — falou baixo, envergonhado pelo assunto.
— Então, ótimo! Agora você só tem que tomar um pouco de coragem pra dar esse passo — incentivou o mais velho. — E outra, não pensa que sexo é só penetração... — falou, observando o rosto do menor ficando mais vermelho a cada segundo.
— Eu sei disso! Não fala mais nada, tá? — levantou-se, empurrando os cabelos para trás. — Valeu pelos conselhos, agora vamos descer para ficar com eles.
— Tá bem — concordou Jeonghan, levantando e seguindo junto de Jihoon.
— Mas também — o ômega falou de repente, parando no meio da escada —, não é como se desse pra eu tentar agora, porque ele vai viajar daqui uma semana e ficar um mês fora.
— Sério? Que coisa — murmurou o maior, sorrindo de canto em seguida. — Você pode pensar assim, ou pode aproveitar isso pra explorar sua sexualidade e a dinâmica dos dois juntos enquanto ele tá longe, sem o risco de se deixar levar pelo tesão ou algo assim.
Jihoon pensou no que o alfa dissera por alguns segundos.
— E como eu faria isso?
— Usa sua imaginação, nenê — piscou para ele, descendo as escadas em seguida.
— Ótimo conselho — o baixinho murmurou, observando Soonyoung de longe.
Chapter 24: Chá de Gengibre
Chapter Text
— Filhote, me ajuda a colocar a mesa, daqui a pouco o Soonyoung tá aí — Daeun chamou, estalando os dedos enquanto abria o armário para pegar os pratos.
Assim que Jihoon contou sobre o namoro, seus pais insistiram para que Soonyoung fosse convidado para jantar com eles, e não sossegaram até que a data estivesse marcada.
Daeun e Jihoon arrumaram toda casa — o ômega meio que forçado —, enquanto Taesuk preparava a comida com bastante dedicação.
— Você arrumou seu quarto? — a alfa perguntou.
— Arrumei, mãe — o menor falou, levantando-se para ajudar a mais velha. — Mas não é como se ele nunca tivesse visto meu quarto bagunçado.
— Humpf — ela soltou, ajeitando os talheres na mesa. — Eu não gostei dessa história dele vir aqui quando a gente não tá em casa.
— Desculpa. Mas não é como se acontecesse alguma coisa — respondeu Jihoon, fingindo estar muito concentrado em arrumar os pratos para não ter que olhar para a mulher. — E mesmo que acontecesse, qual o pior que poderia acontecer?
— Não vem com essa — ela disse. — Mas eu sei que você é responsável, então…
A campainha soou, interrompendo a conversa.
— Eu atendo! — Jihoon falou, correndo em direção a porta. — Oi, Soonie — sorriu assim que viu o maior, cumprimentado-o com um selinho.
— Eu tô tão nervoso, eu juro que daqui a pouco eu infarto do coração antes de começar a comer — Soonyoung falou, secando as palmas das mãos suadas na calça.
Jihoon riu baixo e se aproximou, abraçando-o pelo pescoço e lhe dando um selinho demorado.
— Relaxa, vai dar tudo certo.
[...]
— Aí, foi quando eu percebi que não importava quantas vezes eu fizesse, continuava do mesmo jeito, então eu vi que tava fazendo do lado errado — Soonyoung contava, fazendo os outros três rirem alto. — Enfim, depois disso nunca mais tentei.
— Mas isso é ótimo, tudo é um aprendizado — apontou Taesuk.
— É, acho que sim — o Kwon concordou.
— Mas então, Soonyoung, nos conta mais da sua família — a alfa pediu, sorrindo doce.
Jihoon olhou de canto para o namorado, esperando que a pergunta não o deixasse incomodado.
— Claro, hum… — limpou a garganta. — Meus pais não moram aqui, na verdade. Eles trabalham com uma companhia de viagens, então estão sempre em um lugar diferente. Na real, faz um tempo que eu não vejo eles pessoalmente, mas eles me ligam quase todos os dias. Então eu moro com meus tios, eles são médicos, meu tio é obstetra e minha tia é cardiologista. E tem o filho deles, o Jisoo, vocês viram ele no aniversário do Jih.
— Isso é legal, eles devem ser muito inteligentes — o pai de Jihoon comentou. — Tanto seus tios, quanto seus pais.
— Acho que sim — Soonyoung sorriu fechado. — Mas é isso, não tem muito o que falar sobre minha família. Só que meus pais estão na Turquia agora, então eles me convidaram pra ir passar o natal lá com eles.
— Sério? Que legal — Daeun falou. — Quando você vai?
— Daqui três dias — disse, segurando a mão de Jihoon por baixo da mesa. — Eu sei que não parece, mas eu tô empolgado. Eu só fico meio assim de ter que ficar tanto tempo longe do Jih, agora que a gente finalmente começou a namorar.
— É, mas eu já disse que vai ser só um mês, não uma vida — argumentou o baixinho.
— E agora com as férias escolares, vocês podem passar bastante tempo juntos — Taesuk falou.
— Eu sei, mas vou sentir saudades mesmo assim — Soonyoung resmungou fazendo um bico. — Eu ainda tenho que ver como vou pro aeroporto, porque bem no dia meus tios foram escalados pra fazer plantão no hospital. E não vai ter como eles mudarem o dia porque final de ano é sempre lotado.
— Você vai daqui três dias? — perguntou a mulher. Soonyoung acenou com a cabeça. — A gente pode te levar, né? — olhou para o marido.
— Claro — ele concordou.
— Não. Imagina! — o Kwon negou, sacudindo as mãos. — Não quero incomodar. A viagem até lá é demorada, e…
— Mas não tem problema, a gente gosta de andar de carro — o ômega mais velho falou. — Jihoon vai junto, vocês ficam no banco de trás, conversando.
— Quando o Jihoon era bebê a gente sempre andava de carro pra acalmar ele — Daeun contou. — Às vezes ele ficava chorando por horas de madrugada, mas a gente só saía e dava uma volta na quadra de carro e ele dormia. Acho que era o balanço, algo assim.
— Que fofo — Soonyoung sorriu. — Mas, de qualquer jeito, o vôo sai muito cedo, eu vou ter que sair quase de madrugada pra chegar a tempo.
— Você pode dormir aqui — sugeriu o baixinho, olhando para o namorado com expectativa. — A gente acorda e vai pro aeroporto. Que tal? — olhou para os pais.
— É uma boa ideia — eles concordaram.
— Bem… se tudo bem por vocês — Soonyoung falou.
— É, claro — a alfa falou.
Jihoon sorriu olhando para o maior.
Após o jantar, os garotos tiraram a mesa e lavaram a louça. Os mais velhos subiram para o quarto, visto que Daeun havia ficado enjoada após a refeição.
— Viu? Eu disse que ia dar tudo certo — Jihoon falou assim que fechou a porta do seu quarto.
— Foi melhor do que eu esperava — Soonyoung disse, sentando de "índio" na cama do baixinho. — Legal da parte deles me levarem até o aeroporto também.
— Eu disse que eles te adoram — sorriu, sentando-se de frente para o namorado, o mais próximo que conseguia. O alfa se debruçou sobre ele, deitando a cabeça em seu ombro. — Ei.
— Hum?
— Eu sei que você vai ficar só um mês fora, mas eu vou sentir saudade — falou baixo e o maior ajeitou a postura para olhar seu rosto. — Muita — completou.
Soonyoung não respondeu com palavras, apenas segurou o rosto do ômega e o beijou da maneira doce e apaixonada que somente ele conseguia — e podia.
O contato não durou muito tempo, foi apenas um selar delicado, seguido de alguns selinhos rápidos.
— O jeito é nós aproveitarmos esses três dias juntos — o alfa disse, acariciando as bochechas do menor.
— Que horas seus tios vem te buscar?
Soonyoung sacou o celular e checou o horário, enquanto Jihoon depositava beijos pelo seu pescoço.
— Daqui uns 30, 40 minutos — falou baixo, sentindo alguns arrepios cruzando seu corpo. — O que você quer fazer até lá? — olhou-o, mordendo seu lábio inferior.
— Eu quero te pedir uma coisa — murmurou tímido. — Mas, antes, eu queria te dar seu presente de natal.
— Já?
— Sim, daqui a pouco você vai viajar e eu só vou te ver ano que vem — explicou enquanto se levantava para buscar o presente em seu guarda-roupa.
Voltou a sentar de frente para o namorado, entregando a caixa pequena para ele.
— Não é muito porque eu tava sem dinheiro, mas eu fiz com todo amor — falou baixo, observando o alfa abrir o embrulho.
Ali, havia uma caixinha pequena decorada, com QR code de uma playlist no Spotify na tampa.
— O que é isso? — Soonyoung perguntou, abrindo com delicadeza a caixinha e vendo que haviam vários papeizinhos dentro.
— Eu fiz uma playlist pra você — explicou. — E dentro tem um bilhetinho com cada música e porquê ela tá na lista.
O mais velho assumiu uma feição de compreensão, buscando aleatoriamente um dos papéis recortados e decorados com cuidado, lendo em seguida:
— Kizuato: Porque em dias chuvosos, enrolados ou nublados, durante as quatro estações, nos 365 dias do ano, você está em todos eles — sorriu após ler. — Isso é tão fofo!
— Você gostou?
— Eu amei! — exclamou feliz, pegando outro papel colorido. — Kissin' U: Porque quando eu beijo você tudo começa a fazer sentido, e todas as dúvidas que eu tinha em minha mente desaparecem.
O sorriso de Soonyoung não deixava seu rosto, suas bochechas começavam a doer de tanto fazê-lo.
— Mas, Jih, não querendo ser um puta escroto e tal, mas… uma vez você disse que a gente não deveria dedicar músicas boas pra pessoas, porque pessoas são passageiras e músicas sempre ficam.
— Sim, eu ainda penso assim — o baixinho deu de ombros. — Mas você não é passageiro.
— E como você sabe?
— Porque eu não quero que você seja — afirmou, olhando-o nos olhos.
Soonyoung sorriu mais leve, aproximando-se para lhe dar um selinho novamente.
— E isso aqui, é verdade? — perguntou o alfa, mostrando o papel que ainda estava em sua mão, com a letra de Kissin' U.
— É muito verdade — Jihoon disse. — Foi exatamente assim que eu me senti quando você me beijou pela primeira vez.
— Então, por que você fugiu?
Um pequeno silêncio cresceu com a pergunta. Jihoon abaixou a cabeça, sem graça.
— Eu sei lá, só… só foi muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. E foram tantas borboletas na minha barriga que eu não soube o que fazer — murmurou. — Me desculpa se aquilo te magoou.
Soonyoung se aproximou, segurando as mãos do menor e trazendo seu olhar para si.
— Eu fiquei chateado quando você me ignorou depois do beijo, mas eu entendo agora que você precisa de um tempo pra entender e aceitar coisas novas — falou compreensivo. — E, sendo sincero, se eu pudesse voltar atrás, eu não teria feito nada diferente.
Jihoon sorriu, desviando o olhar, envergonhado. Era difícil para ele olhar outras pessoas nos olhos, mas Soonyoung não se importava.
Aproximou-se do ômega e beijou sua testa de maneira doce e demorada, e, assim que o baixinho ergueu a cabeça, lhe beijou os lábios rapidamente.
Soonyoung ficou em silêncio, olhando o rosto de Jihoon de perto, observando cada mínimo detalhe e se apaixonando um pouquinho mais por cada um deles sem nem perceber.
— Jihoon, eu… — sua fala morreu e ele suspirou.
— O que foi?
— Você quer seu presente de natal agora?
— Você tem aí?
— Mais ou menos — disse, pegando seu celular. — Depois do seu presente, parece até bobeira mas... eu escrevi um poema pra você.
— Sério? — o ômega arregalou os olhos, surpreso.
— É, eu escrevi no celular, mas eu ia copiar a mão numa folha bonita e te entregar igual carta. Algo bem romântico, sabe?
— Ai, Soon, você é a pessoa mais fofa do mundo! — o mais novo exclamou, segurando o rosto do namorado e lhe dando vários selinhos cheios de gana. — Sério, eu nem li ainda e já tô surtando porque isso é, de longe, a coisa mais romântica que alguém já fez por mim.
O alfa riu sem jeito, enquanto abria a nota com o poema.
— Você quer ler, ou…?
— Não, não. Lê você pra mim — Jihoon pediu, apoiando o rosto nas mãos e o encarando ansioso.
— Ai, tá bem — Soonyoung riu nervoso. — Quando você ler no papel vai ficar mais claro, mas umas partes são letras de música que eu usei para complementar.
— Tudo bem. Começa, por favor!
O alfa respirou fundo antes de começar.
— "Há um ano atrás, eu te vi pela primeira vez. Sua aparência bela e seu cheiro envolvente me capturaram. Eu te via de longe e pensava por que você iria me beijar?.
Passaram-se quase 365 dias, e todos os dias eu tinha vontade de me aproximar, pensava 365 maneiras de chegar até você, mas o medo sempre me impedia; o mundo inteiro estava se movendo, e eu permanecia parado.
Um dia, o universo resolveu sorrir para mim e decidiu brincar com você. Você foi ao chão, mas eu te vi e tomei coragem para te ajudar.
Nas primeiras vezes, eu sentia meu coração pulando feito doido dentro do peito sempre que falava com você.
Eu alcancei sua amizade e aquilo parecia bastar para você, enquanto eu me sentia deixado de lado, preso em uma luz vermelha enquanto esperava minha vez, e eu me perguntava por que você não me amava.
Pouco a pouco, eu alcancei seu coração e deixei que você tomasse tudo que quisesse de mim, não importava se eu iria me machucar, se você achasse que amor era só um desperdício de tempo, pediria que desperdiçasse comigo.
E mesmo que meus sentimentos sejam somente isso, eu serei seu consolo quando você estiver quebrado, serei sua primavera durante todo o inverno.
Porque eu sinto que guardei algo bom para dar durante todos esses anos, guardei sem ter porquê, além de não saber como demonstrar. E achei uma forma de fazer isso em você, e acho que isso não precisa de nenhuma explicação a mais."
Assim que terminou, Soonyoung ficou em silêncio, esperando uma reação do ômega, que apenas mantinha os olhos presos em si.
— Você gostou? — perguntou, um pouco inseguro.
— Eu amei — ele sorriu, secando uma lágrima solitária que escorreu por seu rosto. — Eu preciso disso escrito a mão pra eu emoldurar e deixar no meu quarto — riu baixo, aproximando-se do maior e o abraçando enquanto beijava seus lábios.
O alfa sorriu aliviado, retribuindo o abraço, apoiando um braço atrás de seu corpo para dar equilíbrio, enquanto o outro, circundou a cintura do menor.
— Não chore, hum? — ele disse, secando algumas lágrimas finas do rosto de Jihoon.
— Tá tudo bem, são lágrimas de felicidade — respondeu o ômega, sentando-se no colo dele. — Você é tão incrível, e gosta tanto de mim. Às vezes me pergunto se eu mereço tanto.
— Você merece, sim — resmungou Soonyoung, abraçando-o pela cintura, trazendo o corpo dele para perto do seu e beijando sua testa.
— Foi fofo a gente ter feito coisa referente a música um pro outro sem saber — comentou o baixinho.
— Acho que é coisa de almas gêmeas — sorriu, dando um selinho no namorado. — O que é que você queria pedir mesmo?
— Hum?
— Antes de entregar o presente, você disse que queria pedir uma coisa.
— Ah — corou. — Depois dessas declarações boiolas eu fico até com vergonha.
Soonyoung riu baixo, afastando-se minimamente para encarar o menor.
— Não precisa ter vergonha de mim.
Jihoon respirou fundo, saindo do colo do alfa para sentar de frente para ele novamente.
— Você sabe que eu quero… dar mais passos com você, né? Mas isso ainda é um pouco assustador pra mim, então eu queria começar devagar — explicou, encarando o lençol de sua cama. — Mas tipo, beem devagar.
— Jih, tá tudo bem. Pode me pedir o que quiser — o alfa sorriu. — O que você quer?
O baixinho mordeu os lábios, não conseguindo olhar Soonyoung nos olhos ao pedir:
— Eu quero que você me beije…
— Tudo bem, mas a gente já se beija há um tempo — o mais velho franziu as sobrancelhas.
— Sim, mas eu quero que você… — não conseguiu completar sua fala.
— Te beije em... outro lugar? — disse, sugestivo.
— Não, garoto, para com isso! — riu, cobrindo seu rosto. — Eu só… eu quero ver seu corpo — falou baixinho.
— Ah — Soonyoung soltou, coçando sua nuca. — Tipo… todo?
— Não! Só da cintura pra cima — murmurou, ainda sem olhar para o alfa.
Soonyoung riu anasalado, achando fofa a reação de Jihoon e a forma como ele parecia tão tímido a um pedido, um desejo, simples mas tentava entender o lado dele.
Aproximou-se, ficando o mais próximo que conseguia e tirou seu casaco de flanela, e, logo em seguida, sua blusa, deixando seu tronco nu.
Jihoon respirou com dificuldade, seu coração estava acelerado dentro do peito. Sabia que não era algo para se ter medo, mas não conseguia evitar.
O corpo do alfa era bonito.
— Você pode me tocar se quiser, também — Soonyoung disse, chegando mais perto dele, inclinando-se para beijá-lo.
Jihoon fechou os olhos e retribuiu o selar, tocando o pescoço do maior e apoiando seu corpo nos travesseiros em sua cama.
O alfa se pôs sobre si, apoiando os cotovelos ao lado de sua cabeça enquanto brincava com sua língua.
As mãos do mais novo deslizaram até os ombros, sentindo o calor e a maciez de sua pele. Em seguida, tocou suas costas, puxando-o para mais perto de si enquanto sentia o maior morder e puxar com delicadeza seu lábio inferior.
Abriu os olhos minimamente e pôde ver o olhar nublado de Soonyoung o encarando, guardando ali dentro um desejo, lascívia em sua forma mais pura. Sentiu seu próprio corpo se arrepiando quando as mãos grandes apertaram sua cintura e ele começou a beijar seu pescoço, deixando pequenas mordidas.
— Soon — o ômega chamou, observando ele se afastar para encará-lo.
O maior ficou em silêncio, esperando que Jihoon falasse o que queria, e ele iria fazê-lo sem pensar duas vezes.
Entretanto, Jihoon não falou nada. Apenas sentou-se na cama, encarando o olhar faminto do mais velho e buscando ali a coragem que precisava para puxar sua própria camisa para fora do corpo.
Os olhos de Soonyoung quase dobraram de tamanho, sua boca ficou seca e, pela primeira vez, ele não soube como reagir. Estava congelado e tudo que conseguia fazer era admirar Jihoon. Lee Jihoon, o garoto por quem era apaixonado há tempos, semi nu em sua frente, com o rosto corado e os olhos presos em si.
— Jih, eu…
— Não fala nada, por favor — pediu envergonhado, tocando os ombros alheios e o puxando para perto de si novamente. — Só me beija, sim?
Soonyoung concordou mudo antes de fazer o que lhe foi pedido. Segurou o rosto pequeno e o beijou, sugando seus lábios e língua.
Jihoon suspirava em meio ao ósculo, perdido nas sensações já conhecidas, no calor que emanava do parceiro e na maciez de sua pele. Quando afastaram-se para recuperar o ar, o ômega tomou a liberdade de se aproveitar do pescoço e ombros de Soonyoung, aspirando seu perfume e deixando beijos molhados sobre a derme que se arrepiava com seus toques.
— Você tá assustado? — o mais velho perguntou após certo tempo, roçando seu nariz na bochecha avermelhada.
Jihoon negou com a cabeça, acariciando as laterais do corpo do alfa, rindo anasalado quando ele arrepiou-se.
— Não estou, mas minhas mãos estão tremendo — sussurrou, tocando o rosto do alfa, que beijou sua palma, esfregando-se ali como um gatinho. — Me toca mais.
— Como você quer? — olhou-o.
— Confio em você.
Soonyoung concordou mudo, voltando a beijar seus ombros, enquanto suas mãos seguravam a cintura — o alfa admitia que era particularmente atraído por aquela parte.
Jihoon fechou os olhos, aproveitando as carícias que o namorado oferecia. Seu corpo reagia sozinho, antes que ele mesmo pudesse associar o que havia acontecido. Sentiu os lábios macios descendo por seu pescoço, alcançando suas clavículas, deixando marcas de mordidas e chupões nos ossinhos salientes, prendeu um arfar na garganta.
Porém, quando a língua arteira escorreu até seu peito, Jihoon não conseguiu conter um gemido baixo. Soonyoung selou seu mamilo direito com os lábios de forma demorada e o corpo do ômega reagiu com um espasmo.
— Soonyoung — clamou o baixinho, cravando as unhas nos ombros alheios. Suas costas se curvaram num pequeno arco, enquanto seus pés se agitaram sob o colchão.
O alfa, entretanto, pareceu não ouvir o chamado de Jihoon, estando hipnotizado pelo cheiro doce e pelas reações tão naturais. Os lábios traçaram um caminho até o lado esquerdo de seu peito, ômega cobria sua boca com uma mão, tentando conter qualquer som que saísse.
Soonyoung parou e ficou observando o mais novo. A pele branca com algumas manchas avermelhadas, os olhos cerrados, o rosto corado… era tudo necessário para levá-lo à beira da loucura.
— Soon... — o baixinho chamou novamente, mesmo sem ter certeza do que falaria.
Então, o alfa deitou sobre seu corpo, repousando a cabeça em seu peito, bem próximo de seu coração, para que pudesse ouvi-lo batendo acelerado.
Jihoon fechou os olhos, acariciando os cabelos do namorado enquanto tentava regular sua respiração.
Queria poder ficar ali para sempre, mas o tempo estava passando indiferente àquele desejo, e isso o chateava de certa forma.
— Temos que nos vestir — ele disse, sentindo Soonyoung abraça-lo mais apertado. — Antes que seus tios cheguem ou meus pais apareçam de surpresa.
— Uhum — o alfa murmurou, soltando-se a muito custo do corpo alheio. Apoiou as mãos no colchão para poder olhá-lo melhor, correndo os olhos por todo seu corpo. — Você é lindo — falou sério, se aproximando para beijar seus lábios outra vez. — Porra, você é lindo pra caralho.
Jihoon riu baixo, tocando o rosto do mais velho ao retribuir os beijos.
— Você também é lindo pra caralho — sussurrou, descendo as mãos por seu pescoço e ombros.
Soonyoung sorriu e o abraçou outra vez, deixando seus corpos próximos e aproveitando o calor que compartilhavam. Plantou alguns selares no pescoço de Jihoon antes de se afastar e procurar sua camiseta.
— Você me deixou todo marcado — resmungou o baixinho, olhando seu corpo no espelho em seu guarda-roupa.
O maior riu baixo, chegando mais perto e o abraçando por trás.
— Desculpa, não resisti — falou baixo, mordendo a orelha do omega em seguida, deixando-o arrepiado. — Você pode me marcar também, se quiser.
Dito isso, Jihoon se virou e ficou na ponta dos pés para abraçar o alfa, colando os lábios em seu pescoço e mordendo com um pouquinho de força, sugando a pele em seguida. Soonyoung fechou os olhos ao soltar um gemido baixo, apoiando-se na porta do armário com uma mão.
— Pronto — o baixinho sorriu após se afastar, vestindo sua camiseta.
— Isso vai ficar um roxo enorme — reclamou o maior, vendo Jihoon se vestir enquanto ria. — Ainda bem que tá frio em Ancara, espero que meus pais não vejam.
— Desculpa — ele pediu risonho, abraçando o namorado novamente e lhe dando um selinho.
Soonyoung sorriu, gostava de quando Jihoon tomava as iniciativas para os beijos.
— Tudo bem. Desse jeito, vou lembrar de você mesmo estando longe.
— Ai, que gay — riu, deitando a cabeça no ombro do maior. — Você vai fazer alguma coisa amanhã?
— Vou ter que comprar umas roupas pra viagem — explicou, segurando a cintura do mais novo. — Mas, de qualquer jeito, eu volto aqui porque seus pais vão me levar no aeroporto.
Jihoon acenou com a cabeça e, antes que pudessem falar mais alguma coisa, batidas foram ouvidas na porta.
— Pode entrar — o ômega disse, e logo seus pais entraram.
— Com licença, meninos — Daeun sorriu. — Soonyoung-ah, seus tios chegaram.
— Oh, ok — ele sorriu, afastando-se de Jihoon para pegar suas coisas. Guardou com cuidado o presente que ganhara. — Tchau, Sr. Lee, e Sra. Lee — curvou-se para eles.
— Tchau, querido — ela respondeu. — Você volta pra gente te levar no aeroporto?
— Sim. E obrigado por isso — sorriu para eles.
— Foi um prazer te conhecer — Taesuk disse, sorrindo para o alfa.
— Vocês também.
— Eu te levo no portão — Jihoon falou.
Desceram as escadas e foram até a entrada.
— Tchau — disse baixo.
— Tchau — Soonyoung respondeu, segurando seu rosto e lhe dando alguns selinhos. — Eu volto depois de amanhã.
— Vou estar aqui quando você voltar — sussurrou, olhando-o nos olhos.
— Promete?
— Prometo — sorriu, beijando seus lábios uma última vez antes dele entrar no carro dos tios.
[...]
— Toma — Jeonghan falou, soltando um tubinho na frente de Jihoon.
— Pra que isso? — o baixinho perguntou.
— É corretivo, pra esconder esses roxos no seu pescoço — ele disse, dando a volta no balcão da cozinha.
— Ah, tá. Valeu — fechou o livro que estava lendo e abriu o tubinho de maquiagem.
Jeonghan pegou uma jarra de suco na geladeira e logo sentou-se de frente para o amigo.
— Você não pensou em esconder isso antes de sair de casa? — perguntou.
— Na real, não — deu de ombros, espalhando a maquiagem enquanto observava seu reflexo em uma colher. — Eu não achei que ia ficar marcado assim.
— Começa a se cuidar, marca de chupão demora pra sair — o alfa disse, servindo o suco nos copos. — E cobre isso bem, daqui a pouco o pessoal tá aí e você sabe que o Minghao vai encher seu saco se ele ver.
Os amigos haviam decidido fazer uma pequena reunião antes da viagem de Soonyoung. Jeonghan ofereceu sua casa, visto que ela estaria vazia. Não iriam muitas pessoas e não fariam muita bagunça.
— Nem me fala, Minghao às vezes é demais pra minha cabeça — Jihoon murmurou, fechando o corretivo e olhando para o mais velho em seguida. — E aí? Como ficou? — mostrou seu pescoço.
— Você não sabe passar — riu baixo. — Vem aqui.
O ômega revirou os olhos e se levantou, dando a volta no balcão e sentando ao lado do maior, que ajudou-o a aplicar a maquiagem.
— Mas, mudando um pouco de assunto, como é que você tá se sentindo com tudo que tá acontecendo?
— Sei lá, nem sei se quero falar sobre isso — respondeu dando de ombros. — São só coisas novas e às vezes assustadoras por serem novas, mas… sei lá, eu realmente não sei o que pensar sobre isso. Mas eu tô feliz, sabe? Soonyoung é incrível e ele respeita todos meus limites, então não importa muito.
— Hum — murmurou Jeonghan, fechando o tubinho. — Você disse que não sabia se queria falar mas acabou falando.
— Eu preciso falar com alguém sobre as coisas, né? — deu de ombros, voltando ao seu lugar de antes.
— Você sempre pode falar comigo, é só me chamar e falar — argumentou o mais velho.
— Tá exigindo demais de mim, já — resmungou o baixinho, fazendo o alfa rir baixo.
— Abre o coração, Jih!
— Fica quieto — resmungou, voltando a abrir o livro.
A campainha soou antes que a conversa pudesse continuar. E, antes que Jeonghan pudesse atender, a porta foi aberta por Wonwoo, que entrou seguido de Mingyu, Chan, Minghao, Joshua e Soonyoung.
— E aí, meninos? — o ômega mais alto cumprimentou.
— Oi, gente — Jihoon sorriu, correndo para perto do namorado em seguida. — Oi, tigrinho!
— Oi, pequeno — Soonyoung sorriu, abraçando-o pela cintura enquanto lhe dava um selinho.
— Chegaram cedo — Jeonghan falou, saindo de trás do balcão para ir até eles.
— A gente se encontrou no caminho — Minghao explicou, soltando algumas sacolas com salgadinhos sob a mesinha de centro.
— Ah, por isso vocês chegaram todos juntos — Jihoon falou. — Tava achando estranho mesmo.
— Enfim, como todos estão? — Jeonghan perguntou.
Wonwoo e Mingyu olharam para Chan, que estava mais quieta que o normal, encolhida ao lado do Kim. Jihoon e Jeonghan observavam a cena confusos.
— Bem, eu… — ela disse, dando de ombros. — Já estive melhor.
— O que aconteceu, Chan-ah? — o mais velho perguntou, aproximando-se da menor e fazendo-a sentar no sofá.
— Eu tô bem, gente, não é nada demais — ela disse, envergonhada com todos se aproximando dela com olhares preocupados.
— Por experiência própria, eles não vão te deixar até você falar, então só se abre — Jihoon falou.
Chan riu baixo, mexendo seus dedos de maneira tímida antes de começar:
— Bem, hum… eu tava em casa, me arrumando pra ir encontrar o Gyu e o Wonwoo oppa. Aí meu irmãozinho veio falar comigo e perguntou: "Chan, você tá menino ou menina hoje?" — contou.
— Own, ele é tão fofo — Jeonghan sorriu.
— Sim, ele é — Chan disse. — Mas aí, tirando minha alegria de ter um um irmão incrível, minha mãe começou a brigar com ele, dizendo que eu era um menino e nada mais, e ele não devia alimentar essa invenção minha e eu tava sendo uma má influência pro meu irmão, ficou me chamando pelo meu nome morto e fez eu tirar a maquiagem que eu tinha feito... — suspirou. — Enfim, isso me deixou meio chateada.
— Oh, sentimos muito — o mais velho lamentou, acariciando os cabelos da beta.
Ela deu de ombros.
— Tô acostumada com essas pequenas brigas em casa, sabe? Mas não quer dizer que não me magoa.
— Ah, nenê — Mingyu murmurou, abraçando a menor. — A gente tá aqui por você.
— É, totalmente — concordaram.
— Valeu, meninos, mas eu não quero falar sobre isso — ela negou. — Vamos só mudar de assunto e esquecer.
— Tudo bem, vamos — Jeonghan concordou. — Eu não sei se ajuda, mas tem algumas maquiagens da minha mãe aqui, se você quiser usar.
— Se for ficar igual ao pescoço do Jihoon hyung, eu passo — brincou.
— Foi ele que maquiou — o ômega acusou, apontando na direção de Jeonghan.
— Cala a boca — reclamou o mais velho, apesar de rir. — Vou lá pegar as maquiagens e já vou aproveitar pra acordar o Cheol.
— Ele tá dormindo a essa hora? — Minghao perguntou.
— Ele tava com dor de cabeça, mas já deve tá melhor agora — o alfa respondeu, subindo as escadas.
— Chama ele pra ficar com o pessoal — Soonyoung falou, abrindo um pacote de salgadinhos e se aproximando do primo, que estava sentado no sofá com uma careta estranha. — O que foi, hyung?
— Ainda tô pensando que merda é um nome morto.
— Já falei pra você começar a fazer uma pesquisa — o Kwon respondeu baixo, não querendo que Chan ouvisse, mesmo que ela já tivesse ouvido. — Não vamos incomodar Chan com esse assunto, né?
— Não tem problema, oppa, eu posso explicar — ela sorriu, arrastando-se para perto do beta mais velho. — Bem, um nome morto é…
Soonyoung deu de ombros e se afastou, indo até a cozinha. Aproximou-se de Jihoon, que estava no balcão, concentrado em um livro qualquer.
— Você vai ficar aí a noite toda? — abraçou-o por trás, cheirando seu pescoço, o que causou diversos arrepios no baixinho.
— Não vou — riu nasalmente. — Quando todo mundo chegar, eu paro de ler.
— Já tá todo mundo aqui — argumentou, deixando alguns beijinhos na nuca alheia.
— Seokmin, Hansol e Seungkwan não vem? — ergueu uma sobrancelha.
— Ah, é. Esqueci deles — falou baixo, sentando ao lado do omega. — Sou um péssimo amigo.
— É, você é — brincou Jihoon, fechando o livro e se virando para o maior.
— Eles já devem tá chegando — deu de ombros, sentando-se ao lado dele. — Acho que a gente não vai ficar até tarde aqui, de qualquer jeito. Depois vou pra casa arrumar minha mala.
— Só tenta não levar todo seu guarda-roupa — pediu Jihoon.
— Vou tentar — o alfa riu, puxando a banqueta onde o namorado estava, trazendo-o para perto de si.
Na sala, os demais garotos arrumavam um espacinho na sala para que todos pudessem sentar numa rodinha, enquanto Jisoo e Chan continuavam conversando.
— Ah, entendi — o mais velho disse. — Então nome morto é o nome que seus pais te deram quando você nasceu, mas você não gosta dele, é isso?
— Vai um pouco além de não gostar mas, basicamente, sim — a beta disse enquanto encarava seu reflexo num pequeno espelho de mão, pintando um delineado. — É legal que você queira aprender sobre isso, tho.
— Meio que todo mundo sabia do que você tava falando e só fiquei eu boiando — riu sem jeito.
— E… Esse é o único motivo? — ela ergueu uma sobrancelha, mexendo na bolsinha de maquiagem da Sra. Yoon.
O beta franziu o cenho, encolhendo os ombros em seguida.
— Acho que sim.
— Hum — Chan soltou, aplicando um batom rosado nos lábios. — De qualquer forma, é um motivo e isso já é melhor que nada. A maioria das pessoas nem tem interesse em tentar me entender, é sempre só: “você não pode ser os dois”, “só escolhe um logo”, “mas o que você tem entre as pernas”, “qual seu nome de verdade?” — reclamou, fazendo vozes, caras e bocas de desdém para cada frase que proferiu, que era forçada a ouvir toda hora. — Principalmente meus pais…
— Você não se dá bem com eles? — perguntou com cautela, observando o olhar da mais nova fixado no zíper da bolsinha.
— Me dou até. Tipo… Quando eu não uso roupas femininas, quando a gente não fala sobre nada político, quando a gente é só uma família jantando ou jogando, é até legal — explicou, tentando conter as lágrimas invasivas que brotavam em seus olhos. — É só que…
— Não é quem você realmente é.
— Exatamente — sorriu triste. — Eu só consigo achar tudo isso muito, muito injusto.
— Como assim? — aproximou-se dela, curioso.
— Porque eu não pedi nascer. Eu nunca quis existir, só fui empurrada de uma vagina sem nem saber o que estava acontecendo e… e eu nem posso ser quem eu sou? Eu tenho que ser o que meus pais esperam de mim? — encarou Joshua, duas lágrimas desceram pelo seu rosto. — Pessoas não deveriam ter filhos se elas não conseguem aceitar que crianças têm sentimentos, que crianças crescem e se tornam adultos com suas próprias crenças, valores, sua própria religião, sexualidade e seus próprios sonhos. Ninguém deveria viver sendo quem não é.
Chan suspirou após sua fala, secando o rosto de maneira rápida. Jisoo, por sua vez, continuava ao seu lado, sem saber como responder.
— Eu… — ele começou. — Eu entendo…
— Sim. De todas as pessoas, você é quem mais entende — ela falou.
— Que? Do que você tá falando? — o beta juntou as sobrancelhas.
— Eu não sou estúpida, ok? Eu vejo tudo que você sente pelos seus olhos, eles não escondem nada. Me surpreende que Jeonghan ainda não tenha percebido...
— Olha, isso é completamente absurdo…
A fala do Hong foi cortada pelo som da campainha. Logo, o dono da casa desceu as escadas novamente em passos rápidos, trazendo um Seungcheol ainda sonolento pela mão consigo.
— Você ainda não tá pronto. E tá tudo bem — foi o que Chan dissera antes de se levantar e andar até a cozinha.
[...]
— Vamos brincar de verdade ou desafio? — Jeonghan perguntou na rodinha, fazendo vários de seus amigos protestarem.
— Verdade ou desafio? Quantos anos a gente tem? 13? — Minghao reclamou.
— A gente joga um “pesadão”, que tal? — sugeriu o Yoon pegando uma garrafa vazia.
— E “pesadão” significa perguntas e desafios sexuais? — Chan falou. — Eu passo.
— Eu também — Jihoon disse.
— Ou vocês dão uma ideia melhor, ou vocês brincam — determinou o mais velho, colocando a garrafa no meio da roda.
— Ugh! Tá. Mas eu não vou rebolar no colo de ninguém — avisou a beta, abrindo uma latinha de cerveja.
— Me dá isso, garoto — Joshua reclamou tirando a bebida da mão alheia. — Você nem tem idade pra beber.
— Ah, dá um tempo — ela riu, pegando a lata novamente e bebendo alguns goles.
— Pelo amor de Deus, vocês bebendo no meio da tarde — Jeonghan brigou, apesar de não estar bravo.
— Você tá bebendo energético, qual a diferença? — Joshua apontou.
— Ok, vamos começar logo — Minghao girou a garrafa. — Não pode mentir, falou?
— Ok — concordaram.
A garrafa girou e girou, parando devagar até apontar na direção de Seokmin, com o outro lado virado para Seungcheol.
— Seok, verdade ou desafio? — o ômega perguntou.
— Vamos começar com verdade — o beta respondeu.
— Hum — o mais velho pensou por alguns segundos. — É verdade que você colocou fogo nas suas calças numa festa do Seungkwan?
— Ih, eu sei essa! — o Boo exclamou risonho.
— Prometam que essa informação não vai sair daqui! — Seokmin pediu. — É verdade.
Os meninos começaram a exclamar, gritando alto e rindo da revelação inusitada, enquanto Seungkwan e Soonyoung conversavam sobre o ocorrido que presenciaram.
— Tá, tá, tá, gente! Calma! — o beta pediu. — Eu posso me explicar, pelo menos?
— Não! — Soonyoung exclamou, girando a garrafa novamente.
— Eu tava apoiando no fogão e algum engraçadinho ligou…!
— Tá bem, Seok, já passou — Seungkwan falou. A garrafa apontou para Jeonghan e em si. — Verdade ou desafio, hyung?
— Pode ser desafio — disse o alfa, relaxado.
— Tá. Eu te desafio a tomar um shot — decretou enchendo o copinho.
— Fácil…
— Mas — continuou, sorrindo maléfico. — Tem que ser da boca de alguém. Como eu sou muito legal, vou deixar você escolher de quem.
—Seungcheol, então. É uma boca que eu já conheço — falou pegando o shot e entregando pro namorado.
— Que nojo — Jihoon comentou, observando com uma careta os amigos cumprirem o desafio.
— Ah, qual é? Foi até levinho — Seungkwan respondeu.
— Continua sendo nojento — negou o ômega.
— Quando cair no Jih, alguém desafia ele a fazer o mesmo — Jeonghan pediu, desviando de um copinho descartável vazio que foi jogado em si pelo baixinho.
O Yoon girou a garrafa novamente. Parou em Wonwoo e Minghao.
— Verdade ou desafio, hyung? — o chinês perguntou.
— Verdade — pediu Wonwoo.
— Hum… Quando foi a última vez que você chorou e por quê?
O alfa ergueu os olhos, buscando pela memória.
— Acho que faz uns seis meses, eu chorei um pouquinho quando tava conversando com Mingyu sobre umas coisas — ele contou, sentindo o namorado brincando com sua orelha.
— Que clima tenso que ficou agora — Seokmin reclamou, girando a garrafa.
— Eu não sei brincar, foi mal — Minghao riu, tomando mais alguns goles de cerveja.
— Vai pensando numas mais legais pra quando for sua vez — mandou Jeonghan.
A garrafa girou e apontou para Minghao e Jeonghan.
— Verdade ou desafio? — o mais velho perguntou.
— Desafio.
— Tá bem. Liga pro seu namorado e fala que engravidou uma menina.
O Xu arregalou os olhos com a fala, seguido de exclamações de seus amigos.
— Se ele terminar comigo eu juro que mato todos vocês — brigou o chinês, sacando o celular e digitando o número.
— Em coreano — mandou o Yoon.
— Ele não fala coreano — Minghao sussurrou, colocando no viva-voz e logo sendo atendido pelo namorado.
— Tá tudo bem, eu cuido pra ver se ele vai falar a verdade — Soonyoung falou, aproximando-se junto de Chan para ouvirem a conversa.
Alguns franziram as sobrancelhas mas ficaram em silêncio para ouvirem, mesmo que não entendessem o diálogo.
— Porra, Minghao, como isso acontenceu? — Jun perguntou do outro lado da linha.
— Você sabe como aconteceu — o beta respondeu. — Eu só não sei o que fazer agora.
— Ela quer ficar com o bebê?
Minghao olhou um pouco perdido para os amigos. Soonyoung e Chan concordaram mudos, mostrando os polegares para cima.
— Sim, sim, ela quer.
— Então você vai ajudar a cuidar, começa a procurar um emprego.
— Tá, mas e a gente?
— Olha, você eu não sei, eu vou comemorar porque eu não sou pai de ninguém — ele respondeu.
Soonyoung e Chan cobriram as bocas, tentando prender um riso. O alfa virou para os amigos, explicando baixo o diálogo para eles.
— Como assim, Jun?
— Eu não engravidei ninguém — ele riu. — Parece que você está com problemas — cantarolou.
Os garotos começaram a rir da cara do amigo, batendo palmas de forma escandalosa.
— Jun, era tudo uma brincadeira, mas vou repensar seriamente sobre nosso relacionamento.
O beta riu do outro lado da linha.
— Eu já desconfiava. Eu te amo, tá? — ele disse, pouco antes de Minghao desligar.
— Eu adorei seu namorado — Chan falou entre risos.
— Eu também — Soonyoung concordou. — Chamar ele pra nos visitar um dia.
Minghao revirou os olhos, girando a garrafa.
— E desde quando vocês sabem chinês? — Jihoon perguntou, apontando na direção do namorado e de Chan.
— Eu estudo chinês há três anos — a beta contou.
— Meus pais fizeram eu estudar desde criança — o Kwon contou.
— Soonyoung tá só sendo modesto — Joshua falou. — Ele fala quatro idiomas.
— Caralho, quatro idiomas!? — Jihoon exclamou.
— É, eu falo coreano, chinês, japonês e inglês — ele contou. — Mas isso não é grande coisa, meus pais falam seis. E Shua hyung fala três.
— Quais!? — Jeonghan perguntou, virando para o Hong.
— Coreano, inglês e espanhol — o beta disse.
— Ai, chega, alguém gira isso, já fui bastante humilhado por uma tarde só — Seungkwan reclamou, fazendo os garotos rirem.
Algumas rodadas depois, vários desafios cumpridos e diversas verdades reveladas, os convidados estavam quase indo embora, apesar do jogo ainda estar acontecendo. A garrafa, no momento, apontava para Joshua e Minghao.
— Verdade — o americano pediu, fazendo seus amigos reclamarem.
— Aff, qual é, hyung? Já passou umas sete rodadas e você só pediu verdade — Seokmin acusou. — Faz só um desafio, por favor.
— Tá, tanto faz — ele deu de ombros, olhando para o Xu.
— Hum… Eu vou começar com uma pergunta — disse o chinês. — Você não pode mentir. Tem alguém nessa roda que você tenha vontade de beijar?
Alguns presentes na rodinha soltaram exclamações animadas, curiosos. Soonyoung, por sua vez, encarou o primo de maneira preocupada.
Joshua engoliu em seco antes de concordar com a cabeça.
— Então, eu te desafio a beijar essa pessoa — Minghao sorriu. — E pode ser quem for, se a pessoa namorar, ninguém vai ficar bravo.
— Vai logo! — alguns pediam.
Jisoo respirou fundo, cerrando os punhos de maneira nervosa, pensando no que deveria fazer.
— Anda, hyung, é só um jogo — Seungkwan falou.
— Tá bem, tá bem! — o beta exclamou.
Ele respirou fundo e se virou, aproximando-se rapidamente de Chan, que estava ao seu lado, e segurando seu rosto. Encarou o fundo de seus olhos antes de fechá-los ao colar seus lábios aos da mais nova.
Os garotos gritavam entusiasmados, batiam palmas e outros até mesmo tentavam pegar os celulares para fotografar, mas o beijo não durou mais que alguns segundos e logo Joshua estava sentado em seu lugar novamente, com as orelhas vermelhas e o rosto pegando fogo.
— Acho que esse foi um ótimo jeito de encerrar o jogo — Seungkwan falou, levantando-se em seguida. — Eu vou indo, meninos. Quero voltar pra casa antes das oito. Vamos, Hansolie?
O alfa concordou, segurando a mão do namorado antes de seguirem até a porta.
Logo, os demais foram se deslocando e tomando seus rumos. Apenas Jihoon, Soonyoung, Joshua, Chan e Seungcheol ficaram, além de Jeonghan, que era o dono da casa.
— Isso foi divertido — o Yoon falava enquanto recolhia algumas latinhas vazias. — Quando você voltar, a gente faz outra — disse para Soonyoung.
— Com certeza.
Enquanto os dois casais estavam na cozinha, Joshua e Chan permaneceram parados nos mesmos lugares.
— Eles estão todos lá? — a mais nova perguntou.
— Estão — o beta concordou após checar, então, sentiu um soco ser acertado em seu braço. — Ai! Pra que isso?
— Por ter mentido — ela afirmou, brava. — E por ter me envolvido na sua mentira.
— O que você queria que eu fizesse? — reclamou, esfregando o local atingido. — Pelo menos, você sabia que era mentira. Eu não podia beijar… você sabe quem.
— Ugh — ela bufou, levantando-se. — Se você não fosse tão bonito, eu juro que socaria sua cara. Mas, por outro lado, eu tenho um pouco de pena, então eu vou deixar passar. Não faça isso de novo.
— Por que? Me beijar foi tão ruim assim? — levantou também.
— Eu ainda tô tentando te ajudar com sua mentira, então você pode usar a desculpa que eu estava no feminino, por isso sentiu vontade de me beijar — a beta disse.
— Isso nem faz sentido.
— Faz pra quem entende, apesar de realmente ser uma desculpa bem esfarrapada — Chan disse, pegando sua bolsa e jogando-a por cima do ombro. — Eu vou indo, ainda tenho que pegar o ônibus — andou até a porta da cozinha.
— Não quer carona? Daqui a pouco meus pais estão aí…
— Sem ofensa, mas eu prefiro não conhecer seus pais — disse baixo. — Eles fizeram você se odiar tanto, que nem quero pensar o que dois minutos com eles fariam com a minha autoestima.
Joshua mordeu a língua, sem saber como responder.
— Tchau, meninos — a beta falou alto, acenando para os garotos na cozinha. — Tchau — acenou para Joshua e saiu.
O beta suspirou, negando com a cabeça.
[...]
— Nem acredito que você vai pra Turquia daqui algumas horas — Jihoon comentou baixinho.
Soonyoung suspirou, apertando sua mão.
— Pois é.
Marcava exatamente 02h42 no relógio quando o ômega checou no celular. Às 3h, iriam para o aeroporto, e às 6h30, Soonyoung embarcaria em seu voo e voltaria somente em janeiro.
Os garotos esperavam o momento em que os pais do baixinho iriam acordar para levá-lo ao aeroporto, Soonyoung queria ficar a madrugada acordado para que conseguisse dormir durante a viagem — que levaria cerca de 11 horas —, então estavam acordados, encarando o teto do quarto de Jihoon, que refletia diversas luzes que imitavam estrelas e galáxias, graças a um projetor que o menor havia ganhado de aniversário.
— Vou sentir saudade — o ômega falou, virando de lado na cama para olhar o namorado. — Apesar de eu estar feliz com sua viagem, e que você vai rever seus pais.
— Eu sei — ele respondeu, imitando o ato do baixinho. — Vou sentir saudade também. Mas eu vou mandar mensagem sempre que conseguir.
— Eu vou responder assim que conseguir — riu baixo. — Só não esquece do fuso horário.
— Não vou — afirmou, sorrindo ao ver o sorriso do outro. — Quantas horas é de fuso?
— Daqui até Ancara, são seis horas.
— Então por que o voo vai demorar quase doze?
— Eu vou fingir que você não perguntou isso, pelo bem do nosso namoro — Jihoon riu, voltando a encarar o teto.
— Aish, é brincadeira. Eu não sou tão tonto assim — aproximou-se, abraçando o mais novo e deitando a cabeça em seu ombro. — É só pra te fazer rir.
— Você é a pessoa que mais me faz rir — contou. — Acho que foi assim que você me conquistou.
— Aquela coisa, né? Pessoa engraçada é assim, você vai rindo, rindo e quando vê tá pelado.
Jihoon gargalhou baixo, batendo de levinho na cabeça do alfa.
— Só que eu não fiquei pelado — rebateu, cruzando os braços.
— Por muito pouco. Quando eu voltar, com certeza vou conseguir ver e tocar todo seu corpo — brincou, fazendo cócegas em Jihoon, que ria o empurrando.
— Você é muito convencido, garoto.
— Eu sei, e você adora — riu, apertando-o entre os braços enquanto beijava seu rosto.
Jihoon fechou os olhos quando os lábios do alfa alcançaram os seus, retribuindo com prazer o beijo lento e, após se separarem, sorriu bobo quando Soonyoung roçou seus narizes.
— Aliás, obrigado por ser tão compreensivo comigo — o baixinho disse. Soonyoung abriu os olhos para lhe encarar. — Eu entendo que é diferente pra você, mas… sei lá, algumas pessoas poderiam se cansar e já teriam desistido.
— Qual é, Jih. Eu esperei um ano só juntando coragem pra falar com você, esperar alguns meses não é nada — ele respondeu, acariciando de maneira gentil o rosto bonito. — E, mesmo que não tivesse toda uma questão da sua sexualidade, ainda seria totalmente compreensível você não estar pronto pra coisas assim de primeira. Às vezes, eu também penso que não tô pronto.
— E como você sabe que tá pronto? — olhou-o curioso.
— Olha, tentando colocar de uma maneira sutil, a maneira como meu corpo reage à você.
— É, eu já senti algumas vezes essa “reação” roçando na minha perna quando a gente se beijava — falou, rindo da careta que Soonyoung fez ao virar de costas para si, envergonhado.
— É mais forte que eu — argumentou.
— Eu sei, eu sei — Jihoon riu baixinho, aproximando-se do maior e o abraçando por trás. — Mas, sinceramente — começou, um pouco incerto. — Acho que minha sexualidade, não é mais exatamente um fator pra… digamos, irmos devagar.
— Como assim? — o alfa perguntou, virando de frente para o namorado outra vez.
Jihoon suspirou, desviando os olhos de maneira envergonhada. Se não fosse pela meia luz colorida do ambiente, Soonyoung, com certeza, veria seu rosto avermelhado.
— É que… eu já me sinto atraído por você, então eu ser demi não tem a ver com eu ainda não querer sexo, acho que é só porque eu sou medroso mesmo — riu sem graça.
— Bem, sendo medroso, ou não — Soonyoung falou, tocando seu rosto —, eu vou esperar até você criar coragem. Se você não estiver pronto, eu vou esperar até você estar. Se você nunca quiser, eu me contento com minha mão e tá tudo certo.
O ômega riu, batendo em seu ombro.
— Como você é besta — cruzou os braços, encarando o teto enquanto o mais velho ria baixo.
— É tudo pra te fazer rir, sabia? — chegou mais perto. — Eu já percebi que você é tímido, e quando você ri, você fica mais desinibido.
— Que? Não fico, não — negou.
— Fica, sim — afirmou, enquanto apoiava o cotovelo no colchão, observando atentamente o menor. — Você também fica corado muito fácil, e bate nas pessoas quando elas te deixam com vergonha ou te fazem rir muito. Você tá quase sempre revirando os olhos, por qualquer coisinha. Também joga coisas nas pessoas quando tá com vergonha. Você também tem mania de sair da conversa com as pessoas quando elas estão digitando, não entendi porquê você faz isso. Quando você lê, quando fica muito concentrado, começa a murmurar o que tá lendo sem perceber. Você também é muito expressivo quando lê, só que eu nunca sei quando você tá imitando a reação de algum personagem ou se é sua reação com a história.
— É uma mistura dos dois — respondeu, rindo baixinho. — Não fazia ideia que você reparava tanto em mim.
— São as pequenas coisinhas que estar apaixonado faz — deu de ombros. — E eu tenho te observado há quase um ano, então aprendi algumas coisas.
— Hum — soltou enquanto brincava com algum detalhe da roupa do maior. — Eu também aprendi umas coisinhas sobre você.
— Ah, é? Tipo o que?
— Tipo… que você fica muito feliz quando alguém te elogia, e apesar de você ser bastante convencido às vezes, você fica muito tímido com elogios — riu anasalado quando o alfa revirou os olhos. — Você também fica fora de órbita às vezes, aí você fica encarando o nada e fazendo bico ou de boca aberta — tocou os lábios dele. — Quando você fica surpreso com alguma coisa, você toca seu cabelo, tipo assim: — sentou na cama para demonstrar, abrindo a boca numa expressão de surpresa enquanto suas mãos foram para sua cabeça, tocando perto das orelhas.
Soonyoung riu baixo:
— Eu não faço isso.
— Faz, sim — voltou a se deitar, ficando bem próximo do alfa. — Quando você ri muito forte, você flexiona os joelhos, quase caindo no chão. E quando você tá muito, muito empolgado com alguma coisa, você bate seus pés no chão rapidinho, é a coisa mais fofa do mundo — riu, apertando as bochechas proeminentes do namorado.
— Você aprendeu tudo isso em poucos meses? Acho que você é mais apaixonado que eu — provocou, abraçando o baixinho.
— Eu sou mais observador — argumentou, fechando os olhos quando Soonyoung começou a depositar beijinhos por seu pescoço. — Mas, de fato, eu me apaixonei mais rápido.
— Por que eu sou irresistível? — brincou.
Jihoon revirou os olhos, circulando o tronco do alfa com os braços enquanto ria baixo.
— Porque você é extraordinário, Kwon Soonyoung — sussurrou.
[...]
— Você pegou tudo? — Daeun perguntou mais uma vez antes de fechar a porta de casa.
— Peguei, sim — Soonyoung sorriu, seguindo ao lado deles até o carro.
— Tem certeza que comeu bem no café da manhã? — o ômega mais velho perguntou. — Não vai ficar com fome.
— Não vou — Soonyoung afirmou, rindo anasalado.
Assim que pôs a bagagem no porta-malas, os quatro entraram no carro e seguiram viagem até Incheon, onde Soonyoung pegaria o voo.
— Você tá nervoso? — Jihoon perguntou, assim que entraram na rodovia.
— Não, eu já andei de avião antes — contou o maior.
— Tá ansioso pra ver seus pais? — deitou a cabeça no ombro dele.
— Muito — sorriu, segurando a mão do baixinho e cruzando seus dedos. — Vai ser incrível, provavelmente eu vou chorar muito.
Jihoon riu anasalado, chegando mais perto.
— Desde que sejam lágrimas felizes.
— Vão ser.
Soonyoung abraçou o namorado pela cintura, trazendo-o para mais próximo de si. O sol ainda não havia nascido, não tinha muitos automóveis na estrada naquele horário, então a viagem foi bem tranquila.
Assim que chegaram, os pais de Jihoon ajudaram Soonyoung a fazer o check in, mesmo que o alfa soubesse tudo que deveria fazer, não reclamou. Despacharam a bagagem e ficaram esperando até anunciarem o voo.
Conforme as horas passavam, Jihoon sentia o coração batendo mais rápido, uma vontade de chorar crescia dentro de si, mas tentava conter, não queria preocupar Soonyoung quando ele estava tão feliz, tagarelando sem parar.
— Acha que seus tios vão sentir sua falta? — o baixinho perguntou, quando não ouviu mais a voz do namorado.
— Acho que vão. Eles se despediram de mim ontem, me abraçaram, falaram pra eu me cuidar, perguntaram se eu não precisava de nada pra viagem. Eles são meio homofóbicos, mas eles são legais quando querem — contou, rindo nasalmente sem muito humor. — Shua hyung chorou ontem também, disse que ia sentir saudade e que iria me bater se eu não aproveitasse.
Eles riram baixo.
— É a cara dele falar isso — o ômega murmurou.
— Sim — Soonyoung concordou. — Eu espero que ele fique bem sem mim nesse mês — falou baixo. — Eu sei que ele é mais velho e tals, mas sempre que tem alguma briga, sou eu quem enfrento meus tios e defendo ele… espero que eles não briguem.
— Vai ficar tudo bem — Jihoon afirmou, apertando a mão do maior entre as suas. — Eu posso cuidar dele, Jeonghan hyung também.
— Promete? — o alfa o olhou.
— Prometo — sorriu, aproximando-se dele para lhe dar um selinho.
Soonyoung sorriu, tocando suas testas ainda de olhos fechados.
— Soon, olha: — Jihoon falou de repente. — O sol tá nascendo.
O alfa afastou-se e olhou na direção que o namorado olhava. As paredes de vidro atrás deles, mostravam o sol aparecendo aos poucos atrás da cidade.
Soonyoung admirou por um momento os raios solares iluminando devagar tudo que tocavam, logo, voltou seu olhar para Jihoon, que continuava admirando o nascer do sol com as pupilas dilatadas. Suspirou afetado, tocando os cabelos escuros com a ponta dos dedos de maneira delicada.
— Jihoon — chamou, fazendo os olhos focarem-se em si. — Eu…
Primeira chamada para o voo 773, com destino a Istambul. Passageiros, se dirigir ao portão de embarque número 14.
A voz eletrônica anunciou pelo aeroporto.
— Vamos? — o ômega perguntou, não conseguindo conter algumas lágrimas que nasceram em seus olhos.
Soonyoung acenou com a cabeça.
Assim que chegou perto do portão de embarque, virou para os mais velhos.
— Obrigado pela gentileza — sorriu, sentindo-se um pouco sem jeito.
— Não foi nada, querido — Daeun retribuiu o ato, aproximando-se do garoto e o abraçando apertado, pegando o mais novo de surpresa.
O Kwon fechou os olhos e abraçou a alfa apertado, sentindo vontade de chorar sem saber porquê.
— Se cuide, sim? — ela disse, tocando seu rosto após se afastar.
— Faça uma boa viagem — Taesuk desejou, batendo de levinho em seu ombro.
Soonyoung sorriu e concordou. Então, se virou para se despedir de Jihoon, que chorava baixinho perto deles.
— Me desculpa, eu não queria chorar — ele disse, tentando secar seu rosto. — Eu vou sentir saudades.
— Eu também vou, amor — o alfa respondeu, tocando as bochechas do namorado, tentando secar as lágrimas com seus polegares. — Vou sentir muita saudade — sussurrou, beijando os lábios macios algumas vezes, sentindo o gosto salgado das lágrimas neles. — Jih?
— O que foi?
— Eu te amo — falou sério, olhando fundo em seus olhos.
Os olhos do baixinho se arregalaram, ele ficou sem reação, a boca abrindo e fechando várias vezes sem emitir som algum.
— O-O que!? — ele disparou, apertando com força os dedos longos que repousavam em seu rosto.
— Eu amo você — repetiu, mesmo que soubesse que ele havia ouvido, só não tinha processado. — E tá tudo bem, você não precisa dizer de volta se não sente isso…
Última chamada para o voo 773, com destino a Istambul. Passageiros, se dirigir ao portão de embarque número 14.
— E você vai ter o tempo que precisa pra pensar sobre isso já que, bem, eu tenho que ir agora — falou, sentindo-se mais nervoso conforme o fazia. — M-Mas não foi por isso que eu disse, eu realmente amo você.
— Soonyoung…!
Última chamada para o voo 773, com destino a Istambul. Passageiros, se dirigir ao portão de embarque número 14.
— Eu preciso ir — ele disse, beijando Jihoon uma última vez.
— Você é um babaca! — o ômega gritou, conforme ele se afastava andando de costas até o portão de embarque.
— Eu te amo! — ele gritou de volta, acenando antes de sumir de vista.
Chapter 25: Chá de Alecrim
Chapter Text
Mensagem de: Soon<3
Amoor
Ancara é muito bonito
[Mídia]
[Mídia]
[Mídia]
Meus pais alugaram um apartamento aqui pra gente ficar esse mês
É pequeno mas é bonito
E como eu quero ficar próximo dos meus pais é bom ser pequeno né haha
[Mídia]
[Mídia]
A gente vai sair pra comer agr
Dps eu te mando as fotos
<33
— Babaca — Jihoon resmungou após ver as mensagens do alfa, soltando o aparelho no balcão.
— Ok, por que você odeia seu namorado? — Jeonghan perguntou, aproximando-se curioso.
— Eu não odeio ele, só tô um pouco irritado com ele — disse o baixinho, folheando com certa força as páginas do livro.
— Ok, ok — o mais velho falou, tirando o livro das mãos do menor. — O que ele fez?
— Ele disse que me ama.
— Porra, sério? — arregalou os olhos.
— Sim, sério.
— Tá... mas por que isso te deixou irritado? — sentou de frente para o menor.
— Porque ele disse no pior momento possível! Ele disse e foi embora, tá certo isso? — reclamou, gesticulando com as mãos. — Ele disse que eu ia ter o tempo pra pensar sobre isso já que ele tava indo embora mas, porra, vai se foder.
— Como assim? — o alfa juntou as sobrancelhas.
Jihoon bufou, respirando fundo para tentar se acalmar e responder propriamente.
— Eu não sei se você notou, mas sempre que alguma coisa acontece, eu me isolo pra pensar sobre isso — explicou calmo. — Tipo quando ele me beijou pela primeira vez e eu fugi, me tranquei no quarto e passei dois dias pensando sobre isso. Ou quando eu descobri que ele é minha alma gêmea e eu precisei me afastar umas horas só pra digerir a informação.
— Agora que você falou, realmente, é verdade — deu de ombros. — Mas então, você deveria tá pensando nisso ao invés de só ficar com raiva.
— Eu não posso pensar no momento, eu tô puto — resmungou, puxando o livro novamente.
Jeonghan riu baixo, rolando os olhos.
— Quando essa raiva passar, você vai ter que começar a se questionar se você ama o Soonyoung ou não.
— Ah, ele que vá se ferrar. Ultimamente, eu tenho pensado em várias coisas só por causa dele — cruzou os braços. — Eu gosto do Soonyoung? Eu quero que ele me beije? Eu gostei dele ter me beijado? Eu quero que ele me toque? Eu quero fazer sexo com ele? Eu amo ele? — citou. — Tomar no meu cu, eu não quero pensar em nada disso agora.
Jeonghan cobriu a boca ao não conseguir prender um riso. Se fosse possível, teria morrido com o olhar afiado que Jihoon lhe lançou.
— Eu vou matar você — ameaçou o ômega.
— Ai, foi mal. É que eu acho engraçado como você consegue complicar algo tão simples quanto um namoro — disse o mais velho.
— Não é só um namoro, ok? É meu primeiro namoro, Soonyoung é meu primeiro tudo e isso é algo que me faz pensar — explicou. — Ele só não é meu primeiro beijo, Yoona chegou antes dele nessa parte.
— É, eu sei — o mais velho falou. — Eu entendo que você precisa pensar sobre essas coisas, mas… sei lá, acho que você pensa demais.
— Isso nem faz sentido.
— Eu sei. Mas é isso, você pensa demais e vive de menos.
— Não fode, vai — resmungou.
Jeonghan riu baixo. A campainha tocou e ele correu para atender.
— Shua! — o alfa exclamou, abraçando-o apertado. — O que você tá fazendo aqui?
— Eu vim te ver — respondeu, entrando na casa como se fosse sua própria. — Meus pais estão trabalhando e o Soonyoung viajou, e eu não queria ficar sozinho.
— Folgado — resmungou, guiando-o até a cozinha.
— Você faria a mesma coisa.
— Ele faz a mesma coisa — Jihoon acusou. — Quando ele tá sozinho e Seungcheol hyung não tá em casa, ele aparece lá na minha casa sem avisar e fica lá. Aliás, oi, hyung.
— Oi, Jih — o beta sorriu. — Viu? Você só não aparece lá em casa porque não sabe onde eu moro.
— E a culpa é de quem? — o alfa cruzou os braços.
— Dos meus pais — afirmou, sentando ao lado do amigo. — Você não quer conhecer eles, eu estou te fazendo um favor.
— Quanto drama, eles não podem ser tão ruins assim! — rebateu.
— Jih, eu tô mentindo?
O ômega piscou, intercalando o olhar entre os mais velhos, que lhe encaravam esperando uma resposta.
— Olha — limpou a garganta. — Eu só vi eles uma vez, e não foi uma impressão muito boa. Mas você deveria acreditar mais no Jisoo hyung do que em mim, até porque são os pais dele.
— Viu? Acredita em mim, bobão — brigou o beta, beliscando a cintura do mais velho.
— Ai! Não me belisca — reclamou, segurando as mãos do amigo.
Jihoon notou que as mãos deles continuaram juntas sob o balcão, mas não falou nada.
— Sobre o que vocês estavam falando antes de eu chegar? — Joshua perguntou.
— Jih tava me contando que o Soonyoung falou que ama ele — o alfa contou.
— Porra, sério? — o Hong arregalou os olhos. — Que guri mais besta, eu falei pra ele que se ele não se segurasse, ele ia acabar te assustando.
— É, Soo, mas você falou isso sobre o pedido de namoro e quem acabou pedindo foi o Jih — argumentou o mais velho.
— Bem, isso é verdade — murmurou o americano. — Mas, ele falou que te ama mesmo?
— Falou, com todas as letras. E depois se meteu num avião e foi embora — bufou. — Espero que um mês seja o suficiente pra eu me acalmar, senão eu vou socar a cara dele assim que eu ver ele de novo.
Os mais velhos se entreolharam, erguendo as sobrancelhas e escondendo um riso.
— Daqui uma semana você já vai tá chorando de saudade — Jeonghan sentenciou.
— É melhor ele torcer pra que isso seja verdade — resmungou o baixinho, fechando os olhos e respirando fundo quando seu celular apitou novas mensagens.
— Ele é doido por você, Jih, não seja tão duro com ele — pediu o alfa, tentando pegar o celular do baixinho, que bateu em sua mão para impedir.
— Dá licença, seu intrometido — guardou o aparelho no bolso. — Tem que parar de ficar invadindo a privacidade alheia.
— Você é chato, viu? Eu só ia ver, não ia responder nada — Jeonghan cruzou os braços. — Jisoo deixa eu olhar o celular dele.
— Então, olha o celular dele, vai — Jihoon resmungou.
— Pode olhar meu celular, Hannie — o beta falou, entregando o aparelho para o mais velho, como se ele fosse uma criança fazendo birra quando tem algo negado.
— Não quero — manhou, virando o rosto.
Jisoo riu baixo, acariciando os cabelos rosados.
— Você é muito mimado, sabia? Acho que tô te estragando, vou ter que começar a ser mais rígido com você.
— Não, Soo! — choramingou Jeonghan, agarrando um braço do beta e esfregando seu rosto no ombro dele. — Todo mundo é mau comigo, você precisa me mimar.
— Não seja dramático, ninguém é mau contigo.
— Mesmo assim, eu preciso do seu carinho e da sua atenção — fez bico, puxando-o para mais perto.
— E só você pode ter meu carinho e atenção?
— Sim! Só eu — falou manhoso, esfregando sua bochecha na de Jisoo, sentindo uma quentura incomum ali, mas ignorou.
— Uau — Jihoon soltou, um pouco embasbacado, observando os mais velhos.
— O que foi? — Jeonghan perguntou confuso, afrouxando o aperto ao redor de Joshua.
— Hum… nada — respondeu o ômega. — Eu vou indo. Daqui a pouco meus pais estão em casa e eu preciso arrumar a sala — levantou-se. — Tchau, hyungs.
— Tchau, Jih — falaram ao mesmo tempo, rindo em seguida.
— Acha que eles vão ficar bem? — Jeonghan perguntou, assim que a porta da frente foi fechada.
— Acho que sim — o beta encolheu os ombros. — Não vejo muito sentido eles brigarem porque Soonyoung disse que ama ele, mas eles vão ficar bem, eles não aguentam muito tempo longe um do outro.
— Hum, parece alguém que eu conheço, essa pessoa não consegue ficar longe de mim por muito tempo.
— Quem é? — perguntou inocente.
— Hong Jisoo, conhece? Ele é quase obcecado por mim — brincou, rindo alto quando foi empurrado sem força para longe do amigo.
— Muito engraçado — ironizou, revirando os olhos. — Escuta, Yoon Jeonghan, não duvide da minha capacidade de apagar seu número e fingir que eu nunca te conheci.
— Você não tem essa capacidade — apontou, seguindo o mais novo até a sala.
— E como você sabe? — virou para ele, cruzando os braços.
— Porque eu não tenho essa capacidade! Eu tenho vontade de chorar só de pensar em ficar longe de você por muito tempo, e eu sei que você se sente igual — sorriu convencido.
— Ugh! Ter um soulmate é horrível, eu não consigo nem fazer drama porque parece que ele consegue ler minha mente — brincou, jogando-se no sofá.
Ouviu a risada de Jeonghan e não conseguiu conter um sorriso.
O alfa aproximou-se, deitando ao lado dele enquanto sua mão, quase instintivamente, buscou a de Jisoo.
— Você sabe que ama — falou baixo, pertinho do ouvido do mais novo, vendo a pele clara se arrepiar.
Joshua olhou-o, virando de lado para poder ver seu rosto claramente. O brilho dourado correu pelas íris assim que elas se encontraram.
Aquela sensação… aquela sensação de pertencimento, de estar encontrado, fazia crescer dentro do beta um desejo de permanecer ali para sempre e, diferente de certos sentimentos, ele não conseguia ter certeza que Jeonghan sentia o mesmo. E ele sabia que seria egoísmo pedir para que o amigo sentisse o mesmo.
— É verdade — ele respondeu, por fim. — Eu amo você.
Jeonghan sorriu, apertando a mão do Hong entre seus dedos.
— Eu também me amo — riu arteiro.
— Jeonghan! — choramingou.
— É brincadeira — riu, abraçando o amigo. — Eu também amo você, ok?
— Acho bom — sorriu pequeno, acariciando os cabelos rosados.
Um silêncio confortável se instalou no ambiente, como era normal de acontecer algumas vezes quando estavam juntas, como se não precisassem de palavras para se entender.
— Você vai ficar bem sem o Soonyoung? — Jeonghan perguntou, de repente.
— Vou. Finalmente vou poder chorar em posição fetal na minha cama hahaha — deu um riso claramente forçado.
— Não tem graça — o mais velho reclamou, soltando o abraço e se sentando para encará-lo.
— Ah, qual é? É brincadeira — resmungou, sentando-se também. — Vai ser tranquilo, meus pais quase sempre trabalham até tarde, eu posso ficar no quarto de boa e a gente nem precisa tocar em assuntos mais delicados.
— Por que você não enfrenta eles?
— Não tem necessidade — negou. — E não vai mudar nada, eu sei disso. E sem o Soonyoung falando do Jihoon toda hora, a gente vai poder só fingir que isso não existe.
— “Isso” sendo… pessoas lgbt?
— É, tanto faz — deu de ombros. — Pode ser meio horrível o que eu vou falar, mas talvez eu até goste disso, porque eu não vejo necessidade de brigar e bater na mesma tecla igual o Soonyoung faz, entende? Não vai mudar como eles pensam e também não vai mudar o que o Soon sente, então eu acho mais fácil só aceitar as pessoas como elas são. A gente não pode exigir das pessoas o que elas não podem oferecer.
— Me desculpa, Soo, mas dessa vez eu não entendo — o mais velho disse. — Não é como se o Soonyoung estivesse exigindo algo extraordinário, ele só tá pedindo pra ter a sexualidade respeitada na casa onde ele mora. Ele tá exigindo respeito e as pessoas não deveriam exigir isso.
— Tá, então você acha que eu deveria comprar essa briga só pelo Soonyoung? Eu amo meus pais, ok? Mesmo que Seunghoon não seja meu pai biológico, eu não quero viver em um ambiente onde tem brigas o tempo todo, é só isso.
Jeonghan revirou os olhos e levantou, andando sem rumo pela sala.
— Jisoo, quando alguém se diz neutro em situações de injustiça é porque a pessoa já escolheu o lado opressor — respondeu sério. — Não dá pra passar pano pras coisas que seus pais dizem pro Soonyoung.
— Eu não tô passando pano, eu só acho que é melhor ignorar certas coisas pra um bem maior.
— Então você realmente não entende — Jeonghan riu sem humor.
— O que eu não entendo? — levantou também, cruzando os braços.
— Tá tudo bem, eu não espero que você entenda como é ter que fingir ser algo que você não é só porque o mundo decidiu que você não deveria ser — rebateu.
Joshua o encarou por algum tempo, deixando um riso triste escapar de seus lábios enquanto lágrimas intrusas inundavam seus olhos.
Jeonghan, preocupando-se, tentou se aproximar, mas o beta prontamente se afastou.
— Você realmente não me conhece — disse, por fim, machucado.
— Soo…
— Você tá sempre me falando o que eu devo e não devo fazer, mas você não faz ideia como é ser eu, não tem ideia das coisas que eu ouço naquela casa... — salientou. — Eu te contei coisas que eu nunca contei pra mais ninguém, e mesmo assim, parece que você não faz a menor ideia de quem eu seja.
— Jisoo, espera — o alfa tentou se aproximar, ao passo que o mais novo se virava para sair.
— Não, Jeonghan! Não, ok? Só me deixa — abriu a porta. — Eu te ligo quando estiver mais calmo, mas me deixa agora.
Assim que fechou a porta atrás de si, as lágrimas começaram a correr pelo rosto do beta. Não esperando nem mais um segundo, ele saiu dali em passos rápidos, sem saber para onde estava andando, pois ir para a casa ainda não era uma opção.
Joshua odiava chorar. Ele odiava se sentir fraco, mas sentia-se assim na maior parte do tempo, o que servia para justificar a raiva que crescia em si sem grandes motivos às vezes.
Podia perceber algumas pessoas olhando para si conforme passava por elas com o rosto molhado por lágrimas, embora estivesse de cabeça baixa e com Generation Why estourando em seus fones de ouvido. O choro já era incontrolável, apesar de baixo e discreto. Havia aprendido a chorar assim, sem fazer nenhum barulho.
Vagou pela cidade por um tempo, não se preocupando em como iria voltar, estando tão perdido em seus pensamentos — pensamentos estes um tanto autodestrutivos —, que não prestava atenção em quantas faixas havia atravessado ou quantas esquinas havia virado.
Em dado momento, subiu em uma rua um tanto mais calma, com pouco tráfego e algumas árvores. Era uma rua paralela a outra um tanto mais movimentada, sendo estas separadas por um pequeno morro, havia também uma escadaria que facilitava o acesso a rua de baixo/cima. Mas Joshua não estava prestando atenção na rua, não estava prestando atenção em nada, até sentir algo duro acertando sua nuca de repente.
Virou-se um tanto confuso, vendo Lee Chan rindo de si, enquanto chamava-o com a mão. Tirou um fone e andou até onde o mais novo estava, perto da escadaria, sentado na grama com um cigarro na mão.
— Você tava muito no mundo da lua, né, hyung? Eu praticamente gritei e você nem ouviu — ele disse assim que Jisoo se aproximou.
— E por isso você decidiu jogar uma pedra em mim? — fez careta, sentando ao lado do menor.
— Era uma semente — argumentou. — Você tá bem? — perguntou, assumindo uma feição preocupada ao perceber os olhos e rosto inchados do outro.
— Já estive melhor — deu de ombros.
— Tava ouvindo sua playlist de chorar enquanto caminhava? — ergueu uma sobrancelha enquanto levava o fumo até os lábios.
— O pior é que eu tava — riu baixo, tirando o celular do bolso para pausar a música.
— Posso ver? — aproximou-se um pouquinho.
Joshua deu de ombros, entregando o aparelho desbloqueado para o mais novo, que analisou minuciosamente as músicas escolhidas.
— Você tem bom gosto — declarou, devolvendo o celular. — Você podia adicionar all the kids are depressed, acho que iria gostar.
— Pode colocar, se quiser — estendeu o telefone.
Chan encolheu os ombros, segurou o cigarro entre os lábios e pegou o celular do mais velho, pesquisando a música e aceitando quando ele lhe estendeu um lado do fone de ouvido. A melodia começou a tocar.
— Você quer? — o menor ofereceu o fumo.
— De onde você tirou isso? — ergueu uma sobrancelha.
— Meu pai tem artrite, ele usa pra ajudar com a dor. Ele devia ter uma receita especial do remédio de canábis, mas é uma burocracia do caralho, aí ele ficou com o mais fácil — explicou, soprando a fumaça devagar em direção ao rosto do mais velho.
— Eu nunca fumei — negou, abanando a pequena neblina com a mão.
— Pra tudo tem uma primeira vez — rebateu balançando os ombros, estendendo o baseado. — Eu fico do seu lado caso você tenha uma bad trip.
Joshua riu baixo e balançou a cabeça negativamente, aceitando a ideia, receoso. Segurou o fumo na ponta dos dedos e tragou, tossindo alto ao soltar.
— Credo, isso é horrível — reclamou fazendo careta enquanto o mais novo ria baixo.
— Depois você se acostuma — sorriu antes de tragar também. — Por que tá por esses lados da cidade?
— Sei lá, só… — deu de ombros, pegando o cigarro quando Chan lhe estendeu novamente. Puxou o ar com mais calma, prendendo a fumaça por alguns segundos antes de soltá-la devagar. — Comecei a caminhar sem rumo, acabei parando aqui. E você, mora por perto?
— Não, eu moro há uns dez minutos daqui — explicou. — Eu só costumo vir aqui quando tô chateado ou pensativo.
— E por que você tá chateado ou pensativo?
— As mesmas brigas de sempre em casa — deu de ombros, fazendo uma pausa ao puxar o fumo entre os lábios. — Meus pais discutindo por nada, descontando as frustrações em mim — bufou baixo. — Fora que tem um vizinho insuportável que tá sempre me incomodando. Odeio ele.
— Sinto muito — Joshua falou, tocando delicadamente os cabelos do mais novo.
— Já me acostumei — deu de ombros. — Aí sempre que isso acontece, eu pego minha bike e venho pra cá. Eu gosto de ficar observando o movimento.
— Acho que entendo, é muito pacífico — comentou o maior. — Também tive uma tarde bem merda.
— O que aconteceu?
— Briguei com o Jeonghan — falou baixo.
— Putz, você deve estar mal mesmo — respondeu, entregando o cigarro para o mais velho outra vez. — Por que vocês brigaram?
— Bobagem — tragou, virando o rosto para observar os carros passando lá embaixo. — Daqui a pouco a gente já tá bem de novo, mas eu não queria ter ele por perto no momento. Aliás, eu gostei dessa música — pegou o celular, colocando no repeat.
— É muito boa, eu adoro ela — concordou Chan, cantarolando: — I think too much, we drink too much. Falling in love like it's just nothing. I want to know where do we go when nothing's wrong, cuz all the kids are depressed, nothing ever makes sense… (eu penso demais, nós bebemos demais. Nos apaixonando como se fosse nada. Eu quero saber para onde nós vamos quando nada está errado, porque todas as crianças estão deprimidas, nada nunca faz sentido…)
— Você concorda com isso? — perguntou o mais velho, observando o rosto do outro sendo iluminado por alguns raios de sol.
— Com o que? — olhou-o confuso.
— Que todas as crianças estão deprimidas.
Chan desviou o olhar, pensando enquanto soprava a fumaça branca devagar por entre os lábios.
— Talvez… acho que algumas mais do que outras, mas ninguém tá completamente bem — falou, apagando a bituca de cigarro na sola do tênis e guardando-a no bolso.
— Por que será?
— Na minha visão, é tudo culpa da geração passada — contou Chan. — Eles foderam a economia, a gente vai ter que trabalhar até morrermos, o planeta tá literalmente morrendo e eles odeiam todo mundo que não é como eles.
— E eles dizem que só devemos nos esforçar mais — riu.
— Né!? — imitou o ato. — Que eles se fodam, sinceramente.
— É! Que eles se fodam! — gritou Joshua, gargalhando em seguida.
— O que você tá fazendo? — alarmou-se o mais novo, tentando segurar o próprio riso.
— Tô expressando minha raiva de uma maneira saudável — falou entre risadas. — Vai todo mundo se foder!
Chan cobriu a boca ao rir alto, curvando o corpo para frente.
— Ok, eu acho que você tá chapado — tocou os ombros do maior.
— Oh! Por isso eu tô falando tão estranho… Fuck — falou devagar, rindo em seguida. — Vai todo mundo…!
— Para de gritar — Chan pediu, cobrindo a boca do mais velho. — Meu Deus, eu cometi um erro terrível! Eu não posso te levar pra casa assim, eu não posso deixar seus pais te verem assim… Ai! — afastou-se ao sentir os dentes do outro em sua palma. — Você me mordeu!?
— Eu não tava conseguindo respirar — argumentou, aproximando-se do mais novo e o abraçando. — Perdóname — fez bico, segurando a mão do menor e deixando um beijinho ali.
— Ai, Deus. Vem, hyung, levanta — Chan disse, levantando-se num pulo e puxando o mais velho para que fizesse o mesmo.
— Onde a gente vai? — resmungou ao ficar de pé.
— A gente vai dar uma volta, não vai dar certo você ficar gritando aqui — pegou sua bicicleta. — Sobe aí — apontou para as pedanas.
Jisoo deu de ombros e fez o que foi pedido, apoiou bem os pés nos suportes metálicos e segurou nos ombros do menor.
Logo, Chan começou a pedalar. Joshua fechou os olhos conforme sentia o vento soprando em seu rosto, uma música qualquer ainda soava em seu ouvido esquerdo, deixando-o mais relaxado do que estaria normalmente. Um riso frouxo escapava de seus lábios sem que ele pudesse controlar, não estava tendo uma noção muito precisa de espaço e tempo, sabia que estava se movendo junto da bicicleta, mas não fazia ideia de onde estavam indo.
Seu equilíbrio também estava confuso e, por conta disso, acabou pendendo para o lado, derrubando ambos no chão.
— Ai, caralho! — Chan exclamou fazendo careta. — Hyung? Hyung! Você tá bem?
Aproximou-se de Joshua, tocando o rosto dele, tentando trazer os olhos avermelhados para si.
— Tô bem, só… Só doeu — resmungou, olhando o próprio joelho ralado. — Essa calça já era.
O mais novo abaixou o olhar, vendo que os jeans escuros acabaram rasgando com a queda. Ele riu baixo, dando batidinhas para limpar a poeira do maior.
— Ficou estiloso — afirmou, e Jisoo riu. — Vamos a pé, não arrisco te colocar em cima da bicicleta de novo.
— E pra onde a gente tá indo? — perguntou após se levantar com a ajuda do menor.
Chan segurou a mão de Joshua, apoiando-a no guidão e mantendo a sua própria por cima, garantindo que ele permaneceria no caminho.
— Tem uma lanchonete muito boa aqui perto, até lá a gente vai estar morrendo de fome — explicou, começando a andar devagar. — E espero que sua brisa já tenha passado também, nem sei onde vou te deixar depois. Não tem mais canábis pra você, viu?
O mais velho deu de ombros com um bico nos lábios e desviou o olhar para observar a paisagem.
— Pode me deixar na casa do Jeonghan — respondeu.
— Vocês não tinham brigado?
— Não tô mais irritado, já tô de boa — murmurou, andando devagar, trocando um pouco os pés. — Ele também não disse nada demais… não, ele disse, sim — fungou, voltando a olhar para o menor. — Ele disse que eu não sei como é fingir ser algo que eu não sou.
— Eu não sei se ele é realmente cego, ou se faz — disse Chan. — Por isso você ficou triste? — ele acenou com a cabeça. — Bem, obviamente não ajuda, mas é claro que você sabe como é fingir algo. E tá tudo bem, sair do armário não é uma coisa fácil…
— Chan, você acha que… — aproximou-se, sussurrando: — eu sou gay?
— Só você pode saber, hyung — riu baixo.
— Mas eu não sei. Não gosto de pensar nisso, eu sempre acabo chorando — reclamou, birrento. — Porque as coisas têm que ser complicadas assim, hein?
— Bem, elas não precisam ser — o mais novo deu de ombros. — E você não precisa ser uma coisa ou outra, acho que você tá preocupado demais com o que as pessoas estão pensando.
— Não consigo evitar — murmurou. — As pessoas conseguem ser bem cruéis.
— É, eu sei — respondeu, apertando a mão do mais velho. — Eu juro que entendo, e é por isso que eu me cerquei de pessoas que me aceitam como eu sou, não me julgam e me defendem. E eu faço o mesmo por elas, pois isso faz uma amizade. E, tipo, essa é uma das partes boas de crescer, você pode formar uma nova família. E eu não falo de casar e ter filhos, mas bons amigos, sabe?
— Acho que sei — falou baixo, chutando algumas pedrinhas que havia pelo chão. — Eu não tinha muitos amigos na minha antiga escola, eu sinto saudades deles, mas nós não éramos muito próximos. Mas… sei lá, agora eu tenho vocês. E… — suspirou. — E mesmo que eu não tenha certeza do que eu sou, mesmo que eu odeie pensar nisso, uma parte minha sabe que vocês vão me apoiar, independente do que seja, e isso me deixa mais tranquilo... mas não ameniza o quanto dói.
Num movimento rápido, Chan soltou a bicicleta no chão e chegou mais perto de Joshua, puxando-o com certa força para perto de si, prendendo-o num abraço apertado.
O mais velho demorou alguns segundos para retribuir o gesto, ainda estando um pouco atônito a tudo que estava acontecendo ao seu redor. Tocou as costas do menor e o apertou entre seus braços, fechando os olhos ao esconder seu rosto na curva do pescoço alheio, sentindo lágrimas brotarem em seus olhos, mas não caírem.
— Eu sei que é difícil, hyung — falou baixo. — E sei que as coisas não são como você queria que elas fossem e que, provavelmente, nunca serão, mas elas vão ser um pouco melhores quando você se descobrir e ser verdadeiro com quem você é.
— Obrigado, Channie — murmurou, soltando-se do abraço em seguida. — Você é muito sábio pra um guri.
— Eu fiz 17 esse ano, não sou tão mais novo que você — reclamou, pegando a bicicleta do chão. — E essa sabedoria é só a voz da experiência de quem se assumiu com 15 anos.
— E como foi? — Joshua perguntou, segurando o guidão, tocando a mão de Chan sob este, enquanto voltavam a andar. — Se tudo bem eu perguntar.
— Claro, tudo bem — sorriu gentil. — Quando eu me descobri assexual foi até meio engraçado, eu tava conversando com uns amigos e perguntei: "mas sabe quando a gente sente nojo de sexo?". E todo mundo ficou me olhando como se eu fosse muito esquisito e, na visão deles, eu era. Aí, eu comecei a pensar e pesquisar mais, demorei pra entender que eu não sentia atração sexual, é difícil entender algo que você nunca sentiu, sabe?
— Mas, você já fez sexo, né?
Chan suspirou, revirando discretamente os olhos. Odiava essas perguntas um tanto invasivas sempre que falava sobre sua sexualidade, mas, como era Jisoo ali, ele não se importava tanto. Sabia que o beta não perguntava para ser ofensivo, mas com uma curiosidade genuína, e até mesmo inocente, sobre esse mundo que ele tanto desconhecia.
— Sim, já fiz algumas vezes. Eu não sinto atração sexual, mas isso não significa que eu não goste de sexo, eu acho até legal, sabe? Acho que é mais sobre estar conectado a pessoa, ao momento, do que aquele tal tesão incontrolável que as pessoas falam — explicou suave. — E eu demorei um tempo a mais pra entender que eu sentia atração romântica por todos os gêneros, então me assumi birrômantico. E, pra completar, me descobri gênero fluído, demorei bastante pra entender isso. Meus pais ainda não entendem muito bem, talvez eles nunca entendam, mas… — encolheu os ombros. — Eu tenho amigos que me entendem e protegem, então não dói tanto quanto poderia.
— Faz sentido — Jisoo murmurou, roçando seu polegar nas costas da mão do menor, distraído. — Foi muito corajoso da sua parte. Sabe… se assumir tão cedo e essas coisas.
— Não foi fácil, teve muitas brigas, mas se é minha vida, por que eu não posso ser quem eu sou? — olhou para o mais velho. — Eu penso assim agora, mas acredite, eu tentei mudar, eu juro que tentei mas… não adianta. Isso nunca vai mudar, então falei foda-se e tô sendo eu.
— E eu acho isso muito corajoso — afirmou Joshua, sorrindo de canto e acariciando os cabelos escuros do mais novo. — Você é muito corajoso.
— Valeu, hyung — sorriu, segurando a mão dele e apertando seus dedos. — Mas, agora, a gente precisa descer a rua — subiu na bicicleta. — Vai ser mais rápido, mas segura firme e não nos derruba.
— Vou tentar — riu, subindo nas pedanas e segurando firme nos ombros de Chan.
Jisoo observou a rua comprida, a descida era longa e um pouco íngreme, só o pensamento de descer aquilo sob rodas lhe causou um frio na barriga, mas não teve tempo de dar para trás, pois Chan havia dado o impulso e logo eles estavam descendo rapidamente.
O vento soprava forte em seu rosto, enquanto a risada alta do mais novo preenchia seus ouvidos ao senti-lo apertando seus ombros, o frio na barriga já havia se tornado uma nevada, mas ele descobriu que gostava daquela sensação.
— Vai, hyung, agora você pode gritar!
— Whoo! — e ele o fez, rindo alto em seguida.
E em menos de quinze segundos, eles já estavam no pé do pequeno morro, gargalhando juntos ao passo que saltavam da bicicleta.
— Se divertiu? — Chan perguntou, observando o maior se abaixando com as mãos na barriga.
— Sim, foi divertido — sorriu ao levantar, automaticamente levando sua mão à de Chan, segurando no guidão junto dele outra vez. — Até onde a gente vai andar?
— É logo ali — apontou para o estabelecimento a poucos metros de onde estavam. — Você deve estar com fome.
— Só um pouco — respondeu, chutando algumas pedrinhas no caminho. — E você?
— Eu tô morrendo de fome, não consegui comer antes de sair de casa — explicou, causando mais alguns risos sem fundamento no mais velho.
Entraram no estabelecimento e escolheram uma mesa. Os atendentes do local já conheciam Chan, o que fez Jisoo pensar que ele era um cliente corriqueiro dali, o que o levou a pensar que não conhecia-o muito bem.
Joshua conhecia os amigos de Soonyoung — Seungkwan, Vernon, Junghwa, era até próximo de Seokmin, se dava bem com o beta —, e com o namoro do Kwon, acabou se aproximando dos amigos de Jihoon e dele próprio. Já havia conversado algumas vezes com Wonwoo, Minghao, Mingyu, havia até mesmo descoberto Jeonghan, sua alma gêmea. E, mesmo assim, não era muito próximo do mais novo deles, talvez por Chan ser uma verdadeira borboleta social, estando quase sempre conversando com várias pessoas diferentes, talvez porque Jisoo nunca havia de fato notado o menor, e percebeu que foi estupidez, pois Chan chamava atenção naturalmente por onde passava.
Durante todo o momento que o mais novo pedia seus lanches, Joshua ficou o observando em silêncio, tentando forçar sua mente a voltar a trabalhar normalmente, como se ele não estivesse sob efeito de substâncias ilícitas.
— Hyung, promete que nunca mais vai colocar um cigarro na boca — Chan pediu, de repente, assim que a atendente que anotou os pedidos voltou para a cozinha. — Do jeito que você tá, parece que é um viciado usando depois de ficar em abstinência.
— Ai, credo, garoto — chutou-o de levinho por baixo da mesa. — Que ideia de girico você teve me oferecendo aquilo.
— "Ideia de girico", você envelheceu 50 anos só por lembrar desse meme — riu o outro.
— Meme? Isso é uma expressão — disse Joshua.
— Expressão é só uma palavra rebuscada pra meme — retrucou Chan, ouvindo o maior rir.
— Eu adoro o jeito que sua mente funciona.
O mais novo sorriu de canto, negando com a cabeça.
[...]
— Tem certeza que está bem? — Chan perguntou para Joshua assim que parou a bicicleta na frente da casa de Jeonghan.
— Tenho. Eu não vou demorar, já tá escuro, só vou pedir desculpas e ir pra casa — respondeu, descendo das pedanas. — Obrigado por me trazer até aqui, e… — deu de ombros, fitando o chão de maneira tímida. — Por todo o resto. Nunca vou esquecer.
— Sempre que precisar — piscou para o mais velho, sorrindo de uma forma meio doce, meio sacana.
Joshua sorriu fechado e acenou, mesmo que o menor já estivesse de costas para si, pedalando pela rua pouco movimentada. Virou para a casa de Jeonghan e andou hesitante até a porta.
Respirou fundo e bateu, sendo atendido poucos segundos depois por Seungcheol.
— Jisoo-ah, que… surpresa você por aqui — sorriu, segurando a mão do beta e o puxando para entrar. — Hannie comentou que você e…
— Na verdade, eu não vou demorar — interrompeu, permanecendo parado na porta. — Só quero falar com o Jeonghan.
— Tá bem, eu chamo ele.
Seungcheol subiu as escadas rapidamente e Joshua respirou fundo, limpando as mãos suadas na calça, não entendo porquê seu coração estava tão acelerado.
Quando ouviu a voz de Jeonghan, ajeitou a postura e puxou o ar profundamente outra vez.
— Oi — o mais velho murmurou, visivelmente chateado. Entretanto, assim que pôs os olhos em Joshua, franziu as sobrancelhas. — O que você tem? Tá meio estranho…
— Hum, digamos que eu encontrei com Chan, e ele me ensinou a fumar — riu sem muito humor. — Eu tô bem agora, juro.
— Meu Deus, Jisoo, você endoidou!?
— Eu tô bem, eu juro. Só preciso falar com você.
— E o que foi?
— Me desculpa — pediu, olhando o alfa nos olhos. — Me desculpa pelas coisas que eu disse, você sabe que eu nunca iria te magoar.
— Tudo bem — respondeu baixinho, escorando-se no batente da porta. — Me desculpa também, eu nunca iria te machucar de propósito...
— Eu sei.
— Mas se eu falo alguma coisa às vezes, é porque você nunca me falou sobre isso — explicou com a voz mansa. — Por que você não é totalmente honesto comigo? A gente não tem segredos um do outro, Soo.
— Eu sei, eu… — engoliu em seco, um nó se formando em sua garganta e lágrimas brotando em seus olhos novamente.
Jeonghan aproximou-se e abraçou sua alma gêmea. Apertou-o entre seus braços, querendo protegê-lo de qualquer coisa que estivesse o fazendo mal naquele momento, ele só não imaginava…
Quanto mais forte ele segurava Jisoo em seus braços, mais cortante se tornava uma dor no coração do beta. Uma dor que ele não sabia como nasceu, de onde vinha ou porquê doía.
— Tá tudo bem, Soo. Eu tô aqui contigo, não importa o que aconteça — sussurrou Jeonghan, acariciando os cabelos escuros do amigo, sentindo as lágrimas dele molhando seu ombro.
— Eu queria ser honesto com você, eu juro. Queria ser honesto com todo mundo, mas… eu não consigo. Eu não consigo ser honesto nem comigo mesmo — chorou, segurando o Yoon apertado. — E eu não sei o que fazer pra mudar isso. Eu tenho tanto medo...
— Tudo bem ter medo, Soo — sussurrou, afastando-se bem pouquinho para que pudesse secar o rosto bonito do beta.
— Eu não queria ter medo. Queria ser corajoso como você, Soonyoung, ou Chan. Mas eu não consigo — disse, ainda de olhos fechados.
— Mas nós temos medo, todos nós sentimos medo — falou manso, sorrindo mesmo que o beta não estivesse vendo, sabia que ele podia sentir. — A coragem não é ausência do medo, mas escolher continuar apesar do medo.
Joshua fungou baixo, inclinando o rosto em direção à palma de Jeonghan. Os polegares espantavam lágrimas que ainda insistiam em cair.
Aos poucos, o beta foi ficando mais calmo. Sentia o calor do corpo de Jeonghan perto do seu, as mãos gentis tocando suas bochechas, o cheiro que ele tanto gostava, formando uma espécie de bolha invisível, envolvida pela essência de alecrim e amoras de Jeonghan, e a sua própria de maçã e canela.
Era apenas os dois, e aquilo era o suficiente.
— Você não quer entrar um pouco? — Jeonghan perguntou.
Jisoo, finalmente, abriu os olhos e observou o mais velho. Estava tão perto, que conseguia ver todos os detalhes do rosto dele, até mesmo como os olhos refletiam a mesma tristeza que brilhava nos seus.
Via a sua própria alma nos olhos de Jeonghan, e isso o fazia se sentir completo.
— Eu preciso ir pra casa — respondeu baixo, afastando-se do alfa e sentindo falta daquele calor quase imediatamente. — Daqui a pouco meus pais chegam e eu preciso estar lá.
— E você vai deixar eles te verem chapado? — cruzou os braços.
Joshua riu baixo:
— Eles nunca me vêem mesmo — deu de ombros.
Jeonghan puxou-o para um último abraço.
— Manda mensagem quando chegar em casa.
— Mando, sim.
O alfa sorriu ao soltá-lo, beijou sua testa de maneira carinhosa e então Jisoo virou para sair dali.
Tão logo seus pés tocaram a calçada, um novo choro inundou seu peito e rosto. Baixo e silencioso, como havia aprendido a chorar. Não sabia de onde aquele pranto vinha, apenas o aceitou.
Porém, assim que chegou na esquina, pôde ver Lee Chan ali, apoiado em um poste qualquer com a bicicleta, como se tivesse apenas o esperando.
— O que faz aqui? — o mais velho perguntou, confuso.
— Pensei que fosse precisar de carona e, quem sabe, um ombro amigo — sorriu fechado, subindo na bicicleta.
Joshua retribuiu o ato antes de subir e segurar nos ombros do menor.
— Você quer conversar? — Chan perguntou, começando a pedalar devagar.
— Não — respondeu baixo, abraçando o menor pelos ombros. — Você pode pegar um caminho maior até minha casa?
O mais novo concordou, fazendo o que foi pedido. Sentiu Jisoo apoiar o rosto no topo de sua cabeça, afundando o nariz em meio aos fios escuros.
Chan sorriu de canto, pensando que seu hyung parecia uma criança cheia de manha.
O caminho até a casa de Joshua seria silencioso, se Chan não tivesses começado a cantar baixo, uma música que não lembrava o nome, mas estava em sua cabeça.
Joshua fechou os olhos e apreciou a melodia que soava suavemente da boca do mais novo, ele tinha uma voz bonita e cantava bem. Permitiu-se cantarolar junto dele, apoiando sua bochecha no topo da cabeça do menor, sentindo-se um pouco sonolento, havia chorado demais.
Assim que avistou sua casa, apertou mais os braços ao redor dos ombros de Chan. Não sabia como ainda não haviam caído da bicicleta, mas agradecia, seu joelho ainda doía pela queda de mais cedo.
— Tem certeza que você tá bem? — o menor perguntou, assim que parou na frente da casa.
O carro do Sr. Hong já estava na garagem, eles já estavam em casa.
— Tenho — Joshua respondeu, saltando da bicicleta. — Obrigado, Chan-ah. Por tudo mesmo. Você é incrível.
— Para com isso, eu faria isso por qualquer um, e você faria o mesmo por mim — resmungou, envergonhado.
— O que é isso? — Jisoo sorriu de canto. — Nós estamos virando amigos?
— Não seja besta — negou Chan, subindo na bicicleta novamente.
Os olhos do Hong se arregalaram e, por um momento, ele sentiu vontade de chorar. Mas, felizmente, foi um momento tão curto quanto um batimento cardíaco, pois logo Chan decretou:
— Nós já somos amigos.
Chapter 26: Baunilha e limão
Chapter Text
— Eu não me importo há quanto tempo vocês estão juntos, eu não quero mais esse garoto na minha casa! — Kim Hyorin exclamou irritada.
— Não é justo, essa casa também é minha! Por que meu namorado não pode vir aqui? — Mingyu retrucou, batendo o pé no chão.
A mulher respirou fundo, tentando contar até dez para não explodir mais do que já havia. Seu filho ainda era um adolescente, tinha apenas 15 anos, e ela sabia que quem deveria manter a calma e apaziguar a situação era ela.
Porém, como manter a calma e o pensamento lógico quando ouvia seu próprio filho chorando toda noite? Quando via seu rosto parecer cada vez mais magro e ele se afastar de seus amigos?
— Por que você é a única pessoa que não enxerga que esse garoto te faz mal? — ela murmurou, apertando com força o avental entre os dedos.
— Não é verdade! Eu amo ele, por que você não consegue ficar feliz por mim!?
— Porque você é meu filho! — ela gritou. — Porque eu sou sua mãe! Eu sei quem você é, e eu sei o que é melhor pra você! Você acha que é isso!? — apontou para o garoto, olhando-o dos pés a cabeça.
Deplorável.
— Você chora todo dia! Você mal se alimenta! Você anda parecendo um fantasma. Você não fala mais com seus amigos, você mal fala comigo! Tudo por causa dele!
— Não é assim! — brigou. — Ele não é o Jeongsu! Ele é diferente, ele me ama!
Hyorin suspirou, lágrimas escorriam por seu rosto, e com um pesar na voz — um pesar de uma mãe temerosa em perder o filho — ela respondeu:
— Pra mim, esse amor não significa nada se ele não faz merda nenhuma com isso.
Mingyu engoliu em seco, recebendo um soco no estômago pelas palavras duras, mas tão verdadeiras. Entretanto, apenas balançou a cabeça e foi embora.
•••
— Você não devia tá com ele, hyung — Chan falou baixo, cauteloso, como sempre tinha que ser quando se tratava dos relacionamentos de Mingyu. — Ele não te faz bem, e eu sei que ele te convenceu de que tudo que eu falo é por inveja, porque eu queria estar com ele ou porque tenho ciúmes do namoro de vocês... Mas nós dois sabemos que é mentira, a gente sabe que ele tá te roubando de você... Só que você está fingindo não saber.
O Kim mordeu os próprios lábios rachados, negando com a cabeça e repetindo como um mantra:
— Ele me ama.
•••
— QUE PORRA VOCÊ TÁ FAZENDO!? — Lee Chan gritou, usando toda suas forças para empurrar o alfa para longe de Mingyu, que estava caído no chão com as mãos sob o rosto. — Enlouqueceu, foi!?
A cena que o beta encontrou ao entrar na casa de Mingyu era dolorosa, assustadora.
— Não se mete nisso, seu merda! — o homem respondeu, segurando o beta pela gola da roupa e o jogando para longe.
— Não toca nele! — Mingyu mandou, tentando chegar até o amigo, que se levantava com dificuldade, os joelhos e as palmas das mãos sangrando.
O alfa, entretanto, impediu o Kim ao segurá-lo com força pelos braços.
— Cala a boca! É por causa disso que você tá querendo terminar! Deixa essas pessoas ficarem plantando coisa na sua cabeça!
— Não tem nada a ver! — o ômega gritou, com a voz firme apesar de embargada. — Eu que não suporto mais você e a forma que você me trata como lixo! Você acabou de me bater porque eu disse que queria um tempo! Eu não quero mais te ver na minha frente, nunca mais!
— Mingyu...!
— Solta ele! — Chan exclamou, pondo-se entre eles e empurrando o alfa com a ajuda do Kim. — Ele já disse que não quer te ver! Sai daqui, sai da vida dele!
— Mingyu, se a gente terminar eu juro que me mato!
— Eu não me importo! — o Kim exclamou, segurando a mão do amigo ao colocá-lo ao seu lado. — Faz o que você quiser, só nunca mais chega perto de mim! Sai da minha casa! Sai daqui!
Após alguns segundos eternos de silêncio, o alfa bufou e saiu batendo a porta com força.
Mingyu suspirou aliviado, caindo sentado no chão enquanto chorava quase compulsivamente.
— Tá tudo bem — o beta disse, abraçando-o apertado. — Eu tô aqui...
•••
— Tá nervoso? — Mingyu perguntou para Wonwoo ao passo que se aproximavam da casa do ômega.
— Eu não — respondeu, mostrando sua mão trêmula, denunciando sua mentira.
O Kim riu baixo, segurando a mão do namorado e cruzando seus dedos.
— Eu sei! Também tô nervoso, acho que vou acabar vomitando — brincou, abraçando o menor e escondendo o rosto no ombro dele. — Ok, a gente só vai almoçar e conversar por um tempo até ela sair pra trabalhar...
— A gente tem aquele trabalho de física pra terminar — Wonwoo comentou.
— Que trabalho, garoto? Não é hora disso — ralhou Mingyu, soltando a mão do namorado para pegar as chaves da casa na mochila.
Wonwoo riu baixo, entrando atrás do maior.
— Mãe, chegamos — o ômega avisou enquanto retirava seus calçados.
— Tô na cozinha, filho — ela respondeu.
Mingyu sorriu nervoso, respirou fundo e segurou a mão de Wonwoo, levando-o até a progenitora.
— Mãe — chamou-a, assim que parou na entrada da cozinha pequena. — Esse é Jeon Wonwoo, meu namorado.
— Muito prazer, senhora Kim — o alfa sorriu, fazendo uma reverência.
— Prazer, Wonwoo — ela sorriu, acenando com a cabeça. — O almoço tá quase pronto, lavem as mãos e soltem as mochilas.
— Ok — o ômega concordou prontamente, segurando a mão do namorado e o puxando para fazer o que lhes foi mandado.
— Como foi até agora? — perguntou o alfa, seguindo o maior pelo corredor.
— Acho que tudo bem, mas ainda é muito cedo pra dizer — murmurou. — Eu nem te mostrei a casa, né? Volta — mandou, dando meio volta e o puxando para a sala. — Aqui é a sala, a cozinha, no corredor tem o banheiro, o quarto da minha mãe e o meu quarto.
Wonwoo riu anasalado pela afobação de Mingyu, deixando que ele o puxasse novamente até o banheiro.
— Fica calmo, ok? — o mais velho disse, acariciando os cabelos do ômega. — Vai dar tudo certo — beijou delicadamente seu rosto antes de voltarem à cozinha.
— Podem se sentar — Hyorin sorriu.
Eles então, tomaram os lugares na mesa cheia de panelas. Mingyu e Wonwoo lado a lado, de frente para a Sra. Kim.
— Wonwoo-ah, é bom finalmente te conhecer. Mingyu fala tanto de você — a ômega disse, começando o assunto.
— Ah, é? — olhou para o maior, que ajudava a mais velha a servir as cambucas de arroz, as orelhas dele ficando vermelhas.
— Quase o tempo todo, ele contou do pedido de namoro — ela disse, intercalando o olhar entre eles.
— Ah, sim — concordou tímido. — Foi a coisa mais extravagante que eu fiz na vida, não sei como não morri do coração.
— Mesmo? Você parecia tão confiante — Mingyu disse.
— Depois que eu comecei a cantar, não vi mais nada. Eu só enxergava você — admitiu, focando o olhar na comida.
— Own — o ômega soltou, tocando a mão do namorado rapidamente, logo voltando a segurar os talheres.
— Que fofo — a mulher sorriu. — Namoro adolescente é sempre uma bolha de amor.
— Nem todos — Mingyu falou.
Wonwoo mordeu a língua, desviando o olhar ao perceber ao que o namorado se referia. Ainda era tão difícil falar dos antigos relacionamentos do Kim.
— Nem todos, é verdade — Hyorin concordou. — Mas nós estamos aqui pra falar sobre o namoro de vocês.
— Pode perguntar as perguntas clichês que eu sei que você adora — Mingyu riu baixinho, olhando a progenitora.
A ômega riu baixo antes de, realmente, perguntar:
— Como vocês se conheceram?
— Na escola, eu acho — Wonwoo respondeu. — Quer dizer, a gente sabia da existência um do outro, mas a gente começou a conversar quando tinha uns garotos incomodando o Gyu, aí eu me meti pra tentar defender ele e levei um soco.
Hyorin se engasgou com a comida, cobrindo a boca em seguida, surpresa com o relato.
— Calma, mãe — Mingyu riu baixo, entregando um copo d'água para a mais velha. — A gente saiu correndo depois, então foi só um soco.
— Ainda doeu — falou Wonwoo, recebendo um chute de leve por baixo da mesa. — Mas depois, Mingyu me levou na enfermaria e me ajudou com o curativo e… sei lá, eu percebi que ele era lindo e fiquei curioso.
— Você disse que tinha sido idiotice nunca ter reparado em mim antes — comentou o maior.
— É verdade, foi idiotice — sorriu de leve para o namorado. — Porque você é incrível.
Mingyu retribuiu o sorriso, tocando a mão dele por cima da mesa.
Hyorin sorriu observando eles e, antes que pudesse falar mais alguma coisa, um celular começou a tocar na sala.
— É o meu, já volto — Mingyu disse, levantando-se depressa.
Wonwoo e Hyorin puderam ouvir o ômega falando "oi, Chan", antes dele entrar no corredor.
Então, um silêncio se instalou na mesa. O alfa podia dizer que a Sra. Kim estava o encarando, mesmo que ele estivesse olhando para a mesa fixamente.
Quando a ômega abriu a boca para falar, Wonwoo foi mais rápido:
— Eu sei o que você tá pensando.
A mulher piscou algumas vezes antes de responder:
— Ah, é? E o que eu estou pensando?
— Provavelmente algo como… — ergueu os olhos para ela. — Por que Mingyu gosta desse garoto? O que ele pode fazer pra machucá-lo? Será que ele já fez meu filho chorar? — citou. — Eu não sei muito do passado do Mingyu, ele não fala muito sobre isso, mas eu já pude perceber como os relacionamentos antigos afetaram ele. Às vezes é difícil até pra mim — desviou os olhos. — Teve uma vez que ele tava lá em casa, e ele insistiu que ia lavar a louça do almoço, e você deve saber como ele é teimoso — riu nasalmente, junto da mulher —, e, enquanto ele lavava, eu me aproximei e abracei ele por trás, apertei ele nos meus braços, beijei seu rosto e sussurrei que amava ele. E, então, eu me assustei, porque seus olhos lacrimejaram e ele me disse que era porque nunca tinham feito isso — abriu um sorriso com um pouco de raiva. — Nunca tinham abraçado ele e falado "eu te amo". E meu Deus, eu nunca fiquei tão indignado na vida, porque, porra, eu nunca conheci ninguém como ele. Parece loucura não amar Mingyu.
Hyorin ficou quieta por um tempo, pensando no que Wonwoo dissera.
— Mas — o alfa continuou. — Por mais difícil que seja às vezes, eu não vou desistir dele. Amar uma pessoa que nunca foi amada da maneira correta é difícil, é preciso paciência, mas eu não me importo porque eu me apaixonei perdidamente por Mingyu. Eu amo seu filho. Ele faz eu me sentir a pessoa mais especial do mundo e eu vou passar o resto da minha vida, se necessário, fazendo ele se sentir da mesma maneira.
Antes que Hyorin pudesse responder, Mingyu voltou para a cozinha, reclamando de como Lee Chan era "insuportável quando estava no feminino".
A conversa seguiu normalmente, os garotos comentavam sobre a escola e outras coisas triviais do dia a dia, a mais velha ouvia as histórias e sentia-se aliviada por ver o filho rindo com tanta facilidade.
Assim que terminaram de comer, Wonwoo ajudou Mingyu a tirar a mesa e logo Hyorin teve que sair para trabalhar.
— Eu volto no final da tarde, tá bem? — ela dizia, pegando sua bolsa e chaves. — Se for sair, me avisa. Não esquece de lavar a louça.
— Tá bem, mãe — resmungou Mingyu.
A ômega se aproximou e beijou a testa do filho, tendo que puxá-lo para baixo, visto que ele era maior que ela.
— Até mais, filhote — ela sorriu, se virando para Wonwoo em seguida. — Wonwoo, foi ótimo te conhecer — ficou na ponta dos pés e abraçou o garoto. — Apareça mais vezes, viu? Da próxima vez, eu te mostro as fotos do Gyu bebê.
— Ah, não vai dar, eu vou acidentalmente perder aquele álbum — o Kim falou.
— Bobo — disse sua mãe, batendo de leve em seu braço. — Eu preciso ir agora, garotos. Tchau, tchau.
— Tchau — Wonwoo respondeu, acenando para ela conforme ela fechava a porta.
Assim que estavam sozinhos, ficaram de frente um para o outro. O mais velho esperava Mingyu falar alguma coisa, não fazia ideia se tudo havia saído bem.
— Como foi? — resolveu perguntar.
O ômega sorriu grande, abraçando-o com força ao pular em sua direção.
— Foi incrível! Ela te adorou! — deu pulinhos animados.
— Jura? — Wonwoo sorriu, segurando as mãos do maior e o observando com um sorriso bobo.
— Sim! — afirmou, sentando-se no sofá e trazendo o alfa para sentar ao seu lado. — Nas outras vezes, ela ficava de cara fechada e nunca me deixava sozinha com eles. Hoje em dia, eu entendo ela. Mas, sério, foi incrível.
— Isso é um alívio tão grande — Wonwoo solta, suspirando e desabando sobre o sofá com as mãos no peito.
Mingyu riu antes de se aproximar, abraçando o menor e beijando seu rosto.
— Acho que você já ganhou o prêmio de genro favorito da minha mãe — brincou, deitando-se sob o corpo do Jeon.
— Eu devo ser especial, a concorrência era tão boa — retribuiu a brincadeira, vendo Mingyu revirar os olhos enquanto sorria de canto.
— E eu sou o genro preferido do seu pai? — entrou na onda.
— Você é o primeiro, ele não tem com quem comparar.
— Ah, é. Esqueci que tô namorando um alfa inexperiente — tocou o rosto dele.
— E cabe a você me proporcionar todas essas experiências — lhe deu um selinho rápido, sorrindo ao ver as bochechas ganhando cor.
— Com todo prazer, meu amor — sussurrou, chegando mais perto para selar seus lábios.
Wonwoo sorriu, acariciando a nuca do maior, enquanto retribuía o beijo.
— Você quer conhecer meu quarto? — Mingyu perguntou, assim que separaram-se.
— Posso?
— Claro que pode, seu bobinho — o ômega sorriu, levantando e puxando Wonwoo pelo pequeno corredor de sua casa.
Na terceira porta, era o quarto de Mingyu.
O ambiente não era muito grande, mas era limpo e muito bem organizado. Havia uma cama de solteiro ao lado da parede escura, onde haviam desenhos e frases feitos com giz de quadro negro. Um guarda roupa fechado, uma escrivaninha com gavetas, livros e algumas decorações perto da janela.
— Seja bem-vindo — disse o maior, tímido.
Mingyu sentou-se em sua cama e deixou que Wonwoo conhecesse o ambiente, observando sua decoração, mesmo que não tivesse muito para ser notado.
— É bonito — o alfa disse, por fim.
Aproximou-se da Mingyu e sentou ao lado dele na cama. O ômega sorria olhando para si, tocando a ponta de seu nariz com o indicador, fazendo-o rir baixinho.
— Fofo — Wonwoo disse.
Mingyu revirou levemente os olhos ao sentir o rosto corando.
— Amor, deixa eu usar seu óculos — pediu, sentando-se na cama e ajeitando a postura.
Wonwoo não hesitou em tirar as armação do rosto, entregando para Mingyu em seguida. O ômega ajeitou os óculos sob seu nariz e sorriu para o namorado, tocando sua bochecha num aegyo.
— Como eu tô?
Wonwoo, apertando os olhos, respondeu:
— Eu não faço a menor ideia.
Mingyu riu, tirando os óculos de si e ajeitando-os no rosto do mais velho. Abraçou-o pelo pescoço e beijou seus lábios, ouvindo os estalinhos preenchendo o ambiente, enquanto as mãos de Wonwoo tocavam sua cintura.
Sentindo quando Mingyu se debruçou sobre si, Wonwoo apoiou-se na cabeceira para que ficassem mais confortáveis.
O beijo foi quebrado e o ômega abraçou-o com força.
— Nem acredito que você tá aqui — ele murmurou, deitando a cabeça no peito do mais velho. — Ainda parece uma realidade meio distante.
— Por que?
— Você sabe porquê.
— Na verdade, eu não sei — falou baixinho, acariciando os cabelos escuros dele. — Mas você precisa parar de achar que um namoro saudável estivesse fora de seu alcance, bae.
— Estava, por um momento — respondeu, apertando Wonwoo entre seus braços. — Mas você tá aqui agora, né? E eu posso te garantir que nunca fui tão feliz.
Wonwoo sorriu pequeno, fechando os olhos ao retribuir o abraço de Mingyu. Ninguém saberia explicar o quão seguro o ômega sentia-se no colo do Jeon.
— Eu te amo — sussurrou o ômega.
— Eu também te amo, bae.
Mingyu se remexeu na cama, apoiando-se de maneira que pudesse alcançar os lábios de Wonwoo novamente, beijando-o com todo amor que tinha.
O alfa fechou os olhos ao sentir os lábios do maior escorregando até seu pescoço, plantando ali beijos molhados, enquanto as mãos grandes desciam por seu tronco, erguendo a barra de sua camisa o suficiente para que pudesse tocar seu abdômen.
— Você não acha que está muito assanhadinho, não? — Wonwoo perguntou baixo, apenas para provocar, porque ele amava os toques de Mingyu.
— E desde quando você não gosta?
— Nunca disse que eu não gosto — rebateu, segurando na cintura do ômega para conseguisse inverter as posições, deixando-o deitado no colchão enquanto se ajeitava sob seu corpo. — Só queria saber o que te deu pra ficar tão carente assim — aproximou seus rostos, dando alguns selinhos nos lábios rosados.
— Você quer que eu explique em ordem alfabética ou cronológica? — riu baixo, observando Wonwoo abrir um sorriso bobo e tímido.
Mingyu tocou seu rosto, trazendo-o para mais perto. O corpo de Wonwoo repousou sobre o seu, sentia o coração dele batendo junto do seu e os olhos que fitavam cada detalhe do seu rosto.
— Me explica — o alfa sussurrou.
— Bom, há uns meses atrás eu conheci um cara — começou, dedilhando as costas do mais velho delicadamente. — Eu já conhecia ele antes, porque ele é bonito pra caralho e era difícil não notar ele pela escola. Mas, então, uns meses atrás ele veio até mim, me defender de uns babacas, e a gente começou a conversar. Era incrível como a gente conseguia conversar todo dia e, ainda assim, sempre ter algo para falar na manhã seguinte — tocou o rosto dele, correndo os polegares pelas bochechas claras. — E não demorou muito para eu estar apaixonado por ele, mas eu tinha tanto medo. Medo de amar de novo, medo de que eu pudesse me machucar, mas… a forma como ele me olha, como se eu fosse todo o mundo dele, a forma que eu me sinto seguro com ele e a forma que ele me toca… tudo isso parece certo.
— Eu sinto muito que você estivesse com medo de mim…
— Wonwoo, eu nunca tive medo de você — negou rapidamente, trazendo o olhar felino para si. — Eu gosto de você, eu te amo tanto que eu nunca senti medo... e por isso eu estava tão assustado.
Levou alguns segundos até o alfa se pronunciar. Os olhos encaravam os de Mingyu como se pudesse ler tudo que estava escrito neles.
Então, como se tivesse acordado de um transe, Wonwoo segurou o rosto do maior e o beijou de maneira afoita. As línguas se encontraram depressa, dançando juntas enquanto as mãos do mais velho exploravam o tronco do ômega por baixo da camiseta.
Não demorou muito para que estivessem envoltos naquela atmosfera sensual que os cercava sempre que os beijos evoluíam para algo mais.
As posições foram invertidas e logo Mingyu estava no colo de Wonwoo, rebolando sem perceber contra o quadril dele, suspirando baixinho sempre que as mãos grandes apertavam suas nádegas e coxas.
Quando a braguilha da calça do Kim foi aberta, ele suspirou outra vez, separando-se do beijo de Wonwoo para abaixar os olhos, tímido e um pouco inseguro.
— O que foi, amor? — sussurrou perto de seu ouvido, mordendo o lóbulo em seguida.
Mingyu arrepiou. Wonwoo raramente o chamava de amor, apenas quando estavam em momentos como aquele.
— É só que… — Mingyu começou, desviando seu olhar do alfa. — Você vai fazer aquilo de novo, não vai?
— Aquilo o que? — perguntou, deixando beijos sob o pescoço alvo.
— Você vai… fazer coisas comigo, e não vai deixar eu retribuir — resmungou, franzindo os lábios num biquinho, o qual Wonwoo não hesitou em mordiscar.
— Não pensa assim, bae — falou manso, sorrindo ao passo que Mingyu mordeu o lábio inferior ao ser tocado por cima da roupa íntima. — Não é como se nunca tivéssemos feito isso.
— Eu sei, é que… hum — gemeu baixinho, apoiando a testa no ombro do outro. — Eu me sinto egoísta só recebendo…
— Não tem problema, meu amor — Wonwoo respondeu, acariciando o membro de Mingyu lentamente, enquanto beijava seus ombros. — Eu gosto de te dar prazer. Isso é sobre você, e só sobre você.
— Mas, Wonwoo — choramingou, segurando as mãos do namorado, mas não conseguindo impedi-lo de continuar a masturbação. — I-Isso não deveria ser só sobre mim, deveria ser sobre nós dois.
O alfa parou os movimentos lentamente, encarando Mingyu com fogo nos olhos. Por Deus, ele conseguia deixá-lo maluco.
— Como você quer, então, meu bem? — perguntou baixo, puxando-o para mais perto ao segurar suas coxas.
Mingyu não respondeu, apenas deslizou suas mãos pelo corpo do mais velho e abriu o botão de sua calça. Pôde ouvir o menor arfando baixo, ao mesmo tempo que o viu estremecer quando puxou o membro ereto para fora das roupas apertadas.
— Quero que você goze junto comigo — pediu baixinho, perto do ouvido do alfa.
Wonwoo rosnou baixo, segurando sua intimidade junto da de Mingyu, e o incentivando a rebolar com a outra mão em sua cintura.
— Me faz gozar, amor — mandou baixo, apertando com força os dedos na pele do Kim quando sentiu ele mover o quadril, causando uma fricção gostosa.
Mingyu mantinha os olhos fechados, suas mãos seguravam firmemente nos ombros do menor, enquanto rebolava sem vergonha alguma.
Já Wonwoo, encarava o rosto avermelhado do Kim com luxúria escorrendo em lágrimas pelo seu rosto, sentia que iria enlouquecer. Mingyu era a pessoa mais sexy que ele já havia conhecido.
— Wonwoo — ele gemeu contra seu ouvido.
Num impulso, o alfa trocou as posições novamente, deitando Mingyu na cama e se pôs entre suas pernas. Fora a vez de Wonwoo de movimentar o quadril, estocando contra o corpo do ômega, esfregando suas intimidades juntas. Os sons molhados se misturavam aos gemidos que escapavam entre os lábios, em meio aos beijos bagunçados.
— Mingyu… porra, eu tô quase lá.
— Eu também, amor — respondeu, abraçando-o apertado pelos ombros, estremecendo quando o peito dele foi colado ao seu, o vai e vem estimulando seus mamilos sensíveis pelo orgasmo próximo.
As unhas curtas de Mingyu percorreram as costas do namorado, e então, os dois gemeram juntos ao alcançarem o ápice.
Permaneceram parados por alguns minutos, as respirações desreguladas sendo o único som que preenchia o ambiente.
— Wonwoo? — Mingyu chamou após um tempo, acariciando os cabelos arroxeado, com medo de que o mais velho pudesse ter dormido.
— Hum — ele resmungou.
— Vai ficar aí o dia todo? — brincou.
— Não nego que a ideia de ficar juntinho de você o dia todo seja atraente — riu baixo, erguendo o tronco o suficiente para que pudesse olha-lo nos olhos. — Mas você ainda tem que lavar a louça, né?
— Ai, como você é estraga prazeres — reclamou enquanto ajeitava suas roupas.
Wonwoo riu, abaixando-se para beijar seu rosto.
— Eu te ajudo — lhe deu selinho antes de se afastar. — Me empresta uma camisa sua? A gente acabou se sujando de novo…
— Por isso que essas coisas a gente deveria fazer pelado — constou o ômega, levantando, andando até seu guarda-roupa e acertando um tapa na bunda do alfa.
— Mingyu!
[...]
Hyorin andava apressada até sua casa. Assim que o relógio bateu seis horas, ela recolheu suas coisas e saiu do trabalho a passos apressados. Um sentimento ruim crescia em seu peito e ela não sabia dizer porquê.
A linha tênue que dividia seu instinto de sua ansiedade acabou se perdendo durante o tempo e entre tantas experiências ruins. Mingyu estar namorando era um alerta de perigo iminente, sempre foi e, por mais confiável que Wonwoo parecesse, aquele seu lado super protetor a fez praticamente correr para casa.
Lembrava da última vez que deixou Mingyu sozinho com um namorado e quando voltou, encontrou-o chorando desesperadamente nos braços de Lee Chan.
Ambos os garotos estavam com hematomas: Chan nas mãos e joelhos, e Mingyu nos pulsos e no rosto.
Ela jamais se perdoaria se aquilo acontecesse novamente.
Entretanto, para sua (quase) surpresa e alívio, o que viu quando chegou em casa foi Mingyu e Wonwoo deitados no sofá, dormindo.
O ômega tinha a cabeça repousada sobre o peito de Wonwoo que, por sua vez, abraçava o maior como se fosse a coisa mais preciosa do mundo inteiro.
Aquilo fez seu coração bater mais levemente.
Tentou não fazer barulho ao se aproximar, andando na ponta dos pés para perto dos garotos.
Hyorin não gostava de suspeitar de todos os meninos que se aproximavam de Mingyu, era ruim enxergar tanta maldade em crianças de 15, 16 anos, mas apenas era verdade.
Mas, ao olhar aqueles dois no sofá, ela não via maldade alguma, não via nada de ruim ali, então sorriu.
Com um sorriso ameno, ela tocou os cabelos de Wonwoo, numa carícia terna.
Com o toque, ele abriu os olhos rapidamente. Estavam marejados, mas Hyorin pensou que fosse do sono.
— Sou eu — acalmou. — Perdão, não queria te acordar.
— Tudo bem, eu… — sentou-se no sofá, tirando os óculos para coçar os olhos.
A movimentação fez com que Mingyu despertasse, piscando um tanto perdido.
— Oi, mãe — bocejou. — Já voltou?
— Voltei — ela sorriu, beijando a testa do filho. — Wonwoo, vai ficar pra jantar?
— Não, eu já estou indo, na verdade — ele disse, levantando-se. — Obrigado pelo almoço e pela recepção — sorriu, curvando-se para a ômega.
— Não foi nada — ela retribuiu, aproximando-se para acariciar os cabelos dele. — Volte sempre, tá? A casa é sua.
— Obrigado — sorriu.
Hyorin seguiu para a cozinha calmamente, deixando os dois a sós para que pudessem se despedir.
— Ela te adorou — Mingyu falava enquanto guiava o namorado até o portão. — Sério, eu nem acredito que correu tudo bem.
— Acho que é o mínimo que eu mereço depois de levar um soco por você — brincou, virando-se para selar os lábios do Kim.
— Supera isso, pelo amor de Deus — revirou os olhos.
— É brincadeira, bae — riu baixo, segurando o rosto dele entre suas mãos. — A gente se vê amanhã.
— Até amanhã, amor — sorriu, lhe dando um último selinho antes dele seguir o caminho.
Assim que voltou para dentro de casa, Mingyu foi até a cozinha, onde sua mãe estava cortando alguns legumes.
— Deixa que eu faço o jantar — ele disse, aproximando-se da mulher e pegando a faca gentilmente.
— Obrigada, filho — ela sorriu, sentando-se na mesa. — O que foi? Você tá quieto.
— Eu sei lá, só… — deu de ombros. — Você não tem nada pra falar?
— Você diz sobre o Wonwoo? — ergueu uma sobrancelha.
— É. Normalmente, depois que eles vão embora, você começa a falar sobre as coisas ruins e tal… — murmurou baixo. — E agora eu sei que você tava certa.
Hyorin ficou em silêncio por alguns segundos, pensando.
— Você quer que eu diga a verdade?
Mingyu hesitou, mas assentiu com a cabeça.
— Bem, eu achei ele ótimo — ela sorriu, levantando e abraçando o filho. — Ele é educado, gentil, atencioso… e você pode me achar doida, mas ele parece muito frágil.
— Frágil? — virou para a mais velha.
— É, eu senti isso de alguma forma — deu de ombros, apoiando-se na pia enquanto mexia com o pingente de seu colar. — Mas não foi nada disso que fez eu gostar dele.
— E o que foi? — olhou-a. — Como você gostou dele tão rápido?
Hyorin sorriu.
— Porque você nunca me disse que ele é diferente — afirmou. — Eu vi, nos seus olhos, que ele é.
Chapter 27: Chá de Marcela
Chapter Text
Jihoon não gostava de admitir quando seus amigos estavam certos quanto aos seus sentimentos, mas ele teve que admitir (pelo menos para si mesmo) que Jeonghan e Joshua estavam certos quanto a Soonyoung e toda sua declaração.
Haviam se passado apenas dois dias e Jihoon estava com saudades.
Não havia respondido às mensagens do namorado e, em partes, sentia-se péssimo por isso. Por outro lado, ainda estava um pouco irritado com ele por ter se declarado e ido embora, mas a raiva mais intensa mal durou 48 horas, e logo ele estava lendo as mensagens do alfa com um sorriso bobo no rosto.
E, mesmo sem resposta, Soonyoung continuava mandando inúmeras mensagens, fotos e áudios.
[Soon<3]
Jihoonie por favoooor
Faz mais de dois dias que vc não me responde
Tudo isso só pq eu falei que te amo?
Não é justo T^T
Fala comigo por favoor
Gif
Jihoon bufou, revirando os olhos enquanto lia as novas notificações. Soltou o celular na cama e seguiu para seu guarda roupa, secando os cabelos com uma toalha, uma outra estava enrolada em sua cintura.
Até mesmo na hora de seu banho Soonyoung havia incomodado, mandando mensagens que interrompiam sua playlist com o barulho das notificações.
Assim que Jihoon vestiu uma camiseta, uma calça e um moletom que havia roubado de Soonyoung, voltou para sua cama enquanto abraçava sua pelúcia de tigre.
Pegou o celular e finalmente respondeu as mensagens do namorado.
eu não tô irritado pq vc disse que me ama
até pq fodase eu tbm te amo droga
eu tô irritado pq vc disse no pior momento possível!!
vc disse e se enfiou num avião e só volta ano que vem!!!!
é por isso que eu tô bravo com vc
…
..
.
???
Soonyoung?
vc tá visualizando
pq não responde seu porra??
Alguns longos minutos se passaram sem que Jihoon recebesse resposta, e ele estava quase o bloqueando quando recebeu um áudio deveras longo — 35 segundos —, onde ele gritava:
"Caralho, Jihoon! Você não pode fazer isso, Jihoon-ah! Você disse que me ama! Você disse que me ama! Você me ama! Mãe! Pai! Jihoon disse que me ama! Meu Deus, eu não acredito, não acredito, não acredito! Aaahhh! Eu também te amo! Te amo! Te amo!"
Não demorou mais que dois segundos para que toda raiva que Jihoon sentia simplesmente evaporasse.
Sentiu vontade de chorar por não poder ver Soonyoung dançando de alegria — como sabia que ele fazia — apenas porque tinha dito que o amava. Ele estava há sete mil quilômetros de distância e, mesmo assim, sentia seu coração tão acelerado quanto o dele.
Jogou-se de cara no colchão e bateu os pés de maneira quase histérica, um verdadeiro adolescente apaixonado.
é tão injusto como eu não consigo ficar irritado com vc
que ódio
aaa eu nem fiz nada dessa vez
vc tá ocupado agr?
tô com saudades
posso te ligar?
faz só dois dias que vc tá aí
não deveria estar com seus pais?
eles estão se arrumando pq daqui a pouco a gente vai sair
vaai me atende
quero ouvir sua voz :((
por favoooor
Jihoon revirou os olhos, sabendo que não conseguiria negar mesmo que quisesse. Foi ele que clicou no botão para fazer a chamada de vídeo e foi prontamente atendido pelo sorriso de Soonyoung.
— Oi, meu amor! — acenou para ele.
— Não vem com essa, eu ainda preciso fingir que tô irritado com você — resmungou, tentando manter uma voz séria, mas não conseguia conter seu sorriso.
— Ah, para com isso, você acabou de falar que me ama — lembrou, sorrindo ainda mais alegre. — Eu não acredito, caralho! Você me ama!
— Eu vou retirar o que disse — ameaçou.
— Você não pode! Nem tem como, você mandou mensagem e eu já tirei print — contou, andando pela casa de forma dançante.
— Você não vale nada, Kwon Soonyoung!
— E você adora — riu. — Eu também te amo, bebê.
— Eu já falei que você me chamar de bebê tá fora de cogitação — reclamou, sentindo suas bochechas ficando quentes. — Mas, sério, Soonyoung, você escolheu um momento péssimo pra falar aquilo.
— Af, eu não escolhi, eu só… não consegui mais conter, sabe? — explicou. Um biquinho involuntário se formou em seus lábios. — A gente tinha conversado por horas sem parar antes de eu ir, você disse coisas tão bonitinhas que eu aposto que nem lembra, mas me tocou. Eu já tava sensível com toda situação, eu nunca soube quando seria uma boa hora pra eu dizer que te amo, mas não foi algo da boca pra fora, sabe? Você nem tem noção de quantas vezes eu tive que me segurar pra não falar que te amava antes.
— Soonyoung, cala a boca, por favor! — choramingou, escondendo o rosto no travesseiro e batendo seus pés novamente. — Para de falar essas coisas fofas quando eu não posso te beijar e te apertar, por favor! Que droga, você é fofo demais pra ser de verdade.
— Eu pareço um personagem saído diretamente de um romance?
— Não precisa forçar também — riu da careta decepcionada do namorado. — Mas sério, Soon, você…
— Soonyoung-ah! Tá pronto, filho? — a voz da Sra. Kwon interrompeu a fala do baixinho. — Com quem tá falando?
— É o Jihoon — o alfa disse, afastando o celular para que pudesse mostrar o rosto da mãe para o namorado.
— Ah! Oi, Jihoon-ah! — ela sorriu, acenando de maneira animada e o ômega sorriu ao notar que Soonyoung tinha o mesmo sorriso. — Como você está? Soonyoung já está te incomodando?
— Não tô incomodando ninguém — reclamou. — A gente já tá saindo?
— Só falta seu pai, sabe como ele é enrolado pra sair, né? — a mais velha disse, voltando a andar pela casa.
— Sei.
— Você não tá com pouca roupa? — a beta voltou a se aproximar, apertando o braço de Soonyoung e puxando a gola de sua roupa para checar.
Jihoon apenas sorria abobado, observando a família e como o namorado estava mais radiante por estar perto dos pais.
— Você vai sentir frio, trata de colocar mais roupa, anda — mandou a Sra. Kwon, empurrando o filho pelo corredor.
— Ai, tá bem, já vou — ele riu, voltando a entrar no quarto. — O que você tava dizendo, amor?
— Até esqueci — falou baixinho. — A gente conversa melhor sobre isso quando você voltar, tá bem?
— Se você sente que precisa, tudo bem — concordou Soonyoung, apoiando o celular numa escrivaninha de frente para o guarda roupa. — Mas, da minha parte, não sei se tenho o que falar. Eu gosto de você, eu te amo e acho que isso basta.
— Ugh, eu não sei se consigo ver dessa maneira tão simples — murmurou, correndo os olhos pelo próprio quarto. Ao olhar para a tela do celular de novo, pôde ver o mais velho tirando as peças de roupa de seu corpo, ficando com o tronco exposto enquanto procurava outra vestimenta no armário. — Que porra você tá fazendo, Soonyoung?
— Como assim? — se virou para ele. — Minha mãe mandou eu colocar mais roupa.
— E você vai fazer isso na minha frente?
— É, ué — deu de ombros. — Eu não quero desligar agora, ainda tô com saudade. E não é como se você nunca tivesse me visto sem camisa.
— Não entendo como sua mente consegue pensar de uma forma tão simples e te sabotar na mesma proporção — riu baixo, observando o mais velho franzindo as sobrancelhas enquanto passava uma camiseta pela cabeça. — Você vai sentir frio, amor. Usa aquela sua blusa segunda pele.
— Eu nem sei se eu trouxe ela — ponderou, tirando a camiseta e a jogando sob a cama.
Jihoon apoiou a bochecha na palma da mão e admirou as costas de Soonyoung, enquanto ele revirava o guarda roupa.
— Você levou, sim. Eu mesmo coloquei na sua mala — explicou suave.
— Achei! — exclamou, mostrando a veste escura e aproximando-se do celular novamente. — Que fofo você lembrar de colocar na mala pra mim.
— Eu sabia que você ia esquecer e acabar passando frio — riu baixinho, vendo o namorado vestir-se. — Soonyoung-ah.
— O que foi? — olhou-o.
— Você é muito bonito — elogiou, rindo quando o rosto do alfa ganhou um tom forte escarlate, denunciando que havia ficado envergonhado.
— Você falar isso quando eu tô semi nu não é um pouco…?
— Mas foi por isso que eu falei, tava te admirando.
— Credo, Jihoon, desde quando você é descarado assim? — resmungou Soonyoung, cobrindo o peito de forma dramática.
— Hum… deixa eu pensar — tocou o queixo com o indicador. — Acho que desde que um certo alfa me beijou. Ele me beija, me toca, cheira meu pescoço… Acabei gostando, sabe?
— Aish, injusto você falar disso quando eu não posso te beijar e cheirar seu pescoço — fez bico, colocando uma peça de roupa por cima da outra no corpo.
— Agora você sabe como eu me senti quando você falou que me ama — fez bico também.
— Acho que eu mereço isso — riu baixo, pegando o celular e sentando na cama assim que estava prontamente vestido outra vez.
— É, merece — riu baixo, mexendo distraído nos cabelos úmidos.
— Amor, deixa eu ver sua mão — Soonyoung pediu, de repente.
— Por que? — o ômega franziu o cenho, erguendo a mão direita para mostrá-la.
— Nunca tinha reparado que sua mão é muito bonita — comentou. — E você tá usando o anel que eu te dei.
— Sim, eu uso ele sempre — sorriu, dando um beijinho no acessório. — Seus pais já não estão prontos?
— Ainda não, tô ouvindo o barulho do chuveiro.
— Hum… eu queria te perguntar uma coisa — Jihoon começou, sentindo a vergonha crescer aos pouquinhos. — Não sei se essa é a melhor hora também, mas… sei lá, dá pra ser?
— Claro, amor. O que foi?
— Hum… Assim — mordeu o lábio inferior, tentando organizar as palavras antes de dizê-las. — Posso mandar por mensagem? Acho que vou conseguir me expressar melhor.
— Pode, vou desligar a câmera — acenou, fazendo um coração com os dedos em seguida, antes de fazer o que dissera.
Jihoon encarou a tela aberta na ligação, mostrando nitidamente a foto de perfil que Soonyoung usava no Kakao Talk, que era uma foto dos dois juntos.
Respirando fundo, o ômega voltou para o chat dos dois e começou a digitar.
— "Você sabe que eu gosto muito de você…"
— Se fosse pra você ler em voz alta, eu não escrevia, Soonyoung — brigou o baixinho, ouvindo o namorado rir.
— Desculpa, viajei.
Jihoon riu anasalado, rolando os olhos, antes de voltar a enviar as mensagens.
Você sabe que eu gosto muito de vc
E que eu quero que vc seja meu primeiro nas coisas que eu ainda não vivi
Em outras palavras
Acho que eu quero fazer sexo com você
Só que eu tenho muito medo ainda
Muito não
Um pouco
Mas ainda é assustador
E esse provavelmente não é o melhor momento pra falar sobre isso
Mas sla talvez vc estar longe me dê um pouco de coragem
E acho que é isso
Eu quero mas sou medroso
Passaram-se alguns segundos de silêncio enquanto Soonyoung lia e relia as mensagens, e Jihoon estalava os dedos de forma nervosa.
— Posso falar ou você prefere que eu responda por mensagem? — o alfa perguntou.
— Pode falar, bobo — riu baixo, apertando o travesseiro contra seu corpo.
— Olha, Jih… realmente, é um momento meio complicado pra falar sobre isso, mas… — suspirou. — Da minha parte, é tranquilo. Não é algo que me assuste. Mas eu não posso, nem vou, fazer algo sem que você tenha certeza, ok? E eu sei que você ainda tem vergonha de falar sobre isso, mas a gente vai ter que ter essas conversas mais difíceis e constrangedoras pro nosso namoro dar certo.
— Hum… — Jihoon murmurou, puxando a orelha da pelúcia de forma nervosa. — O que a gente faz, então?
— Jihoon, eu não vou fazer nada sem que você tenha certeza do que quer, ok? — Soonyoung disse sério. — Eu preciso que você tenha certeza porque... eu não sei se vou conseguir pensar direito depois, entende?
O coração do ômega acelerou com o decreto do namorado. Engoliu em seco ao passo que um sentimento novo começou a nascer dentro de si e revirar o pé de sua barriga.
Por que isso me deixou estranho? Isso me deixou… excitado?
— Soonyoung…
Antes que pudesse completar sua fala, Jihoon pôde ouvir a Sra. Kwon chamando o filho no fundo da chamada.
— Eu preciso ir agora, bebê. A gente pode conversar sobre isso mais tarde, se você quiser.
— Tá bem.
— Tchau.
— Tchau.
— Eu te amo.
— Hum… obrigado — respondeu risonho.
— Jihoonie! Fala que me ama também — fez manha.
— Não, vai ser sua punição por ter dito e ido embora.
— Tu é ruim — resmungou.
— Você vai ouvir assim que voltar pra casa.
— Você vai me buscar no aeroporto junto com o Shua hyung?
— Vou pensar no seu caso — brincou. — Tchau, aproveita o dia.
— "Carpe diem" você também.
— Uhum.
— Tchau. Eu te amo.
E então, Soonyoung desligou.
Jihoon encarou a tela do celular, aberta na conversa entre eles, e suspirou:
— Eu também te amo.
[...]
— Lee Minho, não faz eu subir aí! — Chan gritava do andar de baixo da casa, segurando seu outro irmão de seis meses nos braços, enquanto juntava alguns brinquedos espalhados pela sala. — Vem me ajudar!
— Não vou, seu chato! — o mini alfa berrou de seu quarto.
— Lee Minho, você…!
O som da campainha interrompeu o sermão que Chan havia montado em sua cabeça. Com um suspiro pesado, se dirigiu até a porta.
— Como diabos você sabe onde eu moro? — juntou as sobrancelhas ao ver Jihoon ali.
— Mingyu me disse — deu de ombros. — De onde saiu essa criança?
— Da minha mãe — respondeu, dando espaço para o mais velho entrar. — Esse é meu irmão caçula, Lee Junseo — sorriu para o bebê, que estava ocupado babando a própria mão.
— Que fofo — o ômega sorriu. — E onde estão seus pais?
— Meu pai tem uma consulta hoje, e sempre que eles saem, eles ficam o dia todo fora — explicou, fechando a porta após o menor entrar. — Aí, eu fico cuidando dos meus irmãos.
— Entendi.
— Desculpa a bagunça, Minho tá fazendo birra pra arrumar os brinquedos dele — Chan disse, soltando os objetos no pequeno baú no canto da sala.
— Não tem problema, crianças são…
— Mana! Quem é que tá aí? — Minho perguntou, descendo as escadas depressa.
— É um amigo meu da escola — o beta explicou, olhando para o pequeno encolhido no pé da escada. — Por que você não aproveita e mostra pra ele que você é bem educado e vem juntar seus brinquedos?
— Não vou! — Minho negou, agarrando o corrimão. — Você junta, seu bobona!
— Ah, é? Eu vou te pegar então — Chan disse, usando um tom falsamente ameaçador. — Segura meu poodle — virou para Jihoon e entregou o bebê nos braços dele.
O ômega travou no lugar, segurando a criança como se fosse uma espécie de bomba atômica, sem saber o que fazer com algo tão frágil nas mãos.
Minho soltou um grito divertido ao correr escada acima para fugir da irmã mais velha.
Jihoon sorriu pequeno ao notar que eles riam da mesma maneira fofa.
— Por que você é tão mole, ein? — o ômega murmurou, olhando para o bebê.
Acomodou-o melhor em seu colo, deixando ele sentado em seu antebraço enquanto a cabeça foi repousada em seu ombro.
— Você não me pega! — o alfinha gritou ao chegar na sala novamente, tropeçando no último degrau, mas logo levantando e correndo.
— Vou te pegar, sim! — Chan falou, indo atrás do irmãozinho até conseguir segurá-lo.
O pequeno se debateu com força, chutando o mais velho com as perninhas curtas, mas Chan não o soltou.
— Ai, essa fera tá muito descontrolada! — ele exclamou, balançando o menor num abraço de urso. — Ele precisa de muitos beijinhos pra se acalmar!
— Não! — gritou o menorzinho, tentando se esquivar dos selares que Chan plantava em seu rosto. — Sai, mano! Eu não quero!
O beta riu e colocou-o no chão, ainda segurando com cuidado seus braços. Abaixou-se na frente dele e ajeitou a camiseta que estava amassada.
— Por que não quer recolher os brinquedos?
— Porque é chato, noona — reclamou com manha. — Você disse que nós ia assistir um filme.
— A gente vai, mas você precisa organizar a sala antes. Não dá pra gente ficar no sofá quando ele tá cheio de bagunça, ou dá? — o alfinha balançou os ombros. — Não dá. Então, vamos fazer um combinado? Você junta todos os brinquedos, e aí eu faço pipoca pra gente, o que você acha?
— Tá bom! — exclamou feliz, começando a juntar os brinquedos quase na velocidade da luz. — Hyung! Eu posso escolher o filme?
— Pode — Chan respondeu, andando até Jihoon para pegar o bebê novamente. — Mas não escolhe nada de terror senão o Junseo fica com medo, ok?
— Tá bom! — fez joinha com as mãos pequenas.
— Tá bem, então — Chan sorriu, abaixando-se de novo. — Me dá um beijo? — Minho balançou a cabeça e beijou a bochecha do beta. — Um beijinho no seu mano mais novo? — selou a mãozinha do menor. — Obrigada — sorriu, levantando-se outra vez. — Faz sua parte que eu vou fazer a pipoca.
— Tá legal! — exclamou, saltando pela sala para guardar os brinquedos.
— Te amo, viu? — Chan disse, andando até a cozinha com Jihoon em seu enlace.
— Também te amo, mana!
O beta sorriu de canto, entrando na cozinha e abrindo os armários.
— Você é ótimo com crianças, sabia? — Jihoon disse.
— Depois de sete anos convivendo com Minho a gente aprende — riu baixo. — Mas, por que você tá aqui? Admito que é uma coisa bem estranha.
— Eu sei, foi mal, eu só não sabia a quem recorrer, sabe? — respondeu o baixinho, sentando-se na mesa enquanto observava o mais novo.
— Aconteceu alguma coisa? — olhou para Jihoon, encolhido no canto da cozinha enquanto apertava os dedos de forma ansiosa. Com um suspiro, Chan se aproximou. — Toma, segura o Junseo para mim.
O ômega franziu o cenho, mas segurou o corpo pequeno em seus braços, deixando-o deitado sobre seu ombro, enquanto Chan voltou a mexer nas coisas da cozinha, colocando a pipoca no microondas.
— Eu quero fazer sexo com meu namorado — Jihoon disse, por fim. — Eu só… não sei, ainda tenho medo e não sei o que fazer.
— E eu sou a melhor opção pra você conversar sobre isso? — Chan perguntou, um tanto irônico, virando para o menor com uma sobrancelha arqueada.
— Quero dizer… é! — disse. — Todos meus outros amigos vão dizer "só faz, porque é natural e blá blá blá", mas na minha cabeça é muito mais complicado que isso!
— Por que?
— Eu não sei!
Chan tentou prender um riso, mas falhou. Cobriu a boca para tentar esconder, apoiou-se no balcão e olhou para o amigo.
— Hyung, eu juro que não é nada demais — disse calmo. — É um passo importante, vocês devem tomar cuidado e tal, mas… — suspirou, sentando ao lado dele. — Pela minha experiência, como pessoa assexual, minha primeira vez foi algo que só aconteceu, sabe? Foi com uma garota, eu tinha 15 pra 16 anos, tinha me descoberto há pouquíssimo tempo. O nome dela era Sunhee, a gente era muito amigo, conversávamos muito e um dia acabamos nos beijando, apenas porque… sei lá, tinha química, sentimos vontade — contou nostálgico.
Pegou o irmão nos braços novamente e continuou:
— Ficamos numa amizade colorida por um tempo e, quando aconteceu nossa primeira vez, nós estávamos só nos beijando e tocando um ao outro. Como estávamos sozinhos, não tínhamos pressa, era só nós dois, estávamos nos conhecendo e, mesmo que eu nunca tivesse sentido atração sexual por ela, foi bom porque era o que nós queríamos e foi respeitoso o tempo todo. Ela sempre soube que eu era ace, então nunca tinha tentado nada, mas aconteceu porque, talvez, fosse pra ser.
Jihoon ouviu toda a história em silêncio, acenando com a cabeça para demonstrar que estava ouvindo.
— Pra mim, pessoalmente, sexo é sobre estar conectado com a pessoa de uma outra forma. Eu aprendi mais sobre mim mesmo, e sobre Sunhee, naquela tarde, do que eu jamais aprenderia conversando com ela, e eu não digo que essa parte é mais importante, mas nos conectamos naquele dia. Nós nos conectamos com outras pessoas quando rimos juntos, quando estamos conversando como agora, até quando estamos de mãos dadas. Sexo é só uma partezinha a mais e não deveria ser a mais importante num relacionamento como o seu e de Soonyoung hyung — sorriu, tentando tranquilar o mais velho. — Acho que quando chegar a hora, vocês vão saber o que fazer, vão conseguir guiar um ao outro.
— Ainda parece tão complicado — Jihoon sussurrou.
Chan suspirou, entregando Junseo para o ômega outra vez, logo se levantando para pegar a pipoca que estava pronta.
— Você já pensou em tipo… — o beta deu de ombros. — Aprender a amar ele, se amando?
— Como assim? — franziu as sobrancelhas, confuso.
— Falo de você aprender o que gosta na cama, se conhecer melhor pode ajudar nesse processo de começar a vida sexual e tudo mais — explicou, despejando a pipoca em um pote. — Entendeu?
— Entendi. É só que também… eu nunca fui de… "me tocar" — fez aspas com os dedos.
— Mas que ca… caramba — soltou o mais novo. — Você complica um pouco demais, mesmo.
— Aish, me desculpa — resmungou, escondendo o rosto na barriguinha saliente do bebê, arrependendo-se em seguida. — Puta merda, precisa trocar ele.
— Não fala palavrão, pelo amor de Deus — Chan disse, aproximando-se para pegar o irmão. — Minho tá na fase de repetir tudo que ouve, principalmente o que não pode. Puxa vida, você tá podre, Jun — brincou, beijando o rosto do bebê. — Vou lá trocar ele, espera na sala com o Minho — disse para o mais velho, entregando o balde com pipoca.
— Ah… ok — Jihoon concordou, um pouco sem jeito.
Assim que chegou na sala, viu Minho sentado no sofá, mexendo no controle da tv enquanto procurava um filme. Os olhinhos curiosos voltaram-se para si.
— Você é menino ou menina?
— Eu? Eu sou menino — falou, sentando ao lado dele.
Minho sorriu assim que viu a pipoca, aproximando-se rapidamente para pegar um punhado com a mão.
— Eu também sou — contou alegre. — Mas, Chan hyung não é, sabia?
Jihoon sorriu, observando a forma como o alfinha falava sobre Chan, com tanta admiração.
— É mesmo? — deu corda para que Minho falasse.
— Uhum! Ele me disse que ele é os dois! Legal, né? — pulou no sofá, inquieto, cheio de energia. — Ela é muito legal.
— É, ela é.
— Ah! 'Pera aí! — como se tivesse uma epifânia, Minho pulou do sofá, correndo até o pé da escada. — Chaaan! — gritou.
— O que foi?
— Você é menino ou menina hoje?
— Hoje não importa, meu amor — Chan respondeu, logo descendo as escadas com Junseo. — Escolheu o filme?
— Sim! Eu escolhi Frozen 2!
— Esse é bom — sorriu, abaixando-se quando Minho pulou em si, para ganhar colo também. — Cuidado com seu irmão.
— Tô cuidando — fez bico, abraçando o pescoço do mais velho.
— Ah, meu Deus, a carência — Chan sorriu, beijando a cabeça de Minho. — Espera no sofá que eu já volto pra assistir Frozen com você, ok?
— Tá bem — desceu do abraço do beta, correndo para o meio das almofadas novamente.
— Você quer assistir com a gente? — Chan perguntou para Jihoon.
— Não, não. Imagina, não quero atrapalhar o momento de vocês — levantou, entregando o balde de pipoca para Minho.
— Tá bem, eu te levo até a porta — o beta sorriu. — Minho, quer dar tchau pro hyung?
O pequeno apenas deu um tchauzinho com a mão, estando deveras concentrado na tela tv, onde passava o desenho.
— Tchau, Minho-ah — Jihoon retribuiu o aceno, seguindo até a saída.
— Volta com cuidado e pensa no que eu disse, mas, principalmente, pensa no que você tá sentindo — Chan falou, segurando a porta assim que o mais velho saiu. — Soonyoung hyung é louco por você, e vocês se gostam, então não vai ser uma experiência ruim.
— Eu espero que não — riu nasalmente. — Mas obrigado, de qualquer jeito. Falar com você ajudou.
— É, acho que vou me eleger conselheiro oficial de vocês — brincou o beta. — Mas, de verdade, relaxa. Acho que você tá colocando muita pressão em si mesmo, isso não é bom.
— Acho que você tem razão — mordeu os lábios, sem graça.
— É, fica de boa. Você tem instintos, o hyung tem os dele, e, mais importante: vocês tem um relacionamento saudável, então acho que isso ameniza um pouco o nervosismo — tocou os cabelos do amigo. — E, não por nada, eu já cansei de ver o Soonyoung hyung te secando e olhando sua bunda pela escola, então ele com certeza é atraído por você.
Jihoon arregalou os olhos, cobrindo a boca ao soltar um riso meio incrédulo.
— Cala a boca, garoto — bateu de levinho no ombro dele. — Eu tô indo, seu irmão tá te esperando.
— Tá bem, tchau — o mais novo disse, ainda entre risos.
— Tchau.
[...]
— Tá, vou te ensinar pela última vez — Joshua falou, segurando uma caneta.
Sentado ao lado de Jeonghan na cama dele, tentava ensiná-lo como fazer um penspinning.
Deveriam estar estudando para o vestibular que fariam no próximo ano, mas Jeonghan interrompeu tudo quando percebeu o movimento que o beta fazia com a caneta entre os dedos, incomodando-o até que ele o ensinasse.
Entretanto, era mais difícil do que Jeonghan esperava, ele era um tanto mais estabanado que Jisoo, e a caneta voando diversas vezes pelo quarto, e até mesmo em direção ao rosto do mais novo, denunciavam aquilo.
— Deixa ela cair, troca os dedos, passa por cima e repete — explicou, fazendo os passos que ditava, como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Quando Jeonghan tentou, porém, outra vez a caneta escapou de sua mão, batendo nos dedos longos do beta.
— Ai! — ele fez uma careta de dor. — Chega, não tem mais aula pra você.
— Aish, Soo — o alfa ria. — Seja mais paciente comigo.
— Jeonghan, a gente tá fazendo isso tem meia hora, devíamos estar estudando — ralhou, tentando levantar da cama para voltar aos livros, mas o mais velho segurou sua mão e o puxou para um abraço.
— Já cansei de estudar, vamos parar um pouco — pediu, deitando a cabeça no ombro dele.
— Já paramos por meia hora — argumentou, mantendo os braços caídos ao lado do corpo.
— Não é o suficiente, estamos por quase três — rebateu, segurando a mão do beta e fazendo-o passar o braço sobre seus ombros.
Jeonghan já era grudento por natureza, mas quando se tratava de Joshua, ele conseguia ser mais, sempre buscando pela atenção e contato do amigo.
— É assim que você pretende passar em engenharia, Yoon Jeonghan? — o beta ralhou, erguendo uma sobrancelha para ele.
O mais velho fez bico, virando o corpo na direção de sua alma gêmea. Por conta da proximidade, puderam sentir a respiração um do outro em seus rostos, as essências que tanto gostavam estavam mais fortes, tomando cada canto do quarto.
Jeonghan não havia respondido, e seus olhos estavam deixando Joshua perdido, então o beta desviou o olhar, rindo anasalado.
— Hannie?
— A gente ainda tem bastante tempo pra estudar, vamos aproveitar nossas férias, que tal? — barganhou, tocando no rosto de Jisoo, trazendo os olhos dele para si novamente.
— Você sabe que tá sendo muito sugestivo agora, não sabe? — falou em um tom divertido, apesar de estar engolindo em seco.
Jeonghan, em resposta, riu.
— Pensei que sua heterosexualidade fosse inabalável — afastou-se aos risos, levantando para guardar os diversos livros sobre a cama.
— Eu também pensei — murmurou, tentando rir junto. — Eu pensei isso até ter 13 anos.
— Você tá há quase seis anos questionando sua sexualidade e ainda se diz hétero, Soo? — brincou o mais velho, voltando a sentar na cama, ficando de frente para o amigo dessa vez.
— É o mais seguro, sabe? — encolheu os ombros, fitando o colchão. — Eu já disse que eu tenho medo.
— Eu entendo, não é fácil — segurou sua mão, tentando passar algum conforto. — Ainda mais com sua família e tudo.
— É — riu sem humor. — Pensar sobre isso sempre me deixa triste, eu não queria ser uma decepção pra eles.
— Você não é…
— Você não ouve o que eles falam — interrompeu, sentindo sua voz embargar. — É sempre a mesma coisa: eu não tenho nada contra, desde que não seja meu filho — secou uma lágrima. — Como se isso pudesse impedir se fosse o que eu sou, sabe? Não é como se desse para fazer uma lavagem cerebral ou algo assim, só torna tudo mais difícil.
Jeonghan suspirou, aproximando-se do mais novo e o abraçando apertado. Seu coração doía toda vez que Joshua tocava naquele assunto, era horrível sentir a inquietação, a ansiedade e a dor que sua alma gêmea sentia. Não conseguia respirar por alguns segundos, e perguntava-se como Jisoo ainda respirava como se não houvesse nada errado.
— Não importa o que eles falam, você é incrível do jeito que você é. Quem você vai beijar ou não, não muda isso — acalmou, acariciando os cabelos dele. — Eu sei que você está assustado agora, mas tudo vai passar. Quando você conseguir conversar com eles, não vai ser fácil, mas vai ser só uma questão de tempo até eles se acostumarem, eles te amam e isso não vai mudar.
— Eu não tenho certeza — sussurrou, apertando Jeonghan contra si, buscando conforto. — Por isso eu tenho tanto medo, eu não sei o que vai mudar, não sei como eles vão reagir e eu nem sei o que eu sou, então…
— Tudo bem, tudo bem — o alfa falou baixinho, secando as lágrimas do outro. — Eu também não sei como eles vão reagir e o que vai mudar em casa depois disso, mas eu posso falar como vai ser depois.
— E como vai ser? — Joshua fungou.
— Quando você finalmente conseguir dizer, por exemplo: "eu sou bisexual", você nunca vai se sentir tão livre — sorriu. — Você vai se olhar no espelho e saber quem você é. Quando você sentir orgulho de quem você é, quando sair pegando vários garotos numa noite só — riram —, vai ser libertador. E essa liberdade vai fazer tudo o que você passou valer a pena, porque nós nascemos livres e não podemos deixar que tirem nossa liberdade da gente.
Joshua sorriu. Secou suas lágrimas, conseguindo respirar um pouco mais aliviado.
— Obrigado, Hannie — olhou para ele. — Não sei o que eu faria sem você.
— Não tem que pensar nisso, porque você é minha alma gêmea, a outra metade de mim — segurou suas mãos. — Estávamos destinados a nos encontrar e nada vai nos separar.
— Promete? — ergueu o dedo mínimo.
— Prometo — Jeonghan sorriu, cruzando seu mindinho e beijando-os em seguida.
Jisoo fez o mesmo e sorriu, mas logo foi surpreendido quando Jeonghan selou seus lábios de forma rápida, não durando nem um segundo, mas seu coração acelerou de qualquer forma.
Seus olhos dobraram de tamanho ao encontrar Jeonghan novamente, este que ria travesso de sua reação.
— Prometi.
— Babaca — o beta brigou, usando um travesseiro para acertá-lo.
O alfa ria alto, tentando se defender dos ataques que eram desferidos contra si, encolhendo-se na cama.
— Nunca mais faz isso! — exclamou, levantando-se e se jogando na cadeira da escrivaninha, de costas para o mais velho.
— Desculpa — Jeonghan levantou, ainda rindo quase descontrolado. — Não faço mais — abraçou Joshua pelas costas, apoiando o queixo na cabeça dele. — Só se você pedir — brincou, recebendo uma cotovelada.
— Você namora, Jeonghan. Respeita seu namorado, por favor? — resmungou o beta, fingindo estar muito concentrado em seu livro de química.
— É brincadeira, poxa — riu, apoiando-se de frente para ele na escrivaninha. — Mas, se eu não namorasse, podia te beijar?
— Não!
— Por que não?
— Porque não, Jeonghan.
— Porque não, não é resposta — reclamou, segurando o ombro do beta puxando-o pela roupa. — Eu não faço seu tipo?
— Eu não tenho um tipo, dá licença — tentou se esquivar dele.
— Então me beijaria se eu fosse solteiro? — insistiu arteiro, começando a fazer cócegas para conseguir a atenção do amigo. — Jisoo-ah, me responde!
Perdendo um pouco da paciência, Joshua beliscou a coxa de Jeonghan, fazendo ele afastar-se depressa junto de uma exclamação esganiçada de dor.
— Não me enche — resmungou.
— Ah, mas vai ter volta — ele disse, tentando devolver o ataque às pernas do beta.
Quando tentou se desvencilhar do alfa, Jisoo acabou caindo da cadeira, puxando o mais velho ao tentar evitar a queda.
— Que merda você tem na cabeça? — o beta ralhou, tentando levantar, mas Jeonghan rindo em cima de si não ajudava.
— Ai, minha barriga tá doendo!
Jisoo acompanhou ele nas risadas, deitando no chão quando desistiu da ideia de sair dali.
Estava em casa.
Chapter 28: Chá de Malva
Chapter Text
Jihoon seguiu o conselho de Chan e pensou.
Pensou muito em tudo que estava sentindo, no que desejava fazer e como iria fazer.
Apesar de ter certeza do que queria, não sabia qual seria o melhor caminho para chegar até lá.
Queria dar mais um passo com Soonyoung, o problema era como começar, por onde começar?
Por Deus, nunca havia sequer beijado de verdade até seus 17 anos! Tinha um total de zero experiências sexuais, não sabia o que lhe agradava e, em sua grande maioria, apenas porque nunca havia pensado sobre isso sem ser de uma forma assustadora.
Jihoon nunca teve uma percepção comum sobre sexo.
Enquanto crescia e ia descobrindo as coisas do mundo sexual — fora o básico sobre reprodução que aprendera na escola — ele sentia que algo estava errado.
Bem, errado não é a palavra certa. Ele sentia que algo era diferente quando se tratava de suas ideias e as ideias da maioria das pessoas.
Como quando todos seus colegas começaram a beijar na boca e ele só conseguia achar nojento ou, no mínimo, sem graça. Até tentou deixar que uma menina lhe beijasse quando tinha seus 12 anos, mas assim que sentiu os lábios dela nos seus, pensou que aquilo estava errado e saiu correndo. Decidiu que nunca mais iria tentar aquilo de novo.
Algo parecido aconteceu quando assistiu pornografia pela primeira vez, quando tinha 14 anos. Enquanto seus colegas pareciam totalmente fascinados pelos tais filmes e revistas eróticas, sua experiência fora um tanto quanto assustadora.
Não fazia ideia do que iria ver quando abriu o site, clicando logo no primeiro vídeo, mas "desconforto" era perfeito para descrever.
Pensou que, talvez, o problema fosse o fato de ser um filme heterosexual, Jihoon não conseguia se enxergar tratando uma mulher daquela forma tão violenta, além de que não parecia algo real. Entretanto, para seu maior desespero, quando procurou algo de conteúdo gay, foi pior. Não tinha como aqueles gritos serem de prazer.
Depois de cinco minutos traumáticos naquele site, ele decidiu sair de lá e cogitava seriamente a possibilidade de queimar seu celular. Nem havia se aventurado nas demais categorias como "latinas", "ômega com ômega", "milf" e por aí vai.
Ele sentia-se deslocado. Não sabia porquê não conseguia agir como era o "normal".
Sexo apenas... Não importava.
E a forma como aquilo era retratado pelas pessoas e pelo mundo não parecia a certa para si. Tudo parecia forçado, ensaiado e até violento em alguns casos.
Diferente de outras pessoas da sua idade, Jihoon não conseguia olhar para as pessoas e sentir vontade de beijá-las, a maioria das pessoas também não importavam para si. Na puberdade, tudo parecia ter um teor sexual e ele não gostava daquilo. Ele odiava aquilo.
Parecia que as pessoas não conseguiam conversar sem estarem com os olhos e as mãos nas partes íntimas uma da outra, e aquilo o deixava perdido, confuso e com uma certa raiva de si mesmo, porque ele, simplesmente, não conseguia.
Foi apenas uns anos mais tarde, com 15 anos de idade, que ele descobriu algo nem tão novo para si: a assexualidade.
Quase chorou de felicidade e alívio quando viu que existiam outras pessoas como ele, sentindo-se acolhido e encontrado quando percebeu que não havia nada de errado com ele.
Finalmente, estava começando a se entender um pouco melhor, perceber que como ele sentia-se era, sim, normal e milhares de outras pessoas se sentiam do mesmo jeito.
Todavia, algo havia acontecido naquele mesmo ano, algo que iria bagunçar todos os conceitos que o ômega tinha formado sobre si mesmo: Kim Yoona, uma menina transferida para a escola de Jihoon.
A princípio, não achava nada da garota. Como muitas coisas, ela apenas não importava. Mas por algum motivo ela decidiu se aproximar do baixinho.
Yoona havia chegado do Japão e, sendo assim, muitos queriam ser seus amigos. Porém, ela rejeitou todos os convites para ser dupla das garotas bonitas e dos garotos fortes, e decidiu que iria sentar ao lado de Jihoon.
No começo, o Lee não havia ligado e mal tinha olhado para ela, mas a ômega começou a puxar assunto e não parou até arrancar uma palavra dele, mesmo que fosse apenas um "você não pára nunca de falar?".
Yoona permaneceu ao lado de Jihoon por semanas, até conseguir a amizade dele.
Ela era bonita, inteligente, intrigante, esperta, divertida, dentre tantas outras coisas. E ela foi a primeira pessoa que despertou algo no ômega, pela primeira vez ele sentiu vontade de beijar alguém, de estar com alguém.
Por mais que tivesse achado-a irritante no primeiro momento, aos poucos, ia se encantando pelo jeito extrovertido, o riso frouxo, os longos cabelos escuros, o sorriso bonito, os olhos brilhantes, as histórias que não parava de contar e as conversas que fluíam naturalmente entre eles.
Era estranho, pois nunca havia sentido nada daquele tipo. Tinha vontade de beijá-la, estar com ela, abraçá-la, sentir de perto a essência doce de jasmim. O primeiro e único pensamento sexual também veio, mas como um relance que logo foi ignorado.
Entrando em desespero novamente, Jihoon voltou a procurar respostas onde havia se descoberto pela primeira vez, pesquisando em inúmeros sites, matérias e blogs. Após algumas horas de pesquisa e reflexões foi que encontrou a demisexualidade.
Tudo pareceu fazer sentido, ele havia se encontrado mais uma vez. Antes, quando ele se definia apenas como pansexual, duvidava de si mesmo todos os dias, pensando nas inúmeras possibilidades e vias em sua cabeça, mas então, quando leu e aprendeu sobre o que era ser demisexual, teve certeza e nunca mais deitou a cabeça no travesseiro repensando sobre isso.
Dormia demiace e acordava demiace.
Apesar de não sentir atração sexual, Jihoon sabia que o gênero não importava, então se considerava panrromântico.
Quando decidiu e juntou coragem para se declarar para Yoona, podia-se dizer que era tarde demais, pois ela já estava indo embora para outra cidade.
No dia da viagem, Jihoon correu até a casa da Kim, focado em chegar antes que ela partisse. Nunca iria se perdoar se a deixasse ir embora sem que ela soubesse como se sentia.
Correu por cinco quadras até avistar a casa da garota, ela terminava de colocar suas malas no carro quando Jihoon chegou, ofegante demais para falar qualquer coisa.
— Yoona, espera, por favor — pediu pausadamente, buscando ar.
— Jihoon, o que aconteceu? Você tá bem? — ela perguntou, preocupada e confusa, tocando os ombros dele.
Jihoon segurou uma mão dela, enquanto a outra estava apoiada em seu joelho.
— O que aconteceu? Você…?
— Yoona, me escuta — pediu novamente, ajeitando a postura para olhá-la nos olhos. — Quando eu pensei que sabia tudo sobre mim mesmo, você chegou igual um tsunami e desconstruiu tudo isso — começou, sem ter pensado direito no seu discurso. — Eu pensei que eu nunca iria gostar de alguém como eu gosto de você, mas aconteceu e… e eu sinto muito que eu tenha demorado pra perceber isso, mas eu não podia deixar você ir embora sem saber que eu gosto muito de você e que eu quero beijar você antes de você ir.
Ao final da declaração, os olhos da ômega estavam lacrimejados e ela sorria boba. As bochechas se tornaram avermelhadas pela rapidez que seu coração batia. Estava feliz.
Num impulso, Yoona abraçou Jihoon, apertando-o como se nunca mais quisesse soltá-lo.
— Eu também gosto de você — ela sussurrou. — Você me fez amar essa cidade e eu nunca vou esquecer de você.
— Eu também não vou esquecer de você, eu prometo.
Com um sorriso enfeitando seu rosto, Yoona afastou-se de Jihoon, tocou suas bochechas e o beijou.
Diferente da outra vez, Jihoon não repudiou o contato. Ele até gostou, apesar de ser estranho, um tanto confuso e ele não saber onde colocava as próprias mãos.
Jihoon gostava de Yoona, mas eles tiveram que se separar.
Aquela foi a única vez que Jihoon sentiu desejo sobre alguém.
Mesmo assim, ele nunca havia entendido de fato aquela urgência que todos falavam, de olhar para uma pessoa e pensar: quero sentar na cara dela.
Sexo continuava não importando para si.
Bem, isso até Kwon Soonyoung aparecer.
Soonyoung havia mudado tanta coisa para Jihoon, chegando como um furacão e virando toda sua vida de cabeça para baixo.
E, não, Jihoon não olhava para Soonyoung e pensava "quero sentar na cara dele". Ou, pelo menos, não ainda.
Mas a verdade é que, desde que o alfa estava em Ancara, Jihoon sentia-se carente, de uma forma que não havia sentido até então.
Antes, quando estava mais manhoso e queria apenas um cafuné, pedia para seus amigos, que aceitavam com todo prazer. Mas desde que começou a beijar e tocar Soonyoung... Bem, sentia falta quando não estava com ele, e isso o deixava frustrado.
Não queria ser o tipo de namorado grudento que não deixa o parceiro respirar, mas não podia evitar sentir saudades do alfa.
Fazia duas semanas que ele havia viajado e, por mais que se falassem quase todos os dias, Jihoon sentia saudade dos abraços, dos beijos e dos cafunés do Kwon. Até mesmo sentia falta de quando Soonyoung beijava seu pescoço e apertava sua cintura até que ele cedesse e pedisse para que fizesse o que quisesse consigo.
E, agora com aquela distância, o ômega pensava o quão longe estava disposto a ir com Soonyoung, e a resposta era clara: até o "final".
Mas, além de virgem, Jihoon não conhecia absolutamente nada do universo sexual, apenas sabia que acontecia, mas nunca quis procurar mais profundamente sobre isso porque nunca havia sido importante para si.
Sabia que deveria começar a pesquisar mais sobre o assunto, mas tinha medo de se arrepender como da última vez e que aquilo causasse um estigma difícil de ser apagado.
Com um suspiro cansado, ele se virou na cama. Eram quase quatro da manhã e ele nem conseguia mais prestar atenção no livro que estava lendo.
Fechou o objeto e o deixou sob o móvel ao lado de sua cama, apagou as luzes e acendeu seu projetor de estrelas, deixando o ambiente com um clima confortável.
Assim que deitou e pegou seu celular, novas mensagens de Soonyoung começaram a chegar.
Fazendo as contas, Jihoon concluiu que eram dez da noite em Ancara.
[Soon<3]
Boa noite bebê
Chegamos em casa agr
Fico triste que quando eu chego já é madrugada aí :(
Vc já deve tá dormindo
Daqui a pouco eu vou tbm
Meus pais querem acordar cedo amanhã
Jihoon sorriu fechado antes de digitar a resposta:
oi amor
tô acordado ainda, não to conseguindo dormir
como foi seu dia?
Amoor ❤️❤️
não tá tarde aí?
vc deveria estar dormindo
eu tô de férias af
vou dormir tarde sim
me fala como foi seu dia
Foi muito legal!
A gente visitou um museu muuuito lindo
Depois eu te mando as fotos
E dps a gente foi até o castelo
É tudo muito bonito sério
A história tbm é interessante, vc iria gostar
❤️❤️
imagino
só pelas fotos que vc manda eu fico ✨
Queria que vc estivesse aqui :(
mas eu tô
eu sempre estou com vc <3
Boiola chora
Vc é tão fofo
Te amo tanto 😔🤲🏻❤️✨
fofo
fico feliz que vc está feliz
Gif
Gif
Jihoon riu anasalado ao receber os gifs de bichinhos com corações ao redor. Até mesmo aquela "mania" de Soonyoung o deixava bobo.
tô com saudade…
Tô com saudade tbm :(
Embora eu esteja amando muito ficar esse tempo com meus pais, queria estar com vc tbm
Quando voltar não vou desgrudar de vc por três dias inteiros
promete??
Prometo!!
<33
tô dormindo agarrado com aquele tigre que vc me deu
mas seu cheiro não tá tão forte agr :/
Derrama café nele
hahaha
posso até tentar
mas seu cheiro ainda é melhor
Aaaaaa
Não sei como reagir
Quero tanto te beijar agora
eu tbm
sinto saudade de vc me tocando
Jihoon vc não pode falar essas coisas
pq?
Pq minha carne é fraca, é por isso
hahaha me desculpa
mas é verdade, só queria vc dormindo cmg
vc pode dormir aqui quando voltar né?
vc diz só dormir ou dormir no sentido
Gif
Jihoon riu outra vez vendo um gif de um personagem de desenho qualquer levantando as sobrancelhas de forma insinuativa.
Sabia que Soonyoung estava brincando (ou achava que ele estava), então mordeu os lábios, um pouco nervoso ao digitar uma resposta.
e se for nesse sentido?
Levou alguns segundos para que Soonyoung respondesse. Jihoon encarava a tela do celular, o coração batendo acelerado enquanto esperava uma resposta.
No fundo, tinha medo que o namorado não levasse a sério, ou apenas não quisesse, mesmo que não acreditasse muito nesta última opção.
Vc tá falando sério?
eu acho que tô
Acha ou tem certeza?
eu não sei
eu tenho certeza que quero tentar ir além com vc
eu só não sei o quão longe tô preparado pra ir agora
Oq vc quer tentar, amor?
eu não sei Soon
eu sou um péssimo exemplo de virgem
eu não sei absolutamente nada
e admito que eu tenho medo de pesquisar pq a última vez que eu fiz isso foi assustador
sexo e essas coisas parecem muito assustadores
mas não quando eu tô com vc
não se for com vc
se for com vc então eu consigo
se for com vc eu não tenho medo
Alguns segundos depois, a resposta de Soonyoung veio:
Pq tá me falando isso agr?
eu sei lá só
acho que estar longe de vc me faz pensar mais racionalmente
eu pensei muito nesses dias longe de vc
e eu tenho certeza que quero vc
eu só não sei por onde começar
Vc quer que eu te ajude?
quero
Jihoon não hesitou ao responder. Logo, seu celular começou a tocar com uma chamada.
Ele atendeu e a voz de Soonyoung chegava até seus ouvidos pelos fones.
— Oi, Soon — falou baixinho.
O coração do ômega estava acelerando, batendo de uma forma diferente.
— Eu realmente espero que você saiba o que está fazendo — Soonyoung respondeu, sua voz rouca arrepiou a nuca do baixinho. — O que você quer fazer, meu amor?
— E-Eu não sei — mordeu o próprio lábio. — Eu vou confiar em você.
Pôde ouvir a respiração de Soonyoung fraquejar, assim como ele se movimentando na cama.
— No seu guarda-roupa tem um moletom meu — ele disse. — Pega ele.
Jihoon obedeceu, andou até seu armário e procurou ali o tal moletom de Soonyoung, não demorando muito a encontrar a peça acinzentada.
— Esse é seu moletom favorito — murmurou o baixinho, abraçando a vestimenta, voltando a deitar na cama.
— Eu sei, mas você roubou dele — riu baixinho.
— Não roubei nada — rebateu.
— Tem meu cheiro nele?
— Uhum — murmurou, levando o moletom até o rosto, aspirando o perfume que vinha dali.
O perfume do seu namorado. Seu Soonyoung.
— Você gosta, amor? — o alfa perguntou.
— Eu gosto — sussurrou. — Eu amo seu cheiro.
— Queria que eu estivesse aí com você?
— Sim, sim, eu queria tanto — choramingou, abraçando a peça de roupa contra o próprio corpo, aspirando quase desesperadamente o aroma do alfa.
— Você lembra o que a gente fez no seu aniversário, baby?
— L-Lembro — murmurou, sentindo o rosto esquentar com a lembrança. — O que tem?
— Você gostou daquilo?
Jihoon choramingou pela vergonha, juntando resquícios de coragem para poder responder:
— Gostei…
— Jihoon-ah, meu amor — chamou-o. — Imagina que eu estou aí com você, te tocando, te beijando… consegue imaginar?
— Consigo.
— Faz o que eu pedir, tá bem, amor? — Soonyoung disse, calmamente, palavra por palavra. — Eu quero que você vista meu moletom.
O ômega suspirou, ajeitando-se na cama para fazer o que foi pedido.
— Pronto.
— Tira uma foto pra eu poder ver?
— Eu posso ligar a câmera se você quiser — disse, ainda um tanto tímido.
— Se você não se importar que eu te veja fazendo o que eu vou pedir…
Jihoon negou com a cabeça, mesmo que o outro não pudesse ver, e ligou a câmera do celular.
A imagem de Soonyoung estava ali na tela pequena, o rosto mal sendo iluminado pelo brilho do aparelho.
No quarto do ômega, o projetor intercalava as cores lentamente, no momento, uma luz arroxeada preenchia o quarto, e essa mesma luz era refletida no rosto de Soonyoung, mesmo de tão longe.
— Você tá tão lindo, amor — o maior disse, com os olhos vidrados em Jihoon.
— Sinto tanto sua falta — choramingou, apertando o tecido entre seus dedos, trazendo-o para perto do nariz novamente.
— Calma, amor, eu tô aqui — sussurrou. — Faz mais um favor pra mim?
O ômega concordou com a cabeça, encarando Soonyoung com os olhos brilhando em expectativa.
— Deita de bruços na cama, com um travesseiro entre suas pernas.
Os olhos pequenos arregalaram-se levemente com o pedido, o sangue pulsava depressa, deixando suas bochechas quentes.
Mordendo os lábios, Jihoon obedeceu, apoiando-se pelos cotovelos para que ainda conseguisse segurar o celular e olhar para Soonyoung.
— O-O que eu faço agora?
— Acho que você sabe, bebê — sorriu de canto.
— Soonyoung…
— Se dê prazer, amor — falou baixo. — Rebole como você rebolou em mim no seu aniversário, até você gozar.
— Soonyoung! — ralhou com ele, sentindo o rosto cada vez mais vermelho. — E-Eu não fiz nada disso…
— Você fez, sim, só não lembra — sorriu ladino. — Não pensa em nada, amor, só faz o que seu corpo está mandando.
Jihoon desviou o olhar do celular, saber que o alfa estava lhe observando apenas fazia seu coração bater mais rápido.
Fechou os olhos e fez o que foi aconselhado, deixou seu corpo agir de acordo com seus instintos. Em poucos segundos, pôde sentir seu membro dando sinais de vida, o estímulo era novo, excitante e os suspiros claramente afetados que Soonyoung deixava escapar ao admirar aquela cena, faziam com que Jihoon também suspirasse, apertando os olhos conforme a sensação percorria seu corpo.
A mente viajava pelos momentos que teve com o namorado, os beijos, os toques, a forma que Soonyoung apertava sua cintura quando estavam em ocasiões mais íntimas, como ele mordia e marcava sua pele, com devoção o suficiente para fazer seus joelhos cederem.
— Soonyoung — chamou-o, apertando o lençol da cama entre os dedos.
— O que foi, pequeno? — sussurrou, a voz mais rouca e trêmula fez com que Jihoon se arrepiasse ao chegar em uma conclusão…
— O que você tá fazendo? — ergueu os olhos marejados para o namorado, vendo a forma que ele mordia os lábios e respirava com dificuldade.
— D-Desculpa, bebê… te ver assim tá me deixando louco, eu não tô conseguindo me segurar — confidenciou. — Você se importa se… se eu…?
Jihoon negou rapidamente, arfando quando viu o namorado remexer-se na cama e gemer baixo de alívio quando pôde se tocar.
— Soonyoung— fechou os olhos, apoiando a cabeça no travesseiro.
O quadril de Jihoon já se movia num ritmo constante, ele não conseguia — e nem tentava —, conter os gemidos baixos e suspiros pesados a cada vez que sua ereção entrava em atrito com as diversas camadas de tecido.
Ele não conseguia erguer a cabeça encarar Soonyoung, mas sabia que ele não estava tirando os olhos de si. Jihoon já havia percebido que o mais velho gostava de o observar, ele estava quase sempre lhe olhando e, todas as vezes que se perdiam um no outro, Soonyoung sempre, sempre, parava tudo que estava fazendo apenas para contemplar a imagem do menor com as maçãs do rosto coradas, a respiração ofegante e o tronco marcado.
Quando sentiu seu corpo dando espasmos, Jihoon apoiou uma mão no colchão, o celular estava apoiado na cabeceira de sua cama, dando para o mais velho uma boa visão do que acontecia. Ainda de olhos fechados, e sem pensar muito, o ômega adentrou suas roupas e tocou seu próprio membro, sentindo a carne pulsar entre seus dedos de uma forma gostosa.
— Jihoon, amor… — Soonyoung gemeu, atordoado pela enxurrada de sensações que vivenciava. Porra, não iria aguentar.
Sem conseguir ouvir claramente, Jihoon iniciou movimentos rápidos com sua mão, mordendo o lábio inferior com força. Sua pélvis se movia de encontro a sua palma, seu corpo suava e tremia de uma forma quase desconhecida e, em poucos segundos, ele gemeu um pouquinho mais alto ao atingir o orgasmo.
Seus braços cederam e ele deitou-se, abraçando o travesseiro abaixo de si com força. Ainda meio zonzo, ele conseguiu ouvir Soonyoung chamando seu nome de forma arrastada e, respondendo quase instintivamente, chamou-o também.
Alguns segundos passaram-se, o som das respirações tentando ser reguladas novamente era tudo que se podia ouvir.
— Porra, eu quero tanto te beijar agora — o alfa murmurou, vendo o namorado estirado sob a cama. — Jihoonie? Você dormiu?
— Não… Mas eu fiquei com sono — respondeu, erguendo os olhos para o celular outra vez, admirando o rosto corado do maior.
— Dorme, meu amor — sorriu. — A gente pode conversar amanhã.
— Soonyoung? — chamou-o, lutando para manter os olhos abertos. — Canta pra mim?
— Eu não sei cantar, amor…
— Por favor, qualquer coisa — fez manha. — Me deixa ouvir sua voz.
Soonyoung riu baixinho antes de cantarolar uma melodia qualquer. Observou apaixonadamente Jihoon fechar os olhos devagar, pegando no sono logo em seguida.
Num sussurro, confessou:
— Eu te amo.
[...]
— Eu fiz uma coisa! — Jihoon exclamou, assim que Jeonghan abriu a porta de casa.
— Hum… ok? — fez uma expressão confusa, dando espaço para o amigo entrar. — Eu vou ter que te ajudar a ocultar algum cadáver ou algo assim?
— Não, ainda não — respondeu, tirando seus calçados e indo até o sofá. — Antes de eu te contar, eu preciso que você prometa não gritar.
— Eu nunca prometo isso — negou, sentando-se ao lado do menor.
— Por favor! Você não pode fazer um grande caso com isso.
— Você já tá fazendo um grande caso. Anda, desembucha.
— Tá, assim: — começou, ajeitando-se no acolchoado. — Eu estava conversando com o Soonyoung de madrugada, porque eu acho que tô preparado pra fazer sexo com ele e esses caralhos…
— Você tá? — Jeonghan ergueu as sobrancelhas e se aproximou, ouvindo ainda mais atentamente. — Caralho, por que você não me disse!?
— Desculpa, é só que… — suspirou. — Você é meu melhor amigo e eu te amo, mas a gente pensa diferente sobre muitas coisas. Se eu te contasse, você iria só dizer pra eu, abre e fecha aspas, “dar pra ele de uma vez”.
O mais velho balançou os ombros.
— Tá, talvez mas você esteja certo — resmungou, cruzando os braços. — Eu falo desse jeito meio estúpido, mas na verdade eu não sei o que dizer. Você complica um pouco demais as coisas, não existe um manual de instruções que você deve seguir pra ter sua primeira vez, é só achar uma pessoa que você confie e seguir seus instintos, sabe? Só usa camisinha, pelo amor de Deus.
— Você vai deixar eu terminar de falar? — Jihoon bufou.
— Ah, é verdade — riu. — Foi mal, continua.
— Tá, a gente tava conversando sobre isso e… a gente — desviou o olhar, um tanto envergonhado por estar contando aquilo. — Meio que… nos masturbamos juntos por ligação — sussurrou.
— Caralho, vocês já mandaram um sexo por telefone assim?
— Cala a boca, Yoon Jeonghan — o baixinho escondeu o rosto numa almofada.
— Não é ruim, parece interessante — riu. — Cheol, você quer tentar?
Franzindo o cenho, Jihoon olhou para o mais velho, a confusão claramente estampada em seu rosto, se tornando uma vergonha misturada com raiva quando viu Seungcheol saindo da cozinha, que era perto da sala, então ele ouviu tudo.
— Por que a gente faria sexo por telefone se a gente praticamente mora junto? — o ômega mais velho disse, rindo baixinho ao sentar ao lado do namorado.
— Por que você não me disse que o Seungcheol hyung tava aqui!? — o Lee exclamou indignado, usando a almofada para bater nos dois, que riam enquanto tentavam desviar dos ataques.
— Ai, ai! Calma. Jih — Seungcheol pedia.
— Jisoo-ah! Vem nos salvar! — Jeonghan gritou.
Jihoon juntou as sobrancelhas e olhou ao redor, podendo ver Joshua rindo no corredor.
— Eu não, se eu chegar perto, ele me bate também — negou o beta.
— EU ODEIO VOCÊS! — Jihoon gritou, quase correndo em direção a porta quando Jeonghan o abraçou, impedindo-o de sair dali. — Me solta, Yoon Jeonghan!
— Calma, Jih, relaxa — o mais velho riu. — Estamos entre amigos, eles não vão contar pra ninguém.
— É, fica tranquilo — Jisoo falou, aproximando-se e sentando ao lado de Seungcheol. — Aposto que o Soonyoung tá saltitando pela Turquia agora.
O Lee revirou os olhos, jogando-se no sofá e cruzando os braços, com o rosto pegando fogo.
— Ele deve tá realizado, mesmo — Jeonghan riu baixo, abraçando Jihoon pelos ombros. — Relaxa, Jih, é só brincadeira. A gente tá feliz por vocês dois.
— Totalmente — Seungcheol concordou. — É um passo legal que vocês estão dando, e vocês gostam um do outro, então vai ser uma boa lembrança.
— Sim! E esse negócio de sexo por telefone pode ser legal, aí quando ele voltar você já vai estar mais acostumado com a ideia — o alfa dizia, mexendo despreocupado nos cabelos de Jihoon.
— Por favor, cala a boca — o menor pedia.
— Vocês conversaram sobre isso depois? — Seungcheol perguntou.
— Ainda não, quando eu acordei ele não tinha acordado e ele já teve que sair — murmurou. — Eu não quero ter essa conversa de novo, mas eu sei que precisamos.
— É um pouco constrangedor nas primeiras vezes, mas depois vai ser natural — o ômega mais velho disse.
— Há! Agora você fala, mas quando era a gente você fugia igual o diabo foge da cruz — Jeonghan acusou.
— Aish, fica quieto — o Choi revirou os olhos. — A gente era inexperiente, você foi meu segundo namorado e eu já gostava de você antes, era óbvio que eu ia ficar com vergonha.
— Você fugiu de mim por três dias quando eu falei que queria transar! — o alfa acusou, fazendo Jihoon e Jisoo rirem.
— Por que a gente tem que ficar ouvindo isso? — o beta reclamou, cobrindo os próprios ouvidos.
— A gente não falou nada demais — resmungou Jeonghan.
— A gente não devia tá falando disso de qualquer maneira — Seungcheol reclamou. — Achem outro assunto!
— Mas foi o Jihoon que começou…
— E eu já me arrependi! Achem outro assunto! — interveio o baixinho.
— Como vocês são…
A fala do alfa foi cortada quando o som alto de um celular ecoou. Joshua, que estava rindo observando a cena, encolheu-se ao pegar o aparelho no bolso.
— Foi mal, podem continuar discutindo — atendeu a chamada.
— Outro assunto, por favor — pediu Jihoon, abraçando uma almofada.
— Tá bem — Jeonghan riu baixo. — O que você tem feito nas férias?
— Vários nada, mas tô conseguindo colocar minha leitura em dia — contou.
— A gente podia fazer alguma coisa antes do natal, né? — sugeriu o alfa. — Sair juntos, sei lá.
— É uma boa ideia — Seungcheol concordou. — A gente podia fazer hoje também, tá calor e a gente tá de bobeira mesmo.
— "Calor" é só outro modo de dizer: fique em casa — retrucou Jihoon.
— Deixa de ser chato, vamos fazer alguma coisa. Quem tem ideia? — Jeonghan disse.
Joshua retornou para a sala, desligando o celular após murmurar um "tchau, mãe". Pegou sua mochila enquanto procurava seus tênis.
— Vou ter que ir pra casa, esqueci que tinha que levar os gatos pra passear hoje — explicou brevemente. — Levar eles pra dar uma volta no parque.
— Ahh! Vamos junto! — exclamou Jeonghan. — A gente pode fazer um piquenique, que tal?
— Hum… interessante — Seungcheol ponderou. — Por mim, pode ser.
— Tá bem, então.
[...]
— Valeu pelo convite, gente — Seokmin agradeceu. — Eu não aguentava mais ficar em casa, e esses malas não me chamam pra fazer nada.
Seungkwan e Mingyu fizeram caretas ofendidas, virando para o amigo.
— A gente chama e você não aceita, mentiroso — acusou o Kim, jogando uma folha nele.
— É, mas eles não sabem disso — sussurrou, mas alto o suficiente para que todos ouvissem, causando alguns risos.
Os garotos estavam sentados sob a sombra de uma árvore, haviam comprado algumas coisas para comer em um mercado qualquer. Jeonghan, Jihoon, Seungcheol, Joshua, Mingyu, Wonwoo, Seokmin, Seungkwan, Vernon e Chan conversavam animados e riam das piadas.
Hansol brincava com os gatos de Joshua, totalmente distraído da conversa que estavam tendo. Os bichanos estavam bem presos em suas guias, então não iriam fugir, e pareciam muito acostumados a sair daquela forma.
— É uma pena que Minghao e Junghwa não puderam vir — comentou Seungkwan. — Mas Junghwa noona está realizada de estar com a namorada, elas quase nunca conseguem se ver.
— Enfim, o amor — Wonwoo murmurou, mais preocupado em comer alguns biscoitos. — Assim que Minghao e Soonyoung voltarem de viagem, a gente pode fazer outro assim.
— Ia ser legal — o Boo sorriu, olhando para o namorado em seguida. — Amor, você não tá com calor?
— Pois então — Jisoo disse, olhando para Vernon, que estava usando um moletom preto. — Eu tava pensando nisso, mas não falei nada.
— Sei lá, tá normal pra mim — o alfa deu de ombros.
Seungkwan riu anasalado, tocando a nuca do namorado.
— Você tá suando, Hansol, tira o moletom, amor — pediu, puxando a barra do tecido.
Vernon deu de ombros, tirando a peça e deixando de lado. Seungkwan sorriu bobo o observando, acariciando seus cabelos de maneira carinhosa.
— Falando em calor, Jisoo tem uma piscina em casa — Jeonghan disse. — A gente podia ir lá no verão.
— E é você que convida? — Jihoon retrucou, rindo baixinho enquanto jogava um doce na boca.
— Só dei a ideia — balançou os ombros.
— Se vocês quiserem, a gente combina um dia no verão — concordou o beta. — Só preciso avisar meus pais antes, se eles chegam em casa e tem umas dez pessoas na piscina, é capaz deles chamarem a polícia achando que a casa foi invadida.
Mais alguns risos foram soltos. Era bom estar entre amigos, qualquer coisa virava motivo de risada.
— E pra eles tudo bem você só ter amigos meio? — Chan perguntou, erguendo a mão e quebrando o pulso no ar.
Joshua riu baixo enquanto revirava os olhos.
— Eles não ligam que outras pessoas sejam gays, eles só não querem que eu seja — explicou calmo enquanto descascava uma laranja. — Mas eu realmente não quero falar nisso.
— Certo, então a gente vai na sua casa e finge que somos héteros cis pra eles gostarem da gente e deixarem você continuar sendo nosso amigo — brincou o mais novo.
Jisoo revirou os olhos e não respondeu.
— Mas a ideia da piscina é legal — Mingyu comentou. — A gente pode jogar vôlei e…
— Ei! Seongsu! — um garoto disse alto, aproximando-se do grupo. — O que você tá fazendo aqui?
O alfa alto, de cabelos escuros e expressões divertidas, sentou ao lado de Chan, como se fossem amigos há anos, jogando seu braço por cima do ombro do beta. O mais novo, porém, revirou os olhos e fechou a cara.
— Já falei que esse não é meu nome — lhe deu uma cotovelada, afastando-o de si. — E não toca em mim, Jungho, já falei.
— Ah, ok, "Chan" — fez aspas com os dedos. — O que tá fazendo aqui?
— Tô com meus amigos — respondeu. — Seungkwan, Vernon, Seokmin, Shua, Jeonghan, Seungcheol, Wonwoo, Mingyu e Jihoon.
Alguns dos garotos murmuraram um cumprimento.
— E por que não me chamou, ein? — brincou, voltando a abraçar Chan pelos ombros e apertar sua bochecha.
— Porque você não é meu amigo, eu nem gosto de você — rebateu, empurrando. — Sai daqui, vai.
— Não seja tão mal, Seong — ele disse, não desistindo.
— Não me chama assim, caralho.
— Cara, você quer alguma coisa ou dá pra você ir embora? Chan, claramente, tá incomodado — Seungkwan falou irritado.
— Não precisa ficar assim, bebê — Jungho disse, sorrindo na direção do ômega com cheiro de mel. — Não precisa ter ciúmes de mim.
O Boo riu indignado, olhando para longe por um momento, buscando paciência dentro de si para lidar com aquilo.
— Por favor, não fala com ele desse jeito — Vernon pediu.
— Por que não?
— Porque ele namora.
— Com quem?
— Com ele, né, seu animal? — Chan ralhou, apontando para Hansol.
— Oh, ok. Foi mal aí — ergueu as mãos em sinal de rendição.
O beta revirou os olhos, ficando mais próximo de Seungkwan.
— Então tá, ignorando o clima pesado — Joshua falou. — Eu cortei a laranja, quem quer?
— Eu quero — Seungkwan sorriu, pegando um dos pedaços que o mais velho cortara. — Quer, amor?
— Não, valeu. Não gosto de laranja assim — Hansol respondeu, voltando sua atenção para os gatos em seu colo.
— Por que não? — Jisoo juntou as sobrancelhas. — Você toma suco de laranja.
— Eu gosto de suco de laranja, mas a fruta em si, eu não gosto — ele explicou.
— Isso não faz sentido — Jungho interveio.
— Não tem que fazer sentido — Seungkwan respondeu.
— A textura dela me incomoda, é só isso — Hansol continuou. — O gosto é bom, mas ela solta muito suco, é mole… não gosto, acho estranho.
— Isso é só frescura — Jungho disse, pegando um pedaço da laranja e estendendo para Vernon. — Só come, vai.
— Eu não gosto.
— Para de ser chato, cara…
— Ai, garoto, vai a merda! — Seungkwan exclamou bravo, pegando a fruta da mão do maior e espremendo-a no rosto dele.
— Ai, meu olho! — ele gritou, cobrindo os olhos com as mãos. — Qual seu problema!?
— Você é meu problema! Sai daqui antes que eu te bata!
— Eu quero ver você tentar, ômegazinho — Jungho respondeu, levantando.
— Tá ficando doido, cara? — Wonwoo, pela primeira vez desde que o garoto chegou, pronunciou-se, ficando de pé para intimidá-lo. — Vai ter que passar por cima de mim pra tocar em qualquer um deles.
— Ah, lá vai — Jihoon sussurrou, sorrindo contido.
— Vai embora, Jungho — Chan mandou, nem se dando ao trabalho de ficar de pé.
— Beleza, Seongsu. Quando você chegar em casa a gente conversa — ele disse, virando para sair em seguida.
Wonwoo bufou e voltou a sentar ao lado de Mingyu e Chan.
— Que cara insuportável! — Seungkwan exclamou. — De onde vocês se conhecem?
— Ele é meu vizinho — a beta contou. — E nossos pais são amigos.
— Nossa que merda, você tem que lidar com ele todo dia? — Jeonghan perguntou.
— Quase todo dia, mas eu ignoro na maioria das vezes — explicou, bebendo alguns goles do suco de caixinha.
— Não liga, Chan — Seungkwan disse, tocando os cabelos do menor. — Ele não vale seu estresse.
— Eu sei — sorriu. — Obrigada por terem me defendido — abraçou o ômega, apertando-o entre os braços.
— Ah, para com isso — ele resmungou, tentando afastar o beta já que ela estava o impedindo de continuar comendo.
Chan riu ao se afastar, aproximando-se de Wonwoo.
— Obrigado, Wonwoo hyung — sorriu, apoiando a cabeça no ombro dele de maneira rápida.
— Já tô acostumado a fazer isso — o Jeon respondeu, bagunçando os cabelos de Chan. — Se ele voltar a te incomodar, pode me chamar.
— Valeu — o mais novo sorriu, deixando que Wonwoo lhe abraçasse pelos ombros.
— Chan, por que ele tava te chamando de…? — Jisoo começou, um pouco incerto.
— É o nome que meus pais me deram — disse, antes que o mais velho pudesse terminar. — Espero que você nem lembre dele, porque eu odeio que me chamem assim.
— Ninguém nem ouviu — Jeonghan afirmou, tocando a mão da mais nova.
— Obrigada, gente. Vocês são demais.
— A gente, a gente sabe — Mingyu falou, fazendo-a rir.
A conversa seguiu normalmente, os garotos continuaram comentando histórias engraçadas, fazendo planos e comendo. O tempo passava rápido quando estavam juntos.
— Amor, você não tá com sede? — Seungkwan perguntou para Hansol em dado momento.
O alfa continuava acariciando e brincando Howl e Tokki, os gatinhos. Sua atenção estava totalmente neles, enquanto os demais garotos continuavam conversando.
— Vernon, olha pra mim, amor — o ômega pediu, tocando seu queixo.
— Hum? — o alfa ergueu os olhos pro namorado.
Seungkwan sorriu, aproximando-se dele.
— Me dá um beijinho? — fez bico.
— Uh-hum — ele negou com a cabeça.
— Só um — manhou, abraçando-o pelo pescoço.
O alfa riu anasalado e afastou o rosto quando o namorado tentou beijá-lo.
— Não, Kwan — murmurou, tentando voltar a brincar com os felinos, mas as mãos do ômega continuavam em seus ombros e pescoço, puxando-o para perto, e os lábios fofos tentando alcançar os seus.
— Tadinho, Vernon — Jeonghan disse, observando o casal. — Dá só um beijinho nele.
Seungkwan riu, aproximando-se mais do namorado.
— Viu? Só um — fez bico, tentando beijá-lo.
Vernon riu baixo, empurrando o ômega sem força para longe de si. O menor soltou-o em meio a risos baixos.
— Você é muito malvado com ele, Hansol — Seungcheol resmungou risonho.
— Não tem problema, hyung — Seungkwan acalmou, pegando um pacote fechado de doces. — Já me acostumei com o jeitinho dele.
Vernon sorriu para o namorado, voltando seu foco para os gatos quando Tokki mordeu seus dedos.
— Nunca vi eles ficando tanto tempo na volta de alguém — Joshua comentou, olhando seus pets.
— Vernon é muito bom com gatos — o Boo disse. — É um dos hiperfocos dele, quando a gente estava se conhecendo, ele ficou por umas duas horas falando sobre gatos e outras coisas.
— Eu já disse que você podia ter me interrompido e mandado eu calar a boca — interferiu o alfa.
— E eu já falei que eu gosto de ouvir você falando sobre seus interesses — retrucou, apertando a bochecha do Chwe.
— Vocês são adoráveis — Jisoo comentou.
— É, parem com isso — Chan disse. — É injusto pros solteiros terem que ficar vendo como vocês são felizes.
Seungkwan riu baixo, empurrando o mais novo pelo ombro.
— Você não estava conversando com um carinha esses dias? — Mingyu perguntou.
— Ah, eu tava — a mais nova balançou os ombros. — Ele parecia legal, a gente conversou bastante e íamos sair qualquer dia, mas a gente começou a conversar sobre nossas sexualidades, a descoberta e tals, aí, quando eu falei que era assexual ele disse que isso não existe. Ele perguntou se alguém tinha me tocado quando eu era criança e se era por isso que eu não queria fazer sexo. Não tava com paciência pra discutir com ele, aí mandei ele a merda.
— Eu teria feito pior — Jihoon disse. — Que ódio dessa gente, sério.
— É, você tem sorte do Soonyoung ser mais mente aberta e compreensivo — Chan disse, um biquinho formando-se nos lábios. — Jihoon hyung, como é ter o namorado perfeito?
O ômega riu cobrindo seu rosto, ouvindo seus amigos gargalharem e brincarem com sua cara.
— Desculpa, mas o namorado mais perfeito é o meu — Seungkwan disse.
— Ele não quis nem te dar um beijo, sai daí — Chan apontou risonho, desviando quando o Boo jogou uma embalagem vazia em si.
— Não fala dele — resmungou Seungkwan, fazendo bico.
Jihoon riu observando os mais novos, logo em seguida, respondeu:
— Ter o Soonyoung como namorado é incrível — sorriu bobo. — Sério, às vezes ele parece perfeito demais pra existir. Quando ele soube que eu era demi, no dia seguinte, ele foi pesquisar o que significava, eu acabei vendo sem querer no celular dele. E ele nunca se gabou por isso.
— Eu lembro disso — Jisoo disse. — Depois, ele ficou me contando super animado sobre assexualidade, sexo negativo, e sei lá o que…
Jihoon choramingou com gana, escondendo o rosto entre as mãos outra vez.
— Droga… eu amo ele — sussurrou.
— Você não tá interessado em dividir, não? — o mais novo brincou, recebendo um tapa leve de Mingyu, que ria.
— Por enquanto, não — Jihoon respondeu, rindo nasalmente.
— Aff, gente, eu sou carente também — Chan resmungou, aproximando-se de Mingyu, que acariciou seus cabelos.
— Mas, pelo lado bom — Jeonghan começou —, você é bonita, gostoso, engraçado, muito simpática e… — parou de falar quando notou a forma que o mais novo lhe encarava. — O que foi?
— Nada — Chan sorriu.
— Ela fica toda boba quando falam misturando pronomes — Mingyu explicou.
— Eu acho bonitinho — riu baixo. — Eu posso até estar solteira, mas pelo menos tenho amigos incríveis.
— Ei — Seokmin disse.
— Amigues também — sorriu, tocando o ombro de beta.
— Valeu, mas vocês sabem que não importa pra mim.
— Sim, a gente sabe — Mingyu concordou. — Mas, antes que o assunto se perca de novo, a gente vai fazer alguma coisa antes do natal?
— A gente pode — Seungcheol disse. — Alguém tem alguma ideia?
— Que tal se…?
A fala de Jeonghan foi interrompida quando um cachorro pequeno aproximou-se deles correndo e latindo. Com isso, os gatos de Joshua tentaram fugir, mas Vernon foi rápido em segurá-los, acabando por levar alguns arranhões no processo, os bichanos chiaram e arrepiaram seus pelos. Com o susto, Mingyu e Seokmin gritaram e tentaram se levantar, mas falharam, enquanto o restante deles gargalhavam pelo ocorrido.
— É só um cachorrinho, gente — Jisoo disse, segurando o bichinho que havia ido para seu colo. — Eu acho que conheço esse cachorro.
— O que? Tipo conexão de alma? — Jihoon ergueu uma sobrancelha.
— A alma gêmea dele sou eu, você tá me chamando de cachorro, Lee Jihoon? — Jeonghan colocou as mãos na cintura.
— Não, não é isso — o beta disse, deixando que o pomeranian lambesse seu rosto. — Eu acho que conheço…
— Kookeu! — uma garota gritou, correndo na direção deles. — Você não pode fugir de mim assim…Me desculpem, ele escapou da coleira.
Ela parou de frente para eles, apoiando-se nos joelhos para recuperar o ar.
— Nayeon? — Joshua perguntou, levantando-se.
— Jisoo? — ela sorriu, olhando para o beta. — Que surpresa, que saudade!
O Hong sorriu, abrindo os braços para recebê-la em um abraço apertado. Kookeu, o cachorrinho, estava sendo segurado por Jihoon.
— Você não vale nada — Nayeon disse. — Depois que mudou de escola, nunca mais falou comigo e com o pessoal.
— Eu sei, me desculpa — riu ao se afastar da mais baixa. — Muita coisa aconteceu, você nem imagina.
— Você precisa me contar tudo, eu não conseguia parar de pensar em você — exclamou, segurando as mãos do maior. — Nem vai acreditar no que aconteceu…
— Eu odeio interromper — Chan interrompeu. — Mas caso você não apresente ela, eu vou começar a shippar vocês e isso vai dar um nó na minha cabeça.
Nayeon riu alto, cobrindo seu rosto enquanto aceitava o convite para se sentar com eles.
— Odeio que eu pareço hétero demais — ela reclamou, sentando-se ao lado de Joshua e pegando seu cachorrinho no colo. — Eu sou Im Nayeon, eu estudava com Jisoo-ah.
— Nayeon…? — Jeonghan murmurou. — A gente não se conhece?
A garota olhou para o alfa, juntando as sobrancelhas ao perceber que ele era, sim, estranhamente familiar.
— Ah! — ela soltou após alguns segundos. — Sim! Você é Yoon Jeonghan! Você denunciou aquele cara do ônibus!
— Meu Deus! — Jeonghan exclamou, aproximando-se dela, passando por cima de Joshua no processo. — É você! Caralho, que mundo pequeno.
— O que você tá fazendo aqui? — ela sorriu, deixando que o maior segurasse sua mão.
— Sou amigo de Jisoo…
— A gente é alma gêmea, Yoon Jeonghan — corrigiu o beta.
— Sério? Que legal, e que mundo pequeno mesmo — Nayeon disse. — Jisoo era meu amigo da antiga escola…
— Eu sou seu amigo ainda! — choramingou Jisoo.
Nayeon e Jeonghan riram.
— Então, você faz o favor de me adicionar no kakao talk e fazer parte da minha vida de novo, seu besta — ela resmungou, pegando seu aparelho celular e entregando para o beta.
— Senti sua falta, Nayeon — ele sorriu, anotando o número da garota.
Ela riu enquanto suas bochechas ganharam um tom rosado.
— Eu tô me sentindo muito intrometida no meio de vocês, eu só conheço o Jisoo — comentou, olhando para os demais presentes.
— Imagina, amiga — Chan disse. — A gente só é meio surtado, mas não sendo hetero cis, tá de boa.
A ômega riu pela brincadeira, sentindo-se um pouquinho mais leve.
— São muito lésbica, graças a Deus — fez sinal de V junto de um biquinho nos lábios, rindo envergonhada em seguida.
— Ah, eu adoro a dupla dinâmica que vocês tem, então — Seungkwan falou, apontando para Nayeon e Joshua. — Falam que nada é impossível pra um gay e uma lésbica.
Nayeon riu outra vez, enquanto Jisoo revirou os olhos.
— Não sou gay.
— Eu já falei que hetero você até pode ser, cis você não é — a ômega disse, fazendo os outros rirem.
— Mas eu sou cis — ele respondeu, permitindo-se rir junto dos outros.
— Então hétero você não é! — a ômega frisou.
— Nayeon! — Joshua disse alto. — Eu já falei aqui que não quero falar sobre isso, e de você muito menos, ainda mais depois que aqueles babacas da escola me bateram por isso…
— O quê? — Jeonghan arregalou os olhos.
— O que?
— Como assim? Foi por isso que você saiu da sua antiga escola? — o alfa perguntou, sentindo uma raiva crescer em si.
— Foi, mas não importa mais — Jisoo balançou os ombros. — Eu já saí de lá, eu nunca mais vou ver eles, então eu prefiro só não falar sobre isso.
— Você podia ter me contado — murmurou. — Achei que a gente não tinha segredos um do outro…
— A gente não tem, só… — bufou. — A gente pode falar disso depois?
— A gente pode, mas você vai fugir disso depois…
— Eu não vou, prometo — ergueu o mindinho para o alfa.
E, diferente das outras vezes, Jeonghan apenas cruzou seus dedos e soltou em seguida.
— A gente comprou um monte de coisa, mas vocês ainda insistem em servir torta de climão — Jihoon falou, quando ninguém falou nada por alguns segundos.
— Puta que pariu, que coisa mais cringe — Chan falou, cobrindo o rosto ao rir em seguida.
Alguns o acompanharam nas risadas, deixando o clima mais leve. Os garotos continuaram conversando, resolvendo mudar o assunto, perguntando sobre Nayeon e dividindo com ela algumas histórias engraçadas do dia a dia, ela já estava se sentindo à vontade quando o sol estava perto de se pôr.
— Eu acho que vou indo, gente — ela disse, levantando e pegando Kookeu no colo. — Adorei conhecer vocês, espero ver todo mundo de novo e você — apontou para Joshua —, trata de me chamar.
— Vou chamar — sorriu, segurando a mão dela como despedida.
— Tchau, meninos, meninas e menines — ela acenou, seguindo caminho para fora do parque em seguida.
— Ela é muito legal, por que nunca nos apresentou? — Jeonghan ralhou com Jisoo.
— A gente acabou se afastando depois que eu mudei de escola, mas eu senti falta dela também — murmurou. — Vou chamar ela e meus antigos amigos pra sairmos juntos, aí vocês podem conhecer todo mundo.
— Eu gostei. Que tal uma festinha antes do natal? Eu apoio — Chan deu a ideia.
— Eu também! Adorei a ideia — Seungkwan exclamou, animado. — A gente pode fazer na minha casa.
— Você tava há dias esperando só essa oportunidade, né? — Vernon olhou para o namorado, erguendo uma sobrancelha.
— Você sabe que eu tava — sorriu, segurando a mão do alfa. — Hansol, você tá arranhado!
— Sim, eles me arranharam quando o cachorro veio — explicou calmo.
— Você tinha que ter falado, amor — levantou-se. — Vamos, temos que limpar isso.
— Calma, não vai acontecer nada — levantou, entregando o cordão da guia dos gatos para Joshua. — Tchau, gente.
— Tchau, a gente vai combinando as coisas — o ômega disse, acenando para o grupo antes de seguir com o namorado para sua casa.
O caminho até a casa de Seungkwan foi mais silencioso que o normal, o menor não falava quase nada e Hansol havia reparado, só não sabia se deveria perguntar se algo havia acontecido. Ele odiava quando algo acontecia, pois sabia que poderia levá-los a uma discussão, e ele não gostava nada de brigar com Seungkwan.
Assim que chegaram na casa dos Boo, eles subiram para o quarto do mais novo. Ele pegou a caixa de curativos e começou a limpar os arranhões nos braços do alfa com carinho e delicadeza.
— Kwan — Vernon chamou, recebendo um murmúrio como resposta. — O que você tem?
— Nada, por quê?
— Você nem olhou pra mim quando eu perguntei — disse, tocando o rosto dele, trazendo o olhar doce para si. — Me fala. Se você não me disser, eu não posso melhorar.
Seungkwan suspirou, afastando a caixa de primeiros socorros, ajeitou sua postura na cama mas abaixou os olhos novamente.
— Você tem vergonha de mim?
Hansol juntou as sobrancelhas, pensando não ter ouvido direito. Chegou mais perto do namorado e segurou suas mãos.
— Por que você pensa isso, amor?
— Sei lá, só… — remexeu-se, ansioso. — Eu sei que você não gosta de demonstrar afeto em público, mas você não quis me dar nem um selinho. Eu sei que eu não devo, mas eu começo a pensar e fico inseguro.
— Seungkwan-ah — chamou-o, segurando seu rosto com as mãos, encarando o fundo de seus olhos. — Eu amo muito você. Amo você, com todo meu coração. Eu não tenho vergonha de você, pelo contrário: eu tenho muito orgulho de ter você como namorado.
— E então, por que?
— Eu só… eu não quero que as pessoas pensem coisas ruins de você. Eu sei como é complicado, todo mundo já te julga o suficiente por ter duas mães — explicou, descendo o toque para as mãos do namorado. — Eu não quero que…
— Hansol, fica quieto — resmungou. — Eu não tenho vergonha das minhas mães, eu não me importo que as pessoas falem de mim, seja por causa delas, seja por estar com você. Eu não tenho vergonha de quem eu sou, eu tenho muito orgulho, na verdade. E namorar você é parte de quem eu sou, e eu quero demonstrar o quanto eu te amo, em qualquer lugar.
— Eu não sabia que você pensava assim — respondeu, acariciando os dedos esguios. — Eu não achava que você se importava, mas se é importante pra você, eu vou te beijar em qualquer lugar, segurar sua mão e qualquer coisa que você quiser.
Seungkwan sorriu, aproximando-se do namorado e lhe dando um selinho.
— Você não precisa, se não quiser…
Antes que ele pudesse terminar, Vernon segurou sua mão e o puxou para fora do quarto, descendo as escadas depressa, ignorando o menor perguntando onde estavam indo.
Hansol abriu a porta de entrada e parou no meio da rua pouco movimentada, abraçou a cintura do seu ômega e selou seus lábios.
Seungkwan, mesmo ainda estando um pouco surpreso, retribuiu o contato, abraçando-o pelos ombros e sorrindo em meio ao beijo.
— Se é importante pra você, eu faço — o alfa disse, assim que separou o contato, mantendo o corpo do menor perto do seu. — Eu nunca teria vergonha de você, nada me impede de te amar.
O ômega sorriu, apertando-o mais entre seus braços, lhe dando vários beijinhos pelo rosto bonito.
— Eu amo você — sussurrou.
— Eu também amo você — fechou os olhos quando Seungkwan encostou suas testas. — Desculpa eu não ser uma pessoa fácil.
— Eu não gosto de fácil — respondeu. — Gosto de difícil pra caralho.
Chapter 29: Chá de erva doce
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As madrugadas para Jihoon costumavam ser bem silenciosas, passava as noites de suas férias lendo livros ou assistindo séries, e ele gostava dessa calmaria, mas isso não significava que novos hábitos não eram bem-vindos.
E, bem, Jihoon sabia o quão barulhento seu namorado conseguia ser, e ele começava a pensar que aquilo poderia se aplicar a qualquer situação, pois os gemidos roucos de Soonyoung era tudo que ele conseguia ouvir naquela madrugada.
Poucos dias haviam se passado e eles continuavam naquela pequena rotina, entravam em ligação e experimentavam certas coisas.
Jihoon estava conhecendo e desfrutando das sensações que seu corpo podia lhe proporcionar, descobrindo sua própria sexualidade de outra maneira. Estava gostando.
E Soonyoung, bem, ele estava aproveitando aqueles momentos.
— Jihoon — o alfa chamou arrastado ao alcançar seu orgasmo.
Com um arrepio correndo por sua espinha, o mais novo acompanhou-o, sentindo o líquido sujando sua mão.
Ficaram alguns segundos em silêncio, regulando suas respirações. A tela de seus celulares mostravam um ao outro, e Soonyoung estava cada vez mais apaixonado pela bagunça que era Lee Jihoon pós orgasmo. As bochechas coradas, os olhos pesados, a respiração ofegante…
— Você fica tão bonito assim, sabia? — disse o maior, admirando a imagem do namorado.
— Todo acabado? Você é um garoto estranho, Soonyoung — riu nasalmente, pegando o celular para olhá-lo melhor.
— Você já me disse isso antes — sorriu, admirando Jihoon. — Você tá aguentando melhor agora, antes você praticamente apagava depois de…
— Cala a boca, cala a boca — cobriu os ouvidos, podendo ouvir o alfa rir.
— Foi mal. Mas você sabe que não precisa ter vergonha de falar essas coisas comigo.
— Meu tempo, Soonyoung, respeita — resmungou, fazendo um bico.
— Ok, todo tempo do mundo pra você. Mas, falando sério, eu não imaginava estarmos assim tão cedo — murmurou. — Ainda parece muito… sei lá, eu às vezes nem acredito que consegui te beijar, que você me pediu em namoro.
— Aish, Soon — resmungou. — Você ainda me vê como alguém muito inalcançável.
— Não é exatamente isso, como você iria se sentir se conseguisse ficar com a pessoa que você gosta há, tipo, mais de um ano?
— Eu não sei, ia ficar feliz — deu de ombros. — Não importa como seria, a gente tá aqui agora.
— Sim, eu sei — sorriu para ele. — Daqui duas semanas, eu vou estar de volta e vou poder matar a saudade que eu estou de você.
— Mal posso esperar — retribuiu o sorriso. — Você quer que meus pais te busquem no aeroporto quando você voltar?
— Não, imagina. Já falei com meus tios, eles vão me buscar no dia três de janeiro, já combinei com eles.
— Então, que tal você vir almoçar com a gente um dia? — convidou. — Eu tô com saudade mas acho que meus pais estão mais.
Soonyoung riu pela brincadeira, virando-se na cama.
— Dependendo da hora que eu chegar, posso ir aí no mesmo dia.
— Shua hyung te mata se fizer isso — riu. — Ele sente sua falta também.
— Eu sei, ele não vive sem mim.
— Larga de ser bobo, garoto.
— É brincadeira, poxa — sorriu, olhando o horário no celular. — Já tá tarde, bebê, você não vai dormir?
— Eu vou — murmurou, abraçando sua pelúcia. — Você vai dormir aqui em casa quando voltar?
— Vou, amor — sorriu. — Prometo.
— Promete?
— Prometo.
[...]
— Se eu não passar no vestibular a culpa vai ser sua, Yoon Jeonghan — Joshua acusou.
O alfa riu baixo, encolhendo os ombros enquanto admirava as estrelas de sua sacada.
Jisoo não sabia porque ainda insistiam em ficar na casa de Jeonghan para estudar, quando estudar era a última coisa que faziam. Ele não sabia porque era sempre aquela desculpa que o mais velho arranjava, mas sabia porque ele sempre aceitava.
— A gente ainda é jovem, Soo — respondeu, tocando a mão do beta. — Estamos de férias, falta uma semana pro natal, a gente pode enrolar um pouco hoje.
— O problema é que a gente sempre enrola — riu, cruzando seus dedos nos dele sem perceber. — Você me chama pra estudar, a gente não estuda, e você faz de novo no próximo dia. Você podia dizer só “vamos pra minha casa”.
— É, faz sentido — murmurou, olhando para Joshua. — Mas eu preciso de alguma desculpa pra você vir aqui quase todo dia.
— Por que você precisa de desculpa? — fez bico. — Você gostar de mim e eu ser sua alma gêmea não é o suficiente?
— É claro que sim — aproximou-se, sentando ao lado do amigo e repousando a cabeça em seu ombro. — Mas não vai ficar chato eu te chamar aqui toda hora só porque eu gosto da sua companhia?
— Por que seria se você é a pessoa que eu mais gosto no mundo? — murmurou, apoiando sua cabeça sobre a do outro.
Jeonghan sorriu, abraçando Jisoo, apertando-o entre seus braços.
— Você é minha pessoa favorita, sabia? — afastou o rosto para poder olhá-lo.
— A gente não tá sendo gays demais?
— Achei que você não gostasse que dissessem isso.
— Quando sou eu, não tem problema — respondeu, abraçando os próprios joelhos. — Se você disser, eu também não me importo, porque eu sei que você nunca falaria isso pra me ofender.
— Nem eu, nem ninguém dos nossos amigos — corrigiu, chegando mais perto e acariciando os cabelos do beta. — A gente não liga pra essas coisas, e você não precisa ligar ou ter vergonha caso… bem, você realmente seja.
— E como eu sei? — mordeu os lábios. — Eu achava que era hétero porque me falaram isso a vida toda, mas, não sei. Eu não consigo… — suspirou, sentindo seus olhos marejarem.
— Tá tudo bem, vem aqui — Jeonghan disse, abrindo espaço para que o beta deitasse a cabeça em seu colo. — Pode desabafar, eu nunca vou te julgar.
— Eu não consigo — falou com a voz embargada, lágrimas fininhas já escorriam por seu rosto. — Eu só não consigo, sempre que eu sequer penso nisso eu tenho vontade de chorar, eu mal consigo respirar…
— Tá tudo bem, pode desabafar como você conseguir — o alfa disse calmo, acariciando os cabelos castanhos. — Não tem nada que você diga que vai fazer eu te amar menos.
Fechando os olhos com força, Jisoo chorou mais, soluçando como uma criança, enquanto Jeonghan continuava ao seu lado, abraçando-o e secando suas lágrimas.
Aquilo preocupava o alfa. Sempre que estavam ele e Jisoo, o mais novo chorava por tocar naquele assunto, era como se houvesse milhares de coisas presas em sua garganta que o sufocavam, e tudo que ele conseguisse fazer era chorar, porque nunca lhe foi permitido colocar aqueles sentimentos em palavras, então as lágrimas eram a única coisa que ele podia recorrer.
— Por que eles não podem me amar assim? — sussurrou, apertando o tecido da bermuda de Jeonghan entre seus dedos. — Por que o amor deles tem que acabar quando eu não for mais o filho perfeito?
— Não é verdade, Soo. Eles te amam…
— Eles nem ao menos me conhecem, eles não têm interesse nenhum em me conhecer. Eles preferem amar a versão idealizada que eles tem de mim… mas não sou eu, eu não sou como eles queriam que eu fosse — soluçou, sentindo vontade de gritar para tirar todo aquele peso de seu peito.
— E como você é, Jisoo?
— Eu… eu não sei — fungou. — Eu nunca pude ser outra pessoa. Mas eu sei quem eu não sou. Eu não sou o filho que minha mãe espera, eu nunca fui o filho que meu pai quis… eu não sei porquê ele foi embora, mas eu ainda acho que foi culpa minha — riu fraco e sem humor.
— Não foi, Jisoo. Você era só uma criança…
— Então por que ele continua na minha consciência? Eu não me lembro de muita coisa, mas eu lembro que a gente brincava junto, ele me colocava pra dormir quando minha mãe tinha que fazer plantão no hospital — contou baixinho, conseguindo acalmar um pouco seu pranto. — Eu não consigo me lembrar de muita coisa, eu não consigo nem ao menos sentir saudade dele, mas ainda me machuca e eu não sei porquê.
Jeonghan suspirou, sem saber o que falar, continuava acarinhando Jisoo, esperando que aquilo fosse o suficiente para que seu coração não doesse tanto quanto poderia. E realmente era.
— Eu só queria que minha mãe e Seunghoon tivessem orgulho de mim, eu só queria que eles me enxergassem e vissem quem eu sou, tudo que eu posso fazer. Eu não entendo porque as coisas têm que ser tão complicadas pra eles. E daí que eu não sinto atração por mulheres? E daí que eu não sou um alfa? E daí que Soonyoung namora um garoto? E daí que eu não quero fazer faculdade de medicina? E daí!? Por que minha vida tem que ser o que eles esperam e não o que eu quero viver?
Joshua sentou-se novamente, abraçando seus joelhos e chorando, derramando tudo que carregava em seu peito.
Jeonghan acabou acompanhando-o nas lágrimas, seu coração estava doendo de uma maneira que ele nunca havia sentido. Era angustiante e ele tinha vontade de fugir dali, correr para longe e gritar até que aquela sensação saísse de si… mas aqueles sentimentos vinham de Jisoo, toda aquela dor estava no reflexo de sua alma, e ele nunca o deixaria tendo que lidar com toda aquela dor sozinho novamente.
Aproximou-se e o abraçou com toda força que tinha, esperando que conseguisse afastar pelo menos um pouco de toda aquela mágoa. Só um pouco…
— Eu sinto muito, Soo, eu sinto muito mesmo — fechou os olhos, abraçando-o com força. — Eu não sei como te ajudar, mas eu tô com você, eu tô do seu lado. Você nunca mais vai ficar sozinho, eu prometo.
O beta retribuiu o abraço, apertando Jeonghan contra si, também esperando que ele pudesse livrá-lo um pouco daquela angústia.
Não soube dizer por quanto tempo haviam permanecido daquela forma, o tempo parecia ter parado apenas para os dois.
Quando finalmente conseguiu respirar mais aliviado, o coração de Joshua já não doía tanto, seu peito estava mais leve e ele conseguiu sorrir, apertando sua alma gêmea num novo abraço.
— Obrigado, Hannie — sussurrou. — Eu amo tanto você. Não sei o que faria sem você na minha vida.
— Não precisa pensar sobre isso — tocou o rosto do beta, secando suas últimas lágrimas. — Eu nunca vou sair do seu lado, eu prometo.
— Promete? — ergueu seu mindinho.
— Prometo — cruzou seus dedos, plantando um selar ali em seguida, tentou aproximar-se de Joshua para lhe dar o selinho da pequena “tradição”, mas ele se afastou, rindo da careta ofendida que o alfa fez. — Jisoo!
— Eu não vou te beijar, seu idiota — negou, tentando se afastar quando Jeonghan segurou seu pescoço. — Para!
— Chato, sabe quantas pessoas matariam pra ter a chance de beijar essa boquinha? — apontou para os próprios lábios.
Jisoo riu, negando com a cabeça enquanto secava os últimos resquícios de lágrimas de seu rosto.
— Seu namorado é o primeiro da fila — apontou. — Ele me dá um soco se souber que você fica me dando selinho.
— Dá nada, ele sabe que a gente é amigo — balançou os ombros, aproximando-se de Joshua e jogando um braço sob seus ombros. — Você tá melhor?
Ele concordou com a cabeça, acomodando-se naquele abraço.
— Tô, sim.
— Você ainda tá desanimado…
— Acho que é normal — riu nasalmente, franzindo as sobrancelhas quando Jeonghan se levantou. — Onde você vai?
— Vou colocar uma música pra você se animar — pegou seu celular, conectando na caixinha de som. — Qual você quer?
— Nenhuma, Han, quero que você volte pra cá — manhou.
— Nananinanão, você vai dançar até esquecer essas tristezas — olhou-o fixamente, cerrando os olhos de uma maneira cômica. — Já sei.
— Já sabe o que?
— A música — sorriu vitorioso, procurando a faixa em seu celular.
Logo, o som tocava pelo quarto. Jisoo riu quando reconheceu a melodia.
Jeonghan começou a cantar as batidas da música, chegando mais perto de Joshua conforme dançava de um jeito desengonçado. O beta negava com a cabeça, ainda rindo do mais velho, que aproximava-se cada vez mais, chamando-o para se juntar a si.
— Vem, Soo. Eu sei que você quer — segurou as mãos do amigo, fazendo-o levantar do chão.
Cedendo, por fim, Joshua levantou e começou a cantar junto:
Darlin’, you got to let me know
Should I stay or should I go?
If you say that you’re mine
I’ll be here ‘til the end of time
So you got to let me know
Should I stay or should I go?
O alfa sorria, segurando as mãos do mais novo e o embalando para dançarem juntos, sem se preocupar em seguir o ritmo da música. Balançavam as cabeças e deixavam os pés seguir sem rumo ao lado um do outro, dando piruetas e cantando mais alto conforme o refrão chegava.
Jeonghan subiu em sua cama, puxando Jisoo e o incentivando a pular junto de si. As risadas preenchiam o ambiente junto da música e das vozes falhas pela respiração ofegante sempre que tentavam cantar juntos.
— Well, come on and let me know — gritaram a plenos pulmões. — Should I stay or should I go? Should I stay or should I go now?
O alfa pulou para o chão novamente, pegando sua escova de cabelo para usar de microfone, apontando na direção do amigo enquanto cantava mais alto. Jisoo apenas conseguia rir, tentando acompanhar a letra da música.
— If I go there will be trouble! An’ if I stay it will be double! So come on and let me know! — cantou o alfa, jogando a escova para o beta em seguida. — Vai!
Mesmo sentindo-se tímido e sendo mais contido, Joshua imitou Jeonghan e saltou da cama, cantando a plenos pulmões:
— Should I cool it or should I blow?
— Whoa! — gritou Jeonghan, dançando pelo quarto. — Should I stay or should I go now?
— If I go there will be trouble! An’ if I stay it will be double! So you got to let me know!
— Should I cool it or should I blow? — cantaram juntos.
Joshua ria alto, sentou-se na cama para recuperar o ar e ficou observando o alfa dançar e cantar, de uma forma tão livre e espontânea que fazia seu coração acelerar.
O sorriso de Jisoo acabou diminuindo conforme seus pensamentos explodiram em seu peito quando ele percebeu…
[...]
— Seongsu! Volta aqui agora! — Yejun, o pai de Chan, gritava.
— Papai! Chan não gosta que chamem ela assim! — Minho exclamou, tentando segurar a mão da irmã.
Chan, por mais que odiasse deixar seu irmãozinho sozinho, não conseguia mais ficar naquela casa por muito tempo. Tentava pegar suas chaves para sair, mas Minho agarrava seu braço, pedindo choroso para que não fosse.
— Minho, para com isso, também! Viu o que você faz? — a Sra. Lee disse, irritada, segurando Junseo, que chorava, no colo. — Faz seu irmão acreditar nessas… nessas coisas que você inventa!
— Fica quieta! Para de falar comigo! — Chan gritou, afastando Minho de si antes que explodisse com ele também. — Se você não pode me respeitar, ao menos, me deixa em paz quando eu preciso!
— Não fale assim com sua mãe! — o alfa berrou. — Somos seus pais.
— Exatamente! Vocês deveriam ser os primeiros a me acolher, mas vocês são os primeiros a fazer eu me sentir um lixo!
— Lee Seongsu!
— Chan! Não vai, por favor!
A beta sentia vontade de gritar, queria sair correndo dali, todas aquelas vozes não a deixavam pensar racionalmente. Estava quase entrando em pânico e não sabia o que fazer, por mais que aquele tipo de situação fosse até corriqueira.
— Minho, me solta — pediu baixo, sentindo sua garganta se fechando em um nó.
— Não, Chan! Não vai, por favor! — ele chorou, agarrando-a com força, tentando pular para seu colo.
Chan apertou seus olhos, cerrando os punhos. Num ímpeto inconsequente, segurou os braços do irmão menor e o empurrou para longe de si, correndo para a porta de saída.
Subindo em sua bicicleta, ela saiu pedalando dali o mais rápido que conseguia. Lágrimas escorriam por seu rosto, dificultando sua visão, mas não foi um problema tão grande já que Chan sabia o caminho que iria seguir de cor.
Assim que chegou, desceu de sua bicicleta, deixando-a jogada no chão e sentou-se na grama a sombra de uma árvore. Abraçou seus joelhos com força e permitiu-se chorar, ainda sentia vontade de gritar, estava sendo sufocada por todas as vozes em sua cabeça e não sabia como fazer aquilo parar.
Não soube dizer quanto tempo ficou ali, mas estava sozinha, então podia chorar tudo que estava lhe machucando, deixando que cicatrizasse, mesmo que soubesse que aquelas feridas seriam abertas novamente, mas não via outra opção no momento, era tudo que podia fazer.
Quando conseguiu se acalmar um pouco e cessar seu choro, apenas ficou ali, observando o movimento da cidade. Podia ouvir alguns carros e pessoas passando atrás de si, mas não dava importância, não conhecia ninguém que morasse ou visitasse aquela parte da cidade, ou pelo menos era o que pensava até ouvir passos aproximando-se de onde estava, quando ergueu o olhar pôde ver Joshua ali.
Franzindo as sobrancelhas, Chan perguntou:
— O que você tá fazendo por aqui?
O beta deu de ombros, sentando ao seu lado. A menor secou seu rosto disfarçadamente.
— O que você tem? — olhou-a preocupado.
— Perguntei primeiro — devolveu o olhar. — O que tá fazendo aqui?
— Por que você tava chorando? — afastou alguns fios da franja que recaíram sobre os olhos.
— Deixa de ser intrometido e me responde — resmungou, afastando a mão do mais velho.
— Não tô sendo intrometido, tô sendo seu amigo — aproximou-se mais.
Chan suspirou, correndo os dedos por seus cabelos, penteando-os para trás antes de responder:
— Briguei com meus pais, só isso — deu de ombros, como se não fosse nada demais. — Sua vez agora, o que tá fazendo aqui? Sei que você mora bem longe.
— Aconteceu uma coisa, eu saí pra caminhar e acabei voltando pra cá — suspirou também. — Não sabia o que fazer.
— O que aconteceu?
— Eu… — franziu o rosto, respirando fundo para finalmente verbalizar: — Eu tô apaixonado pelo Jeonghan.
Chan ficou em silêncio por um tempo, seus lábios se apertaram numa linha reta e ela tocou as mãos do mais velho, buscando as palavras certas.
Não as achou.
— Eu sei — murmurou. — Seus olhos já diziam isso há algum tempo.
— Por que não me disse nada? — fungou.
— Eu achei que você já sabia, oras — disse, um tanto perdido. — Como que eu ia apontar na sua cara e dizer o que já era óbvio? Fora que… caralho, Shua oppa, ele namora.
— Eu sei disso — exclamou, não conseguindo conter suas lágrimas. — Mas o que eu posso fazer? Eu não controlo isso, a gente não manda nos nossos sentimentos.
A mais nova suspirou, sentindo vontade de chorar novamente, sem saber direito porquê.
— O que você vai fazer agora? — perguntou com cuidado.
— O que eu posso fazer? — encolheu os ombros. — Eu não posso contar pra ele, ele vai se afastar e eu não quero isso, eu quero ter ele do meu lado, mesmo que só como amigo. Não posso contar pros meus pais, Soonyoung vai surtar se souber… O que eu posso fazer?
— Ficar próximo dele não vai fazer esses sentimentos sumirem, não vai ajudar a superar…
— Superar nunca foi uma possibilidade — negou com a cabeça. — É muito forte, Chan, eu nunca senti nada assim antes.
— Porra, isso não é bom — esfregou seu rosto.
— Eu sei, mas… eu não sei o que fazer — soluçou.
Chan aproximou-se e abraçou o mais velho, tentando o confortar.
— Eu nem sei o que te dizer… Bem-vindo ao vale? — tentou brincar. — É uma merda, mas você vai adorar.
Joshua riu baixo, bagunçando os cabelos da menor.
— Não foi isso exatamente que eu imaginei pra minha vida com 19 anos — secou seu rosto com a manga do seu casaco. — Eu preciso pensar, mas só isso já vai ser difícil pra caralho.
— Vai, é verdade — disse, voltando a sentar ao lado dele e acariciar seus cabelos. — Mas você não vai passar por isso sozinho. Todos vão estar com você: eu, Soonyoung, Mingyu… Todos vamos estar do seu lado.
— Valeu, Chan — sorriu, apesar de ainda sentir-se triste e confuso. — Eu abri meu coração, sua vez agora.
— Como assim?
— Por que você tá aqui? O que seus pais falaram? — olhou-o atento.
O pequeno sorriso que ela sustentava foi diminuindo até sumir completamente de seu rosto. Voltando a observar a rua, Chan fungou antes de liberar suas lágrimas novamente.
— É o mesmo de sempre. Eles não respeitam quem eu sou, me culpam por coisas que não são minha culpa… Que culpa eu tenho se meu pai não consegue fazer certas coisas? Eu faço tudo que ele me pede, eu nunca reclamei sobre isso, e não fui eu que dei aquela doença pra ele — escondeu seu rosto entre os joelhos. — Eu nunca fiz nada pra eles, eu sempre tentei ser uma boa filha, mas só porque eu… só porque eu peço um pouco de respeito, eles brigam comigo, eles agem como se eu tivesse feito algo horrível. Ainda brigam com meu irmão, que é o único que tenta me entender naquela casa — soluçou, lembrando-se de Minho. — Eu não queria ter saído daquele jeito, mas eu não aguentava mais ficar lá. Ele chorava, Shua oppa, ele chorava e pedia pra eu não ir!
Jisoo abraçou-a, tentando consolá-la da maneira que podia. Chan retribuiu o contato, apertando o mais velho conforme chorava outra vez.
— Tá tudo bem, ele vai entender.
— Ele tem só sete anos, ele é tão pequeno e… eu empurrei ele pra longe, eu não conseguia mais e ele não me deixava sair, eu empurrei ele e corri — cobriu seu rosto. — Eu não posso machucar ele, eu não posso. Eu nunca iria machucar ele…
—Ei, ei — Joshua falou, tocando o rosto dela e trazendo o olhar para si. — Olha pra mim, tá tudo bem. Você só tem 17 anos, você não tem responsabilidade de cuidar de uma criança, Chan.
— Mas ele precisa de mim.
— Fica calmo — secou seu rosto. — Você também é muito novo, ok? Não seja tão duro com você mesmo, eu tenho certeza que seu irmão te ama muito.
Não sabendo o que responder, a mais nova apenas abraçou Joshua novamente, permitindo-se chorar no ombro dele. Sendo apenas aquilo o suficiente. Jisoo permaneceu ali, confortando-a da forma que conseguia.
Após alguns minutos, o pranto de ambos foi acalmado, mas permaneceram sem falar, sem saber como deveriam preencher aquele silêncio e ele não precisava ser quebrado se não tivessem o que dizer.
— Posso perguntar uma coisa? — o mais velho perguntou, após um tempo de silêncio.
— O que? — olhou-o.
— Qual foi a reação do seu irmão quando você contou que era… esqueci o nome, foi mal.
— Gênero fluído?
— Isso — estalou os dedos. — Quantos anos ele tinha?
— Ele tinha… seis — disse, após fazer os cálculos. — Eu não planejava contar pra ele por enquanto, porque achava ele muito novo, não sabia qual seria a reação dos meus pais. Mas ele já me chamava de Chan, porque eu… — riu baixo. — Eu tinha dito que Chan era meu nome de verdade, e expliquei que não gostava de como nossos pais me chamavam. E, por incrível que pareça, ele entendeu e disse que Chan era muito mais bonito.
Joshua sorriu levemente com o relato, podendo perceber pela forma que a mais nova falava todo o amor que ela sentia pelo irmão.
— Um tempo depois, ele me viu chorando no quarto depois de uma briga com nossos pais e perguntou porquê — continuou. — E eu expliquei que às vezes eu era um menino, às vezes eu era menina, como consegui explicar na hora.
— E o que ele disse?
— Que sendo menino ou menina, não fazia diferença porque eu ia continuar sendo feio — riu, secando suas bochechas.
O mais velho riu também, surpreso pela resposta inusitada. Ficou mais aliviado em ver Chan sorrindo.
— Ele é uma figura.
— Sim — a mais nova concordou. — E mesmo ele tendo praticamente me xingado, eu chorei muito, mas de emoção porque ele foi a primeira pessoa da minha família a aceitar aquilo e me amar da mesma forma. Sério, eu amo tanto ele.
— Eu sei que ama — tocou os cabelos alheios. — E ele ama você.
Chan acenou com a cabeça, não tendo mais nada a acrescentar.
Então, Jisoo pegou seu celular e deu play em uma playlist mais calma, deixando que a melodia chegasse aos seus ouvidos. Chan, vez ou outra, cantarolava quando conhecia a música.
— Está ficando tarde — disse o mais velho.
— O sol está longe de se pôr — Chan respondeu.
— Eu sei, mas a gente tem que voltar pra casa.
— Eu não quero voltar ainda.
— Você não pode ficar aqui pra sempre.
— Só mais uma música — pediu.
Joshua cedeu, entretanto, na metade da melodia, seu celular começou a tocar, interrompendo o momento.
— É minha mãe — disse antes de atender. — Oi, mãe. Vocês já estão em casa?
— Filho, onde você tá? Vem pra casa.
— Eu tô com um amigo, daqui a pouco já estou indo.
— Não, a gente precisa que você venha agora, temos que ir pro aeroporto.
— Que? — franziu as sobrancelhas. — Como assim? O que aconteceu?
— Seus tios, eles… — ela suspirou, parecendo perdida. — Eles tiveram que cancelar a viagem, aconteceu alguma coisa, não sei. Pediram pra gente buscar o Soonyoung no aeroporto, mas como eu estava em cirurgia só vi agora. Daqui duas horas, ele chega.
— Que droga, eu já tô indo — levantou depressa. — Cadê o Seunghoon?
— Ele tá de plantão, não vai poder ir com a gente.
— Tá bem, logo mais eu tô em casa. Tchau.
— O que aconteceu? — Chan perguntou, levantando-se também.
— Soonyoung tá voltando, eu e minha mãe vamos buscar ele no aeroporto, mas deu alguma coisa e daqui a pouco ele tá aí e a gente tem que estar lá — explicou rapidamente.
— Como assim? Eu achei que ele voltasse só daqui duas semanas… — ela pegou a bicicleta.
— Eu não sei, alguma coisa aconteceu, eu não entendi. Eu tenho que ir.
— Sobe aí, vai ser mais rápido — montou, esperando que o mais velho subisse.
Chan pedalou depressa, sentindo Joshua agarrar-se em si com medo.
— Vai devagar, não desce a rua muito rápido, Lee Chaaan! — gritou, fechando os olhos e apertando a menor com força.
Ela não conseguiu se segurar e acabou rindo do jeito medroso do beta.
Assim que pararam na frente da casa, Jisoo desceu, resmungando que “quase morreu umas vinte vezes”, enquanto Chan continuava rindo baixo.
— Mas não morreu — rebateu ela. — Me manda mensagem depois explicando o que aconteceu, tá bem? Qualquer coisa tô aqui.
— Tá bem. Valeu pela carona e… por todo resto — sorriu, aproximando-se para abraçá-la uma última vez.
— Você ficou bem à vontade depois que saiu do armário — brincou, recebendo um beliscão. — Ai!
— Não vamos falar sobre isso por enquanto, tá?
— Certo, no seu tempo — sorriu, bagunçando os cabelos dele. — Até qualquer dia.
— Tchau.
Chan voltou a pedalar, seguindo para sua casa numa velocidade muito menor do que antes. Não tinha pressa para chegar e, se fosse sincera, nem ao menos queria voltar naquele dia. Daria tudo para poder fugir para algum lugar, mas sempre acabava voltando, pelos seus irmãos e também por sentir que não tinha outro lugar que pudesse ir.
Quando chegou, deixou a bicicleta na garagem e entrou. Tudo estava silencioso, até poderia pensar que seus pais não estavam em casa, mas o carro estava estacionado.
Eles estavam na sala, um programa qualquer passava na TV. Junseo estava dormindo no colo de sua mãe.
— Onde você estava, filho? — Seoyun, a mulher, perguntou assim que viu Chan.
— Lugar nenhum — respondeu seco, andando até as escadas.
— Espera — Yejun disse.
Chan parou e deu meia volta.
— Você não pode sair correndo toda vez que acontece alguma discussão.
— Eu não vou ficar e ouvir vocês gritando comigo, desculpa — negou rapidamente. — Quando vocês quiserem conversar racionalmente e com calma, eu não vou fugir.
Os mais velhos suspiraram, sem paciência alguma para lidar com aquilo agora.
— Você machucou seu irmão — disse a ômega.
Chan arregalou os olhos e engoliu em seco, sentindo seu coração se partindo em milhões de pedacinhos. Sentiu vontade de chorar outra vez.
— Onde ele tá?
— No seu quarto.
A beta subiu a escada de dois em dois degraus, praticamente correndo até a porta no corredor, mas, assim que chegou, teve que contar até três antes de entrar.
Minho estava sentado em sua cama, lendo uma revista em quadrinhos qualquer que Chan tinha por ali. Assim que viu a irmã, olhou-a de relance e voltou os olhos para a HQ, mesmo que não estivesse lendo de fato.
— Posso deitar do seu lado? — ela perguntou, aproximando-se devagar.
Ele concordou, abrindo espaço no colchão. Chan sentou ao lado do mais novo, tocando seus cabelos.
— Você… você tá machucado, pequeno?
Ele acenou com a cabeça de maneira positiva. Duas lágrimas escorreram pelo rosto de Chan.
— Onde?
— Aqui — apontou para seu cotovelo, que estava arranhado, não era grande coisa, mas cortou o coração da mais velha.
— Me perdoa, meu amor — segurou sua mão. — A mana não queria te machucar. Eu amo você.
— Eu sei, mana — olhou-a, chegando mais perto e estendendo seus braços.
Chan abraçou Minho apertado, fechando os olhos ao fazê-lo.
— Me desculpa, meu amor, me desculpa — chorava baixo, sem saber o que fazer.
— Eu desculpei já, mano — respondeu, acariciando os cabelos de Chan com as mãozinhas pequenas. — Você ficou irritada por que a mamãe e o papai estavam falando aquelas coisas?
Concordou com a cabeça, soltando-o do abraço para que pudesse olhar em seus olhos.
— Você não precisa pensar nisso, tudo bem? — sorriu fechado. — Eles não fazem por mal, eles só são… teimosos.
— Eu não… eu não queria que eles fizeram você chorar — tocou o rosto da irmã, afastando as lágrimas intrusas com seus dedinhos. — Você sempre cuida de mim e do Jun, e eles também… porque eles amam a gente, né?
— Sim, eles amam, amam muito — respondeu, não conseguindo controlar seu choro. — Por isso, você não precisa se preocupar, tá bem?
— Por que você ainda tá chorando, mana? — Minho perguntou, a vozinha ficando embargada.
— É complicado, bebê.
— Você tá triste?
Chan acenou com a cabeça, mantendo seu olhar baixo. Sentiu, então, as mãozinhas de Minho tocando seu rosto.
— Tá tudo bem, noona — ele disse baixinho, abraçando-a outra vez. — Diz pra você, igual você fala pra mim?
— O que eu digo?
— Você é boa, você é inteligente, você é importante...
Ela fechou os olhos, chorando mais ao ouvir as palavras do irmão, então completou:
— Eu te escuto. Eu te acolho. Eu te amo.
Chapter 30: Chá de Capim Limão
Chapter Text
Jihoon estava preocupado, muito preocupado. Fazia três dias que Soonyoung não respondia suas mensagens e aquilo era estranho.
Mesmo longe, o alfa sempre dava um jeito de mandar alguma coisa, nem que fosse uma foto de um lugar que ele achou mais bonito, ou um simples boa noite. Mas nada, não havia nada desde a última vez que conversaram por ligação.
Jihoon não queria parecer desesperado ou aqueles tipos de namorados que não saem de cima do parceiro, mas não conseguia evitar de se sentir aflito. Não era normal ele sumir por dias assim, mesmo estando em um país mais distante.
— Filhote? — Taesuk chamou assim que chegou na cozinha e notou o filho ali, parado. — O que aconteceu?
— Hum? — piscou, olhando para o pai, ele carregava uma caixa de decorações natalinas. — Eu te ajudo. Tô bem, não aconteceu nada comigo.
— Aconteceu com outra pessoa? — perguntou deixando que o menor pegasse a caixa, deixando-a sobre a mesa.
O ômega mais novo suspirou, mordendo os lábios ao ponderar.
— Faz uns dias que o Soonyoung não me responde, tô preocupado só…
— Ele tá viajando, filhote. Ele deve estar aproveitando a viagem com os pais dele, só isso — tentou acalmar, pegando alguns enfeites dourados.
— Eu pensei isso, mas é estranho, ele sempre manda alguma coisa — murmurou. — Eu não quero ficar sufocando ele, mas é…
— Tá tudo bem, você só tá preocupado — o homem sorriu, acariciando os cabelos do filho. — Você quer um abraço?
Jihoon concordou com a cabeça, entrando nos braços do pai e apertando-o ali. Tinham quase o mesmo tamanho, mas o mais novo sentia-se muito acolhido no abraço de seu pai, e sabia que tinha sorte de sentir aquilo.
— Por que você não pergunta pros tios dele? Talvez ele tenha falado com eles.
— Acho que é uma boa ideia — concordou, afastando-se. — Quer ajuda com as decorações?
— Não vou arrumar agora, só trouxe pra cá antes que sua mãe resolvesse fazer tudo sozinha — riu baixo, acariciando os cabelos do filho. — Pode ir, não se preocupa.
— Tá bem, obrigado, pai — abraçou-o uma última vez. — Te amo.
— Também te amo, filhote — sorriu.
Jihoon saiu dali e subiu até seu quarto para buscar seu celular. Não tinha o número dos tios de Soonyoung, mas felizmente, tinha o telefone de Joshua e foi para ele que mandou mensagem.
oi hyung
desculpa tá te incomodando
o soonyoung não me responde há uns dias
vc sabe me dizer se ele tá bem?
eu não quero me preocupar nem alarmar ninguém
só achei estranho…
enfim, se souber de alguma coisa me diz
Demorou algum tempo até que o mais velho respondesse as mensagens.
Oi Jih
Aconteceu uma coisa
Mas eu achei que ele tinha te contado
oq aconteceu?
ele tá bem?
Ele tá em casa
Ele teve que voltar mais cedo da viagem
Achei que ele tivesse te falado
Jihoon sentiu-se confuso ao ver as mensagens, não entendia porquê Soonyoung esconderia aquilo dele. Estavam morrendo de saudades um do outro, então por que ele não havia dito que estava de volta? E por que ele teve que voltar mais cedo se só iria voltar no próximo mês?
ele não me disse nada…
como ele tá?
Nada bem
Teve algum problema na agência dos pais dele e tiveram que mandar ele de volta antes
Foi literalmente de um dia pro outro
Ele não falou mt desde que chegou
Honestamente eu não sei oq fazer
Meus pais tbm estão preocupados mas ninguém sabe como ajudar
isso é horrível
tem alguma coisa que eu possa fazer pra ajudar?
Vc quer vir ver ele?
eu devo?
Não sei
A gnt já tentou de tudo
Talvez ele melhore se ver vc
Mas só se vc quiser, não se sinta pressionado
É uma situação complicada
Jihoon mordeu os próprios lábios, pensando no que deveria fazer. Se Soonyoung não havia dito nada, provavelmente não queria vê-lo, mas ele não conseguiria apenas ficar de braços cruzados quando sabia que seu namorado estava lá, sofrendo sozinho com um turbilhão de sentimentos que Jihoon não podia nem imaginar.
eu vou
[...]
Antes de sair de casa, Jihoon preparou gilgoeri toast para Soonyoung, imaginando que ele não havia comido. No caminho, passou no mercado e comprou alguns dos doces favoritos dele, esperando que aquilo pudesse animá-lo pelo menos um pouquinho.
Tocou a campainha assim que chegou, alguns minutos depois, a porta foi aberta por Joshua. O beta parecia cansado e abatido, aquilo deixou Jihoon mais preocupado.
— Oi, Jih — ele sorriu, abrindo espaço. — Que bom que você veio.
— Você tá bem, hyung? — perguntou, entrando após tirar os calçados.
— Já estive melhor — murmurou. — Muita coisa tá acontecendo.
— Eu imagino.
— Soonyoung tá no quarto — disse, indo até a escada.
Subiram os degraus devagar, Jihoon podia sentir o cheiro de Soonyoung, estava forte e deixando-o agitado de uma maneira ruim. Nada parecia estar certo.
— Espera aqui — o mais velho pediu antes de abrir a porta do quarto. — Soon, você tá melhor?
— Eu quero ficar sozinho — ele respondeu, nem se dando o trabalho de virar para encarar o primo.
— Jihoon veio te ver…
— O que!? — sentou na cama rapidamente, seus olhos estavam vazios e irritados ao mesmo tempo.
Jihoon, instintivamente, deu alguns passos para trás, evitando ser visto.
— Ele tava preocupado, Soonyoung.
— Por que você foi se meter!? — brigou. — Se eu não tinha falado nada, era porque eu não queria ver ele ainda, é tão difícil de entender, caralho!?
— Soonyoung, calma, a gente só quer seu bem — tentou se aproximar. — Não tem motivo pra agir assim!
O alfa fechou os olhos e levou as mãos à cabeça, apertando seus cabelos.
— Se você quer meu bem, por que, simplesmente, não ouve o que eu quero!? — gritou, não conseguindo controlar seu choro.
— Ele estava preocupado, Soonyoung, não é justo…
— Eu não ligo pro que é justo ou não! — apertou os punhos, lançando um olhar raivoso para o mais velho. — Eu não queria ver ele agora, por que você passa por cima das coisas que eu quero!? Você não consegue fazer uma mísera coisa que eu pedi!? Sai daqui! Eu não quero ver ninguém! Não quero que ele me veja assim!
Jihoon achava que iria começar a hiperventilar no corredor, não sabendo o que deveria fazer. Seu instinto estava gritando para que saísse dali o mais rápido possível, seu corpo dizia que estava em perigo. Mas, no fundo de seu coração, ele ouvia a voz chorosa de Soonyoung pedindo, implorando:
Não me deixe sozinho.
Respirando fundo e buscando um pouco de coragem, o ômega entrou no quarto. Soonyoung estava encolhido em sua cama, agarrado a um travesseiro e chorando compulsivamente, usando o almofadado para abafar seus gritos. Era assustador, de certo modo.
— Jihoon… — Joshua tentou alertar.
— Deixa, tá tudo bem — disse baixo, aproximando-se devagar de Soonyoung.
Jisoo saiu do quarto, deixando os dois a sós.
Jihoon sentou ao lado do maior, ainda sem saber exatamente o que deveria fazer. Tocou com cuidado a mão dele, sentindo como elas estavam geladas.
— Soon…
— Vai embora, Jihoon — ele disse, o som saindo abafado por conta do travesseiro.
— Não — afirmou, chegando mais perto e o abraçando. — Não vou te deixar sozinho.
— Eu não quero que você me veja assim.
— Não tem problema, tá tudo bem — secou seu rosto.
Soonyoung ainda não o olhava.
— Você pode chorar, não tem nada de errado nisso — sussurrou, deitando a cabeça dele em seu ombro. — Eu tô do seu lado.
— Não, não — ele negou, afastando-se novamente, abraçou seus joelhos. — Para, não faz isso.
— Isso o que? — perguntou Jihoon, confuso.
— Não seja tão gentil comigo.
— Por que não? — tocou seus ombros, sentindo lágrimas nascendo em seus olhos.
— Eu não consigo entender, tá doendo muito — soluçou, cravando as unhas em seus braços. — Eu não… Eu não queria que você me visse assim, e eu não quero te perder…
— Você não vai me perder — enfatizou, ficando de frente para o maior, segurou suas mãos e o puxou para um abraço. — Eu amo você, Soonyoung. Eu te amo, eu tô aqui…
— Não! Para, por favor! — ele se levantou, esquivando do toque de Jihoon. — Não fala isso, não seja tão bom pra mim!
— Soonyoung — tentou ir atrás dele.
— Eu não quero mais me sentir assim — apertou os olhos, sentando-se no chão e agarrando com força o tecido de sua camisa sob o peito. — É horrível, dói demais!
Jihoon sentou ao seu lado, voltando a abraçá-lo apertado. Soonyoung não conseguia controlar seu choro, soluçava e gritava a ponto de machucar sua garganta.
O ômega, não sabendo como deveria agir, acabou chorando também, apenas deixando as lágrimas escorrerem silenciosas por seu rosto.
Não soltou seu namorado em momento nenhum, deixando que ele chorasse tudo que precisava.
Após longos minutos de um choro histérico, de Soonyoung tentando afastar o toque de Jihoon, e de gritos sufocados, foi que o alfa foi capaz de respirar melhor, apesar de ainda chorar copiosamente.
— Me desculpa — ele murmurou, tocando as mãos de Jihoon. — Me desculpa, Jih, por favor.
— Tá tudo bem — sussurrou, apertando-o entre seus braços. — Você não fez nada errado.
Soonyoung virou para o menor, retribuindo o abraço pela primeira vez desde que ele havia chegado. Apertou o corpo dele contra o seu, derramando as lágrimas sob seu ombro e sentindo as mãos gentis acariciando suas costas e cabelo.
— Eu não queria ter gritado com você.
— Não tem problema — afastou-se um pouco, o suficiente para olhar seu rosto e secar suas lágrimas. — Você deve estar muito chateado com alguma coisa pra ter feito aquilo.
Ele concordou com a cabeça, olhando para baixo.
— Você quer conversar sobre isso?
Ele negou.
— Tudo bem — sorriu, acariciando o rosto dele. — Eu tô aqui.
— E é o suficiente — finalmente, ergueu os olhos para Jihoon. — Desculpa não ter te contado…
— Não precisa se desculpar — usou a manga de sua blusa para secar o rosto inchado pelo choro. — Eu te amo e eu tô aqui.
— Fala isso de novo.
— Eu tô aqui.
— Não, a outra coisa — pediu, puxando-o para mais perto.
Jihoon abriu um sorriso pequeno, abraçando-o pelos ombros.
— Eu te amo.
— De novo.
— Eu te amo — sorriu ameno, beijando seu rosto. — Te amo, te amo, te amo.
— Eu também te amo — disse baixo, mais lágrimas escorreram. — Eu te amo, Jih.
Abraçando Soonyoung outra vez, Jihoon deitou a cabeça dele em seu ombro e cantarolou uma canção qualquer, fazendo carinho em seus cabelos, deixando que ele chorasse mais um pouco.
— Eu não vou te deixar, tá? — o baixinho disse, sussurrando perto do ouvido dele. — Prometo não te perder.
O alfa acenou com a cabeça, apertando mais forte antes de soltá-lo. Jihoon sorriu doce, secando os últimos resquícios de lágrimas pelo rosto bonito.
— Você tá inchado agora — comentou, correndo a ponta dos dígitos pelas bochechas salientes. — Você comeu alguma coisa?
— Comi ontem, mas não foi muito — contou, sua voz estava rouca e arranhada. — Só comi porque meus tios e Shua hyung insistiram muito.
— Você tá com fome?
Ele negou com a cabeça, puxando Jihoon pela cintura para que ele sentasse em seu colo. Atendendo ao pedido, o ômega se acomodou sob as pernas do mais velho, abraçando seu tronco e deixando que ele deixasse alguns beijinhos em seu rosto.
— Você precisa escovar os dentes pelo menos — apontou baixinho.
— Tá dizendo que eu tô com bafo?
Jihoon assentiu com a cabeça, rindo baixinho ao ver Soonyoung sorrir levemente e rolar os olhos.
— Aí está — tocou o rosto do alfa. — O sorriso que eu gosto tanto.
Ele olhou-o, fazendo um beicinho. O mais novo imitou seu gesto, apertando as bochechas proeminentes e deixando um beijinho em seu queixo antes de perguntar:
— Você quer ficar aqui ou quer fazer outra coisa?
Soonyoung suspirou, encolhendo os ombros em resposta.
— Você quer um beijinho?
Ele prontamente acenou com a cabeça, aproximando seu rosto do de Jihoon, que riu baixo, lhe dando alguns selinhos rápidos.
— Me beija de verdade — o mais velho murmurou, mantendo seus olhos fechados.
— Eu sou meio fresco, você precisa escovar os dentes primeiro — barganhou, arqueando as sobrancelhas. — E tem que ser rápido, porque eu tô com muita, muita saudade.
O alfa, mesmo um pouco a contragosto, acabou cedendo e se levantou, segurou Jihoon e colocou-o por cima de seu ombro.
— Soonyoung! — o baixinho exclamou, balançando as pernas para tentar descer.
— Você é malvado comigo quando quer — resmungou, beijando a cintura do mais novo por cima da roupa antes de soltá-lo sob a cama.
Jihoon riu baixo do jeito emburrado do namorado enquanto ele ia até o banheiro.
Conseguindo respirar mais aliviado, o ômega levantou, abriu as cortinas e a janela, deixando que um pouco de luz do sol e ar puro entrasse. Também estendeu a cama do mais velho e guardou algumas roupas que estavam jogadas pelo chão.
Ele notou a mala de Soonyoung deixada num canto e crispou os lábios, imaginando o que poderia ter acontecido e como aquilo devia ter partido o coração de seu namorado.
— Voltei — Soonyoung anunciou, abrindo a porta do quarto.
O mais novo virou para ele com um sorriso ameno, abraçando-o assim que ele chegou perto o suficiente. Fechou os olhos e apertou o namorado na mesma intensidade que ele o fazia. Plantou alguns beijinhos em seu pescoço e aspirou sua essência.
— Eu tava com tanta saudade — murmurou, escondendo seu rosto na curva entre o ombro e o pescoço do alfa. — E eu… Eu sei que você não queria estar aqui ainda, mas… mas eu tô com você, tá bem? Eu vou juntar todos seus pedacinhos quebrados e te ajudar a colocar no lugar.
Soonyoung apenas soltou um murmúrio em para mostrar que havia ouvido, puxando Jihoon para ficar em seu colo quando sentou-se na cama. O baixinho apoiou os joelhos no colchão ao lado do corpo do alfa, acariciando seus cabelos quando ele apoiou a cabeça em seu peito, repousou sua bochecha entre os fios escuros.
— Eu senti saudades também — sussurrou, circulando os braços pela cintura do ômega e ergueu os olhos para ele. — Obrigado por estar do meu lado. Obrigado, de verdade.
— Eu sou seu namorado, não sou? — tocou seu rosto, inclinando-se até conseguir tocar os lábios dele com os seus. — Eu vou estar do seu lado quando você precisar de mim, sempre.
Soonyoung intensificou o aperto e beijou Jihoon, suspirando em deleite de tê-lo ali, porque, apesar de ainda estar muito machucado, sentiu tanta saudade e o alfa sabia que o namorado era o lugar para onde seu coração partido sempre voltaria.
O contato não foi muito aprofundado, eles permaneceram naquele abraço, nada mais precisava ser dito.
— Garotos? Vocês estão…? Ah, que bom que estão melhor — Joshua disse ao entrar no quarto. — Eu… eu preciso ir no mercado, vou deixar vocês dois sozinhos, mas eu não demoro, tá?
— Hyung, espera — Soonyoung pediu, levantando e indo até ele após Jihoon descer de seu colo.
— O que foi? Precisa de alguma coisa?
Sem responder, o alfa abraçou seu primo, não havia feito aquilo desde que chegou. Jisoo entendia que era apenas porque ele estava machucado demais, então não dava importância.
— Me desculpa — sussurrou.
O beta sorriu, retribuindo o abraço e acariciando as costas do mais novo.
— Claro que eu desculpo, seu besta — respondeu. — Você tá do meu lado e eu tô do seu, lembra?
Soonyoung acenou com a cabeça, soltando-o. Joshua sorriu, bagunçando seus cabelos.
— Eu vou lá agora — disse. — Tenta comer alguma coisa, tá bem?
— Uhum.
Logo o mais velho saiu, deixando os dois sozinhos novamente. Soonyoung voltou para a cama, sentando-se ao lado de Jihoon e deitando a cabeça em seu ombro.
— Eu trouxe gilgoeri toast pra você — o baixinho disse, brincando com os fios do maior. — Uns doces também.
— Obrigado, Jih, mas eu não tô com fome — murmurou, voltando a deitar, logo, franziu o cenho. — Você arrumou minha cama?
— Arrumei, achei que não tinha problema.
— Não tem — sorriu fechado, tocando a mão do menor. — Deita aqui comigo.
Jihoon aceitou e deitou ao lado do namorado, deixando que ele o abraçasse pela cintura e ficasse o mais próximo que conseguia.
— Eu trouxe o livro que a gente tava lendo juntos, também.
— “Ensina-me a viver”?
— É, mas a gente tá perto do final e você já tá meio cabisbaixo, pode não ser uma boa ideia, sabe?
— Talvez — deu de ombros. — Você pode ler pra mim aquele livro de poesias que eu tava lendo, que tal?
— Você quer? — sorriu, acariciando a bochecha dele.
O alfa acenou com a cabeça e virou na cama até alcançar seu móvel de cabeceira e pegar o livro na gaveta.
— Tá quase terminando, né? — constou Jihoon, procurando a página marcada.
Sentou na cama e apoiou-se na cabeceira, Soonyoung o seguiu, deitando a cabeça em seu peito.
— Eu ia terminar antes da viagem, mas eu queria que você lesse pra mim — murmurou, traçando linhas imaginárias sob a pele coberta do ômega.
Jihoon sorriu, abraçando o mais velho apertado e beijando seu rosto.
— Fofo — sussurrou, lhe dando alguns selinhos antes de começar a ler.
Soonyoung fechou os olhos e ouviu atentamente cada frase que o ômega lia. Ficaram ali por uns vinte minutos, até que todas as páginas já tivessem sido lidas e o livro fechado.
— Você gostou? — Jihoon perguntou, penteando a franja do namorado com os dedos.
— Uhum — ergueu o rosto, beijando os lábios do ômega antes de sentar-se na cama.
Jihoon imitou seu gesto e se aproximou dele, abraçando-o por trás e apoiando o rosto em suas costas.
— Você não quer comer agora? Ouvi sua barriga roncando o tempo todo — brincou, segurando as mãos do maior.
— Pode ser — balançou os ombros, tentando se levantar, mas Jihoon o segurou e o fez deitar-se sob a cama. — O que foi?
Soonyoung ainda se sentia apático, mas seu coração errou uma pequena batida quando Jihoon subiu por cima de si, sentando em seu colo e apoiando as mãos ao lado de sua cabeça.
— Eu odiei te ver assim — o ômega murmurou, cabisbaixo.
— Me desculpa…
— Não, você não precisa se desculpar — tocou o rosto dele. — Eu sei que é normal termos momentos assim, é só… é estranho, sabe? Eu sempre te vi tão alegre, falando alto e me fazendo rir. É estranho te ver assim…
— Eu sei, me desculpa — respondeu, desviando os olhos. — Eu queria tá bem, queria ser como eu sou normalmente, mas hoje… na verdade, os últimos três dias tem sido bem ruins. Por isso eu não queria te ver ainda, não queria te deixar assim.
Jihoon balançou a cabeça em negação, deitando sob Soonyoung e abraçando seu pescoço.
— Se eu posso te amar quando você tá na sua melhor versão, eu posso te amar quando você não estiver. Não importa como eu me sinto agora, não importa como essa situação faz eu me sentir. O que importa é que eu amo você, e eu vou ficar do seu lado até você estar melhor. Só… Só me diz o que eu posso fazer pra te ajudar.
— Jihoon, me escuta — pediu, acariciando os cabelos do menor. — Você já me ajudou muito, ok? Você me fez sair da cama, ficou do meu lado enquanto eu tive uma crise… Eu não preciso de mais nada, só que você continue aqui.
O ômega concordou com a cabeça, apertando mais o namorado entre seus braços. Soonyoung fechou os olhos ao abraçá-lo também, apreciando o calor do corpo dele, junto do aroma que lhe acalmava. Odiava saber que estava fazendo Jihoon se sentir daquele jeito, mas como poderia mudar?
— A gente vai comer ou a sua sugestão era pra eu comer outra coisa? — perguntou quando o menor não se moveu por alguns longos segundos.
Não conseguiu evitar um sorriso quando Jihoon riu e estapeou seu peito, com as bochechas ganhando um tom avermelhado.
— Como você é besta — resmungou, acertando um último tabefe no namorado. — Pelo menos você sorriu.
Soonyoung soltou um riso anasalado, segurando a cintura do menor e invertendo suas posições, deixando Jihoon deitado na cama ao beijá-lo outra vez.
Fechando os olhos, o ômega prontamente retribuiu o contato, deixando que a língua do namorado escorresse entre seus lábios de encontro a sua. Pôde sentir seu corpo se arrepiando com aquilo, como havia acontecido da primeira vez que Soonyoung o beijou. Havia sentido muita saudade dele, da forma lenta que ele o beijava e de como as mãos tocavam seu corpo.
Acabou lembrando das madrugadas que passou acordado com Soonyoung ao telefone, das coisas que faziam e acabou sentindo-se tímido, ainda mais ao perceber a posição que estavam. Então, apoiou suas mãos sob o peito do mais velho e afastou-o de si, mesmo que ainda relutante.
— Soon, espera — disse, ofegante. — Você ainda precisa comer, sim? Vamos, não quero que você desmaie.
— Eu não vou desmaiar — retrucou, deixando um beijinho na ponta do nariz dele. — Mas eu tô com um pouco de fome agora, então, vamos.
Soonyoung levantou e puxou Jihoon para fazer o mesmo. Seguiram até a cozinha e o ômega serviu as torradas que trouxe para o namorado, ainda estavam quentinhas então logo ele começou a comer.
— Por que você trouxe três?
— Porque você é comilão e eu sei que você gosta da minha comida — sorriu convencido, apoiando o rosto nas mãos ao observar o namorado.
— Não acho que eu vá conseguir comer três, mas obrigado — retribuiu o sorriso antes de dar mais uma mordida. — Eu senti falta da sua comida durante a viagem, sabia? Não que a comida lá não fosse boa, mas era diferente.
Jihoon sorriu, acariciando os cabelos do alfa, a franja estava um tanto comprida e caía sob seus olhos toda hora. Sentado de frente para Soonyoung, o menor observava atentamente seu rosto, notando que ele estava com uma leve cor bronzeada, além de olheiras e alguns cravinhos sob seu nariz.
— Você tem que ir lá em casa, meu pai vai adorar cozinhar pra você — convidou, enrolando os fios dele na ponta dos dedos.
— Não sei se é uma boa ideia — disse, com os lábios sujos de molho.
— Não precisa ser hoje, quando você quiser — tocou o rosto dele, limpando o canto de sua boca com o polegar, lambendo o molho dali em seguida. — Mas se você quiser hoje, meus pais não vão se importar se você não estiver alegre, sabe? Eles são compreensivos.
— Eu sei que eles são, mas eu não ficaria confortável, Jih — negou, entregando um dos sanduíches para o menor. — Fora que tá perto do natal, vocês devem estar organizando pra passar em família.
— Soon, se a gente namora, você faz parte da família agora — murmurou, comendo junto dele. — Nem só isso, a gente também é alma gêmea, lembra? Eu ia gostar se você fosse ver a gente no natal, alguns parentes vão passar a data lá, também.
— E eles não se importariam de ver você namorando um homem?
— Talvez alguns achem estranho, mas é a minha vida, não a deles — encolheu os ombros. — Eles vão ficar surpresos de eu estar namorando qualquer pessoa pra começo de conversa.
— Por que?
— Oras, você sabe porque — riu baixo, pegando a sacola com os doces. — Eu praticamente fugia das pessoas e nunca fui de me abrir para possíveis interesses amorosos. Ainda não sei como você conseguiu.
— Sabe, sim. Você foi rindo das minhas palhaçadas até ficar caidinho por mim — riu baixo, abrindo um pacote de pocky. — Acertei?
— Acho que sim — revirou os olhos, rindo nasalmente. — Mas eu também já disse que é porque você é extraordinário, Kwon Soonyoung.
— E foi depois de você dizer isso que eu falei que te amava — apontou, mordendo o doce.
— Eu lembro, seu besta — segurou o pulso dele, roubando o restante do pocky. — Eu também amo você.
Soonyoung sorriu fechado, tocando a mão de Jihoon e inclinando-se sobre o balcão para beijá-lo.
— Eu sei que você não gosta quando eu falo essas coisas — o alfa começou —, mas eu não pensei que ia ouvir um “eu te amo” seu tão rápido assim.
— Para de pensar assim, amor — tocou o rosto dele. — Pensa como você conseguiu fazer eu te amar tão rápido.
— Não é um bom momento pra eu pensar sobre isso — riu sem graça, abaixando o olhar outra vez.
Jihoon formou um biquinho nos lábios, fazendo um carinho leve na mão de Soonyoung com seu polegar, pensando em qualquer coisa que pudesse animá-lo.
— Posso ligar a TV? — ele perguntou, de repente.
— Pode — o maior concordou, pegando o controle que estava sob o balcão e entregou para o namorado.
Após ligar o aparelho, o ômega colocou no Spotify e procurou alguma música.
— O que você tá fazendo? — Soonyoung perguntou, juntando as sobrancelhas.
— Você lembra a primeira vez que eu vim aqui pra gente assistir filme? — levantou-se, dando a volta no balcão estilo americano que dividia a cozinha da sala para segurar as mãos do mais velho. — Eu estava chorando por causa do final e você colocou música pra gente dançar pra que eu não ficasse tão triste.
— E você quer fazer isso de novo?
Concordou com a cabeça, puxando o maior até a sala conforme a música começou.
You got me second guessing everything
You mess me up, you mess me up
Smoking away all the pain
I'm rolling up, I'm rolling up
I'm taking shots to drown these memories
I'm drowning now, I'm drowning now
I should’ve never gave you the key
To my soul, yeah
— Isso é meio bobo, Jih — ele resmungou, apesar de não relutar.
— Não é bobo — abraçou-o pela cintura. — É algo nosso.
I wanna be your lover (lover)
Don't wanna be your friend (friend)
Wish we could be forever
But I know this ain't it
Jihoon começou a dançar de sua maneira desajeitada, segurando as mãos de Soonyoung para que ele lhe acompanhasse. O alfa sorria de canto, admirando o rosto de seu namorado ao passo que ele se animava com a batida da música.
— Eu acho que música pode ser nossa linguagem do amor — disse o ômega.
For now I'll be stuck in this beautiful nightmare
'Til you come back, I'll be standing right here
Do I ever cross your mind
You used to be something like a beautiful daisy
But now you're like a rose with your thorns how you hurt me
Do I ever cross your mind
Anymore
Conforme a melodia soava pela sala, Jihoon dançava ao redor de Soonyoung, cantava a letra enquanto segurava as mãos do mais velho para que ele seguisse seus passos. O alfa podia sentir uma quentura invadindo seu peito ao passo que observava seu namorado, o jeito meio desengonçado que ele se movia, as pequenas coisinhas que ele fazia somente para que pudesse animá-lo.
— Você sabe que essa música não é romântica, né? — segurou a cintura do menor.
— E daí? É uma batida boa pra dançar — sorriu, lhe dando um selinho rápido. — But I know, this ain’t it!
For now I'll be stuck in this beautiful nightmare
'Til you come back, I'll be standing right here
Do I ever cross your mind
You used to be something like a beautiful daisy
But now you're like a rose with your thorns how you hurt me
Do I ever cross your mind
Anymore
Soonyoung riu e acabou cedendo, dançando junto do menor, mesmo que de uma maneira tímida e não tão animada quanto costumava.
A música chegou ao fim, mas Jihoon não deixou o mais velho voltar, segurou-o pelas mãos e o embalou no ritmo da próxima faixa que começou a tocar.
— Eu sei que você adora dançar — o baixinho disse, levando as mãos do namorado para sua cintura. — Acho que é uma das formas que você achou de expressar o que tá sentindo.
— Não sei se há passos o suficiente pra expressar tudo isso — ele murmurou. — Mas você não precisa mais se preocupar, ok? Eu tô melhor.
Jihoon acenou com a cabeça, tocando o rosto de Soonyoung e o puxando para que pudesse beijá-lo. O alfa abraçou sua cintura ao retribuir o selar, colando o corpo do namorado ao seu.
— Senti tanto sua falta — o mais velho murmurou, mordendo o lábio inferior do ômega.
O menor sorriu, dando mais um selinho no alfa antes de abraçá-lo, deitando a cabeça em seu ombro. Soonyoung fechou os olhos e retribuiu o abraço, cheirando os cabelos de Jihoon enquanto acariciava suas costas.
— Eu também. Senti muito sua falta — ergueu o olhar para ele outra vez. — E, como prometido, eu não vou sair do seu lado por três dias inteiros.
Soonyoung riu nasalmente, tocando o rosto do ômega e apertando suas bochechas.
— Sabe que não é possível agora, né?
— Me deixa sonhar um pouco — resmungou, apertando a cintura do maior quando ele mordeu seu lábio novamente. — Por que você tá me mordendo tanto?
— Quero tentar arrancar um pedacinho pra mim — brincou risonho, dando mais selinhos rápidos no namorado.
Jihoon fechou os olhos e tentou aprofundar o contato, mas Soonyoung afastou-se de si após afagar seus cabelos. Um tanto confuso, o mais novo virou para ver onde o namorado estava indo, e duas bolas de pelo responderam suas dúvidas.
— O que foi, gatite? — o alfa se abaixou para pegar seu gatinho frajola. — Shua hyung não colocou comida pra vocês?
O ômega sorriu e aproximou-se deles, acariciando Tokki, que esfregava-se em suas pernas.
— Estoy tão tristito, necessito mucho cheirar uma carreirinha de gato — Soonyoung falou, forçando um sotaque enquanto segurava Howl nos braços e cheirava seu cangote diversas vezes.
Jihoon sorria bobo observando o namorado, sentia vontade de pegar seu celular para fotografar aquele momento deveras fofo, mas teve de se segurar.
— Já me sinto mejor — plantou um beijinho no rosto do felino antes de soltá-lo novamente.
— Não sei dizer se isso foi fofo ou engraçado — comentou o baixinho, sentando no chão para brincar com o gatinho cinza.
— É os dois — respondeu, servindo ração nos potinhos.
Tokki rapidamente pulou do colo de Jihoon para correr até sua refeição, deixando o ômega com um biquinho triste por ter sido abandonado. Soonyoung sorriu e se aproximou, deitando-se no chão para ficar com a cabeça no colo do namorado, que prontamente abriu um sorriso para recebê-lo.
— Você vai ser meu gato agora? — tocou as bochechas dele, descendo a ponta dos dedos de forma suave até o pescoço claro.
— Não, eu sou um tigre, lembra? — franziu o nariz, imitando garras com as mãos.
Jihoon riu anasalado, inclinando-se para beijar o queixo do maior.
— Você é uma chinchila.
— Não — emburrou-se, cruzando os braços.
— Tá bem, você é um tigre — sorriu, acariciando os cabelos escuros.
Soonyoung sorriu, fechando os olhos para aproveitar o carinho.
A porta foi aberta e eles puderam ouvir a voz de Joshua:
— Eu esqueci de colocar a ração dos gatos, que merda — resmungou, tirando seus tênis e indo em direção a cozinha, dando de cara com os mais novos. — Por que vocês estão no chão?
— Porque o Soonyoung é um tigre.
O beta juntou as sobrancelhas e pareceu pensar por alguns segundos. No fim, ele apenas encolheu seus ombros:
— Ok — murmurou, indo para a cozinha para deixar as sacolas com as compras sob o balcão. — Pelo menos você tá melhor.
Soonyoung sorriu fechado antes de se levantar, ajudando Jihoon a fazê-lo também.
— Sim — concordou. — Vou tomar um banho. Já volto.
— Vai logo, não aguentava mais essa sua catinga — disse o mais velho, guardando as compras no armário.
— Nem tava com catinga, nada — resmungou, mostrando a língua de forma um tanto infantil antes de subir as escadas.
Jihoon riu baixo, aproximando-se de Jisoo.
— Quer ajuda com as compras?
— Não, é pouca coisa — disse, um tanto distraído.
O ômega ficou observando Joshua, notando como ele estava abatido, como se não dormisse há dias, além do olhar que se perdia facilmente.
— Hyung, você tá bem? Digo… Você parece cansado.
— Tô sim, só… — deu de ombros, sentando de frente para Jihoon, um de cada lado do balcão. — Esses últimos dias foram complicados, muita coisa aconteceu e ainda teve esse lance com o Soonyoung, a gente não sabia o que fazer pra tirar ele daquele estado de total apatia… Quando eu consegui, ele ficou bravo comigo — riu sem humor. — Pelo menos você conseguiu deixar ele melhor, nem sei como você fez isso.
— Eu também não sei — murmurou, fitando as próprias mãos. — Mas você não precisa se culpar, é difícil saber o que fazer em situações assim. E ele sabe que você fez isso porque queria o melhor pra ele, às vezes… Às vezes, a melhor coisa a se fazer é acolher a pessoa e aqueles sentimentos, por mais ruins que eles sejam.
Joshua acenou com a cabeça, pensando.
— Faz sentido — respondeu. — Eu não soube o que dizer pra ele, mas meus pais tentaram ajudar falando que… que ele poderia ver eles em outra ocasião, que ele não precisava ficar triste e coisas assim.
— Sim, eles erram tentando acertar — encolheu os ombros. — Se acontecer outra vez, tenta oferecer apoio, mostrar que você está do lado dele.
— Ok, eu vou tentar — sorriu pequeno. — Por que parece que todos meus amigos são mais espertos que eu, mesmo eles sendo todos mais novos que eu?
Jihoon riu baixo, dando de ombros.
— Eu não sei.
Jisoo sorriu, pegando seu celular no bolso ao ouvi-lo tocar. Jihoon pôde perceber que ele hesitou antes de atender.
— Oi, Hannie — disse calmo.
— Oi, Soo. Como você tá?
— Na mesma, e você?
— Tô com tédio, você quer vir aqui?
— Não posso, não quero deixar o Soonyoung sozinho.
Jihoon franziu levemente o cenho, mas permaneceu quieto.
— Ah, sim. Tá bem então… Qualquer coisa eu tô aqui, ok?
— Hum… Obrigado.
— Tchau, Soo.
— Tchau, Han — desligou.
— Aconteceu alguma coisa entre você e o Jeonghan hyung? — Jihoon resolveu perguntar.
O beta suspirou, encolhendo os ombros.
— Não exatamente — mordeu os lábios. — É só… como eu disse, tem muita coisa acontecendo, eu não quero falar com ele agora porque ele sempre sabe o que eu tô sentindo.
— E isso é ruim?
— No momento, sim.
— Oh — apertou os lábios numa linha reta. — Se… Se você quiser conversar…
— Não precisa — interrompeu. — De verdade, eu tô bem. Só preciso pensar um pouco.
— Tá bem, mas, caso você precise, estamos aqui pra você.
— Valeu, Jih — sorriu. — Você é muito fofo, sabia?
— Já me disseram isso — revirou os olhos, rindo baixo.
— Posso perguntar uma coisa?
— Claro.
— É sobre o Jeonghan — desviou o olhar. — Ele tipo… ele dá selinhos em você?
— Hum… não — pensou por um momento. — Quer dizer, ele já tentou uma vez quando viramos amigos, mas eu dei um tapa tão forte nele em reflexo que ele nunca mais tentou.
Jisoo riu baixo, cobrindo a boca ao imaginar a cena.
— Faz sentido.
— Ele dá selinhos em você?
— Às vezes — encolheu os ombros. — Ele faz isso quando a gente promete alguma coisa, sabe?
— Ah! Sei, ele faz isso com Seungcheol hyung — estalou os dedos.
— É, ele me disse.
— Mas, se isso te deixa desconfortável, é só falar pra ele e ele não faz mais.
— Não, eu sei — murmurou. — O problema é que…
A voz do mais velho foi morrendo conforme falava, antes que Jihoon pudesse questionar, eles ouviram a voz de Soonyoung, assim como seus passos descendo as escadas.
— Tokki! Sai do corrimão, tá querendo morrer!?
O ômega riu baixo, vendo o namorado chegar na cozinha com o gato nos braços.
— O que você tava aprontando, hein? — Joshua sorriu, segurando seu bichinho no colo. — Você tá muito agitado, vamos dar uma volta?
— O Howl tá dormindo, pode deixar que eu saio com ele depois — Soonyoung falou, sentando ao lado de Jihoon.
— Ok — o mais velho disse, pegando a guia do felino e saindo para a sala.
Logo, estavam sozinhos novamente.
— Você não secou o cabelo — apontou o ômega, tocando os fios molhados do namorado.
— Tenho preguiça — resmungou com manha.
Jihoon sorriu, chegando pertinho dele para beijar seu rosto.
— Vem, eu seco pra você — ofereceu, pegando a toalha que estava nos ombros do maior.
Seguiram para a sala, o ômega sentou no sofá e deixou que Soonyoung sentasse no chão entre suas pernas. Tocou os cabelos dele com a toalha, secando delicadamente.
Na TV da sala ainda tocava uma playlist qualquer, quando a música acabou, dando início a outra faixa, Jihoon não pôde evitar rir um pouco.
— Essa música me traz lembranças — comentou.
Soonyoung, que estava um tanto distraído, ergueu os olhos para a tela e soltou um riso nasal ao ver I really like you tocando.
— Lembranças boas ou ruins? — olhou o menor por cima do ombro.
Jihoon comprimiu os lábios num biquinho pensativo, erguendo os olhos enquanto ponderava.
— Lembranças boas — sorriu, inclinando-se na direção do namorado e beijando seu pescoço. — Foi uma declaração e tanto, admito. Apesar de eu ter ficado com muita vergonha na hora.
— Você ainda aceitou sair comigo depois — lembrou.
— E foi muito legal, eu me apaixonei um tempo depois…
— Uns bons meses depois, né?
— Mas eu me apaixonei, é isso que importa — fez bico, abrindo espaço para que o mais velho sentasse ao seu lado, logo, tomou o lugar em seu colo. — E o que é o tempo senão uma construção social pra vender calendário?
Soonyoung riu, abraçando-o pela cintura, beijando-o e sendo prontamente correspondido.
— Falando nisso — o alfa disse, após quebrar o contato, mesmo que Jihoon continuasse lhe dando selinhos. — O que você acha da gente sair em outro encontro?
— Hum… Parece interessante — sorriu. — Alguma ideia?
— Vou pensar nisso — prometeu.
— Tá bem, mas eu aceito — beijou o rosto dele. — Ah, eu lembrei de uma coisa.
— O que?
— Seungkwan vai fazer uma festa na casa dele antes do natal — contou. — A gente queria se reunir antes do natal e ele só queria uma oportunidade pra fazer festa, já que as mães dele estão viajando e só voltam dia 23.
— E a festa é quando?
— É dia 20. Eu não te falei porque você não ia tá aqui e… — calou-se por um momento. — Não importa, mas você tá aqui e seria legal se você fosse. Todo mundo ia gostar de te ver.
Soonyoung concordou com a cabeça.
— Acho que pode ser uma boa ideia.
— Yay — Jihoon sorriu, beijando-o outra vez. — Depois, você pode dormir lá em casa, que tal? Minha casa é mais perto da casa do Seungkwan.
— Vou pensar nessa parte.
— Malvado — fez bico.
O alfa sorriu, mordendo o beicinho em resposta.
— Soonyoung — Jihoon chamou. — Tem outra…
Antes que o mais novo pudesse completar a frase, a porta foi aberta, revelando a imagem da senhora Hong, usando seu telefone para gravar um áudio.
Quase na velocidade da luz, Jihoon saiu do colo de Soonyoung e sentou ao seu lado, ajeitando sua postura para que não passasse uma impressão ruim aos mais velhos.
— Daqui a pouco tenho que voltar pro hospital, mas não ia conseguir ficar lá direto quando o Soonyoung não sai da cama tem… — a fala da Sra. Hong foi interrompida ao que ela viu o sobrinho no sofá. — Soonyoung, que bom que levantou.
— É, Jihoon me ajudou — ele disse, tocando o ombro do menor.
— Olá, senhora Hong — sorriu, levantando-se para fazer uma reverência. — Como está?
— Bem, obrigada — ela sorriu, entrando na casa e fechando a porta. — E você é?
— Sou Lee Jihoon — apresentou-se. — Eu sou… — olhou para Soonyoung, perdido.
— Ele é meu namorado — o alfa disse, levantando-se e abraçando Jihoon pelos ombros.
— Ah, sim — a ômega murmurou, seguindo até a cozinha para largar algumas sacolas. — Cadê o Joshua?
— Foi levar o Tokki pra passear — virou para olhá-la.
— Entendi. Aproveita que você já está de banho tomado e troca de roupa, seu tio conseguiu um encaixe pra você falar com um psiqui lá no hospital.
— Que? Pra que? — ele franziu o cenho.
— Soonyoung, não discute, você sabe que é pro seu bem — ela suspirou, voltando pra sala. — A consulta é daqui uma hora, vai se arrumar e seu amigo pode ir pra casa dele, vocês podem se falar mais tarde.
— Não, a gente…
— Soon, tá tudo bem — Jihoon interviu, segurando a mão do namorado. — Me leva até o portão?
Ele bufou, concordando.
— Tchau, senhora Hong — o ômega sorriu, acenando gentilmente para ela.
Soonyoung acompanhou o menor até o portão da casa, ainda sustentando uma expressão emburrada.
— Ei, não fica assim — Jihoon disse, tocando o rosto dele e ficando na ponta dos pés para lhe dar um selinho. — Eu te mando mensagem quando chegar em casa, e você vai na consulta porque vai ser bom pra você, ok?
— Eu não quero… — sussurrou, abaixando o olhar. — Mas, só porque você pediu, eu vou.
O menor sorriu, abraçando-o apertado.
— Eu te amo, tá?
— Eu também te amo — o alfa respondeu, retribuindo o abraço. — Volta com cuidado.
— Tá bem — sorriu, dando mais selinhos no namorado antes de soltá-lo e seguir seu caminho.
[...]
Quando Jihoon chegou em casa, subiu para seu quarto, acabando por ignorar sem querer seus pais ajeitando as decorações na sala.
Os mais velhos, confusos, decidiram subir as escadas atrás do filho. Daeun bateu na porta, não recebendo resposta.
— Filhote? Tá tudo bem? A gente pode entrar?
— P-Pode — a voz fraquinha do ômega soou.
Ficando ainda mais aflitos, eles entraram, vendo o menor chorando em sua cama, abraçado a um travesseiro.
— O que aconteceu, meu amor? — Daeun foi até ele, sentando ao seu lado e tocando seus ombros.
— É o Soonyoung…
— Vocês terminaram? — o ômega mais velho perguntou.
Jihoon negou com a cabeça, apertando ainda mais o travesseiro, as lágrimas pingavam na fronha.
— A gente não terminou, mas… Eu fui na casa dele, os pais dele mandaram ele de volta mais cedo da viagem e-e ele ficou muito triste — contava com certa dificuldade por causa do choro. — Ele teve uma crise muito feia, eu nunca vi ele assim. Ele chorou, gritou e… e eu não sabia o que fazer, eu só queria sair correndo mas eu não conseguia deixar ele sozinho.
— Oh, meu bebê — a alfa se aproximou, abraçando o filho. — Tá tudo bem, já passou.
— Eu não quero que aconteça de novo — Jihoon continuou, abraçando sua mãe, repousando a cabeça em seu peito, enquanto seu pai fazia uma carícia gentil em seu ombro. — Eu não quero ver ele assim de novo, é muito ruim.
— É claro que você não quer, filhote, a gente nunca quer que as pessoas que amamos se machuquem — Taesuk disse suavemente. — Mas faz parte da vida, e nós sabemos que Soonyoung tem os problemas dele, e vocês são muito novos pra lidar com essas coisas.
— Ele devia estar muito mal, eram muitos sentimentos e ele não soube como lidar — explicou a mais velha, secando as lágrimas do filho. — Mas o importante é que passou, e que você ficou do lado dele quando ele precisou.
— Sim, estamos muito orgulhosos de você por isso — o ômega mais velho disse. — Você fez o que achou que era certo, mas saiba que você não precisa lidar com isso caso aconteça de novo, porque você é muito novo e também não tem a maturidade pra cuidar desse tipo de coisa.
— Eu sei, mas eu não posso deixar ele sozinho passando por algo assim…
— Tá tudo bem, filhote, calma — Daeun tentou tranquilizar, acariciando os cabelos dele. — Já passou, tá tudo bem. Respira fundo.
Os três, então, inspiraram profundamente, tentando regularizar a respiração de Jihoon. O mais novo repetiu o processo algumas vezes, até sentir-se um pouco mais calmo.
— Melhor?
— Uhum — ele concordou com a cabeça, secando seu rosto. — Obrigado.
— A gente tá sempre aqui, ok? — Daeun sorriu. — Vamos pensar numa solução agora?
— Você pode falar com o Soonyoung depois — Taesuk começou. — Quando ele estiver melhor e tudo estiver mais calmo, você conversa com ele, pergunta qual a melhor forma pra lidar com essas crises que podem acontecer futuramente.
— É, procurem um meio pra vocês passarem por isso juntos de uma forma que ninguém se machuque.
Jihoon acenou com a cabeça, dando algumas fungadas.
— É uma boa ideia — murmurou, inclinando-se na direção do pai para ganhar um abraço. — Eu amo vocês.
— Também te amamos — o homem disse, abraçando seu filho.
— Muito, muito, muito — Daeun completou, chegando mais perto para entrar naquele abraço. — Ah!
— O que foi? — Jihoon e Taesuk a olharam, assustados.
— O bebê chutou — ela sorriu, tocando a própria barriga.
— Meu Deus, onde? — os ômegas se aproximaram, pousando as mãos sob a barriga saliente, tentando sentir também.
— Não tô sentindo nada… Senti! — Jihoon exclamou eufórico. — Oi, mana.
— Não é justo, eu ajudei a fazer e ela não vai me chutar? — Taesuk reclamou, causando risos nos demais.
Chapter 31: Chá de Hortelã
Chapter Text
— Meninos, coloquem os pratos na mesa, por favor — Taesuk pediu enquanto mexia nas panelas.
Soonyoung e Jihoon, que estavam na sala conversando com Daeun, prontamente levantaram para fazer o que o mais velho havia pedido.
O ômega abriu o armário da cozinha e pegou os pratos, entregando para o namorado em seguida.
— Falta muito, amor? — Daeun perguntou da sala.
— Não, tá quase pronto — ele respondeu, pegando um pouco de kimchi com os hashis. — Soonyoung, experimenta.
O alfa deu meia volta, indo até Taesuk antes que pudesse deixar os pratos sob a mesa.
— Hum! Muito bom — ele elogiou, ainda de boca cheia. — Nossa, é o melhor kimchi que eu já provei.
— Ah, muito obrigado — Taesuk sorriu, feliz, pegando a panela para levá-la à mesa. — Casa com ele — sussurrou para Jihoon ao passar por ele.
O ômega cobriu a boca ao tentar prender um riso surpreso, negando com a cabeça.
— O que foi? — Soonyoung perguntou confuso ao olhar o namorado.
— Nada, não — sorriu, ajudando-o com alguns pratos e indo até a mesa.
— Soonyoung, pode ficar à vontade, finge que você está em casa — Daeun disse, sentando-se ao lado do marido.
— Eu estou em casa — ele afirmou, sorrindo doce.
— Você é tão querido — a alfa sorriu. — Temos todos muita sorte de você ser parte da família agora.
— Falando nisso — Jihoon começou —, eu convidei o Soonyoung pra passar o natal com a gente, ele pode, né?
— Mas é claro — Taesuk disse. — Meus irmãos vão vir também, alguns de seus primos, eles vão adorar conhecer seu namorado.
— Eu agradeço mesmo pelo convite, mas eu ainda não tenho certeza — ele disse, ajudando o namorado a servir o arroz. — Meus tios organizaram uma festa lá também, então… é tudo meio incerto.
— Não tem problema, querido. A gente vai ficar festejando até de madrugada, se quiser aparecer a qualquer hora — a alfa garantiu.
— Certo, muito obrigado — Soonyoung sorriu.
— Não vamos ficar aqui falando de barriga vazia, né? Podem comer — Taesuk disse.
[...]
Assim que eles terminaram o almoço, Taesuk e Daeun tiveram que sair para resolver algumas coisas de seus respectivos trabalhos, deixando Jihoon e Soonyoung limpando a cozinha.
Jihoon lavava as louças, enquanto o alfa guardava as comidas restantes em potes fechados e os colocava na geladeira. Uma música de uma playlist qualquer soava do celular de Soonyoung, deixando o ambiente preenchido pela melodia animada de What’s make you beautiful.
— É muito estranho como não toca One direction nas festas do Seungkwan, né? — Soonyoung ponderou, aproximando do menor ao terminar sua tarefa de guardar as comidas.
— Ele gosta mais da Beyoncé — respondeu o ômega, olhando o mais velho. — Não sabia que você é fã de One Direction, Soonyoung.
— Eu não sou, eu só conheço algumas músicas — resmungou, chegando mais perto do ômega e o abraçando por trás.
Jihoon sorriu de leve, tentando voltar sua concentração para os pratos, como se ter o corpo do namorado tão perto do seu não lhe deixasse desconcertado em certo modo.
Ele já havia percebido que a linguagem de amor de Soonyoung era principalmente o toque físico, já que ele adorava estar perto, abraçando e trocando beijinhos, mesmo que ele ainda ficasse muito feliz quando era elogiado ou quando ouvia um “eu te amo”.
— A gente pode pedir para tocar na festa hoje — Jihoon falou. — E mais algumas que a gente gosta de dançar, o que você acha?
— Podemos — concordou, enfiando o nariz entre os fios escuros para aspirar o perfume dali. — Nossa primeira festa como um casal.
O mais novo sorriu pela constatação, virando o rosto o suficiente para que pudesse beijar o do namorado.
— Fofo — murmurou, voltando a lavar os pratos. — Eu espero que você não fique bêbado e saia cantando pra mim de novo.
— Foi só uma vez — reclamou, apertando-o com um pouquinho mais de força. — Eu ainda tava triste naquela noite porque achei que você tava dando bola pro Minghao.
— Que!? — Jihoon exclamou, tão surpreso a ponto de deixar cair de suas mãos alguns talheres sujos. — Soonyoung, você tem o quê na cabeça?
— Literalmente, só você.
— Cala a boca, garoto — rebateu, empurrando-o com o cotovelo. — Por que caralhos você achou que eu tava dando mole pro Minghao? Aquele lá é especialista em me tirar do sério.
— Porque a gente tava conversando, aí eu saí pra pegar um pano pra limpar a sujeira que você fez com seu gay panic e, quando voltei, você tava conversando com ele e deixando ele te tocar e… — deu de ombros. — Sei lá, poxa, eu sou inseguro.
— Eu não acredito nisso — disse desacreditado, batendo em sua própria testa, esquecendo que suas mãos estavam molhadas e cheias de espuma. — Porra!
Soonyoung explodiu em uma gargalhada alta e gostosa, procurando um pano pela cozinha enquanto o namorado continuava xingando a si mesmo e ao mais velho.
— Mas você é besta mesmo — Jihoon resmungou, pegando o tecido que fora entregue a si e secando seu rosto. — Eu sei que é quase impossível de dizer, mas eu tava dando mole era pra você, viu?
— Você tava dando mole pra mim? — repetiu, ainda mais surpreso.
— Eu sei que não parece, mas é o que eu tenho feito desde que te conheci, seu bestão — jogou o pano nele sem força alguma, virando-se para voltar a sua tarefa. — Eu fui pra aquela festa, eu bebi, eu dancei com você, eu até aceitei sair com você depois que…
O menor teve sua fala interrompida quando sua cintura foi segurada e seu corpo virado com rapidez. Soonyoung tocou seu rosto e o beijou.
E, como já era de se esperar, todo e qualquer pensamento coerente que tinha, foram esvaídos no momento que sentiu os lábios do alfa contra os seus, e tudo que ele conseguiu fazer, foi fechar os olhos e abraçá-lo pelo pescoço, enquanto retribuía de uma maneira ridiculamente feliz aquele contato.
— Pelo menos agora, diferente de antes, eu posso te beijar quando você começa a falar sem parar — Soonyoung sorriu, apertando o namorado contra si.
Jihoon revirou os olhos, virando o rosto de maneira emburrada.
O alfa riu nasalmente, deixando mais alguns beijos na bochecha rósea do mais novo antes de soltá-lo para que ele pudesse terminar sua tarefa.
— Você já sabe com que roupa vai na festa? — Soonyoung mudou de assunto, apoiando-se no balcão para observar o namorado.
— Ainda não, vou ver mais perto da hora — encolheu os ombros.
— Posso escolher pra você? — aproximou-se, animado com a ideia que tivera.
Jihoon, por sua vez, franziu as sobrancelhas, relembrando as peças de roupas que tinha no armário e imaginando qual a pior combinação que o mais velho poderia fazer.
— Sei não — murmurou.
— Ah, vai, por favor — fez manha, puxando a blusa do baixinho como uma criança. — Prometo que vou escolher algo muito bonito e você vai ficar muito gostoso.
Crispando os lábios para prender um riso, o ômega fechou os olhos enquanto terminava de enxaguar os últimos talheres.
— Se eu ficar muito “gostoso”, como você disse — virou para ele, secando as mãos. — Você não vai ficar com ciúmes se várias pessoas ficarem me olhando?
Soonyoung juntou as sobrancelhas ao pensar.
— Sei lá — cruzou os braços. — Um monte de gente já te olha, e eu fico… de boa, eu acho.
— Ah, é? — sorriu, chegando mais perto.
— É, ué — deu de ombros. — Elas podem ficar te secando, mas quem pode te tocar, sou eu.
— Ok, entendi. É um bom ponto.
Sem dizer mais nada, Jihoon saiu da cozinha em direção a sala, pegando seu celular no sofá e sentando-se ali. Soonyoung, um tanto confuso, foi atrás dele.
— Jihoon, você queria que eu estivesse bebendo vinagre? — sentou-se ao lado do namorado, rindo de maneira divertida enquanto subia os dedos por sua pernas até sua cintura.
O ômega franziu as sobrancelhas, soltando o aparelho para olhar o mais velho.
— Como assim “beber vinagre”?
— É uma expressão chinesa pra dizer que você está com ciúmes — explicou, com um sorriso arteiro enfeitando seu rosto. — Você queria que eu estivesse com ciúmes de você?
— Não! Você precisa baixar sua bola, tô avisando — empurrou uma almofada contra o rosto alheio quando ele tentou beijá-lo outra vez. — Deixa de ser convencido, viu?
— Você gosta que eu sou convencido — riu, jogando a almofada para o outro sofá e abraçando sua cintura fortemente, impedindo-o de se afastar.
— Você que acha — resmungou, desistindo de empurrar Soonyoung, deixando que ele apoiasse a cabeça sob sua barriga. — Falando em expressão chinesa, Minghao tava falando de uma série de lá, o que você acha da gente assistir?
— Qual?
— Não lembro o nome — murmurou, contorcendo-se para conseguir pegar o controle da tv. — Me solta um pouco pra eu colocar, Soon.
— Não solto — teimou, ajeitando sua postura para poder abraçá-lo melhor e um pouquinho mais forte. — Tô carente, amor, não me rejeita.
Jihoon rolou os olhos ao mesmo tempo que ria baixo, estava se acostumando com o jeito manhoso do mais velho.
— Nunca vou te rejeitar, bobinho — acariciou os cabelos dele, sentindo-o se aconchegar pertinho de si, deitando a cabeça em seu ombro. — Essa aqui.
— “Mo dao zu shi?” — Soonyoung leu o título, lendo a sinopse em seguida. — Parece legal.
— Vamos começar? A gente pode assistir até dar o tempo da gente se arrumar pra festa — sugeriu, ajeitando-se naquele abraço bagunçado.
— Tá bem.
— Quer que eu busque um cobertor pra nós?
— Não precisa — murmurou, apertando-o mais entre os braços. — Não deixo você sair de perto de mim.
Jihoon sorriu antes de dar o play na série, retribuindo o abraço e acariciando os cabelos do maior.
— Amor, dá pra tirar as legendas? Não consigo me concentrar numa coisa só…
— Eu vou te bater.
— Ué, mas o que eu fiz? — o alfa resmungou, juntando as sobrancelhas ao olhar para o menor.
— Você tá esquecendo que eu não sou fluente em chinês.
Erguendo os olhos por alguns segundos, Soonyoung ponderou, crispando os lábios em seguida antes de voltar a deitar sua cabeça no ombro de Jihoon.
— Foi mal.
[...]
— Quantos episódios a gente já assistiu? — Jihoon perguntou após algumas horas, quando os créditos do episódio surgiram na tela.
— Cinco — Soonyoung respondeu em meio a um bocejo, esticando os braços.
— Eu cansei, você não?
— Tô de boa, tô gostando da história — comentou, sentando-se no sofá. — E você?
— É interessante, apesar de ser confuso ainda — coçou os olhos. — Acho que vou tomar meu banho, daqui a pouco a gente tem que sair.
— Posso ir com você? — olhou-o.
Jihoon o encarou em silêncio por alguns segundos.
— Incapaz de dizer se você tá brincando ou falando sério — levantou-se. — Mas, por vias das dúvidas, ainda não.
Soonyoung cruzou os braços, formando um biquinho nos lábios que logo fora beijado pelo ômega num selinho rápido.
— Ok, ok. Depois, eu vou.
— Ah, mas isso me lembra que eu tenho uma coisa pra você — Jihoon disse, segurando a mão do alfa e o puxando.
— Eu não sei se quero algo que você lembrou graças a esse diálogo.
— Cala a boca, vem logo — puxou-o escada acima.
Soonyoung seguiu o mais novo até seu quarto, ele se sentou na cama enquanto o baixinho procurava a tal coisa em suas gavetas.
O alfa não sabia explicar porque mas o quarto de Jihoon era muito acolhedor, como se qualquer pessoa fosse se sentir bem e confortável ali. Talvez fosse por ser apaixonado por ele, pelo aroma doce de camomila que estava por todo ambiente, a decoração simples e fofa, os diversos bichinhos de pelúcia… apenas não sabia explicar.
— Aqui — Jihoon disse após encontrar o que procurava, parecendo um tanto mais tímido que antes. — É só umas fotos que eu tirei, mas você só pode olhar quando eu não estiver mais aqui. Acho que pode contar como um presente de natal bônus.
— Quando você se tornou tão safado, Jihoon? — provocou risonho.
— Cala a boca, você quer as fotos ou não? — cruzou os braços, impaciente.
Soonyoung riu, levantando-se e indo até o namorado.
— Claro que eu quero — tocou o rosto dele, lhe dando alguns selinhos. — E, já que você citou, eu tenho uma coisinha de nada pra você também.
— Sério?
— Uhum — concordou, pegando no bolso de seu jeans um pequeno papelzinho com um QR code. — É tipo o que você fez pra mim de presente, mas eu só pensei em uma música e aí tá ela. Não é romântica também, mas ela diz algo.
Jihoon pegou o papel e leu:
— Kokoronashi: porque “não importa o quanto eu grite, me contorça ou chore, você continua me abraçando firme, sem nunca me soltar. Já é o suficiente.”
— Obrigado por ter ficado comigo aquele dia. Você não faz ideia do quanto significou.
Jihoon teve de segurar algumas lágrimas invasivas, conseguiu apenas acenar com a cabeça e abraçá-lo apertado pelos ombros.
— Eu nunca vou te deixar sozinho com sentimentos ruins — sussurrou. — Eu te amo, ok?
— Eu também te amo — o alfa sorria, aspirando a essência do namorado enquanto acariciava sua cintura.
— Agora eu tô até com vergonha de te dar as fotos — murmurou.
Soonyoung riu baixo, quebrando o abraço e tentando pegar as fotografias nas mãos do menor.
— Para com isso, deixa eu ver — pediu.
— Eu vou entregar, mas só olha quando eu sair, tá bem?
— Tá bem — concordou, sorrindo ao segurar as três fotografias em polaroids.
Sentou-se na cama e observou o baixinho pegar toalhas e uma camiseta velha em seu guarda-roupa. Encarou os papéis em suas mãos e acabou não resistindo a tentação e a curiosidade, virou-as e admirou as imagens de Jihoon seminu, com luzes de pisca-pisca enrolando seu corpo bonito na frente do espelho do seu quarto.
— Porra — soltou, engolindo em seco.
O aroma de café acabou ficando mais forte, o que chamou atenção de Jihoon.
— Soonyoung! — ele exclamou, sentindo o sangue correndo para suas bochechas na velocidade da luz. — Você não vale nada! Eu pedi pra você ver longe de mim…!
O ômega se aproximou, tentando pegar as fotos da mão do maior, mas ele foi mais rápido em esquivar o braço e guardar as mesmas no bolso de seu moletom.
— Me devolve — pediu, não conseguindo diferenciar sua raiva de sua timidez.
— Não, você já deu elas pra mim — sorriu de lado, prendendo seu lábio inferior entre os dentes.
Soonyoung tocou a cintura de Jihoon e o puxou para sentar em seu colo, ele apoiou os joelhos no colchão, mas se recusou a soltar seu peso sob o mais velho. Seu rosto estava em um tom forte de rosa e seus olhos fitavam qualquer coisa, menos o alfa.
— Por que você tá com vergonha? Eu achei lindo — Soonyoung sussurrou contra o ouvido dele, sorrindo ainda mais ao ver a pele se arrepiar. — Você é lindo demais, Jihoon, porra. Você me deixa louco, sabia?
— Fica quieto.
— Não fico — agarrou a cintura delgada mais firmemente, prendendo-a num abraço firme. Roçou os lábios pela pele de seu pescoço e deixou um beijo suave ali.
Pegou uma das fotos em seu bolso, admirando-a outra vez. Jihoon era bom em fotografia e também era muito fotogênico, mesmo que a imagem mostrasse pouco seu rosto ainda conseguia reconhecê-lo, a maneira que ele sorria ladino, como se soubesse que estava bonito tirando aquela foto, soubesse que era sensual.
— Olha como você é lindo, Jih — sussurrou contra a orelha do menor, mordendo seu lóbulo em seguida. — Tem noção do quanto você é lindo?
— Para com isso, Soonyoung — cobriu a fotografia com a mão. — Eu já tô envergonhado o suficiente.
— Não tem motivo pra isso — afirmou, puxando o corpo dele pra mais perto do seu. — Eu amei meu presente.
— Fica aí com ele enquanto eu tomo banho — tentou se levantar, mas foi impedido. — Soonyoung.
— Só me dá um beijinho antes — fez bico.
Jihoon revirou os olhos, um pouco impaciente, então segurou o rosto dele inclinou para o lado. Confuso, Soonyoung não esperava sentir os lábios do ômega em seu pescoço, chupando e mordendo sua pele com força suficiente para deixar uma marca. O maior arfou em surpresa, apertando o quadril do outro em reflexo.
— Já volto — Jihoon sorriu, lhe dando um selinho antes de levantar e ir até o banheiro em passos rápidos.
O alfa respirou de maneira pesada, abaixando os olhos para o meio de suas pernas e bufando.
— Merda.
[...]
— Eu tava certo — Soonyoung sorriu ao voltar para o quarto de Jihoon, vendo-o com a roupa que havia escolhido. — Você ficou lindo.
— Admito que você tem um bom gosto — o baixinho sorriu, terminando de esfumar o lápis de olho.
Jihoon vestia uma camiseta vermelha, uma jaqueta de couro com detalhes nas mangas e uma calça jeans escura folgada, nos pés, usava seu coturno preto e ele terminava uma maquiagem simples.
Soonyoung, por sua vez, estava vestindo uma camiseta preta com detalhes em branco, um casaco de flanela xadrez amarelo, uma calça escura mais justa e um all star de cano alto também amarelo.
— Claro que eu tenho, eu namoro você — o alfa aproximou-se, tocando o queixo dele para dar-lhe um selinho rápido.
— Eu tinha acabado de passar o brilho — o menor resmungou, limpando os lábios do namorado com o polegar. — Quer ajuda com sua maquiagem?
— Se você for fazer, eu quero — sorriu doce, sentando-se na cama.
Jihoon riu nasalmente, negando com a cabeça enquanto arrastava a cadeira para perto dele, pousando a bolsa no colo. Pegou a base e espalhou pelo rosto do maior com uma esponjinha, estava concentrado em sua tarefa, enquanto os olhos brilhantes de Soonyoung o fitavam.
— Você tem uma galáxia inteira nos olhos, sabia? — disse o ômega, perdendo-se nas íris do namorado por um momento.
Ele sorriu, sentindo as bochechas esquentando.
— Só quando eu olho pra você.
Jihoon riu baixo, pegando um pincel e esfumaçando uma sombra mais escura no canto dos olhos de Soonyoung. Acrescentou um brilho labial e outros detalhes e, assim que terminou, ouviram o som de uma buzina na frente da casa.
— ‘Bora, meninos! — conseguiram ouvir a voz de Joshua.
— De onde ele tirou esse carro? — o mais novo perguntou vendo o veículo pela janela.
— Eu sei lá, o que importa é que temos carona — Soonyoung disse, puxando o namorado pela mão.
Pegaram as chaves e celulares, e então saíram da casa após trancarem tudo.
Jisoo os esperava animado, um braço pendendo para fora da janela mostrando que ele usava uma jaqueta jeans escura, havia outras pessoas no carro mas eles não puderam reconhecer por causa dos vidros escuros e a pouca iluminação dos postes.
— Aí tá meu casal favorito — o beta sorriu. — Entrem aí.
— Hyung, os tios sabem que você pegou o carro deles? — Soonyoung perguntou assim que abriu a porta.
Ele e Jihoon entraram, vendo Chan no banco do passageiro e um outro garoto que não conheciam no banco de trás.
— Eles vão fazer plantão até de manhã, eles não precisam saber — deu de ombros, dando a partida. — Chan, apresenta seu amigo.
— Oi, garotos — a mais nova sorriu, virando-se parcialmente no banco para olhá-los. — Esse é Siwoo, meu acompanhante dessa noite.
— Oi — o alfa disse, de maneira tímida. — Acho que a gente já se viu na escola.
— Você não faz parte do time de basquete? — Soonyoung perguntou.
— Sim, eu sou atacante.
— Ah, então te conheço — sorriu, fazendo um hi-5. — No último jogo da temporada você jogou muito bem.
— Pronto, agora eles falam sobre jogo até chegarmos lá — Chan riu, passando a música que tocava no rádio do carro. — E aí, Jihoon oppa? Tá animado pra festa?
— Acho que tô — encolheu os ombros. — Tô com um friozinho na barriga, não sei porquê.
Chan riu, mexendo nos próprios cabelos.
— É a empolgação pra pegar alguém? — brincou, piscando um olho para o mais velho saber se tratar de uma piada.
— Ei! — Soonyoung exclamou. — Nem brinca, eu choro se isso acontecer.
A beta riu mais alto, batendo palmas e os pés no chão do carro. Jihoon teria que admitir que achava a risada dela adorável até demais e inegavelmente contagiante.
— Ele já chorou antes de vocês namorarem, ainda tenho os vídeos dele bêbado depois que chegou em casa — Joshua disse, tendo que se encolher no banco quando Chan deu tapas em si ao gargalhar.
— Você trate de apagar isso, Hong Jisoo! — Soonyoung brigou.
— Meu Deus, como vocês falam alto — Jihoon reclamou, cobrindo seus ouvidos. — Vão assustar o Siwoo assim.
— Relaxa, tô acostumado com gritaria — ele sorriu.
— Não assustem meu date, por favor — Chan choramingou, esticando o braço para tocar a mão do alfa. — Ele já demorou demais pra chegar em mim…
— Você chegou em mim — Siwoo corrigiu.
— Como se você não estivesse me comendo com os olhos em todos seus treinos.
— Eu acho que foi o contrário, hein, princesa…
— Chegamos! — Joshua interrompeu, parando o carro na frente da casa de Seungkwan.
— ‘Bora, gays e Jisoo oppa — Chan exclamou, abrindo a porta a praticamente saltando do veículo. — Antes, olhem o quão arrumada eu tô, porque eu fiquei umas horas trabalhando nesse look.
Ela fez pose, exibindo seu visual composto por um moletom cropped rosa bebê, a saia preta com detalhe em xadrez e correntes, uma meia arrastão preta e botinas de cano curto. Os olhos pequenos estavam maquiados com uma sombra rosa escura e um delineado que destacava-os, os lábios cobertos por um batom avermelhado e alguns brincos nas orelhas.
Sim, Chan estava muito orgulhosa naquela noite.
— Caralho, você tá muito gostosa — Soonyoung disse ao vê-la. — Com todo respeito ao meu namorado.
— Você tem que respeitar ela, não eu — Jihoon riu. — Mas ele tá certo, você tá linda.
— Obrigada, meninos — a beta sorriu, dando uma voltinha antes de seguir saltitante até a porta de entrada.
— Limpem a baba aí — Soonyoung falou ao passar por Siwoo, segurando Joshua pelo braço para entrarem na casa.
Lá dentro, a música já tocava alta e diversas pessoas dançavam animadas, segurando copos de bebidas e rindo com seus grupos de amigos.
— Finalmente, vocês chegaram! — Seungkwan exclamou, aproximando-se deles. — Eu consegui uma máquina de karaokê, todo mundo vai ter que participar. Tem bebidas na cozinha, vocês podem pedir música pra tocar agora falando com o DJ e…
— Anda, Seungkwan-ah, a gente quer aproveitar a festa — Chan reclamou, cruzando os braços enquanto ria da careta desgostosa que o ômega fizera.
— Pode ir embora, já — apontou para a porta.
A beta riu, segurando a mão do mais velho e o abraçando em seguida.
— É brincadeira — ela riu, puxando Seungkwan para a multidão enquanto comentava algo que os demais não puderam ouvir.
— E, aí? Vamos pegar uns drinks? — Soonyoung sugeriu, segurando Jisoo e Jihoon pelas mãos até a cozinha.
— Não bebe muito, tá bem? — o beta falou. — Ainda mais agora que trocou sua medicação, não exagera.
— Prometo, não vou abusar — ele garantiu, entregando um copo de vodka e suco para o primo.
— Eu fico de olho nele — Jihoon disse para Joshua.
— Você vai acabar ficando mais alterado que eu — resmungou o alfa, dando outro copo na mão do namorado e, por fim, pegando um para si. — Saúde.
— Cheers — Jisoo disse, entornando alguns goles grandes. — Vou lá pedir uma música e ver se o Jeonghan já chegou.
Joshua sorriu para eles antes de sair da cozinha, infiltrando-se no meio da pequena multidão. Ele não conhecia quase ninguém, apenas seus amigos e um ou outro rosto ele lembrava de ter visto pelos corredores da escola.
Observava as pessoas dançando e rindo alto, e admitia que gostava daquele ambiente e de como ele parecia livre de certa forma.
O beta estava entretido olhando tudo quando sentiu alguém lhe cutucando nas costelas, fazendo uma careta, ele se virou e sorriu.
— Nayeon! Você tá aqui! — exclamou feliz, abraçando-a quando a garota pulou em si.
— Eu vim com uma amiga minha, mas eu perdi ela — contou alegre, ajeitando os cabelos longos e escuros atrás da orelha. — Que bom que você tá aqui também, eu vivia tentando te levar pra uma festa da Chae e você nunca ia. Como convenceu seus pais a deixarem?
— Eles não sabem.
— Vou começar a achar que seus novos amigos são uma má influência — ela brincou, dando um tapinha no braço do maior. — Eu tô amando essa nova versão sua. Se eu soubesse que uns socos era tudo que precisava, eu mesma tinha dado em você.
— Nayeon — falou sério.
— Muito cedo? Foi mal — desviou os olhos com um sorriso amarelo. — Ah! Ali tá a minha amiga, Somi. Vem, você vai adorar ela.
Jisoo sorriu, deixando-se levar pela ômega entre as pessoas até onde Somi estava, conversando de maneira animada com Chan.
Somi tinha cabelos tingidos de um loiro claro, uma maquiagem escura dava destaque aos seus olhos, assim como os lábios pintados em um rosa vívido.
— Somi-ah! Te achei — Nayeon chamou, chegando perto da outra. — Esse é Jisoo, aquele amigo que eu te falei.
— Oi — a alfa sorriu, meneando a cabeça em cumprimento. — Eu sou Somi. E essa aqui é aquela amiga que eu te falei — abraçou Chan pelos ombros.
— A gente já se conhecia — a Im sorriu, acenando para a beta. — Ela e Jisoo são amigos.
— Somos quase melhores amigos a esse ponto — Chan brincou, tomando alguns goles de sua bebida.
— Você se acha muito se pensa que está acima do Jeonghan — o beta respondeu em tom de brincadeira.
— Que cruel!
— Quem é Jeonghan? — Somi perguntou, interessada.
— Ele é…
— Daqui a pouco ele chega e a gente te apresenta — Chan interrompeu. — A gente tava pensando em jogar alguma coisa depois, em outra parte da casa, querem vir?
Nayeon olhou para Joshua.
— Eu topo, e você?
— Por mim, pode ser — deu de ombros. — Eu vou lá pegar mais bebida, encontro vocês depois.
— Eu vou também — a beta disse, ficando ao lado dele. — Quando começar nossa música, eu volto, meninas.
Elas concordaram e logo Jisoo e Chan voltaram para a cozinha, onde encontraram Jeonghan e Seungcheol.
— Olha quem chegou! — o alfa exclamou ao vê-los.
— A gente chegou antes de vocês — a beta justificou, enchendo seu copo outra vez. — Estávamos só esperando.
— A gente chegou agorinha, Hannie acabou demorando um pouco demais pra se arrumar — Seungcheol falou, segurando a mão do namorado.
— Que mentira — resmungou Jeonghan. — Ah, Soo, você não vai acreditar quem eu vi aqui também.
— Quem? — o beta perguntou, aproximando-se do amigo.
— O Seojoon, eu falei que ele ia vir.
— Ah, não acredito — resmungou, rindo baixo. — Eu espero que ele não venha dar em cima de mim de novo.
— Por que não? Ele é até ajeitadinho — Chan perguntou.
— Ai, credo, Chan, fica quieto — o beta retrucou, empurrando-a de leve.
— Chan-ah! Te achei! — Siwoo apareceu na cozinha. — Você me convidou pra vir e me deixou sozinho — fez bico.
— Ai, tadinho — ela riu. — Eu vou lá, meninos. A gente se vê por aí — foi até o alfa, segurando a mão dele. — Ah, depois a gente vai jogar alguma coisa, mas eu encontro vocês antes.
— Tá bem — Jeonghan afirmou.
— Vamos, baby — a beta disse, saindo da cozinha com Siwoo. — Você vai dançar comigo, não vai?
— Claro.
Na sala grande e espaçosa, diversas pessoas dançavam animadas, enquanto outras conversavam ou se beijavam pelos cantos.
Em um desses cantos, estavam Soonyoung e Jihoon conversando com Seungkwan, Vernon, Wonwoo e Junghwa. Conversavam sobre qualquer assunto bobo, rindo com facilidade de uma besteira qualquer que outro dissesse.
A festa estava apenas com umas horas de duração e estava divertida, não podia-se ver ninguém que parecesse não estar aproveitando aquele momento.
Quando a música que tocava alto acabou, várias exclamações puderam ser ouvidas, assim como diversas pessoas correndo para a pista de dança quando começou a tocar um remix de California Gurls.
Entre o pequeno tumulto, Jihoon viu Chan dançando a coreografia de forma animada, ao lado de duas garotas, uma ele reconheceu ser Nayeon e a outra não lhe era familiar.
— Olha o Siwoo — Soonyoung apontou aos risos. — Ele tá dançando até que bem.
O alfa dançava de maneira mais desajeitada e tímida, estava atrás de Chan e a observava com um sorriso bobo no rosto.
— Vamos lá, também, Soonyoung — Junghwa propôs, segurando o amigo pela mão.
— Não, Jung, tá doida? — ele negou.
— Vai logo, eu sei que você quer — Jihoon interveio, empurrando o namorado para que ele seguisse a Park.
O alfa sorria de forma um pouco tímida no começo, mas assim que o refrão chegou novamente, ele cedeu e executou perfeitamente os passos junto dos demais, até se empolgando com o momento e a música, cantando alto enquanto movia seu corpo.
Jihoon ria admirando a cena e logo pegou seu celular para filmar.
Quando a música acabou, outra melodia animada na mesma medida começou. O ômega reconhecia a música de um girl group que estava famoso atualmente na Coreia e no mundo, as músicas eram contagiantes e as coreografias relativamente fáceis, então não foi surpresa quando mais pessoas correram para a pista de dança.
— Jihoon-ah! — Soonyoung gritou, chamando pelo namorado com a mão. — Vem pra cá! Eu sei que você sabe essa!
Ainda um pouco hesitante, o baixinho correu até o mais velho, parando ao seu lado bem a tempo de começar o refrão na música. Todos cantaram alto e executaram os passos simples mas bonitos da coreografia de The Feels, que era quase uma febre.
— You have stolen my heart, oh, yeah! — Soonyoung cantou alto, apontando para Jihoon enquanto mexia o quadril de acordo com a música. — Never let it go, oh, oh! No, never let it go!
O ômega riu, abraçando-o apertado e beijando seus lábios.
— Você que roubou meu coração — falou perto do ouvido dele.
Soonyoung abriu um sorriso radiante demais, abraçando o namorado na mesma intensidade que ele.
— Você tava certo quando disse que música era nossa linguagem do amor.
Jihoon apertou as bochechas dele e lhe deu alguns selinhos.
— Vou lá pegar mais um drink — avisou, acariciando-lhe o rosto rapidamente antes de se espremer entre as pessoas em direção a cozinha.
Soonyoung deixou a pista de dança, que ainda estava bem tumultuada, e ficou em um canto da casa, ao lado de Joshua e Jeonghan que conversavam animados sobre qualquer coisa que ele não se importava no momento.
— Oi, hyung! — Mingyu falou alto ao se aproximar deles. — Me perdi dos meus amigos, vou ficar com você.
— Quer dizer que eu não sou seu amigo, Kim Mingyu? — o alfa cruzou os braços com um tom falsamente ofendido.
— Claro que você é! — manhou o maior, abraçando Soonyoung. — Eu adoro você, viu?
— Também adoro você — riu baixo, bagunçando os cabelos dele. — Onde tá seu namorado?
— Wonwoo tá por aí, acho que vi ele conversando com o Hansol — deu de ombros, apoiando o corpo numa parede próxima, sem soltar do abraço. — Tem bastante gente dançando, né?
— Todo mundo gosta de dançar girl group — constou o mais velho. — Principalmente Blackpink, é muito bom.
— Olha como Chan tá feliz — apontou Mingyu, observando a amiga sorrindo radiante enquanto dançava. — Não é sempre que a gente pode ser livre assim.
— A gente também não é tão preso quanto ela, né?
— Ué, você ficou poético do nada — riu quando recebeu uma cotovelada. — Aish, é brincadeira.
— Bobo.
— Quem é aquele garoto com ela? — Mingyu perguntou, apertando os olhos para tentar enxergar entre a multidão.
— É Siwoo, ele joga no time da escola — explicou o alfa. — Ele parece legal.
— Acha que ele gosta dela?
— Ou ele gosta dela ou gosta muito de dançar — riu. — Eles estão há um bom tempo só dançando, e ele dança de um jeito bem estranho.
Mingyu riu, batendo em seu ombro.
— Vai ver ele gosta dos dois — brincou. — Ele tá vindo pra cá.
— E aí, Siwoo? Se divertindo? — Soonyoung perguntou.
— Bastante — o alfa riu, um tanto cansado, levando seu olhar para o ômega em seguida. — Você é o Mingyu, certo?
— Sou — o maior sorriu, soltando o Kwon. — Até que enfim você chamou Chan pra sair, eu via vocês conversando durante a educação física.
— Meio que foi ela que me chamou pra vir hoje — contou. — Mas, não sei, acho que ela não tá interessado em mim como eu achava.
— Por que você diz isso? — Mingyu inclinou a cabeça.
— Sei lá, a gente mal tá conversando — deu de ombros, coçando sua nuca. — Enfim, não importa. Eu vou lá pegar uma bebida que ela pediu.
— Tá bem, mas Siwoo, escuta o que eu vou dizer — o ômega se aproximou, falando perto do ouvido do outro por causa da música alta: — Chan adora dançar, é o momento que ela se sente mais livre e feliz, e ela tá aproveitando esse momento contigo. Então não ouse pensar que ele não gosta de você.
— Valeu, Gyu — o alfa sorriu, fazendo um joinha com a mão e logo indo até a cozinha.
Siwoo passou pelas pessoas, desviando rapidamente de Jihoon que estava chegando perto do namorado e de Mingyu.
— Toma, amor, peguei para você mas deixei com pouca vodka — ele disse, entregando um copo para Soonyoung.
— Obrigado, nenê — plantou um selinho nos lábios rosados do menor antes de tomar alguns goles da bebida e constar que, realmente, estava bem fraca.
— Eu pedi pro DJ tocar umas músicas que a gente gosta de dançar — Jihoon contou animado.
— Vamos lá depois, então — abraçou-o pelos ombros. — Mas o pessoal tá tão animado com o que tá tocando.
— Chan que o diga — Mingyu comentou, vendo a mais nova conversando animada com outras garotas enquanto cada uma dançava um passo diferente.
Jihoon riu baixinho, apoiando a cabeça no peito do namorado e observando a pista de dança também.
— Ela vai continuar dançando mesmo que a música mude.
— Realmente — Soonyoung deu de ombros.
— Eu vou procurar meu namorado — Mingyu avisou. — Encontro vocês depois.
Os garotos concordaram e voltaram a comentar sobre algumas coisas até Joshua e Jeonghan virem até eles.
— Ei! A gente vai jogar um jogo, querem vir? — o mais velho perguntou.
— Qual jogo?
— A gente faz pequenos desafios e quem não conseguir cumprir, bebe um shot — Jisoo explicou.
— E como se ganha? — Soonyoung cruzou os braços.
— Você virou advogado agora? — rebateu o beta. — Querem jogar ou não?
— Vamos, amor, vai ser legal — Jihoon segurou a mão dele.
— Yes! Vamos — Jeonghan sorriu, puxando Jisoo pela mão até outro cômodo, onde os jovens se organizavam para fazer o jogo.
No caminho, eles cruzaram com Siwoo, que trazia consigo dois copos de plástico. Ele passou com cuidado pela pista de dança até chegar em Chan, que estava mais para o canto, conversando com Jihyo e Jeongguk.
— Voltei. Aqui sua bebida, princesa.
— Own, obrigado — ela sorriu, pegando o copo e tomando um gole.
— A gente vai procurar a Mina — Jihyo avisou, acenando para a mais nova antes de se perder no meio da multidão de novo.
— Tá bem — Chan concordou, chegando mais perto do alfa. — Quer continuar dançando?
— Hum… não sei, tô meio desanimado — fez bico. — Precisava de alguma coisa pra me animar.
— A gente pode pedir alguma música, qual você gosta? — ela segurou a mão dele, tentando se enfiar entre as pessoas para levá-lo até o DJ, mas Siwoo riu e a puxou para perto de si novamente.
— Eu não tava falando da música.
— E então o que?
— Eu só precisava de um beijinho seu — sorriu, arqueando uma sobrancelha. — Como eu consigo?
Chan riu, deixando o maior segurar sua cintura.
— Pede por favor — a beta falou baixo, duvidando que o maior fosse fazê-lo.
— Por favor, Chan — Siwoo pediu, trazendo-a para mais perto do seu corpo. — Só um selinho.
— Você é tão fofo — ela sorriu, segurando o rosto dele com a mão livre e selando seus lábios de maneira rápida.
— Você que é fofo — apertou-o entre os braços. — Posso te beijar pra valer?
Chan olhou-o por alguns segundos antes de acenar com a cabeça de maneira positiva, fechou os olhos e esperou.
— Espera aí — Siwon disse. Chan abriu os olhos, confusa. — Vai ter que ser depois dessa música, eu amo ela.
— Seu besta! — riu e empurrou o alfa, mas não rejeitou seu toque quando ele segurou sua mão, chamando-a para dançar consigo. — Você deu sorte, porque eu amo essa música também.
Baby, me abrace como se eu fosse explodir
Para de pensar, o que é tão difícil sobre isso?
Me beije como se eu fosse uma mentira
Como se eu fosse seu último amor
— Como se fosse seu último, como se fosse sua última noite, amor — Soonyoung cantava baixo, observando a pista de dança enquanto eles esperavam chegar as outras pessoas que iriam jogar.
— Ok, vamos começar! — Seungkwan anunciou. — Todo mundo já entendeu que o objetivo principal é deixar algumas pessoas bêbadas, então, podem fazer os desafios que quiserem, mas não extrapolem também porque depois ainda tem karaokê.
— Tá bem, vamos logo — Jeongyeon falou, batendo as mãos juntas. — Quem começa?
— Eu começo! — Jeonghan exclamou, servindo um shot de vodka. — Jeongyeon, você tem cinco segundos pra plantar bananeira!
— É o que? — a garota exclamou, ficando um tanto perdida.
— Vai, rápido! — alguns gritaram.
A Yoo foi para perto de uma parede, afastando as pessoas dali e, em seguida, colocou as mãos no chão e ergueu os pés, apoiando-os na parede. Várias risadas e gritos foram ouvidos quando ela conseguiu executar o desafio.
— Na sua cara, Jeonghan! — ela riu feliz, voltando a ficar em pé novamente. — Minha vez! — pegou o copo ainda cheio da mão do alfa. — Você, Yoon Jeonghan, tem cinco segundos pra dar um selinho em alguém que não seja seu namorado.
— O que vocês tem contra o namoro dos outros? — Seungcheol perguntou, rindo baixo.
— Porque senão fica muito fácil!
Jeonghan olhou rapidamente para os presentes no local, seus olhos pousaram em Jisoo e ele se aproximou.
— Não, nem olha pra mim, Jeonghan! — o beta negou, tentando se afastar quando ele foi em sua direção.
— Para com isso, não é como se eu nunca tivesse te beijado antes — segurou o rosto do americano, tentando aproximar seus rostos, mas Joshua o empurrava pelos ombros, rindo da frustração alheia.
— Acabou o tempo! — Seungkwan anunciou. — Bebe, bebe, bebe!
— Você me paga, Hong Jisoo — Jeonghan ameaçou antes de pegar o copinho e virar em um gole só. — Quem vai agora?
— Eu, eu! — Jihyo exclamou, pegando a garrafa e enchendo o shot novamente. — Eu desafio… Soonyoung-ah — sorriu, erguendo o copo na direção do alfa.
— Ih, lá vem — ele riu nervoso. — Manda.
— Você tem cinco segundos pra falar três defeitos do seu namorado — abriu um sorriso maléfico.
— Porra, aí você me fode — Soonyoung disse, tocando suas temporas. — Ok, calma.
Jihoon prendeu um riso, cruzando os braços e encarando o maior, esperando o que ele iria falar, estando até um tanto curioso.
— Ele é impaciente, se irrita fácil… — fez careta, forçando sua mente ao máximo para pensar em algo. — E… é um pouco confuso às vezes.
— Faltando um segundo, ele conseguiu!
— Ah, menos mal — Soonyoung respirou aliviado, tocando o próprio peito. — Se a gente brigar, eu vou culpar você, Park Jihyo!
— Foi só um desafio bobo — ela riu, ajeitando seu cropped após entregar a garrafa para outra pessoa.
— Em casa a gente conversa — Jihoon falou, batendo de levinho nas costas do namorado.
— Vai, minha vez! — Jeongguk falou animado, enchendo o copo novamente. — Somin noona, mostre seus talentos e rebola até o chão.
— Isso é fácil — a alfa sorriu, ajeitando seus cabelos presos num rabo de cavalo alto.
A música com uma batida mais animada e constante chegou ao refrão e, com isso, Somin tocou seus próprios joelhos e mexeu os quadris enquanto abaixava-se. Os demais presentes gritaram animados, assobiando e os amigos mais próximos dela já tinham sacado seus celulares para filmar.
— Como você fez isso? — Jeongyeon perguntou, de boca aberta pela cena.
— É fácil, gente. É literalmente só mexer e abaixar — explicou a Jeon, refazendo o que dissera.
— Espera aí, deixa eu tentar — Soonyoung disse, entregando seu copo para Jihoon.
O ômega apenas conseguiu rir ao ver o namorado — e algumas outras pessoas — tentando executar o mesmo que Somin. Eles riam com as falhas, dos que caíam no chão e dos que não conseguiam voltar para cima, ficando agachadas enquanto tentavam controlar uma crise de risos.
— Ela já tentou me ensinar também, mas eu não consegui — Jinseok contou, mostrando seu “não-aprendizado”.
— Ai, gente, vocês são fracos — Jisoo falou, de repente. — É fácil, porra.
O beta, então, ficou ao lado de Somin e fez o mesmo que ela, mexendo os quadris, abaixando-se e voltando lentamente. A ação resultou em alguns gritos eufóricos dos demais ali.
— Quem é você e o que fez com o Joshua? — Jeonghan riu, abraçando o amigo pelos ombros.
— Ih, você que tá por fora — Soonyoung interveio. — Ele é muito pior em casa, só precisa dar o tempo dele se soltar um pouco mais e ele vai tá dançando igual doido.
— Isso aí, Josh! — Jeongyeon exclamou, dando alguns tapinhas no ombro do beta.
— Acho que isso merece um shot, vai — Jeongguk disse, entregando o copo para o americano.
Joshua riu, um pouco envergonhado pela atenção repentina, pegou o copo e virou em um gole, fazendo careta pelo gosto forte.
Os adolescentes voltaram ao jogo, fazendo desafios bobos, virando shots e rindo fácil. No meio de uma rodada onde Jeongguk fora desafiado a levantar Jihyo e Jeongyeon em cada braço, Siwoo chegou no cômodo onde eles estavam, carregando Chan nos braços.
— O que aconteceu? — Jihoon perguntou, um pouco preocupado.
— Acho que eu dancei demais — a beta riu, abraçando Siwoo pelo pescoço. — Minhas pernas estão doendo.
— Você ficou quase duas horas dançando sem parar igual um doido.
— Eu gosto de dançar e a playlist tava muito boa — argumentou, abraçando-o mais apertado.
— A gente vai jogar mais umas rodadas e depois vamos pro karaokê — Seungkwan disse, chegando mais perto deles.
O ômega ficou ao lado de Siwoo e ajeitou a saia de Chan, de modo que cobrisse melhor suas coxas.
— O que vocês estão jogando? — o alfa perguntou.
— Desafios. Quem não consegue fazer, bebe um shot — Jisoo explicou, aproximando-se deles com a garrafa e o copo na mão. — Querem jogar?
— Eu quero — Chan sorriu, balançando suas pernas para mostrar que queria voltar para o chão, mas Siwoo não a soltou. — Ainda nem tô tonta, preciso de um pouco de álcool.
— Eu acho que já tô meio tonto — Joshua disse, entregando os objetos em suas mãos para Somin, que os levou para a rodinha da brincadeira novamente.
— Mas quanto você bebeu? — Siwoo riu, ajeitando Chan em seu colo.
— Eu, sinceramente, perdi a conta.
— Vamos ver se você tá bêbado — o alfa disse. — Pensa rápido!
— SIWOO! — Chan gritou quando o maior a “jogou” nos braços de Joshua.
Eles estavam próximos, então não houve perigo da menor cair ou se machucar, apenas se assustou.
Joshua arregalou os olhos e conseguiu segurá-la de maneira desajeitada, mas seus joelhos fraquejaram e os dois acabaram no chão, sem um impacto que pudesse machucá-los.
— Credo, garoto! Você é pesado! — Jisoo reclamou, tocando suas costas.
Chan gargalhava alto, ainda segurando o pescoço do mais velho, sua barriga doía de tanto rir e alguns de seus amigos se aproximaram confusos pela bagunça repentina.
— É, você tá definitivamente bêbado — Siwoo constou, ajudando-os a se levantar.
— E você! — Chan exclamou, batendo no braço do alfa. — Você simplesmente me joga para outro cara, assim?
— Aigo, desculpa — disse, segurando o rosto da beta entre as mãos e lhe dando um selinho. — Mas você me falou que ele é hétero, então, não tem problema.
— Pff, você que acha — ela falou baixo, empurrando-o sem força. — Vou pegar mais uma bebida, te encontro no karaokê.
— Ok.
Chan foi até a cozinha enquanto o restante do pessoal voltou para a sala onde estava a pista improvisada, junto da máquina de karaokê. Seungkwan anunciou que eles iriam começar a cantoria mas quem quisesse poderia continuar dançando ao som das músicas que seriam escolhidas.
Duas garotas foram as primeiras da fila, elas cantaram Playing with fire. Logo após, Seungkwan e Seokmin cantaram e performaram Single Ladies. E, até mesmo Soonyoung conseguiu convencer Jihoon a cantar Ice cream consigo.
O ômega cantava, de maneira um pouco enrolada pelo álcool já presente em seu organismo mas ninguém dava importância, ninguém estava cantando realmente bem.
Assim que a música acabou, os dois voltaram para a pista, aproveitando para dançar juntos e devagarinho quando a música escolhida pela próxima dupla mudou para um ritmo mais lento, tocando Sad girlz luv money.
No meio da multidão, estava Chan, aproveitando o momento mais calmo para voltar a dançar. Seu acompanhante estava ocupado conversando com alguns amigos de time, mas ela não ligava.
Em dado momento, sentiu duas mãos segurando sua cintura firmemente e, acreditando ser Siwoo, ela colou seus corpos e continuou movendo seu quadril de forma sensual, envolta pela atmosfera que a música criara. Entretanto, quando sentiu o nariz da pessoa roçando em seu pescoço, Chan pôde sentir o aroma doce de maçã e virou-se, vendo se tratar de Joshua.
— O que você tá fazendo? — perguntou, confusa pela atitude do mais velho.
— Vim dançar com você — deu de ombros.
Chan riu anasalado, podendo ver por cima do ombro do beta Jeonghan perto das pessoas que estavam cantando, estando abraçado com Seungcheol e beijando seu rosto.
— Ok — a beta respondeu, segurando as mãos do mais velho e levando-as para sua cintura novamente. — Dança comigo.
Jisoo engoliu em seco, mas não deu para trás. A mais nova passou os braços por seus ombros, deixando seus corpos próximos, assim como seus rostos, a ponto de poderem sentir claramente a essência um do outro. Moviam seus corpos juntos, devagar, no ritmo da música.
Chan percebia o olhar meio nublado do beta fitando seus lábios, mas ignorava, percebendo que grande parte de suas ações estavam sendo influenciadas pela bebida.
Quando alguém passou perto deles, esbarrando na mais nova, o impacto fez com que ela e Joshua ficassem ainda mais perto. Chan prendeu a respiração quando seus narizes roçaram-se por um momento.
— I really like to party — Jisoo cantou num sussurro, junto da música.
— I really like your body — Chan respondeu, sentindo as mãos alheias escorregando de sua cintura para mais abaixo.
Ela fez questão de retribuir o favor, descendo suas mãos pelo peito do maior.
— I really wanna get naughty — ele cantou, puxando-a ainda mais.
— I think you’re such a hottie…
Joshua fechou os olhos e tentou colar seus lábios aos de Chan, mas acabou sentindo a palma dela sob sua boca, impedindo-o de continuar. Ela segurou sua mão e o puxou dali.
— O que foi? — ele indagou, juntando as sobrancelhas, perdido.
— Jeonghan hyung, não deixa mais ele beber, pelo amor de Deus! — a beta disse, empurrando Jisoo na direção do alfa. — Cuida dele, ele não tá bem.
— Chan, o que aconteceu? — Seungcheol perguntou, mas foi ignorado.
A menor logo foi perdida de vista ao se infiltrar entre as diversas pessoas dançando.
— Soo, o que você tem? — Jeonghan olhou-o, preocupado.
— Nada, eu tô bem.
— Ei — Soonyoung chamou sua atenção, chegando perto deles com Jihoon em seu enlaço. — A gente tá indo pra casa, quer que eu dirija?
— Não quero ir embora ainda — Jisoo negou, abraçando Jeonghan de forma manhosa.
— Tá bem, mas me dá a chave do carro, nem fodendo que eu deixo com você.
O mais velho encolheu os ombros, entregando as chaves para o primo.
— Eu levo ele pra casa depois — Jeonghan assegurou. — Se quiser, pode levar o carro.
— Ok, valeu, hyung — Soonyoung sorriu. —Vamos?
— Uhum — Jihoon concordou. — Tchau, gente.
Eles despediram-se rapidamente dos amigos que conseguiram encontrar pelo caminho, e logo saíram da casa em direção ao carro que vieram.
— Você tá bem pra dirigir? — o ômega perguntou após sentar no banco do passageiro e tentar colocar o cinto com um pouco de dificuldade.
— Eu não bebi quase nada — ele sorriu, ajudando-o a prender na fivela.
Logo, Soonyoung deu a partida em direção a casa do namorado. Era perto das quatro da manhã, então o tráfego estava quase sem movimento algum.
Uma música tocava no rádio e eles conversavam sobre alguns acontecimentos da festa. Jihoon acariciava a coxa do maior durante o percurso, tendo a mesma segurada quando estavam em alguma rua menos movimentada e com poucas curvas.
Assim que chegaram em frente a casa dos Lee, Jihoon soltou-se do cinto e se aproximou do namorado, segurando seu rosto e beijando-o. Soonyoung retribuiu prontamente, sorrindo em meio ao contato.
— A gente se fala amanhã, ok? Vou deixar você descansar.
— Você não quer dormir aqui? — Jihoon pediu.
— Não posso, amor. Tenho que devolver o carro, meus tios nos matam se eles chegarem e o carro não estiver lá — riu baixo quando o menor fez um bico.
— Então desce só um pouquinho pra eu te mostrar uma coisa?
— Que coisa? — ergueu uma sobrancelha.
— Eu te mostro lá dentro — sorriu e desceu do carro.
Soonyoung negou com a cabeça e o seguiu, trancando o veículo e entrando na casa atrás de Jihoon.
O ômega segurou sua mão e o puxou escada acima até seu quarto, tentaram fazer o máximo de silêncio, pois os pais do baixinho já estavam dormindo.
— Jih, eu acho que você pode me mostrar amanhã…
Ignorando sua fala, Jihoon entrou no quarto e fechou a porta. Assim que o fez, segurou o rosto de Soonyoung e o beijou com intensidade, ficando na ponta dos pés para conseguir fazê-lo direito.
O alfa retribuiu o contato, não entendendo direito o fundamento daquela ação. Sentiu as mãos do mais novo em seu peito, empurrando até que caísse sob a cama.
— Jihoon, o que você tá fazendo? — perguntou, segurando sua cintura ao senti-lo subir em seu colo.
— O que você acha que eu tô fazendo?
— Não, não — negou, sentando-se. — Você tá bêbado, seus pais estão no quarto do lado…
— Para com isso — resmungou tentando beijá-lo novamente, mas ele afastou o rosto. — Soonyoung.
— Não é o momento certo — disse sério, olhando-o nos olhos.
— É o momento certo, eu quero agora. Por que você não quer? — segurou a camisa dele. — Não sente tesão em mim?
— Jihoon, o que eu mais sinto nessa vida é tesão por você, mas não vai rolar quando você tá assim.
— Eu não tô bêbado, droga, eu sei o que tô fazendo — chegou mais perto, aproximando seus rostos. — Eu quero agora, Soonyoung, por favor.
O alfa fechou os olhos e respirou fundo, tentando acalmar-se e não se entregar aos seus instintos.
— A gente pode fazer isso outra hora, amor…
— Mas eu quero agora!
— Se você quer agora, vai querer depois, né? — olhou-o, sentindo-se um pouco irritado pela insistência. — Ou você precisa estar embriagado pra sentir tesão por mim?
— Nada a ver. De onde você tirou isso? — cruzou os braços, fechando sua expressão.
— De onde mais? Você só quer fazer coisas assim quando tá bêbado ou quando eu tô há mil quilômetros de distância.
— Não é verdade — rangeu os dentes.
— Não é o que parece, tá? — Soonyoung exclamou, tentando manter sua voz baixa. — Quando eu tava longe, você conseguia se masturbar comigo, mas, agora que eu tô aqui, você foge de mim e agora, quando “coincidentemente” você tá bêbado, você quer transar comigo? Pensa que eu não tenho sentimentos? Acha que eu também não tenho minhas inseguranças?
— Eu nunca disse isso!
— Mas é o que parece! Se você precisa tá bêbado pra sentir tesão por mim, então, me desculpa, você não sente isso de verdade.
— Vai se foder, Soonyoung!
— Fala baixo, porra, seus pais vão acordar.
— Sai daqui, então — decretou, saindo de cima dele. — Se eu tô bêbado demais pra você fazer alguma coisa, então eu também tô pra discutir esse assunto ridículo!
— Ah, agora é rídiculo? — Soonyoung levantou.
— É! — Jihoon disse, abrindo a porta do quarto. — Anda, vai embora.
— Você realmente tá me expulsando?
— Vai embora, Soonyoung.
O alfa respirou fundo, tentando manter a calma.
— Inacreditável, Jihoon, inacreditável — balbuciou, pegando as chaves do carro do chão. — Eu não acredito que nossa primeira briga vai ser assim.
— Eu já disse pra você ir embora!
Soonyoung bufou e saiu do quarto, percebendo que não iria levar a lugar nenhum aquela discussão quando nenhum dos dois estava em um estado de total sobriedade.
Assim que ele passou pela porta, ela foi fechada com força pelo ômega. Jihoon estava irritado, sem saber onde descontar aquela frustração, socou seu travesseiro e segurou a vontade de gritar.
Pôde ouvir de longe o carro sendo ligado e indo embora dali em seguida.
— Vai se foder, Kwon Soonyoung.
Chapter 32: Chá de Melissa
Chapter Text
— Inacreditável! — Joane, a mãe de Joshua, fala alto, andando de um lado para o outro na sala. — Eu não criei você pra ser assim, Hong Joshua! E você, Soonyoung, o que seus pais iriam pensar?
— Eles sabiam onde eu tava — o alfa respondeu, dando de ombros.
Os garotos estavam sentados no sofá, ouvindo aquele sermão há quase dez minutos. A manhã foi agitada na casa, Jisoo nem conseguia esconder a terrível ressaca que estava sentindo, havia vomitado na pia do banheiro e não teve condições de tentar limpar, sua cabeça parecia prestes a explodir e ele sentia tanta sede que havia esvaziado sua garrafa d'água duas vezes.
— E isso é motivo pra vocês agirem dessa forma detestável? — Seunghoon interveio, tão irritado quanto sua esposa.
— Por que isso é detestável? Por que estamos sendo adolescentes? Por que estamos aproveitando nossa vida, ao contrário de vocês? — Soonyoung contestou. — Meus pais sabiam onde eu estava e eles não me proibiram de ir.
— É, mas eles não estão aqui pra tomar conta de você, estão? — a ômega gritou. — E você não pode esconder coisas da gente, Jisoo!
— Ah, querem saber? — o beta resmungou, encarando os mais velhos. — Eu não me arrependo. Podem gritar o quanto quiserem, me colocar de castigo, que seja… mas eu gostei, eu aproveitei minha juventude e eu não vou pedir desculpas por isso.
Soonyoung o olhou, surpreso pela atitude do primo, que sempre ouvia tudo que seus pais falavam de cabeça baixa. Sentiu medo naquela hora, pois não sabia qual seria a reação de seus tios a "malcriação". Eles tinham raiva nos olhos e um fogo instável e autoritário dentro deles que nunca havia sido rebatido, mas Joshua também tinha uma chama ardente dentro dele e estava apenas descobrindo isso.
— Ótimo! Pois você está de castigo! — Joane sentenciou. — Não vai sair com seus amigos até janeiro, e agradeça que o ano está perto de acabar.
— Quero ver como vocês vão manter isso se estão trabalhando o dia todo — resmungou, dando de ombros.
— Para de responder! Nós pegamos férias do hospital até o ano novo, então, sim, vamos ficar de olho em você — ela repreendeu. — E eu também vou tirar seu celular até o natal, pode me entregar.
Joshua fechou sua expressão e entregou o aparelho sem dizer nada.
— E você, Soonyoung, depois eu vou falar com seus pais pra ver o que eles acham desse comportamento — Seunghoon avisou.
— Eles já sabiam, mas provavelmente eles vão estar muito ocupados pra lidar com isso de qualquer jeito — murmurou. — Mas, se querem saber, eu contei pra eles porque nós temos uma relação de confiança e eu acho que é por esse mesmo motivo que Shua hyung não contou pra vocês.
— Mas vocês dois estão ficando muito mal educados! — exclamou a mulher. — Eu não quero ouvir mais nem um pio dos dois!
— Ótimo — Joshua sussurrou.
— Podem subir pro quarto de vocês, arrumem aquela bagunça e depois limpem a casa — mandou ela. — Nós vamos no hospital assinar nossas férias, depois vamos comprar as coisas pro almoço e queremos ver essa casa limpa quando chegarmos.
Os mais velhos, então, saíram dali para fazerem o que disseram. Quando os garotos estavam sozinhos, Soonyoung pegou uma almofada e jogou-a na porta.
— Babacas — resmungou. — Sério, que raiva, eles conseguem piorar tudo!
— Fala baixo, pelo amor de Deus — Jisoo pediu, massageando suas têmporas. — Eu tô morrendo de dor de cabeça.
— Você exagerou ontem, né? — constou, balançando a cabeça em negação. — Eu vou pegar um remédio pra você, tenta deitar e dormir um pouco, eu limpo a casa. Menos o banheiro, eu te amo, mas eu não vou limpar seu vômito.
— Justo — o mais velho respondeu, levantando-se. — Depois, você pode mandar mensagem pro Jeonghan avisando que tiraram meu celular?
— Eu não tenho o número dele.
— Pede pro Jihoon, ué — falou como se fosse óbvio, recolhendo a almofada jogada no chão.
— Não dá, a gente brigou ontem e eu não quero falar com ele agora.
— Como assim? Vocês brigaram? — Joshua arregalou os olhos, metade dos sintomas de ressaca foram embora ao receber a informação. — Por que? O que aconteceu?
— Ele tava bêbado e queria transar, e eu falei que não — explicou, afundando no sofá ao lembrar da discussão. — Eu entendo que ele ficou puto, ele fica irritado muito mais fácil quando tâ bêbado e eu também não tava no meu melhor estado e acabei falando algumas coisas que, talvez, não deveria.
— Bem, você não tava errado — o mais velho disse, sentando-se ao lado dele. — Tenta conversar com ele depois, quando estiver mais calmo.
— Eu sei, mas ugh — resmungou, cerrando seus punhos. — Foi ridículo demais e ele consegue ser tão irritante.
— Você tem que falar com ele, não vai adiantar ficar resmungando sozinho — Joshua disse, levantando-se devagar. — E tipo, é normal casais brigarem…
— Eu sei, só… — Soonyoung parou de falar ao ver o mais velho fechando os olhos, assim como seu rosto ficando pálido. — Hyung? Você tá bem?
Ele negou com a cabeça e, logo em seguida, saiu correndo até o lavabo que tinha no corredor. O alfa o seguiu depressa, ajudando ele a segurar a tampa do vaso enquanto ele vomitava o que havia tentado comer no café da manhã.
— Você está proibido de beber até sua próxima vida — reclamou o maior, segurando o braço do mais velho para ajudá-lo a se levantar.
Soonyoung levou Jisoo até o quarto, deixando-o deitado sob sua cama. Fechou as cortinas para a claridade não incomodar seus olhos, levou remédios, água e um balde caso ele passasse mal novamente.
Deixou o primo voltar a dormir e começou a fazer o que lhe foi mandado. Arrumou a casa e limpou os banheiros que Jisoo havia sujado. Iria lembrar de cobrar dele depois.
[...]
Joshua acordou depois de algumas horas, seu estômago roncava e ele sentia muita sede. O copo de água que Soonyoung havia deixado ao seu lado, estava vazio, então ele levantou e desceu até a cozinha onde o alfa lavava a louça enquanto ouvia e cantava baixo uma música que ele não conhecia.
— Que música é essa? Você nunca ouve nada assim — perguntou, sentando-se no balcão após pegar sua garrafa de água na geladeira.
— Até que enfim você acordou — Soonyoung disse. — Jihoon que me mostrou essa música, ele disse que se lembrava de nós depois com ela, aí eu acabei ouvindo e gostei.
— Que gay.
— É, eu sei — deu de ombros. — Tô me acalmando e lembrando o quanto eu amo ele antes de ir lá pra gente conversar, senão vou acabar piorando as coisas.
— Entendi — murmurou. — A mãe e o Seunghoon ainda não voltaram?
— Eles já voltaram, a gente já almoçou, eles já brigaram comigo e já saíram de novo pra comprar as coisas pro natal — explicou risonho. — Eu convenci eles a te deixarem dormindo porque você não tava muito bem.
— Que horas são?
— Perto das três da tarde — disse, secando as mãos assim que terminou sua tarefa. — Eu guardei seu prato na geladeira, é só esquentar e comer.
— Valeu, Soonyoung — sorriu o mais velho, indo pegar seu almoço. — Prometo que nunca mais vou beber tanto assim.
— Nem que você quisesse eu ia deixar você beber daquele jeito de novo — riu baixo, sentando-se de frente pra ele. — Eu consegui o número do Jeonghan com o Mingyu e já mandei mensagem pra ele avisando.
— Ah, que bom. Obrigado — voltou a sentar-se, começando a comer. — Você tem o número do Chan, por acaso?
— Tenho, por quê? Quer avisar ele também? — Soonyoung franziu as sobrancelhas.
— Não exatamente — falou baixo. — Eu preciso pedir desculpas pra ele por ontem.
— O que aconteceu ontem? — olhou para o mais velho, desconfiado.
— Eu… eu tentei beijar ele e…
— O QUE?
— Ah! Não grita! — cobriu os ouvidos. — Eu tava bêbado, não quis dizer nada. Eu tava bêbado, triste e não pensei direito, eu nunca faria isso sóbrio.
— Por favor, me diz que não é assim que você pretende pedir desculpas.
— Meio que era, por quê? Qual o problema?
— Nenhum, só o fato de que você vai cagar na cabeça dele e ferir de uma forma bem feia a autoestima já um pouco frágil dela.
— Do que você tá falando? — franziu o cenho.
— Você não pode só chegar pra alguém e falar que só ficaria com aquela pessoa estando altamente alterado por substâncias lícitas ou ilícitas, é quase um xingamento — argumentou. — Você gostaria de ouvir algo assim?
— Mas é verdade — revirou os olhos. — O que eu deveria falar, então?
— Só fala que tava bêbado, não pensou direito e que não vai mais fazer nada parecido — aconselhou, pegando seu celular no bolso e procurando o contato de Chan. — E eu acho que não é totalmente verdade, não. Você já beijou ela antes.
— Por causa de um desafio besta, não quis dizer nada — resmungou, pegando o celular. — Fica quieto que eu vou gravar um áudio.
— Eu vou subir e pegar minhas coisas, depois tô saindo — falou Soonyoung, subindo as escadas rapidamente.
Joshua suspirou e encarou a tela do celular, sem saber direito o que deveria falar. Teve que segurar a vontade de revirar os olhos quando viu que o primo tinha salvo o contato da mais nova como "Chan gênero líquido".
— Oi, Chan, sou eu — começou após clicar para gravar. — Meus pais tiraram meu celular, por isso tô falando do celular do Soonyoung. Mas, enfim, eu queria te pedir desculpas por ontem, eu tava bêbado e não pensei direito, não queria te desrespeitar ou coisa assim. É isso, foi mal. Não me odeie, por favor.
Enviou o áudio e soltou o celular, sentindo-se preocupado com a resposta, já havia pisado na bola com Chan dessa forma outra vez e nem o culparia caso não quisesse falar consigo.
— E aí? Terminou? — Soonyoung perguntou ao chegar na cozinha outra vez.
— Uhum, valeu — entregou o aparelho para ele.
— Por que você tentou beijar a Chan? — o mais novo perguntou, sentando-se de frente para o primo. — Tá certo que ela tava linda e tals, mas…
Joshua revirou os olhos, bufando.
— Eu já falei, eu tava bêbado, triste e não estava pensando coerentemente — resmungou sem paciência.
— Por que triste? Achei que você tivesse aproveitado.
— Eu aproveitei, só… é complicado, eu não quero falar sobre isso agora — ressaltou. — A gente pode conversar sobre isso outra hora, eu vou sair do armário pra você.
Soonyoung arregalou os olhos e admitia que sentiu vontade de gritar vários questionamentos, mas ele percebeu que o mais velho não queria fazer um escarcéu ao redor daquilo, mesmo que, para o alfa, fosse algo grande e importante.
Controlou sua vontade e concordou com a cabeça, dando a volta no balcão e se aproximou do mais velho, abraçando-o apertado.
— Do nada? — Joshua olhou-o confuso.
— Tô orgulhoso de você — segredou, apertando-o forte antes de o soltar. — Depois a gente conversa, se você quiser. Me deseja sorte agora.
— Boa sorte — respondeu, vendo o mais novo correndo até a saída.
Assim que ficou sozinho, Joshua sorriu.
[...]
Soonyoung estava nervoso quando chegou a casa de Jihoon. Não sabia o que iria falar quando o visse, mas também não iria aguentar passar mais um dia longe dele, com aquela angústia de estar brigado e saber que havia magoado os sentimentos dele.
Respirou fundo antes de tocar a campainha e esperar. Não demorou muito para a porta ser aberta por Daeun, e pela expressão surpresa que ela fez, Soonyoung imaginou que ela já sabia da briga, só esperava que ela não soubesse todo contexto dela.
— Soonyoung, oi, querido.
— Oi, senhora Lee — sorriu amarelo. — O Jih está?
— Ele tá na cozinha, terminando as tarefas dele — ela disse, abrindo espaço para que ele entrasse. — Eu tenho uma consulta daqui a pouco, então, já tô de saída, mas pode ficar à vontade.
— Obrigado — disse, segurando a porta para a mais velha passar.
Ela sorriu uma última vez antes de sair.
Soonyoung respirou fundo e andou até a cozinha, vendo Jihoon terminando de guardar alguns pratos, uma música soava alta de seus fones de ouvido e ele teve certeza que o ômega não o notou chegando quando ele deu um pulinho assustado ao vê-lo.
— Que porra, Soonyoung — ele resmungou, tirando os fones. — O que você quer aqui?
— Eu quero conversar — disse calmo. — Podemos?
— Eu não quero falar com você — negou, guardando o celular no bolso e saindo da cozinha, passando por ele sem nem olhá-lo direito. — Vai embora.
— Não acredito que você ainda tá irritado comigo — seguiu-o com o olhar. — Você tá sendo injusto, sabia?
— Ah, cala sua boca — virou para ele. — Eu me senti mal ontem a noite, ok? Me senti humilhado, eu senti vergonha, eu acho muito compreensível eu ainda estar bravo.
Soonyoung revirou os olhos, respirando fundo.
— Eu entendo como você deve estar se sentindo, mas…
— Então, faz o favor, e sai daqui — apontou para a porta.
— A gente pode conversar com calma e resolver isso…
— Eu não quero, Soonyoung, que droga! — bateu o pé no chão e subiu as escadas correndo.
O alfa cerrou os punhos e rangeu os dentes, segurando a vontade de chutar a primeira coisa que visse. Não sabia que seu namorado podia ser tão irritante.
Subiu as escadas atrás dele e conseguiu impedi-lo de fechar a porta.
— Lee Jihoon, pelo amor de Deus, só respira fundo e tenta conversar comigo!
— Eu não quero conversar com você! Me deixa sozinho!
— Não, ok!? — entrou no quarto e fechou a porta atrás de si. — Eu não vou deixar a nossa história ser uma daquelas histórias chatas que poderiam ser resolvidas com cinco minutos de conversa, mas que não são!
Jihoon juntou as sobrancelhas ao encarar o namorado, um pouco confuso pela frase.
— Quê?
— Ah, você entendeu! — cruzou os braços. — Por que você tá tão irritado comigo?
— Você sabe porquê, não vem com essa!
— Tá, então você preferia que eu tivesse feito o que você queria? — perguntou, aproximando-se dele. — Queria que eu tivesse tirado suas roupas e feito sexo com você? Você acha que iria lembrar de tudo que teria acontecido? Você tem certeza que não iria se arrepender no outro dia?
— Não é só isso, tá legal!? — rebateu. — Você disse coisas também, e me machucou!
— Tá bem, me escuta — Soonyoung pediu, chegando perto do namorado e tocando seu rosto, conectando seus olhos. — Nós dois estamos chateados e irritados, mas eu ainda amo você, então vamos tentar respirar fundo e nos acalmar pra conversar sobre isso civilizadamente?
Jihoon desviou os olhos do alfa, fechou-os e respirou devagar, contando até dez mentalmente.
Soonyoung fez o mesmo.
Deslizou o toque até as mãos do menor, cruzando seus dedos.
Alguns segundos depois, conseguiram encarar-se novamente.
— Melhor? — o alfa perguntou.
Jihoon acenou positivamente com a cabeça, então sentou-se sob sua cama, puxando o namorado para sentar em sua frente.
— Me desculpa pelo o que eu disse ontem — Soonyoung disse. — Eu nunca iria te magoar, você sabe.
— Eu sei, só… — encolheu os ombros. — Me desculpa também, eu sei que foi errado. E obrigado por não ter feito nada, eu sei que eu iria me arrepender hoje e não seria justo eu culpar você.
— Não tem problema, você fica mais safado quando bebe — brincou, apertando a bochecha do menor.
— Para, eu tô falando sério — Jihoon pediu, segurando as mãos dele.
— Tá bem, foi mal — ajeitou-se, ficando de frente para o namorado com perna de “índio”. — O que você quer falar?
— Eu gosto muito de você, eu amo você — decretou. — E eu não sinto tesão por você só quando eu tô bêbado ou distante. Você sabe disso, não sabe?
Soonyoung demorou para dar uma resposta.
— Me desculpa, mas não é o que parece — sussurrou. — Eu sei que é difícil, que você é tímido e tudo, mas… Poxa, a gente fica há quase dois meses e namoramos há um, e todas as vezes que você quis fazer algo a mais era quando estava bêbado ou quando eu tava longe, tipo… — deu de ombros. — Eu não tenho como saber o que se passa na sua cabeça, mas na minha tem muitas vozes me sabotando o tempo todo.
— Não escuta elas, por favor — Jihoon disse, chegando mais perto do maior. — Escuta o que eu vou te falar, ok?
Soonyoung concordou com a cabeça, abraçando a cintura do ômega quando ele se ajeitou em seu colo.
— Eu quero tentar coisas novas — o baixinho contou perto de seu ouvido, um pouco mais a vontade não tendo o olhar dele sob si. — Eu só tenho vergonha mesmo, e eu não quero dar o braço a torcer e acabar fazendo algo errado. E eu só consigo esquecer isso quando bebo porque acabo ficando mais solto.
— Eu sei, é complicado — ele respondeu, acariciando as costas alheias. — Mas você não precisa ter vergonha de mim, não há nada que você faça ou diga que vai fazer eu te amar menos ou sentir menos desejo por você, tá bem?
— Tá bem, mas…
— E tem mais — afastou-se um pouco, segurando o rosto do menor outra vez. — Se a gente vai fazer mesmo, nós temos que nos lembrar de tudo, né?
— Eu sei, me desculpa —murmurou, abraçando o maior apertado. — Eu só… Eu não entendo nada disso e acabo pensando demais.
— Hum, parece alguém que eu conheço.
— Quem?
— Eu — riu baixo, acariciando os cabelos dele. — Mas, você quer saber? Eu não me preocupo tanto quando estou com você, porque não importa o que aconteça, eu vou continuar gostando de você do mesmo jeito.
Jihoon sorriu, desviando seus olhos momentaneamente, sentindo a mão do namorado acariciando seu rosto.
— E a gente pode ir devagar, sim? — o maior continuou. — Igual a gente estava fazendo durante a viagem, tudo no seu tempo.
O ômega concordou com a cabeça.
— Ok? — Soonyoung perguntou, tocando seu queixo para trazer o olhar para si.
— Ok — Jihoon riu nasalmente, voltando a olhá-lo. — Eu amo você.
— Eu também amo você — Soonyoung sorriu, puxando-o e plantando um selinho em seus lábios. — Então, tá tudo certo entre nós?
— Hum — Jihoon fez bico, fingindo pensar. — Acho que falta uma coisa.
— O que, meu amor?
Sem dizer nada, Jihoon segurou o rosto do namorado e colou seus lábios, beijando-o com saudade e prontamente o toque foi retribuído. As mãos do maior seguraram sua cintura e o puxaram para mais perto.
O ômega, então, abraçou-o pelos ombros e se deitou entre os travesseiros, puxando Soonyoung para ficar sobre ele, acomodado entre suas pernas. Cruzou-as em sua cintura e correu as mãos por seu corpo, entrando em suas roupas e tocando sua pele.
Quando sentiram seus pulmões reclamando por ar, separaram o contato de suas bocas e seus olhos se encontraram novamente. O coração de Jihoon estava acelerado, ansioso, mas uma parte alcançou uma calmaria quando ele olhou para seu namorado e todo aquele brilho que ele carregava nas íris.
— Soonyoung.
— O que?
— Me toca — pediu baixo, guiando uma de suas mãos pelo seu corpo, deixando que os dígitos adentrassem os tecidos que o cobriam para tocar seu abdômen e subir sutilmente até seu peito, deixando sua pele parcialmente exposta.
O alfa encarou-o por mais alguns segundos antes de voltar a beijá-lo de maneira afoita. Enquanto uma mão tocava seu rosto, a outra explorava seu corpo, acariciando suas laterais, apertando sua cintura e desenhando suas clavículas.
Jihoon fechou os olhos quando os lábios do maior abandonaram os seus para brincarem com seu pescoço, plantando beijos que lhe deixavam arrepiados e mordidas que lhe faziam arfar.
— Você vai me marcar — murmurou, apertando os fios da nuca dele.
— Não posso?
— Posso marcar você também? — olhou-o, mordendo os próprios lábios.
— Por favor.
O ômega, então, empurrou Soonyoung e inverteu suas posições, ficando por cima, sentado em seu colo. As mãos do mais velho apertaram sua cintura e subiram por suas costas, erguendo a camiseta até retirá-la de seu corpo.
Soonyoung sentou na cama para conseguir tirar a sua blusa também, tendo a ajuda do menor para tal. E, assim que seu tronco estava exposto, Jihoon segurou sua nuca e voltou a beijá-lo. Seus lábios e línguas se tocavam lentamente, aproveitando as sensações enquanto abafavam sons de satisfação em suas gargantas ao passo que o ômega ondulava seu quadril contra o do namorado.
Puxando os fios da nuca de Soonyoung, Jihoon separou o beijo e passou a usar a boca para mordiscar o pescoço do maior. O alfa fechou os olhos e arfou, gostando das sensações que estavam sendo proporcionadas, ter o mais novo ali estava sendo simplesmente bom demais e todo seu corpo estava reagindo a aquilo, seu pênis pulsava dentro de suas calças e ele sentia-se à beira da loucura ao sentir que o namorado estava da mesma forma.
Trocando as posições novamente, Soonyoung empurrou Jihoon contra o colchão, e investiu seu quadril contra o dele. O mais novo mordeu os lábios com força, mas não conseguiu impedir um gemido baixo de escapar de sua garganta.
— Você é tão lindo — o alfa sussurrou, inclinando-se para beijá-lo novamente. — Tão lindo, tão sexy…
— Soonyoung…
— Vai me mandar calar a boca? — ergueu uma sobrancelha, deslizando seus dígitos pelo corpo dele até alcançar sua cintura e puxá-lo para mais perto de si.
Jihoon revirou os olhos. Soonyoung estava certo.
O alfa riu nasalmente, deixando mais alguns selinhos no namorado antes de distribuir beijos por seu pescoço até alcançar seu peito. Jihoon crispou os lábios e gemeu baixinho quando o maior esfregou a língua lentamente em um de seus mamilos.
— Soonyoung! — exclamou, fechando os olhos com força, agarrou seus cabelos e seu corpo se contorceu involuntariamente.
Arrepios corriam por sua coluna e reverberavam diretamente em seu pênis, que pulsava por atenção dentro de suas roupas, estas que, não muito tempo depois, foram invadidas pela mão arteira do alfa.
— Eu posso? — ele perguntou uma última vez, olhando atentamente para Jihoon.
Sem conseguir falar, o ômega apenas acenou com a cabeça, arqueando seu corpo quando sentiu a palma quente de Soonyoung segurando seu membro, massageando-o enquanto seus lábios voltaram a brincar com os botões em seu peito.
Jihoon não conseguia mais pensar coerentemente, sua mente estava nublada e tudo que ele conseguia fazer era deixar que sons baixos e arrastados escapassem de sua garganta, ao mesmo tempo que seu corpo tremia.
De repente, em meio a todas aquelas sensações, Jihoon pensou que não deveria ser o único a se sentir tão bem, então tocou o pescoço e sussurrou:
— Me beija — ele pediu, sendo prontamente atendido e logo a língua de Soonyoung se arrastava contra a sua.
Com a mão trêmula, o ômega abriu o zíper da calça jeans do namorado e, um tanto receoso, tocou seu membro.
Soonyoung separou o beijo para gemer baixo, surpreso pela ação do outro, mas não negou. Ajudou-o a abaixar o tecido e encaixou melhor seus quadris, segurou suas intimidades juntas e investiu o quadril contra sua palma e a de Jihoon, ambos sentindo espasmos de um prazer enorme correndo por seus corpos.
— Jihoon — o alfa gemeu, sem conseguir tirar os olhos do namorado, que mantinha seus olhos fechados, sem saber lidar com todas aquelas sensações.
— S-Soonyoung… porra, eu não… eu não… — choramingou, arranhando seu ombro com a mão livre.
Poucos segundos depois, eles chegaram ao orgasmo. Soonyoung alcançou primeiro, apertando com força a cintura do namorado e chamando por seu nome. Sentindo as investidas mais intensas pelo ápice do prazer do maior, Jihoon gozou logo em seguida.
As respirações ofegantes podiam ser ouvidas pelo cômodo, seus peitos subiam e desciam tentando recuperar o ar e as mãos do ômega acariciavam os cabelos escuros do namorado.
— Jih.
— Hum?
— Você tá bem?
— Uhum — murmurou.
Soonyoung apoiou as mãos no colchão e olhou para o baixinho. As bochechas estavam coradas e gotículas de suor escorriam por suas têmporas.
— Vou pegar uma toalha para nos limpar — falou, dando mais alguns beijinhos pelo rosto dele.
— Hum — Jihoon resmungou, abraçando-o apertado. — Espera um pouquinho.
— Um pouquinho quanto?
— Até eu não estar tão envergonhado — respondeu, deslizando os dedos pelas costas dele.
O alfa riu nasalmente, empurrando os cabelos do baixinho para trás, admirando sua expressão cansada e satisfeita.
— Quer ir tomar um banho? Eu espero você pra gente conversar.
— O que mais a gente tem pra conversar? — olhou-o, fazendo um bico.
Soonyoung sorriu, apertando suas bochechas e lhe dando selinhos.
— Nada relacionado ao que a gente acabou fazer — garantiu, plantando mais alguns beijinhos na bochecha dele.
— Então a gente só faz isso e finge que nada aconteceu? — juntou as sobrancelhas.
— Não necessariamente, você quer falar sobre isso?
— Não, obrigado — empurrou-o de leve pelos ombros.
Soonyoung riu ao se afastar, sentando ao lado dele na cama e ajeitando suas roupas, assim como Jihoon.
— Eu vou tomar banho — disse o menor, limpando o sêmen de sua barriga com sua camiseta. — Você pode usar o banheiro do andar de baixo para se limpar.
— Tá bem.
O alfa tocou a nuca do mais novo, trazendo o olhar dele para si novamente. Aproximou-se e beijou seus lábios outra vez.
— Deixa eu ir lá — pediu o ômega, apoiando as mãos em seus ombros.
— Daqui a pouquinho — respondeu Soonyoung, mordendo o lábio inferior do namorado em seguida. — Fiquei triste por ter brigado com você.
— Eu também — ele murmurou, abraçando-o outra vez. — Mas acho que é normal, casais brigam mas o importante é a gente conseguir resolver tudo.
— Shua hyung falou quase a mesma coisa — respondeu. — Ah! Aliás, eu preciso te contar uma coisa… duas coisas!
Jihoon riu anasalado pela animação repentina do namorado, admirando-o se ajeitar empolgado sobre a cama.
— Você pode esperar eu me limpar?
— Ah, mas vai rápido que tem fofoca, anda — resmungou, empurrando o menor para que ele levantasse. — Vou te esperar aqui, tá bem?
— Tá bem, eu não demoro — garantiu, seguindo até o banheiro.
Assim que entrou e fechou a porta, Jihoon se apoiou ali e ficou encarando o nada, digerindo tudo que havia acabado de acontecer em um período curto de tempo.
[...]
— Até que enfim — Soonyoung disse assim que Jihoon voltou para o quarto. — Eu tava quase invadindo o banheiro pra ver se você não tinha desmaiado e batido a cabeça.
— Você é muito exagerado — o ômega resmungou, subindo na cama e ficando ao lado dele.
— Deixa eu secar seu cabelo? — o maior pediu, estendendo a mão para pegar a toalha.
Os cabelos do mais novo estavam molhados, ainda com algumas gotinhas escorrendo pelos fios e pingando na camiseta que ele vestia. Jihoon cedeu e entregou o tecido para Soonyoung, sentando-se de costas para o namorado. Ele sorriu satisfeito, começando a esfregar a toalha em seus cabelos.
— O que é que você queria me contar? — tentou olhá-lo por cima do ombro.
— Antes disso, eu tenho que perguntar: — Soonyoung chegou mais perto, abraçando-o por trás para que pudesse falar em seu ouvido. — Você tá de boa com o que aconteceu agora?
Jihoon virou o rosto, mordendo os lábios enquanto sentia as bochechas esquentando ao passo que seu coração acelerou pelo assunto. Não queria se sentir tão envergonhado com coisas assim, queria tratar de tudo com naturalidade, mas simplesmente ainda não conseguia.
— Acho que sim…
— Acha ou tem certeza?
— Eu não sei, aceita minha incerteza como resposta — choramingou, cobrindo seu rosto.
— Não posso — riu baixo, apertando-o um pouquinho mais. — Você gostou? Tudo bem pra você se aquilo se repetir?
Sem abrir a boca, Jihoon acenou positivamente com a cabeça.
Soonyoung sorriu, não contendo sua felicidade, e beijou o rosto do namorado.
— Então, tá bem — falou, mordiscando seu pescoço antes de voltar a secar seus cabelos. — Agora, a fofoca que eu tenho.
— Sim, me conta — virou-se para ele.
— Não me pergunta o contexto, porque eu não sei — avisou. — Mas Shua hyung tentou beijar Chan ontem na festa.
— Que? Do nada? Por que? — juntou as sobrancelhas.
— Eu também não sei, ele só pediu meu celular pra mandar mensagem pra ela pedindo desculpa — deu de ombros, pegando o aparelho no bolso. — Eu não sei se ela respondeu, mas eu juro que tô pensando até agora porque ele tentou.
— Ah, sei lá… Meio estranho, ele não tá sempre dizendo que é hetéro?
— Mas isso é o mais doido! Antes de eu sair, ele disse que a gente ia conversar e ele ia sair do armário.
— Será que ele finalmente conseguiu aceitar? — arregalou os olhos, aproximando-se do namorado. — Isso seria ótimo.
— Sim, seria! Mesmo… — mordeu os lábios. — Sei lá, seria bom pra ele, mas seria muito complicado por causa dos pais dele.
— É verdade, tem isso — murmurou. — Mas, sei lá, quem sabe se ele conversar…
— Não tem conversa com meus tios, Jih — lamentou. — Eles falam que não tem nada contra desde que não seja o filho deles.
— Isso nem faz sentido, então eles aceitam todo resto do mundo, menos a pessoa que eles deviam cuidar e proteger?
— É, tipo isso — riu triste. — Nem todos os pais são legais como os seus, é difícil pra algumas pessoas, e eu nem quero imaginar como vão ser as coisas se o Shua hyung realmente se assumir.
— Como assim “realmente se assumir”?
— Não sei. Se eu fosse ele, acho que eu não iria contar — explicou. — Eu esperaria até poder sair de casa e não depender deles.
— Continua não sendo justo.
— É, mas a gente não tá falando de justiça, a gente tá falando de sobrevivência.
— Credo, que horror — resmungou. — Isso soa muito ruim.
— E é! Meus tios nunca vão aceitar. Eles ainda implicam comigo mesmo eu não sendo filho deles, nem quero imaginar como vão ser as coisas se ele decidir jogar a merda no ventilador.
— Mas você precisa estar com eles caso algo aconteça…
— Eu sei, né? Nunca passou pela minha cabeça não estar com ele — respondeu. — A gente vai ter que estar preparado.
— É — murmurou. — Eu vou estar aqui também, ok?
Soonyoung sorriu, erguendo os olhos pro namorado.
— Promete?
— Prometo.
O mais velho, então, aproximou-se para beijá-lo, mas o som de uma mensagem chegando os interrompeu.
— Chan respondeu — ele disse. — Vamos ver?
— Não seria invasão de privacidade?
— Mas o celular é meu — rebateu, pegando o aparelho e desbloqueando-o.
Jihoon revirou os olhos, mas ficou ao lado dele para ler as mensagens também.
[Chan gênero líquido]
eu não vou falar nada, fica vc com sua consciência
mas vc teve sorte que eu não te dei um soco
e que não se repita viu?
próxima vez eu juro que te bato
e mais forte que da última vez :)
— Uau, ele realmente tá puto — Soonyoung disse. — Eu não julgo.
— Eu sei lá, Shua hyung é muito complicado mesmo — o ômega murmurou. — Mas eu entendo, se eu tivesse mais bêbado e eu não namorasse você, eu provavelmente tentaria beijar Chan também.
O mais velho riu com a confissão, jogando a cabeça para trás e batendo as mãos.
— Você bebe e vira allosexual!
— Credo, Deus me livre, Soonyoung — resmungou.
— Não é nada demais, só…
O celular do baixinho começou a tocar, ele se esticou na cama para pegar o aparelho no móvel de cabeceira da sua cama.
— Oi, mãe. O que foi?
— Oi, filho. Você tá bem?
— Tô, por quê?
— Soonyoung ainda tá aí?
— Sim, tá aqui comigo.
— É que eu vim pra consulta com o médico, né? E você sabe que eu acho difícil dirigir agora com a barriga, então eu vim de táxi, mas tá dando muito caro pra voltar. Você pode vir me buscar?
— Ué, achei que eu não pudesse pegar o carro enquanto não tirasse a habilitação — respondeu, tentando se levantar mas foi segurado pelo alfa.
— Você ainda não tirou a habilitação?
— Não, mãe, de onde eu ia tirar dinheiro pra isso?
— Ah, tá, que coisa… — ela murmurou. — Faz assim, esquece tudo que eu te ensinei por quinze minutos e vem me buscar, aí eu volto dirigindo. Quando a gente voltar, a gente vê essa questão, combinado?
— Tá bem, eu tô indo — desligou.
— Onde você vai? — Soonyoung choramingou, puxando o menor até que ele estivesse em seus braços.
— Vou buscar minha mãe no médico.
— Posso ir com você? — perguntou, apertando-o e beijando seu pescoço.
— Se for pra você ficar me agarrando, é melhor não — resmungou, empurrando-o na cama. — Preciso ir, ela tá me esperando.
— Deixa eu ir com você — pediu, levantando-se. — Eu posso dirigir.
— E você tem habilitação?
— É claro — exclamou, fazendo um biquinho nos lábios enquanto falava. — Eu tirei quando fiz 18 esse ano.
— Esse ano?
— Sim, né? Eu… — de repente, ele parou, olhando para o namorado estreitando os olhos. — Que dia é meu aniversário?
— Que?
— Você sabe que dia é meu aniversário?
— É claro que eu sei! — rebateu, saindo do quarto em seguida, descendo para a sala com o alfa em seu enlaço.
— Então que dia é?
— Soonyoung, por favor, coloca seu calçado pra gente sair.
— Lee Jihoon, que dia é meu aniversário?
— 15 de junho! — exclamou o baixinho, jogando as chaves do carro para o maior. — Não me subestima, seu abusado.
— Lá vem você com palavras difíceis…
— Rápido!
[...]
— Por que você nunca me pegou de carro pra gente ter um encontro? — Jihoon perguntou quando estavam no caminho para o hospital.
Soonyoung estava concentrado na estrada, então quase não ouvia os resmungos do namorado, ainda mais quando a música que tocava no rádio era uma que ele gostava muito. Mesmo assim, ele olhou de canto para o menor antes de responder:
— Eu não tenho carro, bebê.
— Hum — murmurou. — Eu ainda acho que você deveria.
Soonyoung riu anasalado.
— Ok, eu vou roubar um e te levo pra um encontro bem romântico.
— Assim espero — disse, tocando a coxa do namorado.
— Pra onde você quer ir?
— Você escolhe, você sempre escolhe uns lugares bonitinhos.
— Depois do natal, então vamos sair em um encontro?
— Vamos — o ômega afirmou, sorridente.
Aproveitou que estavam parados no semáforo para se aproximar e dar um selinho no maior.
Continuaram o caminho, Soonyoung cantava a música que tocava no rádio de forma animada, enquanto o menor ria baixo, tentando filmar discretamente o pequeno show que seu namorado dava.
— So never tell yourself you should be someone else — ele cantou, batendo os dedos no volante, virando para Jihoon em seguida, continuando enquanto olhava para a câmera. — Stand up tall and say I’m not afraid!
O ômega riu, parando a gravação e se juntando a ele na cantoria pois gostava daquela música também.
[...]
Joshua estava na cozinha terminando de limpar e arrumar os armários como forma de sua punição quando Soonyoung chegou, batendo a porta com mais força do que necessário e cantando alto.
O beta revirou os olhos e continuou sua tarefa, mas logo o mais velho entrou na cozinha, dando algumas voltinhas animadas enquanto abria a geladeira.
— O que te deu, hein? — Jisoo resmungou, tirando os potes dos armários e deixando-os ao seu lado no chão.
— Você não quer saber — murmurou.
— Se eu não quisesse, eu não tinha perguntado — rebateu. — Anda, desembucha.
Soonyoung riu baixo, chegando mais perto do primo e sentando-se ao lado dele no chão. Assim que o fez, o mais velho franziu o cenho ao sentir a essência de camomila forte.
— Por que o cheiro do Jihoon tá tão…? — então ele arregalou os olhos. — Meu Deus, vocês transaram!
— Shh! Não grita, por favor! — cobriu a boca dele. — Os tios estão no andar de cima e sua mãe tem o ouvido de um morcego.
— Tira essa mão daí, eu não sei por onde você andou — resmungou, afastando a palma do alfa de seu rosto. — Mas, então… é verdade?
— Não foi sexo, mas rolou umas coisinhas — explicou, contendo um sorriso. — Foi legal, acho que a gente tá evoluindo.
— Que legal, tô feliz por vocês…? — franziu o cenho. — Estranho estar feliz por esse tipo de coisa.
— Realmente — riu anasalado. — Mas… e você?
— O que tem eu?
— Você tinha me dito algo antes de eu sair.
— Ah, é — parou o que estava fazendo e suspirou, pensando. — Eu acho que… eu não sinto atração por mulheres.
— É, mas meio que eu já sabia disso — respondeu o alfa. — Você me disse aquela vez, mas depois disse que foi da boca para fora.
— Eu sei, mas algumas coisas aconteceram recentemente e eu… tô descobrindo outras coisas — deu de ombros. — Eu ainda tenho muito medo mas parece ainda mais assustador viver uma mentira.
— Faz sentido — murmurou, chegando mais perto do primo. — Bem, não importa o que você seja, eu sempre vou estar do seu lado.
— Valeu, Soon — Joshua sorriu, aceitando o abraço apertado do mais novo.
O alfa sorriu, acariciando os cabelos do menor, mas alarmou-se quando sentiu algumas lágrimas pingando em seu ombro.
— Ei, o que foi?
— É que… — Jisoo tentou falar, risos sem humor algum escapavam de seus lábios. — Ainda dói tanto.
— Tá tudo bem, tá tudo bem — Soonyoung falou baixinho, intensificando o aperto. — Você não tá sozinho, ok? Tô do seu lado, não importa o que aconteça.
— Eu sei — murmurou. — Eu ainda preciso de mais um tempo pra pensar nisso.
— Claro, sem problemas — afastou-se, secando o rosto do mais velho. — Qualquer coisa tô aqui.
— Valeu.
Eles ficaram quietos por um tempo enquanto o beta secava seu rosto.
— Ah, Chan respondeu — avisou Soonyoung, pegando seu celular e entregando para o mais velho.
— É, ele tá puto comigo — Joshua suspirou, devolvendo o celular e cobrindo seu rosto antes de soltar um grito abafado.
— Por que você tentou beijar ela?
— Eu já disse, caralho — resmungou. — Eu tava bêbado, triste e não tava pensando direito.
— É, continua repetindo isso igual um mantra que talvez você comece a acreditar.
— Vai se foder, eu tô falando sério — revirou os olhos, voltando a guardar — lê-se jogar — os potes no armário.
— Você já abriu uma porta do armário, não vai te matar admitir que tentou beijar Chan porque ela é legal e tava muito linda naquela noite — cutucou o primo.
— Cala a boca! Não é nada disso, não faria sentido eu querer ficar com ele sendo que eu tô apaixonado por outra pessoa!
Um silêncio ensurdecedor se instalou no ambiente, Jisoo arregalou os olhos quando percebeu que havia falado demais.
— E-Eu…
— Você tá apaixonado!? — Soonyoung gritou, animado demais. — Por que você não me contou!?
— Eu não tô! Você ouviu errado! — rebateu, levantando-se e saindo dali em passos rápidos.
— Para de ser cínico! — o alfa correu atrás dele. — Por que você não me disse!? Eu contei pra você quando eu me apaixonei pelo Jihoon, eu te contei tudo!
— É, mas você é bissexual desde que assistiu Mulan pela primeira vez e ficou obcecado pelo Shang! — ficou atrás do sofá, tentando se esconder do mais novo.
— Mas isso não tem nada a ver, eu já superei! — tentou chegar mais perto mas o beta atirou uma almofada em si.
— Você também conta as coisas que eu não quero saber, eu nunca tive escolha!
— Para de ser fresco, eu nunca contei nada demais.
— Você acabou de me contar que vocês transaram!
— Para de gritar isso, seu merda! — jogou outra almofada nele, acertando em cheio seu rosto. — Se seus pais ouvirem isso eu quebro seu armário na base da porrada.
— Cala sua boca! Eu não vou te falar sobre essa pessoa, é errado…
— Ah, qual é, Joshua!? — pulou o sofá, aproximando-se do primo, que prontamente fugiu de si. — Supera esses preconceitos que seus pais colocaram na sua cabeça!
— Não tem nada a ver com isso, é errado porque essa pessoa namora!
Soonyoung arregalou os olhos, parando de correr atrás do primo.
— Sério?
Jisoo baixou a cabeça, acenando positivamente.
— Eu não queria sentir isso, é errado demais, mas eu não sei como fazer esses sentimentos irem embora.
— Você podia beijar a Chan — deu de ombros.
— Eu vou te matar! — o beta exclamou, pulando a mesinha de centro e correndo atrás do mais novo.
— Ei, ei! Se acalma! — Soonyoung correu dele, se escondendo atrás das cadeiras e dando a volta na mesa. — Eu não quis dizer literalmente! Eu quis dizer que você podia ficar com outras pessoas, é mais fácil de superar!
— E eu lá tenho cara de vagabunda igual você que ficou com meio mundo pra tentar superar o Jihoon? — jogou um brinquedo dos gatos no alfa.
— Que exagero, foram só umas seis pessoas!
— E você acha pouco!?
— Você tá fugindo do assunto!
— Não tem mais assunto!
— Você precisa superar isso!
— Não! — o beta disse. — Soonyoung, você não entende, eu amo ele!
O alfa parou outra vez, arregalando os olhos mais ainda.
— Porra, Joshua…
— Eu sei, é uma merda — sorriu triste. — Não é algo simples, eu amo ele demais, tanto que chega a doer. Eu só queria poder levar ele pra algum lugar onde não tenha mais ninguém, um lugar onde eu possa ser livre com ele do meu lado. Mas, infelizmente, não vai ser fácil assim… Na verdade, só tem sido difícil até agora.
Soonyoung suspirou, andando calmamente até o primo.
— Eu posso me arrepender do que vou falar, mas… se fosse eu na sua situação, eu não iria desistir — disse, abraçando o mais velho. — Se o Jihoon namorasse outra pessoa, não sei se isso me impediria de tentar algo com ele, porque eu sou louco por aquele garoto. Nem que eu tivesse que namorar ele e o namorado dele — brincou.
— Não é tão fácil assim. Eu conheço ele muito bem, ele ama o namorado dele mais que tudo.
— Você faz o que achar melhor, ok? Eu vou estar aqui pra qualquer coisa que você decidir.
Joshua abraçou o primo, voltando a chorar em silêncio.
Chapter 33: Chá de Canela
Chapter Text
Eu odeio meus pais.
Bem, é claro que isso é mentira.
Eu não odeio meus pais.
Quer dizer, eu não lembro muito do meu pai, ele se separou da minha mãe quando eu tinha uns 8 anos e, pouco tempo depois, ela se casou com um outro homem e nós nos mudamos para Coréia.
Seunghoon não é meu pai biológico, mas parece que nem ele liga muito pra isso. Mesmo que eu não tenha vindo dele, quando eu era criança ele se esforçou muito pra conseguir minha “aprovação”.
É claro, quando se é uma criança e, de um dia pro outro, seus pais não estão mais juntos, seu pai vai embora e nunca mais dá sinal de vida e em poucos meses sua mãe aparece com outro namorado, é de se esperar que você fique um pouco — pra não dizer muito — cauteloso quanto novas pessoas chegando em sua vida e eu não vou mentir: eu odiava Seunghoon.
Na minha cabeça de criança, era culpa dele que meu pai tinha ido embora, então eu fazia de tudo pra infernizar a vida dele. Eu chutava sua canela, jogava brinquedos nele, fugia de si quando ele tentava se aproximar, puxava seus cabelos e algumas coisas que crianças fazem. E, para minha surpresa, ele não desistiu.
Claro que vendo agora, era bobeira eu esperar que ele desistisse da minha mãe por causa da minha birra, mas meu cérebro de criança esperava que desse certo e ele fosse embora.
Mas ele ficou e insistiu, me conquistando aos poucos e conseguindo minha confiança, tanto que, hoje em dia, eu o considero quase meu pai — mais fácil do que falar “minha mãe e meu padrasto” toda vez que vou citá-los.
E minha mãe sempre foi próxima de mim, mesmo que ela tivesse que fazer plantão várias vezes quando eu era criança, ela sempre buscava ficar perto de mim, me ajudando com as tarefas de casa, brincando comigo, assistindo filmes e me levando pra passear de carro quando não tínhamos nada para fazer.
Então, é, eu não odeio meus pais, mas odeio a forma como eles pensam sobre algumas coisas e a forma como eles fazem com que eu me odeie.
Ah, e caso eu não tenha mencionado: eu sou gay.
Óbvio que ainda não consigo falar isso em voz alta, mas estão sendo pequenos passos que eu dou desde minha puberdade. Afinal, nenhuma criança heterossexual iria se excitar assistindo Mortal Kombat nas cenas que o Liu Kang aparecia sem camisa, né?
E era óbvio que eu sabia disso, e era óbvio que aquilo me assustava pois sempre ouvi que homens gostavam de mulheres, mulheres gostavam de homens e que qualquer coisa diferente disso estava errada e deveria ser condenada a uma eternidade de sofrimento no inferno.
Acho que dá pra imaginar que eu parei de ir na igreja quando as crises de ansiedade naquele lugar ficaram muito constantes e cada vez mais assustadoras. Uma vez, quando eu estava com 14 anos, eu chorei e gritei tanto que me surpreendi do padre não ter vindo me exorcizar na mesma hora.
Então, desde muito novo eu tinha duas coisas que estavam sempre assombrando meus pensamentos: não saber porque meu pai foi embora de um dia para o outro; e saber que eu não gostava de mulheres do jeito que minha família esperava e que isso iria fazer eu ser uma decepção para eles.
São quase 20 anos ouvindo frequentemente minha mãe dizer o quanto abominava homossexuais e que preferia ver um filho drogado do que com outro homem — ela só disse isso uma vez, mas pensam que eu esqueci? Ainda choro pensando nisso e penso mais vezes do que gostaria em como eu poderia me drogar pra ver se a decepção no olhar dela e de meu padrasto seria menor do que nas vezes que eu dava a entender que não queria namorar uma menina. Graças a Deus, a única vez que usei drogas foi quando Chan me ofereceu um pouco de maconha e vou dizer que não pretendo fazer nada parecido novamente, então… acho que foi mal, mãe, você só vai ter um filho homossexual mesmo.
É engraçado como eu consigo fazer piadas mas ainda choro quase toda noite pensando sobre isso, é estranho viver em negação.
Eu passei grande parte da minha vida reprimindo meus desejos, evitando entrar em certas conversas e pedindo para que Deus, caridosamente, aceitasse levar minha pobre alma em todas as minhas orações antes de dormir. Em certo momento, eu parei de rezar.
E eu sei o que todos dizem: por que você não enfrenta seus pais?
A resposta é simples: porque eu ainda amo eles.
Eu gosto do ambiente familiar que eu estou, eu gosto quando estamos todos conversando na hora do jantar sobre alguma história engraçada que aconteceu no plantão do hospital, ou quando Soonyoung contava de algo que acontecia em sua aula. Eu amo minha família apesar de tudo, e eu não estou pronto pra perder isso, talvez eu nunca esteja.
Meu plano desde que eu comecei a ter uma ideia da minha “não-heterosexualidade”, era ignorar essa parte minha até que eu pudesse sair de casa e depois seria tudo consequência do destino. Como não teria mais que depender dos meus pais, não era da conta deles com quem eu iria namorar, mas, bem, a vida é uma merda e as coisas nunca são como a gente espera.
Todo plano que eu tinha bolado na cabeça foi por água abaixo quando Soonyoung se assumiu bissexual com 14 anos. Ele tinha contado apenas para os pais dele, mas como nossa família, aparentemente, não tem respeito nenhum pela privacidade dos outros, no dia seguinte, todo mundo já estava sabendo e dá pra imaginar que os almoços de família foram bem estranhos.
Quando isso aconteceu, Soonyoung ainda não morava comigo, então meus pais não poupavam palavras para dizer o quanto eles achavam um absurdo toda aquela história, que Soonyoung deveria ser levado a um psicólogo ou a igreja, que se meus tios tivessem “notado” mais cedo, poderiam ter feito alguma coisa para impedir isso. E eu, com 15/16 anos, já sabia beeem lá no fundo que heterosexualidade nunca foi uma opção para mim, então eu tinha que ouvir todas aquelas coisas horríveis como se fossem diretamente para mim, ficar quieto e chorar antes de dormir.
Não foram poucas as vezes que minha mãe me viu chorando na minha cama, e é óbvio que ela se preocupa, mas tudo que eu conseguia fazer quando ela sentava do meu lado e perguntava porque eu estava chorando era só chorar mais e balançar a cabeça, porque contar também nunca havia sido uma opção.
Eu ouvi minha mãe falar coisas horríveis sobre o Soonyoung, e eu não queria que aquelas palavras fossem para mim, mas elas já eram, desde o começo. Eu sei que minha mãe sempre soube, eu sei que ela sabe, mas, assim como eu, ela também está em negação.
Quando meus tios contaram sobre o Soonyoung pros meus pais, eu ouvi eles falando coisas como:
“Se fosse meu filho, preferia ver ele dormindo com quantas prostitutas ele quisesse, que tivesse até alguma DST do que isso.”
“Não posso imaginar o sofrimento da Soonhee, nenhuma mãe merece esse castigo”
E outras coisas que talvez seja melhor não falar aqui, mas isso foram as coisas mais leves que eu ouvi durante todo esse tempo, fora as coisas de quando eu era criança, quando eu estava mais preocupado em comer terra e minha mãe falava: “você tem que crescer e namorar uma menina bem bonita, ouviu?”
Como eu disse, eu só queria comer terra, brincar como uma criança normal, mas já vinham essas micro agressões que me deixavam confuso em relação a mim mesmo, porque eu nem sequer estava interessado em ter um namoro.
Por Deus, eu tinha 7 anos!
Como alguém olhava para uma criança de sete anos brincando no parque e abordava seus pais falando: “Seu filho tem um jeito meio boiola, né? Melhor cuidar isso antes que piore.”
Eu odeio essa palavra.
Talvez todo ódio que meus pais tenham venha de todas essas pessoas, de todos os julgamentos que o mundo colocou sobre eles e sobre mim também, ou talvez eu esteja apenas procurando por uma desculpa. Eu sei que, no fundo, não há nada que justifique a forma como eles pensam, mas eu entendo, é um mundo preconceituoso, que nos ensina desde cedo a odiar tudo que não seja como sabe-se lá quem decidiu.
Eu sempre tentei convencer meus pais a tentar fazer terapia, acho que iria ajudar muito eles, pois eu sinto que, em algum lugar muito no fundo, eles querem aceitar quem eu sou, mas é algo que vai contra tudo que eles acreditaram durante a vida inteira.
Não entendo como alguém pode ser tão preso ao passado.
Mesmo que eu nunca tenha conseguido convencer eles, eles acabaram me colocando numa terapia qualquer quando, no meio de uma discussão, eu deixei escapar que tentei tomar toda uma cartela de remédios na intenção de acabar não acordando no dia seguinte. Obviamente, eu falhei. Acabei vomitando meia hora depois e fui dormir chorando.
Eu nunca falei o real motivo, inventei uma desculpa qualquer, que estava achando tudo muito difícil. De certa forma, eu não menti, pois toda família brigando graças a saída de Soonyoung do armário, as coisas que meus pais falavam, as discussões que tínhamos em casa sempre que eu tentava defender meu primo, o bullying dos meus colegas de escola e a pressão familiar para eu entrar na faculdade de medicina (pasmem, eu tinha só 16 anos)... Bem, tudo isso contribuiu para que uma porção de comprimidos parecesse uma saída mais fácil de todas aquelas coisas.
Fiquem tranquilos, eu não tentei mais nada parecido, foi só esse caso isolado e melhorou depois que eu falei com o terapeuta e ele falou com meus pais. As brigas em casa diminuíram drasticamente, e logo depois, Soonyoung veio morar com a gente quando seus pais voltaram a fazer as viagens internacionais.
Eu e ele não éramos muito próximos, no máximo nós ficávamos juntos nas festas de família, brincando com nossos primos menores porque ficar com os mais velhos era terrivelmente chato e, convenhamos, era complicado ver eles desrespeitarem uns cinco direitos humanos a cada frase e ter que ficar quietos.
Então, ouvir nossos primos menores gritarem que eram o King Kong enquanto tentavam nos escalar era melhor. Também era engraçado ver Soonyoung discutindo com as crianças porque ele queria ser o homem-aranha.
Mas, depois que ele se mudou para cá, nós nos aproximamos mais até sermos melhores amigos e confidentes um do outro — Soonyoung mais do que eu, porque ele estava sempre falando sobre alguma coisa e não me poupava de detalhe nenhum sobre sua vida ou da vida das pessoas envolvidas na fofoca.
E quando éramos só Soonyoung e eu, eu não sentia medo das coisas, a rejeição dos meus pais não me machucava tanto, porque eu era capaz de esquecer disso quando estávamos rindo juntos e conversando.
Isso acontecia com muita frequência, sempre que eu estava com meus amigos, nada daquilo importava. Ninguém ligava para aquelas coisas, éramos apenas jovens tentando sobreviver o dia numa escola de elite sem acabar levando um soco por nada.
Eu nunca tive muitos amigos, desde que me conheço por gente têm sido Soonyoung e eu. Quando entrei na escola, até meus 13 anos, eu ficava sozinho porque eu não sabia fazer amizade e também sempre sentia que as pessoas iriam falar ou pensar algo ruim de mim, como as pessoas faziam quando eu era criança, e eu já ouvia alguns cochichos sobre mim pelos corredores, então ficar na minha parecia uma boa opção.
Foi só quando eu estava com 14 que acabei me aproximando de Nayeon, ou melhor, ela se aproximou de mim. E eu admito que se não fosse por nossas próprias sexualidades, eu teria me apaixonado por ela, afinal, ela tinha chegado de uma forma memorável:
Eu estava esperando o sinal das aulas quando ela sentou ao meu lado e disse:
— Oi. Eu sei que você não me conhece mas acho que podemos ser amigos.
— Por que? — eu questionei.
— Eu vi você sentado aqui sozinho e pensei: Graças a Deus, outra pessoa que não sabe interagir.
— Isso não é uma frase de um filme?
— É, sim! Bem observado Viu como nós devemos ser amigos?
E eu não era louco de recusar.
Nayeon foi a primeira amiga que eu fiz e como costumava ser só nós dois na escola, ficamos próximos e nos tornamos bons amigos. Ela era engraçada e sempre me apoiava nas coisas, nunca me deixando sozinho e me abraçando quando eu acabava chorando por ter guardado coisas demais por muito tempo.
Algum tempo depois, outras pessoas se aproximaram de nós e formamos um pequeno grupo que não sabia interagir e nos nós dávamos bem, estando quase sempre juntos na sala de aula, nos trabalhos e na hora do intervalo. Dahyun e Taehyung eram pessoas boas que também não se encaixavam naquele lugar.
A vida na escola acabou se tornando suportável e as coisas pareciam estar melhorando mas, como felicidade é só uma fase, aconteceu o que ninguém estava esperando.
Quer dizer, eu estava acostumado com os outros alunos pegando no meu pé por causa da minha sexualidade — ou por causa do meu “jeito” porque da minha boca nunca tinha saído nada sobre esse assunto —, mas eu não esperava que as coisas fossem tomar um rumo tão inesperado de um minuto para o outro.
Veja bem, em um momento eu estava conversando com Nayeon no corredor, e no outro, um pequeno grupo de garotos se aproximou e começaram a me xingar e bater. Antes de ser jogado no chão, eu pude ver um deles segurar Nayeon para impedir que ela interferisse ou fosse chamar ajuda.
Foi assustador pra caralho. Sentir aquela dor absurda dos golpes com força desmedida, ouvir minha amiga gritando, mandando eles pararem e pedindo por ajuda.
Tudo que eu estava construindo até ali foi quebrado e eu me vi totalmente perdido outra vez.
Não queria mais voltar naquela escola, eu não queria ver meus pais, eu não sabia no que me segurar, eu estava despedaçado, mas eu era bom em fingir, então naquele dia, eu consegui chegar em casa e ser simpático com Jihoon, óbvio que meu rosto todo fodido não ajudou muito, mas acontece.
E naquele dia, depois de muito tempo, eu tive uma crise. Fazia alguns anos que eu tinha aprendido a esconder as coisas e guardar tudo dentro de mim.
Desde que Soonyoung se mudou, eu sempre tive que interferir quando alguma briga estava prestes a acontecer, pois ele e meus pais estavam sempre em um pequeno atrito por conta de várias pequenas coisinhas e, claro, em especial, a sexualidade de Soonyoung, então acabava sobrando pra mim a tarefa de acalmar os ânimos e trazer a paz no ambiente familiar.
Mas naquela noite eu simplesmente não aguentei. Depois que meus pais saíram eu acabei desabando e comecei a chorar, então Soonyoung veio até mim com todas aquelas perguntas e acusações e eu me irritei, fiquei tão cego pela raiva que, se ele não fosse um alfa e forte o suficiente pra me segurar, eu teria machucado muito ele.
Eu não me lembro direito das coisas que falei, apenas tenho alguns flashes da minha voz o culpando por alguma coisa quando aquilo não era culpa de ninguém.
Felizmente, nós nos acertamos e não brigamos desde então. Eu passei a estudar na escola dele e, de praxe, acabei ganhando uns amigos de graça: Seokmin, Junghwa, Seungkwan e Hansol eram amigos do Soonyoung e eu já os conhecia.
Mas a melhor — ou pior, depende do ponto de vista — parte foi ter conhecido minha alma gêmea: Yoon Jeonghan.
Eu nunca pensei que eu estaria em um clichê onde iria me apaixonar pela minha alma gêmea, eu nem sequer imaginei encontrá-la um dia, mas o destino é ditado pela ironia e nada é tão ruim que não possa piorar.
Não me leve a mal, ter encontrado ele foi a melhor coisa que me aconteceu mas me apaixonar não estava nos meus planos.
Se ele ao menos fosse solteiro, as coisas seriam mais fáceis, mas não, ele namora há dois anos com o garoto perfeito.
Sim, Choi Seungcheol é perfeito e eu entendo porque Jeonghan o ama tanto, mas não posso evitar de sentir inveja.
E não leve a mal de novo, eu gosto muito de Seungcheol, como eu disse: ele é perfeito, mas é impossível não desejar as vezes que ele não fosse namorado de Jeonghan, né?
É normal pensar isso, mas eu nunca faria nada contra o namoro deles, eu não sou escroto a esse ponto e nem seria justo com Jeonghan caso nós pudéssemos acontecer mesmo, pois eu sei como eu sou complicado e como seria difícil manter um relacionamento quando eu escondo da minha família quem eu realmente sou e o que eu realmente quero, o problema é que, bem, quando eu estou com ele nada disso parece importar.
Eu sinto que se tivesse Jeonghan do meu lado, eu não teria medo de contar toda verdade pra minha família, eu não iria me importar com todas as brigas e coisas horríveis que eu teria que ouvir se fosse pra estar ao lado dele.
Mas nós sabemos que isso não é uma opção, mas eu sinto que vem sendo cada vez mais difícil esconder esses sentimentos e qualquer outros sentimentos que eu venho sentido, eu estou começando a não ligar para nada, sinto como se estivesse despertando de um pesadelo muito longo e só tomando coragem para levantar agora, apesar de ainda estar com muito medo.
Eu ainda me sinto perdido, e encontrar meu caminho está sendo muito difícil. Tem tantas coisas em jogo, mas parece que cada vez eu tenho menos a perder, então… Por que não arriscar tudo?
É o que venho pensando com frequência, nas coisas que eu posso perder e o quanto isso iria me afetar.
Eu ainda tenho muito medo, é claro, mas eu não consigo lembrar um momento da minha vida em que não estivesse assim.
Durante toda minha vida eu só me senti assim…
Com medo.
Fraco.
Triste.
Irritado.
Com medo dos meus pais e de perder o amor deles por algo tão pequeno.
Fraco por ter medo dessas coisas e nunca ter achado coragem para enfrentá-las.
Triste por me sentir fraco.
E irritado por todas essas coisas juntas, porque o mundo decidiu que a forma que eu vivo a minha vida não é a certa e que eu devo me sentir mal por isso.
Eu odeio esse mundo.
Eu odeio como ele fez eu me odiar.
Eu odeio meus pais.
Chapter 34: Chá de Camomila
Chapter Text
— Eu não sei se tô ok com isso ainda — Jihoon falou, confidenciando para Jeonghan e Wonwoo.
O alfa mais velho revirou os olhos, soltando um urro preguiçoso enquanto se virava na cama do baixinho.
— Jihoon, você já pensou em fazer terapia? — disse o Yoon. — Não deve ser normal alguém ter tanto medo de pau sem nunca ter sido abusado ou coisa assim.
— Ah, cala sua boca — resmungou o ômega, jogando um bichinho de pelúcia no maior. — Eu só… sei lá, eu não sei como devo me sentir com tudo isso. Parece que sempre que acontece é algo muito rápido e eu não lembro de muita coisa.
— Talvez vocês possam ir devagar — Wonwoo falou. — Se tocar não buscando um orgasmo, mas só sentir as coisas e saber se vocês gostam ou não daquilo.
— Obrigado! Tá vendo? Isso é um bom conselho — apontou Jihoon.
— Bibibi bobobó — debochou Jeonghan. — Eu já te dei vários conselhos mas você sempre ignora o que eu falo.
— Porque você só dá conselhos assim — resmungou o ômega. — E, Wonwoo, de onde você tirou esse tipo de conselho?
O Jeon encolheu os ombros enquanto brincava com uma das pelúcias do baixinho.
— Eu procurei na internet alguns sites sobre isso porque… bem, eu namoro o Mingyu, acho que vocês podem tirar suas próprias conclusões.
— Não, a gente não pode — Jeonghan disse. — O que tem a ver?
— Não! — Jihoon exclamou, levantando-se da cama. — Eu não quero saber.
— E é exatamente por isso que você tem medo de sexo, você não consegue nem ao menos conversar sobre isso — apontou o mais velho.
O ômega revirou os olhos, voltando a se sentar ao lado dos amigos.
— Tá. Fala, Wonwoo — resmungou.
O alfa riu baixo, desviando seu olhar.
— Não vou dar detalhes sobre nossa vida sexual, mas é só… — balançou os ombros outra vez. — Ele também é receoso quanto a isso por causa dos outros namoros dele, então nós vamos fazendo as coisas devagar, só aproveitando a presença um do outro.
— E isso é sempre que vocês estão juntos?
— Claro que não, Jih — o maior riu. — É quando tem tipo um clima. Às vezes a gente só quer ficar junto assistindo série e às vezes a gente nem quer ficar perto um do outro e pra nós isso é ok.
— Ou seja, é um namoro saudável — acrescentou Jeonghan. — Fala sério, Nonu, vocês já brigaram alguma vez?
— É claro que sim, mas acho que nada muito sério — contou, ajeitando os óculos sob o nariz. — Mais porque ele é muito cabeça dura.
— Olha quem fala — murmurou Jihoon, protegendo-se quando a pelúcia foi jogada em si.
— Você é mais teimoso que eu — rebateu.
— Dos três aqui, quem é menos teimoso? — Jeonghan perguntou.
— Wonwoo — Jihoon e o mais velho responderam juntos, rindo em seguida.
— Viu? Eu sou um anjo.
— Não, já exagerou aí também — o ômega interveio.
— Ah, fica quieto…
Wonwoo foi interrompido por batidas sutis na porta.
— Entra — Jihoon disse.
Daeun abriu a porta e sorriu para eles.
— Oi, meninos. Não sabia que vocês estavam aqui.
— Oi, Sra. Lee — Jeonghan sorriu. — A gente veio sem avisar mesmo.
— Não tem problema, vocês são muito bem-vindos — eles agradeceram. — E tem outra visita aqui, também.
Os garotos franziram o cenho, confusos por um momento até Soonyoung aparecer em seu campo de visão, fazendo uma pose, como se fosse o grande espetáculo da noite.
Jihoon prendeu um riso na garganta quando o namorado assumiu uma expressão frustrada por não ter ganho nenhum tipo de reação.
— Ah, não, ninguém gostou — o alfa lamentou, olhando para sua sogra.
Daeun riu.
— Ninguém gostou do nosso senso de humor.
— O senso de humor sem graça é algo que vocês têm em comum — apontou o baixinho, protegendo-se quando Soonyoung foi em sua direção, lhe fazendo cócegas.
— Besta.
— Você não respeita sua mãe, não? — Wonwoo resmungou, beliscando o braço do ômega.
— Ai! — Jihoon exclamou, estapeando o maior em seguida.
Daeun riu baixo vendo a interação dos mais novos.
— É só brincadeira — ela sorriu. — Daqui a pouco seu pai vai começar a fazer o jantar, vocês vão ficar pra comer com a gente?
— Eu aceito, não sou nem louco de recusar — Jeonghan falou, erguendo sua mão.
— Então, todos devem ficar. Vou lá — a alfa declarou, saindo do quarto em seguida, sem dar tempo dos meninos responderem.
— Sua mãe é o maior barato — Soonyoung comentou, sentando atrás de Jihoon e o abraçando pela cintura.
— E você envelheceu uns 30 anos só por falar “maior barato” — o baixinho riu.
Soonyoung revirou os olhos, lhe empurrando para longe de si como birra.
— O que você tá fazendo aqui, Soonyoung? — Wonwoo quem perguntou.
— Eu mandei mensagem pro Jih mas ele não me respondeu mais e eu não tinha nada pra fazer — deu de ombros. — E eu tava com saudade.
— Ah, eu tirei o celular dele porque ele não tava conversando com a gente — Jeonghan admitiu, coçando a própria nuca. — Foi mal.
— Dá pra devolver meu celular agora?
— Pra que? Seu namorado já tá aqui — argumentou o mais velho, devolvendo o aparelho.
— Pra falar com meu outro namorado — ironizou, pegando o celular.
— Ele é mais bonito que eu? — Soonyoung entrou na brincadeira, deitando a cabeça no colo do menor.
— Uhum — concordou, encolhendo-se quando o alfa tentou lhe beliscar. — Para, para.
— Casal feliz é foda — resmungou Jeonghan.
— Ué, você não tá feliz com seu namoro? — Wonwoo perguntou.
— É só jeito de falar, eu amo meu namorado mas não sou obrigado a ver outros casais.
— Que amargura — murmurou Jihoon.
— Deixa de ser hipócrita, seu hipócrita! — o Jeon exclamou, jogando a pelúcia de tigre no ômega. — Antes do Soonyoung te conquistar você não podia ouvir um “A” sobre nenhum namoro que parecia um velho resmungando.
Soonyoung cobriu a boca ao soltar um riso.
— Ah, cala sua boca — mandou Jihoon, cruzando os braços.
O Kwon sorriu, apertando as bochechas do namorado.
— Aliás, Soon, como tá o Jisoo? Eu não tô conseguindo falar com ele e tals — Jeonghan perguntou.
— Ah — Soonyoung deu de ombros. — Ele já esteve melhor, eu acho… Eu realmente não sei, tá tudo tão estranho.
— Como assim?
— É que… sei lá, ele tá meio diferente, ele não tá mais tão… — procurou as palavras. — Como eu posso explicar? Ele não tá mais aceitando tanto as coisas que meus tios falam. Ele tá até batendo bastante de frente com eles.
— Sério? O Jisoo tá fazendo isso?
— Eu sei, é estranho. Ainda não é no nível que eu incomodo, por exemplo, mas é bem diferente do que antes.
— Ugh! Eu não aguento mais ficar longe dele — Jeonghan reclamou, apertando um travesseiro. — Não é justo.
— É, mas a gente não tá falando de justiça — Jihoon murmurou.
— Falta pouco pro ano acabar. Em janeiro, ele já vai estar liberado do castigo e aí vocês vão poder conversar de novo — Soonyoung disse.
— Não é o suficiente — o alfa cruzou os braços. — Não tem nenhum jeito de eu ver ele agora?
— Eu não sei, você tem coragem de ir encarar meus tios pra falar com ele?
— Ele tem — Jihoon murmurou.
— Eu tenho! — o mais velho exclamou, levantando-se num pulo. — Vamos lá?
— Mas eu acabei de chegar — resmungou o Kwon, jogando-se na cama. — Tô cansado.
— Para com isso, Soonyoung, você é um alfa — rebateu Jeonghan, segurando-o pela mão e puxando.
— Olha a opressão — brincou Jihoon, protegendo-se quando o maior jogou uma almofada em si.
— Cala a boca. Podemos ir lá?
— Daqui a pouco o jantar vai estar pronto, hyung — Wonwoo disse. — É mais fácil você ir amanhã.
— Mas eu preciso ver ele agora!
— Você sente que algo ruim aconteceu? — o ômega perguntou.
Jeonghan suspirou, ficando em silêncio por alguns segundos, como se analisasse os próprios sentimentos.
— Não, eu não sinto nada — murmurou. — Mas isso não anula a saudade e a preocupação que eu tô sentindo.
— Hyung, tá tudo bem, a gente entende — Jihoon disse, puxando o mais velho para se sentar novamente. — Ele é seu melhor amigo e você tá preocupado, mas talvez você ir lá não seja a melhor ideia.
— Mas…
— Vamos fazer assim — Soonyoung interviu. — Assim que a gente terminar de jantar, eu volto pra casa e você liga pro meu celular e vocês se falam, que tal?
— Faria isso? — Jeonghan olhou-o.
— É claro que sim.
— Awn, obrigado, Soon — aproximou-se, abraçando o outro alfa. — Você é demais!
Jihoon riu baixo, saindo do meio deles antes que fosse esmagado pelos dois amigos. Ele sentou-se ao lado de Wonwoo, que também ria pela confusão que os outros estavam fazendo, quase caindo da cama quando Soonyoung tentou afastar Jeonghan de si, com a desculpa de que não estava conseguindo respirar.
— Pode dizer, meu namorado é incrível — o ômega gabou-se.
— E Jeonghan hyung gosta dele — acrescentou Wonwoo, observando Soonyoung e Jeonghan que haviam levantado e corriam pelo quarto, enquanto o mais velho tentava agarrar o Kwon em outro abraço. — Lembra quando ele era assim com a gente?
— Ele não podia nos ver que queria ficar nos abraçando e apertando — riu baixo. — Lembra quando ele tentou me dar um selinho?
— Acho que ele tá sentindo aquele tapa até hoje.
— Foi reflexo.
— Justo — riu baixo, empurrando os óculos pelo nariz. — Eu posso reclamar de muitas coisas na minha vida, mas não posso dizer que não tenho bons amigos.
— Own que fofo — Jihoon riu, bagunçando os cabelos do alfa. — A gente te ama também.
— Wonwoo! — Soonyoung chamou. — Me salva, por favor!
Jeonghan riu, ainda tentando alcançar o mais novo, que corria habilmente de si.
— Você tá muito rápido pra quem tava cansado!
[...]
— Senhor Lee, sua comida é a melhor — Jeonghan exclamou. — Que minha mãe não ouça eu falar isso.
— Muito obrigado, Han. Fico feliz que tenham gostado — ele sorriu.
— Foi assim que o Soonyoung conquistou meu pai — Jihoon contou, pegando um pouco de kimchi. — Foi só elogiar a comida dele que meu pai tava quase nos casando.
Todos acabaram rindo, exceto por Soonyoung, que olhava para o namorado de forma envergonhada.
— Agora ele vai pensar que eu elogiei a comida dele só pra poder ficar com você — resmungou o alfa.
— E não foi isso? — Jihoon brincou, cutucando namorado com o cotovelo.
— Não, na verdade, eu namoro você pra comer a comida do seu pai — respondeu, apertando a bochecha do menor.
— Sempre soube — riu baixo, voltando a comer.
— Até parece que não ficou chorando pelo Jihoon durante quase um ano antes de conseguir falar com ele — Wonwoo apontou, pegando mais alguns pedaços de carne.
— Todo mundo sabe dessa história? — resmungou Soonyoung.
— A gente não sabe — Daeun interveio, apoiando o rosto na mão. — Como é essa história?
— Você quer contar ou prefere que a gente conte? — Jeonghan perguntou risonho.
— Odeio vocês — murmurou o alfa. — A história, basicamente…
— Basicamente, não. A gente quer a história na íntegra — Jihoon interveio, chegando mais perto do namorado e tocando os cabelos em sua nuca.
Soonyoung olhou para o ômega, quase o amaldiçoando.
— Anda, Soonyoung, conta — Wonwoo incentivou.
— Mas não é uma história muito interessante também — ele respondeu, erguendo os olhos para cima ao contar. — Acho que começa quando eu tava na biblioteca da escola em junho do ano passado, eu acho, e aí o Jihoon chegou e ficou conversando com a Sra. Hwang por um tempão.
— Eu tava xingando um livro que eu tinha lido — acrescentou o menor.
— É, e eu acabei ouvindo e senti o cheiro dele — o alfa continuou. — E fiquei… sei lá, curioso. Perguntei pra alguns amigos sobre ele e acabei me apaixonando sozinho alguns meses depois.
— Mas só teve coragem pra falar comigo esse ano.
— Por que demorou tanto? — Taesuk perguntou.
— Porque a coisa que mais se sabia do Jihoon na escola era que ele odiava qualquer alfa que não fosse os amigos dele.
O ômega riu baixo, cobrindo seu rosto e levando mais comida à boca.
— São só boatos, eu não odiava os alfas por serem alfas, mas pela forma que eles agiam — justificou-se.
— É, mas atrasou muito o processo da gente ficar junto — apontou Soonyoung.
Jihoon deu de ombros, voltando a comer.
— Como vocês se conheceram? — Jeonghan perguntou, olhando para Daeun e Taesuk.
Eles piscaram atônitos por alguns segundos, olhando um para o outro em seguida.
— É uma história engraçada, na verdade — o ômega começou, soltando os hashis. — A primeira vez que a vi, ela estava chorando escondida atrás da escola onde a gente estudava.
— E isso é engraçado? — Soonyoung soltou, juntando as sobrancelhas.
— Soon — Jihoon repreendeu, cutucando suas costelas.
— Ai, desculpa.
— Fica engraçado depois — Daeun disse. — Eu estava uns meses com minha madrinha, porque meus pais estavam viajando, e antes, eu queria falar com minha mãe porque eu queria cortar o cabelo, ele era enorme, quase na minha cintura, mas eu não estava gostando só que meus pais sempre foram muito apaixonados pelo meu cabelo e tinham pena de cortar. E quando eu falei pra minha madrinha, ela disse que eu não podia cortar, me proibiu. Era por isso que eu estava chorando.
— E foi uma coincidência muito incrível porque minha mãe era dona de um salão de beleza — Taesuk voltou a falar. — Eu encontrei ela chorando e nós conversamos por um tempo, depois eu levei ela pra cortar o cabelo com minha mãe.
— Ele não deixou eu avisar meus pais, nem ninguém, me dizendo que o cabelo era meu e que eu podia fazer o que quisesse.
— E você cortou? — Soonyoung indagou, totalmente interessado na história.
— Cortei, e ficou muito lindo — ela sorriu. — Meus pais brigaram um pouco e meus tios ficaram doidos, mas eu não me importei.
— Depois, a gente acabou se aproximando e estamos juntos até hoje — Taesuk concluiu.
— Awn, que história fofa — Soonyoung sorriu.
— Eu gosto dessa história, também — Daeun disse, sorrindo para o marido.
— Vocês são almas gêmeas? — Jeonghan perguntou.
— Não, não somos — Taesuk respondeu. — Acho que nunca cheguei a conhecer minha alma gêmea.
— Ah, sinto muito.
— Não precisa, não é algo que me afetou. Na verdade, as chances de você encontrar sua alma gêmea são muito pequenas — o ômega continuou. — Já fizeram estudos que apontam que só 50% da população mundial encontra sua alma gêmea.
— Nossa, é menos do que eu esperava — Wonwoo murmurou. — Vocês têm muita sorte — apontou para Jeonghan, Jihoon e Soonyoung.
— Eu sei — o Yoon disse.
Soonyoung sorriu pequeno, segurando a mão do namorado por baixo da mesa.
[...]
— Eu volto outro dia pra ficar mais tempo com você — Soonyoung disse ao se despedir de Jihoon.
O menor acenou com a cabeça.
— Você vai vir aqui no natal? — perguntou, segurando a mão dele e o puxando para mais perto.
— Não sei, eu prometi que ia pensar — olhou ao redor antes de se aproximar, deixando o namorado encostado na parede.
Jeonghan e Wonwoo estavam se despedindo de Taesuk e Daeun. O Yoon estava tentando ganhar mais tempo para o casal se despedir.
— Amanhã já é véspera de natal — murmurou com certa manha, abraçando-o pelos ombros.
— Eu sei, eu aviso algumas horas antes.
— Você ainda me deve um encontro, lembra?
— Vai ter que ser depois do natal, talvez só ano que vem — falou, retribuindo o abraço do namorado e apertando suas bochechas com uma mão. — Eu te ligo quando chegar em casa, tá?
Jihoon concordou com a cabeça, fechando os olhos quando Soonyoung lhe deu um selinho.
— Te amo.
— Também te amo — o menor respondeu, apertando-o entre seus braços e deitando a cabeça em seu ombro. — Muito, tá?
— O que foi? Tá carente? — perguntou risonho, acariciando as costas dele.
— Um pouco, tô meio sensível também — murmurou, tocando o pescoço do alfa com seu nariz para aspirar o cheiro dele. — Posso ficar com seu casaco?
— Se você quiser que eu congele até em casa.
— Eu te dou o meu — afastou-se do abraço, prontamente tirando o casaco que estava vestindo.
Soonyoung riu baixo, aceitando a ideia.
— Pronto pra ir? — Wonwoo disse, chegando mais perto dos dois.
— Uhum — o Kwon disse, terminando de vestir a roupa de Jihoon. — Tchau, bebê.
— Tchau — sorriu, dando-lhe mais um selinho rápido.
Logo, ele e Wonwoo saíram, indo até a calçada enquanto conversavam sobre algum jogo novo.
— Me desculpa por isso — Jeonghan falou ao chegar perto de Jihoon. — Eu sei que você queria passar mais tempo com ele, mas eu tô…
— Muito preocupado, eu sei — sorriu para o amigo. — Eu entendo. Eu também estou e eu nem sou tão próximo do Shua hyung.
— É, meu coração tá apertado e cansado demais — disse baixo. — Prometo que compenso vocês outra hora.
— Vou cobrar isso.
Jeonghan sorriu, bagunçando os cabelos do menor antes de ir atrás dos outros.
Jihoon também sorriu, logo entrando e fechando a porta.
Ele foi até a cozinha onde seu pai estava, terminando de colocar as louças sujas na pia.
— Pode deixar, eu lavo — ele disse, aproximando-se e colocando o avental.
— Obrigado, filhote. Esse não era o casaco que você estava usando, era?
— Não, eu peguei o do Soonyoung — respondeu, começando sua tarefa. — Eu tava com saudade e mal consegui conversar com ele, queria ficar com o cheiro dele pelo menos.
Taesuk riu baixo, apoiando-se no balcão.
— Eu entendo, quando eu e sua mãe começamos a namorar, eu comprei canela pra ter algo que me lembrasse o cheiro dela, acredita? — contou nostálgico. — Agora, eu tenho sorte de viver com ela todos os dias, morar numa casa onde tem o cheiro dela e o seu também — chegou perto do filho, bagunçando os cabelos dele. — Vocês são a coisa mais importante da minha vida.
Jihoon sorriu.
— Pai? Posso falar com você?
— É claro, o que foi?
— Eu… — suspirou. — Você sabe que eu gosto muito do Soonyoung e que ele gosta muito de mim…
— Você vai dizer que ele é mais importante que sua mãe e eu? Porque isso é inaceitável — brincou, fazendo o filho rir.
— Não, não é isso. Ele é importante de um jeito diferente.
— Entendi — sorriu terno. — E o que você quer falar?
— Bem, nós… estamos juntos faz um tempo e estamos tentando… — crispou os lábios. — Nós estamos tentando fazer… nossa relação evoluir…
— Espero que você não esteja falando que o Soonyoung te pediu em casamento.
— Não! Não é isso — virou para o mais velho. — Nós estamos tentando fazer sexo.
Taesuk ergueu as sobrancelhas, ficando estático pela revelação.
— Oh.
— E-E eu sei que é estranho falar sobre isso…
— Jihoon, eu acho… que sua mãe tá me chamando — ele levantou, virando-se para sair da cozinha, mas foi segurado.
— Não, pai! — Jihoon exclamou, puxando o progenitor para que ele se sentasse novamente. — Por favor, eu preciso de você. Meus amigos não conseguem me aconselhar sobre isso e eu sinto tanto medo! E eu não quero me sentir assim, eu não quero ter medo do meu namorado, mas eu não consigo evitar! Eu não sei o que fazer, eu me odeio por não conseguir entender tudo…!
— Ei, ei, ei, calma — Taesuk falou, aproximando-se do filho e o abraçando apertado. — Tá tudo bem, respira.
Jihoon fechou os olhos, tentando regular sua respiração. Retribuiu o abraço do pai, apoiando seu rosto no ombro dele.
— Eu imagino que você esteja assustado, é algo novo — o mais velho começou. — Mas você é novo ainda, você não precisa saber de tudo.
— Eu só fico com medo de fazer algo errado e deixar as coisas estranhas — murmurou.
— Mas, filho, quando estamos em um relacionamento, estamos sujeitos a errar mais do que nunca. O importante é estar com alguém que não vai te julgar pelos seus erros, mas vai ficar ao seu lado e te ajudar a melhorar — sorriu para ele. — Soonyoung alguma vez te julgou por algo que você fez?
— N-Não, ele é incrível. Ele nunca faria isso e eu sei, mas eu não consigo evitar.
— Certo, então… — pensou por alguns segundos. — Vamos tentar pensar numa solução?
— Eu não sei qual — murmurou, sentando-se na mesa ao lado do progenitor. — É tudo tão… Sei lá.
— Tá tudo bem, a gente pode pensar juntos — Taesuk falou, sorrindo para tentar passar confiança. — Você já pensou em fazer uma pesquisa?
— Tipo o que?
— Sei lá, em alguns sites de saúde sexual — explicou. — Você também pode tentar conversar com o Soonyoung, ele é seu namorado, afinal.
— A gente já conversou, mas eu não consigo falar que tenho medo, isso vai deixar ele assustado e inseguro e eu não quero ser um motivo pra ele se sentir assim — suspirou. — Mas a pesquisa é uma boa ideia, acho que vou tentar.
— Caso não dê certo, eu tô sempre aqui pra você, ok? — tocou o ombro dele.
— Obrigado, pai.
[...]
— Josh! Cadê você? — Soonyoung perguntou, assim que chegou em casa.
— Tô aqui! — ele disse, descendo as escadas. — Achei que tivesse ido no Jihoon.
— Eu tinha, mas aconteceu uma coisa — foi até o primo, puxando-o pela mão até o quarto dos dois.
— Vocês brigaram de novo? — virou para ele.
Soonyoung fechou a porta e pegou seu celular.
— Nem deu tempo — riu baixo. — Jeonghan hyung tava lá, ele quase pirou porque quer falar com você. Vim pra casa mais cedo pra ele poder te ligar do meu celular.
— Não precisava ter feito isso — murmurou baixo.
— Se eu não fizesse, Jeonghan ia acabar vindo aqui e eu imaginei que não fosse uma boa ideia — falou baixo, virando para olhar a porta quando ouviram a voz de Seunghoon.
— É, faz sentido. Valeu, Soonyoung — sorriu, pegando o aparelho após o mais novo discar o número de Jeonghan.
— Não é nada — retribuiu o sorriso, indo para perto da porta. — Fala com ele que eu cuido aqui.
— Até parece que a gente tá na prisão.
— Tecnicamente, você tá preso dentro do armário.
— Fica quieto, Jeonghan ainda não sabe…
O Yoon atendeu.
— Não sei o que?
Jisoo arregalou os olhos, virando-se para Soonyoung, que apenas encolheu os ombros.
— B-Bem… o quanto eu tava com saudade de ouvir sua voz — disse, fazendo uma careta.
O Kwon prendeu um riso, cobrindo sua boca.
— Own, eu também tô com saudade. Como você está, Soo?
— Já estive melhor, mas não é tão ruim — respondeu, sentando-se na cama. — Meus pais estão implicando bastante, mas daqui a pouco passa.
— Espero que sim — suspirou. — Tá tudo bem mesmo?
— Eu já disse que não, mas… Sei lá, eu me sinto cansado. Eu cansei de algumas coisas e meus pais estão tendo que lidar com isso agora.
— Que coisas?
— Você vai saber depois, quando a gente puder se ver pessoalmente de novo — falou suave. — Não precisa se preocupar por enquanto.
— Eu sempre vou me preocupar com você, Jisoo. Você é minha alma gêmea, poxa.
— Eu sei disso — riu baixo. — Por isso tô pedindo pra você ficar tranquilo, nada ruim vai acontecer.
— Pelo menos, não agora.
— Foi exatamente isso que eu pensei — suspirou. — Te odeio.
— Eu te amo também — riu do outro lado. — Mas você sabe disso.
— Sei?
— Não sabe?
— Posso não saber.
— Então eu repito até você saber: eu te amo, te amo, te amo, te amo! Mais que tudo no universo e as estrelas!
Joshua sorriu pequeno, mordendo seu lábio inferior ao sentir seus olhos lacrimejando.
— Eu também amo você. Você não tem ideia do quão feliz eu sou por ter te encontrado, não sabe o quanto eu senti sua falta.
— Calma, Soo, logo a gente vai poder se ver de novo…
— Não, eu senti sua falta nos últimos 19 anos da minha vida. Eu não sabia que você existia, mas eu sentia que precisava de você comigo antes de te conhecer.
Um silêncio perdurou por alguns segundos.
Soonyoung, que deveria estar vigiando o corredor, mantinha o olhar fixo no primo. Ele não sabia dizer o que significava tudo aquilo, tinha até medo de descobrir.
— Eu tô aqui agora, e nunca vou sair do seu lado — Jeonghan respondeu.
— Assim espero — o beta riu baixo. — Eu preciso ir agora, antes que meus pais vejam.
— Tudo bem. Vou esperar por você.
— Tá bem. Tchau.
— Tchau. Agradece o Soonyoung mais uma vez, eu meio que empatei a foda dele hoje.
Jisoo prendeu um riso.
— Ok. Até.
E então, ele desligou.
— Valeu, Soon — Joshua sorriu, devolvendo o celular para o primo. — Han agradeceu também. E pediu desculpas por, abre e fecha aspas, “empatar sua foda”.
O alfa revirou os olhos rindo baixo, sentou-se ao lado do primo.
— Tava todo mundo em casa, não é como se fosse acontecer alguma coisa se eu ficasse lá.
— Foi por isso que você foi lá?
— Claro que não, seu idiota! — empurrou-o de leve. — Eu tava com saudade dele mesmo, só que a gente não conseguiu passar muito tempo a sós.
— Mas, caso acontecesse de ficar sozinho com ele, você ia tentar…
— Pelo amor de Deus, não é como se eu estivesse no auge da minha puberdade e só pensasse nisso, né?
O mais velho arqueou uma sobrancelha.
— Mas você pensa nisso.
— É claro que sim, eu não sou de ferro — resmungou. — Mas, sério! Você já viu aquele garoto? Ele é lindo e gostoso pra caralho! E ainda tem o detalhe que ele foi meu crush platônico supremo durante alguns longos meses, eu iria mentir se dissesse que nunca fantasiei com ele na hora do banho.
— Ai, Deus, eu ainda não sei porquê eu dou brecha pra você falar — Jisoo reclamou, fazendo careta. — Você sempre acaba falando mais que a boca.
— Ninguém mandou você dar brecha mesmo — riu baixo. — Foi mal aí se você ainda não tem um namorado lindo e cheiroso.
— Provavelmente vou demorar a conseguir um — ponderou. — Mas… é, acho tô feliz em certo ponto, por você conseguir realizar suas fantasias sexuais.
Soonyoung riu, cobrindo o rosto com um travesseiro.
— Assim eu pareço um pervertido — bufou. — Não é só isso, tá?
— Eu sei, tô brincando.
— É claro que eu sinto um tesão do caralho por ele, e todas as vezes que a gente fez… coisinhas foi muito bom mas não é só pelo tesão — explicou, ignorando a careta desgostosa que o beta fazia ao ouvir. — Mas não é só isso, é um passo meio importante no nosso relacionamento e você sabe que eu sou doido por ele, tipo… muito!
— É, eu sei. Ele é seu tchan.
O mais novo riu outra vez, deitando a cabeça no colo do primo.
— Será que ele é?
— Vocês são, literalmente, almas gêmeas — argumentou.
— É, mas será que ele é meu tchan? Será que a gente vai passar o resto da vida juntos?
— Se não for ele, quem mais? Eu, sinceramente, não vejo vocês dando errado em momento algum.
Soonyoung sorriu, sentando-se outra vez na cama e olhando para o primo.
— Eu espero que não também — suspirou. — Mas… mudando de assunto.
— Hum?
— Por que você ainda não contou pro Jeonghan sobre você ser…?
— Eu não sei. Não tô pronto ainda, só você sabe disso, por enquanto — respondeu, desviando os olhos de forma nervosa. — Eu ainda nem consegui aceitar isso completamente, se Jeonghan ficar sabendo, quando eu menos perceber, eu vou estar no meio de uma parada gay.
Soonyoung riu baixo.
— Aliás, eu vi que vai ter uma, algo pequeno e num local privado, mas é só ano que vem — contou. — Quem sabe até lá você não esteja melhor e consiga ir com a gente, né?
— “A gente” quem?
— Todo nosso grupo, ué — disse, como se fosse óbvio. — Ainda vou falar com o pessoal, mas de hétero lá só tem Seokmin e elu topa porque cisgeneridade nunca foi uma opção.
— Ok… — murmurou. — Quem sabe.
— E você pode ir e falar que é só aliado, não vai ter problema nenhum.
— Eu vou ficar como chaveirnho hétero cis do grupo? Deus me livre — riu junto de Soonyoung.
Joshua nunca havia dito, mas ele gostava de estar com seu primo, sentia que seu riso mais sincero era com ele. E, por mais que não compartilhassem o mesmo sangue, amava Soonyoung como se ele fosse uma parte sua.
Enquanto o mais novo ria do seu jeito espalhafatoso, ele o acompanhava, observando ele com aquele sentimento puro brilhando em seus olhos.
— Soonyoung-ah — chamou-o.
— O que foi?
— Eu amo você, tá?
O alfa encarou o primo com as sobrancelhas franzidas.
— Não curto incesto, não, viu?
— Cala a boca!— empurrou-o com o pé. — Só tô tentando demonstrar meu amor por você, seu animal.
— Ai, ai, foi mal — riu, tentando se proteger dos tapas que eram acertados em si. — Eu também amo você.
— Humpf — bufou, voltando a se sentar na cama. — Acho bom, porque você é o irmão que eu nunca tive.
Soonyoung sorriu tímido.
— Valeu.
— E você é meu irmão não por algo acidental como sangue, mas por algo muito mais forte.
— O que?
— Por escolha.
— Own. Isso é daquela série, não é? — apontou.
— É — riu. — Mas é verdade, então vou só usar como referência.
— Beleza.
— Vamos descer agora?
Soonyoung concordou com a cabeça, levantando e seguindo o mais velho.
[...]
— Eu vou acabar enlouquecendo — Chan falou baixo, sentindo sua cabeça latejar pelo choro estridente de seus dois irmãos.
— Hyung, minha barriga dói — Minho choramingava, abraçando as pernas da mais velha com manha.
— Eu sei, meu amor, mas eu preciso que você espere só um pouquinho, eu já vou tá? — tentou acalmá-lo fazendo um carinho em sua cabeça, mas ele apenas chorou mais alto.
— Você não me ama, Chan hyung!
— Não fala isso, bebê, eu te amo mais que tudo…
O som da campainha interrompeu o diálogo, mesmo que ela mal tenha sido ouvida, pois o choro de Junseo ainda ecoava por toda casa.
O beta andou até a porta e a abriu, vendo Jihoon ali.
— Graças a Deus, você chegou — ela disse, puxando ele para entrar e lhe entregando o bebê. — Segura ele, por favor.
— Foi por isso que você me chamou aqui? — indagou, fazendo careta ao apoiar o bebê em seu ombro e ouvir o choro ainda mais perto de seu ouvido.
— Foi, eu tô quase enlouquecendo — afirmou, indo até Minho e pegando-o no colo. — Eu não nasci pra cuidar de crianças e acho que foi justamente por isso que Deus me fez irmão de dois. Por que? Porque Deus é justo. Mas se ele pensa que eu não tô anotando tudo pra acertar depois, ele está enganado.
Jihoon escondeu um riso, Chan falava bastante quando estava estressada.
— Tudo bem, relaxa, vou te ajudar — respondeu, embalando o bebê em seus braços numa tentativa de acalmá-lo.
— Vem cá, meu amor — a beta falou, aninhando o alfinha em seus braços. — Vamos pegar seu remédio, ok? Depois, você precisa deitar e tentar descansar, tá bem?
Ela subiu as escadas com Minho nos braços e Jihoon suspirou, sentindo seu ouvido doer pelo choro alto de Junseo.
Pegou seu celular no bolso e ligou para sua mãe.
— Oi, filho.
— Mãe, como eu faço um bebê parar de chorar?
[...]1
— Eu fiquei surda? — Chan perguntou, assim que desceu as escadas. — Você fez Jun parar de chorar, meu Deus, eu te amo!
O ômega riu baixo, negando com a cabeça.
— Pedi ajuda pra minha mãe, acho que deu certo — devolveu o bebê com cuidado para os braços do irmão.
— Sua mãe é um anjo — respirou aliviada, olhando para o menorzinho. — Tão fofo agora que não tá me deixando maluco. Acho que seu cheiro também ajudou.
— Que?
— Seu cheiro, ué. Camomila acalma, não? — foi até o sofá, deitando Junseo ali entre algumas almofadas.
— Acho que sim — deu de ombros. — Onde estão seus pais?
— Eu não sei, acho que eles foram comprar os presentes de natal de última hora — suspirou, sentando-se no chão. — Obrigada por ter vindo, eu tava quase chorando de desespero. Tentei ligar pro Mingyu mas ele não me atendeu.
— Sem problemas — sentou ao lado do mais novo. — Quando minha irmã nascer, você vai me ajudar com ela e a gente fica quites.
Chan riu baixinho.
— Combinado — fechou os olhos, apoiando a cabeça no ombro do ômega. — Você tá com cheiro do Soonyoung hyung, sabia?
— Eu tô usando um casaco dele — explicou. — Acho que essa é a parte ruim de namorar, você quer ficar com a pessoa o tempo todo mas não é possível.
— Ah, sim. Deve ser tão difícil — Chan ironizou, rindo nasalmente. — Me arranja um namorado ou namorada, por favor, pra eu poder compartilhar da mesma dor.
Jihoon riu.
— Nem sei como eu arranjei um pra mim, acho que tive sorte — deu de ombros. — Você não tava com o Siwoo?
— Ah, sei lá, ele é legal e bonitinho, mas eu não gosto dele desse jeito, sabe? Eu tenho medo que ele ache que eu gosto e acabe se machucando.
— Vocês ficaram no dia da festa? — perguntou, curioso.
Chan apenas sorriu e acenou positivamente com a cabeça.
— Sendo bem sincera, eu não estava planejando ficar com ele naquele dia, nem achei que ele queria — contou. — Eu chamei ele pra gente poder conversar um pouco e se divertir, e foi legal. Só mais pro final que a gente se beijou.
— Isso foi antes ou depois do Shua hyung tentar te beijar?
Ela ficou quieta por alguns segundos, logo olhando para o ômega com as sobrancelhas franzidas.
— Como você sabe disso?
Jihoon crispou os lábios e arregalou os olhos.
— E-Eu… Foi mal, Soonyoung acabou me contando, acho que Shua hyung contou pra ele.
— Tudo bem, não tem problema — deu de ombros. — Ele tava bêbado, eu nem levei em consideração.
— Ainda bem.
Chan sorriu, esticando seus braços e bocejando.
— Que silêncio bom que ficou. Pena que não vai durar muito tempo, daqui a pouco Minho acorda.
— Ele tá bem?
— Tá malzinho do estômago, mas acho que foi porque ele tomou muito leite — explicou. — Aliás, você tá com fome?
— Não, valeu.
— Ah, mas eu tô — levantou-se. — Vamos pra cozinha fazer alguma coisa.
Jihoon concordou e foi atrás da mais nova.
— E como você tá? — ela perguntou, colocando algumas coisas na mesa pra eles comerem. — Da última vez que você veio aqui, tava todo preocupado por causa do namoro e sei lá o que.
— Eu tava com medo de sexo e eu não me orgulho em dizer que continuo com medo — disse derrotado.
Chan riu baixo.
— Quer falar sobre isso?
— Não quero te incomodar com isso de novo — murmurou.
— Não tem problema, eu meio que gostei de ser seu conselheiro — brincou. — Me sinto como um Mestre dos Magos assexual, sabe?
— Mestre dos Magos com certeza é ace.
— Né!? — gargalhou. — Vai, pode falar. Prometo que não vou falar algo sem sentido e sumir.
Jihoon riu baixo, aceitando quando o mais novo lhe ofereceu uma torrada com doce.
— Eu só tenho medo de fazer algo errado e deixar as coisas estranhas — admitiu. — Eu comecei a pesquisar agora sobre em alguns sites de saúde e tal, mas deve ser diferente na prática.
— Sim, com certeza é. Provavelmente, a primeira vez vai ser uma merda — ela disse. — Nunca é algo que vai dar 100% certo, porque é algo novo. Igual andar de bicicleta pela primeira vez, você pode acabar caindo, mas é errando que se aprende.
— Não deixa de ser meio assustador.
— Eu sei, mas a parte boa de sexo é que você está com outra pessoa e a pessoa pode te dizer se você fizer alguma coisa — argumentou. — Minha primeira vez foi meio estranha, imagina dois adolescentes que nunca tinham sequer visto uma pessoa do outro sexo pelada tentando entender como fazer alguma coisa dar certo.
— E deu certo?
— Depende do ponto de vista, mas eu não vou entrar em muitos detalhes — disse, um tanto tímido. — Mas, vou confiar em você e contar que eu tava tocando no lugar errado por bastante tempo. Sunhee que pegou minha mão e falou: "é aqui, tá?"
Jihoon riu baixinho antes de perguntar:
— Por que vocês não continuaram juntos?
— A gente só se afastou um pouco, mas ainda somos amigos — explicou, dando de ombros. — E como a gente se gostava, a primeira vez meio que deu certo, porque a gente se comunicou. Você consegue se comunicar com seu namorado, né?
— Consigo… eu acho que consigo.
— Você já pensou na possibilidade de você não ser demi? — sugeriu. — Sei lá, algo tipo cupiosexual ou…
— Não, eu já pensei nisso mas eu sou, quase definitivamente, demisexual — disse, batendo as mãos para limpar alguns farelos. — Eu não sinto atração sexual pelas pessoas, literalmente foram duas a minha vida toda, agora que eu tô tendo meus picos de allo, mas ok, normal.
Chan riu baixo, ouvindo-o com cuidado.
— Mas quando eu olho pro Soonyoung é diferente, sabe? — Jihoon continuou. — Eu vejo ele às vezes e eu quero… — cerrou os punhos, buscando alguma palavra. — Eu quero tipo… — rangeu os dentes. — Eu quero… Sabe!?
A beta gargalhou, jogando a cabeça para trás e cobrindo seu rosto.
— Não, eu não sei — secou uma lágrima dos olhos. — Mas que bom! Você só precisa de mais confiança.
— Não acredito que eu tô assim, meus pais me educaram pra ser melhor que isso — cruzou os braços.
Chan riu novamente.
— Tenho certeza que você vai conseguir. E lembra que…
— Noona — Minho choramingou, chegando na cozinha esfregando seus olhos.
— Oh, meu amor, eu falei para você tentar dormir um pouco — disse o beta, deixando o irmão sentar em seu colo.
— Eu não quero ficar lá sozinho — ele murmurou, manhoso.
— Você pode ficar aqui com a gente, ou pode dormir com o Jun na sala. O que você prefere? — perguntou doce, acariciando os cabelos escuros do alfa.
— Quero ficar aqui — ele respondeu, virando de lado para poder abraçar a irmã.
Chan sorriu e retribuiu o abraço, plantando um selar carinhoso na testa do menor.
— Tá bem — então, ele olhou para Jihoon novamente. — Vamos ter que trocar o assunto, agora.
— Sem problema — Jihoon riu anasalado. — Você tá melhor, Minho-ah?
O menino encolheu os ombros, virando-se para deitar a cabeça no peito do irmão.
— Que tal a gente fazer uma sopa pra você comer mais tarde? — Chan perguntou, mas o alfinha já havia cochilado em seu colo. — Eu amo tanto ele, sério — sussurrou, olhando para Jihoon enquanto abraçava o irmão mais apertado.
O ômega sorriu termo, admirando a cena dos dois irmãos.
— Será que eu vou amar minha irmã tanto quanto?
— Com certeza — respondeu. — Quando nós temos irmãos com pouca diferença de idade é diferente, eu imagino, porque você cresce junto e descobrem algumas coisas na mesma época, sabe? Mas eu tinha onze anos quando Minho nasceu, então é uma diferença grande e agora que eu sou quase adulto, é diferente porque tudo que eu quero é proteger ele, e cuidar pra que ele seja mais feliz e aceito do que eu fui. Com o Jun nem se fala, quase dezoito anos de diferença entre nós dois. Eu não achava que era possível amar alguém tanto quanto eu amo eles, e eu também não sabia que era possível odiar tanto na mesma intensidade num intervalo de cinco minutos.
Jihoon riu, permanecendo em silêncio para ouvir a beta falando.
— Às vezes, eu tenho vontade de sair correndo de tanto que esse aqui me irrita — olhou para Minho. — Mas deve ser normal.
— Deve ser como ele demonstra que te ama — murmurou.
— Eu acho que sim — Chan sorriu, beijando a cabeça do irmão outra vez.
— Ainda não caiu minha ficha de que eu vou ter uma irmã, sabe? Acho que só vou conseguir me dar conta depois que ela nascer — Jihoon disse.
— Pode demorar até um pouco mais, talvez você tenha certeza quando você acordar de madrugada umas três vezes porque ela vai estar chorando — a beta falou. — Acontece muito, tá? Você nunca mais vai conseguir dormir direito.
— Ótimo, mal posso esperar.
Os garotos riram baixo.
— É engraçado como a gente tem várias coisas em comum, mas nunca tínhamos conversado assim — ela ponderou.
— Você é uma borboleta social muito ativa, Chan, e eu mal conversava com as pessoas até seis meses atrás.
— Faz sentido — balançou os ombros. — Mas que bom que agora…
Chan bufou quando sua fala foi interrompida pelo som da porta abrindo com certa brutalidade, seguido pelo som do choro de Junseo.
— Vou matar quem quer que seja — ele decretou, levantando-se com certa dificuldade por estar com Minho em seus braços.
Jihoon apenas ergueu as sobrancelhas e a seguiu.
Na sala, Mingyu tentava acalmar o bebêm pegando-o no colo de uma forma meio atrapalhada.
— O que você tá fazendo aqui? — a mais nova indagou.
— Você me ligou umas dez vezes e me mandou vinte mensagens, eu achei que sua casa estava pegando fogo — argumentou o Kim. — O que aconteceu?
— Duas pessoas fizeram sexo sem proteção há seis anos atrás e agora eu tenho que cuidar de duas crianças — ela rebateu. — Segura Minho pra mim.
O maior deixou Junseo no sofá novamente, pegando o alfinha no colo enquanto Chan pegou o mais novinho.
— Mingyu hyung! — Minho exclamou ao abrir os olhinhos. — Por que você tá aqui?
— Sua irmã me chamou pra ajudar a cuidar de você — ele respondeu suavemente, ajeitando-o em seus braços. — Você tá ficando grande, né?
— Sim! Chan noona fala que eu vou ficar maior que você! — exibiu-se, um tanto mais animado que alguns segundos atrás.
Jihoon, sem saber o que deveria fazer, apenas observou Chan ninando seu irmãozinho, que ainda chorava.
— Você quer ajuda? — ele perguntou, aproximando-se dela.
— Não, valeu. Ele só se assustou — respondeu. — Me lembra de matar meus pais quando eles chegarem.
— Eu, sinceramente, espero que você esqueça desse compromisso — Mingyu falou.
— É, você não precisa matar eles, só castrar os dois — Jihoon falou, arrancando mais risadas do beta.
— O que é castrar? — Minho perguntou, saltando para o chão e correndo até a irmã.
— Pergunta pro Jihoon hyung, nenê — sorriu de canto para o mais velho. — Eu preciso ir trocar o Junseo.
Jihoon olhou para ela subindo as escadas, completamente perdido, mas, felizmente, Minho a seguiu, alegando que queria ajudá-lo com a tarefa.
Mingyu riu baixinho com a cena e a relação dos irmãos, então sentou-se no sofá, logo o outro ômega sentou-se ao seu lado.
— Eu vim correndo tão rápido que acho que minhas pernas vão cair — o maior suspirou, afundando no estofado.
— Por que você veio tão rápido?
— Fiquei preocupado só — disse. — Chan nunca pede ajuda pra nada, teimoso do jeito que é, então quando ele pediu, eu imaginei a pior coisa e vim correndo.
— Hum — Jihoon murmurou. — Ela parece bem, depois que Junseo parou de chorar, ele ficou mais calmo.
— Ainda bem — virou para o mais velho. — E você veio ajudar também?
— É, depois que você não atendeu, ele me ligou — explicou.
— E sobre o que vocês estavam conversando antes de eu chegar?
Jihoon apertou os lábios numa linha reta.
— Sobre eu ter receio de transar com meu namorado por não ter conhecimento sobre isso — falou baixo, pois Minho poderia descer as escadas a qualquer momento. — Algum conselho pra me dar?
— Eu não sei se eu sou a melhor pessoa para te aconselhar sobre isso, hyung — Mingyu murmurou. — Desde que eu comecei minha vida sexual, eu acabei estragando minha primeira experiência e boa parte das outras que vieram depois… eu entendi tudo errado no começo e o que deveria ser uma experiência boa acabou sendo só traumática e isso obviamente me deixou abalado. Eu achava que isso sempre seria algo doloroso, eu até achei que era normal sentir vontade de vomitar depois que terminava mas, aparentemente, não é — riu forçado. — Agora que eu tô com Wonwoo que eu tô descobrindo como essas coisas podem ser legais e se tornarem boas lembranças, eu tenho sorte por ele ser tão paciente e compreensivo comigo.
— Entendo. Sinto muito que tenha sido assim.
— Tudo bem, gosto de pensar que o que não nos mata, nos faz mais fortes — ele disse, dando de ombros.
Jihoon não acreditava naquilo, mas decidiu que era melhor ficar quieto.
— Acho que entendo porque você tem medo — Mingyu começou. — Quando fazemos sexo, é um dos momentos em que nós mais estamos vuneraveis, e é assustador deixar que as pessoas nos vejam assim. Eu confiei, e me mostrei assim para algumas pessoas e eles quebraram minha confiança. Demorei para confiar de novo, mas você não precisa ter medo. Você é mais esperto do que eu e Soonyoung hyung te ama muito.
Jihoon sorriu:
— Eu sei.
— Hyung! — Minho gritou, descendo a escada correndo, com Chan logo atrás. — Vamos brincar de bola?
— Só se você estiver pronto pra perder — Mingyu desafiou, levantando-se num pulo e seguindo o alfa até o quintal da casa.
Chan sorriu, observando o amigo e o irmão correndo.
— Vamos? — ela perguntou, chamando Jihoon.
— Claro.
Chapter 35: Chá Mate
Chapter Text
— Feliz natal! Que bom que você veio — Daeun falou ao receber outra convidada. — Que saudade de você.
— Menina, a viagem foi longa, viu? — Minsuk, irmã de Taesuk falou. — E que barrigão! Quantos meses?
— Quase oito, tá quase chegando a hora — respondeu a alfa, tocando sua própria barriga. — Taesuk e eu estamos planejando fazer uma viagem só nós dois antes dela nascer, sabe?
— Ah, isso seria ótimo — ela falou. — É fofo como vocês… Ora, esse não é Jihoon!?
O baixinho, que estava passando com algumas decorações que foram tiradas do lugar por seus primos menores, parou ao ouvir seu nome.
— Oi, tia Minsuk! — sorriu, abraçando a mais velha. — Quanto tempo.
— Nem me fale, a última vez que eu te vi você ainda era pequenininho — ela sorriu, apertando as bochechas dele. — Taeyang veio também, vocês, jovens, podem conversar.
Jihoon riu baixo, acenando com a cabeça.
— Mas, antes, me fala sobre você. Não te vejo há anos — pediu ela. — E as namoradinhas?
— Ai, Minsuk, que coisa besta de se perguntar — Seoyeon, outra tia, falou.
— É brincadeira — a beta revirou os olhos. — Quer dizer, curiosa eu fico porque esse menino mal conversava com as pessoas — apontou para Jihoon, que juntou as sobrancelhas. — Se ele conseguiu uma namorada, quer dizer que nós passamos muito tempo longe, porque seria uma evolução…
— Você fala demais — Seoyeon resmungou.
— Na verdade — o ômega começou. — Eu estou namorando, sim. Só não sei se vocês vão conseguir conhecer hoje.
— Meu Deus, eu falei! — Minsuk exclamou. — Tempo demais longe!
— Você é exagerada.
— Jihoon-ah! — uma outra voz chamou, aproximando-se. — Eu tava te procurando!
— Oi, Taeyang — o menor sorriu. — Os outros já chegaram?
— Você conhece Chinsun, ela demora horas pra se arrumar — o beta falou. — Sobre o que estavam falando?
— Jihoon tem uma namorada! — Minsuk disse, sorridente.
— Vamos deixar os garotos a sós, vamos — Seoyeon decretou, segurando a mão da irmã e a levando dali.
Jihoon e Taeyang riram baixo.
— Enfim, nossa família — o ômega falou.
— É, né — deu de ombros. — Mas, o que ela falou é verdade?
— O que?
— Você tem uma namorada? Isso é injusto, eu não consegui uma ainda e eu sou muito mais bonito.
— Mas não mais legal — riu baixo, puxando-o pela manga da roupa para que eles subissem as escadas. — Vem, vamos pro meu quarto.
— Avisa Chinsun que estamos aqui pra ela não pensar que a gente abandonou ela — disse, fechando a porta do quarto do primo.
— Não arrumei meu quarto mesmo, você que lide com isso — disse o ômega enquanto mandava uma mensagem para a prima.
— Cheiro enjoado de chá aqui — ele resmungou, sentando em um dos puffs.
— É o meu cheiro, caralho — respondeu, jogando uma almofada nele. — E meu namorado gosta, então obrigado, de nada.
— Seu namorado?
— É, a minha “namorada” tem um pau e se chama Soonyoung — disse, sentando ao lado do maior. — Não é surpresa, vai, todo mundo sabe que eu sou o primo gay da família.
— É, alguém tinha que ser, né? — riu baixo. — Seus pais sabem?
— Sabem, sim. Eles adoram meu namorado, eles nunca foram chatos em relação a isso. Eu só não sei se vou contar pros nossos tios agora porque, querendo ou não, pode acabar explodindo a cabeça minúscula de alguns deles.
— É verdade, mas você pode aproveitar o Natal pra contar mesmo. Vida nova, ressurreição, essas coisas — Taeyang falou.
— Mas natal é o nascimento, ressurreição é na páscoa — apontou o menor, e os dois começaram a rir.
No meio das risadas, eles ouviram algumas batidas na porta e logo uma alfa de cabelos longos e ruivos entrou.
— Chinsun! — Jihoon exclamou, feliz por ver a prima.
— É aqui onde estão falando merda? — ela riu, entrando no local e indo até eles.
— Sempre — Taeyang riu, abraçando a mais velha também. — Chinsun-ah, senta que tem novidade.
— Uh, fofoca? Adoro — ela riu, sentando-se ao lado dos garotos. — O que foi?
— Esse daqui — o alfa apontou para Jihoon. — Tá namorando e tá namorando um cara!
— Dois ao mesmo tempo? — ela juntou as sobrancelhas.
— Não! Um garoto só — o ômega explicou.
— Tá me dizendo que você é gay?
— Na verdade…
— Chinsun, ele senta na rola rodando — Taeyang falou, sendo estapeado pelo primo em seguida.
— Para de falar merda, Taeyang! — Jihoon exclamou. — Não é da conta de vocês, mas eu não sou desse tipo, não.
— E quem é seu boy? — a alfa perguntou, interessada.
— O nome dele é Soonyoung, a gente estuda na mesma escola — Jihoon contou, sorrindo abobado, enquanto procurava uma foto do namorado no celular. — Aqui ele. A gente fez um mês de namoro recentemente.
— Ah, são um broto de casal ainda — ela exclamou. — Eles ainda estão na fase de lua de mel.
— Eca — Taeyang fez careta.
— Isso é homofobia, tá?
— Ai, nem é — resmungou, mostrando a língua para o primo.
Jihoon pegou uma almofada e iria jogá-la no alfa quando a porta de seu quarto foi aberta novamente.
— Por que vocês estão escondidos aqui? — uma ômega baixa, de cabelos curtos, rosto arredondado e uns dois anos mais nova que os demais, entrou no quarto também.
— Jangmi, oi! — Chinsun sorriu, acenando para ela chegar mais perto e se juntar a eles. — A gente tá escondido porque estamos falando de homofobia.
— Ai, eu acho isso lindo — ela exclamou e os demais a olharam com expressões puras de confusão.
— Como assim, Jangmi? — Taeyang perguntou.
— Ué, não é aquela coisa que a pessoa tem um olho de cada cor?
Com a fala, os primos mais velhos começaram a rir alto, batendo palmas e chamando atenção de alguns de seus parentes que passavam pelo corredor.
— Isso é heterocromia! — Jihoon afirmou.
— Ah… Ah! — Jangmi exclamou, percebendo seu erro e escondendo seu rosto com vergonha em seguida. — Que ótimo dia pra morrer, né?
— Cala essa boca, garota, eu hein — a alfa disse, empurrando-a de leve, mas esquecendo a noção de sua própria força e acabando por quase derrubá-la no chão. — Foi mal!
— Por que sempre que a gente se encontra é um caos? — Taeyang ponderou, tentando controlar seu riso.
— É mal de família — Jangmi disse, apontando para a porta.
De fato, podia ser ouvido várias vozes altas e risadas, assim como crianças correndo pela casa e gritando coisas sem nexo.
— Faz sentido — murmurou Jihoon.
Eles voltaram a conversar de forma animada, deixando que Chinsun contasse sobre sua faculdade e o estágio que estava fazendo como professora de filosofia.
— Precisa de coragem pra querer dar aula pra adolescente, viu? — Taeyang comentou.
— Alguns são insuportáveis, mas eu gosto de dar aula mesmo — a alfa contou. — Jihoon-ah! Sai desse celular!
— Tô tentando convencer meu namorado a vir aqui — murmurou de forma meio emburrada.
— Deixa eu tentar — Taeyang falou, pegando o aparelho das mãos do primo. — Qual o nome dele?
— Soonyoung. Mas o que você vai falar?
— Shh, confia — falou, clicando para gravar em seguida. — Olha aqui, seu alfinha, eu não sei quem você é mas eu não quero mais você perto do meu namorado…
— Cala a boca, Taeyang! Você não vai enviar isso! — avançou no maior, pegando seu celular de volta enquanto seus primos riam. — Falem que querem conhecer ele, só.
— É, eu quero conhecer a cara que tirou Jihoon do armário — Jangmi falou, batendo palminhas.
— Não é como se eu estivesse no armário antes de namorar ele — resmungou, deixando que a ômega pegasse seu celular.
Os três sentaram-se lado a lado e começaram a enviar áudios sem pé nem cabeça para o Kwon, dizendo coisas como “vem pra cá pra gente te conhecer” e “vem logo antes que a gente vá aí te buscar”.
Jihoon apenas ria baixo observando a bagunça que seus primos faziam, era sempre caótico daquele jeito, mas ele não iria negar que gostava daquela bagunça.
— Ele respondeu! — Chinsun exclamou.
O ômega levantou e sentou-se ao lado dos demais, espichando o pescoço para enxergar a tela.
[Soon<3]
Não entendi nada
Amor, vc tá bem?
Quem são esses malucos na sua casa?
Gif
— Malucos!? — Taeyang exclamou, ofendido.
Jihoon riu baixo, respondendo o namorado:
são meus primos hahaha
eles querem te conhecer
pq vc n vem pra cá?
Eu quero ir taaa?
Mas eu ainda preciso proteger Josh hyung dos nossos parentes insuportáveis
aff achei mt injusto
Vou ver se consigo ir dps da meia noite dps que a maioria tiver ido embora
parece bom pq meus parentes legais sempre ficam até o sol nascer
E sua bateria social fica como?
uma merda :p
Hahahaha
Fofo
Prometo que vou tentar ok?
ok, vou esperar <3
Te amo ❤️❤️❤️
— Own, vocês são muito fofos! — Jangmi exclamou.
— O que você se tornou? — Taeyang disse, com uma falsa expressão decepcionada.
— Me tornei um boiola apaixonado — Jihoon fez bico. — Mas vocês vão entender porque quando conhecerem ele e…
— Meninas e meninos! — Daeun chamou, entrando no quarto após bater na porta. — A gente vai começar as brincadeiras, vamos lá?
— A gente tem que participar mesmo? — Taeyang resmungou.
— Se você quiser ganhar o prêmio, sim — a alfa sorriu. — Vamos lá, vai ser legal!
— Vamos, né? Nem que seja pra ver a tia Seoyeon sendo competitiva demais — Jihoon disse, levantando-se.
— Hyung! Hyung! — Yejun, um beta de 7 anos, primo mais novo deles, entrou no quarto correndo, sendo seguido por suas outras irmãs da mesma idade. — Vamos lá brincar!
— Meu Deus, quanta pelúcia! — a alfinha, Ryujin, exclamou, pulando na cama de Jihoon. — Posso brincar?
— Não — o ômega respondeu, mas foi ignorado.
— O que tem no seu armário, oppa? — Chaewon, a mais nova (por alguns minutos) dos trigêmeos perguntou, abrindo as portas do guarda-roupa. — Meu Deus, que roupa feia!
— É meu moletom favorito — Jihoon murmurou.
— É lindo! É lindo! — ela riu, correndo até o primo e pulando em seu colo.
— Vocês são muito bagunceiros — Daeun falou, vendo as crianças correndo pelo quarto antes dela mesma descer novamente.
Taeyang, Chinsun e Jangmi apenas riam do desespero do ômega ao tentar conter todas aquelas crianças e impedir que elas destruíssem suas coisas.
— Olha que lindo o arco-íris! — Ryujin exclamou, subindo na cadeira da escrivaninha para pegar uma bandeira mediana que Jihoon tinha ali.
— Não, Ryujin, não pode — Chinsun tentou impedir a mais nova.
— Peguei! — Yejun gritou ao pegar o tecido das mãos da prima. — Eu sou o Super Arco de Ísis!
Colocando a bandeira nas próprias costas, o beta saiu correndo porta afora, chamando suas irmãs para brincar com ele.
Jihoon, Taeyang, Chinsun e Jangmi gritaram também, correndo atrás do menor para tentar segurá-lo, mas já era tarde demais. Yejun corria pelo meio de seus parentes com a bandeira gay sendo usada de capa.
Alguns dos mais velhos olharam para a cena confusos.
A criança continuava correndo pela casa enquanto os primos mais velhos corriam atrás dele.
Em dado momento, Taeyang teve que parar de correr para que pudesse soltar uma gargalhada, ele se apoiou nas paredes e limpou algumas lágrimas dos contos de seus olhos.
— Do que você tá rindo, seu idiota!? — Chinsun ralhou, acertando um tapa na nuca do beta.
— É porque Yejun tá correndo com a bandeira gay nas costas!
— Eu não sei se ele me tirou do armário ou se eu tirei ele — Jihoon murmurou, apoiando-se ao lado do primo e rindo também.
— Lee Jihoon — Seungyeon, irmão de Taesuk, falou, chegando mais perto deles. — O que é isso? Pode se explicar?
O ômega olhou para os pais, sentindo-se um pouco assustado, receoso. O alfa olhava-o com uma certa ira nos olhos, mas seu pai lhe passava confiança de longe.
— Posso, tio, é claro — ele respondeu. — Yejun pegou minha bandeira e está brincando. Mas, como pode ver, estamos tentando tirar dele.
— Peguei! — Jangmi gritou quando conseguiu pegar o tecido do beta.
O menorzinho pulava tentando alcançar a mão da ômega, que esticava seu braço o mais alto que conseguia.
— Taesuk, você não acha…?
— Se você faz questão, a gente fala sobre isso depois — o ômega respondeu, aproximando-se do irmão. — Crianças, guardem as coisas e vamos começar as brincadeiras.
— Viva! — Yejun gritou, junto de suas irmãs.
Jangmi entregou a bandeira para Jihoon e seguiu os demais para a sala onde iriam fazer os jogos.
Seungyeon negou com a cabeça e foi também.
Taesuk foi até Jihoon e bagunçou seus cabelos.
— Na próxima vez, a gente deixa seu quarto fechado para que não seja invadido novamente — sorriu.
— Valeu, pai — respondeu, abraçando-o antes de subir as escadas para guardar suas coisas.
[...]
— Assim não vale! — Seoyeon exclamou, um pouco irritada. — Não pode só jogar, tem que entregar na mão da pessoa!
— Para de reclamar, você perdeu! — Taeyang respondeu.
— Não, quem perdeu foi a Minsuk, porque tava com ela! — argumentou.
Jihoon e Chinsun, que já haviam saído do jogo, apenas riam observando como alguns de seus familiares levavam a sério demais um simples jogo de batata quente.
Seoyeon em particular, era muito competitiva e não aceitava perder facilmente, ela ganhava muitas vezes apenas pela insistência de que não perdia nunca.
— Cara, tudo isso por uma caixa de bombom — Chinsun falou baixo.
— Então, né — o baixinho respondeu, negando com a cabeça.
Quando desviou seu olhar da rodinha da brincadeira, ele notou o alfa, seu tio, encarando-o.
— Tio Seungyeon tá me olhando estranho desde que Yejun me tirou do armário pra toda família — ele sussurrou, chegando mais perto da prima.
Ela olhou para o citado, dando de ombros em seguida.
— Ele deve estar se doendo porque sempre quis sair do armário e não conseguiu — respondeu, inclinando-se para sussurrar no ouvido do ômega.
— Como assim? Ele é, literalmente, seu pai — argumentou.
— Eu sei, mas, sei lá — encolheu os ombros. — Às vezes, eu acho que ele não é hétero. Não pode ser a toa que ele se irrite tanto com pessoas serem gays e tal.
Jihoon juntou as sobrancelhas, olhando para Chinsun.
— Será?
— É uma teoria que eu tenho — murmurou. — Mas você não precisa se preocupar, ele não vai falar nada pra você.
— Eu espero que não.
— Não vai, confia. Ele morre de medo do tio Taesuk — contou, rindo baixinho.
— Ele tem medo do meu pai? O cara de 1,65 de altura, que tem um salão de beleza e ama cozinhar?
— Você faz pouco caso do seu pai…
— Não é isso, cala a boca! — empurrou-a de leve. — É que ele não é a pessoa mais intimidadora do mundo.
— Acho que você nunca viu seu pai bravo — ela disse. — Minha mãe conta que uma vez, quando ele apresentou a tia Daeun como namorada dele, meu pai falou alguma coisa sobre ela e seu pai ficou muito bravo, eles brigaram bem feio.
— Sério? — arregalou os olhos.
— É o que me contaram — murmurou. — Eles não ficaram brigados por mais que uma semana, mas sempre foi um “ai de quem falar alguma coisa de quem Taesuk ama”.
Jihoon sorriu de canto, observando seu pai rir enquanto participava do jogo de forma atrapalhada.
— Que legal.
— Taeyang tá fora! — as crianças gritaram, empurrando o primo para fora da rodinha.
O beta assumiu uma feição emburrada e ficou ao lado de Chinsun e Jihoon.
— Não acredito que a tia Seoyeon ainda não saiu, ela perdeu aquela hora — reclamou.
— Ela rouba, todo mundo sabe, mas é impossível argumentar com ela — a alfa disse, rindo do primo. — Deixa pra lá, o prêmio é só uma caixa de bombom.
— Mas eu queria, tô com fome — cruzou os braços.
— Daqui a pouco a gente vai servir o jantar e você já vai poder comer — Jihoon respondeu, cutucando o maior.
— Podia ser agora, tô morrendo de fome.
— Você tá sempre com fome — Chinsun rebateu.
— Sim, e daí?
A mais velha revirou os olhos, cruzando os braços e voltando a observar a brincadeira.
[...]
Após as brincadeiras, o jantar foi servido e todos comiam. A mesa não era grande o suficiente para todos, ela foi ocupada pelos mais velhos, e os demais arrumaram espaços na cozinha ou pelo sofá, as crianças acabaram comendo no chão da sala de estar, assistindo um desenho natalino qualquer.
Jihoon, Chinsun, Taeyang e Jangmi se reuniram para comerem juntos no balcão da cozinha, de onde podiam ver a tv da sala e os seus parentes pela casa, conversando e rindo alto enquanto bebiam cerveja.
— Pena que o natal é só uma vez por ano, a gente tinha que se reunir mais vezes — Jangmi falou. — Mas a gente também inventou de morar longe um dos outros.
— Acontece — Taeyang deu de ombros. — O bom é que assim a gente não se enjoa.
— Que otimista — Jihoon murmurou, sorrindo de canto.
— E a gente também fica com um ano inteiro de fofoca pra contar — Chinsun falou. — O Hoonie tem um namorado, eu comecei a faculdade, essas coisas.
— Agora eu fiquei triste porque passou um ano e eu não tenho nada interessante pra contar — respondeu o beta, fingindo um choro enquanto levava uma quantidade exagerada de kimchi a boca.
Os demais riram da bobeira do primo.
— Nada, nada? — Jangmi perguntou.
— Hum… — ele tocou o próprio queixo, pensando. — Acho que posso contar que eu me descobri hetero. No começo do ano, eu tava brincando com uns amigo e me desafiaram a beijar um outro amigo meu e eu juro que quase vomitei. Como vocês gostam de homem?
Jihoon cobriu sua boca quando prendeu um riso, suas primas riram alto, batendo no ombro do beta.
— Ele realmente se assumiu hétero pra gente — Jihoon apontou.
— Tá tudo bem, a gente te ama mesmo assim — Jangmi brincou, bagunçando os cabelos do mais velho.
— Mas eu entendo o que você quis dizer — Chinsun falou. — A maioria dos homens conseguem ser muito nojentos.
— Eu namoro um, mas eu concordo — o ômega apoiou. — Mas meu namorado é limpinho e fofo.
— Com todo respeito, ele é um puta gostoso — disse a alfa, pegando o celular do menor que estava em cima da mesa e olhando a tela de bloqueio, que consistia numa foto dele e de Soonyoung na frente de um espelho.
— Chinsun! — Jihoon exclamou. — Tira o olho do meu namorado!
— Você tem quase 25 anos, vai procurar alguém da sua idade — Taeyang apontou, puxando o celular para si. — Mas, sim, pegava seu namorado, Jihoon,
— Que nojo! Vou avisar pra ele não vir, senão vocês vão roubar ele de mim.
— E tem essa chance? — Jangmi perguntou. — Tipo… Você acha que ele te trairia?
— Cala a boca, garota — Jihoon mandou, dando um peteleco na testa da mais nova. — Ele nunca faria isso, ele é um anjo.
— Meu Deus, quanta gayzice — o beta murmurou, roubando um pouco do japchae da mais velha.
— Para de pegar minha comida! — Chinsun brigou.
[...]
— Por que vocês não tem uma máquina de lavar louça? — Taeyang reclamou enquanto lavava os pratos que eram deixados na pia por Jihoon.
— Porque aqui em casa é só minha mãe, meu pai e eu — explicou. — A gente não suja muita coisa.
— É, na sua casa que tem muita gente — Jangmi falou.
— Meus pais não tinham televisão — ele respondeu, causando mais risos baixos.
Jihoon, Taeyang, Chinsun e Jangmi foram os escolhidos para limpar a louça do jantar e, apesar de terem protestado um pouco, acabaram fazendo enquanto conversavam e riam.
— Filhote — Daeun chamou ao chegar na cozinha. — Depois, você pega o teclado pra tocar pra gente?
— Tá na sala de música da vovó — ele disse, mais concentrado em colocar os restos de comida no lixo.
— Sim, eu sei. Você pega lá depois para nós?
O ômega suspirou, seus ombros ficaram tensos sem que ele percebesse, mas ele concordou.
— A gente vai com você — Chinsun falou, sorrindo gentil e acariciando os cabelos do mais novo.
— Valeu, noona — Jihoon sorriu.
[...]
— Não mexam em nada e não deixem os pequenos entrarem — Jihoon pediu após abrir a porta da sala de música.
— Wow, esse lugar é lindo — Jangmi falou, olhando ao redor, admirada.
O quarto não era muito grande, mas estava bem limpo e arrumado. Tinha alguns instrumentos musicais guardados, um espelho mediano preso à parede e algumas outras coisas que eram deixadas ali, como algumas caixas.
— É, a mãe cuida bastante, ela deixa tudo limpo — o ômega explicou, indo até o teclado e tirando-o do suporte. — Vamos só pegar o teclado e sair.
— Ok, vamos — Chinsun falou, ajudando o menor a pegar o suporte e o fio do instrumento.
— Você sabe tocar alguma coisa de natal, Hoon? — Jangmi perguntou, apagando a luz da sala assim que eles saíram.
— Acho que ainda me lembro de jingle bell — respondeu.
— A gente podia dançar igual Meninas Malvadas! — Chinsun exclamou, animada.
— Ah, claro — Jihoon respondeu irônico. — Eu vou ficar só no piano, foi mal.
— Eu topo, Sun — Taeyang falou. — Vamos ensaiar!
— Eu mereço — o ômega murmurou, ajeitando o teclado perto da sala de jantar.
Jangmi riu ao ver Chinsun e Taeyang abrirem um vídeo no YouTube para ver a cena do filme Meninas Malvadas onde tinha a coreografia de Jingle Bell Rock.
— Eles realmente vão fazer isso — ela respondeu, sentando-se ao lado do primo.
— Eu não duvido — ele riu, testando as teclas. — O que eu toco primeiro?
— Sei lá, música de natal — deu de ombros.
— Isso é muito vago — riu, começando a tocar uma melodia natalina qualquer.
— Jih? Posso falar com você? — Jangmi perguntou, de repente.
— Claro, o que foi? — olhou-a.
— É assim — disse baixo, parecendo envergonhada. — Não conta pra ninguém, mas… Eu acho que sou aroace.
— Oh… — ele soltou, surpreso pelo assunto repentino. — Isso é legal.
— Acho que sim — deu de ombros. — Eu ainda ‘tô descobrindo, mas eu não consegui falar pros meus pais, nem pra mais ninguém. Eles vão dizer que eu sou muito nova pra saber o que eu quero.
— Não é, nada — virou para ela. — Eu me descobri na sua idade, também. E eu sei que é meio confuso no começo, mas tudo vai dar certo. E você sempre vai ter amigos e os primos mais legais do mundo do seu lado.
Ela sorriu acenando com a cabeça, abraçando o ômega em seguida.
— Valeu, Hoon.
— Não precisa me agradecer — bagunçou os cabelos dela. — Vou tocar agora, daqui a pouco é meia-noite.
Jangmi se afastou e deixou que o primo começasse a tocar. Logo, a maioria dos presentes se aproximaram para ouvir, os mais alterados pelo álcool cantavam alto e todos davam risadas.
Não muito tempo depois, o relógio bateu meia-noite e começaram as felicitações de natal. Todos se abraçaram, alguns derramaram lágrimas de emoção, muitos sorrisos e desejos bons. As crianças, por sua vez, já estavam adormecidas no andar de cima, no quarto de Daeun e Taesuk.
Perto da uma da manhã, alguns parentes começaram a ir embora, deixando a casa mais vazia, mas não menos animada. Jihoon continuava tocando no teclado qualquer música que lhe pedissem, seus tios cantavam alto enquanto brindavam diversas vezes pela mesma coisa — nada —, enquanto Taeyang e Chinsun continuavam tentando executar a coreografia.
Quando Jihoon deu início a outra canção, eles puderam ouvir a campainha. Daeun foi abrir, imaginando que alguém tivesse esquecido alguma coisa.
— Soonyoung? Que surpresa, querido! — ela exclamou. — Feliz natal!
— Feliz Natal — o alfa sorriu, retribuindo o abraço da mais velha. — Jihoon me chamou pra vir.
— Sim, sim, ele me disse — abriu espaço. — Vamos, entre. Ele está tocando para nós, você precisa ver. Tem alguns parentes nossos, também, eles vão adorar te conhecer.
— A-Ah, sim — concordou, entrando na casa.
Ainda sem jeito, Soonyoung cumprimentou rapidamente algumas pessoas pelo caminho, sendo recebido por sorrisos gentis. Da sala, ele pôde ver o namorado tocando Jingle Bell Rock teclado enquanto Taeyang e Chinsun dançavam de forma atrapalhada, porém muito animada.
Jihoon estava rindo tanto que nem havia notado sua presença, os olhos brilhantes que Soonyoung tanto amava estavam focados nos primos dançando e nas teclas do instrumento.
Assim que a dança terminou, o ômega levantou-se ainda aos risos, andando na direção dos primos.
— Vocês são péssimos dançando! — acusou. — Pelo menos Jangmi filmou, vamos dar alguns haha’s mais tarde.
Soonyoung sorriu, admirando-o de longe.
— Filhote! — Daeun chamou.
Assim que Jihoon virou, ele viu Soonyoung e seu sorriso acabou diminuindo pela surpresa de vê-lo ali, mas logo um maior ainda enfeitou seu rosto.
— Soon! — ele exclamou, correndo até o namorado e pulando para abraçá-lo. — Você veio!
— É claro que eu vim — o alfa respondeu, apertando-o em seus braços.
Jihoon sorriu ao se afastar o suficiente para olhá-lo, tocando seu rosto de forma carinhosa. Quando ia fechar os olhos para beijá-lo, Taeyang e Chinsun se aproximaram.
— E aí, esse é o famoso Soonyoung? — o beta perguntou, jogando um braço pelo ombro do maior.
— Sou — ele respondeu, um tanto sem graça. — E vocês são?
— Eu sou Chinsun.
— Taeyang.
— Jangmi.
— Muito prazer — Soonyoung sorriu. — Eu podia mentir dizendo que Jihoon falou sobre vocês, mas ele não falou.
— Que absurdo, somos os primos mais legais que ele tem — a alfa falou. — Mas ele falou de você.
— Ah, é?
— Sim, não parou um minuto de falar como você é lindo, fofo e blá, blá, blá — Taeyang falou, fazendo careta.
— Não exagera — Jihoon disse, empurrando o primo.
— Soonyoung, senta aqui, vamos conversar — Chinsun pediu, puxando o alfa para sentar com eles no chão da sala, ao redor da mesinha de centro. — Nos fala de você.
Jihoon riu baixinho, sentando ao lado do namorado e deixando que ele conversasse com seus primos, não interferindo quando eles fizeram perguntas um tanto constrangedoras e difíceis, sabia que fazia parte de uma brincadeira junto de um tipo de “teste” que era feito por eles quando um dos primos começava a namorar. Ele mesmo participou quando Chinsun apresentou o primeiro namorado para eles.
Felizmente, Soonyoung passou na “prova” e logo estava conversando de forma animada com os demais, rindo e contando histórias engraçadas, até mesmo algumas situações embaraçosas que passou com Jihoon. Contou sobre o primeiro encontro deles, sobre a declaração do baixinho após o primeiro beijo e outras coisas.
Eles estavam se divertindo e dando risada quando chegou às duas e meia da manhã e a casa ficou praticamente vazia. Os pais de Taeyang, Chinsun e Jangmi já haviam ido embora após Daeun afirmar que os levaria até o hotel que estavam para que eles pudessem passar mais tempo juntos.
— Quanto tempo mais vocês vão ficar pela cidade? — Soonyoung perguntou.
— Acho que até o ano que vem. Não vale a pena viajar tão perto do réveillon, é muito trânsito e tals — a alfa falou, brincando com um pequeno ramo.
— Faz sentido — murmurou. — A gente pode sair mais vezes, então, Vocês são legais.
— Own, você também é legal — Taeyang falou, bagunçando os cabelos do maior.
— Deixa meu namorado em paz — Jihoon falou, afastando o beta. — Você é hétero, esqueceu?
— Eu hein, mesmo que eu não fosse, eu não sou fura-olho — rebateu, empurrando o primo na direção de Soonyoung. — Você pensa muito mal de mim.
Jihoon revirou os olhos, abraçando Soonyoung, deitando a cabeça em seu ombro.
— Terminei! — Chinsun exclamou alegre. — Fiz um ramo de visco pra vocês se beijarem.
O ômega riu baixo.
— Que?
— Primeiro natal de vocês como um casal, tem que ter um beijinho embaixo do visco — ela explicou, levantando e ficando de pé atrás deles, deixando o ramo acima de suas cabeças. — Anda, vai ser bonitinho.
— E vocês vão ficar assistindo? — Jihoon ergueu uma sobrancelha.
— Eu não — o beta falou, virando-se de costas.
Jangmi riu nasalmente e pegou seu celular.
— Vou tirar uma foto bonitinha de vocês — ela disse, chegando mais perto e ajeitando a câmera.
Jihoon balançou a cabeça, virando-se para o namorado.
— Tudo bem por você?
Soonyoung sorriu e deu um aceno positivo, aproximando-se do namorado e selando seus lábios. O ômega não conseguiu evitar sorrir entre o beijo, dando-lhe mais alguns selinhos antes de se afastar.
— Fofos — Chinsun exclamou, colocando o ramo de visco atrás da orelha do menor. — Vocês formam um casal muito lindinho.
— A gente sabe — Soonyoung riu, apertando Jihoon pela cintura.
— Exibido — o baixinho acusou, acariciando a bochecha do alfa.
— Vocês não têm respeito nenhum pelos solteiros, né? — Taeyang resmungou.
— Não se preocupa, Tae. Algum dia você encontra uma garota legal que queira te namorar — Jangmi falou.
— Crianças — Daeun chamou, aproximando-se deles. — Está ficando tarde, até que horas vocês querem ficar?
— Acho já podemos ir — Chinsun falou, dando de ombros. — Eu até queria ficar mais, mas depois é muito tarde pra tia nos levar.
— Eu posso levar, se vocês quiserem — Sooyoung falou. — Eu não bebi nada hoje e eu sei dirigir.
— A gente podia pegar o carro e dar uma volta pela cidade, que tal? — Taeyang sugeriu, animando-se. — Você deixa, tia?
A alfa pensou por um momento, olhando para os mais novos e ponderando quais os riscos que poderiam ter. Exceto por Jangmi, todos ali eram maiores de idade e ela sabia que eram responsáveis.
— Tudo bem, mas se cuidem e não façam nenhuma loucura — ela cedeu, dando as chaves do carro para Jihoon. — Quando chegarem em casa, nos avisem.
— Eba! Vamos lá! — Chinsun disse, levantando num pulo e puxando Jihoon pela mão.
— Juízo! — Daeun falou, vendo eles saírem pela porta.
— Ok, ok. Parem de gritar senão vocês vão causar um acidente — Jihoon pediu após sentar no banco do passageiro.
— Pra onde a gente vai? — Soonyoung perguntou, dando a partida depois de colocar o cinto.
— Qualquer lugar, vamos só ver a cidade! — Taeyang disse, abrindo a janela e colocando a cabeça para fora.
Soonyoung sorriu olhando os primos de Jihoon, como eles pareciam animados e, até mesmo, eram parecidos com seu namorado. O jeito brincalhão de Taeyang, a calma e diversão de Chinsun e a timidez de Jangmi. Ele achava fofo como eles eram uma família unida e se davam bem apesar de serem diferentes na maioria das coisas.
Chapter 36: Mel e Hortelã
Chapter Text
Desde sempre, Seungkwan questionava tudo, absolutamente tudo.
Questionava porque o céu era azul, de onde vinham os bebês, porque ele tinha duas mães e nenhum pai, porque as pessoas cresciam, de onde vinha a chuva.
Ele fazia em média trinta perguntas por dia, o que podia cansar suas mães, mas elas mesmas não poderiam se importar. Amavam seu menino, afinal, e sempre tentavam responder suas perguntas da melhor forma possível.
Seungkwan gostava de saber tudo, e principalmente, ele gostava de explicar as coisas para os outros. Adorava brincar de escolinha com seus cachorros desde muito novo, escrevia várias coisas pelas paredes e conversava facilmente com qualquer pessoa, sendo ótimo em fazer amizades desde pequeno.
Apesar de nunca ter conhecido os pais biológicos e ser criado por um casal homoafetivo de duas ômegas, Boo Eunji e Boo Soyeon — o que por certo serviu para que ouvisse coisas desagradáveis na rua e na escola —, Seungkwan se considerava sortudo por ter tudo que tinha: uma boa família, uma boa casa, uma boa educação e bons amigos. Ele também sabia que não havia sido abandonado, sua vinda apenas não tinha sido planejada, e teve a sorte de ter sido escolhido quando ainda era um feto por suas mães.
Sua maior dificuldade foi ter contado para Eunji e Soyeon que ele não sentia atração por mulheres, não porque elas teriam um problema, mas porque o ômega sabia o que as pessoas iriam pensar: "ele foi criado por duas lésbicas, por isso é gay".
Seungkwan não queria ser uma decepção, não queria ser motivo para que julgassem suas mães mais do elas já eram julgadas.
Quando finalmente tomou coragem, contou para elas e abriu seu coração, elas sorriram e o acalmaram. Afirmaram que não importava o que as pessoas falassem, ele sempre seria o bem mais precioso de ambas.
Mas, como nem tudo são flores, Seungkwan, é claro, também tinha suas inseguranças. Não gostava muito de sua aparência e podia culpar os progenitores por isso sem remorso algum, suas mães eram absolutamente lindas e poderiam ambas serem modelos (apenas Eunji seguiu essa carreira, Soyeon era professora de literatura em uma faculdade bastante renomada).
Ele também sabia que sua curiosidade poderia soar intrometida para certas pessoas, foi aprendendo isso conforme foi crescendo e percebendo que nem todos eram amigáveis, algumas pessoas podiam ser bem cruéis e ele tratou de aprender isso logo que entrou na escola.
Seungkwan era um ômega que possuía uma essência doce de mel, o que chamava atenção de algumas pessoas, mas era raro ele ultrapassar a linha da amizade com alguém, apenas porque questionava muitas vezes o que as pessoas viam em si. Um pouco por insegurança e um pouco por ser sua natureza que queria entender tudo que estivesse ao seu alcance.
Ele também se considerava amigo de pessoas muito mais bonitas que si. Seus amigos, Lee Seokmin, Park Junghwa e Kwon Soonyoung eram lindos em sua opinião, e claro que ele não falaria isso em voz alta porque isso iria aumentar demais o ego deles.
E por estar sempre rodeado de pessoas que ele considerava mais belas que si, não era sempre que lhe olhavam com outros olhos, no máximo ele arranja alguns encontros atrás da escola para seus amigos. Algo que diminuiu consideravelmente visto que Seokmin não era tão interessado nessas coisas, Junghwa estava namorando uma pessoa de outra escola e Soonyoung não conseguiu ficar com mais ninguém desde que havia colocado os olhos em Lee Jihoon.
Seungkwan gostava de fazer muitas perguntas porque gostava de aprender as coisas, e isso prosseguia para as pessoas, ele gostava de conhecê-las e entender melhor como elas pensavam, o que elas eram.
Ele ouviu por horas Seokmin falar que era não-binario e todas as coisas que aquilo abrangia, assim como o fato dele se considerar arromântico por não possuir uma atração romântica tão forte quanto era considerado "normal". Seungkwan achava interessante como Seokmin era, ele não se importava com pronomes ou como o chamavam, sua identidade de gênero era apenas mais uma parte de si, assim como sua orientação romântica.
Claro que, algumas vezes, sentia-se frustrado por causa de toda pressão social que o esmagava. Já chorou porque, em certos momentos, queria apenas "se sentir normal", mas, naqueles momentos, tinha seus amigos, tinha Seungkwan lhe abraçando e dizendo: mande todos esses sentimentos ruins pra puta que pariu.
O ômega gostava de conhecer as pessoas porque assim podia ajudá-las, ele entendia que cada pessoa era completamente única e aquilo lhe era fascinante.
Seungkwan perdeu as contas de quantas vezes teve que acalmar Soonyoung em crises de ansiedade. Era quase corriqueiro que acontecesse quando saíam juntos antes dele começar o tratamento, o alfa não conseguia respirar e suas mãos tremiam por nenhum motivo aparente.
Sempre que acontecia, Seungkwan segurava as mãos do mais velho e o ajudava a respirar, relembrando o que era real e que nada iria acontecer.
Num geral, ele era ótimo em lidar com as pessoas certas. Por outro lado, sua enorme paciência foi diminuindo consideravelmente durante os anos, conforme ia crescendo e percebendo que algumas pessoas não eram como ele. Algumas pessoas não gostavam de aprender e ajudar, então ele aprendeu a guardar sua paciência para as pessoas certas.
Mesmo assim, ele era uma pessoa muito amigável e social. Seungkwan poderia ser a própria definição de extroversão, ele adorava conversar, sair, dançar, fazer festa, fazer novos amigos e ter um círculo social brando. Era o tipo de pessoa que preferia sair vários finais de semana do que ficar em casa assistindo filmes — apesar da noite de filmes toda quarta-feira ser um ritual quase sagrado para ele e suas mães.
Seungkwan era alguém que gostava da agitação, mas ele aprendeu a apreciar o lado calmo das coisas quando conheceu Vernon.
Seungkwan não era conhecido por ser insistente em relacionamentos, todos seus “namoricos” de colégio não duravam muito. Apesar de todas suas habilidades sociais, por conta de algumas vozinhas inseguras em sua cabeça, ele não tinha a habilidade de chegar em alguém e puxar conversa, trocar flertes e outras coisas.
Claro que não era nenhum santo e já havia ficado com algumas pessoas, mas nunca passava disso e para um adolescente de 14 anos, cheio de hormônios era bom o bastante.
Foi somente quando ele conheceu Hansol Vernon Chwe que Seungkwan se sentiu diferente. O alfa havia chegado na escola transferido, ele era um mestiço de americanos e, por Deus, Seungkwan o achou lindo assim que bateu os olhos nele, ficou encantado pelo garoto e tinha decidido: pelo menos um beijo ganharia dele.
Nunca soube explicar a razão pela qual Vernon chamou tanto sua atenção, talvez tenha sido sua aparência e o jeito quieto. Pensava em mil formas de se aproximar dele, em puxar um assunto qualquer, mas sempre que sequer pensava em se aproximar, sentia suas mãos suando frio e seu coração dando cambalhotas dentro do peito. Aquele garoto mexia consigo e nunca havia sequer trocado uma palavra com ele.
Vernon era normalmente bem quieto, poucas vezes viram ele conversando com alguém. Era como se ele gostasse de ficar sozinho e todos soubessem daquilo.
Mesmo assim, após inúmeras tentativas falhas de tentar se aproximar dele, Seungkwan decidiu fazer o que fazia de melhor.
Com a ajuda de seus amigos, planejou uma festa em seu aniversário e convidou Hansol, esperando que aquilo fosse a oportunidade perfeita para se aproximar dele ou, pelo menos, conseguir beijar aquela boquinha que ele nunca se cansava de olhar.
A música estava tocando alta, Seungkwan já havia tomado alguns shots para tomar coragem, mas nada parecia lhe acalmar.
Hansol estava distraído conversando com uma garota que fazia aula de inglês com ele, e o ômega estava apenas esperando uma oportunidade para conseguir chegar nele e puxar algum assunto, mas somente de pensar naquilo, suas pernas tremiam e ele se sentia apenas um garotinho assustado no primeiro dia de aula.
— Seungkwan, pelo amor de Deus! Vai até lá e fala qualquer coisa, uma cantada barata, pergunta se ele tá curtindo a festa, qualquer coisa! — Junghwa exclamou, impaciente com a demora do amigo para tomar alguma atitude.
— Eu já tô indo, Junghwa, me dá só um minuto! — falou, abanando-se com as mãos.
— Chega de minutos, já faz uma hora e meia que você tá aí! — respondeu a beta, segurando a mão do amigo e o puxando para perto de onde Vernon estava.
— Junghwa, o que você…?
— Hayun unnie! — ela exclamou, chamando atenção da menina que estava conversando com Hansol. — Desculpa atrapalhar a conversa, mas o Donghae tá aqui! Você não pode perder a chance de ficar com ele.
— Meu Deus, eu achei que ele não vinha — ela exclamou, ajeitando seus cabelos e procurando o batom no bolso de sua calça rasgada. — Foi mal, depois a gente continua conversando, Vernonie.
— Claro, sem problemas — ele sorriu, acenando e desejando boa sorte para a garota, que logo se perdeu na pequena multidão junto de Junghwa.
Logo, Seungkwan e ele estavam sozinhos, lado a lado, sem saber o que fazer.
Isso não incomodava Vernon, mas o Boo estava nervoso, usando todos seus neurônios para pensar em qualquer coisa que pudesse dizer.
— Então… É… — Seungkwan começou, quase se engasgando com o ar. — Você tá curtindo a festa?
— Sim, tá bem legal — ele respondeu, sorrindo gentil. — Obrigado pelo convite.
— F-Fiquei feliz que você veio — retribuiu o sorriso, mas desviou o olhar rapidamente, não conseguindo sustentar o olhar do alfa por muito tempo.
Respirando fundo, Seungkwan tomou coragem e pensou na primeira coisa que pudesse dizer, aproximando-se mais de Hansol para que ele lhe ouvisse:
— Me beija se eu estiver errado, mas seu nome não é Vernon? — perguntou no momento de desespero, arrependendo-se assim que as palavras saíram de sua boca.
Hansol franziu as sobrancelhas, claramente confuso.
— É, sim, mas você já sabia meu nome — ele riu.
Seungkwan acenou com a cabeça, crispando seus lábios.
— Se você me der licença, eu vou me afogar na piscina — Seungkwan respondeu, virando-se para sair dali e deixando um Vernon ainda mais confuso para trás.
Seungkwan correu para longe dali, estava com vontade de chorar por se sentir tão bobo. No meio de sua fuga, percebeu que havia tomado shots demais, pois sentia-se tonto e tudo ao seu redor girava.
Alguns de seus amigos perceberam e logo correram para ajudá-lo, achando que ele estava passando mal ou algo do tipo.
O ômega correu para o quintal da casa e sentou-se em um dos bancos presentes entre as belas flores que sua mãe cultivava. Lágrimas fininhas já escorriam por seu rosto quando Seokmin e Soonyoung sentaram ao seu lado, fazendo inúmeras perguntas sobre o que tinha acontecido. Ao mesmo tempo que Junghwa correu até Vernon para tentar entender o porquê de toda aquela confusão.
Seokmin e Soonyoung tentaram não rir quando Seungkwan explicou o que havia acontecido, acalmaram o amigo, falando que foi só um erro de principiante e que Vernon nem lembraria daquilo.
No meio da choradeira, Junghwa chegou puxando Hansol pela mão, dizendo para deixá-los a sós. Seokmin até tentou interferir, alegando que Seungkwan estava bêbado e poderia falar o que não devia, mas a Jung não deu ouvidos e deixou Seungkwan e Vernon sozinhos, sentados lado a lado, enquanto o ômega fungava baixinho.
— Por que você tá chorando, Seungkwan-ah? — ele perguntou, calmo.
— Porque eu gosto de você e queria te beijar — falou, sem escrúpulo algum. — E eu não sei o que fazer pra chamar sua atenção. E eu fui muito idiota ainda há pouco, eu tô morrendo de vergonha! — cobriu o rosto, voltando a chorar.
— Oh — Hansol soltou, surpreso pela revelação. — Eu não sabia mesmo. E não precisa ter vergonha, essas coisas acontecem.
— Promete que você vai esquecer isso amanhã.
— Eu não quero esquecer.
— Por que não?
Vernon deu de ombros.
— Não sei, mas o pensamento de esquecer me deixa triste.
Seungkwan riu baixinho, aproximando-se do maior e deitando a cabeça em seu ombro.
— Sabe, Kwan — Vernon começou, após alguns segundos de silêncio. — Eu sou… um pouco lerdo, digamos assim. Às vezes, eu não entendo algumas brincadeiras ou flertes.
— Por que você tá me falando isso?
— Porque, se você ainda gostar de mim amanhã, eu preciso que você se lembre disso.
— Se eu quero te dar uns beijo desde que você pisou naquele colégio, seria idiota eu esquecer disso amanhã — reclamou, secando seu rosto com as mangas de sua blusa.
Vernon riu baixo, tentando virar o rosto para esconder, mas falhou. O olhar mortal de Seungkwan o fitava e ele poderia dizer que estava com medo se não achasse o ômega completamente adorável.
— Do que você tá rindo?
— Me desculpa, mas você é muito fofo — respondeu, voltando a olhar para o menor. — Continue gostando de mim amanhã, tá bem?
Seungkwan franziu as sobrancelhas com a fala do alfa, mas não falou mais nada.
Hansol se levantou e estendeu a mão para ajudá-lo a levantar também. Voltaram para dentro da casa e o alfa pediu para que o DJ tocasse alguma música lenta, convidando Seungkwan para dançar consigo.
O Boo, mesmo confuso pelo álcool em seu corpo, aceitou e resolveu aproveitar aquela oportunidade, pois não sabia se Vernon olharia em sua cara novamente depois daquela noite.
Abraçou o maior pelo pescoço e dançou junto dele de uma forma desajeitada, mas ele sentia-se bem ali. Sentindo as mãos de Hansol em sua cintura, enquanto ouvia a voz dele fazendo perguntas em seu ouvido e seu riso quando respondia animado.
Vernon também estava gostando de estar ali, e se arrependia por não ter visto Seungkwan mais cedo, mas como ele poderia saber?
Estar dançando com Hansol era a última coisa que o ômega se lembrava quando acordou na manhã seguinte, ouvindo sua mãe lhe chamando porque tinha alguém esperando por ele
Ainda sonolento, Seungkwan desceu as escadas e foi até a porta, acreditando ser um de seus amigos, mas era Vernon quem estava ali. Todo sono que ele estava sentindo, saiu de seu corpo em questão de segundos.
Seus olhos se arregalaram e antes que o alfa pudesse lhe cumprimentar, ele fechou a porta novamente e apoiou as costas ali, como se pudesse segurar caso ele tentasse abrir.
— Seungkwan?
— O que você tá fazendo aqui, Hansol!? — exclamou, sentindo seu coração batendo rápido.
— Quero falar com você.
— Por que veio tão cedo? O que você quer falar comigo?
— São duas da tarde, Kwannie — Vernon respondeu, paciente. — Eu quero falar sobre ontem…
— Ah, não! — o ômega exclamou, abrindo a porta com certa brusquidão, não se importando com sua aparência de quem acabou de acordar. — O que aconteceu ontem!?
— Você não lembra?
Seungkwan parou por um momento, tentando caçar em sua memória os acontecimentos da noite anterior. Quando, enfim, os achou, seus olhos pequenos se arregalaram e ele bateu a porta outra vez, apoiando-se ali e escorregando por ela até estar sentado no chão.
— Vai embora, Vernon! Meu Deus, me perdoa, por favor! — exclamou, escondendo o rosto entre os joelhos. — Droga, Seungkwan, como você é burro. Burro, burro, burro!
— Seungkwan, por favor, me deixa entrar — o alfa pediu, num tom calmo. — Você não é burro. Vamos conversar, sim?
— Hansol, vai embora, por favor!
— Tá bem, eu vou. Mas, só me responde uma coisa antes?
— Não!
— Você quer sair comigo qualquer dia?
— Não…! Pera aí, como é? — exclamou, abrindo a porta novamente.
Hansol, que estava sentado no chão de costas para a madeira, acabou caindo deitado nos pés de Seungkwan, que lhe olhava interrogativo. Ele levantou-se num pulo, ficando de frente para o ômega.
— Você quer sair comigo?
O olhar de Seungkwan continuava perdido, uma enorme incógnita estava estampada em seu rosto enquanto ele se questionava vários porquês, não querendo aceitar nenhuma das respostas que recebia de si mesmo.
— Por que? — ele soltou, por fim.
Vernon juntou as sobrancelhas, um tanto confuso.
— Por que o que?
— Por que você quer sair comigo?
— Eu pedi pra você continuar gostando de mim hoje, não pedi?
— Será que a gente pode não falar disso nunca mais? — cruzou os braços, virando o rosto que ganhava um tom de rosa nas bochechas.
— Não, eu nunca vou esquecer — riu anasalado, aproximando-se com cuidado do Boo. — Se você ainda gosta de mim, não tem razões pra não aceitar sair comigo, ou tem?
Seungkwan crispou seu lábio, batendo o pé no chão de forma nervosa.
— Então é só porque eu gosto de você?
— Você não vai me dar nem uma chance de gostar de você?
— E você quer essa chance? — perguntou, um tantinho inseguro.
— Eu tô aqui, não tô? — sorriu, aproximando-se mais.
Seungkwan simplesmente congelou no lugar quando as mãos do alfa tocaram as suas. Seu coração não parava de acelerar e ele poderia jurar que ia morrer.
— Tá bem, eu aceito — respondeu, mantendo os olhos no chão, não conseguindo encarar o outro.
Vernon sorriu contente, não se lembrava se um dia havia se sentido daquela maneira antes.
— Fico feliz — ele disse, tocando o rosto do menor e deixando um beijo em sua testa. — A gente se vê amanhã na escola, tá?
Ainda sem saber como responder, Seungkwan apenas acenou com a cabeça e fechou a porta quando Hansol foi embora.
— Quem era? — Soomin, a diarista que trabalhava na casa, perguntou.
— Eu não sei! — Seungkwan gritou, subindo as escadas correndo.
Soomin franziu as sobrancelhas, não entendo, mas logo deu de ombros, acostumada com algumas coisas sem sentido que Seungkwan fazia.
— Eu espero que ele seja meu namorado, mas eu não quero me iludir! — ele gritou, descendo as escadas e logo as subiu novamente, chamando por Eunji.
Seungkwan contou tudo para suas mães, ele sempre contava tudo para elas, e elas sempre o apoiavam em suas decisões. Elas ficaram contentes de ver que finalmente algo tinha acontecido, já que o mais novo vivia citando Hansol sempre que tinha a oportunidade, fosse para falar como ele era bonito ou para elogiar a apresentação de um trabalho que ele fez.
Mesmo que ainda estivesse morrendo de vergonha, Seungkwan conseguiu voltar para a escola no dia seguinte e conversou com Vernon normalmente, desejando bom dia e sentando ao seu lado na aula física.
Eles não falaram sobre o encontro ou sobre a festa, na verdade, o assunto começou quando eles abriram a página do livro didático que o professor pediu e ali havia o desenho de um gato, então Hansol comentou que amava gatos, Seungkwan emendou que teve um gato quando era criança, mas que não pôde ficar porque o bichano o arranhava muitas vezes.
Depois disso, a conversa sempre fluía naturalmente. Visto que, apesar de quieto, Vernon falava bastante dependendo do assunto, e ele gostava de ouvir Seungkwan na mesma proporção.
Quando saíram pela primeira vez em um encontro oficial, Seungkwan passou a tarde inteira tomando café gelado e ouvindo Vernon falar sobre gatos e alguns fatos sobre eles. Coisa que algumas pessoas poderiam achar sem graça, mas o ômega gostava de aprender, ele gostava de ouvir, e principalmente, ele gostava de Hansol.
Eles se ouviam, era como funcionava o relacionamento. Nem sempre era fácil entender um ao outro, às vezes não se entendiam nem passando horas discutindo.
Nem sempre Vernon entendia porque Seungkwan ficava chateado por coisas pequenas, como quando o alfa esqueceu de que haviam combinado de sentarem juntos na aula ou quando ele respondeu "está nublado" quando Seungkwan falou "a lua está linda hoje".
E o Boo nem sempre entendia os silêncios de Hansol, ou algumas de suas teimosias que eram quase impossíveis de lidar.
Em algumas coisas, nem mesmo Vernon se entendia.
Ele sabia que era diferente das pessoas, mas ele sabia que todas as pessoas eram diferentes, que ninguém nunca seria igual a ninguém, e isso tornava todos iguais. Achava que suas manias e comportamentos eram apenas traços de sua personalidade, e mesmo que, em outros pontos, pudesse lhe afetar, ele não se importava.
Vernon e Seungkwan estavam namorando há seis meses quando uma nova terapeuta diagnosticou o alfa como autista.
Hansol não soube explicar porquê, mas foi como se seu mundo tivesse caído por alguns segundos. Ele odiou ouvir aquelas palavras, também odiou ouvir seus pais falando que aquilo era um absurdo porque "seu filho sempre foi normal".
Ele não se lembrava de muita coisa depois que ouviu as palavras da psicóloga, tampouco se lembrava de sair de lá. Ele só lembrava de ter ido até a casa de Seungkwan, deixando o namorado surpreso por vê-lo ali, e mais ainda quando desatou a chorar assim que entrou em seus braços.
Mesmo confuso e preocupado, o ômega o abraçou e ficou ao seu lado. Deitou-o em sua cama e segurou suas mãos para evitar que ele ferisse as palmas por estar cerrando os punhos com força.
— É uma coisa boa — Seungkwan falava, acariciando os cabelos do namorado. — Se realmente for, não é algo ruim. Isso vai te ajudar a se entender melhor.
— Eu não queria que tivesse mais uma coisa pra me diferenciar…
— Não vai acontecer — afirmou, sentando-se de frente para ele e tocando seu rosto. — Olha pra mim.
Vernon o fez. Seungkwan afastou suas lágrimas com delicadeza, sorrindo terno para si, aproximou-se e lhe deu um selinho carregado de carinho.
— Você sempre foi diferente, e eu sempre soube disso — segredou, em um tom doce. — E isso não é algo ruim, você ser você é a coisa mais incrível que existe. Não vai ser um termo que vai fazer você ser menos, nada nunca vai conseguir fazer isso.
— As pessoas já me acham estranho, agora parece que elas têm razão.
— Cala a boca, Vernon — mandou, cobrindo a boca do alfa. — Foda-se o que as outras pessoas acham, especialmente porque outras pessoas são um porre. Eu entendo que você tá confuso e é muita informação pra uma tarde, mas depois você vai ver que não importa, isso não vai mudar quem você é, não vai fazer eu, nem ninguém que te ama, te amar menos.
— Você me ama? — ele sorriu, sabendo que nunca havia ouvido aquilo de Seungkwan.
Em resposta, ele revirou os olhos.
— É claro que eu te amo, seu bobo — segurou as mãos dele e cruzou seus dedos. — Eu não ouço você falar de gatos todos os dias pra você duvidar disso.
Vernon riu baixo, negando com a cabeça.
— Eu já falei que você pode me mandar ficar quieto.
— E eu já falei que eu gosto de ouvir você falando — respondeu, chegando mais perto do namorado e lhe dando mais um selinho. — Vai ficar tudo bem. Eu tô do seu lado.
O alfa concordou mudo e abraçou o menor, apertando-o entre seus braços.
— A gente pode ir pro quintal?
— Claro, meu amor — sorriu, beijando-lhe uma última vez antes de levantar e descer as escadas puxando o alfa pela mão.
Vernon gostava bastante do quintal da casa dos Boo, as diversas flores cultivadas, os bancos e cadeiras ninho de balanço espalhados e a piscina sempre limpa e bem tratada. Era um ambiente confortável.
— Você está bem? — Seungkwan perguntou, acariciando os cabelos do alfa.
Hansol acenou positivamente, sorrindo para o namorado e lhe dando um selinho.
— Vamos entrar na piscina?
— Claro que não, Vernon! Tá frio! — negou, cruzando seus braços.
— Nem tá, vamos! — puxou-o para perto da beirada.
— Não, não! — fugiu do maior, ficando longe.
Vernon riu baixo e tirou a camiseta que vestia, deixando-a no chão. Tomou distância e correu para pular na água.
— Você é doido! — acusou Seungkwan, aproximando e se abaixando perto da borda.
— Sim, acho que ficou claro hoje.
— Cala a boca, eu não falei nesse sentido — resmungou, jogando água no rosto dele. — Anda, sai daí antes que fique doente.
— Não tá tão fria, Kwannie — afirmou, segurando a mão do menor. — Entra aqui, eu preciso te falar uma coisa.
— Fala, eu tô ouvindo.
— Não, você precisa entrar aqui — sorriu.
— Não, só fala logo…
Num ímpeto, Vernon segurou a cintura de Seungkwan e o puxou para dentro da água.
— HANSOL! — o ômega gritou, empurrado o maior enquanto afastava a água do seu rosto. — Isso tá gelado pra caralho, seu idiota!
Vernon gargalhava divertido, achando engraçado a reação exagerada do namorado.
— Espera, eu quero falar com você — o alfa pediu, abraçando o menor.
— O que é, inferno?
— Eu também amo você.
— Pois eu não quero saber — reclamou, empurrando ele para longe de si e nadando de forma desengonçada até a escada para sair. — Eu falei que te amo primeiro e você me afoga nessa água gelada?
Ele riu mais e seguiu o namorado, saindo da piscina e o abraçando outra vez quando já estavam no chão novamente.
— Me desculpa — pediu, ajudando o ômega a tirar a roupa molhada. — Você está bem?
— Eu te odeio — resmungou, voltando para dentro de casa à procura de qualquer coisa que pudesse lhe aquecer.
Mais tarde naquele mesmo dia, Vernon sentiu como se seu mundo tivesse sido reconstruído novamente, e tudo parecia estar em seu devido lugar quando ele estava no sofá espaçoso da casa, com Seungkwan em seu colo enquanto brincava com seu cabelo, assistindo um filme de comédia romântica qualquer e rindo juntos das piadas prontas.
Seungkwan sempre o fazia se sentir em casa, e aquele sentimento não havia mudado nem um pouco naqueles quase dois anos juntos.
Por mais difícil que fosse às vezes, escolhiam um ao outro todos os dias.
Chapter 37: Chá de Pêssego
Chapter Text
— Você vai fazer alguma coisa no seu aniversário? — Soonyoung perguntou, entregando o prato seco para Joshua guardar.
— Sei lá, não tava muito afim de fazer nada — deu de ombros.
— Ah, qual é? Seus pais vão deixar, eles estão mais calmos e você se comportou bem até agora, então eles já voltaram a confiar em você — argumentou, chegando mais perto do primo.
— Não sei se quero a confiança deles — resmungou. — Ainda me deixa irritado eles fingirem que nada aconteceu, que eles não disseram coisas ruins.
— Achei que a gente já estivesse acostumado a esse ponto — Soonyoung respondeu, sentando-se no balcão e olhando para o mais velho. — Mas, sei lá, o foco não é esse. Eu acho que você podia aproveitar essa oportunidade pra reunir seus amigos.
— Seus amigos, não meus.
— Eles são seus amigos, também, para — empurrou-o de leve. — E eles gostam de você, então não vejo porque não…
— Soonyoung, se eu concordar, você para de falar?
— Por que você me odeia?
Jisoo olhou para o alfa com preguiça.
— Dá pra parar?
— Você anda muito sério, tá precisando de uma festa.
— Foi justamente uma festa que me deu essa dor de cabeça, eu não preciso de outra — negou, saindo da cozinha assim que terminou sua tarefa.
Soonyoung balançou a cabeça e foi atrás dele.
— Você vai fazer 20 anos, não deveria passar em branco, sabe?
— Por que não? A crise dos 20 tá aí pra isso — respondeu enquanto subia as escadas, ainda com o alfa em sua cola.
— Deixa de ser chato, vamos fazer alguma coisa — insistiu, puxando a barra da camisa do mais velho como uma criança birrenta.
— Tá, qual a sua ideia? — virou pra ele, cruzando os braços. — Não pode ter álcool, não pode ter música alta, não pode várias coisas porque esse lugar é quase uma prisão.
— Dá um tempo, pede um voto de confiança pros seus pais. Tudo bem que a gente vai quebrar, mas…
Jisoo revirou os olhos e deu as costas, indo até o quarto de ambos.
— Tô brincando! — Soonyoung exclamou, correndo atrás do primo. — A gente se comporta, a gente consegue ser pessoas decentes. Vamos, a gente só quer comemorar seu aniversário com você.
O beta suspirou ao sentar-se em sua cama.
— Tá bem.
— Yes! — ele exclamou, pulando na cama e abraçando o primo. — Não se preocupa, eu e Jeonghan hyung vamos organizar tudo!
— Por que Jeonghan está metido nisso? — perguntou, tentando empurrar o outro para longe de si, sem sucesso.
— Ué, porque ele é seu melhor amigo.
— Você é meu melhor amigo — contestou.
— Não precisa mentir, eu sei que o Jeonghan é seu melhor amigo — Soonyoung deu de ombros. — E eu já devolvi o favor, você também não é mais meu melhor amigo.
— Que calúnia, e quem é!? — perguntou, usando os pés para empurrar o mais novo para fora de sua cama.
— Ué, Seokmin.
— Você não vale nada! — pegou um travesseiro e jogou contra o alfa, que ria alto, tentando se defender.
— Para de me bater, você me trocou primeiro! — acusou, levantando-se e correndo do primo, que corria atrás de si com o travesseiro.
— Que mentira, eu nunca…
— Toma! — Soonyoung exclamou, jogando outro travesseiro no mais velho, acertando seu rosto e derrubando-o sentado na cama.
— Covarde! — gritou, levantando para voltar a persegui-lo.
No andar de baixo, Joane e Seunghoon olharam-se ao ouvir a gritaria dos garotos.
— Crianças — a ômega suspirou.
[...]
— Pelo amor de Deus, vocês vão destruir meu quarto — Jihoon reclamou assim que entrou, vendo Taeyang e Jangmi brincando de arremessar suas pelúcias um no outro.
Chinsun estava sentada em um dos pufs, apenas observando a bagunça que os dois faziam como se fossem duas crianças e não estivessem quase atingindo a maioridade.
— Ei, eu que dei essas pra ele! — Soonyoung exclamou, se metendo no meio deles e pegando as pelúcias de tigre e lhama.
— Oww, que gracinha! — Taeyang riu, apertando o rosto do alfa. — Ele é o último dos românticos, Jih?
O ômega revirou os olhos ao rir, sentando-se ao lado de Chinsun.
— Você é muito irritante — Soonyoung disse, empurrando Taeyang sem força.
— É de família — riu baixo, revidando o empurrão e correndo para sentar ao lado de Chinsun.
— Amor, olha ele, hein — ele disse, apontando para o beta.
Jihoon riu baixo e se levantou, indo até o namorando para lhe dar um selinho e sentar em seu colo, abraçando-o apertado.
Soonyoung notou que seu ômega estava um tanto carente naqueles dias.
— É de família, eu te avisei — Jihoon sorriu, apertando as bochechas do maior. — Você ainda pode fugir e desistir de ser meu namorado.
Soonyoung olhou para ele, chegando mais perto para que pudesse sussurrar em seu ouvido:
— Nem que você fosse da família Capuleto e eu da família Montecchio.
Jihoon olhou-o, fazendo uma expressão cheia de gana, os olhos quase lacrimejando.
— Você é tão fofo! — abraçou-o apertado.
— Tá, o casal aí não vai parar de ser feliz na nossa frente? — Taeyang perguntou, batendo palmas para chamar atenção dos dois.
— Me desculpa se você não tem um namorado tão fofo igual o meu — retrucou o ômega, mostrando a língua para o primo de maneira infantil.
— Eu, hein. Tá me estranhando? — o beta juntou as sobrancelhas.
— Ofendeu a heterossexualidade dele — Jangmi apontou, tentando conter um riso.
— É, não brinca tanto que daqui a pouco eu caio em tentação — brincou Taeyang, arrancando risadas altas dos demais.
— Mas falando sério, eu achava que você ia ser o gay da família — Chinsun falou.
— Eu!? Por que?
— Ah, você tem tudo pra ser — apontou a alfa.
— Menos o principal: a vontade de pegar homem — constou ele.
— Mas eu também, eu achava que você namorava o Haebom — Jihoon falou. — Você e ele eram muito próximos.
— A gente é amigo.
— Mas olha as fotos que vocês postam no Instagram — disse o menor, abrindo o aplicativo no seu celular. — Olha isso!
Mostrou uma foto de Taeyang com Haebom, um amigo próximo do beta, onde ambos estavam abraçados e usando roupas iguais.
— Meio que coisa de gay — Soonyoung deu de ombros.
— Ok, um pouco — Taeyang riu. — Mas essa foto foi coincidência as roupas iguais.
— Uhum — Chinsun soltou. — E o story de vocês dando um selinho que você apagou dois segundos depois?
— Cala a boca — mandou o beta. — Aliás, Soonyoung, qual seu insta?
— Tem na minha bio — Jihoon falou, abraçando o namorado outra vez.
— Isso sim é coisa de gay — acusou Taeyang.
— É, mas meio que todo mundo sabia do Jihoon — Jangmi falou.
— Ei.
— Ela tem razão — Chinsun interveio.
Jihoon deu de ombros e cruzou os braços.
— “Nobody loves me like you do” e o user do Soonyoung-ah? — Taeyang riu ao entrar no perfil de Jihoon. — Aish, vocês são demais.
— Você ainda vai encontrar uma garota que te dê um nocaute tão grande que tudo na sua vida vai ser sobre ela — disse o ômega, tentando acertar um chute nas pernas do mais velho, mas falhando.
— Tomara, Deus te ouça, primo — o beta sorriu. — Vou ter que dizer, Soonyoung, você é mais bonito pelas fotos.
Soonyoung franziu as sobrancelhas.
— Por que seu primo me odeia? O meu primo gosta mais de você do que de mim — choramingou, puxando Jihoon para mais perto.
— É brincadeira — Taeyang falou, levantando num pulo para sentar em seguida ao lado deles. — Vou seguir você.
— Quando chegar em casa, eu te sigo de volta. Esqueci meu celular lá.
— Se não seguir, eu vou te dar unfollow — ameaçou o beta, voltando a se sentar nos puffs com suas primas.
— Sabia que quando você me seguiu no instagram eu estava stalkeando você? — Jihoon perguntou, lembrando-se do fato de repente. — Foi um pouco antes da gente se conhecer.
— É claro que eu sabia, se eu te segui justamente porque você curtiu um vídeo antigo meu — Soonyoung contou.
— Que?
— Mentira que você fez isso — Chinsun falou. — Você não conseguiu nem fuçar o perfil dele direito.
— É mentira! — Jihoon exclamou.
— Não é mentira — Soonyoung afirmou. — Foi um vídeo onde eu tava dançando Girls Generation com Seokmin.
Jihoon ficou em silêncio por um momento, pensando no que lhe foi dito. Suas bochechas ficaram avermelhadas e ele tentou se levantar, mas foi segurado por Soonyoung.
— Ei, não fica assim!
— Caralho, Jihoon, você é meio lesado, né? — Jangmi disse, cobrindo seu rosto ao rir.
— Eu tô sendo humilhado! — acusou o baixinho.
— Deixa de ser dramático — Chinsun falou.
— Ele não é meio lesado, ele é muito — Soonyoung começou. — Antes da gente namorar, eu tive que me embebedar, dançar e cantar Carly Rae Jepsen e, mesmo assim, ele não entendeu que eu era super afim dele!
— Cala sua boca! — Jihoon mandou, cobrindo a boca do namorado com as mãos. — Você sabe que eu posso terminar com você a qualquer momento, né?
Soonyoung franziu as sobrancelhas, segurando a cintura do menor e chacoalhando de forma birrenta, ele tentou falar, mas não pôde por Jihoon ainda estar o impedindo.
— Ninguém entendeu o que você disse — Taeyang falou.
— Que tal a gente parar de me humilhar e ir assistir um filme? — o ômega perguntou.
— Eu topo! Vou fazer a pipoca! — Chinsun exclamou, levantando-se e correndo para fora do quarto.
— Eu vou escolher o filme! — Taeyang disse, indo atrás de Chinsun.
— Não! Você vai escolher Os Vingadores, ninguém gosta desses filmes! — Jangmi acusou.
E assim, Jihoon e Soonyoung ficaram sozinhos, rindo do jeito espalhafatoso dos demais.
— Você não vai terminar comigo, né? — o alfa perguntou após alguns segundos em silêncio.
— É claro que não — o baixinho disse, abraçando-o. — Era brincadeira, Soon.
— Eu sei, mas eu tenho medo — murmurou, retribuindo o aperto. — Vai que um dia você acorda e não gosta mais de mim.
— Não vai acontecer — afirmou, olhando-o nos olhos. — Eu amo você, viu?
— Quanto?
— Muito.
— Só isso?
— E o quanto você me ama?
— Até a lua. Ida e volta.
— Isso é meio clichê — Jihoon riu nasalmente.
Soonyoung sorriu.
— Não mais que “a lua está linda hoje”.
— Eu acho fofo.
— E o quanto você me ama? — Soonyoung tornou a perguntar.
— Eu não sei colocar em palavras bonitas, mas é muito — respondeu, abraçando-o apertado.
Deitou a cabeça no ombro do maior e aspirou o aroma em seu pescoço. Soonyoung sorriu, acariciando a cintura delgada com carinho.
— Eu também te amo.
Jihoon retribuiu o sorriso, tocando o rosto do namorado antes de selar seus lábios num beijo singelo.
— Ei, casal — Taeyang exclamou, parando na porta. — Vocês vão descer pra assistir o filme ou eu devo fechar a porta e aumentar o volume da TV?
— Fica quieto, Tae — Jihoon mandou.
[...]
Antes que o filme de terror que Taeyang havia escolhido chegasse na metade, Chinsun, Jangmi e o próprio Taeyang estavam apagados em um sono profundo, deixando apenas Jihoon e Soonyoung acordados, assistindo ao filme estilo trash que passava.
— Eu devia imaginar, eles sempre dormem assistindo alguma coisa — o ômega comentou baixinho. — Você nem imagina a quantidade de filmes que eu assisti sozinho.
O mais velho riu nasalmente, ajeitando o namorado em seu colo.
— Eu passo por isso com Shua hyung, ele começa assistindo quieto, mas logo começa a falar e mexer no celular — reclamou. — Ele só se concentra quando é um filme super chato, tipo Como eu era antes de você.
— Esse filme não é chato!
— Shh, seus primos estão dormindo — colocou o dedo indicador sob os lábios do menor. — É meio chato sim, aquela personagem é muito chata.
— Estou ofendido — afirmou Jihoon, tentando morder o dedo de Soonyoung, sem sucesso. — Óbvio que não chega aos pés de Ensina-me a Viver, mas ainda é um filme bom e romântico.
— Eu gostei mais de Ensina-me a Viver, é menos clichê — murmurou, puxando o namorado para beijar seu rosto.
— Vamos assistir? — sugeriu, olhando-o com expectativas.
— Vamos — concordou, sorrindo bobo ao ver Jihoon procurar o controle da TV de forma animada.
Assistiram o filme a partir da metade, já que não estavam com vontade de assisti-lo inteiro, mas terminaram sem pular nenhuma cena até o final. O fatídico final que sempre fazia Jihoon chorar.
Quando os créditos subiram na tela, Soonyoung abraçou o namorado mais apertado.
— Eu não gostei que eles tiraram minha cena favorita — o baixinho murmurou, fungando.
— Qual cena?
— Quando ele fala: “mas vocês não me perguntaram se eu amo Maude”.
— Quando isso?
— Depois do padre ficar falando merda — respondeu, soando irritado ao lembrar da cena. — Eu morro de chorar sempre que lembro, ninguém perguntou se eles se amavam.
Soonyoung sorriu, secando o rosto do namorado com cuidado.
— É só isso que importa, né?
O ômega concordou com a cabeça.
— Deveria ser — fechou os olhos quando mais lágrimas escorreram por seu rosto.
— Oh, bebê, não precisa chorar.
— Se acostume, Kwon Soonyoung, eu vou chorar toda vez que a gente assistir esse filme.
— Tudo bem, vou secar suas lágrimas toda vez — tocou o rosto dele. — E ninguém me perguntou também, mas eu amo você.
— Eu amo você também — sorriu, lhe dando alguns selinhos rápidos.
— Vocês são sempre assim ou a gente que chegou num momento ruim? — Taeyang perguntou, ainda de olhos fechados.
— Pelo amor de Deus, você não consegue deixar eles serem felizes? — Chinsun reclamou, abrindo os olhos e batendo no primo com uma almofada.
Taeyang levantou e pegou a almofada para jogá-la contra a mais velha, que riu tentando se defender.
Jihoon riu, abraçando o namorado observando seus primos começando outra pequena guerra.
[...]
— Está ansioso? — Soonyoung perguntou, esperando Joshua terminar de arrumar seus cabelos. — A maioria do pessoal ainda não chegou mas daqui a pouco…
— Eu sei, eu sei. Fica quieto, eu já tô nervoso o suficiente — reclamou o mais velho.
— Relaxa, seus pais concordaram em confiar na gente — acalmou, aproximando-se do primo e apertando seus ombros. — Seus amigos da antiga escola estão vindo, então eles estão bem tranquilos.
— Mal sabem eles — riu baixo, levantando-se.
— Nayeon já chegou — Soonyoung comentou.
— Que? — Jisoo exclamou. — Há quanto tempo? Por que não me disse?
— Faz uns minutos, eu vim avisar.
— Aish, Soonyoung — resmungou, levantando e saindo rapidamente do quarto.
O alfa apenas franziu as sobrancelhas e negou com a cabeça.
— Nayeon? — Joshua perguntou, chegando na sala.
— Jisoo! — a ômega exclamou, correndo até o amigo e o abraçando. — Que saudade que eu tava!
Ele sorriu, apertando a amiga nos braços.
— Eu também. Tô triste em fazer 20 anos mas tô feliz que você tá aqui, meus outros amigos vão vir, também.
— Aqueles do piquenique? Eu adorei eles!
— Esses mesmos — sorriu. — Daqui a pouco eles estão chegando, eu só espero que minha casa não seja destruída.
— Vai dar tudo certo, relaxa! — Soonyoung falou, descendo as escadas. — Não é, noona? — acenou para Nayeon.
— Sim! Eu nunca mais tive a chance de destruir a casa depois daquela vez — ela disse.
— Pois é! Shua hyung nunca mais trouxe vocês pra fazer uma noite de jogos ou sei lá.
— Eu estava lidando com certas coisas, tá? — justificou-se o beta, indo até a porta para atender quem havia tocado a campainha.
— Ele tá bem melhor agora — Soonyoung sussurrou para Nayeon.
— Feliz aniversário! — puderam ouvir a voz de Jeonghan e logo o alfa abraçava Joshua apertado.
— Agora nós ficamos de vela — Soonyoung falou baixo.
— Eles são…? — a ômega arregalou os olhos.
— Não! Não, eles são amigos mas parecem mais um casal em lua de mel — explicou, negando com a cabeça quando viu o Yoon segurando o rosto de Joshua para beijar as bochechas.
— Realmente — ela riu baixo. — Quando vai chegar todo mundo?
— Daqui a pouco mais. Ah, vai vir umas meninas da escola e, se você quiser, conheço algumas que gostam de meninas também — falou, erguendo as sobrancelhas para a mais velha.
— Ai, para! Fico nervosa, fica quieto — mandou, batendo no ombro dele.
— Só tô tentando te arrumar com alguém — riu baixo, protegendo seu ombro.
Antes que Nayeon pudesse responder, Joshua e Jeonghan vieram até eles.
— Oi, pessoas — o alfa disse. — Já tá tudo pronto, só falta os convidados, né?
— Sim, vocês vieram meio cedo — Soonyoung respondeu.
— Claro, ele é meu melhor amigo, óbvio que eu seria a primeira — Nayeon sorriu, abraçando o beta novamente.
— Ei, nem vem, ele é meu melhor amigo — Jeonghan rebateu, puxando Joshua pelo braço.
— Ai, vocês vão me quebrar — reclamou ele, soltando-se dos dois.
A campainha tocou outra vez.
— Vamos atender os convidados e vocês podem continuar discutindo — Soonyoung interveio, jogando um braço por cima dos ombros do mais velho e o levando até a porta.
— Valeu — Jisoo riu. — Não sabia que eles eram ciumentos.
— E eles estão brigando a toa, todo mundo sabe que seu melhor amigo sou eu — sorriu, bagunçando os cabelos do primo.
— Besta — empurrou-o.
Soonyoung mostrou a língua para ele de forma infantil e logo abriu a porta. Jihoon esperava ali junto de seus primos.
— Oi, hyung — o ômega sorriu. — Feliz aniversário. Esses são meus primos, Chinsun, Taeyang e Jangmi.
— Oi, obrigado! — Joshua sorriu. — Soonyoung me falou sobre eles, podem entrar, fiquem à vontade.
— Obrigada, feliz aniversário — Chinsun falou. — Vou entrar, fingir que eu já sou de casa.
Jisoo riu baixo, abrindo espaço para eles.
— Essa é a ideia.
— Já peço desculpas antecipadas se eles fizerem alguma coisa — Jihoon disse baixo.
— Eu ouvi, hein — Taeyang exclamou.
Eles riram do beta.
— O restante do pessoal já está vindo, avisaram no grupo — Soonyoung disse após guardar o celular no bolso. — Oi, meu amor.
— Oi — Jihoon sorriu, ficando na ponta dos pés para lhe dar um selinho.
— Você sabe mexer na caixa de som? Ninguém conseguiu ligar ainda — o beta perguntou.
— Não faço a menor ideia — respondeu o baixinho. — Mas Vernon já deve estar chegando, ele sabe.
— Vamos esperar então — o beta deu de ombros.
Quando estava prestes a fechar a porta, ela foi segurada por Lee Chan, que chegou logo atrás deles.
— Oi, cheguei — ela disse, entrando um pouco tímida por estar sem seus amigos.
— Oi, Chan! — Jisoo sorriu, abraçando a mais nova. — Que bom que você veio.
— Claro que eu ia vir, seu besta — retribuiu o abraço. — Isso é pra você.
Entregou uma sacolinha pequena e decorada para ele.
— Obrigado, não precisava — pegou o presente.
— Chan, você sabe ligar a caixa de som? — Soonyoung perguntou, chegando perto deles.
— Posso tentar — ela respondeu.
— Tá, vem tentar — puxou-a pela mão.
— Já vou, calma — riu, ficando ao lado de Jisoo.
Soonyoung fez um joinha com as mãos e logo voltou para a pequena rodinha das pessoas conversando.
— Pode abrir depois se quiser, é… meio que coisa de gay — Chan falou baixo, coçando a nuca e vendo o mais velho desembrulhar o presente.
— Você odeia armários, né? — brincou ele, abrindo o presente.
— Os de vidro, sim — entrou na brincadeira, empurrando-o com o ombro.
Joshua riu nasalmente, negando com a cabeça e observando o presente, que consistia em um broche pequeno com a bandeira LGBT e uma bandeirinha pequena de mão.
— Isso não é “meio” gay, é totalmente — apontou o beta.
— Verdade. Eu não sabia sua sexualidade pra escolher a bandeira “certa” — fez aspas com os dedos. — Mas essa é de orgulho e eu achei que você ia gostar. Quando você chegar na fase de querer arco-íris em tudo, eu posso te dar uma bandeira maior.
Joshua riu baixo, sentindo seus olhos lacrimejarem um pouco.
— Obrigado, Chan — abraçou-a novamente. — Mas eu vou precisar esconder por enquanto.
— Não tem problema, quando você estiver pronto eu uso a minha bandeira junto — sorriu.
— Chan! Vem ver a caixa, por favor! — Taeyang gritou.
A beta o olhou, um pouco assustada.
— Não conheço esse menino, mas ok, eu vou lá — riu, correndo até eles. — Gente, pelo amor de Deus, cadê o cabo?
— Deve tá no quartinho da bagunça — Joshua avisou.
— Vamos lá pegar — Soonyoung disse, puxando Chan pela mão.
— Te acalma, guri, vai tirar o pai da forca? — reclamou a beta, segurando a saia plissada xadrez quando subiu as escadas atrás do alfa.
— Essa garota é linda, qual é a dela? — Taeyang falou, espichando o pescoço para olhar a mais nova subindo as escadas.
— É um garoto — Jisoo disse.
Taeyang juntou as sobrancelhas numa careta deveras engraçada de confusão, o que levou os demais presentes a darem risada.
— Como assim? Óbvio que é uma menina, velho! — argumentou.
— Biologicamente — Jihoon começou. — É uma pessoa do sexo masculino.
— É trans, então? — Chinsun perguntou.
— Não exatamente… — Jihoon falou.
— LEE CHAN, PUTA QUE PARIU! — todos deram um pulo no lugar após ouvir a voz de Soonyoung, e logo a mais nova descia as escadas rapidamente.
— O que aconteceu? — Joshua perguntou.
— Eu só derrubei um porta-retrato, Soonyoung oppa que é exagerado — resmungou ela, cruzando os braços.
— Volta aqui pra me ajudar! — o alfa gritou do andar de cima.
Chan revirou os olhos, virando-se para voltar.
— Espera aí — Taeyang disse. — É Chan, certo? Você é um garoto ou uma garota?
— Sou — respondeu rápido, tentando subir as escadas, mas seu braço foi segurado por Jisoo.
— Calma, garoto — riu o Hong. — Explica pra eles seu gênero, sei lá…
— Ah, claro — ela sorriu. — Minha identidade de gênero é até simples, basicamente: não importa como você se identifica, se você é atraído por mim, você é gay.
Jihoon cobriu a boca para esconder um riso que escapou após a declaração da mais nova, que já havia subido as escadas correndo novamente para ajudar Soonyoung.
— Vocês vão adorar ela também — Jeonghan falou.
[...]
Depois que os demais convidados chegaram, eles começaram a dançar e aproveitar a festa. Não havia muitas pessoas, apenas seus amigos, o grupinho de Joshua da antiga escola e alguns conhecidos convidados por Soonyoung.
Algumas poucas pessoas dançavam na pista improvisada de dança, outras estavam conversando ou jogando pelos cantos, todos pareciam estar aproveitando a festa, sentindo-se ainda mais animados pelo ano estar chegando ao fim.
Mais afastado, em um cantinho da casa, Jeonghan estava parado, observando Jisoo conversando com seus amigos, o alfa estava com uma expressão que falhava em esconder seu semblante emburrado por estar se sentindo deixado de lado por seu soulmate. Joshua conversava e ria com Nayeon e seus outros amigos, Dahyun, Chaeyoung e Taehyung, que também estava de aniversário.
— Amor, o que você tá fazendo? A gente vai jogar “eu nunca” — Seungcheol perguntou, aproximando-se do alfa e o abraçando.
— Eu tô triste que o Jisoo me deixou de lado — cruzou os braços de maneira infantil.
— Ele tá bem ali, é só ir falar com ele se você quer tanto — respondeu o Choi.
— Ah, mas ele está com os outros amigos dele e parece feliz — fez bico.
— Então, vem jogar comigo — puxou a mão dele. — Até parece que seu namorado é ele.
Jeonghan riu baixo, abraçando o ômega pela cintura e o puxando para perto de si.
— Você está com ciúmes, amor? — perguntou risonho.
— Não fode, vai, Jeonghan — resmungou o mais velho, afastando o rosto quando o alfa tentou lhe beijar. — Vai querer jogar com a gente ou não?
— Tá bem, vamos — segurou a mão dele.
Em outro cômodo, Soonyoung, Jihoon, Chan, Seokmin, Junghwa, Chinsun e Jihyo esperavam Seungcheol voltar para dar início ao jogo. Duas garrafas cheias de vodka e alguns copos de shots estavam prontos para serem esvaziados.
— Finalmente! Vamos começar? — Soonyoung perguntou, abrindo as garrafas e enchendo alguns copos.
— Vamos. Quem começa?
— Eu começo — Chinsun disse, pensando por um momento. — Eu nunca… tentei convencer uma amiga a largar o namorado.
Todos pensaram por um tempo e, no final, Junghwa, Jihyo e Chan entornaram os shots.
— Já começa assim, é? — a Jung perguntou, fazendo careta pela queimação descendo sua garganta.
— Começou de boa — Jeonghan falou. — Minha vez. Eu nunca passei o número errado pra alguém de propósito.
— Nunca? — Jihyo reclamou, virando a dose em seguida.
Jihoon, Junghwa, Seokmin e Chan também beberam.
— No máximo eu falava que não ia passar — argumentou o Yoon.
— É, eu também, falo tipo: não tô afim — Chinsun disse.
— Eu passo o número certo e depois falo que passaram errado — Soonyoung contou, fazendo os demais rirem.
— Stonks — disse Chan, enchendo os copos novamente.
— Amor, você é meio estranho — Jihoon falou, mexendo nos cabelos da nuca do namorado.
Em resposta, ele fez um bico emburrado e balançou os ombros como criança.
— Quem faz agora?
— Pode ser eu — Jihoon disse. — Eu nunca… quis ficar com outra pessoa que não fosse meu namorado depois de estar namorando com ele.
— Que mentira! — Soonyoung exclamou.
— Como assim mentira!? — o baixinho indagou, juntando as sobrancelhas em confusão.
— Preciso relembrar que você disse que ficaria com o Chan se a gente não namorasse? — acusou.
Chan acabou por cuspir metade do shot que tomava ao rir alto, surpresa pela revelação. Os outros presentes também riam e faziam suas próprias brincadeiras sobre a pequena discussão do casal.
Junghwa e Jeonghan viraram suas próprias bebidas antes de entrarem na rodinha de especulações sobre quem estava falando a verdade.
— Não, pera aí! — Jihoon falou, erguendo os indicadores, tentando se explicar em meio a confusão. — Eu falei que se eu estivesse mais bêbado e a gente não namorasse, eu até tentaria porque ele tava muito bonita naquela noite.
— Hum — Chan cruzou os braços. — Não sei se levo isso como elogio ou ofensa. Por que as pessoas só querem me beijar quando estão bêbadas?
— Own, tadinho, não fica assim — Jihyo disse, abraçando a mais nova e beijando seu rosto. — Quando o jogo acabar e eu estiver bêbada, eu te beijo.
— Boo, you whore — respondeu, rindo junto da Park enquanto tentava afastá-la sem sucesso.
— Tá, mas enfim, Jihoon bebe ou não? — Seungcheol perguntou.
— Não! — defendeu-se.
— Sim! — Soonyoung exclamou, pegando o copo e já levando até os lábios do namorado.
— Ah, é assim que vai ser? — reclamou o ômega após entornar a bebida.
— É! — respondeu o Kwon, segurando o rosto do namorado e lhe dando alguns selinhos.
— Você me paga — ameaçou Jihoon, empurrando o mais velho para longe de si.
— Tá, quem é o próximo? — Junghwa perguntou.
— Pode ser eu — Soonyoung ergueu a mão. — Eu nunca… — fechou os olhos, tentando pensar em alguma coisa. — Ai, tô sem ideia. Eu nunca… menstruei, sei lá.
— Não, isso não vale! — Jihyo exclamou.
— Claro que vale! — Soonyoung argumentou.
— Então, tá! Então, eu nunca gozei porra! — a alfa exclamou em tom indignado.
Todos ficaram em silêncio por alguns segundos até explodirem em risadas. Jihyo, Chinsun e Junghwa viraram os copos pela jogada de Soonyoung, enquanto os demais beberam pela jogada da Park.
— Pelo amor de Deus, vocês não sabem brincar — Seungcheol falou. — Minha vez. Eu nunca desmaiei.
— Uuh, sem graça — Chan falou, bebendo um shot.
Seungcheol o olhou sério e ameaçou ir até ele, fazendo-o se afastar rapidamente pedindo desculpas.
— Dramático — murmurou o mais velho. — De quem é a vez?
— Eu — Seokmin falou. — Não quero saber de choro. Eu nunca namorei.
— Filho da puta — Jihoon reclamou, virando o shot. — Eu vou ficar bêbado só com esse jogo.
— Você que me pediu em namoro ainda — apontou o alfa.
— Namoro de duas semanas conta? — Chan perguntou.
— Seu namoro só durou duas semanas? — Jihyo perguntou, colocando as mãos na cintura.
— Eu era muita areia pro carrinho de mão dela, só isso — deu de ombros, escolhendo por virar também, ouvindo de seus amigos murmurando "ui's" prolongados. — Minha vez. Eu nunca mandei nudes, nem semi nude.
— Transou até comigo e não enviou nem uma foto da teta? — Jihyo contestou, nem reclamando quando encheram seu copo novamente.
— Claro que não, unnie! Eu sou menor de idade, o código penal ainda existe, né?
— Vocês transaram? — Soonyoung perguntou após virar sua dose.
— Uma vez — Jihyo deu de ombros.
— Coisa boba — completou a beta, esvaziando seu copo. — Junghwa, sua vez.
— Hum… eu nunca beijei um homem.
— Eu também nunca! — Seokmin exclamou animado, trocando um hi-5 com a amiga.
— Ah, mas é muito sem graça — Jeonghan reclamou, virando o shot logo em seguida. — Isso é literalmente homofobia!
— Minha vez, então! — Chinsun disse. — Eu nunca beijei uma mulher!
— Boa, Sun! — Seungcheol exclamou, entregando o copo já cheio para Seokmin.
— Não sabem o que é bom — Junghwa falou, virando dois copos só de raiva. — Próximo.
Soonyoung, Jihoon, Jeonghan, Jihyo e Chan beberam também.
— Péssima hora pra ser bi — reclamou a mais nova. — Próximo.
— Eu nunca… — Jeonghan começou. — Me senti desconfortável com meu gênero.
— Literalmente transfobia! — Seokmin gritou, pegando dois copos, um fora tirado de sua mão por Jihyo, que virou também.
— Vocês estão fazendo umas perguntas muito específicas — reclamou Chan.
— Eu vou fazer agora! — Jihoon exclamou, enchendo o copo. — Eu nunca fiquei bêbado e me declarei cantando pra pessoa que eu gostava!
— EITA! — Jeonghan gritou, enchendo mais um copo e entregando para Soonyoung, enquanto os outros gargalhavam.
— Isso foi golpe baixo! — o Kwon reclamou, pegando um dos shots e virando. — Eu retiro toda declaração, você tá sem nada agora! — disse em um tom falso irritado, brigando com o namorado que também ria.
— É só por causa do jogo — Jihoon tentou defender-se, segurando o rosto do namorado e lhe dando alguns selinhos, mesmo que o mais velho continuasse tagarelando como birra.
— Ninguém mais fez isso? — Chinsun perguntou.
— Claro que não, ninguém mais é tão sem noção — Chan disse, tendo que se esconder atrás de Jeonghan quando Soonyoung foi em sua direção tentando lhe bater. — Ah, desculpa!
— Você fica muito soltinha quando bebe — Jihyo apontou, puxando a mais nova para “lhe proteger”.
— Vamos fazer a última rodada e encerrar, senão todo mundo entra em coma alcoólico — Jeonghan comentou. — Vamos rápido, qualquer coisa que vier na cabeça.
— Nunca fiquei com mais de três pessoas numa festa — Jihyo falou.
Jeonghan e Soonyoung beberam.
— Nunca fui traído — Seungcheol falou.
Chan e Junghwa beberam após fazerem expressões desgostosas.
— Quero saber dessa fofoca depois, hein — Jihyo disse, apontando para as duas.
— Eu nunca tive uma amizade colorida — Seokmin falou.
Chan bebeu e logo foi sua vez:
— Eu nunca tirei o bv de alguém.
Seungcheol bebeu. Soonyoung até chegou a erguer o copo após olhar para Jihoon, mas ele mesmo o impediu de virar.
— Fazer a última pra todo mundo beber — Junghwa avisou. — Eu nunca dancei.
Todos viraram suas doses e assim o jogo se encerrou.
— Quem quer ir dançar agora? — Chan perguntou.
— Eu quero! — Soonyoung exclamou. — Vamos, amor?
— Agora não, depois eu te encontro — respondeu, dando um selinho no maior.
Soonyoung sorriu, tocando o queixo de Jihoon de forma delicada para beijá-lo mais algumas vezes antes de seguir até a pista de dança improvisada junto de Chan.
Aos poucos o pequeno grupo foi se dissipando, alguns foram dançar, outros começaram outra brincadeira ou apenas conversavam.
Seungcheol, parecendo ter uma ideia, virou-se para Jeonghan.
— Amor, vamos…?
Sua fala, entretanto, foi interrompida quando Joshua chegou no local apressado.
— Hannie, o que você tá fazendo? — o beta perguntou, chegando mais perto e parecendo deveras animado.
— A gente estava jogando — o Yoon contou, entregando uma dose de vodka para o amigo. — Toma, vira.
— Ok — concordou, virando a bebida e fazendo careta em seguida. — Isso é ruim.
Jeonghan riu baixo, apertando a bochecha do outro.
— Você é fraco para bebida — apontou.
— Tanto faz. Meus amigos querem te conhecer, vem — disse Jisoo, segurando a mão do alfa e o puxando.
— Espera aí, como assim? — Jeonghan franziu o cenho.
— É, como assim? — Seungcheol perguntou, intrometendo-se na conversa.
— Eles só querem saber quem é minha alma gêmea — explicou o Hong, ainda tentando puxar o outro. — Já devolvo ele pra você, Cheol.
Jeonghan riu baixo, segurando a mão de seu soulmate e virando-se para o namorado.
— Já volto, tá? — lhe deu um selinho.
— Tá — respondeu seco, virando-se para pegar mais um copo.
— Valeu! — Jisoo sorriu, levando Jeonghan dali de maneira animada.
Seungcheol revirou os olhos com força tão logo os dois saíram correndo dali. Enchendo mais alguns shots, ele virou-os em seguida, não se importando com a queimação em sua garganta.
— Uou! Uou! — Jihoon exclamou, tentando impedir o mais velho de terminar a bebedeira. — Vai com calma, hyung. O que te deu?
— Eu tô irritado, se não deu pra perceber — disse, soando mais ríspido do que ele esperava.
Quando viu a expressão meio sem graça de Jihoon, sentiu uma pontada de arrependimento.
— Me desculpa, Jih. Eu não tô irritado com você — falou mais manso, abraçando o baixinho. — Tô irritado com o idiota do meu namorado.
— Tá tudo bem, não tem problema — murmurou, retribuindo o abraço, dando tapinhas de conforto nas costas do Choi. — Quer ir lá no pátio? A gente pode conversar.
O ômega mais velho concordou, sendo levado para o quintal da casa, onde não havia ninguém.
O local era bastante espaçoso, com uma piscina grande, cadeiras para tomar sol, algumas flores bem cuidadas e mesas postas para ficarem à sombra de algumas árvores, em uma das quais havia um velho balanço pendurado.
— Esse lugar é enorme, não sabia que o Soonyoung era secretamente rico — Seungcheol respondeu, olhando ao redor parecendo até mesmo maravilhado.
Jihoon não tinha uma religião ou crença, mas se acreditasse, ele poderia dizer que aquela era a primeira vida de Choi Seungcheol.
— Ele não é, os tios deles recebem bem só — explicou Jihoon, também observando o local. Não teve muitas chances de conhecer a casa do namorado, afinal.
— O que eles fazem? Vendem drogas? — brincou o mais velho, andando até o balanço e sentando-se ali com cautela.
— Não — o mais novo riu. — Eles são médicos.
— Ah, isso é mais legal — sorriu, embalando-se com cuidado.
— Sim — respondeu, sentando-se perto da piscina.
Seungcheol pareceu ter se distraído enquanto brincava no balanço, rindo sozinho pelo álcool que começava a subir a sua cabeça.
Jihoon apenas o observava em silêncio, esperando que o galho da árvore velha não quebrasse.
— Sai daí, hyung, daqui a pouco você cai — pediu o baixinho.
Seungcheol tomou impulso mais algumas vezes, para então saltar do brinquedo. Ainda rindo divertido, ele sentou-se ao lado de Jihoon.
— Passou a irritação? — o baixinho perguntou.
— Não — resmungou, cruzando os braços. — Eu amo Jeonghan, mas ele anda tirando minha paciência com essa história de alma gêmea.
— Ainda? Eu pensei que a fase lua de mel deles já tinha passado — comentou.
— É como se eles se encontrassem pela primeira vez todos os dias — revirou os olhos. — Eu sei que parece meio escroto mas… Sei lá, eu não quero me sentir assim, mas Jeonghan é meu namorado. É errado eu sentir ciúmes do meu namorado?
— Não, eu acho que não.
— Mesmo que eu esteja com ciúmes dele com o melhor amigo, com a alma gêmea dele, que é hétero ainda por cima, então tipo, não tem nenhuma chance de acontecer algo entre eles? — virou para Jihoon.
— Não é errado ter sentimentos, hyung. Mesmo que às vezes pareça não ter fundamento, a gente não controla como nos sentimos — disse calmo.
Seungcheol suspirou.
— Eu não gosto de me sentir assim, eu quero ficar feliz pelo Han, porque eu já percebi o quanto Jisoo-ah faz bem pra ele. Eu não sei como é ter uma alma gêmea, não sei como é encontrar a outra metade de mim e esses bagulhos… Então eu só imagino como Jeonghan se sente, como deve ser incrível, principalmente porque eles têm muitas coisas em comum, chega a ser ridícula a forma que eles se entendem só de olhar um pro outro — riu baixo, balançando seus pés de maneira distraída. — E eu não sei o que é isso, o mais perto que eu cheguei de me sentir assim foi quando eu conheci o Jeonghan. Mesmo que a gente seja diferente em muitas coisas, ele me entende e faz eu me sentir seguro. Agora é só… — suspirou, sentindo um nó se formando em sua garganta, assim como lágrimas nascendo em seus olhos. — Eu me preocupo que, se ele não se sente mais dessa forma comigo, talvez chegue uma hora que ele não queira mais estar comigo.
Jihoon ouviu todo o desabafo de Seungcheol em silêncio, tentando achar as palavras certas para responder aquela confissão.
— Isso não vai acontecer, hyung — assegurou, chegando mais perto do Choi e o abraçando novamente. — Jeonghan hyung te ama muito. Acredite, eu já perdi as contas de quantas mensagens eu recebi dele dizendo: "eu não tenho que ouvir isso quando meu namorado é o garoto mais adorável do mundo".
Seungcheol riu baixo em meio às lágrimas silenciosas, apertando mais o menor no abraço.
— Ele tá empolgado por ter encontrado o Jisoo hyung, mas isso não faz ele te amar menos. Ele ainda é doido por você, eu garanto — secou as lágrimas do amigo. — Acho que você só não se acostumou a ele ter alguém tão especial na vida dele, sabe? Mas isso não precisa ser uma coisa ruim, você não precisa ser, tipo… deixado de lado. Você pode tentar conhecer mais o Shua hyung. Você não precisa ser o melhor amigo dele, mas só estar perto, sair os três juntos e também não vocês como um casal e ele como um amigo, mas os três como amigos.
— É um bom conselho, Jih — murmurou o Choi, secando seu rosto. — Mas eu não sei se consigo. Eu gosto do Jisoo, ele é legal e divertido, mas eu ainda tenho ciúmes dele com meu namorado.
— Você já tentou falar com ele sobre isso?
— Eu não! Ele vai achar que eu sou um surtado tóxico que não merece o Jeonghan — negou, cruzando os braços e virando o rosto.
Jihoon não conseguiu conter uma risada.
— Não acho que ele vá pensar isso. Só tenta abrir seu coração, você vai ver que o Shua hyung vai entender e vai ver também que ele não sente nada pelo Jeonghan hyung.
Seungcheol suspirou, ficando em silêncio por alguns segundos.
— Eu posso tentar.
— Isso aí — o mais novo sorriu. — Vai dar tudo certo.
— Espero que sim — murmurou o Choi, abraçando o baixinho. — Você é tipo nosso Mestre dos Magos, né? Pequeno e sábio.
— Isso é um elogio ou uma ofensa? — ergueu uma sobrancelha.
— É um elogio — riu. — Você é muito fofo, também.
Seungcheol apertou Jihoon mais forte em seus braços, beijando seu rosto diversas vezes. As risadas de ambos preencheram o ambiente, conforme o menor tentava afastar o outro.
— Jihoon-ah! — eles ouviram a voz de Soonyoung. — Ah, desculpa, eu não sabia que vocês estavam…
— Não foi nada, pode chegar — Seungcheol falou, levantando-se em seguida. — Eu vou entrar. Até mais, meninos.
— Até — o alfa murmurou, abrindo espaço para o mais velho entrar na casa novamente.
Jihoon sorriu, observando o namorado aproximando-se de si devagar, olhando ao redor como se não quisesse nada.
— Vem aqui — pediu o ômega, chamando-o para mais perto.
Parecendo mais surpreso do que deveria, Soonyoung fez o que foi pedido e sentou-se ao lado de Jihoon.
— Hum… Jihoon-ah, você… — começou, com um tom um tanto nervoso.
Preocupando-se, o mais novo encarou-o esperando que ele terminasse.
— Você namora o Seungcheol hyung? — Soonyoung perguntou.
Jihoon juntou as sobrancelhas em uma expressão completamente genuína de confusão. Não estava entendendo mais nada.
— Não, ele namora o Jeonghan. A gente é só amigo.
— Ah, sim — murmurou, erguendo os olhos para o céu. — Então… você não namora ninguém?
— É claro que eu namoro, seu maluco!
— Sério? — virou para Jihoon, seus olhos estavam cheios de lágrimas. — Q-Quer dizer… faz sentido você namorar, porque você é lindo e tals… Quem é seu namorado? Ele é legal?
O ômega então cobriu a boca ao rir alto, tentando se conter ao perceber que Soonyoung estava bêbado e, aparentemente, sem memória alguma.
— É o namorado mais legal do mundo — respondeu assim que conseguiu controlar seu riso.
— Você não quer namorar comigo ao invés disso? — ele choramingou, chegando mais perto. Logo, desesperou-se: — Desculpa! Não é legal eu perguntar isso! Desculpa!
Jihoon riu mais uma vez, então segurou o rosto do maior e beijou-o. Soonyoung arregalou os olhos, tão chocado que nem conseguiu ter reação.
— M-Mas… — ele disse, afastando o ômega de si. — Jihoon-ah, seu namorado vai me bater!
— Você é meu namorado, Soonyoung! — exclamou, abraçando-o e beijando seu rosto. — O quanto você bebeu pra esquecer isso!?
— Sério? Eu sou seu namorado? — sorriu, retribuindo o abraço do baixinho.
— Sim, você é meu namorado — disse, chegando mais perto até conseguir sentar no colo do maior. — Faz mais de um mês, na verdade.
— Meu Deus, que incrível! — abraçou-o mais apertado. — E a gente já se beijou?
— A gente se beijou antes de namorar, na verdade — contou, acariciando o rosto dele. — Você não vai mais beber hoje, tudo bem?
— Por que não? — fez bico.
— Porque você até esqueceu que a gente namora! — apontou risonho. — Nada mais de álcool pra você.
— Eu posso beijar você, então? Já que eu não posso beber — puxou-o para mais perto, apalpando sua cintura.
Jihoon sorriu, segurando o rosto do alfa entre suas mãos e olhando apaixonado cada detalhezinho.
— Eu amo você — falou baixo, selando seus lábios em seguida.
Dentro da casa, a festa continuava do mesmo modo. Pessoas dançavam, conversavam, riam, jogavam e se divertiam.
No mesmo canto de antes, Joshua estava com seus amigos, contando animado sobre como conheceu Jeonghan. As doses que ele bebeu já estavam fazendo certo efeito, pois ele estava rindo com facilidade, falando alto e fazendo brincadeiras.
— Não lembro de já ter te visto assim algum dia, Jisoo-ah — Dahyun, uma das amigas do beta da antiga escola, comentou. — Eu estou amando essa nova versão sua.
— Ele renasceu tal qual uma fênix! — Nayeon exclamou. — A única coisa que eu não gostei é que você me trocou por esse daí — ela disse, fazendo uma falsa expressão presunçosa e apontando para Jeonghan. — Vocês tão vendo, né? Nos trocando por macho, se acostumem…
— Cala a boca, Nayeon — Joshua mandou, puxando a amiga e cobrindo sua boca. — Você ainda é minha melhor amiga.
— Quero ver se isso vai continuar quando você começar a namorar — disse a ômega, apertando o maior com sua pouca força.
— Não vou namorar tão cedo — negou ele.
— Só porque você não quer, tem várias pessoas aí perguntando de você — apontou Jeonghan.
— Só que eu não quero namorar esses caras, eu não gosto deles — negou, tomando alguns goles da bebida que lhe foi oferecida.
— E de quem você gosta? — Dahyun perguntou.
— Ninguém.
— Ei, que mentira — Taehyung riu. — Você tá vermelho, é óbvio que tá mentindo.
— Eu bebi uma garrafa inteira de vodka, Tae, é óbvio que eu vou tá vermelho!
— Ah, não vem com essa, eu te conheço — disse o alfa. — Você sempre fica corado quando mente.
— Foda-se, eu não vou falar nada pra vocês — deu de ombros.
— Então tem alguém! — Jeonghan exclamou, apontando para o amigo que virava mais uma dose.
Jisoo aproximou-se, tocando o rosto do amigo e sussurrando em seu ouvido:
— Você nunca vai saber — riu baixo quando o alfa beliscou seu braço.
— É esse o melhor amigo que você quer, Nayeon? — perguntou o Yoon.
A ômega riu, jogando os cabelos longos para trás e abraçando Jisoo em seguida.
— Eu consigo suportar ele — respondeu. — Pra mim, sempre vai ser eu e ele.
— Own, que fofos — Dahyun riu.
— Vocês dariam um casal muito fofo — Jeonghan comentou.
Joshua e Nayeon, então, olharam-se por alguns segundos antes de começarem a gargalhar alto, quase chorando de tanto fazê-lo.
— Por que não, né? Os dois são gays — o beta respondeu, tão naturalmente que não causou nenhum grande estranhamento nos demais.
— Sim, mas em direções opostas — disse ela, rindo enquanto gesticulava com as mãos.
— Ah, é verdade — riu, escondendo o rosto no ombro da menor.
— Você quer dançar? Eu sei que você gosta dessa música — Nayeon perguntou, quando a música animada acabou, dando início a outra.
— Hum… não sei — resmungou.
— A gente vai — Dahyun disse, segurando Taehyung pela mão e correndo até a pista de dança.
— Esses dois não conseguem parar quietos — murmurou Jisoo.
Nayeon apenas deu de ombros, voltando seu olhar para o amigo novamente.
— Hannie — Seungcheol chamou, chegando perto deles com um sorriso bobo nos lábios. — O que você tá fazendo?
— Eu tava conversando, amor — respondeu, rodeando o ômega com seus braços quando ele se jogou contra si, abraçando seu pescoço e beijando seu rosto.
Jisoo e Nayeon olharam-se. A ômega fez uma falsa careta como se estivesse vomitando, causando risos baixos no amigo.
— Você pode ficar um pouco comigo agora? — o Choi perguntou, em um tom manhosinho.
Jeonghan sorriu, segurando o rosto do namorado e lhe dando alguns selinhos de forma apaixonada.
— Todo tempo do mundo pra você, meu amor — respondeu, trazendo-o para mais perto de si, selando seus lábios em um beijo lento.
— Pronto, ficamos de vela — murmurou Nayeon. — Vamos dançar agora?
Joshua não respondeu. A mais velha olhou-o, confusa.
— Jisoo? — estalou os dedos na frente dele.
— Hum? Ah, sim, vamos — sorriu, segurando a mão da amiga e a levando para outro lugar.
— Tá tudo bem? — ela perguntou.
— Sim, vamos nos divertir — puxou-a para a pista de dança. — Eu sei que você adora essa música.
— Fala sério, quem não adora MIDZY? — exclamou, começando a dançar de forma animada.
Joshua sorriu para a amiga, tentando se soltar e dançar junto dela, conforme o som alto abafava o som de seus pensamentos e a visão de várias rindo e se divertindo deixava-o cego para outras coisas que pudessem lhe deixar para baixo.
Algumas outras pessoas passavam pela pista, levando alguns shots para os convidados, e sempre que os via, Nayeon pegava dois copos, virando junto de Jisoo. O álcool já fazia bastante efeito neles e parecia que nada mais importava naquele momento.
O tempo foi passando, assim como as músicas e as pessoas. Em dado momento, quando outra música começou, eles puderam ouvir a voz de Soonyoung chamando pelo primo no meio da multidão.
— Shua hyung! Shua hyung! — ele gritava, olhando para todos os lados. — É nossa música! Vem cantar comigo!
Joshua sorriu, se espremendo entre as pessoas para que pudesse chegar até o alfa, encontrando-o no meio da pista.
Soonyoung o abraçou apertado, sem ter um motivo para isso, apenas o fez. Quando afastaram-se, começaram a cantar alto, quase sobressaindo o som alto:
They think that we're no one
(Eles acham que nós não somos ninguém)
We're nothing, not sorry
(Que não somos nada, sem desculpas)
They push us
(Eles nos forçam)
It’s too late, it’s too late
(É tarde demais, é tarde demais)
Not going back
(Sem volta)
They think we are made up
(Eles acham que nós somos feitos)
Of all of our failures
(De todos os nossos erros)
They think we are foolish
(Eles acham que somos tolos)
And that’s how the story goes
(E é assim que a história continua)
Um pouco mais afastado, sentado no balcão da cozinha que tinha uma visão para a sala, Jihoon observava o namorado e Jisoo cantando e dançando de forma animada. Eles pareciam totalmente absortos na música e no que ela dizia, nem poderia imaginar o quanto ela significava para eles.
— Eles estão com tudo — Lee Chan comentou, sentando-se ao seu lado.
— Eu percebi — riu baixo, chegando mais perto dela. — Quando eu vejo ele assim, eu lembro porque me apaixonei por ele.
Now covered in madness
(Agora, cobertos de loucura)
But they just can’t hurt us
(Mas eles não podem nos machucar)
They tell us were nothing
(Eles dizem que não era nada)
Keep walking and let it go
(Continue andando, e deixe pra lá)
They are the weakest
(Eles são os mais fracos)
And don’t even know
(E nem sequer sabem)
Anything they say
(Que o que eles dizem)
Will never break our hearts of gold
(Nunca quebrará nossos corações de ouro)
Chan observou ambos também.
— Acho que entendo — sorriu pequeno. — Soonyoung hyung grita liberdade, e Shua hyung grita por liberdade. É bonito que eles se encontraram em algum momento.
Jihoon franziu levemente as sobrancelhas, olhando para a mais nova.
— Você tá bêbada?
Ela riu, cobrindo o rosto e jogando a cabeça para trás.
— Só um pouquinho — aproximou o indicador e o polegar. — É uma noite feliz, me deixa.
O ômega riu, bagunçando os cabelos dela.
— Ei, caralho, não me desarruma — reclamou, devolvendo o gesto e mexendo nos cabelos do menor.
Jihoon riu, tentando segurar suas mãos. Chan riu também, apoiando-se no amigo, enquanto Soonyoung e Joshua cantavam a plenos pulmões entre a pequena multidão de pessoas dançando.
So never tell yourself
(Então nunca diga a si mesmo)
You should be someone else
(Que você deveria ser outra pessoa)
Stand up tall and say
(Erga a cabeça e diga)
I’m not afraid
(Eu não tenho medo)
Algumas horas depois, perto das quatro da manhã, a maioria dos convidados havia ido embora, mesmo assim, a casa continuava bastante cheia com os amigos.
Soonyoung, Nayeon, Chan, Taehyung, Dahyun, Junghwa, Seokmin, Momo, Seungkwan e Taeyang continuavam na pista, dançando e cantando qualquer música que tocasse.
Jihoon, Jisoo, Chinsun, Jeonghan, Seungcheol, Sana, Jihyo, Wonwoo, Mingyu e Vernon estavam sentados em uma roda um pouco mais afastados, jogando um jogo de cartas que Sana havia levado.
— Ok, próxima carta: — Jihyo disse, após pegar uma do bolo. — "Todo grupo de amigos tem aquele que se veste muito mal. Em nosso grupo é…" Vamos lá. 1, 2, 3, e…!
Ao final da contagem, todos apontaram para quem eles achavam que se encaixava melhor no que foi dito.
A maioria escolheu Hansol. Eles bateram palmas e gritaram comemorações, parabenizando o amigo por ter "ganho" aquela rodada.
O alfa fez uma careta de descontentamento quando a carta lhe foi entregue, somando junto de outras duas em sua mão.
— O pior é que ele não está tão mal hoje — comentou Jihyo.
— Claro, foi o Seungkwan que escolheu a roupa dele — Seungcheol apontou, rindo baixo quando o americano lhe mostrou o dedo do meio. — Eu menti?
— Não — disse Hansol, fazendo seus amigos rirem.
— Por que vocês estão rindo do meu namorado? — Seungkwan perguntou, aproximando-se deles e abraçando o Chwe por trás, beijando seu pescoço.
— Ai, faz cócegas — reclamou o alfa, segurando as mãos do namorado e o puxando para sentar em seu colo.
— Você não reclama quando eu beijo seu pescoço em outros momentos — sussurrou no ouvido dele, mordendo seu lóbulo em seguida.
— Você já bebeu muito, Kwannie — falou Vernon, ajeitando as pernas do menor e o deixando confortável.
— Pelo amor de Deus, vão pra algum quarto — Chinsun provocou.
— Ele só tá num estado bem avançado de embriaguez — explicou Hansol, tentando afastar o seu rosto de Seungkwan, que continuava brincando com sua pele. — Depois de umas seis doses, ele fica mais safado que o normal.
— Para de falar mal de mim — resmungou o Boo, abraçando-o pela cintura.
Hansol riu, dando um selinho no namorado.
— Eu tô quase ganhando o jogo, olha — falou, mostrando as cartas e tentando desviar a atenção de Seungkwan.
— Ele só esqueceu que, se você ganha, você é coroado como o amigo de merda — apontou Jihoon, abanando-se com sua única carta.
— Que jogo horrível! — exclamou Seungkwan, deitando a cabeça no ombro do namorado.
— Vamos continuar, anda — Mingyu disse, pegando a carta e lendo em seguida. — “Quem seria mais provável de ficar com alguém comprometido?” 1, 2, 3, e… vai!
A maioria apontou para Jihyo. Seungcheol apontou para Jisoo, e Jihyo apontou para Jihoon.
— Por que eu, caralho? — quis saber o baixinho, pegando a carta e entregando para a alfa, que ria.
— Porque Soonyoung falou que você ficaria com a Chan.
— É diferente, isso quer dizer que eu talvez colocasse chifre no meu namorado, o que nunca aconteceu, não que eu ficaria com alguém que já tem namorado — justificou-se, cruzando os braços emburrado enquanto a Park continuava rindo.
— Acho que todo mundo já bebeu o suficiente — Jeonghan falou, pegando as garrafas e os copos e deixando-os um pouco afastados. — Jihyo tá quase ganhando o jogo.
— Eu só tô com duas, o Vernon ainda tem mais do que eu — mostrou ela.
— Eu leio a próxima — Wonwoo falou, se esticando para pegar uma carta. — “Você tem que socar a cara de um de nós. Quem você escolhe?”
Todos riram antes de responder.
— 1, 2, 3, e…!
A maioria apontou para Jeonghan.
— Tá, mas, por que eu? — quis saber.
— Ah, a madame vai se fazer de desentendida agora? — Jihoon ironizou, colocando as mãos na cintura. — A cada dois segundos você tá incomodando uma pessoa diferente.
— Vocês que são uns frescos — reclamou o Yoon, pegando a carta, que era sua primeira.
— Eu quero fazer um adendo que faz umas três rodadas que o Seungcheol aponta só pra mim — falou Joshua, rindo de maneira um tanto nervosa.
— Você se encaixou nas coisas — o mais velho deu de ombros, rindo também. — Nessa última eu escolhi você porque eu não posso socar meu namorado, mas já que vocês são almas gêmeas, um soco em você, conta como um soco nele.
— Meu Deus, claro que não! — o Hong riu, afastando-se um pouco de Seungcheol, que riu novamente. — Segura seu namorado, Jeonghan.
O alfa riu, puxando o Choi para si e beijando seu rosto.
— Vamos, lá. Quem lê a próxima?
— Eu leio — Jihoon pegou uma carta. — Meu Deus, que cartas são essas — murmurou após ler.
— Essa é rosa, é das perguntas sacanas — explicou Sana aos risos.
— Aff, tá em allosexual! — exclamou Chan, ao passar por eles, voltando para a pista em seguida.
— “Quem jamais participaria de uma orgia?” — o ômega leu, fazendo, outra vez, as pessoas rirem. — Vamos. 1, 2, 3, e…
A maioria apontou para Jihoon. Jihoon apontou para Jisoo.
— Queria apontar pra mim, mas não posso — justificou o ômega. — Mas ainda acho que Shua hyung não participaria.
— Do que? — Soonyoung perguntou, sentando-se ao lado do namorado.
Ele estava ofegante pelo tempo que ficou dançando.
— Como você tá? O álcool já baixou? — Jihoon perguntou, acariciando o rosto dele com a ponta dos dedos.
— Uhum, já lembro de nós — riu, dando um selinho no menor. — O que estão jogando?
— “Amigos de Merda”. A Sana trouxe pra nós jogarmos — explicou Jihyo. — A gente votou e o Jihoon é o amigo que nunca participaria de uma orgia.
Soonyoung riu, claramente sem entender o jogo.
— Eu votei no Shua hyung — disse o baixinho.
— Mas ele de santo só tem a cara, não se enganem — o Kwon acusou.
— Eita! — alguns exclamaram.
— Cala a boca, Soonyoung! Eu sou um garoto puro!
— Isso só vai durar até um homem enfiar a língua na sua boca — apontou.
— Pelo amor de Deus, fica quieto! — pediu, apesar de ainda rir.
— Vamos logo, tenho que ir pra casa — Mingyu resmungou.
— Ok, minha vez — Joshua falou, pegando uma carta. — Essa é muito madura. "Quem peidou?"
Mais risos.
— 1, 2, 3, e…!
Jihoon, Jisoo, Seungcheol e Wonwoo apontaram para Jeonghan. Ele apontou para o Choi. Jihyo apontou para Sana, que apontou para Jihyo de volta. Vernon apontou para Mingyu que apontou para Wonwoo. Chinsun apontou para Jihoon.
— Jeonghan ganhou de novo! — Joshua exclamou, entregando a carta para o amigo.
— Mas vocês me odeiam, não é possível — reclamou ele, pegando a carta com raiva.
— Até parece que quando a gente tá junto você não fala: "ai, gente, desculpa mas eu vou peidar" — acusou Wonwoo.
— Verdade! — Jisoo apoiou. — E às vezes ele fala, fica um silêncio e depois diz: não consegui, meu cu ficou com vergonha.
— Meu Deus, sim! — Seungcheol concordou, rindo alto e aproximando-se do beta e batendo suas mãos em um hi-5 duplo. — Agora, comigo, ele não tem mais vergonha, nem avisa mais.
— Claro, dois anos de namoro, já! — justificou Jeonghan. — E tô de olho em vocês dois se juntando contra mim, hein!
— Own, tadinho — o Choi falou, chegando mais perto do namorando e beijando seu rosto.
Antes que pudessem dar continuidade ao jogo, Taehyung, Dahyun, Momo e Junghwa se aproximaram da rodinha.
— Jisoo-ah, nós estamos indo, tá? — Taehyung falou. — Tá tarde e amanhã ainda é ano novo.
— Claro, eu levo vocês até a porta — o beta disse, ficando de pé prontamente.
Acompanhou os amigos até a saída, agradecendo inúmeras vezes pela presença deles e desejando feliz ano novo e pedindo que voltassem em segurança para suas casas.
Quando voltou para a roda do jogo, notou que a música estava em um volume mais baixo e que ninguém mais dançava. Os que haviam ficado anteriormente na pista de dança, agora estavam sentados perto para assistir o jogo.
Fizeram mais algumas rodadas e Jeonghan acabou ganhando como o "amigo de merda", e apesar do título, ele pareceu bastante orgulhoso com o resultado. Jeonghan era alguém que sempre conseguia levar as coisas na brincadeira, era leve estar em sua presença.
Com o passar do tempo, mais convidados foram embora, deixando na casa apenas Jisoo, Jeonghan, Seungcheol, Jihoon, Soonyoung, Nayeon, Chan, Taeyang e Chinsun.
Eles recolhiam um pouco da bagunça deixada pela festa, colocando as latas e garrafas vazias em sacos de lixo, enquanto conversavam ou cantavam.
— Acho que essa foi uma das melhores festas do ano — Soonyoung falou, pegando uma garrafa de água na geladeira assim que terminaram de limpar as coisas. — Eu vou ser sócio do Jeonghan hyung e do Seungkwan no serviço de fazer festas.
— Que? — Jisoo soltou, juntando as sobrancelhas.
— Piadas internas — respondeu o alfa.
O beta revirou os olhos, saindo da cozinha para jogar o lixo fora.
— Eu concordo, foi muito boa — Chan falou, balançando seus pés no ar, já que ela estava sentada no balcão da cozinha. — Só tô triste que já é a quinta festa que eu vou e não fico com ninguém.
— Só porque você não quer — Taeyang respondeu, olhando a mais nova.
Chan ergueu as sobrancelhas e olhou-o de cima a baixo.
— E quem vai ficar comigo? Você?
— Por que não?
— Eita, eita, o que tá rolando aqui? — Chinsun perguntou, chegando mais perto deles.
A alfa claramente ainda estava afetada pelo álcool.
— Taeyang tá revendo a heterosexualidade dele! — Soonyoung exclamou, correndo da cozinha quando Taeyang ameaçou lhe bater.
Chan riu baixo e revirou os olhos, negando com a cabeça.
— Ele tá certo, Taeyang, você é hetero, né? — a beta disse.
— E você é uma garota — argumentou ele, chegando mais perto.
— Sou um garoto também.
— Não ligo pra isso — retrucou. — Se eu tô querendo, o que mais importa?
— Esse papo tá ficando estranho, eu vou embora — Chinsun falou, saindo da cozinha em seguida, fechando a porta ao fazê-lo.
Chan riu baixo, balançando a cabeça outra vez. Logo, seu olhar estava em Taeyang novamente, que estava bem próximo de si.
— E aí? Qual vai ser? — ele perguntou, apoiando as mãos ao lado do corpo da mais nova.
— Por mim, de boa — Chan respondeu, dando de ombros. — Fica a seu critério, se não te incomoda que eu…
— Cara, eu passei literalmente a noite inteira na sua volta, tentando puxar assunto e ficar perto de ti, você acha que alguma outra coisa me interessa que não seja te dar uns beijo? — enfatizou, aproximando seus rostos. — Daqui alguns dias eu tô indo embora, então essa é sua última chance.
A beta riu anasalado e revirou os olhos.
— Me beija, então.
Sem esperar por mais nada, Taeyang tocou o rosto de Chan e selou seus lábios.
— Melhor ninguém ir na cozinha — Chinsun falou após chegar na sala onde estavam o restante das pessoas.
— Por que? Cadê o Taeyang? — Jihoon perguntou.
— Ele e Chan, ó: — esfregou os indicadores juntos.
— Por essa eu não esperava — o baixinho disse.
— Nem em um milhão de anos — Soonyoung completou.
— Agora eu tenho que esperar os bonito parar pra poder ir pra casa — a alfa resmungou,sentando no sofá.
— Daqui a pouco, Cheol e eu estamos indo — Jeonghan falou. — Podemos levar vocês.
— Aff, é muito injusto — Jisoo reclamou, cruzando seus braços. — É meu aniversário e eu mal tive tempo pra ficar com você.
Jeonghan riu baixo, jogando-se ao lado de Joshua, abraçando-o apertado e deixando beijos em seu rosto.
— Eu fico só com você até a gente ir embora — sorriu, bagunçando os cabelos do dele.
O beta olhou para Seungcheol discretamente, ele estava apagado no outro sofá da casa, com a cabeça pousada no colo de Nayeon, que mexia de forma distraída em seu celular.
Jisoo sorriu e retribuiu o abraço de Jeonghan, escondendo o rosto no pescoço do alfa, a fim de aspirar a essência dele.
— Seus tios voltam ainda hoje? — Jihoon perguntou, chegando mais perto de Soonyoung.
— Acho que não, por quê?
— Queria ficar com você — falou baixinho, abraçando o namorado e beijando seu rosto.
— Você pode dormir aqui, se quiser — convidou, acariciando a coxa do menor de forma delicada.
— Mesmo? — sorriu.
— Soonyoung, a gente divide o quarto. Eu não quero ouvir vocês transando — interrompeu Jisoo.
— Nem todo mundo é um pervertido igual você que só pensa nisso — retrucou o alfa, apertando mais Jihoon em seus braços.
— Cala a boca — resmungou.
— Eu vou ficar aqui, também, a gente pode dormir na sala — Nayeon sugeriu.
— Gostei da ideia — Jisoo sorriu, erguendo a mão para fazer um hi-5 de longe.
— Então só falta os dois pararem de se comer que a gente tá indo — Chinsun falou, indo até a cozinha novamente e batendo na porta. — Taeyang, vamos embora, outro dia você pode fazer isso.
— Uau, você é muito estraga prazeres — Jihoon falou, choramingando quando a alfa bateu de leve em sua cabeça.
— Você interrompeu o momento mais legal que eu tive desde que cheguei aqui, então é melhor você já estar na porta, pronta pra ir embora — Taeyang falou ao sair da cozinha.
— Até parece que eu tenho medo de você — rebateu ela, limpando a mancha de batom do rosto do primo. — Vamos logo, tô com sono.
O beta revirou os olhos, virando-se para Chan outra vez, que estava na porta da cozinha apenas observando.
— Tchau — falou, deixando um último selinho na mais nova. — Eu te ligo se voltar pra cidade.
— Beleza — sorriu.
— Tchau, gente. Valeu aí e desculpa qualquer coisa.
— Até amanhã — Jihoon falou.
Logo, Chinsun, Taeyang, Jeonghan e Seungcheol foram embora. Chan foi logo em seguida.
— Você e o Jihoon podem dormir no quarto, Nayeon e eu vamos ficar acordados mais um pouco — Jisoo falou assim que fechou a porta.
— Ok. Vamos, amor? — Soonyoung perguntou, cutucando a bochecha do namorado.
Jihoon já estava com bastante sono, seus olhos mal se mantinham abertos.
O alfa sorriu e levantou-se, pegando o outro no colo e logo subiu as escadas.
— Boa noite — desejou para Joshua e Nayeon.
— Soon — Jihoon murmurou, abraçando o namorado pelo pescoço. — Promete que nunca vai esquecer de mim de novo?
Soonyoung riu nasalmente, beijando sua testa antes de o colocar sentado na cama.
— Prometo, meu amor — sorriu, lhe dando um selinho demorado. — Vem, eu te ajudo a tirar essa roupa.
Jihoon ergueu os braços e deixou que o maior tirasse seu moletom e a blusa que usava por baixo. Depois, ele foi até seu guarda roupa e pegou uma camiseta, ajudando-o a se vestir.
Quando já estava propriamente vestido com um pijama do alfa, Jihoon deitou-se na cama e abraçou um travesseiro, aspirando o aroma de café que tanto amava, enquanto Soonyoung trocava as próprias roupas.
Apagou a luz e deitou-se ao lado do namorado, deixando apenas o abajur de tigre aceso ao lado de sua cama.
— Jihoon-ah — chamou-o, após ele se aninhar em seu peito.
Os olhos pequenos e brilhantes dele encontraram os seus. Soonyoung sorriu.
— Você quer namorar comigo?
— Você prometeu…
— Eu sei que a gente namora — interrompeu antes que ele pudesse se lamuriar. — Só quis aproveitar a oportunidade, sabe? Você me pediu em namoro mas eu nunca te pedi.
— Tecnicamente…
— Só responde sim ou não.
Jihoon riu, tocando seu rosto e beijando-o devagar.
— É claro que eu quero namorar com você — cruzou seus dedos. — Eu te amo.
— Eu também te amo — abraçou-o outra vez. — Você quer namorar comigo?
— Sim.
— Quer ser meu namorado?
— Quero.
— Você quer…
— Soonyoung, cala a boca — resmungou sonolento.
O alfa riu baixo, acariciando os cabelos do baixinho até que ele adormecesse.
Na varanda que ficava no quarto dos pais de Joshua, ele e Nayeon observavam a rua deserta enquanto dividiam uma última garrafa de Smirnoff Ice. Estavam esperando o sol nascer para que pudessem ir dormir junto da lua, segundo a própria Im.
— Você se lembra daquela noite que a gente bebeu pra caralho? — Nayeon perguntou, enchendo o copo de Jisoo.
— Na festa do pijama da Dahyun, né? — sorriu, tocando os copos num brinde. — Acho engraçado como meus pais deixaram eu ir porque os pais da Dahyun são muito confiáveis e os nossos colegas de escola eram “do bem”.
— Mal sabem eles que a gente acabou com cinco garrafas de vodka.
Joshua riu, brindando com a amiga.
— A gente tinha o que? Catorze anos?
— Sim, catorze. Eu lembro porque foi naquela noite que eu dei meu primeiro beijo — riu baixo.
— A gente deu nosso primeiro beijo, né?
— Eles são muito fracos, já apagaram — Nayeon disse, observando os amigos dormindo jogados pelo chão.
Joshua riu baixo, dando de ombros e voltando a olhar a cidade da varanda da Kim.
— Como sempre, fica nós dois — o beta sorriu, deitando a cabeça no ombro da amiga. — Vamos fazer um pacto?
— Que tipo de pacto?
— Quando a gente tiver com 40 anos, se nenhum de nós estiver casado, a gente se casa — propôs, ajeitando-se para ficar de frente pra garota.
— Você nem gosta de mulher, Jisoo! — ela falou, empurrando o maior.
— Shhh! — Joshua mandou, tentando prender um riso. Ambos estavam embriagados até demais, mas ainda tinham certa noção das coisas. — A gente não tem certeza... E você também não gosta de homem.
— A gente não tem certeza disso, também.
— E como a gente pode ter certeza? — perguntou-se, apoiando o rosto na mão. — Eu duvido que pessoas héteros tenham que pensar nisso.
— Elas já saem beijando qualquer um.
Jisoo riu baixo, tomando mais um gole da sua bebida.
Ambos ficaram em silêncio por um algum tempo, até Nayeon propôr:
— Vamos se beijar?
Joshua, pela surpresa, acabou por cuspir um pouco da bebida.
— Como assim, Nayeon? Tá doida?
— Você propôs casamento, e a minha ideia que é absurda? — acusou a ômega, chegando mais perto do amigo e ajudando a secar seu rosto.
— Não disse que é absurda, é só inesperada.
— Mas pensa assim… — ela encolheu os ombros. — A gente nunca beijou ninguém, seria só pra gente saber como é.
— A gente tá bêbado, Nayeon — Jisoo falou, abaixando seu tom de voz quando ela chegou mais perto.
— A gente pode usar isso como desculpa mais tarde.
— Não vai mudar nada entre a gente?
— Não vai, prometo.
— Ok.
Eles trocam um breve olhar pela última vez antes de fecharem seus olhos e tocarem se beijarem.
Joshua tocou o rosto da amiga, sentindo a textura macia dos lábios dela nos seus, mas uma risada rompeu de sua garganta, acabando com o beijo antes mesmo que pudessem começar propriamente. Nayeon também ria, cobrindo seu rosto para tentar abafar o som alto.
— Não — Joshua falou, negando com a cabeça. — Não. Com certeza, não.
— Não mesmo — ela riu, limpando os lábios no braço. — Acho que a gente tem certeza agora. Acho que não gosto mesmo de homem.
— Que droga — ele disse, pegando o copo de bebida novamente. — E acho que eu não gosto de mulheres.
Outro silêncio veio. Alguns segundos depois, Nayeon exclamou, como se tivesse uma epifânia.
— Mas sabe o que a gente pode fazer? — tocou as mãos de Joshua, para que ele prestasse atenção. — Você se casa com um homem e eu caso com minha mulher, mas aí eu fico com o cara como se fosse meu, e você com minha mulher como se fosse sua. Aí a gente vive os quatro numa casa, e quando nossos parentes forem lá, minha mulher é sua mulher e seu homem é meu homem.
Joshua explodiu em uma gargalhada, quase caindo para trás.
— Isso nem faz sentido!
— Na minha cabeça fazia sentido — justificou ela, deitando a cabeça no ombro do maior. — De qualquer jeito, a gente vai se casar se chegarmos aos 40 solteiros.
— Espero que você encontre uma garota legal que goste de você antes disso — murmurou Jisoo, acariciando os cabelos dela.
— Eu também. E eu espero que você consiga sair do armário e encontrar um garoto legal que goste de você, também — abraçou-o.
— Eu ainda tenho que fazer todo esse percurso, né? — suspirou. — Me assumir pra família, fazer terapia, superar toda briga que vai ter… Que merda.
— Você sabe que não precisa fazer isso se não quiser, né? — Nayeon o olhou. — Tá tudo bem se você só quiser viver sua vida.
— Eu sei, mas eu quero fazer isso. Eu preciso — abraçou seus joelhos. — Eu sei que vai ser difícil, mas…
— Quanto mais cedo você fizer, mais cedo vai passar — ela disse, abraçando-o novamente. — E eu vou estar do seu lado.
Joshua sorriu, retribuindo o abraço.
— Ano que vem, as coisas vão ser diferentes.
— Feliz ano novo, então.
Chapter 38: Chá de Maracujá
Chapter Text
— Não acredito que daqui dois meses já voltam às aulas — Soonyoung resmungou, apertando mais Jihoon entre seus braços.
— Dois meses de férias não são o suficiente pra você? — disse o menor, acariciando os cabelos do namorado.
— Não — resmungou, apoiando o rosto no peito do outro.
Jihoon riu baixo, enfiando os dedos entre os fios escuros do alfa.
— Quando você vai cortar o cabelo?
Soonyoung juntou as sobrancelhas e apoiou-se com os cotovelos na cama para conseguir olhar o rosto de Jihoon.
— Qual o problema com meu cabelo?
— Nenhum — revirou os olhos, tocando o rosto dele e lhe dando um selinho. — Só tá comprido, olha — puxou a franja para frente, cobrindo os olhos do mais velho.
Soonyoung sorriu, deitando sobre o ômega novamente e beijando seu rosto.
— Eu ainda vou cortar, só tenho preguiça de ir mesmo — respondeu, apoiando a cabeça no ombro do baixinho e acariciando seu pescoço com a ponta dos dedos.
— Não vai cortar muito, né?
— Não sei, por que? — ergueu os olhos para ele.
— Eu gosto do seu cabelo longo — retribui o olhar. — Fica bonito.
— Você acha? — sorriu, tocando a bochecha do outro.
Jihoon sorriu, lembrando que Soonyoung gostava de ser elogiado.
— Sim, você é o garoto mais lindo do mundo — virou para ele, roçando seus narizes. — E fofo, e inteligente, e sexy, e bonito…
—Tá bem, tá bem. Pode parar — o alfa riu, abraçando-o pela cintura e lhe dando alguns selinhos. — Você fica me elogiando assim só pra me levar pra cama.
Jihoon riu, batendo de leve em seu ombro.
— Idiota — resmungou. — E você já está na minha cama.
— Então, você está só tirando vantagem de mim!
— Sua mão tá na minha bunda, mas quem tá tirando vantagem sou eu? — ergueu a sobrancelha.
Soonyoung riu e o puxou para mais perto, selando seus lábios de forma demorada.
— Depois de quase dois meses de namoro e quatro de pegação, já era hora de você deixar eu tocar sua bunda — brincou, correndo a ponta dos dedos pela cintura e descendo sutilmente pelo corpo dele.
Jihoon soltou um riso nasal e desviou os olhos, meio envergonhado. O alfa se aproximou novamente, beijando seu rosto de forma doce.
— Bobo — murmurou.
Soonyoung sorriu, puxando-o para mais perto e roçando seus narizes.
— Eu gosto de fazer você rir — contou, deixando um beijinho na ponta do nariz do namorado.
O menor retribuiu o sorriso, pousando um braço sob a cintura do alfa e chegando mais perto.
— E eu gosto de você — sussurrou.
— Eu amo você.
— A gente é muito boiola — constou, cobrindo o rosto ao rir. — Fala sério, você já esteve assim com alguém?
Soonyoung riu baixo.
— Já tive umas paixonites, mas você é meu primeiro namorado sério.
— Você já teve namoros “não-sérios”? — perguntou, apoiando o cotovelo no colchão e o rosto na mão.
— Namorei uma menina no sexto ano, durou só duas semanas — contou. — Depois disso, eu fiquei de boa, lidando com o fato de ser bissexua, ficando com alguns garotos. Depois, eu te conheci e fiquei caidinho. E você?
— Hum… antes de você, eu só gostei de verdade de uma pessoa: Yoona — explicou. — Faz uns três anos.
— E como ela era?
Jihoon pensou por alguns segundos.
— Inteligente, engraçada, extrovertida, bonita… A personalidade muito parecida com a sua, eu diria — sorriu para o namorado.
— Não sabia que você tinha um tipo ideal.
— Nem eu sabia — riram. — Yoona e eu éramos amigos, eu comecei a gostar dela, ela foi meu primeiro beijo mas ela teve que se mudar pra outra cidade.
— Que pena — murmurou. — Por um lado, é bom, porque se você estivesse com ela, eu não estaria com você.
— Uau, você é muito malvado!
— Não é isso! — defendeu-se. — É só porque eu gosto de você, oras! Eu senti ciúmes até do Minghao, acha que eu não vou ficar com ciúmes da menina que foi seu primeiro beijo?
Jihoon riu, chegando mais perto do namorado, deitando-se por cima dele e beijando seu rosto.
— Mas, em compensação, você foi meu primeiro…
— Beijo de língua.
— Eu ia dizer, meu primeiro namorado, mas é, você não tá errado — revirou os olhos, deitando a cabeça no ombro dele. — Você é meu primeiro namorado, a primeira pessoa que eu apresentei pros meus pais, vai ser minha primeira vez, e muitas outras coisas.
Soonyoung sorriu, abraçando-o apertado.
— Você também vai ser meu primeiro nessas coisas — falou. — E eu estou muito feliz que seja com você que eu vou viver tudo isso.
— Fofo — lhe deu um selinho.
O mais velho segurou sua nuca, aprofundando o beijo, mordendo e sugando os lábios do ômega, enquanto suas mãos deslizavam pelo corpo dele.
Quando sentiu suas nádegas serem seguradas com certa força, Jihoon quebrou o beijo e mordeu o lábio inferior do namorado.
— Minha mãe tá no andar de baixo, você precisa se controlar um pouquinho — avisou, dando mais alguns selinhos nele.
Soonyoung resmungou, um tantinho frustrado.
— É injusto, eu preciso de você — resmungou.
Jihoon riu nasalmente, fechando os olhos para apreciar os selares sendo depositados em seu pescoço.
— Vamos ter tempo outro dia — falou, afastando-se um pouco e sentando-se no colo dele. — Aliás, você ainda me deve um encontro, lembra?
Soonyoung sorriu e se ajeitou na cama também.
— Eu sei, já estou planejando isso.
— Eba! — sorriu, abraçando-o apertado. — Tô ansioso, e depois eu te levo pra um encontro também.
— Combinado — beijou-o outra vez. — Você vai me levar de carro, também?
Jihoon deu de ombros.
— Eu sei dirigir, só não tenho a habilitação — fez um bico. — Ah! Mas eu vou começar as aulas agora em março!
— Mesmo? — Soonyoung sorriu, admirando a animação do menor.
— Sim! Mal vejo a hora de começar — sorriu. — Você achou muito difícil?
Soonyoung ergueu os olhos ao ponderar, dando de ombros em seguida.
— Um pouco, mas eu passei, então deu tudo certo — segurou-o pela cintura. — Você vai conseguir, tenho certeza.
Jihoon sorriu, dando mais um selinho nele.
O celular do alfa, então, começou a tocar numa ligação.
— Aff, ninguém merece — ele reclamou, pegando o aparelho e atendendo. — Alô?
— Soonyoung, onde você tá? Você tem horário marcado com o psiquiatra — Seunghoon falou do outro lado da linha.
— Eu tô no Jihoon. Foi mal, eu esqueci — respondeu, fazendo uma careta para o namorado.
— Imaginei, tô passando aí.
Soonyoung resmungou e desligou o telefone.
— Eu vou ter que ir embora — levantou-se, ignorando, há muito custo, o biquinho tristonho que o namorado fez.
— Por que?
— Consulta — revirou os olhos. — Não posso nem ter uma pequena crise de pânico que eles começam a agir como se eu fosse maluco.
— Soonyoung — falou sério. — Não é brincadeira.
— Eu sei que não — encolheu os ombros. — Mas eu já tô bem, foi só uma crise.
Jihoon suspirou, desviando os olhos por um momento.
— Não foi só uma crise, foi uma das coisas mais assustadoras que eu já vi — ele contou, sentando ao lado do namorado. — Eu não sabia o que fazer, eu estava tão desesperado, eu só queria tirar toda aquela dor de você.
— Jih…
— Eu sei que você ainda é relutante com o tratamento e até tem um pouco de vergonha — olhou-o. — Mas isso é importante, e vai ser ótimo pra você a longo prazo.
Soonyoung voltou a desviar o olhar, ficando em silêncio por um tempo.
— E você não vai passar por isso sozinho — Jihoon falou, chegando mais perto e o abraçando.
— Me desculpa por ter feito você passar por aquilo…
— Shh, não se desculpe comigo — cobriu a boca dele. — Entre você e eu, não há necessidade de “desculpe” e “obrigado”.
O alfa sorriu, olhando para o namorado e segurando suas mãos, lhe dando um selinho em seguida.
— Fofo — segurou o rosto dele. — Te amo, baobei.
— O que isso significa? — Jihoon franziu as sobrancelhas.
Soonyoung riu nasalmente, beijando suas bochechas mais uma vez.
— Você vai ter que descobrir.
— Ei, não é…
O som da buzina interrompeu o baixinho. Soonyoung olhou pela janela.
— É meu tio. Eu vou indo, baobei — lhe deu um último selinho antes de sair correndo.
Jihoon negou com a cabeça, levantando e olhando pela janela o namorado correr até o portão e entrar no carro em seguida.
Enquanto observava o veículo se afastar, ele pensou por algum tempo. Foi até o corredor e disse:
— Mãe! Eu vou sair, já volto!
[...]
— O que aconteceu dessa vez? — Chan perguntou ao abrir a porta de sua casa e ver Jihoon ali.
— Podemos conversar?
— Claro, entra aí — ela deu espaço. — Tá ouvindo esse som maravilhoso?
Jihoon franziu as sobrancelhas.
— Não tô ouvindo nada.
— Exatamente, tá tão calmo — sorriu, dançando pela sala. — Meus pais saíram com o Jun pro pediatra, e o Minho tá desenhando no quarto dele.
— Ah — concordou com a cabeça. — Então a gente pode conversar sossegado.
— É sobre sexo de novo? — ela virou para o ômega, cruzando os braços.
— É — disse, sorrindo sem graça.
— Ainda com medo?
— Sim.
— Você falou com seu namorado?
— Não…
Chan suspirou pesado e se aproximou, dando um peteleco na testa do mais velho.
— Ai! Pra que isso?
— Por dificultar meu trabalho de Mestre dos Magos. Você é o Vingador! — reclamou, indo até a cozinha. — Espera aí.
Jihoon negou com a cabeça, sentando-se no sofá. Ouviu alguns barulhos distintos na cozinha e ouviu também passinhos descendo as escadas.
— Chan hyung! Eu tô com fome! — Minho gritou, pulando o último degrau da escada.
Logo, os olhinhos encontraram Jihoon e ele sorriu, indo até si.
— Oi, hyung! Você tá aqui de novo?
— Oi, Minho-ah. Estou, eu vim conversar com seu irmão.
— Entendi. Sobre o que? — perguntou curioso, subindo no sofá e brincando com as almofadas.
— Hum… Eu preciso ajuda com meu namoro, e Chan é muito sábio pra essas coisas.
— Ih, é? Mas ela nunca namorou ninguém! — argumentou, rindo arteiro em seguida.
— Eu tô ouvindo, Lee Minho! — o beta exclamou da cozinha.
O alfinha riu outra vez, cobrindo sua boca. Jihoon riu também.
— Mas é verdade! — ele rebateu, escondendo-se atrás do ômega quando o irmão voltou na sala com uma expressão irritada.
— E você precisa contar pra todo mundo? — colocou as mãos na cintura.
Minho negou com a cabeça, abraçando Jihoon pelo pescoço, escondendo-se atrás dele.
— Desculpa, hyung — pediu, correndo até Chan e pulando em seu colo.
O beta sorriu, segurando-o e abraçando-o apertado.
— Vou pensar no seu caso — beijou o rosto dele. — Quer seu leite de banana?
— Quero!
— Tá na geladeira, vamos ali.
Jihoon sorriu observando os dois. Poucos segundos depois, Minho passou correndo e subiu as escadas, levando consigo uma caixinha de leite de banana, e logo Chan apareceu, com duas taças de sorvete.
— Agora, sim. Podemos surtar — sorriu, entregando uma taça para o mais velho. — O que te aconteceu dessa vez, Vingador?
— Você realmente vai me chamar assim agora? — olhou-a.
— Vou! — riu. — Até você parar de atrapalhar minha missão de Mestre dos Magos Assexual.
— Ainda não entendi qual missão é essa — resmungou.
— Fazer você parar ter medo de sexo — afirmou, ameaçando jogar uma almofada nele, mas não o fez. — Qual o problema agora?
— O mesmo, toda vez que eu penso nisso eu começo a ficar nervoso, parece que vou vomitar — contou, tomando o sorvete. — Por que é tão difícil?
— Não é, você que tá complicando — Chan falou.
Jihoon resmungou, formando uma careta chorosa.
— O que você acha que eu devo fazer? — ele perguntou, levando mais uma colherada do sorvete a boca.
Chan pensou por alguns segundos.
— Olha, pelo que eu percebi, você quer tentar e sente tesão por ele, já é um bom sinal — começou. — O problema é que você fica ansioso, pensando mais no como vai ser e isso te impede de tentar de verdade.
— E então?
— Acho que você vai ter que tentar com medo mesmo, porque você só vai saber como é depois que tentar — sugeriu. — Tipo… Como se fosse um novo sabor de sorvete! — exclamou, mostrando a colher cheia do creme. — A gente tá acostumado com os sabores comuns, tipo baunilha. E quando vamos experimentar um novo, a gente cria expectativas, esperamos algo muito bom ou algo simplesmente horrível, e a gente só vai saber se gostamos ou não se a gente provar. Às vezes é muito melhor do que a gente esperava, às vezes é muito pior, às vezes não é tão ruim. Então, meu conselho é: ignora esses seus pensamentos e só se concentra no seu namorado, no momento de vocês.
— É um conselho muito bom, pra falar a verdade — Jihoon murmurou. — Obrigado, Chan. Vou te colocar como minha melhor amiga a partir de hoje.
Em resposta, ela deu uma gargalhada.
— Eu agradeço a oferta, mas eu não posso trocar o Mingyu assim — sorriu, esvaziando sua taça. — Mas, eu vou continuar sendo seu Mestre dos Magos assexual.
Jihoon riu também, colocando a taça vazia ao lado da de Chan.
— Eu aceito. E se você precisar de ajuda algum dia, pode contar comigo.
— Eu vou aceitar sua ajuda pra conseguir um namorado, ou namorada, tô ficando cada vez mais triste — riu. — Até meu irmão tá triste por mim.
— Eu não sei como te ajudar, nem sei como consegui o meu namorado — respondeu.
— Que sem graça — murmurou. — Mas, brincadeiras à parte, eu sei que vai dar tudo certo e vocês vão conseguir.
— Espero que sim.
— Vai dar certo, seja confiante.
— Ok, eu vou conseguir!
— Isso aí! — exclamou, fazendo um hi-5 com o baixinho.
Em meio aos risos dos garotos, Minho apareceu na sala.
— Hyung, olha só! Eu fiz um desenho pra você! — exclamou, correndo até a mais velha e sentando em seu colo.
Chan sorriu, pegando o papel em mãos e fazendo uma expressão de surpresa.
— Que coisa linda, Minho! Você fez sozinho?
— Sim!
— Eu amei. Olha que legal, você desenhou até o Jun — constou, apontando para o papel.
Jihoon sorriu, admirando a cena.
De certo modo, ver Chan com seus irmãos, deixava o ômega ansioso para o nascimento de sua irmã, ele sempre sorria ao imaginar como seria a relação deles e só conseguia ficar feliz ao imaginá-la crescendo e imaginar como ela seria, saber do que ela iria gostar, como seria sua voz e quantas brincadeiras iria inventar.
— Eu desenhei o Jun, eu, você e o gato da vizinha que tá sempre aqui.
Chan sorriu, abraçando o irmão.
— Eu amei, achei lindo. Vou pendurar do lado da minha cama, que tal?
Minho acenou positivamente com a cabeça várias vezes.
— Hyung — ele murmurou.
— O que foi, nenê?
— O que é sexo?
Com a pergunta, Jihoon arregalou os olhos, quase entrando em desespero, enquanto Chan franziu as sobrancelhas.
— Por que a pergunta, meu amor?
— Eu ouvi você e o hyung falando disso.
— Ah, sim — ela disse, ajeitando o irmão em seu colo.
Jihoon não entendia como ela estava tão calma.
— Sexo é uma coisa que dois adultos fazem quando eles se sentem atraídos um pelo outro — explicou. — Eles ficam juntos, tiram a roupa e fazem tipo um carinho um no outro.
— Atraídos? Como assim? — ele perguntou, olhando para o irmão e cruzando os braços.
— É um sentimento que a gente tem, muitas vezes de querer ficar junto com a pessoa, abraçar, dar beijinho e, às vezes, fazer sexo. Mas sexo é igual o beijo na boca, é coisa de adulto. Lembra que a mana te ensinou?
— Lembro. Mas, por quê?
— Porque cada coisinha que a gente faz, tem um tempo certo pra fazer — falou. — Tipo aprender a escrever, o Jun não consegue escrever ainda, porque o cérebro dele ainda é muito pequeninho pra isso, igual o cérebro da criança ainda é muito pequeno pra dar beijo e fazer sexo. Tá bem?
Minho pensou por uns segundos e logo concordou com a cabeça.
— Tá bem — sorriu para Chan.
— Você quer perguntar mais alguma coisa?
— O que acontece no sexo?
Jihoon olhou para Chan, quase desesperado novamente.
— Normalmente, as pessoas fazem um tipo de carinho uma na outra, elas se tocam, se abraçam, se beijam e isso causa sensações boas — explicou. — Entendeu?
Minho pensou por alguns segundos, fazendo um biquinho nos lábios ao refletir sobre a resposta do irmão.
— Acho que sim.
— Que bom — sorriu, acariciando os cabelos do alfinha. — Tem mais alguma coisa que você queira saber?
Minho pensou por mais alguns segundos e logo negou com a cabeça.
— Então, tá bem. Qualquer coisa, pode sempre me perguntar, tá?
— Uhum — sorriu.
— Posso te dar um beijo?
— Pode!
Chan sorriu e abraçou o irmãozinho, dando vários beijinhos em sua bochecha.
— Você quer voltar a brincar agora?
— Quero — sorriu, descendo do sofá. — A gente pode brincar de bola depois?
— Depois, tá bem?
Ele concordou, correndo até as escadas.
— Minho, eu te amo! — Chan exclamou, mesmo que o irmão já tivesse subido.
— Eu também! — ele gritou do andar de cima.
— Vocês são adoráveis — Jihoon comentou. — E parabéns pela calma, eu estava surtando.
— Isso não é bom, crianças percebem nossa inquietação quando elas fazem alguma pergunta assim — explicou, se ajeitando no sofá. — É só ficar calmo e responder com sinceridade.
— Acho que vou deixar você ajudar a criar minha irmã no meu lugar — brincou.
— Vou cobrar por fora — Chan respondeu, rindo quando Jihoon revirou os olhos.
— Besta. Mas sério, você é ótimo com crianças!
— Se você quiser, eu te empresto os livros sobre educação e desenvolvimento infantil que eu li — falou, virando para olhar o amigo.
— Acho que minha mãe tem uns assim — comentou. — Mas por que você lê esses livros? São dos seus pais?
— Não, eles nunca leram nenhum — riu sem graça.
— E por que você lê?
— Acho que é justo com meus irmãos. Eles são só crianças e… — suspirou, refletindo por alguns segundos. — Uma vez, quando o Minho tinha uns três anos, ele entrou no meu quarto e mexeu nas minhas coisas, acabou quebrando algo que eu gostava muito…
— O que era?
— Sinceramente? Eu nem me lembro mais — deu de ombros. — Eu só lembro que eu fiquei tão irritado, eu gritei e briguei com ele, como se ele tivesse feito de propósito, sabe? Eu senti vontade de bater nele e foi quando ele começou a chorar que eu me dei conta que ele é só uma criança. Eu me lembrei de quando meus pais brigavam comigo, aquela sensação horrível de ter alguém que deveria te proteger, te olhando de cima e gritando com você por algo que você nem entende ainda. Eu me senti tão mal, eu fiquei… eu nem sei explicar. Eu me dei conta de que eu deveria proteger meu irmão e não fazer ele se sentir daquele jeito.
— Eu sinto muito…
— Tudo bem, já aconteceu — deu de ombros. — E ajudou de certo modo, eu comecei a querer melhorar e dar a melhor infância possível pro meus irmãos.
— Eu sei que eles têm — Jihoon respondeu. — Dá pra ver que Minho te ama muito e é muito feliz.
Chan sorriu para o amigo.
— Obrigado. Eu sei que você vai ser um irmão incrível, também.
— Eu também espero que sim — murmurou.
— Noona! — Minho gritou, descendo as escadas. — Vamos brincar agora?
— Tá bem, vamos — ela sorriu, levantando do sofá. — Cadê a bola?
— Lá fora, vamos! — ele exclamou, pulando animado. — Vem, hyung, vamos jogar! — puxou Jihoon junto.
Minho tomou a frente e correu até o pátio da casa, pegando sua bola e chutando de forma animada.
— Você sabe jogar? — Chan perguntou, segurando a bola com o pé quando Minho a chutou em sua direção.
— Posso tentar — Jihoon respondeu.
— Eu vou ganhar de vocês dois! — o alfinha exclamou, pulando de forma animada.
Chan riu.
— Vou começar então.
O jogo começou e continuou por quase uma hora sem interrupções, Minho tinha muita energia e estava facilmente ganhando de Chan e Jihoon.
Suor escorria pelo rosto do baixinho e ele sentia-se ofegante ao tentar correr atrás do alfinha, mas estava se divertindo com os dois, fazia muito tempo desde que havia brincado daquela forma e admitia que era bom e lhe deixava feliz.
— Ganhei! — Minho gritou, correndo de forma animada pelo gramado.
Chan riu olhando o irmão, foi atrás dele e o pegou no colo jogando-o para cima e o abraçando apertado.
— Parabéns, meu amor! — sorriu, beijando seu rosto. — Como a gente vai comemorar?
— Com dança!
Jihoon riu também, sentando-se no chão e observando Minho segurar as mãos do irmão e dançar consigo para comemorar a vitória.
— Mas que isso? É uma festa? — alguém perguntou.
O ômega olhou por cima do ombro e pôde ver um garoto apoiado no muro que separava a casa de Chan do vizinho. Jihoon tinha a impressão de que já havia visto ele antes, mas não lembrava onde.
— A gente tá comemorando porque eu ganhei dos dois no futebol — Minho contou, correndo até o muro e tentando se pendurar no concreto.
— É mesmo? Não deve ter sido difícil, né? — sorriu de lado, encarando Chan.
A beta revirou os olhos e se aproximou, pegando Minho antes que ele se machucasse.
— Sim, foi muito fácil porque eu e Jihoon oppa somos dois sedentários — forçou um sorriso. — Vamos entrar agora e tomar um banho, né?
— Eu estou convidado?
— É, claro que sim, eu te convido pra vir dar banho no meu irmão de sete anos. Você, o garoto que eu não gosto e nem confio — Chan respondeu. — Se manca, cara.
— Você gosta de se fazer de difícil, né, Seongsu?
Jihoon revirou os olhos ao lembrar de onde conhecia o garoto. Levantou-se e foi até eles, tentando pensar em uma forma de apaziguar a situação sem acabar xingando ninguém.
— Sim, é ótimo ver você correndo atrás de mim igual um cachorrinho — ela respondeu e, com sua fala, Minho começou a rir e imitar o som de um cachorro.
— Se acha muito engraçado também, né? — ele disse.
— Dá um tempo — revirou os olhos, virando as costas. — Vem, hyung.
Chan segurou Jihoon pela mão e o levou para dentro de casa, assim que a porta foi fechada, ela começou a resmungar algumas coisas que o mais velho não entendeu por estar falando em chinês.
— O que você tá falando, noona? — Minho perguntou.
— Nada demais, meu bem — ela sorriu, colocando a criança no chão. — Vai tomar seu banho agora, tá?
— Posso levar um brinquedo?
— Claro — respondeu, bagunçando os cabelos dele.
— Yes! — Minho comemorou e logo subiu as escadas correndo.
— Você tá bem, Chan? — Jihoon perguntou assim que o menorzinho estava fora de vista.
— Tô, sim. Já me acostumei com aquele merda do Jungho, ele só torra minha paciência às vezes — revirou os olhos. — Acho que eu ainda vou acabar dando um soco na cara dele.
— Pelo amor de Deus, não! E se ele resolver revidar? — preocupou-se. — É mais fácil a gente pedir pro Wonwoo, ele tá sempre pronto pra sair na porrada com alguém.
Chan riu com a fala do amigo, batendo em seu ombro.
— É uma boa ideia — ponderou. — Ele bem que merecia apanhar um pouco.
— Eu não sou a favor da violência, mas às vezes ela pode ser um santo remédio.
— Ah, hyung, que isso. A violência não é a resposta, ela é a pergunta e a resposta é sempre sim — piscou um olho para ele. — Exceto com crianças e animais… acho que só serve pra pessoas escrotas. E pessoas que atrapalham minha missão de Mestre dos Magos.
Jihoon arregalou os olhos e se afastou alguns passos.
— Acho que eu vou embora, tô começando a ficar com medo de você — respondeu.
O beta riu novamente, negando com a cabeça.
— Dramático — resmungou. — Mas meus pais vão chegar daqui a pouco, se você quiser vazar pra não ter que conhecer eles, eu não vou julgar.
— Ok — falou, pegando seu celular sobre o sofá. — E se quiser ir lá em casa um dia, está convidada, ok?
— Claro, vou adorar — ela sorriu, levando o mais velho até a porta. — Pensa no que eu falei, ok?
— Pode deixar — concordou. — Ah, Chan, você fala chinês, né?
— Eu me viro — deu de ombros. — Por quê?
— O que significa baobei?
Chan sorriu.
— De onde tirou isso?
— Soonyoung me chamou disso, mas não me disse o que significa — cruzou os braços.
— Ele é tão fofo. Significa tipo bebê, mas é mais usado entre casais de uma forma bem íntima — explicou. — E pra bebês mesmo, mas ele quis dizer nesse outro sentido. É super fofo, na minha opinião.
— Que droga, ele é perfeito — Jihoon choramingou. — Obrigado, Chan, por tudo. Vou tentar arrumar uma namorada ou namorado pra você.
A mais nova riu.
— Tá bem, valeu — acenou conforme ele foi se afastando. — Tchau.
Chan negou com a cabeça e logo voltou para dentro de casa.
[...]
No dia seguinte, Jihoon foi convidado para ir até a casa de Soonyoung, aproveitando que seu tio estava de plantão e sua tia havia saído com Joshua para algum lugar que não sabiam qual era.
Com a casa toda para eles, ficaram jogando alguns jogos de videogame e dançando e cantando juntos enquanto Jihoon ajudava Soonyoung em suas tarefas.
— Eu venho pra cá achando que meu namorado queria passar tempo comigo, mas eu acabei limpando coco de gato — reclamou o baixinho, usando a pazinha para limpar a caixinha de areia dos gatos.
Soonyoung riu enquanto trazia o saco de areia fechado.
— Deixa de ser dramático, como se eu não te ajudasse a lavar a louça sempre que vou na sua casa — apontou o alfa, colocando a areia limpa na caixinha.
Howl e Tokki observavam os dois de longe, prontos para usar o banheiro limpo a qualquer momento.
— Acho que a culpa é minha por ter tempo de qualidade como linguagem de amor — ponderou Jihoon, fechando a sacola e entregando para o namorado.
— Você sabe qual é a sua? Eu não sei qual é a minha — ele disse, jogando a sacola no lixo.
Logo, os dois foram até o banheiro para lavar as mãos.
— A sua é toque físico, Soonyoung, pelo amor de Deus, você tinha alguma dúvida? — disse o ômega. — A cada dois segundos você tá me beijando.
— Isso é porque eu gosto de você — resmungou, chegando mais perto e beijando o rosto dele. — E nem é a cada dois segundos, tá?
— Então é quando?
— Toda vez que eu lembro que te amo — sorriu para ele, secando suas mãos e as dele também.
Jihoon suspirou, chegando perto do namorado e o abraçando pelo pescoço para lhe dar alguns selinhos.
— Você é tão fofo — falou, apertando-o com força.
— Ai, ai, ai! Você vai quebrar meu pescoço — reclamou, tentando segurar os braços do baixinho para o afastar.
— Para de ser chato — resmungou.
Soonyoung riu baixo e negou com a cabeça, abaixando-se um pouco para conseguir segurar Jihoon pelas coxas em seu colo, selando os lábios dele outra vez.
— Acho que você pode tá certo, eu gosto de ficar perto de você — o alfa disse, levando-o menor até seu quarto.
Jihoon sorriu, ajeitando-se quando o namorado lhe deixou sobre a cama e foi até a porta para fechá-la.
— Aliás, eu descobri o que significa baobei — contou, sentando sob seus calcanhares. — E eu achei muito fofo, pode me chamar assim toda hora.
Soonyoung riu baixo, aproximando-se para sentar de frente para o ômega.
— Que bom que você gostou, baobei — sorriu, segurando as mãos dele. — Como você descobriu?
— Chan me falou — deu de ombros. — Aliás… eu queria conversar com você sobre algo.
— Ai, o que foi? Jihoon, você sabe que não pode começar uma conversa assim, eu tenho ansiedade — ele disse, mexendo suas mãos de forma nervosa.
— Não é nada demais, calma — Jihoon sorriu, cruzando seus dedos aos dele. — É que eu conversei com Chan sobre algumas coisas e eu pensei bastante nisso e… eu acho que a gente deve tentar fazer sexo. Tipo, de verdade.
Soonyoung franziu as sobrancelhas e piscou um tanto perdido antes de perguntar:
— Você e Chan?
— Não! Você e eu! — Jihoon exclamou, confuso sobre a conclusão que o namorado havia chegado.
— Ah! Isso faz muito sentido! — ele sorriu aliviado. — Quer dizer… claro, se você quiser tentar.
— Eu quero, eu quero mesmo — afirmou, chegando um pouco mais perto. — Eu só… eu ainda tenho medo e fico nervoso, mas se eu não tentar eu nunca vou saber como é. Eu falei com vários amigos, tentei achar alguma coisa que me desse mais confiança, mas nada ajudou muito e, como eu disse, eu ainda tô com medo de fazer merda e deixar um clima estranho, mas eu preciso fazer isso alguma hora e…
— Ei, ei, ei — Soonyoung interrompeu, tocando o rosto do namorado para que ele lhe olhasse. — Relaxa, ok? Você falou com nossos amigos, mas não veio falar comigo que sou seu namorado?
— Me desculpa, eu… — suspirou, fazendo bico. — Não queria te deixar nervoso, também.
Soonyoung sorriu, aproximando-se e dando alguns selinhos no menor.
— Da próxima vez, fala comigo, tá? — falou, acariciando seu rosto. — E, se você quer saber o que eu acho… sexo não é um bicho de sete cabeças, não é algo que envolva fazer uma pesquisa complexa ao redor disso. Sexo é sobre se sentir bem, com qualquer pessoa que você queira, mas no nosso caso, com a pessoa que você ama e confia. Vou repetir mais uma vez: nós não precisamos ter pressa.
Jihoon respirou fundo outra vez e acenou com a cabeça.
— Mas eu quero tentar — afirmou, olhando-o nos olhos.
— Nós podemos fazer isso — Soonyoung respondeu, abraçando a cintura do seu ômega quando ele se arrastou até seu colo, passando os braços por seus ombros e o beijando.
Soonyoung simplesmente amava quando Jihoon o beijava, principalmente porque, quase sempre, era ele mesmo quem tomava alguma atitude para que acontecesse, ele não resistia a boca rosada do baixinho, apenas. Adorava beijá-lo, mas parecia melhor quando era ele quem segurava seu rosto e selava seus lábios, ainda mais quando ele pedia passagem com a língua e corria os dedos por seus cabelos.
Era a perdição de Soonyoung.
Jihoon separou o beijo com uma mordida lenta no lábio inferior do alfa, o fez apenas para que pudesse correr suas mãos pelo tronco do namorado, puxando a roupa que ele usava até tirá-la de seu corpo.
Soonyoung fez o mesmo com a blusa que o cobria, deixou o tecido em qualquer lugar sob a cama, as mãos grandes seguraram a cintura de Jihoon, subindo o toque sutilmente por suas costas, deixando-o arrepiado.
As bocas voltaram a se encontrar num novo beijo, lento e tão cheio de desejo e outros sentimentos quanto os outros, as mãos do ômega tocavam devagar o corpo do namorado.
Os dedos magros correram de seu rosto até seus cabelos, apertando e puxando sem força os fios escuros que Jihoon tanto gostava, para logo em seguida deslizar por seu pescoço até a linha de sua coluna, tocando suas costas e o trazendo para mais perto de si, ao mesmo tempo que o beijo foi quebrado e os lábios de Soonyoung encontraram seu pescoço, beijando, mordiscando, chupando, traçando a língua, brincando com a região sensível a seu bel prazer.
Jihoon fechou os olhos com força, sentindo seu corpo arrepiando, como se recebesse choques na base de sua coluna, que o faziam ondular o quadril sobre o de Soonyoung sem que ele percebesse.
Ainda de olhos fechados, o ômega levou suas mãos até os ombros do mais velho, correndo-as por suas clavículas, dedilhando os ossinhos com certa delicadeza. Quando sentiu Soonyoung chupar sua pele com força o suficiente para deixá-lo marcado, suas unhas afundaram na derme dele, arranhando seu peito ao passo que um gemido sofrego escapou de sua garganta.
— Soonyoung — chamou, mesmo que ele estivesse bem ali.
As mãos do maior, que antes estavam firmes em sua cintura, desceram até que adentrassem sua calça e peça íntima, tocando suas nádegas e apertando ao puxa-lo para mais perto.
Jihoon não pôde conter outro som deveras manhoso, tornou a abraçar o namorado pelo pescoço, rebolando em suas mãos sem que precisasse sequer fazer algum esforço, como se fosse natural, como se estivesse mais do que acostumado a fazer aquilo.
Podia sentir que Soonyoung estava duro abaixo de si, estava quente e aquilo se comprovava por todo calor que sentia vindo do corpo do outro, sentia seu corpo respondendo a todos aqueles estímulos e não sentia vontade de lutar contra. Seu coração acelerado, mas não sentia medo, tentava não pensar em mais nada que fosse seu desejo, seu instinto que lhe conduzia a fazer o que quisesse e parecia certo.
— Soonyoung — chamou novamente, buscando alguma outra resposta que não fosse sua própria.
Os olhos do alfa voltaram-se para si, os rastros de um vermelho vivo iluminando-os mais do que já eram.
Quando abriu a boca para falar qualquer coisa, o som alto do celular tocando interrompeu o momento.
Jihoon choramingou e cogitou ignorar, seus pensamentos lógicos não estavam tão presentes em sua mente, mas ainda o suficiente para que ele levantasse, buscasse o aparelho e atendesse a ligação.
— Talvez seja nosso destino ser um casal de virgens — Soonyoung ponderou.
— Shh, pera aí — o baixinho pediu, cobrindo a boca do namorado. — Pai? O que aconteceu?
— Jihoon, sua mãe ela… ela entrou em trabalho de parto.
— O que!? — ele exclamou, levantando num pulo. — Ainda falta um mês!
— Eu sei, eu sei! Mas tá acontecendo, nós estamos no hospital, ela entrou em cirurgia…
— Cirurgia? Ela tá bem!?
— Fica calmo, vai dar tudo certo. Nós estamos aqui, eu te dou notícias…
— Não, eu tô indo aí agora! — afirmou e logo desligou a ligação. — Soonyoung!
— Já ouvi! — respondeu, jogando a camiseta de Jihoon de volta para ele.
Soonyoung já estava devidamente vestido e já estava chamando um Uber.
— Não acredito, é muito cedo, Soon! — Jihoon falava preocupado, descendo as escadas atrás do namorado, segurando sua mão com força.
— Amor, fica calmo, ela tá com oito meses — o alfa tentava acalmar. — Muitos bebês nascem de oito meses. Ela já tá no hospital, vai dar tudo certo.
— A gente tem que chegar lá rápido — choramingou.
— Tô tentando chamar um carro, mas não tô conseguindo — disse.
Assim que abriu a porta da casa, Soonyoung deu um pulo para trás, soltando um grito assustado ao dar de cara com Jisoo e Joane do outro lado.
— Porra, Soonyoung, qual seu problema!? — o beta exclamou. — Vai tirar alguém da forca?
— A mãe do Jihoon entrou em trabalho de parto! A gente precisa ir pro hospital!
— Meu Deus, sério!? Onde ela tá!?
— No hospital! Ele acabou de falar! — Jihoon disse.
— Ok, se acalmem os três! — Joane interveio. — Eu levo vocês lá, só respirem!
Os quatro correram até o carro, a ômega começou a dirigir até o hospital.
— Por que vocês estão tão nervosos? Ela não tava com nove meses? — Joshua perguntou.
— Ela fez oito há pouco tempo — Jihoon falou, tentando não chorar.
— Fica tranquilo, Jihoon-ah — Joane falou. — Oito meses não tem grandes riscos, ok? Dependendo, só algumas semanas pra ter certeza de que tá tudo bem.
— Viu? Respira, tá? Vai ficar tudo bem — Soonyoung disse, abraçando seu namorado e acariciando seus cabelos.
Algumas lágrimas fininhas escorriam pelo rosto de Jihoon.
Quando chegaram ao hospital — que por sorte ou coincidência, era o mesmo onde Joane e Seunghoon trabalhavam —, a ômega os levou imediatamente até a ala de obstetrícia. Falando com algumas pessoas, descobriu qual quarto Daeun estava e deixou Jihoon entrar após colocar a roupa adequada.
— Pai — ele correu até o homem, abraçando-o apertado. — O que aconteceu? Tá tudo bem?
— Sua mãe não conseguiu fazer o parto natural, eles começaram a cesária agora — explicou, acolhendo o filho nos braços.
Haviam diversos médicos e enfermeiros no local, falando coisas que os dois não entendiam.
Taesuk segurava a mão de Daeun, que estava fraca e um pouco zonza por conta da anestesia. Jihoon observava tudo perdido, apreensivo e preocupado, sem saber o que fazer ou o que esperar.
— Assim que o bebê estiver fora, vamos ter que começar a sutura, para garantir que não haja hemorragia interna — um dos médicos falou, Jihoon reconheceu ser o tio de Soonyoung, mas não deu importância no momento.
— Será rápido, ok? Vamos.
Bem, rápido não seria a palavra que Jihoon usaria para descrever, sentiu como se estivesse ali por horas, esperando apenas.
Estava tão nervoso que sentia seus batimentos cardíacos em sua garganta, ainda chorava um pouquinho e rezava para que desse tudo certo.
Mais algum tempo depois, a equipe médica ficou agitada, falavam coisas que Jihoon e Taesuk continuavam sem entender e, logo mais, eles puderam ver o bebê e o choro alto ecoou pela sala.
Enquanto Taesuk correu para perto da esposa, que foi afastada rapidamente para começar a sutura, Jihoon permaneceu paralisado no lugar, era como se estivesse anestesiado, congelado, como se aquilo fosse surreal demais.
— Ei, você está bem? — uma enfermeira perguntou, chegando perto de Jihoon e tocando seu ombro.
— Eu… hum… não sei — respondeu, perdido.
A mulher sorriu gentil, guiando-o para perto da mesa onde estavam limpando sua irmã.
— Você quer segurar?
— E-Eu posso? — olhou-a nervoso.
— É claro — ela disse.
— Ela está bem, mas terá que ficar algum tempo em observação — um enfermeiro disse, entregando a bebê para a enfermeira que falou com Jihoon.
Ela, então, sorriu para o ômega mais uma vez, colocando a recém nascida em seus braços.
— Parabéns, essa é sua irmãzinha — ela sorriu.
Jihoon olhou para o bebê em seus braços e começou a chorar, sorrindo em meio as lágrimas ao constar que ela realmente estava ali, chorando alto e mexendo as mãozinhas.
— Oi, irmã — ele sussurrou numa voz mansa. — Meu Deus, eu nem acredito que você nasceu. Não precisava ter pressa, mas você veio, né?
— Onde ela tá? — Jihoon ouviu a voz de sua mãe, ainda grogue pela anestesia.
Ele aproximou-se dos pais, trazendo sua irmã consigo.
— Ela tá aqui — mostrou, sorrindo ao ver os olhares tão maravilhados dos mais velhos. — Ela é tão pequena, mãe.
— Ela tem todos os dedinhos? — Daeun perguntou, mal conseguindo manter os olhos abertos.
Jihoon e Taesuk riram baixo.
— Tem, sim. Dez dedinhos nas mãos e dez nos pés — respondeu, chegando mais perto.
Com todo cuidado do mundo, ele deitou a irmã no peito de sua mãe, que chorava silenciosamente.
— Ela é perfeita — Taesuk disse, tocando com delicadeza a cabeça da filha.
— Nós já temos um nome? — a mesma enfermeira gentil perguntou.
— Não, acho que não — Jihoon disse, pegando a bebê em seu colo novamente, já que nenhum de seus pais parecia totalmente apto para tal.
— Na verdade — Taesuk disse. — Sua mãe e eu conversamos, e decidimos que você pode escolher o nome dela.
— Mesmo? — arregalou os olhos.
O progenitor concordou com a cabeça.
Jihoon olhou para a irmã outra vez, tentando enxerga-la em meio a tantas lágrimas.
— Então, como ela vai se chamar?
— Yoona.
Chapter 39: Chá de Folha de Laranjeira
Chapter Text
— Eu te trouxe café — Soonyoung falou, sentando ao lado de Jihoon e lhe entregando um copo. — Você não quer ir pra casa?
O baixinho negou, deitando a cabeça no ombro do namorado.
— Minha mãe ainda tá em recuperação e minha irmã tá aqui, eu não vou a lugar nenhum — afirmou, bebendo alguns goles do café. — Você não quer ir pra casa? Deve estar cansado.
— Minha sogra tá em recuperação, minha cunhada tá numa incubadora e meu namorado tá preocupado — ele respondeu, abraçando de lado e acariciando seus cabelos. — Eu não vou a lugar nenhum.
Jihoon sorriu, virando para ele e lhe dando um selinho.
— Eu amo você — murmurou, abraçando-o apertado.
— Também amo você, baobei — respondeu, fazendo carinho nos cabelos dele.
— Todos os bebês são estranhos assim quando nascem? — Jihoon perguntou, observando Yoona dormindo.
— Sim, todos eles — Soonyoung afirmou. — Mas melhora depois de um tempo.
O ômega riu baixinho, bebericando o café novamente.
— Obrigado por ficar ao meu lado — murmurou, segurando a mão do mais velho. — Minha mãe mal consegue parar acordada, meu pai tá super preocupado… eu não ia saber o que fazer sem você. Eu ainda tô preocupado, sabe? Mas tô tentando acreditar que vai dar tudo certo.
— Vai dar tudo certo, sim, amor — o alfa disse, beijando sua testa. — Logo, todos vão estar em casa, bem e felizes. E você nunca mais vai ter uma madrugada tranquila de sono.
Jihoon riu baixo, terminando o café e abraçando o namorado, deitando a cabeça em seu ombro.
— Eu já não estou tendo.
Soonyoung sorriu, acariciando os cabelos dele.
— Você sempre vai poder fugir lá pra casa se quiser dormir.
— Como se você fosse me deixar dormir — resmungou. — Aliás, eu queria agradecer o seu tio, ele fez o parto da minha irmã.
— Que legal, eu não sabia — falou. — Ele faz uns seis partos por dia, deve ter sido só mais um dia normal pra ele.
— Mas pra mim foi importante — resmungou.
— Tudo bem, eu falo com ele depois — acalmou, abraçando o namorado. — Você não quer dormir um pouquinho?
— Eu não consigo — murmurou, deitando a cabeça no ombro dele. — Eu tô nervoso ainda, acho que só vou conseguir dormir quando estivermos em casa.
— Isso não é bom — abraçou-o mais apertado.
— Eu sei, é que…
— Com licença — um enfermeiro chamado Taemin disse, entrando no berçário com uma maca. — A gente vai precisar levar ela pra alguns exames.
— Por que? O que ela tem? — Jihoon preocupou-se, ficando de pé.
— Calma, não é nada demais — ele respondeu, sorrindo gentil. — Só alguns exames de rotina pra gente ter certeza de que ela está bem.
— Viu, baobei? — Soonyoung disse, levantando e segurando a mão dele. — Não vai demorar nada.
— Não vai mesmo — Taemin afirmou. — Já trago ela de volta.
— Tá bem — o ômega concordou.
Assim que o enfermeiro levou-a, Soonyoung levou Jihoon para o corredor, onde ficaram esperando. Sentaram-se nas cadeiras disponíveis lado a lado e o menor voltou a deitar a cabeça no ombro do namorado, fechando os olhos quando algumas lágrimas escorreram por seu rosto.
— Ei, meu amor, o que foi? — o alfa perguntou, preocupado.
— Eu só… eu tô muito cansado — choramingou, abraçando-o apertado. — Não era pra ter acontecido assim…
— Calma, pequeno, tá tudo bem — falou manso, retribuindo o abraço, como se pudesse protegê-lo com aquilo. — Vai dar tudo certo, tá? Quando você menos esperar, todos vão estar em casa.
— Parece que tá demorando muito.
— Você quer ir pra outro lugar? Quem sabe comer alguma coisa?
Ele negou com a cabeça, escondendo o rosto no pescoço do namorado.
Soonyoung suspirou, tentando pensar em alguma coisa que pudesse acalmar ou distrair o namorado de toda aquela situação.
— Você sabia que meu sonho de infância era ser enfermeiro? — perguntou.
— Eu achei que fosse ser uma tartaruga ninja — respondeu Jihoon, soltando-se do abraço para que pudesse olhá-lo.
Soonyoung riu, balançando a cabeça em negação e afastando com delicadeza as lágrimas do menor.
— Meu sonho mais realista de infância era ser enfermeiro — corrigiu. — Teve uma época, quando eu tinha uns dez anos, que eu fiquei mais ou menos uma semana com meu tio, e ele me trazia para o hospital quando ele precisava resolver alguma coisa — contou, tendo a atenção do namorado em si. — E eu não gostava muito dos médicos, mas eu achava os enfermeiros e enfermeiras tão legais. Eu quis me tornar um.
— Você ainda pode.
— Ah — deu de ombros. — Talvez, mas eu não tenho certeza.
— Eu acho que você pode, e você seria muito bom — falou. — Você está sempre cuidando de mim e das pessoas ao seu redor. É sua cara ser enfermeiro, na verdade.
— Você acha? — sorriu, olhando para ele.
Jihoon concordou com a cabeça, secando os últimos resquícios de lágrimas de seu rosto.
— Eu acho, você seria ótimo.
Soonyoung aproximou-se e lhe deu alguns selinhos, roçando seus narizes após.
— Obrigado, baobei — sussurrou. — Então, já que você acha que essa profissão combina comigo, eu vou cuidar um pouquinho de você.
— O que tem a ver? — perguntou, confuso quando Soonyoung levantou-se.
— Tô falando que você está sem comer e dormir direito faz quase dois dias — apontou, puxando-o para se levantar. — A gente vai comprar algo decente pra você comer e depois você vai tentar dormir um pouco.
— Eu não quero, Soon — choramingou.
— Você não vai fazer eu te levar no ombro igual um saco de batatas, né? — cruzou os braços.
— Fala sério, você não ia conseguir… Soonyoung!
Quando menos percebeu, Jihoon foi colocado sobre o ombro de Soonyoung como se não pesasse nada.
— Ok, ok! Já entendi, eu vou! Me põe no chão! — mandou, batendo sem força em suas costas.
Soonyoung obedeceu e o pôs no chão novamente, sorrindo ao ver o rosto emburrado e envergonhado do namorado, por sorte, não haviam pessoas no corredor naquele momento.
— Idiota — resmungou, cruzando os braços e seguindo até o elevador.
— Você não deve duvidar de mim — disse o mais velho, abraçando-o pelos ombros.
Jihoon revirou os olhos e cruzou os braços, não olhando para o namorado conforme ele apertava o botão correspondente ao térreo, onde ficava a cafeteria do hospital.
— Se eu não estivesse tão faminto e cansado, eu pensava em algo para te xingar sem ofender de verdade — resmungou, apoiando-se na parede.
— Há, você admitiu que está com fome — chegou mais perto do menor, segurando sua cintura. — O que você quer comer?
— Bibimbap — respondeu, abraçando o alfa pelos ombros. — Nossa, o bibimbap do meu pai é simplesmente incrível.
Soonyoung riu baixinho, sabendo que o namorado falava mais quando estava com sono. Assim que o elevador parou, ele segurou Jihoon pelo braço e o colocou em suas costas. O ômega passou os braços pelos ombros dele, cheirando sua nuca, deixando-o arrepiado.
— Assim não tem problema? — o maior perguntou.
— Não — respondeu, intensificando o aperto. — Ainda é um pouco vergonhoso, mas se eu tenho um namorado incrível que cuida de mim, não importa o que os outros vão pensar.
Soonyoung sorriu, escolhendo uma mesa e sentando-se ali com Jihoon. Fizeram o pedido e esperaram lado a lado, o alfa pegou seu celular e colocou um seriado para assistirem enquanto aproveitavam a refeição.
— A relação deles é tão bonitinha — Jihoon comentou, com lágrimas nos olhos ao assistir uma cena.
O alfa concordou com a cabeça.
— Essa cena é tão gay, também — respondeu. — Porque ele iria perguntar pra Yanli como é gostar de alguém se ele nunca teve um interesse amoroso feminino na série? Ele praticamente declarou que é apaixonado pelo Lan Zhan.
— Isso já não era óbvio desde o começo? — Jihoon ponderou. — Ele disfarçando é tão bom quanto você.
— Ei! — juntou as sobrancelhas, olhando para o mais novo. — O que você quer dizer? Eu tive que cantar I really like you na frente de todo mundo pra você perceber que eu gostava de você.
— Não disse que eu sou bom em perceber, disse que você nunca soube disfarçar — argumentou. — Acho que eu tenho a lerdeza do Wuxian.
Soonyoung riu baixo, colocando seu ovo no prato do namorado.
— Você nunca achou que eu gostava de outra pessoa — disse. — Eu achei que você gostava do Minghao.
— Então, você é completamente o Wuxian — apontou, rindo sozinho.
O alfa revirou os olhos, tentando conter a própria risada.
— Isso faz de nós os Wangxian?
— Isso faz de mim Lan Wangji? — ergueu uma sobrancelha.
— Acho que sim.
— Então, eu gostei da ideia — sorriu. — Isso faz de nós os Wangxian.
Soonyoung riu, beijando os cabelos do baixinho e o abraçando de lado.
— Você esperaria treze anos por mim? — o alfa perguntou.
— Hum… — Jihoon ponderou por um momento. — Isso é muito triste, mas sim, esperaria. Eu já esperei mais, esperei dezessete anos da minha vida por você.
— Você não esperou por mim quando deu seu primeiro beijo pra aquela garota — retrucou como uma criança fazendo birra.
Jihoon riu nasalmente ao revirar os olhos pelo jeito do namorado.
— Por que você é assim?
— Aliás, porque seus pais escolheram justamente esse nome pra sua irmã? Tem uma gama infinita de nomes por aí…
— Soon, fui eu quem escolheu o nome — contou, apertando os lábios numa linha reta.
O alfa rapidamente o encarou, a expressão confusa como se estivesse fazendo vários cálculos matemáticos em sua cabeça para entender o que foi dito.
— O que? Por que você escolheu esse nome? — cruzou os braços.
— É um nome bonito — respondeu. — Não acredito que você vai ficar com ciúmes.
— Não tô com ciúmes — resmungou, virando o rosto.
Jihoon riu, aproximando-se do namorado e o abraçando, beijando seu rosto.
— Você não sabe disfarçar — murmurou, acariciando o rosto dele. — Olha pra mim.
Soonyoung o fez, mesmo que sustentasse um beicinho nos lábios.
— Por que você tá com ciúmes?
— Eu não sei, não é ciúmes — negou, cruzando os braços. — É só uma sensação estranha.
— Não fica assim, meu amor — pediu, segurando o rosto do namorado e beijando-o. — Você é o único pra mim agora.
Soonyoung virou o rosto, cruzando os braços de forma birrenta.
— Amor! — Jihoon choramingou, abraçando-o mais apertado. — Me abraça, por favor.
— Não quero.
— Baobei — murmurou manhosinho no ouvido dele. — Me abraça, vai.
— Do que você me chamou?
— Baobei — repetiu, voltando a olhá-lo. — Você gostou?
Ele assentiu. O ômega sorriu e beijou seu rosto.
— Me abraça, baobei — pediu, sendo atendido desta vez. — Você é tão fácil de agradar.
— E você não vale nada — Soonyoung murmurou, bagunçando os cabelos dele. — Mas, pelo menos, você comeu. Quer tentar dormir agora?
Jihoon negou com a cabeça, soltando-se do abraço.
— Vamos voltar? Vou ver como tá minha mãe.
[...]
— Ela está melhor, mas ainda um pouco fraca — a médica disse. — A gente já fez uma transfusão de sangue, assim que ela acordar vai comer e, se tudo melhorar, vai receber alta.
— E Yoona? — Taesuk perguntou.
— Ela está ótima — informou a mulher, sorrindo. — Os reflexos estão bons, ela está se alimentando bem. Vai poder ir pra casa logo, só precisamos ter mais cuidado nos primeiros meses, fazer consultas regularmente e vai ficar tudo bem.
— Ainda bem — Taesuk sorriu, abraçando o filho de lado.
A médica saiu do quarto e os dois voltaram e se sentar.
— Você não quer ir pra casa, filhote?
Jihoon negou, deitando a cabeça no ombro do pai.
— Eu vou esperar, não tem problema.
— Soonyoung não quer ir pra casa dele? Deve estar cansado.
— Ele disse que quer esperar, também — contou. — Eu disse que ele podia ir, mas ele não quis.
O mais velho sorriu.
— Ele é um bom garoto, eu gosto dele.
— Eu percebi, falta muito pouco pra você me colocar num altar com ele — riu junto do homem. — Posso perguntar uma coisa?
— É claro.
— Eu estar namorando um garoto não te incomoda? Tipo… nem um pouco?
Taesuk ficou em silêncio, pensando em sua resposta.
— Não, nem um pouco — sorriu. — É claro que no começo é um pouco surpreendente porque, querendo ou não, a gente cria expectativas, imagina vocês daqui 30 anos, casados e tendo uma família. Mas isso é o que eu pensei, e eu nunca faria você seguir a vida que eu pensei pra você, e sua mãe também não. Na verdade, pouco depois de você nascer, nas madrugadas que a gente passava acordado tentando te fazer voltar a dormir, eu ficava pensando em como você seria, o que você iria gostar de fazer, se você iria gostar de cozinhar tanto quanto eu, ou se gostaria de desenhos como sua mãe… — contou, acariciando os cabelos dele. — E eu mal podia esperar pra te conhecer e saber quem você seria. E eu amo você, tenho muito orgulho de ser seu pai.
Jihoon ouviu tudo em silêncio, deixando as lágrimas escorrerem silenciosas por seu rosto.
— Eu amo você também — falou, abraçando o progenitor. — De verdade, eu amo vocês muito.
Taesuk sorriu, abraçando-o mais apertado.
— Não quero que você pense nunca que sua sexualidade muda alguma coisa, tá? É quem você é, e nada mais importa — beijou sua testa. — E, como você sabe muito bem, eu adoro seu namorado, acho que você podia casar com ele mesmo.
— Pelo amor de Deus, a gente não fez nem um ano de namoro — riu, secando suas lágrimas.
— Me deixa sonhar.
Riram juntos.
— Se você quer saber — Jihoon falou. — Eu não sei se a gente vai casar algum dia, mas, se acontecer, eu vou ficar muito feliz.
— Eu também vou — respondeu. — E, mesmo que não seja com ele, com qualquer pessoa que te fizer feliz, eu vou ficar feliz por você.
— Valeu, pai — sorriu. — Mas não fala isso na frente do Soonyoung, senão ele chora.
— Eu choro quando? — o alfa perguntou, entrando no quarto. — Acreditam que eu me perdi? Quase entrei no quarto errado.
Jihoon riu nasalmente, observando o namorado se aproximar com uma garrafinha de água e alguns doces das máquinas de venda.
Era engraçado como via Soonyoung quase todos os dias e, ainda assim, algumas vezes quando parava e o observava em silêncio, percebia o quanto o amava e o quanto tinha sorte por tê-lo.
— Eu também achei umas pessoas no caminho — falou, virando para porta logo antes de Jeonghan, Seungcheol e Wonwoo aparecerem.
— Oi — disse o mais velho, entrando de maneira tímida. — Daeun-ssi ainda está dormindo?
— Ela está bem fraca ainda — Jihoon falou, levantando para ir até o amigo e o abraçar.
— Mas ela tá bem? — Seungcheol perguntou, andando devagar até o móvel ao lado da cama, trocando as flores velhas pelos girassóis que trouxera.
— Vai ficar — Taesuk afirmou, sorrindo. — Ela vai ficar muito feliz de ver vocês mas, por enquanto, vamos deixar ela dormir mais um pouco.
Os garotos concordaram em silêncio, balançando as cabeças.
— Vocês querem conhecer o bebê? — Jihoon perguntou.
— Eu quero! — Jeonghan exclamou.
— Shhh! — fizeram Jihoon, Wonwoo, Seungcheol e Soonyoung.
— Foi mal — o Yoon sussurrou.
O ômega sorriu e puxou Jeonghan pela mão até o berçário, sendo seguido pelos demais.
Yoona estava deitada na incubadora, enrolada em alguns cobertores e com uma touquinha cor-de-rosa cobrindo sua cabeça.
— Jih, ela é sua cara — Seungcheol falou, chegando mais perto para vê-la.
— Obrigado, eu acho — respondeu, rindo baixo.
— Fala sério, que loucura ela estar aqui — Jeonghan disse. — Quer dizer, ela tava dentro da sua mãe alguns dias atrás.
— Eu sei, ainda não consigo acreditar — Jihoon sorriu, fungando quando novas lágrimas formaram-se em seus olhos. — Ai, que ódio, eu tô chorando de novo.
— Mas por que? — o Choi perguntou confuso, acolhendo o outro ômega em um abraço.
— Ele tá sensível — Soonyoung disse. — Ele tá há uns três dias sem dormir direito, também.
— Não pode fazer isso, Jihoon! — brigou Jeonghan, cruzando os braços. — Você vai pra casa dormir, agora.
— Pensa que eu já não pedi pra ele? — o Kwon falou. — Ele não quer ir, já tentei.
— Paro com isso aí, nenhum dos dois manda em mim — reclamou Jihoon, fazendo um bico nos lábios enquanto abraçava Seungcheol com mais força.
O mais velho riu, acariciando os cabelos do menor.
— Caras, vocês precisam falar mais baixo — Jisoo falou, abrindo a porta do berçário e entrando. — Tá cheio de bebês ao redor.
— Soo! — Jeonghan exclamou, ignorando totalmente o que o amigo dissera, foi até ele o abraçou com força. — Que saudade!
— Fala baixo, seu idiota — Joshua sussurrou, retribuindo o aperto.
— Foi mal — sorriu ao soltá-lo do abraço, mas não se afastou completamente, permanecendo com um braço sob os ombros deles e uma mão segurando a do outro.
— Eu sei que vocês estão empolgados mas vamos tentar manter a voz baixa — pediu o beta.
— É verdade, tem pessoas morrendo — Wonwoo disse. — Jih, vocês já podem pegar ela no colo?
— Pode, sim. Você quer?
Wonwoo acenou com a cabeça, sorrindo de maneira um pouco ansiosa. Jihoon se afastou de Seungcheol e pegou Yoona na incubadora.
— Ela é tão pequena — constou o Jeon, recebendo o bebê com cuidado em seus braços. — Que fofa.
— Eu sei — Jihoon sorriu.
— Vou tirar uma foto disso e enviar pro Mingyu — falou Jeonghan, sacando seu celular e abrindo a câmera.
Wonwoo revirou os olhos e ignorou o amigo, voltando a prestar atenção em Yoona que acordou e começou a chorar.
— Que merda, o que eu faço? — o Jeon se desesperou.
Jihoon riu baixo e se aproximou, pegando a irmã novamente.
— Ela deve tá com fome, vou levar ela pro quarto.
Logo, todos saíram do berçário e seguiram até o quarto onde estava Daeun.
Wonwoo andava um pouco mais a frente com Jihoon e Soonyoung, enquanto Jeonghan, Seungcheol e Joshua andavam mais atrás.
— Nem acredito que o Jih tem uma irmã agora — comentou o alfa.
— Eu sei — Jisoo sorriu. — O mais estranho é que meus pais estão supervisionando a Sra. Lee, meu padrasto que fez o parto.
— Sério? — Seungcheol arregalou os olhos. — Que legal. E sua mãe?
— É cardiologista, tá cuidado pra ver se tá tudo bem. Ela acabou se envolvendo quando trouxe o Jih pro hospital — contou. — Ele tava lá em casa e, na minha humilde opinião, acho que eles tavam quase transando antes.
— Por que você acha isso? — o ômega exclamou, cobrindo o rosto ao rir.
— Conheço o Soonyoung, aquela vermelhidão no rosto dele não era de nervosismo.
— Que nojo — Jeonghan disse, fazendo uma careta.
— Ah, como se você não falasse as coisas que faz com o Seungcheol — apontou o beta.
— Como é? — o Choi perguntou, indignado.
— Eu não falo nada demais! — justificou-se o alfa.
— Eu vou matar vocês dois — Seungcheol ameaçou, andando para mais perto dos dois, que começaram a se afastar.
— Calma lá, Cheol, tudo que eu ouço é contra minha vontade — Jisoo falou. — Seu namorado que é um boca grande…
— Você pode tentar me ajudar, pelo menos um pouco? — Jeonghan ralhou.
— Vocês estão mortos.
— Sai da frente! — Joshua disse, empurrando o Yoon e correndo pelo corredor pouco movimentado.
Jeonghan, soltando um gritinho nada másculo, virou para correr também. Seungcheol negou com a cabeça e correu atrás deles.
Alguns enfermeiros e pacientes olhavam para os três com olhares confusos e de desaprovação, o que certamente iria causar em Jisoo uma sensação estranha e vergonhosa, onde ele sentia vontade de se esconder e agir como todos esperavam que ele agisse. Mas ele não se importava com as outras pessoas e nem com os olhares quando estava na companhia das pessoas certas, ele sentia-se livre.
Após uma curta perseguição pelas escadas de incêndio, os três garotos chegaram até o terraço do hospital, que estava vazio, sendo ocupado apenas pelos varais onde estavam lençóis lavados secando.
Pela corrida, os três estavam ofegantes e cansados, então sentaram-se perto do parapeito. Um vento soprava, bagunçando seus cabelos e causando arrepios pelo ar gelado.
— Eu juro que ainda mato vocês — Seungcheol falou.
— Não enquanto a gente conseguir fugir — Jeonghan rebateu.
O mais velho bufou antes de passar por cima de Jisoo, que estava sentado entre eles, para agarrar o alfa pelo colarinho e o chacoalhar.
— Você para de me testar, Yoon Jeonghan — mandou, soltando de forma brusca.
O Yoon ria divertido, sabia que não deveria levar a sério as ameaças do namorado.
— Vocês vão acabar me matando se eu continuar no meio de vocês — reclamou Joshua.
— Dramático — Jeonghan riu. — Eu vou lá na lanchonete pegar água, tô morrendo depois dessa corrida.
— Eu quero também — Seungcheol falou, observando o namorado se levantar.
— Eu também!
— Ah, tá. Não querem mais nada? — colocou as mãos na cintura.
— Beijinho — o ômega pediu, fazendo um bico.
Jeonghan riu baixo e se aproximou, dando um selinho no namorado antes de seguir até a porta.
— Já volto — falou.
Joshua e Seungcheol, então, ficaram em um silêncio por alguns segundos, até o mais velho voltar a falar:
— Sabe, eu… é meio engraçado que você e meu namorado são almas gêmeas, mas a gente não se conhece muito, né?
— Por que engraçado? — olhou-o.
— Sei lá, só é — encolheu os ombros. — Desde que vocês se encontraram, vocês estão sempre juntos, e eu nunca conversei muito com você, mais porque quando você e o Han começam a conversar entram num mundinho só de vocês…
— Me desculpa…
— Não precisa se desculpar por isso — negou, dando um soquinho no braço do beta. — Quer dizer… as vezes é um pouco irritante, mas eu não iria pedir pra vocês pararem de serem amigos, por mais que as vezes eu tenha vontade.
— E então? — perguntou o beta, olhando para o outro, sentindo até mesmo um pouco de medo.
— A gente pode tentar conversar, se conhecer um pouco, e talvez eu consiga controlar melhor esse ciúme idiota que eu sinto — riu baixo. — O que você acha?
— Pode ser, mas que fique claro que eu nunca desgostei de você.
Seungcheol riu baixo.
— Valeu — olhou para ele. — Vamos ser sinceros, ok?
— Ok, vamos. Tem alguma coisa que você queira saber?
— Tem, só que não é exatamente sobre você…
— Ok?
— Qual o cheiro do Hannie? Digo… a segunda essência.
— Amoras — Jisoo falou. — É minha fruta favorita, também.
— Hum. Aprendi uma coisa sobre você, então — brincou. — Sua vez, me pergunta alguma coisa.
— Você… pretende fazer faculdade?
— Eu vou fazer uma de administração só pra ter o curso, porque meu sonho mesmo é ter uma floricultura — contou, animando-se de repente. — Meio gay? Um pouco, mas eu sou gay. Eu sempre amei flores e desde cedo eu gostei de aprender tudo sobre elas. Sabia que eu sei quase todas as flores de nascimento, só ainda não consegui todas porque 365 dias é muita coisa.
Jisoo riu baixo ouvindo o outro e concordou com a cabeça.
— Realmente. Você sabe a minha?
— É 30 de dezembro, né? — pensou por alguns segundos. — É Calicanto Carolina. É uma flor muito bonita e vermelha, ela significa lealdade e outras coisas assim.
— Que legal, não sabia disso. É sua vez.
— É sua vez!
— Eu fiz a pergunta da flor!
— Ah, mas você é muito espertinho, né? — estreitou os olhos.
— Aprendi com seu namorado.
Seungcheol revirou os olhos, perguntando em seguida:
— O que você quer?
— Eu quero… que meus pais façam terapia, quero que Soonyoung siga o sonho dele — suspirou, pensando. — Eu quero que Jeonghan consiga fazer a faculdade que ele, agora eu quero que você consiga abrir sua floricultura…
— Tá, isso é muito fofo, mas o que você quer pra você?
Jisoo deu de ombros.
— Eu não sei o que eu quero — engoliu em seco. — Digamos que… meus pais nunca me deram muitas opções. Eles querem que eu seja médico e siga “o legado da família”, que eu me case com uma boa moça e tenha filhos.
— E você não quer isso? — Seungcheol perguntou, abraçando seus joelhos sem tirar os olhos do beta.
— Sendo sincero, desse plano idiota deles, a única coisa que eu quero é ter filhos — respondeu. — Mas, mesmo sabendo disso, eu nunca pude pensar como seria meu futuro. Eu só comecei a pensar que teria outra opção depois que eu conheci Jeonghan. Ele me mostrou que a vida é mais do que agradar os outros, e ele me dá vontade de continuar.
Um silêncio voltou a pairar entre eles. Jisoo pensou que, talvez, tenha falado demais.
Seu coração já batia nervoso, estava óbvio demais, ele não conseguia mais esconder tudo aquilo, e ele sabia que Seungcheol não era burro e qualquer um perceberia…
— Você… — o ômega começou, olhando para longe, seus dedos começaram a se mexer de forma nervosa. — Você sente alguma coisa pelo Jeonghan?
Joshua sentiu seu corpo gelar. Quase automaticamente, ele respondeu;
— Ele é meu amigo…
— Você prometeu que ia ser sincero — cortou-o.
O beta fechou os olhos, sentiu-se derrotado e sem saída.
— É por causa disso que você queria conversar comigo?
— Não! Eu não… — Seungcheol levantou, sentindo-se perdido. — Eu não queria tirar conclusões por mim mesmo… eu não achei que poderia ser verdade. Jisoo, não é verdade, né? Me diz que não é verdade.
Lágrimas escorriam pelo rosto de ambos.
— É verdade — Joshua murmurou.
Estava se sentindo a pior pessoa do mundo.
Seungcheol fechou os olhos com força. Ele segurou seus cabelos, andando de um lado para o outro, sem saber o que fazer.
— Eu me apaixonei por ele — o beta completou. — E-Eu não queria, me descul…
— Para! Não pede desculpas, isso não vai amenizar as coisas! — exclamou, soando mais irritado do que realmente estava.
— Seungcheol, me escuta…
— Voltei! — Jeonghan exclamou, parando na porta ao perceber o clima. — O que aconteceu?
— Por favor, não conta pra ele — Jisoo pediu baixo para o Choi.
Sem dizer mais nada, ele saiu dali o mais rápido que conseguiu, passando pelo Yoon conseguir sem olhá-lo.
Seungcheol fechou seus olhos e voltou a sentar no chão, não conseguindo conter seu choro.
— Amor, o que aconteceu? — o alfa perguntou, totalmente perdido, indo até o namorado e o abraçando.
Num último resquício de voz, ele disse:
— Não me abandona, por favor
Chapter 40: Maçã e Café
Chapter Text
Joshua não estava bem.
Fazia alguns bons dias que ele não saía de casa, mesmo que não gostasse muito de ficar lá, mas ele não tinha vontade de sair, ou de encontrar com pessoas, na verdade, não queria falar com ninguém.
Ele ignorava as mensagens que chegavam de seus amigos, principalmente as de Jeonghan.
Felizmente, Seungcheol não havia contado para o alfa, talvez por medo ou insegurança, mas o que importava era que Jeonghan não estava sabendo de nada. E por mais cruel que aquilo parecesse, ele não sabia como mudar as coisas, não sabia o que fazer com aquele sentimento tão forte, então só lhe restava ignorá-lo.
Não havia um dia sequer que ele não pensasse em Jeonghan, estava sempre pensando nele, e a cada pensamento era como se apaixonasse mais, como se precisasse dele cada vez mais, até não ser capaz de ver mais ninguém.
Sabia que aqueles sentimentos eram confusos, dolorosos e que não deveria se afundar tanto neles, mas não sabia como evitar. Por mais que tentasse ignorar, era impossível, era uma parte de si que estava conectada e ansiava pela alma de Jeonghan.
Ele via as mensagens preocupadas do amigo chegando e não conseguia respondê-lo, sentia como se sua sanidade estivesse por um fio.
Seu coração estava implorando para que dissesse a verdade, aquele fio de esperança ainda existia, aqueles cenários que se imaginava ao lado dele pareciam mais próximos da realidade do que ele considerava saudável; enquanto a parte racional de seu cérebro tentava convencer aquele coração bobo de que era loucura, e havia muito mais em jogo do que ele podia ver.
Era difícil ver a realidade quando estava tão perdido em si mesmo.
Amava Jeonghan, e isso era inegável. Tinha tanto medo que escondeu isso durante meses e, agora, aquele medo estava querendo ir embora, quando olhava para a situação pensava que não tinha nada a perder, já estava sem nada.
A relação com seus pais estava péssima, a amizade com Jeonghan estava confusa, mais do que costumava ser.
Pela primeira vez em anos, ele sabia o que queria, e ele queria…
— Shua hyung! — a voz de Soonyoung o chamou, abrindo a porta do quarto. — Jeonghan hyung tá tentando falar com você, ele tá ligando…
— Diz que eu não tô — disse, virando-se na cama para esconder o rosto inchado de tanto chorar.
— Ele sabe que é mentira — se aproximou, cauteloso. — Ele tá preocupado.
Jisoo respirou fundo, secando seu rosto e sentando na cama.
— Me dá aqui.
Soonyoung entregou o celular e deu alguns passos para trás. O beta tirou a ligação do mudo.
— Jeonghan, eu não tô bem pra falar agora.
— Mas o que você tem, inferno? Você não fala comigo desde aquele dia no hospital e Seungcheol não me fala nada, não é justo eu estar sem saber!
— Não dá pra você saber…
— Sobre o que vocês falaram? Vocês brigaram?
— Não.
— Então, o que aconteceu? Me diz!
— Jeonghan, eu não quero mais te ver.
Um silêncio agonizante perdurou entre eles, apenas podiam-se ouvir os sons de respiração. Jisoo tentava esconder o sons dos soluços que prendiam-se em sua garganta, acompanhados das lágrimas doloridas pelo seu rosto.
— Do que você tá falando? Por que não!?
— Porque quanto menos tempo eu ficar com você, menos você vai precisar curar — falou.
Jeonghan não soube o que responder.
— O que isso significa?
— Me desculpa — Jisoo falou, desligando o telefone em seguida.
Soltando o aparelho sob a cama, ele cobriu o rosto e tentou controlar o próprio pranto.
— Hyung, o que foi isso? — Soonyoung perguntou, preocupado.
— Nada — respondeu, levantando-se e saindo do quarto.
— Que porra tá acontecendo com você? — o mais novo perguntou, parando na frente de Joshua, impedindo-o de descer as escadas.
Jisoo suspirou cansado, ignorando o primo e passando por ele para ir até a cozinha.
— Não é nada…
— Não mente pra mim! — exclamou, indo atrás dele. — Por que você tá me escondendo isso?
— Não tô escondendo nada, Soonyoung — negou, abrindo a geladeira.
O mais novo bufou, cruzando os braços e apoiando-se no balcão.
— Sabe do que eu sinto falta? — falou.
— Do Shinee? — Jisoo disse, olhando para ele.
— Cala a boca, eu tô falando sério — mandou. — Eu sinto falta da época que você confiava em mim. De quando a gente não tinha segredos um do outro, de quando eu te contava as coisas e você contava pra mim, também.
— Soonyoung…
— Eu não tô dizendo que quero saber de absolutamente tudo que você tá fazendo, só que eu me preocupo e me magoa que você não queira minha ajuda, parece que não confia em mim, que todo vínculo que nós tínhamos ficou no passado. Eu não gosto de te ver sofrendo e não poder fazer nada pra ajudar, mas você não me deixa fazer nada — fungou, tentando não chorar. — É só que… Eu sei que você tem outros amigos, mas você ainda é a pessoa mais importante pra mim, eu queria ser pra você também, pelo menos um pouco.
— Você é. Mas isso não tem nada a ver com você — tentou explicar, perdendo-se nas próprias palavras e no choro. — Eu só não… não sei…
— Você me disse que a gente não precisa saber de tudo — interrompeu. — Eu só queria poder te ajudar, mas você não me deixa fazer nada.
— Soonyoung…
Quando as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto do alfa, ele saiu dali, sentindo-se terrivelmente mal também. Ele não ficou para ouvir uma resposta, ele apenas saiu quando sentiu que estava sendo demais para si.
Jisoo ficou para trás, sem saber o que deveria fazer. Sentia o peso do mundo inteiro sob seus ombros, e estava doendo muito, não importava o quanto chorasse, aquilo não ia embora.
Não importava o quanto pensasse, não conseguia encontrar uma forma de sair de tudo aquilo sem se machucar. E, normalmente, ele não iria se importar em fazê-lo, mas já estava se machucando e nada parecia mudar, ele não queria mais sofrer.
[...]
Após algumas horas, Soonyoung voltou. Não sabia ao certo para onde havia ido, apenas se deixou levar pela música que saía de seus fones e acabou ficando fora mais tempo do que pretendia.
Quando chegou em casa, Joshua estava o esperando na sala, usando seu telefone para tentar falar com qualquer um de seus amigos, já que ele mesmo não estava atendendo as ligações.
— Onde você tava? — o beta exclamou, soando mais irritado do que queria. — Como você simplesmente some por mais de três horas!?
— Por que você está preocupado agora? — desviou dele, tentando subir até seu quarto.
— Para com isso, até parece que eu não me preocupo com você.
— E eu não me preocupo com você? — olhou-o, ficando ofegante pela raiva que crescia em seu peito.
— Eu não disse isso…
— Dá um tempo, Joshua — resmungou, dando-lhe as costas e subindo as escadas.
— Soonyoung — foi atrás dele. — Me desculpa…
— Não adianta você só pedir desculpas, cara! Um pedido de desculpas sem uma mudança, não vale de nada — exclamou, batendo o pé no degrau.
— Eu quero mudar. Eu prometo que quero, eu só não sei por onde começar — fungou, desistindo de lutar contra quaisquer lágrimas que queriam sair. — Eu tô assustado pra caralho, eu me sinto preso no mesmo lugar há seis fucking anos. Eu quero mudar, mas não sei como fazer isso. Eu vou começar dando um pequeno passo, e você é ele. Então, vamos só conversar, tá?
Soonyoung suspirou, acenando positivamente com a cabeça, sem conseguir dar uma resposta verbal.
Jisoo segurou sua mão e o puxou escada acima, mas não foram para o quarto. O mais velho puxou as escadas até o sótão, onde havia uma janela que levava até o telhado da casa, onde eles costumavam ir com bastante frequência alguns anos atrás.
— Será que isso não vai quebrar com a gente aqui? — o alfa perguntou, andando devagar entre as telhas.
Joshua riu baixo, dando de ombros.
— Vamos torcer que não — sentou-se no ponto mais alto, sendo imitado pelo primo.
O sol estava se pondo, dando ao céu tons bonitos de laranja e rosa. Uma brisa leve soprava, bagunçando os cabelos e deixando gelado as parte de seus rostos por onde as lágrimas correram anteriormente.
Soonyoung ficou em silêncio, esperando e dando espaço para que o mais velho desse o tal "primeiro passo".
E, apesar de estar ansioso e machucado com tudo que havia acontecido, uma parte distante em seu coração batia feliz, espalhando aquela sensação nostálgica de conforto que tinha anos atrás, quando sentia que era apenas Jisoo e ele contra o mundo. Não sabia dizer em que momento deixaram que o mundo vencesse e os separassem, criando uma distância que estava disfarçada entre eles e que, apesar de escondida, machucava de pouquinho em pouquinho.
— Eu sinto saudade da gente — o alfa disse, não conseguindo se conter. — Eu sei que a vida só anda pra frente, mas é impossível não sentir falta, sabe? Minhas melhores lembranças são de nós dois assistindo anime por horas, comendo porcaria e rindo de qualquer idiotice.
— Eu também sinto. Não tem nada que eu queira tanto quanto voltar àquela época, era tudo tão mais fácil — sorriu triste, deitando a cabeça no ombro dele. — Apesar de ter sido uma época muito difícil na minha vida, ainda era tudo tão melhor.
— Por que era difícil?
— Foi bem quando você passou a morar com a gente — começou. — Foi perto de quando você se assumiu, também. Pensa que era fácil te defender das coisas que meus pais falavam sem dar totalmente na cara que eu era gay?
— Eu não… eu não achava que ia dar uma merda tão grande assim — Soonyoung riu sem humor. — Eu nem queria que meus pais falassem pra ninguém, mas eles não conseguiram ficar de boca quieta. Me desculpa, eu não sabia que isso ia acabar te machucando também.
— Para, você não precisa se desculpar — abraçou-o de lado. — Nós não temos culpa da nossa família, principalmente meus pais, serem assim. A gente nem pediu pra nascer.
— Nem nascemos na mesma família, né? Quem será que deu mais azar?
— Com certeza, você — apontou. — Você ganhou uma tia americana e meio preconceituosa, mas eu ganhei uma família legal e um melhor amigo.
Soonyoung sorriu, duas lágrimas escorreram pelo seu rosto.
— Eu tenho sorte de ter você, sabe? Mesmo que quando a gente tenha se conhecido, você não falasse quase nada de coreano e a gente se comunicasse com umas palavras inventadas — lembrou, fazendo Joshua rir.
— É verdade. A gente tinha inventado uma palavra pra brincar, como era?
— Eu não faço a menor ideia, era difícil de falar — riu junto. — Apesar da nossa família ser complicada a maioria das vezes, eu sei que é meio injusto a gente reclamar porque eles são ótimos e se preocupam com a gente.
— Depende, também — murmurou. — Eles não parecem muito preocupados com meu bem estar mental, acho que eles evitam de me levar no psiquiatra pra eu não ter que começar com medicação…
— Também, olha a merda que você fez da última vez que ficou com uma cartela de comprimidos.
Jisoo engoliu em seco.
— Você sabia disso?
— É claro que sim, todo mundo sabe, só evitam falar sobre — respondeu. — Todo mundo ficou preocupado pra caralho com você. Acho que isso ajudou nossos pais na hora que decidiram que eu ia morar com vocês, acho que eles pensaram que a gente podia se fazer companhia.
— Eles não erraram, tho — murmurou. — Ajudou muito ter você aqui, meus pais pararam de falar tanta merda e você sempre trouxe alegria com esse seu jeito besta.
Soonyoung riu nasalmente, revirando os olhos.
— Você fala isso, mas é você que nos mantém unidos. Eu implicava muito com os tios, mas você nunca deixou que nenhuma discussão virasse uma briga ou algo assim.
— Eu só não posso perder vocês — afirmou. — Quando eu tomei aqueles comprimidos, não é que eu… Queria morrer — tentou explicar. — Eu só queria tirar do meu peito aquela sensação horrível, eu só queria conseguir respirar. Eu sempre, sempre penso nos meus pais, em você, nos nossos amigos… na época, eu só tinha meus pais e… por um momento, por aqueles míseros minutos que eu engoli aqueles remédios, foi como se eles estivessem fora de vista.
Joshua fechou os olhos, tentando inútilmente secar as lágrimas que escorreram pelo seu rosto e os soluços que escapavam de sua garganta.
Sem saber o que fazer, Soonyoung chegou mais perto, abraçando-o.
— E eu ainda tenho tanto medo — Jisoo continuou. — Tenho tanto medo porque… na maioria das vezes, eu não sentia vontade de continuar. Eu só me apegava a meus pais e você, porque eu não podia deixar vocês, eu não posso deixar vocês. Eu tenho tanto medo que chegue num ponto que eu perca vocês de vista outra vez, e eu acabe fazendo alguma merda. Por isso que eu odeio ver tudo à minha volta desmoronando, por isso eu quero que tudo fique onde está.
— Mesmo que isso esteja te machucando?
Jisoo encolheu os ombros em resposta.
— É isso que eu venho repensado — fungou, retribuindo o abraço do primo. — Eu não quero que tudo desmorone, mas eu sei que é inevitável, que as coisas vão mudar alguma hora.
— Sim, elas vão. Mas você tem que pensar que seria uma coisa boa, as coisas vão melhorar, eu sei disso — garantiu. — E você nunca, nunca, nunca vai estar sozinho. Eu sempre vou estar do seu lado, pro que der e vier.
— Eu sei, mas ainda assim é tão assustador — afastou-se, tentando secar seu rosto.
Soonyoung também chorava.
— E eu… eu falei que eu não sentia vontade de tentar, e agora eu tenho. Eu quero tentar, eu quero ser alguém diferente do que eu fui até hoje, eu quero ser eu mesmo pela primeira vez na minha vida — confessou, ofegante pelo choro quase compulsivo. — E é uma merda porque a pessoa que faz eu sentir vontade de tentar não sente o mesmo por mim, porque eu fui um idiota que se apaixonou pelo melhor amigo.
— ‘Pera aí, o que?
— Eu me apaixonei pelo Jeonghan. Tipo… pra caralho, eu não consigo imaginar minha vida sem ele — contou, não olhando para a cara de espanto do alfa. — E dói tanto. Eu sou uma pessoa horrível.
— Não, não fala isso…
— Seungcheol descobriu. Acho que eu não sou o melhor em esconder esse tipo de coisa. Chan também descobriu faz um tempo, ele descobriu antes de mim, na verdade — fungou, sentindo o primo abraçá-lo pelos ombros. — E eu… não sei o que fazer agora. Eu não vou ser o cara que vai estragar um namoro de anos, mas eu simplesmente não sei como evitar todos esses sentimentos dentro de mim. É tão, tão forte… E piora tudo eu sentir que Jeonghan sente algo parecido, isso é torturante.
— Porra, como você demorou tanto tempo pra me contar essas coisas? — Soonyoung perguntou, virando para o mais velho e dando alguns tapinhas em seu ombro. — Por que caralhos você guardou tanta coisa por tanto tempo?
— Não é fácil, tá? Eu tô tremendo só por estar contando essas coisas pra você — contou, mostrando sua mão trêmula. — Eu não sei o que fazer, é só isso, eu me sinto tão sufocado.
— Você foi um idiota de não ter contato comigo — o Kwon suspirou. — Nem parece que você pedia minha ajuda pra esconder os cacos do vaso que você quebrou na casa da vovó, ou que pedia ajuda pra lavar os lençóis quando molhava a cama…
— Yah! Chega — cobriu a boca dele. — Por que você lembra dessas coisas?
Soonyoung riu anasalado, dando de ombros.
— Eu sinto saudade dessas coisas. Não de você molhar a cama, mas é que… — suspirou. — Você costumava me procurar naquela época, você exigia muito mais de mim. E, mesmo que a gente nunca tenha se separado nem nada assim, mesmo que você sempre estivesse do meu lado, eu sempre esperava pelo momento que você fosse voltar. Eu esperava que você contasse comigo de novo, porque eu sempre contei com você.
— Eu sei. Me desculpa — disse, num fio de voz, aproximando-se e o abraçando outra vez.
Abraçou-o com tanta força, querendo se redimir por todos aqueles anos em que se isolou, acabando por afastar uma das pessoas mais importantes da sua vida.
— Me desculpa — repetiu. — É que… Crescer não foi nada fácil, acho que uma das coisas mais traumáticas que já aconteceu comigo foi ter que deixar de ser criança. E eu não queria ser fraco, eu não queria ter que me apoiar em você, eu queria ser forte pra você se apoiar em mim, e não queria te preocupar.
— Isso só nos afastou…
— Eu sei, mas eu nunca quis que isso acontecesse. Você sabe que eu te amo, né?
— É claro que eu sei, seu idiota — sorriu, bagunçando os cabelos do mais velho. — Nós não temos o mesmo sangue, mas você é meu irmão e eu te amo.
Joshua acenou com a cabeça, apoiando-a no ombro do beta em seguida, deixando que as lágrimas rolassem mais uma vez.
Ficaram em silêncio por alguns segundos, observando o sol sumir e dar espaço para algumas tímidas estrelas.
— Sabe, eu… — Jisoo começou. — Às vezes, eu fico pensando no que aconteceria se minha mãe se separasse do seu tio. Eu sei que eles não dão indícios disso, mas você sabe que eles não conseguem ter filhos deles mesmos, e isso deixa os dois frustrados.
— É, eu sei. É injusto com eles, mas, sinceramente, se é pra eles terem um bebê pra criarem da mesma forma que você foi criado, talvez fosse melhor eles não conseguirem mesmo.
— Que coisa horrível de se falar — apontou o beta, mesmo que ele tenha soltado uma boa gargalhada.
Soonyoung o acompanhou, escondendo o rosto entre os joelhos.
— Eu sei, mas desculpa, é verdade — falou, apoiando as mãos atrás do corpo e olhando o céu. — Mas o que isso tem a ver com a gente?
— Sei lá, às vezes eu penso que, se acontecer deles se separarem, a gente não possa mais se ver, se minha mãe resolve voltar pros Estados Unidos — teve vontade de chorar só de pensar na possibilidade. — Eu tenho medo que isso nos afaste, também.
— Para com isso, você não iria conseguir se livrar de mim tão fácil — empurrou-o com o ombro. — E, na pior das hipóteses, se você realmente tiver que voltar pra América, você sempre vai poder voltar, eu sempre vou ser o mesmo. Sempre vou estar do seu lado.
Joshua sorriu, sentindo seu coração começar a bater tranquilo, talvez, pela primeira vez em muitos anos.
— É tão ridículo como eu fiquei me sentindo sozinho durante meses, anos… eu fui tão idiota assim de esquecer que eu tenho o melhor irmão do mundo.
— É o que eu tô tentando te falar!
— Depois de anos convivendo com você, a gente aprende a parar de ouvir porque você fala muito.
— Que ultraje! — Soonyoung exclamou, empurrando o outro.
Jisoo riu, segurando as mãos do alfa antes que ele lhe derrubasse do telhado.
— Obrigado por me ouvir — falou, puxando o alfa e o abraçando outra vez.
— Obrigado por confiar em mim — respondeu, dando batidinhas nas costas do primo.
— Então… O que você acha que eu devo fazer?
— Quanto ao Jeonghan?
Joshua acenou com a cabeça, olhando o mais novo à espera de uma resposta. Ele, por sua vez, suspirou pesado, erguendo os olhos para o céu, como se buscasse ali alguma ajuda.
— Realmente não sei. Que situação merda — murmurou.
— Antes de você saber que era o Jeonghan, você disse que, se estivesse no meu lugar, não iria desistir.
— Agora eu sei que é mais complicado que isso, calma lá! — defendeu-se.
— Você e o Jihoon são almas gêmeas. Se ele namorasse, você iria se conformar com isso?
Soonyoung bufou, batendo os pés e tremelicando seus dedos.
— Eu não sei — deu de ombros. — Eu tento não pensar nisso porque eu já penso demais. Mas, quando eu me aproximei dele, a gente era só amigo, mesmo ele sabendo que eu gostava dele, e pra mim aquilo bastava. Eu nem sabia que ele era minha alma gêmea mas… Acho que uma alma gêmea nem sempre é um amor romântico. Eu sei que é arriscado estar namorando com Jihoon, porque namoros podem acabar uma hora, e a gente se perderia. Namorados e namoradas vem e vão, sabe, mas uma amizade verdadeira é pra sempre.
O mais velho suspirou, deitando a cabeça entre seus joelhos.
— Queria pensar assim, eu tentei esquecer esses sentimentos, fazer eles desaparecerem, mas parece impossível.
— Hummm — Soonyoung pensou por um tempo. — Eu sei que não é sua praia, mas você pode tentar o método que eu usei pra tentar esquecer o Jih.
— Sair e beijar um monte de boca que você não conhece?
— É, ué — balançou os ombros. — Eu não vou ficar com ninguém, mas posso te acompanhar.
— Você sabe que eu não quero beijar nenhuma garota, né?
— Sim, você é gay, eu já entendi — retrucou, usando de um tom falsamente cansado, o que fez Jisoo rir.
— É — suspirou. — Eu sou gay.
— E como se sente falando isso?
— Horrível — choramingou, apesar de não estar mais chorando. — Mas, libertador na mesma medida.
— Mas, olha, os tios estão de plantão, pra variar — começou, cutucando o mais velho. — Então, o que me diz? Quer sair essa noite pra comemorar sua saída do armário?
— Você conhece algum lugar que a gente possa ir?
— Não, mas eu sei quem conhece — afirmou, levantando-se e estendendo a mão para ajudar o outro a fazer o mesmo.
Com cuidado, eles saíram do telhado e foram para o quarto que dividiam. Soonyoung incentivou o primo a lavar o rosto enquanto ele escolhia algo para que ele usasse na noite.
Enquanto revirava o guarda-roupa do Hong, o alfa pegou seu celular e discou o número, esperando ser atendido.
— O que foi? — Chan perguntou, despreocupado do outro lado.
— Emergência gay — anunciou, ouvindo o beta rir. — Conhece uma balada, um lugarzinho legal pra eu e Shua hyung irmos?
— Essa é uma pergunta muito estranha, mas vou mentir se falar que não estava esperando ansiosamente pra esse dia — disse divertido. — Conheço um lugar legal, não é muito grande, é discreto e só pessoas da comunidade sabem onde fica.
— Muito coisa de filme isso.
— Eu sei! É incrível — exclamou. — Eu te mando o endereço por mensagem e já mando o convite pra entrar hoje, muda toda noite mas eu sempre recebo.
— Sua vida é muito interessante, sabia?
— Sabia. Eu até iria com vocês, mas estou numa missão de irmão mais velho: é noite de filme — explicou. — Se divirtam e tomem cuidado.
— Valeu, Chan. Você é demais.
— De nada, hyung. E fala pro Shua hyung que tô orgulhoso dele.
— Pode deixar.
[...]
Jihoon estava sentado em sua própria cama. As mãos juntas serviam de apoio para seu rosto, enquanto ele ouvia Yoona chorando de longe e seus pais tentando acalmá-la. Como já passava de meia-noite, a bebê já deveria estar dormindo.
Por outro lado, Jeonghan estava jogado entre seus travesseiros, chorando como uma criança, enquanto Wonwoo andava de um lado para o outro, tentando entender e achar sentido no que o mais velho havia contado.
Quando Jeonghan os chamou para fazerem tipo uma festa do pijama, eles não acharam de todo estranho, já que estavam de férias e fazia algum tempo que não passavam tempo juntos.
Entretanto, mesmo tentando fingir — e conseguindo por algumas horas —, não demorou muito para o Yoon desabar e chorar tudo que estava guardando quando os amigos perguntaram se ele estava realmente bem.
— Ele só disse que não queria mais te ver? — Wonwoo perguntou.
Jeonghan acenou com a cabeça.
— E não aconteceu nada entre vocês? — Jihoon olhou o mais velho.
— Não, tava tudo normal até o dia no hospital — exclamou, sentando-se na cama e afastando algumas lágrimas. — Seungcheol também não me fala nada, eu tô tão confuso e tão perdido…!
— Ei, calma, a gente tá aqui — Wonwoo acalmou, sentando-se ao lado do outro alfa e o abraçando. — Talvez Shua hyung só precise de um tempo…
— Mas não é justo! — bateu o pé. — Só eu estou sem saber de nada!
— Hyung, calma, a gente vai entender tudo. Só tenta não gritar porque agora tem um bebê na casa — Jihoon disse, tentando acalmá-lo. — Você não falou mais com o Shua hyung depois disso?
— Eu tentei ligar pra ele hoje, mas ele só disse que não queria mais falar comigo — soluçou. — Não é justo ele só me cortar da vida dele desse jeito, como se ele não fosse a pessoa mais importante do mundo pra mim.
— Por Deus, eu vou acabar enlouquecendo — Wonwoo suspirou, voltando a andar de um lado para o outro. — Será que Soonyoung não sabe de nada?
— Deve saber, mas ele não me atende — Jihoon disse, soltando o celular sob a cama. — E, se Shua hyung não quer que ninguém saiba, eu duvido que ele vá contar, mesmo que seja pra mim.
— Porra, Jih, qual é, faz um esforço pra arrancar a informação dele! — Jeonghan disse, soando irritado.
— Primeiro, não grita comigo — mandou o ômega, ficando em pé também. — Segundo: Você também não conseguiu falar com seu namorado, que foi a última pessoa que estava com o Shua hyung antes dele sair do hospital correndo.
— Até parece que a gente tá investigando um homicídio — o Jeon murmurou.
— Meu coração foi esfaqueado, se isso contar — Jeonghan choramingou.
— Você não está exagerando um pouco? — Jihoon perguntou, recebendo uma pelúcia sendo jogada em seu rosto. — Ok, acho que eu mereci isso.
— Jihoon, você não entende. As duas pessoas que eu mais amo no mundo não falam mais comigo…
— Seungcheol te afastou também? — Wonwoo interveio, confuso.
— Não exatamente… — desviou o olhar. — Eu tentei conversar com ele, mas ele não me falou nada, eu me irritei e a gente acabou brigando. Vocês entendem o quão miserável eu tô agora?
Jihoon e Wonwoo se entreolharam.
— Acho que sim. Mas a gente não sabe como te ajudar — o mais novo murmurou. — Vocês três precisam conversar.
— Mas eu nem sei como reunir os dois.
— Claramente, aconteceu algo entre Seungcheol e Jisoo — Wonwoo apontou. — Será que eles brigaram?
— É possível, mas… sei lá, eles sempre se deram bem — o mais velho disse.
— Tem certeza disso? — o baixinho falou, virando para Jeonghan. — Seungcheol hyung sentia um pouco de ciúme do Jisoo…
— Que!? E como você sabe disso? — o alfa perguntou, aproximando-se.
Wonwoo suspirou e sentou-se novamente, apenas observando.
— Na festa de aniversário do Shua hyung, eu e Seungcheol hyung fomos pro quintal conversar porque ele estava irritado — começou. — Ele se abriu comigo e falou que sentia um pouco de ciúmes porque você e o Jisoo passavam muito tempo juntos.
— É, convenhamos, desde que você e Jisoo se encontraram, é difícil ver vocês separados — comentou o Jeon. — Não tô dizendo que é uma coisa ruim, é só que aconteceu e a gente entende, vocês são almas gêmeas e tudo, mas… você nunca parou pra pensar como Seungcheol se sente em relação a tudo isso.
— Não tem nada pra “sentir” — argumentou Jeonghan. — Jisoo é minha alma gêmea mas a gente é amigo, e Seungcheol nunca disse nada quanto a isso…
— Vocês brigaram no meu aniversário — Jihoon apontou.
— Mas não era sobre… isso — o alfa sussurrou, relembrando de algumas coisas. — Mas, não faz sentido, se é sobre isso, por que ele não veio falar comigo?
— Sei lá, mas eu não iria querer ser a pessoa que iria falar: para de falar com sua alma gêmea porque eu tenho ciúmes — explicou Wonwoo. — Acho que você só ficou tão encantado com encontrar sua alma gêmea que acabou não percebendo certas coisas.
— Seungcheol estava bem inseguro, e a gente não fala quando tá inseguro, né? — o ômega completou.
Jeonghan suspirou, sentindo ainda mais vontade de chorar e não hesitando em fazê-lo.
— Isso até que faz sentido, mas eu não tenho como saber, porque nenhum dos dois fala comigo — soluçou, voltando a abraçar Wonwoo e chorando em seu ombro. — O que eu faço?
Jihoon olhou para Wonwoo, que estava tão perdido quanto si.
— Eu não sei.
— Eu também não…
Um silêncio caiu sobre eles, apenas os soluços e fungadas de Jeonghan que podiam ser ouvidas. O alfa, que normalmente sempre se esforçava para parecer forte e ajudar os outros, agora estava chorando como uma criança, enquanto agarrava-se ao pescoço de Wonwoo com força, sentindo-se desamparado e esperando encontrar ali algum conforto.
— Hyung… — Jihoon começou, entretanto, perdeu a linha de raciocínio quando seu celular começou a tocar.
E antes que ele pudesse chegar ao aparelho, Jeonghan praticamente saltou na direção e atendeu a ligação.
— Ei!
— Soonyoung, pelo amor de Deus, eu preciso falar com o Jisoo! — ele exclamou, ignorando o ômega.
Jihoon puxou o aparelho das mãos do Yoon e o empurrou de leve quando ele tentou pegar de volta.
— Amor, o que foi? — perguntou, fazendo careta ao notar a música alta tocando no fundo.
— Jihoonnie — ele cantarolou. — Eu liguei pra falar que eu te amo. Muito, muito, muito, muito, muito, muito…
— Isso não tá ajudando — Jihoon sussurrou para os amigos. — Eu amo você também. Me diz onde você está.
— Shua e eu viemos comemorar que ele saiu do armário! — exclamou.
Jeonghan arregalou os olhos com a fala, levantando-se num pulo e puxando o celular novamente e colocando no viva-voz.
— Como assim!? É por isso que ele tá me ignorando!? — esbravejou o Yoon.
— Quem é que tá falando? Você não é meu namorado, sai daí, eu namoro! — Soonyoung retrucou.
— Eu falei que não ia dar certo — Jihoon disse. — Que horas você vai voltar?
— Não sei ainda — respondeu. — Só liguei pra dizer que eu te amo mesmo.
— Eu também te amo, Soon — suspirou novamente. — E Shua hyung está com você?
— Ele tá dançando no pole com outras pessoas — contou.
— Pelo amor da santa, o que fizeram com ele? — Jeonghan murmurou, jogando-se na cama.
— Tá, só se cuidem e avisa quando chegar em casa — o ômega pediu.
— Pode deixar. E mais uma coisa…
— Eu amo você, também.
Soonyoung sorriu do outro lado.
— Tchau.
— Viu? Ele tá bem — Wonwoo falou.
— Bem demais — o mais velho riu, mas lágrimas rolaram por seu rosto. — Acho que só eu tô sofrendo nessa história.
— Jisoo claramente está lidando com muita coisa agora…
— Mas por que ele precisa se afastar de mim? Por que ele não pode mais contar comigo? Ele sabe que não existe nada nesse mundo que possa fazer eu gostar menos dele…
— Você pode tentar falar com ele depois — Jihoon aconselhou. — Agora não adianta ficar remoendo, ele só precisa de um tempo pra ele entender.
— Então, ele finalmente entendeu a sexualidade dele depois de 20 anos — Wonwoo acrescentou. — O que a gente pode fazer agora é tentar se distrair e procurar uma solução amanhã.
Jeonghan fungou, concordando por não ter outras opções.
— Prometam que vocês nunca vão fazer uma coisa dessas comigo.
— Tá brincando? Você é meu melhor amigo, mesmo que tenha me trocado pelo Jisoo — Wonwoo disse, deitando-se ao lado do mais velho e o abraçando.
— É, a gente te perdoa por isso — Jihoon brincou, juntando-se aos amigos.
Jeonghan sorriu, sentindo-se um pouco melhor.
[...]
— Jisoo! — Joane gritou, entando no quarto dos garotos. — Acorda, tem alguém na porta te esperando.
O beta piscou lentamente, sua cabeça estava latejando e ele sentia muita sede.
Sentou-se na cama e olhou ao redor, Soonyoung estava dormindo em sua cama como uma pedra.
— Vamos! — a ômega disse. — Depois nós vamos conversar sobre o que vocês fizeram.
Revirando os olhos, Joshua levantou e desceu as escadas, encontrando quem o esperava na sala.
— Seungcheol?
Chapter 41: Maçã e canela
Chapter Text
— O que você tá fazendo aqui? — Jisoo perguntou, observando Seungcheol, nervoso.
O mais velho não respondeu, apenas levantou-se e deu alguns passos, respirando profundamente.
— Eu não sei, na verdade — riu sem humor.
— E você tem certeza que a melhor decisão é vir na minha casa? — cruzou os braços.
— Fica quieto, por favor — mandou, bufando impaciente.
Joshua suspirou, olhando para a escada, preocupado que sua mãe ou Seunghoon descesse e ouvisse a conversa.
— A gente pode conversar lá fora, pelo menos?
— Eu não quero conversar com você! — retrucou, irritado.
— Então, o que você veio fazer aqui?
— Eu não sei! Eu só… — cerrou os punhos. — Por que você fez isso?
— Fiz o que?
— Você sabe o que! — gritou, parecendo explodir, como o gatilho de uma arma.
Jisoo suspirou, descendo os últimos degraus da escada e indo até o pátio, sabendo que o local seria mais privado e que Seungcheol o seguiria.
— Onde você vai!? — ele ralhou.
Assim que chegaram ao quintal, Jisoo fechou a porta de vidro que levava até lá, virando-se para o mais velho.
— Seungcheol, eu não escolhi nada do que aconteceu — afirmou, tentando permanecer sério, mesmo que estivesse com vontade de chorar. — Eu não escolhi ser alma gêmea do Jeonghan, eu não escolhi conhecer ele, eu não escolhi me apaixonar por ele…
— Isso não importa, você fez tudo isso! Estava tudo perfeito entre nós antes de você chegar…
— Não é justo você querer jogar isso na minha cara! Minha vida antes de conhecer o Jeonghan era horrível, eu não sentia vontade de continuar vivo, foi ele que me trouxe um pouco de alegria — argumentou, vendo Seungcheol voltar a andar de um lado para o outro, como se não quisesse ouvir o que tinha a dizer. — Eu sei que é uma situação horrível, mas eu não pude evitar…
— Isso não importa, Jisoo! Porque já aconteceu, a merda já explodiu!
— Eu nem entendo por que você está aqui, eu me afastei de Jeonghan, eu não iria ficar entre vocês…
— E a troco de quê!? — riu bravo. — Ele não vive mais sem você. Nesses últimos dias, tudo que ele falava era de você, tudo que ele queria fazer era te ver. Você pode ter se afastado mas isso já não serve mais, porque você já… faz parte dele.
Joshua suspirou, rendendo-se às lágrimas.
Não era para Seungcheol estar lá. Estava tudo errado. Tudo que o mais velho falava era como um golpe em seu peito, a cada palavra seu coração se apertava mais e ele queria correr para longe.
Não queria se irritar e perder a cabeça, mas não achava justo ele estar ali o culpando por tudo que aconteceu, como se ele fosse o grande vilão da história.
— E o que você espera de mim? — Jisoo perguntou, sentindo-se derrotado.
— Eu só quero meu namorado de volta! — aproximou-se, cerrando os punhos como se estivesse pronto para bater no beta. — Eu não quero mais ver ele chorando por sua causa, eu quero que ele volte a ser como era antes de você!
— Então você veio pro lugar errado, porque eu não tenho como fazer isso! — empurrou-o. — Você acha que eu tô feliz com essa situação? Eu nunca me senti tão triste quanto nesses últimos dias. Eu me afastei da pessoa que eu mais amo porque eu não quero que isso acabe com o namoro de vocês…
— Ah! Que generoso! Eu deveria te agradecer!?
— Você deveria só ir embora e ficar com seu namorado, é isso que você devia fazer. Você vir aqui e descarregar toda essa raiva em mim não vai adiantar de nada! — exclamou. — Por que você está aqui? Nada do que você diga vai mudar como eu me sinto, não vai fazer eu voltar atrás, não vai fazer eu me arrepender porque Jeonghan é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida!
Seungcheol riu também, sentindo as lágrimas começarem a rolar por seu rosto.
No fundo, ele sabia que não tinha sentido estar ali. Ele não procurava uma solução, ele estava com raiva porque tudo que ele conhecia estava desmoronando e queria alguém a quem culpar. Estava irritado porque realmente sentia medo de perder Jeonghan.
— Você acha que eu não sei como é isso? — olhou o beta nos olhos. — Eu não sei como vocês se sentem quando estão juntos, mas eu sei que é algo bom, porque eu sinto que Jeonghan nunca foi tão feliz quanto ele é com você. Você acha que eu não tenho medo de perder ele? Você acha que eu não fico inseguro ao seu lado?
— Eu não sei o que você pensa, mas eu já fiz o que eu podia. Eu não vou mais me aproximar de Jeonghan…
— Se você fizer isso, você acha que ele vai ser feliz de novo? Ele não sabe mais viver sem você e isso que me deixa tão puto… — soluçou, baixando a cabeça. — Porque eu sinto que ele viveria sem mim.
Seungcheol cobriu seu rosto, começando a chorar como uma criança, soluçando e fungando.
Jisoo olhou-o sem saber o que fazer, sentindo-se tão mal quanto, chorando tanto quanto.
— Eu tenho tanta raiva de você, porra, eu odeio você… mas eu peço: por favor, traz meu namorado de volta, volta pra vida dele — o ômega pediu, segurando o tecido da camiseta do mais novo e apertando-o entre seus dedos.
— Eu não consigo, Seungcheol… Me machuca muito, eu não consigo. Eu não consigo mais ficar perto dele e fingir que eu não amo ele.
Seungcheol suspirou, indo até a sala para ir embora. Entretanto, antes de ir, virou-se para o beta.
— Eu sabia que era inútil pedir — falou, tentando regular a respiração. — Mas eu precisava tentar. Me machuca também, ver ele assim.
— Me desculpa…
— Para de se desculpar, isso é irritante — disse, saindo por fim.
Assim que ele foi embora, Jisoo sentiu como se tivesse perdido suas forças e sentou-se no chão, voltando a chorar alto, desesperado para tirar aqueles sentimentos de seu peito.
— Hyung, o que aconteceu? — Soonyoung perguntou, correndo até si.
O alfa havia acordado com as vozes altas, mas resolveu não interferir por ora, por não saber o que estava acontecendo ali. Mas, assim que desceu as escadas e viu Seungcheol indo embora, ele sabia que coisa boa não poderia ser.
Quando chegou perto o suficiente, abraçou-o apertado, tentando acalmar seu pranto.
— Eu não aguento mais isso, Soonyoung, eu não aguento mais! — berrou, apertando a camisa do primo entre os dedos com força o suficiente para rasgá-la.
— Tá tudo bem, eu tô com você — sussurrou.
— O que aconteceu? — Joane desceu as escadas, arregalando os olhos ao ver seu filho. — Soonyoung, o que ele tem?
Sem saber o que responder, o alfa apenas negou com a cabeça.
— Filhote, o que foi? — a ômega se aproximou, tentando trazer ele para seus braços, mas ele prontamente a afastou.
— Sai daqui, não me toca! — Jisoo gritava, empurrando sua mãe e Soonyoung para longe de si. — Saiam daqui!
— A gente só quer ajudar… — ela tentou argumentar.
Seunghoon também já havia descido as escadas para ver o que estava acontecendo.
— Eu não quero sua ajuda! — Jisoo continuou a berrar, agarrando os próprios braços e batendo os pés no chão. — E você não quer me ajudar, eu só quero ficar sozinho!
— Não fala isso! Eu sou sua mãe, eu quero te ajudar! Eu amo você!
— Não, você não quer! — gritou, parando de mexer-se e encarando a mais velha com todos aqueles sentimentos conflitantes em seus olhos. — E para de dizer isso, você não me ama! Seu amor vai sumir assim que você souber…! Você não me ama porque eu sou gay e você sabe disso! Você sempre me odiou por isso!
Segundos que pareciam eternos se passaram, fazendo crescer cada vez mais uma tensão frágil no ambiente, como se tudo estivesse prestes a desmoronar a qualquer momento e acabar com tudo que construíram até ali. Como uma calmaria antes de uma tempestade terrível.
Joane, então, levantou-se, caminhando pela sala de maneira perdida, como se tivesse levado um golpe que a deixou desnorteada.
— Não, você é.
— Eu sou!
— Não! Você não é! — ela gritou, desistindo do controle também. — Você não é porque eu não te criei pra ser assim!
— Cala a boca! — Jisoo disse, levantando-se também. — Você me criou pra ser alguém que eu não sou, e é essa versão de mim que você ama. Você não me conhece…!
— Eu conheço você! Você é meu filho! — rebateu ela, sua mandíbula tremia numa expressão de repulsa, sentindo nojo daquelas palavras.
— Oh, mas é aí que você se engana, mãe — Joshua disse. — Você convive comigo há 20 fucking anos, mas você não me conhece. Você conhece o menininho perfeito que você queria que eu fosse, mas adivinha? Esse menino não existe. E eu tentei fazer ele existir, porque eu tinha tanto medo de te decepcionar — riu irônico, andando de um lado para o outro. — Eu também tenho tanta pena de você, sabia disso?
— Cala sua boca…
— É, eu tenho uma pena do caralho de você, porque o papai foi embora, e eu não sei você, mas eu nunca soube o porquê dessa merda! — gritou enfurecido, chutando a mesa que ficava no centro da sala, derrubando o que havia em cima dela. — E você nunca se preocupou em me contar, também! “Vamos só nos mudar pro outro lado do mundo, quem sabe ele não esquece e vira a porra de um homem de verdade”, foi isso que você pensou!?
— Eu mandei você calar a boca! — ela exclamou, aproximando-se tremendo de raiva, usando sua pouca força e toda sua falta de autocontrole para tentar bater em Jisoo.
— Não! — Seunghoon disse, colocando-se entre eles e afastando a mulher com ajuda de Soonyoung.
— Você pode me mandar calar a boca e eu posso calar, se é essa porra que você quer, mas não vai mudar o fato de que essas coisas aconteceram e que eu sou assim! — rebateu o beta, tão alterado quanto a mãe. — E, caralho, pela primeira vez em todos esses 20 anos eu finalmente tô sendo eu mesmo! Eu finalmente tô falando tudo que eu guardei, tudo que eu escondi pra não ser mais uma decepção na sua vida! Mas é isso que eu sou, não é? A. Porra. De. Uma. Decepção! — disse pausadamente.
Por curtos segundos, encararam-se, respirando pesado, nenhum deles reconhecendo a pessoa que viam.
— Você escolheu isso — Joane respondeu, afastando rispidamente o toque do marido e do sobrinho. — Você sempre soube, eu sempre te disse, que eu preferia te ver morto do que com um homem…
— Sim, eu sei disso, caralho! Não teve um fucking dia que você não me lembrasse disso! — Jisoo voltou a gritar. — Por que você acha que eu tomei a porra daquelas pílulas aquela vez!? — fungou, dando alguns passos, então, disse calmo: — Você preferia me ver drogado, morto ou… seja lá qual a merda que você acha melhor. E eu tentei, viver era uma merda mesmo — riu, cerrando os dentes.
— Você não sabe o que está falando.
— Eu sei, sim. E eu também sinto tanta pena de vocês dois — apontou para a mãe e o padrasto. — Porque vocês não podem ter filhos de vocês, não é? Deve ser difícil pra caralho, eu imagino…
— Cala a boca — Joane pediu, começando a chorar.
— Deve ser difícil, porque vocês são médicos, são tão apaixonados, tentaram tanto… as fertilizações, o acompanhamento — riu anasalado, fungando e tentando inutilmente secar seu rosto. — Mas vocês não podem gerar um bebê, então todas as expectativas que vocês tinham tem que vir pra mim, né? É uma pena que eu não seja o filho que vocês queriam, principalmente você, Seunghoon, você se esforçou tanto pra fazer eu gostar de você pra eu ser só seu enteado gay, não é? E não seu filho de verdade…
— Você não sabe o que está falando! — a ômega gritou enraivecida, avançando no garoto e lhe acertando alguns tapas, dos quais ele tentava se defender.
— Você vê como isso machuca, porra!? — Jisoo berrou, segurando as mãos da mãe e a empurrando para longe de si. — Tá vendo como machuca você falar o que bem entender!? Como você acha que eu me senti ouvindo as coisas que você fala durante todos esses anos? Como acha que eu me senti quando entendi que você, minha mãe, que deveria me amar, me odeia só porque eu sou gay! Eu só tô devolvendo um pouco de toda essa dor que você me causou! E então, como é!? Você gostou?
Joane chorava compulsivamente, engasgando nos próprios soluços, agarrando-se ao marido como se o mundo estivesse chegando ao fim, e ela sentia como se, de fato, estivesse.
— É horrível, não é? — Joshua continuou, fechando os olhos ao chorar mais. — Todo dia eu acordava e desejava estar morto, mas adivinha, mamãe? Eu não me sinto mais assim, porque eu me apaixonei…
— Eu não quero saber! — a mulher exclamou. — Eu não consigo olhar pra você agora… sai da minha frente!
— Joane, não… — Seunghoon tentou falar, mas foi interrompido.
— Fica quieto! — mandou, virou-se para Jisoo em seguida.. — Sai da minha frente antes que eu faça algo pior…
O beta riu em escárnio, concordando com a cabeça e indo em silêncio calçar seus sapatos.
— Quer saber? Não precisa se preocupar quanto a isso — ele disse, olhando para a mais velha. — Você já me matou várias vezes por dentro, não tem nada que você faça comigo que pode ser pior que isso. E eu não vou me preocupar em voltar tão cedo.
— Onde você vai? — Soonyoung perguntou, mas foi ignorado.
Joshua bateu a porta com força, correndo para longe dali assim que pôde, deixando o ambiente pesado e hostil dentro da casa.
Com raiva, Joane pegou o primeiro objeto que viu na frente e jogou na parede.
— Acho que você está feliz agora, não é? — ela disse, a voz soando rouca pelos gritos e pelo choro.
Soonyoung piscou confuso quando percebeu que ela estava falando consigo.
— O que você disse?
— Você foi, foi e foi até que conseguiu, né? Finalmente, você conseguiu transformar… corromper meu filho pra ser igual você.
Não acreditando que estava realmente ouvindo aquilo, o alfa teve que pensar e associar por alguns segundos, até que sentiu seu sangue começando a ferver também.
— Vai… se foder — falou baixo, apontando na direção da ômega. — Se a cabeça de vocês não fosse tão fechada, se vocês não fossem burros pra caralho do jeito que são! — exclamou, afastando-se quando Seunghoon tentou se aproximar. — Se vocês não fossem tão ignorantes, tudo seria diferente. Vocês tinham o poder de fazer tudo ser diferente, mas vocês escolheram foder tudo! Vocês escolheram matar Jisoo, vocês escolheram odiar ele, me odiar, quando o mundo inteiro já nos odeia. É tudo culpa de vocês, merda!
Gritou, chutando alguns objetos que haviam ficado pelo chão durante a discussão, pegando suas coisas e indo até a porta.
— Onde você pensa que vai?
Sem dar uma resposta, Soonyoung saiu também. Ignorou os gritos de Joane e Seunghoon, apenas correu para o meio da rua, tentando encontrar Joshua, ir atrás dele, mas já não via nem sinal.
Não sabendo para onde ir, ele decidiu ir para casa.
[...]
— Nana, neném. Que a cuca vem pegar… — Jihoon cantarolava baixinho, embalando Yoona em seus braços. — Essa música é horrível, que tal eu cantar Bruno Mars?
Ele sorriu observando a irmã. Seu pai estava na cozinha e sua mãe estava dormindo no sofá ao seu lado.
A casa estava pacífica, silenciosa e calma, tanto que quase se assustaram quando ouviram batidas na porta.
Taesuk correu da cozinha para atender, surpreendendo-se ao ver Soonyoung e o estado que ele aparentava.
— Soonyoung, o que houve? — o ômega mais velho perguntou, tocando os ombros do garoto gentilmente para que ele entrasse.
— Eu hum… não, nada, é só… — ele murmurou. — O Jih tá em casa?
— Tô aqui, amor — aproximou-se, entregando Yoona para seu pai. — O que aconteceu?
Soonyoung apenas negou com a cabeça, sem saber como expressar qualquer coisa.
— Por que vocês não sobem pro seu quarto, filhote? — sugeriu Taesuk. — Eu chamo quando o almoço estiver pronto.
Jihoon concordou e segurou a mão do namorado, levando-o escada acima até seu quarto. Assim que entraram, Soonyoung sentou na cama e puxou seu celular, discando o número de Jisoo.
Por sorte, ambos estavam com seus aparelhos e não demorou muito para que o mais velho atendesse.
— Onde você está? — o alfa perguntou.
— Eu tô bem, não se preocupa — respondeu. — E você?
— Eu vim pra casa do Jihoon.
— Ainda bem. Eu… a gente pode se falar mais tarde?
— Promete que você não vai fazer nada?
— Prometo. Eu estou indo pra minha casa.
— Tá bem.
Então ele desligou, suspirando pesadamente. Jihoon, ainda sem entender, chegou mais perto, sentando-se ao lado de Soonyoung.
— Você tá bem, amor?
— Não — balançou a cabeça de forma negativa.
— Você quer falar sobre isso?
— Não — sua voz falhou ao passo que sua garganta criou um nó.
— Você quer ficar sozinho?
Ele fechou os olhos, rendendo-se às lágrimas.
— Também não.
— Tudo bem — o ômega sussurrou, chegando perto dele e o abraçando.
Acariciou os cabelos dele, deixando que ele chorasse em seu ombro.
— Eu tô com você.
[...]
Fazia alguns minutos que Joshua estava parado na esquina da casa de Jeonghan, buscando algum tipo de coragem para ir até lá e chamá-lo.
Ele precisava desesperadamente de Jeonghan, mesmo sabendo que doeria, era estranhamente bom sentir aquela dor. Ele só precisava sentir-se completo, e ele não sabia mais fazer aquilo sem o Yoon.
De onde estava, ele podia observar a casa e perceber que, provavelmente, os pais dele não estavam pois não havia nenhum carro estacionado, seu único receio era que Seungcheol estivesse lá também, seria ruim que ele estivesse.
Desistindo, ele virou-se para voltar, mas logo mudou de ideia, e caminhou rapidamente até a casa, antes que se arrependesse.
Respirou fundo e bateu na porta, esperando que ele estivesse em casa, secando seu rosto inchado.
Quando abriu a porta, Jeonghan arregalou os olhos, não acreditando que Jisoo estava ali, pensando que poderia ser sua imaginação lhe pregando uma peça.
Seus olhos encheram-se de lágrimas e, antes que o mais novo pudesse falar qualquer coisa, o alfa puxou-o para um abraço, tão forte e apertado que Joshua temia quebrar alguns de seus ossos, e ele não se importaria, se fosse o caso.
As lágrimas de Jeonghan molharam seu ombro, enquanto as mãos e os braços não deixavam que ele se afastasse, temendo que ele fosse embora, que ele desaparecesse de novo e levasse consigo uma parte sua, dando espaço para aquela tristeza e aquele vazio que o assolou durante aqueles dias que passou longe dele.
— Achei que tinha te perdido — Jeonghan sussurrou.
— Me desculpa — respondeu, apertando o outro também. — Eu ainda tô com medo, mas eu não quero mais mentir, eu vou ser sincero com você.
Chapter 42: Alecrim e Maçã
Chapter Text
Se Joshua fosse sincero, ele achava que não havia mais lágrimas para que ele pudesse derramar. Pensou que seu coração já havia sido destruído e tivesse secado de tanta dor e sentimentos que colocou pra fora naquele dia.
Mas, ele se enganou.
Ali, com Jeonghan, com a cabeça apoiada em seu colo, sentindo as mãos ternas lhe acariciando os cabelos e sentindo seu coração tão confuso dentro do peito, doendo tanto, mas tão feliz por estar ali, ele ainda chorava.
Ele estava preso em tanta coisa, mas estava com sua alma gêmea, estava completo, e aquilo era o suficiente, era tudo que ele precisava e queria no momento.
Ele podia ouvir e sabia que Jeonghan chorava junto de si. Mas não sabia dizer se por estar sentindo uma parte daquele vazio e turbulência que estava carregando, ou se ele chorava por estar consigo após ficar dias sem vê-lo, por ficar dias achando que havia acabado para sempre, que eles haviam acabado e se perdido depois de terem se encontrado.
Ele não tinha certeza de nada, mas estava se sentindo seguro e aquilo era o suficiente por enquanto.
Não souberam dizer quanto tempo demorou para que o pranto de ambos se acalmasse, mas era quase poética a forma como ele foi se acalmando ao mesmo tempo, quando os corações voltaram a bater na mesma frequência.
Quando, enfim, conseguiu respirar e sentir o ar voltar ao seus pulmões, Jisoo sentou-se na cama, secando seu rosto e erguendo os olhos para Jeonghan.
O mais velho sorriu para si, tocando suas bochechas delicadamente e afastando os últimos resquícios de lágrimas.
Joshua não conseguiu evitar um sorriso de aparecer em seus lábios, ele não lembrava quando havia sido a última vez que ele tinha sorrido.
Levou sua mão para o rosto dele, imitando seu gesto ao afastar as gotículas que escorriam de seus olhos.
— Por que você está chorando? — resolveu perguntar. Sua voz saiu rouca.
— Porque você tá chorando — Jeonghan respondeu, aproximando-se dele e o abraçando outra vez. — E eu senti tanta saudade, como se não te visse há anos.
— Eu senti sua falta, também. Muito — esfregou o rosto no ombro dele.
— Você não sabe o quanto me doeu quando você falou que não queria mais me ver… Como você pôde fazer isso? — brigou, afastando-se e estapeando-o sem força.
Jisoo sorriu pequeno, encolhendo-se para se proteger dos golpes.
Jeonghan o empurrou pelos ombros, derrubando-o deitado na cama e então deitou ao seu lado, abraçando-o novamente.
— Me desculpa — sussurrou, retribuindo o contato, apoiando a cabeça no ombro do mais velho. — Eu vou te contar toda a verdade, só não agora.
O alfa suspirou, respeitando a decisão, por mais que não estivesse totalmente satisfeito com isso.
— E o que você quer fazer agora?
— Eu quero ficar aqui, com você.
— E o que mais?
— Isso é tudo que eu quero fazer agora — murmurou, puxando o outro para mais perto.
— E quer fazer isso em silêncio?
Jisoo deu de ombros.
— Posso perguntar uma coisa, então? — o mais velho falou.
— Pode.
— Eu te machuco?
O beta ficou quieto por alguns segundos, pensando em como deveria responder.
Havia prometido a si mesmo que não iria mais mentir, nem para si, nem para os outros.
— De certo modo, sim — respondeu, por fim.
Jeonghan tencionou um pouco com a fala, ameaçando soltar o abraço, mas sendo impedido quando as mãos de Joshua buscaram as suas, mantendo-o perto.
— Por que? — Jeonghan perguntou outra vez.
— Eu não quero falar agora, mas eu vou te contar. Eu prometo — cruzou seu mindinho ao dele, mas não fez mais nada após isso.
— Você tá sendo muito estranho.
— Aconteceu muita coisa — explicou. — Eu briguei com meus pais…
— Isso já não é normal? — Jeonghan apoiou o cotovelo na cama, observando Jisoo.
— Dessa vez foi pior — suspirou. — Eu me assumi pra eles. Eu cansei de fingir, eu perdi a cabeça e deu uma briga muito feia.
— Sério? — sentou-se na cama, surpreso.
Joshua acenou com a cabeça, arrastando-se até estar com ela apoiada nas pernas do mais velho outra vez.
— Eu sou gay.
Jeonghan sorriu, segurando as mãos do amigo e cruzando seus dedos.
— Tô orgulhoso de você por conseguir dizer isso.
— Queria não me sentir tão mal falando isso — riu sem humor, apertando os dedos do alfa. — Mas é um começo… foi um péssimo começo, na verdade. Mas eu quero começar de novo, e fazer as coisas certo, mas é difícil e tem coisas que não vão poder continuar como estão.
— Como assim? — franziu as sobrancelhas.
— Eu não sei explicar, mas minha vida está emperrada no mesmo lugar, e eu preciso seguir em frente — olhou para o outro. — E eu vou começar hoje, mas eu preciso da sua ajuda.
— É claro, qualquer coisa por você — afirmou, sorrindo para tentar lhe passar alguma confiança.
— Agora, eu só quero ficar aqui, tá? — repetiu, estendendo suas mãos para que Jeonghan as segurasse.
O alfa acenou positivamente com a cabeça, cruzando seus dedos aos de Jisoo.
— Tudo bem se… Se eu perguntar como foi a discussão? — perguntou, incerto.
— Foi feia. Eu realmente perdi a cabeça, eu falei tudo que eu tinha guardado — suspirou, sentindo o choro ameaçando voltar. — Falei que minha mãe não me conhecia, e que ela não me amava, amava a versão de mim que ela queria que eu fosse. Eu sei que falei coisas que não precisava também, sei que provavelmente magoei ela, mas não era justo eu continuar aguentando tudo aquilo. Uma hora, ela cansou e mandou eu sair da frente dela, então eu vim pra cá.
Jeonghan ficou em silêncio por um momento, ouvindo atentamente tudo que o outro falava.
— E o que você vai fazer agora? Você vai voltar pra lá?
— Eu não quero pensar nisso agora — desconversou, sentando-se e estendendo seus braços.
Sem hesitar, o mais velho abraçou Jisoo, acariciando seus cabelos e aspirando a essência de maçã e canela que tanto gostava.
— Tudo bem, a gente pode pensar em outra coisa — sussurrou, plantando um selar rápido no rosto do beta.
— Sabe o que eu queria agora? — falou, afastando-se para que pudesse olhá-lo.
— Espera, deixa eu adivinhar — pediu, tocando o queixo com o indicador e erguendo os olhos. — Humm… Comer.
— Caralho, como você sabia?
— Sua barriga tá roncando desde que você chegou — apontou, dando risada quando o amigo revirou os olhos. — O que você quer comer?
— Adivinha isso também.
— Eu não consigo — choramingou, segurando a mão de Jisoo e o puxando.
Joshua riu, apreciando a forma como Jeonghan conseguia lhe fazer sorrir com tanta facilidade. Era tudo tão fácil perto dele, e lhe doía lembrar que teria que tornar tudo aquilo difícil.
— Vamos numa lanchonete? — perguntou, levantando-se da cama. — Acho que vai ser ótimo pra me distrair de tudo que aconteceu.
O alfa concordou, indo atrás dele e o abraçando apertado uma última vez antes de soltá-lo para então correr escada abaixo.
Enquanto discutiam para onde iriam, Jeonghan acabou lembrando que havia uma bicicleta na garagem, sugerindo que fossem nela para chegarem mais rápido, desde que o mais novo pedalasse, já que Jeonghan nunca havia aprendido a andar em uma.
Quando estavam prontos para sair, Jisoo subiu na bicicleta e esperou que o mais velho subisse nas penadas, mas, antes disso, ele recebeu uma mensagem no seu celular.
[Mensagem de: Cheollie♡]
oi Hannie
como vc tá, amor?
— O que foi? — Jisoo perguntou, notando a demora do outro.
— É o Seungcheol — murmurou, percebendo como o beta pareceu ficar tenso. — O que eu falo?
— Eu não sei…
— O que seria melhor agora?
Joshua suspirou, voltando a sentir aquela pontinha de culpa crescendo em seu peito.
— Não seria bom a gente se ver — respondeu. — É complicado…
— Vocês dois estão me irritando com essa história de não me contar o que tá acontecendo — bufou.
— Você vai saber, mas não nesse exato momento — argumentou, chegando perto dele. — Fala pro Seungcheol que você tá bem, mas ainda precisa ficar um pouco sozinho e que você vai falar com ele depois.
— Ok — disse, digitando a mensagem e enviando.
Ele olhou para Joshua em seguida.
— Você promete que vai me contar tudo?
— Eu prometo — concordou. — Anda, sobe aí. Tô morrendo de fome.
Jeonghan concordou e subiu nas pedanas, segurando-se nos ombros do amigo. Jisoo começou a pedalar, ouvindo o alfa voltar a tagarelar sobre qualquer coisa.
— Soo, a gente poderia ir no shopping! O que você acha? — perguntou, inclinando-se sobre o amigo para falar em seu ouvido, fazendo a pele alheia se arrepiar.
— Fazer o que lá?
— Eu sei lá, só achei que seria uma boa ideia. Pode te distrair das coisas que aconteceram hoje — sugeriu, apertando os ombros dele.
Jisoo riu pelas cócegas que sentiu, logo acatou a ideia.
[...]
— Shua, você viu? — Jeonghan exclamou, puxando a mão do amigo para chamar sua atenção.
Confuso pela empolgação, Joshua olhou para onde o amigo apontava.
— Parece legal, vamos lá?
O local em questão era uma exposição chamada "Eu, Vincent", que se tratava de um evento imersivo na vida e nas obras do pintor Van Gogh. A entrada era gratuita e, apesar de não ser o tipo de coisa que Jeonghan normalmente teria interesse, ele pensou que seria bom para distrair o outro.
— Podemos ir depois, eu quero comer — falou.
— Vamos pegar os ingressos antes — sorriu, puxando-o pela mão até a pequena fila para a retirada.
Aceitando, Jisoo deixou que o mais velho lhe levasse.
Pararam lado a lado e esperaram por um tempo. Na frente deles, estava um casal de mãos dadas, conversando de forma apaixonada.
— Na moral, odeio casal feliz — Jisoo sussurrou, chegando mais perto para falar no ouvido do alfa.
Em resposta, ele riu baixo, abraçando-o pela cintura para esconder o rosto em seu pescoço.
— Isso só vai durar até você encontrar alguém pra ser um casal com você — desdenhou, fazendo cócegas no mais novo.
Com um riso, Joshua afastou-se o suficiente para que pudesse segurar as mãos do outro.
— Não vou namorar tão cedo — negou, olhando para baixo. — E eu também não quero falar sobre isso.
— Aff, chato — Jeonghan revirou os olhos, cruzando seus braços em seguida. — Mas, ok, é alguma coisa. Você conseguiu se assumir e demorou 20 anos, daqui mais 20 você encontra alguém, acha que dá certo?
— Você acha mesmo que vai demorar 20 anos pra alguém me querer? — olhou o outro, ofendido.
— No mínimo, você não se abre pra ninguém — apontou.
— Nossa, por que será? — debochou, forçando uma voz boba. — Fácil pra você que é assumido desde criança.
— Ah, fazer o que se eu sempre fui uma criança viada? — suspirou, jogando um cabelo imaginário para trás.
— A gente devia falar mais baixo — sussurrou o beta, chegando mais perto dele. — Algumas pessoas estão olhando torto pra nós.
Sem discrição alguma, Jeonghan virou para ver as pessoas em questão, notando dois garotos atrás deles com olhares um tanto julgadores.
— Não liga pra eles — falou, segurando o amigo pelo braço. — Se alguém falar qualquer coisa, eu armo um barraco.
Joshua riu, puxando Jeonghan quando a fila andou e chegou a vez deles.
— Não faz isso — pediu, deixando que o amigo falasse com a atendente do local.
Pegaram dois ingressos para a exposição no horário que havia disponível, dali duas horas e seguiram para a praça de alimentação.
Enquanto Jeonghan falava sobre Van Gogh, eles caminhavam com calma até o restaurante desejado, as mãos estavam juntas e entrelaçadas, de uma forma que era até normal acontecer entre eles, como se estivessem sempre buscando um ao outro.
— Sem ofensa, mas como você sabe tanto sobre Van Gogh? Não é muito sua cara se interessar por essas coisas — comentou Jisoo, prendendo um riso ao ver o olhar ofendido do amigo.
— Pra sua informação, eu aprendi no primeiro ano quando tive que fazer um trabalho de artes sobre ele — explicou, fechando os olhos e empinando o nariz. — Tá certo que eu fiz o Jihoon fazer toda pesquisa pra mim, mas ele me fez ler todo o texto depois.
Com a confissão, Joshua riu outra vez.
— Sabia que essa história estava mal contada.
— Cala a boca — resmungou, apesar de sorrir. — O que você quer comer? Eu pago pra você.
— Nem vem, eu vou pagar porque estou com o cartão de crédito dos meus pais — gabou-se, mostrando o cartão. — Acho justo eu dar algum prejuízo com 20 anos de atraso.
— Você não vale nada, sabia?
— Eu sei, e você me ama mesmo assim — mexeu as sobrancelhas, Jeonghan riu.
— É, eu amo.
Após terminarem de comer, os garotos voltaram a caminhar pelo shopping. Ainda faltava em torno de uma hora e meia até começar a exposição, então eles resolveram aproveitar aquele tempo livre para olhar as vitrines e lojas.
Quando passaram por uma qualquer, foi que Jeonghan puxou o mais novo, alegando que uma peça em específico era sua cara e o empurrando para o provador.
— Eu não vou fazer isso — Joshua negou, tentando desviar das mãos que lhe empurravam. — Qual é?
— Para de ser chato, a gente tá com tempo mesmo — argumentou o alfa. — É só pra gente se divertir. Você não precisa comprar nada.
Jisoo revirou os olhos, cedendo um pouco.
— Então, você vai ter que experimentar, também — barganhou.
— Feito — Jeonghan concordou sem hesitar, pegando algumas peças quaisquer e empurrando o amigo até o primeiro provador que estava vazio, fechando os dois ali dentro.
— O que você tá fazendo? — perguntou, sentindo o coração acelerar, ao passo que o mais velho parecia totalmente relaxado, rindo travesso.
— Ninguém vai ver a gente — afirmou, pendurando as roupas nos cabides disponiveis. — Anda, experimenta essa, acho que vai ficar bem em você.
— Eu não vou ficar sem roupa na sua frente — negou, dando um tapa na mão arteira que tentava lhe despir.
— Qual o problema? A gente é amigo — cruzou os braços.
Joshua o encarou por alguns segundos, buscando uma resposta para se justificar sem ter que confessar tudo que estava sentindo. E aquela não era a hora, então ele poderia engolir por mais algum momento, não era nenhum doido também, não morreria de ver o outro sem camisa, não é?
— Você só tá tirando vantagem de mim — reclamou, cedendo a vontade do outro.
Jeonghan riu, negando com a cabeça.
Felizmente, o provador era grande o suficiente para os dois caber ali sem se esbarrar.
— Não se preocupa, não vou abusar do seu corpinho puro e inocente — retrucou.
— Vai se foder — xingou, rindo da provocação barata.
Mesmo sem ter a intenção de levar nada, ficaram ali por um tempo, provando as roupas e julgando como ficaram no outro, tirando fotos no espelho e fazendo poses sem sentido, tudo aos risos baixos para não serem pegos.
Depois de algum tempo, saíram do local e deixaram todas as peças que levaram, levando consigo apenas um par de camisetas iguais, que concordaram em usar juntos, e claro que Jisoo pagou com o cartão de crédito.
Com a sacola em mãos, saíram da loja ainda rindo como crianças pela brincadeira que fizeram, animados sem grandes motivos.
Seguiram até a livraria, mesmo que Jeonghan não fosse o maior fã de leitura, ele sabia que Jisoo gostava, principalmente de poesias e mangás.
Ele observou em silêncio o amigo pegando um livro atrás do outro e folheando as páginas, procurando algo interessante.
— Olha que bonito — ele disse, chegando perto de si e mostrando uma poesia em particular.
É como se eu te conhecesse, bem antes de te conhecer.
— É quase a gente — constatou o alfa, sorrindo doce para o outro.
Jisoo sorriu tímido, deitando a cabeça em seu ombro, voltando a olhar as demais poesias.
— Promete que nunca vai me deixar de novo? — o alfa perguntou, sentindo-se um tanto nervoso por ter que voltar àquele assunto.
Sua mão buscou a de Jisoo, tocando seu mindinho e esperando por uma resposta, que demorou mais do que ele esperava para vir.
— Eu não gosto de prometer coisas circunstanciais — ele disse. — Mas, você já é parte de mim, como eu poderia te deixar? É impossível.
— É mesmo? — olhou-o.
— Eu acho que sim — sussurrou. — Mas, quem sabe, as vezes só um tempo separados.
— Não tô gostando do rumo dessa conversa…
— Foi você que começou.
— Eu sei, mas era só pra você prometer que nunca vai me deixar — cruzou os braços.
Jisoo suspirou, desviando o olhar por um momento, concentrando-se para que não chorasse.
— Você vai entender melhor depois, mas, por ora, eu prometo — sorriu, tentando passar confiança para ele.
Jeonghan deu-se por satisfeito com a resposta, mesmo que não estivesse totalmente, e acenou positivamente com a cabeça, voltando a cruzar seu braço ao de Jisoo.
— Vai querer levar algum? — o mais velho perguntou, referindo-se aos livros.
— Agora não — negou. — E você?
— Acho que a camiseta já foi o suficiente — riu baixo. — Seus pais vão me odiar.
— Não por isso, acho que eles já não gostam de você — deu de ombros.
Jeonghan fez bico.
— Eu nem fiz nada pra eles.
— Bem, de certo modo, você me influenciou a sair do armário — riu baixo.
— Não, isso foi você — disse, abraçando o amigo. — Você teve coragem pra dar esse passo.
— Não exatamente — suspirou. — Mas não vamos voltar nesse assunto.
— Certo, certo. O que vamos fazer agora?
— Acho que já podemos ir na exposição, né? — ponderou o beta, olhando o relógio em seu pulso.
— Você parece um velho, me dá isso — mandou Jeonghan, tirando o acessório do amigo e guardando em seu bolso.
— Ei! Devolve — pediu, estendendo a mão.
O mais velho não o fez, apenas riu baixo e apertou o rosto de Jisoo entre suas mãos.
— Você é tão fofinho — falou, sorrindo bobo em sua direção.
Joshua revirou os olhos, virando o rosto quando sentiu suas bochechas corando ao passo que seu coração acelerava. Ele não sabia dizer se gostava ou se odiava aquela sensação, talvez fosse um pouco dos dois.
— Vamos — murmurou, segurando a mão do alfa e o puxando até o elevador para que fossem até o evento.
Jeonghan aproveitou que estavam sozinhos para tirar mais algumas fotos no espelho, abraçando Jisoo apertado e o fazendo rir ao cutucar suas costelas.
— Por que tá tirando tanta foto hoje? — Joshua quis saber.
Em resposta, o alfa encolheu os ombros, voltando a ficar o mais perto que podia do outro.
— Só pra ter recordações nossas.
Jisoo mordeu a língua quando pensou que aquele dia talvez não fosse uma lembrança feliz, mas ficou quieto, apenas concordando com a cabeça para aceitar o que foi dito.
Após esperarem na fila por pouco tempo, eles entraram na exposição. Uma guia explicou brevemente como funcionaria e logo entraram na primeira sala, que era escura e foi iluminada pelos projetores que imitavam uma das obras de Van Gogh, Noite Estrelada Sobre o Ródano, como se realmente estivessem dentro da pintura.
Ao fundo podia-se ouvir uma melodia suave de um piano, ao mesmo tempo que uma voz masculina começou a ler uma das cartas que o pintor havia escrito:
"Na vida de um pintor, a morte talvez não pareça algo difícil de acontecer. Eu mesmo, declaro que não sei nada sobre isso, mas a visão das estrelas sempre me faz sonhar. Porque, digo a mim mesmo, os pontos de luz no firmamento são inacessíveis para nós. Talvez precisemos da morte para alcançar uma estrela e morrer de velhice para chegar lá a pé. No momento, eu vou para cama porque é tarde, e desejo-lhe boa noite e boa sorte, de coração aberto. Com amor, Vincent."
Sem perceber e sem entender o motivo, Jeonghan buscou a mão de Jisoo novamente.
Por mais que o alfa não fosse o maior fã ou o maior expert do assunto, ele sabia que não precisava de um intelecto elevado ou um doutorado para apreciar a arte, pois aquilo que ela tinha de tão incrível: unir as pessoas somente pela beleza e poesia.
Ele olhava tudo ao redor, maravilhado pelo que via, ouvia e sentia, e sentia-se ainda mais realizado por estar ao lado de Jisoo, aquela pessoa que ele tanto amava e considerava. Ele também sentia uma vontade estranha de chorar, como se eles estivessem fazendo alguma contagem regressiva que levaria a algo triste…
Tentando não afundar-se nesses pensamentos, Jeonghan olhou para Joshua, vendo que o amigo havia sucumbido aquele sentimento e chorava silenciosamente, tocado por tudo que via, ouvia e sentia.
Com um sorriso singelo, Jeonghan se aproximou e secou uma lágrima do rosto alheio.
Sem dizer nada, continuaram o passeio, entrando em mais salas imersas em obras diferentes, observando e admirando cada detalhe novo, fazendo alguns comentários e tirando algumas outras fotos para guardar aquele momento.
Mais ou menos uma hora depois, saíram do local. Jisoo tinha o rosto inchado pelas lágrimas que foram impossíveis de segurar.
Depois de enxugá-las, continuaram andando pelo shopping, sem rumo definido, apenas deixando-se levar pelos passos e pela conversa sobre o que acharam da exposição.
O sol já havia se posto quando saíram de lá e seguiram para o estacionamento onde haviam deixado a bicicleta.
— Alguma ideia do que fazer agora? — Jisoo perguntou, segurando o guidão da bicicleta e andando para fora do estacionamento.
Jeonghan deu de ombros.
— O que você quiser.
Jisoo fez um bico pensativo, montando na bicicleta e esperando o mais velho subir também.
Sem ter certeza para onde, o beta começou a pedalar, apenas aproveitando o clima gostoso que estava fazendo naquela noite, parecia que o verão estava chegando.
— Eu tenho uma ideia — ele disse, após um tempo.
[...]
— É só não olhar pra baixo! — Jisoo exclamou, segurando firme o guidão e o banco da bicicleta, enquanto o alfa tentava pedalar a sua maneira medrosa.
Eles sabiam que a ideia de tentar ensinar Jeonghan a andar de bicicleta após terem comprado algumas latinhas de cerveja e uma garrafa de vodka não era das melhores, mas a pequena quantia de álcool já presente em seus organismos não os deixava pensar profundamente em suas ações.
— Não me solta, por favor! — Jeonghan choramingava, pedalando devagar, com Jisoo tendo certeza de que não cairia.
— É só pedalar e não olhar pra baixo, olha pra frente — explicou, tocando o rosto do amigo, forçando-o a mirar retamente. — Vai, pedala!
Apertando os lábios numa linha reta, Jeonghan fez o que foi mandado, pedalando cada vez mais rápido, alcançando uma boa velocidade e equilíbrio.
— Isso aí! — Joshua gritou animado, rindo contente ao correr atrás do mais velho. — Você conseguiu!
— Eu consegui! — o alfa comemorou, andando em círculos pelo pequeno estacionamento da loja de conveniência. — Caralho, eu sou muito foda!
— Você é foda! — Jisoo gritou também, erguendo os braços.
Com um sorriso quase rasgando seu rosto, Jeonghan parou o veículo e correu de encontro ao amigo, abraçando-o com força o suficiente para erguê-lo do chão e dar rodopios.
— Você me ensinou a andar de bicicleta, você é demais! — ele exclamava, sentindo-se agraciado pelo riso alto do amigo.
Quando finalmente o pôs no chão novamente, Jisoo abraçava seu pescoço e não se afastou dele, nem ao menos cogitou fazê-lo.
Apertando-o mais, Jeonghan o puxou para mais perto, apoiando a cabeça em seu ombro e inspirando a essência do outro, e sentiu que ele fez o mesmo.
— Eu amo você, sabia? — Jeonghan murmurou.
— Eu sei — respondeu num sussurro. — Eu também amo você.
Ainda sorrindo, o alfa afastou-se o suficiente para que pudesse ver seu rosto, abrindo mais o sorriso somente por vê-lo.
— Eu sei de um lugar legal pra irmos agora — foi Jeonghan quem disse.
Com a sacola de bebidas em uma mão e Jisoo na outra, Jeonghan correu até a bicicleta, pronto para levá-los até o local em questão.
Caminharam por algum tempo, Jisoo tomou a bicicleta depois, seguindo as direções do alfa para chegar onde ele queria.
Ele iria admitir que era muito bonito e que valeu a pena a caminhada de quase uma hora até estarem em um ponto alto da montanha. Não era o mais alto, mas o suficiente para que vissem a cidade iluminada.
Era perto das oito da noite quando chegaram lá, ainda haviam outras pessoas e turistas pelo lugar, mas conseguiram ficar em um cantinho mais afastado, onde sentaram-se lado a lado e dividiram o álcool que compraram, aproveitando em silêncio aquele primeiro-último momento.
— Você gostou do dia de hoje? — Jeonghan perguntou.
— Muito. E você?
— Pra caralho — abraçou-o de lado. — A gente pode fazer isso mais vezes.
Jisoo levou alguns segundos, mas respondeu:
— Talvez.
Pegou sua latinha e bebeu alguns goles, buscando a coragem que precisava para começar o que queria.
Com um suspiro pesado e mãos trêmulas foi que ele disse:
— Quem você acha que nós éramos em vidas passadas?
Jeonghan o olhou, um pouco confuso pela pergunta, mas pensou seriamente em sua resposta.
— Não sei dizer. Talvez um par de lontras.
Joshua riu pela resposta inusitada, cuspindo um pouco de cerveja.
— Como assim?
— Sei lá, não é muito nossa cara ser duas lontras que ficam dormindo de mãos dadas pra não se perderem? — tentou explicar seu ponto, o que só fez Jisoo rir mais alto.
— Pode ser — deu de ombros. — Mas, falando sério, você acha que a gente já se encontrou em outras vidas?
— Eu acho que sim. Não pode ser algo novo essa sensação que eu tenho de te conhecer a vida inteira — disse Jeonghan, tocando a mão do outro. — Na mesma hora que eu te vi, eu sabia que você era alguém importante e eu sabia que iria precisar de você.
Jisoo suspirou, sentindo sua garganta se fechando com um nó.
— Jeonghan, eu preciso que você faça algo por mim, talvez a coisa mais difícil que eu já pedi. E não importa o que você precise dizer, eu preciso que você diga — falou, tentando respirar com calma, mas falhando.
O alfa também começava a ficar nervoso pelo assunto, não estava entendendo onde ele queria chegar.
— O que eu tenho que fazer?
Joshua fechou os olhos, respirando fundo antes de dizer num só sopro:
— Eu preciso que você quebre meu coração.
Dez, vinte, trinta segundos de um silêncio agonizante entre eles.
O beta já não tentava lutar contra suas lágrimas.
— Como assim? — Jeonghan perguntou.
— Eu… — engoliu em seco, fazendo uma careta desgostosa, mirando qualquer coisa que não fosse Jeonghan. — Que merda — sussurrou. — Eu sou apaixonado por você, Jeonghan. Não é um pouco, não é que eu te ame como meu amigo, eu te amo de verdade, como eu nunca amei ninguém.
— Jisoo…
— Eu preciso que você me diga a verdade, que você nunca sentiu nada por mim, que eu não tenho a mínima chance… qualquer coisa que faça ser mais fácil de esquecer esses sentimentos porque dói pra caralho ficar perto de você — confessou, cobrindo seu rosto.
— Soo, eu… porra — Jeonghan suspirou, empurrando seus cabelos para trás em frustração. — É sério?
— É sério pra caralho.
— Há quanto tempo você… quanto tempo que…?
— Eu não sei direito, talvez desde que eu te vi pela primeira vez, ou qualquer momento, isso não importa agora — afirmou.
— Por que você escondeu por tanto tempo?
— Não era fácil, né? Ainda não é, mas… agora eu já joguei toda merda no ventilador, já me assumi pro meus pais — fungou. — E é tudo por sua causa, porque você me dá coragem pra continuar, e é ridículo que eu espere que você sinta o mesmo, mas eu esperei… essa parte mais idiota minha ainda sonhava que você sentiria o mesmo, algumas vezes eu acreditava — riu, mesmo que ainda chorasse, estava rindo de si mesmo. — E eu preciso que você não me deixe pensar nisso de novo, me faça te odiar se conseguir, porque isso seria tão mais simples…
— Eu não quero que você me odeie — Jeonghan disse, rendendo-se ao choro também. — Que droga, me desculpa, Soo. Eu não fazia a menor ideia, eu… eu nunca imaginei que…
— Eu sei, mas você não precisa se desculpar, eu me apaixonei sozinho.
— Por que?
— Eu não sei… não me pergunta porquê, eu só sei que tem que ser você. Mas meu coração está cansado demais, eu preciso que essa seja a última vez.
Jeonghan fechou os olhos, abraçando seus joelhos. Sentia vontade de gritar, de brigar consigo mesmo por nunca ter percebido nada, por nunca ter sequer imaginado.
Sentia-se burro, um verdadeiro idiota por nunca ter olhado para os lados, talvez estivesse tão encantado com Jisoo, tão feliz de ter achado a outra metade de sua alma, que acabou não pensando em mais nada.
Era como se o mundo ao seu redor estivesse caindo, quase conseguia ouvir tudo dentro dele desmoronando, mas o silêncio entre eles ainda era real, Jisoo ainda esperava uma resposta, ainda esperava que fizesse alguma coisa.
Mas Jeonghan não conseguia. Ele não queria machucar Jisoo, ele nunca iria machucar Jisoo… Mas ele já havia o machucado, lhe doía pensar em todas as vezes que o fez chorar sem saber, o quanto ele sofria por estar com todos aqueles sentimentos guardados e, ainda assim, colocando um sorriso no rosto e indo lhe ver sempre que precisava.
De repente, Jeonghan sentia como se tudo que tivessem vivido até ali fosse uma mentira, como se a felicidade que ele sentia quando estava com Jisoo só fosse real para si mesmo, e isso fazia com que sentisse ainda mais vontade de chorar.
Cansado daquele silêncio, foi que Jisoo falou:
— Você não precisa me machucar pra isso — tentou explicar. — Quer dizer… vai doer, é óbvio, mas você não precisa dizer coisas que não são verdadeiras. Só… Só faz esse meu coração idiota entender que você não me ama desse jeito…
— E que jeito? — riu triste, olhando para ele. — Eu te amo tanto, só que… é diferente de como eu amo Seungcheol — soluçou. — Não é algo ruim, eu te amo como meu melhor amigo, como alguém que sempre teve um espaço na minha vida, mesmo que eu tenha demorado quase vinte anos pra te encontrar, como meu confidente pra vida toda… e não é que eu ame mais ou ame menos, mas… pra mim, o que nós temos é o único ponto seguro da minha vida, porque eu tinha certeza de que sempre seria eu por você e você por mim. Isso não é o suficiente pra você?
— Eu queria que fosse — respondeu. — Eu queria não sentir tudo isso, mas… como eu poderia não me apaixonar por você? Você… você foi a luz pra mim, conhecer você trouxe um colorido pra minha vida, por muitos dias, você foi a razão pela qual eu levantava de manhã. E eu não tenho como mudar o que eu sinto, pelo menos não agora. Eu só preciso que você seja honesto comigo.
Jeonghan suspirou, deixando-se chorar livremente.
— Você começa, então.
Jisoo respirou fundo, sentindo seu coração doendo dentro do peito, mas ficando mais leve conforme deixava que as palavras corressem livres.
— A verdade é que eu não quero dividir você com mais ninguém, porque, na verdade, eu nem sei mais como viver sem você. Eu preciso de você pra existir — confessou, atrevendo-se a olhar Jeonghan nos olhos. — Se eu tivesse a mínima chance de estar com você, eu… eu não iria precisar de mais nada, porque você é tudo que eu preciso, e é assim que eu me sinto na maior parte do tempo e me machuca tanto saber que você não precisa de mim como eu preciso, porque eu cheguei tarde demais na sua vida, se as coisas tivessem sido diferentes antes, talvez… a gente tivesse uma chance de dar certo.
Jeonghan suspirou, processando tudo que foi dito.
— Talvez — sussurrou, a voz quebradiça pelo choro dolorido. — Mas, se fosse pra ser diferente, teria que ter sido há quase cinco anos atrás, porque foi quando eu conheci o Cheol. E eu o amei desde a primeira vez que eu vi ele. Eu só demorei alguns meses pra dar uma cantada barata qualquer e ver no que dava, ele me ignorou mas eu continuei, porque eu sabia que se eu desistisse dele, eu nunca encontraria ninguém parecido, e, até hoje, eu nunca achei. Ele foi meu primeiro namorado, minha primeira vez, minha primeira briga, minha primeira reconciliação, meu primeiro amor… e ele vai ser o único, eu sei disso. Porque eu amo ele demais, Jisoo, tanto que me leva a pensar que eu escolhi ele nessa vida e escolheria em milhões de outras, porque eu sinto como se uma só vida ao lado dele não fosse o suficiente.
Joshua soluçou, sendo forçado a ouvir e absorver cada uma daquelas palavras. Sabia que havia pedido, sabia que precisava ouvir, mas não deixava de doer, seu coração não deixava de sangrar.
— Nós não temos nenhuma chance, não é?
— Não do jeito que você espera — respondeu, abaixando os olhos. — Como nós vamos ficar depois disso?
— Não vamos — afirmou. — Não consigo ficar perto de você sem me machucar.
Jeonghan apenas chorou mais.
— Não é justo…
— Eu sei, me perdoa. Eu consegui estragar tudo — escondeu o rosto entre os joelhos.
Jeonghan, cauteloso, aproximou-se, abraçando o outro, sentindo seu peito doer tanto quanto o apertava e só doía ainda mais entender que Jisoo também sentia aquela dor.
— Como a gente conseguiu foder o maior amor do mundo? — perguntou-se.
Joshua riu sem humor, retribuindo o abraço.
— Eu não sei.
O caminho até a casa de Jisoo foi rápido e silencioso, não havia mais nada que pudesse ser dito.
Quando pararam na frente do portão, entretanto, era como se estivessem presos ao chão, não sabendo como se despedir. Jeonghan estava com muito medo daquele adeus, pois ele temia que aquilo seria para sempre.
— Me desculpa por tudo — Jisoo falou, de repente. — Eu não queria te fazer passar por nada disso. Eu sei também que… eu entendi que já é tarde demais pra mim agora, mas eu também sei que vou te reencontrar numa próxima vida, e eu prometo que não vou demorar tanto pra ir até você.
Jeonghan suspirou, negando com a cabeça, ao passo que as lágrimas voltaram a rolar por seu rosto.
— Eu não quero outra vida, Soo. Eu quero essa — falou baixo, chegando mais perto para segurar as mãos dele. — Eu não quero esperar tanto tempo pra te encontrar de novo, eu preciso de você aqui, agora. Porque você é meu melhor amigo, a melhor parte de mim, a parte que eu preciso.
Jisoo não conseguiu responder.
— Mas... — o alfa continuou. — Mas eu entendo agora que te machuca estar comigo. Me desculpa, também, por toda dor que você sentiu. Mas eu quero acreditar que nada disso vai ser pra sempre, e que também não vai levar uma vida pra ser diferente. Espero que a gente possa se encontrar de novo em breve.
— Eu também — murmurou.
Sem quaisquer outras opções, Jeonghan apenas pôde pegar a bicicleta e voltar para casa.
Tomando seu último resquício de coragem, Joshua entrou em casa, encontrando tudo exatamente como estava quando saiu pela manhã.
Joane e Seunghoon estavam na sala, sentados no sofá sem dizer nada, mas Jisoo sabia que provavelmente eles haviam passado o dia todo ali, conversando. Se o amaldiçoando ou buscando alguma solução, ele já não sabia dizer.
— Onde você estava? — a mulher perguntou.
— Eu estava com Jeonghan — foi sincero. — Eu contei tudo pra ele, contei que sou apaixonado por ele e eu já sei que nada vai poder acontecer entre nós.
— Então acabou? Era disso que você precisava?
Joshua sentiu vontade de chorar, mas apenas riu, sem forças para brigar.
— Eu não entendo o que você quer dizer, mãe. Eu não tenho chances com ele, mas isso não muda o fato de eu ser gay. E, sendo completamente honesto, em toda essa história, nesse momento, talvez essa seja a parte que menos importa.
— Joshua…
— Deixa eu falar — ele disse, firme. — Agora, eu ser quem eu sou, talvez, seja o menos importante. Vocês não se perguntaram em nenhum momento como eu me sinto, vocês nunca se perguntaram se eu amo realmente Jeonghan, nunca me perguntaram. E em partes eu entendo que vocês só não ligam, mas eu o amo, como nunca amei ninguém e como nunca vou amar. E isso já não importa, porque eu cheguei tarde, porque ele já ama outra pessoa. E eu penso com muita mágoa que se eu tivesse tido um pouco mais de coragem, talvez eu pudesse ter encontrado ele mais cedo, então, talvez, não fosse muito tarde pra mim… pra nós. Mas é, apenas é, e eu só posso aceitar e me conformar com isso: que a pessoa que eu amo não me ama. Mas isso não muda quem eu sou, ou vou ser, e não muda o fato de que eu cansei. Eu não aguento mais fingir, eu não vou mais me esconder atrás dessa imagem de família perfeita que vocês montaram. Eu sinto muito não ser o filho perfeito que você queria, mãe, eu sinto muito que o papai foi embora e sinto muito que vocês não podem ter os filhos de vocês, mas eu não nasci pra cumprir as expectativas de ninguém e eu passei muitos anos da minha vida pensando o contrário, mas eu cansei disso. Eu vou viver a minha vida.
Após ouvir tudo que o filho tinha para falar, Joane disse séria, apesar de chorar:
— Não pense que vai fazer isso aqui. Se quiser se tornar outra pessoa, pode ir embora, mas não espere que eu te aceite de volta quando se arrepender.
Como se tivesse levado um soco no estômago, Jisoo apenas conseguiu concordar.
— Você diz que não me conhece, mas eu também acho que não te conheço mais — ele falou, tão machucado que chorar não era mais o suficiente. — Adeus, mãe.
Foi a última coisa que ouviram antes dele sair novamente pela porta.
— Você vai se arrepender disso mais tarde — Seunghoon falou, decepcionado mas cansado demais para discutir.
[...]
— Tem certeza que não tem problema? — Soonyoung perguntava quase incessantemente ao ajudar Taesuk a encher o colchão inflável.
— A gente pode ir pra outro lugar… eu posso ir pra outro lugar — Jisoo falou.
— Não diga bobagens — mandou o mais velho. — Até parece que iria deixar vocês dois desamparados.
Quando saiu de casa, sem opções, Jisoo foi até Soonyoung, que era seu único refúgio no momento. Ele não esperava receber abrigo dos donos da casa quando chegou, mas não iria negar que era ótimo, visto que não sabia nem onde iria passar a noite.
— Aqui os cobertores — Jihoon disse, deixando os edredons em sua cama. — Tão com um pouco de cheiro de guardado, mas tá bom.
— Perfeito — Taesuk sorriu. — Vocês terminam de arrumar as camas que eu vou dar a mamadeira da Yoona, ok?
— Uhum — Jihoon concordou.
— Sem problemas. E obrigado, de novo — Jisoo falou.
O ômega mais velho apenas sorriu gentil antes de sair e fechar a porta, deixando os três garotos sozinhos naquele clima estranho.
— Você quer falar o que aconteceu? — Soonyoung perguntou.
Joshua repensou em tudo que havia acontecido, antes de responder num suspiro cansado:
— Amanhã.
Chapter 43: Chá de Limão
Chapter Text
Haviam se passado poucos dias desde que a verdade veio à tona para Jeonghan, e desde então ele não havia conseguido sair muito de casa. Ainda precisava de um tempo para absorver e tentar entender tudo que havia acontecido.
A princípio, queria ficar sozinho para lidar com esses sentimentos tão confusos e doloridos, mas ele não gostava da solidão. E como não tinha mais Jisoo, e ainda não se sentia pronto para encarar Seungcheol, ele ligou para Wonwoo e Jihoon, sendo acudido em pouquíssimo tempo pelos amigos.
Bastou uma mensagem no grupo dos três no Kakao Talk que em poucos minutos eles já estavam em sua casa, com algumas besteiras para comer e muito carinho para oferecer naquele momento tão difícil.
Jeonghan até havia sugerido ir até a casa de Jihoon, que já era estabelecido como o ponto de encontro oficial, mesmo que nunca tivesse sido oficializado, mas o Lee foi rápido em negar e dizer que seria melhor que Jeonghan não fosse lá por um tempo, devido às circunstâncias.
Quando chegaram, tiveram que ficar alguns longos minutos apenas acarinhando Jeonghan enquanto ele chorava até o que não havia mais para chorar, e, obviamente, que depois vieram as perguntas da parte de Wonwoo, que era o único que estava sem saber de nada.
— Você nunca percebeu nada mesmo? — Wonwoo perguntou, olhando Jeonghan.
O mais velho apenas balançou a cabeça em negação, afastando suas lágrimas com a manga do moletom que usava.
— Se eu falasse que sou apaixonado por você, você iria ter desconfiado disso? — olhou para o Jeon.
— Acho que não — murmurou. — Mas tipo…
— Ai, Nonu, não é algo que eu pudesse ter notado, tipo… eu sempre vi ele como meu melhor amigo, minha alma gêmea, e eu sempre achei que ele sentia exatamente a mesma coisa por mim — explicou, sentando-se na cama. — Então, sei lá, eu posso ter sido idiota de nunca ter percebido nada mas eu também nunca dei nenhum indicio de que algo poderia acontecer entre a gente. Ou dei?
— Olha… qualquer um que visse vocês poderia pensar que vocês eram um casal — Jihoon falou, coçando a própria nuca. — E Seungcheol tinha um pouco de ciúmes de vocês.
— Eu já sei disso — Jeonghan resmungou.
— Você já falou com o Seungcheol sobre tudo isso? — Wonwoo questionou.
— Ainda não — murmurou o mais velho. — Eu vou falar, é óbvio, mas ainda não consigo. E antes que vocês perguntem, eu ainda amo ele, tá? Com todo meu coração.
— Ninguém ia falar nada — Jihoon disse.
— Eu ia — Wonwoo falou, protegendo-se quando Jeonghan pegou um travesseiro e começou a bater em si. — Ai, ai, ai! É brincadeira, poxa!
— Brincadeira tem hora, Jeon Wonwoo! — brigou o mais velho, cruzando os braços.
— Foi mal — sussurrou, chegando perto do amigo e o abraçando.
— O que você vai fazer agora? — Jihoon perguntou, aproximando-se também para segurar a mão do Yoon.
— Eu não sei — murmurou. — Eu tô tão perdido.
— Você não tá, não — Wonwoo murmurou. — Acho que você só precisa de um tempo, também.
— Eu tenho tanto medo do Jisoo nunca mais falar comigo — confidenciou, respirando fundo para não chorar novamente. — E se ele nunca conseguir superar tudo isso e a gente nunca mais ser o que éramos antes?
— Bom — Jihoon suspirou. — Acho que ele tem coisas mais difíceis pra lidar agora.
— Nem me fala — murmurou o mais velho, voltando a se deitar na cama. — Como tá sendo tudo na sua casa?
— Estranho — disse o baixinho. — Soonyoung falou com os pais dele, mas eles podem demorar uns três meses pra voltar, eles tão longe pra caralho e não tem como saírem assim. E dá pra ver que ele e Jisoo hyung estão meio desconfortáveis de estarem lá, mesmo que não tenha problema…
— Deve ser difícil estar em um lugar completamente novo, com pessoas que não são seus parentes, nem nada assim — Wonwoo argumentou. — Fora que o psicológico deles deve tá destruído.
— Nem me fala — o mais novo murmurou. — Nas primeiras noites, a gente acordava de madrugada ouvindo o choro de Jisoo hyung, ele teve algumas crises de ansiedade, também. Meus pais levaram ele pro hospital algumas vezes, mas não tinha muito o que fazer.
— Não é atoa que eu não tenho uma noite tranquila de sono faz algum tempo — Jeonghan suspirou, abraçando os próprios joelhos.
— Pois então — o mais novo murmurou. — Soonyoung teve algumas crises, também. Não foram tão feias quanto as do Shua hyung, ele só ficava sem ar do nada, mas dava pra distrair ele. Só que ele não tá falando muito comigo. Não é que ele esteja me ignorando, mas ele não falou sobre nada que tá acontecendo.
— Óbvio que você tá preocupado, mas dá espaço pra ele…
— Eu tô dando! Eu nem sei como posso me aproximar, tô com medo de ficar muito distante e ele pensar que eu não me importo — exclamou, agarrando um travesseiro. — Que ódio que eu tô de toda essa situação, será que a gente pode pular pra parte boa?
— E qual é a parte boa? — Jeonghan cruzou os braços.
— Sei lá, quando todo mundo tiver superado e a gente estiver rindo de tudo isso — balançou os ombros.
Wonwoo suspirou, um pouco atordoado pela ansiedade dos amigos.
— Algum dia ainda vamos rir disso, mas, por enquanto, vamos só dar tempo ao tempo, que tal?
— Desde quando você é o conselheiro do grupo? — Jihoon perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Desde que vocês estão mais fodidos emocionalmente que eu — apontou, chegando mais perto e bagunçando os cabelos deles. — Acho que vocês só precisam falar com seus namorados pra ver qual vai ser a melhor forma de lidar com tudo isso.
Jeonghan concordou com a cabeça, usando a manga de sua blusa para secar seu rosto.
— Eu senti saudade de vocês — confessou. — Vocês não são Jisoo ou Seungcheol, mas pelo menos vocês estão aqui.
— Que afronta! — Jihoon exclamou, pegando um travesseiro e atacando o mais velho.
— Ah! É brincadeira! — tentou argumentar enquanto se protegia.
Wonwoo riu dos amigos, pegando outro travesseiro para acertar Jeonghan também.
[...]
Desde que Soonyoung e Joshua tiveram que ficar em sua casa, Jihoon estava se acostumando a ver cenas que ele, com certeza, não veria normalmente, como Jisoo trocando a fralda de Yoona enquanto Daeun lhe dizia o que fazer a seguir, e Soonyoung com seu pai na cozinha conversando enquanto cortavam alguns vegetais para o jantar.
Era estranho. Inusitado, talvez, mas ele não poderia dizer que era algo ruim. Na verdade, ele ficava aliviado de saber que seu namorado e Joshua estavam seguros e sendo bem acolhidos.
— Oi, filhote — Daeun sorriu ao vê-lo. — Que bom que você chegou. Eu estava ensinando Jisoo-ah a trocar o bebê.
— Acho que eu aprendi bem — o beta sorriu, pegando Yoona no colo e mostrando seu trabalho.
Trabalho este que foi-se embora quando a fralda escorregou pelas pernas curtas e caiu no chão por não estar tão firme.
Jihoon tentou prender um riso, mas foi impossível, ainda mais quando sua mãe mesmo soltou uma risada baixa.
— Não tem problema, a gente faz de novo — acalmou ela, pegando uma fralda nova.
— Ok, enquanto vocês fazem isso, eu vou ver se o pai não precisa de ajuda na cozinha — o baixinho disse, sorrindo ao passar pela sala.
Jihoon tocou o pé de Yoona como uma forma de cumprimentá-la, logo seguiu até a cozinha, de onde podia ouvir a voz de seu pai.
— O segredo é grelhar tudo separado, senão o pimentão domina todos os outros sabores — Taesuk explicava, colocando óleo na panela.
Soonyoung ouvia atentamente tudo que o mais velho falava, e Jihoon achava adorável a forma como os olhos dele brilhavam ao ouvir uma receita simples de bibimbap.
— Ah, faz sentido. Por isso que sempre ficava com um gosto igual quando a gente fazia — falou ele, estalando os dedos para voltar a cortar as cenouras em seguida.
Jihoon sorriu abobalhado antes de entrar, chamando atenção deles.
— Precisam de ajuda?
— Não, tá tudo certo — seu pai disse. — Soonyoung já é um ótimo ajudante.
— Isso é só porque eu queimei as algas daquela vez? — Jihoon cruzou os braços.
— O cheiro ainda tá na cozinha, filho — Taesuk falou, forçando uma careta.
O ômega riu, aproximando-se para espiar o que estavam fazendo.
— Tá bem, vou deixar os chefes trabalhando e não vou me meter — falou, andando pela cozinha para sentar-se no balcão para que pudesse observar os dois.
— Na verdade, você pode temperar a carne enquanto eu vou ao banheiro? — pediu o mais velho.
— Claro — concordou, dando um pulinho para voltar ao chão.
Taesuk então deixou a cozinha e subiu as escadas, deixando Jihoon e Soonyoung sozinhos.
O ômega aproximou-se do maior antes de fazer o que lhe foi pedido, abraçando-o por trás e encostando o nariz em suas costas para cheirá-lo.
— O que foi? — Soonyoung perguntou, sem entender a ação.
— Não posso mais abraçar meu namorado? — resmungou, apertando-o entre seus braços.
Ele riu baixo em resposta.
— É claro que pode, mas você não é muito disso — apontou, soltando a faca e colocando o pimentão em uma vasilha separada.
— Eu acho que você merece, por tudo que tá acontecendo, sabe? — falou, movendo os dedos de forma carinhosa pela cintura dele.
Jihoon notou como o outro ficou tenso por tocar no assunto.
— Obrigado, Jih.
— Você não quer conversar sobre isso? — arriscou perguntar.
— Não, tá tudo bem — negou, virando para o menor e forçando um sorriso. — A gente já tá incomodando demais — tocou as bochechas dele.
— Soonyoung…
— Pronto, voltei! — Taesuk exclamou ao chegar, alheio ao momento dos mais novos. — Temperou a carne, filhote?
— Não, você foi muito rápido — soltou o abraço, indo catar os temperos no armário.
[...]
— Eu ainda acho que você tinha que ir lá — Chaewon, mãe de Seungcheol, falava pela terceira vez.
O ômega apenas suspirou, cansado demais para tentar argumentar, mas tendo que fazê-lo:
— Não consigo ficar perto dele por enquanto — negou, tentando focar na poda que estava fazendo em um bonsai. — E eu conheço ele o suficiente pra saber que provavelmente ele quer ficar mais um tempo sozinho.
A mulher ficou quieta, também desistindo de argumentar. Seungcheol, então, continuou:
— Eu quero acreditar que logo a gente vai se acertar, mas, por enquanto, talvez seja melhor passarmos esse tempo separados. Ele ainda tem muitas coisas pra pensar e resolver antes de…
O raciocínio do ômega foi interrompido quando a campainha foi tocada. Mesmo a contragosto, ele levantou e foi até a porta, ficando surpreso ao ver Jeonghan ali.
Seu espanto foi tanto que ele não conseguiu falar ou fazer nada, ficando estático enquanto encarava o outro parado.
— Não vai me convidar pra entrar?
Seungcheol piscou algumas vezes, logo dando espaço.
— Como se você precisasse de convite — murmurou.
Jeonghan sorriu pequeno ao constatar que era verdade.
Entrou na casa e cumprimentou Chaewon rapidamente, percebendo como o clima estava estranho.
— Vem, vamos subir — o ômega falou.
E, diferente de todas as outras vezes, ele não segurou sua mão para levá-lo.
Assim que entraram e a porta foi fechada, Jeonghan suspirou, olhando tudo ao redor, gostando de ver a forma como estava tudo no mesmo lugar.
— Então… — Seungcheol começou, incerto. — Você vai dizer alguma coisa?
O alfa virou para ele, parecendo mais devagar, como se estivesse até um pouco perdido, então aproximou-se, tocando o rosto do Choi com suas mãos, observando com cuidado cada detalhe.
Seungcheol sentiu seu coração acelerando, deixando suas bochechas e orelhas rosadas, não se lembrava da última vez que fora observado daquele jeito pelo namorado.
— Isso é…
— Posso beijar você? — Jeonghan perguntou.
O mais velho sentiu-se um pouco confuso pela pergunta. Eram namorados há dois anos, não era como se o alfa precisasse de prévia autorização para beijá-lo, mas ele realmente se questionou: queria ser beijado?
Sim…
Não…
Talvez…
Entretanto, quase que automaticamente, acenou de maneira positiva com a cabeça, fechando os olhos quando sentiu os lábios do namorado contra os seus.
Sentiu vontade de chorar apenas pela forma que seu corpo arrepiou, como se uma corrente elétrica tivesse corrido por ele. Sentiu tanta saudade daquele toque, daquele beijo… de Jeonghan, que rapidamente ele abraçou-o pelo pescoço, aprofundando o contato antes que pudesse cessa-lo.
Em resposta, o alfa abraçou sua cintura, colando seus corpos, enquanto beijava o namorado com todo o amor e saudade que estava guardado em seu peito.
Quando seus pulmões começaram a reclamar pela falta de ar, foram obrigados a findar o ósculo. Jeonghan apertou os olhos e tocou a nuca de seu ômega, acariciando os cabelos enquanto ele escondia o rosto em seu ombro, rendendo-se mais uma vez ao seu próprio choro.
— Eu senti tanto sua falta — sussurrou.
— Eu também — Seungcheol respondeu, ainda segurando suas lágrimas. — Eu hum… Você quer falar o que aconteceu?
Jeonghan soltou-se do abraço devagar, tocando as mãos do namorado. Tentou organizar seus pensamentos e suas palavras, mas não estava conseguindo.
— Tudo bem se você não quiser — Seungcheol tentou acalmar, puxando o alfa para sentar ao seu lado na cama. — É só… eu não sei o que aconteceu desde que… — suspirou de forma pesada, cobrindo o rosto com as mãos. — Eu precisava te contar uma coisa, só que eu não posso porque…
— Jisoo me contou — interrompeu. — Eu não sei o que aconteceu entre vocês no hospital, mas ele foi lá em casa ontem, a gente passou um tempo juntos e ele me contou que se apaixonou por mim.
Seungcheol sentiu-se nervoso, não sabendo como receber aquela informação. De repente, sentiu medo, imaginando que aquilo poderia ser o fim de sua história com Jeonghan.
— E?
— Eu falei que não sentia o mesmo. Eu amo ele, é óbvio, mas como meu melhor amigo — explicou, fitando o chão. — Não foi fácil, mas… Tinha que ser feito.
O ômega respirou levemente, como se o peso do mundo todo tivesse saído de suas costas.
— Queria não me sentir tão mal por estar tão aliviado — falou, virando o rosto quando não conseguiu mais conter o choro. — Eu não queria me sentir tão bem agora… Que merda, que situação de merda.
— Você realmente achou que fosse me perder? — olhou-o.
Seungcheol deu de ombros, correndo os olhos por todo quarto, tentando achar alguma resposta.
— Sim. Eu tinha muito medo — admitiu. — Se… Se você gostasse dele, eu não teria como competir. Ele é sua alma gêmea e eu já me sentia trocado antes de saber que ele…
— Você sabia?
— É claro que eu sabia, Jeonghan — exclamou, virando para encará-lo. — Eu suspeitava, e o dia no hospital confirmou… Ele acabou confessando pra mim e…
O alfa levantou-se, dando passos sem rumo pelo quarto, finalmente estando perto de entender coisas que antes pareciam tão confusas.
— Eu não queria esconder de você, mas Jisoo me pediu pra não falar… — Seungcheol tentou se justificar, mas o mais novo tocou seu rosto, impedindo-o de continuar.
Entretanto, Jeonghan ainda não falou nada.
— Me desculpa — o ômega pediu.
— Você não precisa se desculpar — respondeu. — Eu ficaria mais chateado se você tivesse traído a confiança do Soo, isso não seria algo que você faria.
— Acho que eu acabei fodendo as coisas de qualquer jeito — falou, levantando-se, inquieto. — Eu… Eu fiz merda, ok? Eu fui até a casa do Jisoo e…
— O que!? — Jeonghan exclamou, exasperado. — Seungcheol, por que você foi fazer isso!?
— Eu não sei! Eu não sabia o que fazer, eu só… eu não aguentava mais te ver chorando e não saber como ajudar. Eu achava que não era justo você estar sofrendo por causa dele — tentou se explicar. — Eu sei que o que eu fiz foi errado, mas tudo que eu tentei fazer foi por você. Porque eu não aguentava mais te ver sofrendo, eu não aguentava mais te ver tão distante de mim!
Escondendo o próprio rosto, Seungcheol voltou a chorar, soluçando alto. Sentia-se irritado, frustrado, triste, perdido… Eram emoções demais, tanto a ser dito e nenhuma palavra parecia ser o suficiente.
— Eu senti sua falta, eu senti tanto sua falta nesses últimos meses — o mais velho disse com a voz embargada. — E eu sentia que você não sentia a minha, era torturante te ver tão feliz, tão completo e sentir que não havia mais espaço pra mim naquela felicidade e eu odeio como isso faz eu parecer um egoísta do caralho!
— Seungcheol, pelo amor de Deus, olha pra mim — Jeonghan pediu, aproximando-se do namorado, que andava de um lado para o outro, despejando as palavras.
Quando estava perto o suficiente, ele segurou o ômega com delicadeza, trazendo-o para perto de si e tocando seu rosto. Afastou algumas das lágrimas que escorriam em abundância, sentindo vontade de chorar também ao contemplar toda tristeza que Seungcheol trazia nos olhos, sentindo-se idiota por não ter percebido antes.
— Me desculpe — pediu, cedendo ao pranto. — Me desculpa, meu amor. Eu deveria ter te visto, eu… eu sinto muito.
Jeonghan, então, abraçou-o apertado, derramando-se no ombro do mais velho. Ele, por sua vez, apertou o outro na mesma intensidade, chorando junto dele, acariciando suas costas e cabelos.
— Seungcheol — chamou, após alguns segundos. Tocou seu rosto, conectando seus olhares outra vez. — Eu amo você, eu amo você muito. Eu sempre amei e eu sempre vou amar. Me perdoa por todas essas vezes que eu te deixei triste, eu fui egoísta e eu errei, mas eu ainda quero ficar com você. Me dá outra chance, por favor. Eu prometo que vou te amar melhor, eu vou tentar ser melhor.
O ômega acenou com a cabeça.
— Só se você me perdoar primeiro — sussurrou, apertando os dedos do alfa entre os seus, fechando os olhos ao senti-los acariciando suas bochechas. — Eu errei, também. E eu sei que a gente ainda vai errar muito daqui pra frente, mas eu estou disposto a passar por tudo isso com você.
— Eu também — sorriu, erguendo seu mindinho. — Eu prometo tentar melhorar todo dia.
Seungcheol abriu um sorriso em meio às lágrimas, cruzando seu dedo mínimo ao do namorado.
— Eu prometo que, independente do que aconteça, eu vou continuar te amando. Hoje mais do que ontem e menos do que amanhã.
— Eu também sempre vou te amar, todos os dias como se fosse o primeiro.
Sorrindo um para o outro, beijaram seus dedos ao mesmo tempo, selando seus lábios em seguida. Tão logo findaram o contato, abraçaram-se outra vez, descontando naquele enlaço toda saudade e dor que carregaram.
Ficaram alguns segundos confortáveis daquele jeito, até que Seungcheol resolveu acabar com o silêncio:
— Você vai ficar pra jantar?
— Se sua mãe não me matar com os olhos antes — riu, afastando-se o suficiente para que pudesse beijar a testa do namorado.
— É só você jogar um pouco daquele seu charme que ela já vai estar derretida — retrucou.
— Tudo bem, então. Eu fico.
[...]
Jihoon terminava de arrumar a cama no chão da sala, enquanto Soonyoung arrumava o sofá e Jisoo tomava banho para ir dormir.
Por mais compreensivos que seus pais fossem, o ômega conseguia entender porque eles não gostavam da ideia dele dividir a cama com o namorado. Além de que Soonyoung não iria querer deixar seu primo dormindo sozinho no andar debaixo.
Toda a situação era confusa, inusitada e estressante, ainda mais com um recém nascido na casa e todo o estresse e trabalho que vem com essa chegada.
Jihoon não sabia se já esteve tão estressado quanto estava naquelas últimas semanas. E não era por estar dividindo a casa com outras pessoas, nem pelo choro de sua irmã e os cuidados que ela demandava, ou pelas diversas crises que Jisoo tivera ao longo dos dias e por não saber como ajudar (talvez fosse um pouco por isso), mas, ele sentia-se estressado, principalmente, por causa daquela distância invisível que estava entre ele e o namorado.
É óbvio que não poderia pedir que ele lidasse de forma leve e despreocupada com tudo que estava acontecendo, mas queria enfiar na cabeça teimosa dele — e de Joshua — que não era ruim ambos estarem ali, não seria melhor se eles estivessem em outro lugar, ou se fossem embora sem rumo.
Mas, mesmo namorando há poucos meses, Jihoon já estava começando a entender que Soonyoung era cabeça dura e tinha uma pequena tendência a se auto-sabotar e isolar-se emocionalmente quando algo ruim acontecia.
Jihoon não queria ser a solução para todos os problemas de Soonyoung, só queria que ele contasse consigo.
— Depois que Shua hyung sair do banheiro, a gente já apaga as luzes — o alfa disse, sentando-se no sofá e pegando o celular.
— Tá bem — o menor respondeu, sentando ao lado dele.
O relógio marcava 22:40, Daeun e Taesuk aproveitaram que Yoona havia dormido mais cedo para tentarem dormir também, por isso os três garotos tentavam fazer o máximo de silêncio que conseguiam e falar o mais baixo possível.
— Soon?
— O que foi, Jih? — perguntou, sem olhá-lo.
Jihoon mordeu os lábios. Talvez ele não fosse dizer, mas não gostava quando Soonyoung o chamava pelo nome ou apelidos derivados, não depois de ter se acostumado a ser chamado de "amor", "baobei" e semelhantes por ele.
— Numa próxima vida — o ômega começou. — Você preferia nascer muito pobre ou com pinto pequeno?
O mais velho franziu as sobrancelhas e desligou a tela do celular, erguendo os olhos confusos para o namorado.
— Como é?
— Numa próxima vida, você preferia nascer muito pobre, tipo, passar fome, ou com o pinto pequeno? — repetiu.
Soonyoung continuava com as sobrancelhas juntas por não ter entendido o porquê daquela pergunta, mas respondeu mesmo assim:
— Com pinto pequeno — encolheu os ombros.
— De novo? — Jihoon rebateu, apertando os lábios ao prender um riso quando o maior concordou com a cabeça.
Levou alguns segundos até que Soonyoung entendesse a brincadeira e virasse para o outro.
— Jihoon!
O mais novo cobriu o rosto para abafar sua risada, então aproximou-se do namorado e o abraçou pelo pescoço.
— Você tá me ofendendo de graça? — o alfa cruzou os braços.
— Não, não — negou o ômega, ainda rindo baixo. — Só queria ver se conseguia te fazer rir.
— Você acha que é pequeno? — arqueou uma sobrancelha.
— Eu nunca vi outro pra comparar — retrucou, chegando mais perto até estar no colo dele. — Eu não penso nisso, eu só queria ver você sorrir.
Soonyoung riu anasalado, abraçando o menor pela cintura.
— Ok, você conseguiu.
Jihoon sorriu, tocando seu rosto e lhe dando um selinho.
— Então, eu estou feliz — afirmou, acariciando as bochechas dele. — Eu já entendi que você não quer conversar sobre o que tá acontecendo, mas você não pode esquecer que eu amo você independente de qualquer coisa, tá bem?
Ele concordou com a cabeça.
— Olha pra mim — o ômega pediu, tocando o rosto dele. — Nós vamos ficar bem, ok?
— Ok — sorriu fechado, abraçando ele mais apertado. — Eu também amo você.
Jihoon retribuiu o aperto, acariciando os cabelos do namorado de forma calma, aspirando o aroma dele e deixando alguns beijinhos em seus ombros.
Ele ouviu quando um soluço escapou da garganta de Soonyoung, ao mesmo tempo que sentiu quando ele começou a chorar silenciosamente. As lágrimas pingavam em sua camiseta e os dedos esguios do alfa o apertavam em uma pequena frustração.
— Tá tudo bem, meu amor — o ômega sussurrava. — Não é sua culpa, nada disso é. Vai dar tudo certo.
Sem conseguir cessar seu choro, Soonyoung segurou Jihoon e deitou no sofá, trazendo o namorado para junto de si. Aconchegando-se sob o travesseiro e escondendo o rosto no pescoço dele.
Não tendo mais palavras, Jihoon apenas permaneceu ao lado do alfa, fazendo um carinho singelo em seus cabelos e secando algumas de suas lágrimas.
Pouco tempo depois, Soonyoung já havia se rendido ao cansaço e adormeceu, abraçando o ômega de maneira tão necessitada e carente que ele não ousou sair dali, caindo no sono logo em seguida.
Quando Jisoo saiu do banheiro vestindo seu pijama e com o cabelo seco, ele encontrou os dois mais novos apagados no sofá apertado da sala e, mesmo assim, parecendo incrivelmente confortáveis por estar um com o outro.
O beta sorriu ao observá-los pegando o cobertor ainda dobrado no braço do sofá e estendendo sobre eles para que não pegassem frio.
— Vamos dar um jeito nisso — sussurrou, tocando uma mecha dos cabelos de Soonyoung com a ponta dos dedos. — Não vai ser amanhã, nem depois, mas vamos conseguir, eu prometo. Por enquanto, vamos descansar, né?
Dizendo isso, Joshua apagou a luz e acomodou-se em seu lugar.
Chapter 44: Pera, Jasmin e outras essências
Chapter Text
— Lee chan! Anda logo! — Seungkwan gritou pela terceira vez, colocando a cabeça para fora da janela do carro.
— Kwan, não grita — Hansol pediu, tocando a perna do namorado.
— Você sabe que Chan sempre atrasa, a gente podia ter ficado em casa mais um tempo — Mingyu falou, deitando a cabeça no ombro de Wonwoo.
— Por que a gente não pode entrar na casa dele mesmo? — o alfa perguntou.
— Senhor e Senhora Lee são uns pé no saco — Seungkwan disse, rolando a timeline do seu twitter para se distrair. — Eu entrei só uma vez e nunca me senti tão julgado em toda minha vida.
— Eles são legais comigo porque acham que eu sou hétero — Mingyu contou, fazendo os demais rirem.
— A única parte boa são os irmãos dele, Minho e Jun são uns amores — Vernon disse. — Isso que eu não sei lidar com crianças muito bem.
— Sim, sim, todo mundo sabe que você prefere gatos — Seungkwan resmungou, usando um falso tom cansado.
— Cala a boca — Hansol riu, apertando a coxa do ômega, fazendo ele exclamar em dor e bater em seu ombro para revidar.
— Essa garota já tá me irritando — Mingyu reclamou, esticando-se até os bancos da frente para apertar a buzina pela provável quinta vez. — Lee Chan!
— Tô indo, caramba! — o beta gritou, fechando a porta de casa e correndo até o carro. — Que porra, vocês não podem esperar um minuto?
— A gente esperou quinze! — Seungkwan retrucou. — E agora você tá falando palavrão, é?
— Claro, eu não posso falar em casa com criança pequena — deu de ombros, sentando-se e colocando o cinto. — Vou puxar briga com qualquer um só pra xingar pra caralho.
Eles riram com a fala do mais novo. Vernon deu a partida e pegou o caminho até o local da festa.
— Chan, pronomes masculinos hoje? — Wonwoo perguntou, olhando o mais novo dos pés à cabeça.
Diferente da maioria das vezes em que saíam para festas, o beta não estava usando saias ou qualquer vestimenta e acessórios vistos como femininos.
— Sim, obrigado por perguntar, hyung — Chan sorriu, abraçando o Jeon. — O foda é que pode mudar a qualquer momento, mas vou tentar beber pra não pensar nisso.
— Você deveria beber menos — Hansol falou.
— Tô brincando — ele revirou os olhos. — Só vai a gente?
— Seokmin e Junghwa já estão nos esperando lá — Mingyu disse.
— Ninguém mais quis vir? Que gente chata, é a última semana de férias — resmungou Seungkwan.
— Os outros estão passando por um momento difícil — Wonwoo contou.
— Nem me fala — Mingyu murmurou. — Como eles vão fazer na escola?
— Nem ideia — o Jeon respondeu. — Acho que a gente pode pensar nisso depois.
— Eu também, vamos aproveitar essa noite porque depois voltamos a tortura que chamamos de escola — Chan falou, afundando no banco.
— Vamos! — Seungkwan exclamou, animado aumentando a música que tocava no rádio e cantando alto junto dela.
Levando-se pela felicidade do namorado, Vernon buzinou algumas vezes enquanto aumentava a velocidade.
Depois de uma curta viagem de carro, eles chegaram até a casa onde estava acontecendo a tal festa. Haviam diversas pessoas pelo pátio, a música podia-ser ouvida de longe, assim como era visível algumas luzes piscantes e coloridas.
— Tá tocando Taylor Swift! — Seungkwan exclamou, subitamente mais animado.
Assim que o carro foi estacionado, os garotos desceram. O Boo segurou a mão de Hansol e correu para dentro.
Mingyu, Wonwoo e Chan ficaram para trás, andando com calma até a entrada.
Dentro da casa havia bastante pessoas dançando e conversando, algumas sentadas na escada rindo e alguns pelos cantos jogando qualquer jogo besta.
— Sinceramente, eu não gosto muito da Gyonghui, mas as festas dela são sempre boas — Chan falou, tendo que quase gritar pelo volume alto. — Eu vou pegar uma bebida e procurar Seokmin e Junghwa.
— Beleza, qualquer coisa grita — Mingyu falou.
Logo, o mais novo já havia sumido entre a pequena multidão.
— O que você quer fazer? — Wonwoo perguntou, chegando perto do ouvido do Kim, sorrindo ao vê-lo arrepiar.
— Eu quero dançar, mas tô com um pouco de vergonha — respondeu, abraçando o menor. — Eu preciso de, pelo menos, dois drinks.
— Por que dois?
— Porque quando se tem ansiedade, os dois primeiros drinks não contam, eles só te transformam numa pessoa normal — explicou o ômega.
Wonwoo riu, negando com a cabeça.
— Vamos buscar dois drinks pra você, então — segurando o mais novo pela mão, o alfa levou-o até a cozinha, onde havia uma vasilha grande de vodka com suco de limão e alguns copos disponíveis do lado.
Chan estava lá também, conversando animado com outras pessoas. Wonwoo poderia admitir que admirava a forma como o mais novo era muito sociável e fazia amizades com facilidade até demais.
— Aqui — Mingyu falou, pegando dois copos. — A gente enche uma vez e vira, e depois enche de novo.
— Ok — Wonwoo concordou, pegando a concha para servi-los.
— Quer apostar comigo?
— O que?
— Quem virar tudo mais rápido ganha — propôs.
— Ganha o que? — o alfa ergueu uma sobrancelha.
— Nada, só ganha — deu de ombros. — Vamos?
Wonwoo concordou, contando até três junto de Mingyu para então, entornarem as bebidas.
Por dois segundos de diferença, o alfa ganhou a aposta.
— Que sem graça — Mingyu reclamou, cruzando os braços.
Rindo baixo, Wonwoo segurou a cintura do maior e aproximou-se para selar seus lábios, entretanto, ele foi interrompido antes disso.
— Mingyu? — um garoto perguntou, chegando perto deles.
O Jeon notou como o namorado pareceu tensionar ao ver aquele garoto. Quase imediatamente, a mão do Kim soltou a sua.
— Oi, Jeongsu — ele respondeu, forçando um sorriso.
— Já faz algum tempo. O que está fazendo aqui? — perguntou, sorrindo de maneira animada, ignorando a presença de Wonwoo.
— É uma festa, acho que você pode adivinhar.
— Oh, você ficou mais atrevido desde que terminamos, então?
Mingyu riu sem jeito, abaixando o olhar.
— Não, eu acho que não — coçou a nuca. — Aliás, esse é Jeon Wonwoo.
Jeongsu olhou-o.
— E aí?
— Oi — Wonwoo respondeu, não fazendo questão alguma de ser simpático.
— Então… — Mingyu continuou. — O que você tá fazendo aqui? Pensei que tinha saído da cidade.
— Saí, mas voltei. Faz pouco tempo, na verdade — explicou. — Tive que deixar uma namorada pra trás, também.
— Que pena — murmurou o ômega. — Espero que você tenha sido mais legal com ela do que foi comigo.
Jeongsu revirou os olhos e sorriu cheio de deboche.
— Achei que esses problemas nossos tinham ficado pra trás, Mingyu — resmungou, cruzando os braços. — E se eu te criticava, era pra você melhorar. E posso dizer que você não me ouviu, posso apostar que continuou sozinho desde que eu te dei um pé na…
— Cala sua boca — Wonwoo interrompeu, não aguentando mais ouvir aquelas baboseiras. — Não que seja da sua conta, mas Mingyu é meu namorado e é a pessoa mais incrível que eu já conheci. Só lamento que você não tenha visto isso e jogado sua chance fora.
Jeongsu riu com deboche, chegando mais perto do Jeon, a fim de intimidá-lo, o que não funcionou.
— Eu não estou falando com você.
— Você está falando do meu namorado, e está falando perto de mim, se achou que eu ia ficar quieto…
— Wonwoo, deixa — Mingyu pediu, puxando o menor pelo braço. — Vamos, esquece isso.
— É melhor ouvir seu namoradinho, acho que ele ainda tem alguns neurônios sobrando.
— Tchau, Jeongsu — o Kim falou, passando por ele, puxando Wonwoo consigo.
Assim que ambos haviam ido embora, o alfa bufou irritado. Logo, seus olhos encontraram Chan, que observava a cena um pouco mais afastado, mas atento ao que estava acontecendo.
— E aí, Chan. Há quanto tempo? — cumprimentou.
— Se joga na frente de um ônibus — ele respondeu, forçando um sorriso cínico e virando as costas para sair dali também.
— Quem era aquele? — Seokmin perguntou, chegando perto de Chan e abraçando-o pelos ombros.
— Ex do Mingyu — explicou, bebendo mais alguns goles. — Acho que seria melhor a gente cuidar pra ele não chegar perto do Gyu de novo.
— Chan, relaxa — elu disse. — Ele tá com Wonwoo, e tá cheio de pessoas aqui. Vamos aproveitar a festa.
— Tá, você tem razão — respirou fundo. — Sabe o que eu queria?
— Maconha?
Chan acenou com a cabeça. Seokmin rolou seus olhos, rindo enquanto bagunçava os cabelos.
— Se você achar, me chama. Eu vou dançar com a Junghwa.
— Tá, eu vou junto — falou, segurando a mão do mais velho.
— Você não resiste Playing with Fire, né? — Seokmin acusou, puxando-o para a pista.
No quintal da casa também havia algumas pessoas conversando, já que a música não estava tão alta do lado de fora. Lá, sentados na grama numa pequena roda, estava Seungkwan e Vernon conversando com um casal de amigos, Han Jisung e Lee Minho.
— E quando vocês começaram a namorar? — Hansol perguntou.
— Foi em maio do ano passado — Jisung disse. — Eu que tive que pedir ele em namoro, porque ele tinha medo.
Os demais riram baixo. Minho revirou levemente seus olhos, puxando o beta para mais perto de si.
— Quando a gente começou a namorar, Jisung nem tinha se descoberto ainda — contou o Lee.
— E como foi todo esse processo? — Seungkwan quis saber, olhando atentamente para o casal.
— Foi bastante complicado, eu tentei ignorar e escondi por bastante tempo porque eu estava com medo de Minho ficar estranho comigo — Jisung contava, segurando as mãos do namorado e fitando o chão. — Imagina, você namora uma garota e, do nada, ela diz que é um cara e quer mudar um monte de coisa…
— Honestamente, eu fiquei bastante ofendido que ele demorou tudo isso pra me contar — o alfa interrompeu. — Você realmente acha que existe algum tipo de cenário ou universo paralelo em que eu não iria ser completamente apaixonado por você?
— Own, que fofo — Hansol disse.
— Se eu não gostasse de gatos — Jisung apontou.
Minho ficou sem palavras por alguns segundos, o que fez os outros presentes rirem.
— Eu faria você gostar de gatos, tá? E você seria obrigado a gostar dos meus gatos pra ficar comigo — afirmou, abraçando o Han mais apertado e beijando seu pescoço.
— E qual foi a reação da sua família? — Seungkwan perguntou, curioso.
— Foi muito boa, na verdade — Jisung sorriu. — Minha mãe disse que sempre quis ter um menino, e meu pai disse: “você podia ter me contado antes, sabe que eu não me importo com essas porra.”
Eles riram novamente.
— Que maravilhoso — Vernon disse. — Eu fico meio puto com meus pais, porque eles aceitam que eu sou pansexual e namoro um garoto, mas porque eles acham que tem a ver com eu ser autista.
Minho e Jisung franziram o cenho, como se tivessem ouvido a coisa mais absurda possível.
— Isso não faz o menor sentido — falou o Lee. — Quer dizer… — pensou por um segundo. — Não, não faz.
— Pessoas autistas podem se identificar como parte da comunidade mais cedo, na verdade — Seungkwan contou. — Eles têm mais facilidade porque eles têm uma visão diferente de rótulos e normais sociais, mas as pessoas ainda acham que pessoas elas não têm a capacidade intelectual pra entender e expressar sua própria sexualidade e gênero. E, se a gente parar pra ver, quase não temos pesquisas sobre isso.
— Ainda mais pesquisas sobre pessoas que não estejam no padrão de homem cis — Vernon completou.
— Ugh! — Jisung fez careta, revirando os olhos.
— Exatamente — o alfa disse, rindo baixo. — Foi mais difícil eu aceitar estar no espectro autista do que ser pansexual.
— Por que? — Minho perguntou, juntando levemente as sobrancelhas.
Vernon deu de ombros.
— Não tenho certeza, acho que porque eu descobri minha sexualidade sozinho, aos poucos e tendo mais conhecimento sobre o que era — explicou. — Mas o diagnóstico veio do nada, ninguém estava esperando… Quer dizer, eu sabia que era diferente, mas achava que era só algo particular meu e que muitas pessoas tinham essas “manias” e crises.
— Entendo, como você não tem, tipo, “traços” — Jisung fez aspas com os dedos — que são mais conhecidos, ficou mais difícil, né?
— É, infelizmente, o que a gente mais conhece é o estereótipo de autismo — Seungkwan murmurou.
— Mas o que importa é que você tá bem consigo mesmo agora, né? — Minho disse.
Hansol acenou com a cabeça, concordando.
— Esse garoto aqui me ajudou muito — sorriu, abraçando Seungkwan de lado e beijando seu rosto.
— Vocês são muito fofos — Jisung disse, admirando o casal a sua frente. — E vocês estão juntos há quanto tempo?
— Três anos — Vernon contou. — E quem pediu em namoro fui eu.
— Eu cheguei em você primeiro e paguei mico, não ia me arriscar de novo — argumentou o ômega, cruzando os braços. — Mas foi muito bonitinho como ele me pediu em namoro. E eu sei que faz três anos porque foi depois do lançamento de Lover da Taylor.
— Ah, é verdade, tinha esquecido que você é fã da Taylor Swift — Minho murmurou.
— Foi assim que a gente virou amigos — Jisung apontou. — A gente passou praticamente toda a aula de química ouvindo Folklore e falando das músicas.
— Deixa eles terminarem a história — o Lee pediu, cobrindo a boca do namorado, que afastou-a prontamente, rindo baixinho.
Seungkwan riu também antes de continuar:
— Quando o Lover lançou eu fiquei o dia todo falando sobre ele e cantando Paper Rings pela escola — contou o Boo. — É óbvio que o Vernon notou que eu não calei a boca um segundo…
— Foi quando eu percebi que era apaixonado por ele — acrescentou. — Eu não tinha muita certeza o que era, ou como era, estar apaixonado. Eu perguntei pra algumas pessoas, mas ninguém me dava uma resposta racional, a maioria falava que “você só sabe”, e eu achava que isso não fazia sentido, mas… acabou que faz sentido, porque eu simplesmente soube.
— Ele não é a coisa mais fofa do mundo todinho? — Seungkwan exclamou, segurando o rosto do alfa e lhe dando alguns selinhos.
Minho e Jisung desviaram os olhares enquanto riam baixinho dos amigos.
— A gente tá tendo que ver isso, mas ainda não sabemos como foi o pedido de namoro — o alfa suspirou como se estivesse cansado.
Hansol e Seungkwan riram. O americano voltou a passar um braço pelos ombros do namorado, segurando sua mão.
— Na verdade, foi simples, mas foi fofo — o ômega voltou a falar. — Ele fez dois anéis de origami, foi até minha casa e disse…
— "Eu sei que você gosta de coisas brilhantes, mas você aceita namorar comigo com anéis de papel?" — Vernon completou.
— Aah! Isso foi tão fofo! — Jisung exclamou, dando alguns tapinhas nos amigos para expressar sua gana.
— Eu sei! — Seungkwan sorriu, tentando segurar as mãos do Han. — Infelizmente, não tinha como usar os anéis de papel sem estragar, mas a gente guardou os dois e eu consegui alianças de verdade.
— Mas foi muito romântico, parabéns — Minho falou, apertando a mão de Vernon.
— Valeu — respondeu. — Eu vou pegar mais bebida, alguém quer?
— Não, valeu — Jisung falou.
— Eu quero só um beijinho — Seungkwan pediu, fazendo um biquinho.
Hansol sorriu e abaixou-se, selando os lábios do namorado rapidamente antes de levantar e seguir até a cozinha.
Ali, encostados numa parte do balcão, estavam alguns de seus amigos.
— Vernon! — Junghwa exclamou ao vê-lo, indo até ele para o abraçar. — Tava procurando você, gatinho!
— Você já tá bêbada, Jung? — o alfa perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Ainda não — ela riu, puxando-o pela mão. — Quero te apresentar uma pessoa.
Segurando Hansol pelo braço, a ômega levou-o para onde estava anteriormente, com Seokmin, Chan e outra garota que ele não conhecia.
— Essa é minha namorada, Ahn Hyojin — Junghwa apresentou, sorrindo enquanto abraçava a alfa.
— Oi, eu sou Vernon — ele sorriu. — É bom finalmente te conhecer, Junghwa fala muito de você.
— Bom, todos os três amigos que ela me apresentou hoje falaram a mesma coisa, então deve ser verdade — a Ahn riu. — É legal conhecer vocês, também, ela me contou várias coisas.
— Ih, não ficamos sabendo disso — Seokmin falou, esgueirando os olhos para a amiga.
— Ela só falou coisas boas, não se preocupem — Hyojin acalmou, abraçando a ômega pelos ombros.
— Eu contei que você já teve um crush em mim! — Junghwa exclamou, apontando para Seokmin.
— Quando a gente tinha 13 anos, você ainda não superou? — elu perguntou, cruzando os braços. — E foi antes de eu saber que você é lésbica. Baixa sua bola.
— Bixi sia bili — Junghwa debochou, forçando uma voz fininha.
— Cala boca — o beta retrucou, empurrando-a pelo ombro.
De repente, os dois estavam envolvidos numa troca quase infantil de tapas que nem ao menos se acertavam.
Hyojin apenas ria, observando a namorada e repensando algumas de suas atitudes e escolhas, mas não se arrependendo de estar com Junghwa.
— Ai! Para com isso! — Seokmin exclamou, descendo do balcão onde estava sentado para correr da amiga.
Junghwa riu e correu atrás delu, dando voltas pelo pequeno cômodo.
— Antes que você pergunte, eles são assim todo dia — Hansol falou para a alfa. — Agora tá um pouco pior por causa do álcool, mas…
— Mas a essência da quinta série continua — Chan falou, terminando de esvaziar seu copo. — Parabéns você que suporta eles quase todo dia, Vernon hyung.
O americano riu, balançando os ombros.
— Quando fica muito insuportável, eu só desassocio — contou. — Mas, eu vim só pegar uma água, Seungkwan tá me esperando.
— Aish, Boo Seungkwan pode esperar. Vocês praticamente moram juntos — Chan resmungou.
— Boo Seungkwan? — Hyojin perguntou.
— Sim. Conhece ele? — Vernon olhou-a.
— A mãe dele dá aula de literatura na minha faculdade — a alfa explicou. — Ela fala um pouco dele entre uma aula e outra. Soyeon é muito legal, todo mundo gosta dela.
— Nossa, que incrível — Hansol sorriu. — Ela realmente é legal. As duas são, na verdade.
— Que duas?
— Ué, Soyeon e Eunji, a outra mãe do Seungkwan — contou.
Ao ouvir, o queixo de Hyojin foi praticamente ao chão.
— A professora Soyeon namora com uma mulher?
— Elas são casadas — afirmou o alfa. — Oficializaram fora do país, obviamente, mas são. Soyeon não fala sobre isso?
— Ah, ela não fala muito sobre nada, ela é bem reservada — deu de ombros. — A maioria das vezes, é só sobre o Seungkwan quando algum aluno pergunta alguma coisa só pra matar o tempo de aula.
— É engraçado, Seungkwan faz isso quando temos educação física — apontou Chan, fazendo os mais velhos rirem.
Antes que o assunto se prolongasse, Seokmin e Junghwa haviam parado de correr pela cozinha como duas crianças e voltaram para onde estavam, ofegantes. A ômega abraçou Hyojin, apoiando-se quase completamente sobre ela, enquanto o Lee sentou-se no balcão, aceitando quando Chan lhe devolveu seu copo pela metade.
— Anyways, eu vou voltar. A gente se fala depois — Vernon disse, acenando para os amigos antes de voltar para o quintal.
— Esses dois, com certeza, vão acabar se casando — Seokmin apontou.
— Tomara — Chan falou. — Vocês todos podem casar porque eu quero ir na festa, comer e beber de graça, mas não esperem que eu me case algum dia.
— Romance está completamente morto pra você, Lee Chan? — Junghwa cruzou os braços.
— Romance está completamente vivo e fazendo maratona pra mim, Park Junghwa — ele respondeu. — Só que casamento, não. Casamento é o que mais causa divórcio no mundo todo.
— Você tenta, mas não é engraçado — Seokmin disse, bagunçando os cabelos do menor.
— Deus não podia me dar tudo, então me tirou o senso de humor — o beta fez um bico. — Vou ver se a fila pro karaokê tá muito grande.
— Eu vou com você — disse o mais velho. — Não quero ficar de vela pra essas duas.
— Você tá é com inveja — Junghwa reclamou, mostrando a língua para Seokmin.
Elu imitou o gesto da amiga, dando um pulinho para descer do balcão e, logo em seguida, foi até Chan, segurando-o no colo.
— Vamos, tesouro, não se junte com essa gentalha — falou dramaticamente, virando o rosto em seguida.
As garotas e Chan riram pela brincadeira.
— Ah, Junghwa, eu aviso quando for embora pra ver se vocês vão querer carona de volta — Seokmin acrescentou, já na porta da cozinha.
Assim que eles chegaram na sala, Chan voltou ao chão.
— Onde você vai, Seok?
— Ué, a gente não ia ver o karaokê? — juntou as sobrancelhas, cruzando os braços.
— Eu quis dizer isso como um código pra procurar Hyuna, ela disse que tem os bagulho — sorriu amarelo.
— Não acredito — reclamou. — Ah não, agora você vai lá cantar comigo porque eu criei expectativas.
— Não! Eu não quero — negou Chan, tentando se segurar nas paredes quando o amigo segurou seu braço e o puxava até o cômodo onde haviam pessoas cantando.
— Lee Chan, não faz eu te carregar até lá!
— Você não consegue — retrucou, mostrando a língua.
Assumindo uma expressão comicamente ofendida, Seokmin aproximou-se determinade e segurou o mais novo pelas pernas, tentando colocá-lo sob seus ombros, mas acabou não conseguindo e ambos foram ao chão, causando um pequeno tumulto e muitas risadas deles mesmos.
— Eu falei que você não conseguia! — Chan exclamou, fazendo alguns malabarismos para sair de cima de Seokmin.
— Você que é pesado — retrucou, empurrando as pernas do beta, que continuava rindo alto, para longe de si. — Agora que você me fez até cair nesse chão sujo, você é obrigada a cantar comigo.
— Aff, você é muito chato! — urrou em descontentamento, levantando-se junto do mais velho, mas cedeu. — Qual música você quer cantar?
— Vamos dar uma olhada nas que temos aqui — falou, segurando sua mão e o puxando para que vissem as músicas disponiveis. — Avril Lavigne!
— Ah, Deus — Chan suspirou, pegando o microfone. — Você não cansa dela, não?
— Você não cansa de Given, não? — arqueou uma sobrancelha.
— Você não fala deles — ameaçou de brincadeira, rindo baixo quando o amigo revirou os olhos.
Logo, a música começou e eles começaram a cantar Girlfriend, fazendo as pessoas que estavam à volta se animarem.
Tão logo a melodia chegou ao fim, outros convidados tomaram a frente para cantarem também. Seokmin segurava a mão do mais novo ao puxá-lo para fora da sala um tanto pequena para aquele tanto de gente.
Assim que chegaram no corredor, ouviram alguém exclamar:
— Chan-ah! — Hyuna correu para perto. — Até que enfim te achei, você me encheu o saco pra trazer maconha e depois sumiu!
— Culpa de Seokmin! — acusou, apontando para elu.
— Ah, como é Seok, eu perdôo — a alfa sorriu, apertando as bochechas do beta. — Agora, vem comigo, ainda temos que bolar.
— Beleza — Chan concordou, segurando a mão da mais velha. — Quer vir, Seok?
— Não, valeu — negou sorrindo. — Vou voltar pro karaokê.
— Ok, até mais — o mais novo disse, acenando enquanto era puxado pela alfa.
— Tchau, amore — Hyuna exclamou, fazendo um pequeno coração para Seokmin antes de seguir caminho com Chan.
— As vezes eu esqueço que você adora ele — disse o beta.
— Como não adorar? Ele é um anjo — ela deu de ombros.
Logo, ela abriu uma porta da casa, que parecia ser uma sala de estar, onde haviam várias pessoas reunidas fumando vape e cigarros.
— Falta mais alguém? — Hyojong perguntou.
— Não, todo mundo aqui — Hyuna sorriu, fechando a porta e aproximando-se do namorado. — Só falta a gente bolar.
— Tá me dá aqui, eu faço isso mais rápido do que todo mundo — Hayeon, uma garota presente, falou.
— Duvido que consiga mais rápido que eu — Jungjae desafiou.
— Façam uma disputa aí, então — Hyuna incentivou, abrindo espaço numa mesinha de centro. — Quem fizer mais rápido, ganha.
— Quero entrar — Chan falou, abrindo espaço entre algumas pessoas para sentar-se no chão, perto da mesa.
— Ok, peguem tudo — Hyojong disse, colocando tudo que precisavam na frente deles. — E… Comecem!
Logo, os três começaram a bolar o mais rápido que podiam enquanto Hyojong marcava os segundos no relógio presente no pulso de Hyuna.
— E… Pronto! — Chan exclamou, batendo na mesa assim que terminou de enrolar o baseado.
As pessoas que estavam na volta gritaram animadas, algumas já estavam completamente bêbadas ou chapadas, enquanto os outros "competidores" soltaram resmungos descontentes com a derrota.
— Ninguém vence de mim nessa — o beta riu, acendendo o fumo quando uma Hyuna lhe ofereceu o isqueiro.
— Onde você aprendeu? Que injusto! — Hayeon exclamou, pegando o isqueiro para acender o seu também.
— Com meu pai — contou, sorrindo orgulhoso. — Qualquer hora eu ensino vocês.
— Vai aonde? — Hyuna perguntou ao vê-lo se levantar.
— Preciso de um pouco de ar — Chan disse, abrindo a porta do cômodo e saindo em direção às escadas. — Só vim pegar o que eu precisava.
— Você não vale nada, Lee Chan! — a Kim exclamou risonha.
O beta apenas piscou em resposta e saiu da sala.
Quando estava descendo os degraus, ouviu alguém chamar seu nome e logo virou-se para ver quem era.
— Oi, Siwoo! — sorriu para o alfa. — Não sabia que você estava aqui.
— Isso me magoa porque eu tava na mesma sala que você, vendo você enrolar cinco becks como se fossem nada — falou, ouvindo a risada alta de Chan em seguida.
— Foi só um beck — justificou o menor, subindo alguns degraus para ficar na mesma altura que Siwoo, levando o cigarro até os lábios dele, que aceitou.
— Então, já que a gente tá aqui, quer ir pegar um pouco de ar comigo? — perguntou após soltar a fumaça branca.
— Você me leva? — Chan barganhou, estendendo seus braços.
Siwoo riu olhando-o de cima a baixo.
— Você não tá muito folgado, não? — ergueu uma sobrancelha.
— Você que deixa — retrucou.
O alfa negou com a cabeça, virando-se de costas.
— Anda, sobe antes que eu me arrependa.
Chan sorriu, abraçando-o pelos ombros e sentindo ele segurar atrás de seus joelhos.
— Não fica triste, tem maconha pra você ficar feliz — disse o beta, tocando os lábios do mais velho para pôr o fumo entre eles.
Siwoo apenas riu, levando Chan até uma varanda que estava vazia.
Ambos sentaram-se no chão, observando a festa que acontecia no andar de baixo. Algumas pessoas dançavam, algumas até pularam na piscina e outras estavam com seus grupos, conversando, rindo, se divertindo.
— Incrível como a casa da Gyonghui é enorme — comentou o mais novo.
— Você não vai dançar hoje? — Siwoo perguntou.
— Como assim? — o menor olhou para ele.
— Última festa que a gente foi, eu tive que carregar você de tanto que você dançou — relembrou, pegando o baseado.
O mais novo riu baixo, apoiando-se na proteção da sacada, erguendo os olhos para o céu.
— Quem sabe mais tarde — murmurou. — Hoje, eu só quero tirar uma folga da minha vida de irmão mais velho… se bem que eu pareço mais pai-barra-mãe dos meus irmãos… — suspirou cansado. — Esquece, você não quer ouvir sobre isso.
— Claro que eu quero — ele disse, chegando mais perto. — Você tem irmãos?
— Dois. E não entenda mal, eu amo eles com todo meu coração, faria qualquer coisa por eles, mas… sei lá, ás vezes só quero aproveitar minha juventude, ser irresponsável, usar drogas leves — apontou, aceitando quando Siwoo levou o cigarro até sua boca, podendo sentir suavemente os dedos do alfa em seus lábios. — Mas, eu acabo sendo responsável por cuidar de duas crianças, já que meus pais precisam trabalhar pra sustentar a casa.
— Deve ser difícil — o mais velho respondeu, tocando a perna do menor em forma de consolo. — Pelo menos, você tá aqui agora.
— Verdade, então, vou aproveitar — sorriu, observando a fumaça que soltaram, olhando o baseado em seguida. — Já viu um beck tão bem bolado quanto esse?
Siwoo riu, achando inusitado a fala do beta, mas concordou.
— Realmente está muito bom — elogiou. — Seu pai te ensinou?
— Uhum — sorriu de lado. — Desde que a artrite chegou nas mãos dele, ele não consegue nem sequer fechar dobrar os dedos, então ele não consegue mais enrolar sozinho… e minha mãe não gosta que ele use, ela não impede, mas também não ajuda. Aí, uma madrugada, mais ou menos um ano atrás, eu vi ele na cozinha, quase chorando de dor e não conseguindo fazer o baseado, então eu tentei ajudar e ele me ensinou. Meio problemático, talvez, mas eu gostava dessas madrugadas, porque era o único momento em que ele me via, em que a gente conseguia conversar, sabe? De tantas noites e tantas conversas, acabei ficando bom nisso.
— Isso é um pouco triste — constou Siwoo, pegando o fumo. — Você não se dá bem com seu pai?
— As vezes sim, às vezes não — encolheu os ombros. — Todo mundo tem conflitos com os pais, mas acho que eles não esperavam que eu fosse ser tudo isso, sabe? A maioria dos adolescentes é tipo: "quero chegar em casa tarde", "eu gosto dessa música que vocês acham ruim", "eu não quero comemorar o natal com nossos parentes", "eu não quero fazer essa faculdade". Mas aí, eu cheguei e falei que sou menino, sou menina e as vezes não sou nenhum, que eu gosto de homens e mulheres, que eu não gosto do nome que eles escolheram pra mim, que eu vou usar as roupas que eu quiser, vou fazer a faculdade que eu quiser e sair de casa o quanto antes… eles não devem estar satisfeitos com tudo isso que eu faço, mas eles precisam de mim e eu preciso deles, por enquanto.
Com um suspiro pesado, Chan deitou a cabeça no ombro do alfa, fechando os olhos por um momento. Ele sentiu quando Siwoo segurou sua mão e cruzou seus dedos.
— Falei demais? — o beta murmurou.
— Não, não — Siwoo se apressou em dizer. — Eu só tava pensando em como responder. Eu quero saber mais sobre você, mas não achei que tinha tanta coisa.
— Todo mundo tem muita coisa, algumas pessoas só não prestam tanta atenção — ele disse, afastando-se para olhá-lo. — Mas por que você quer saber mais sobre mim?
— Por que eu não iria querer?
— Não se responde uma pergunta com outra pergunta — retrucou.
Siwoo riu nasalmente, ajeitando-se no lugar, cruzando as pernas como "índio" e olhando para Chan.
— Porque eu já te acho incrível sabendo pouco sobre você, então eu quero saber mais dessa pessoa tão interessante — falou, tocando o rosto do beta, acariciando sua bochecha.
Em resposta, o mais novo riu sem jeito, fitando o chão.
— Aigo, eu não sei reagir a elogios — exclamou, empurrando o ombro do maior. — Para com isso.
— Ok, eu paro com uma condição: continua se abrindo pra mim — pediu, virando-se para ele.
— Você diz no sentido figurado ou tipo…? — ergueu uma sobrancelha, sentando de frente para o mais velho e abrindo suas pernas.
— Para com isso, garoto! — ele ralhou, rindo divertido ao bater nas canelas do menor sem força. — Você tem uma mente muito suja, sabia disso?
— É, eu sei. Mas não é sempre, tenho meus momentos — riu, sentando como “índio” também e se aproximando. — O que você quer saber?
Siwoo pensou por um momento, segurando a mão do beta que estava com o cigarro, levando-o até seus lábios.
— Eu tava gostando de ouvir sobre seus irmãos e seus pais.
— Tanta coisa pra saber, e você quer saber isso? Que sem graça — resmungou.
— Nunca ouviu dizer que é conhecendo a família de alguém que a gente entende uma pessoa? — perguntou. — Todos psicólogos sabem disso.
— Ah, então, foi mal — Chan respondeu, levantando-se. — Não marquei nenhuma consulta com Freud, não.
— Ei, ei! É brincadeira — exclamou o alfa, segurando o mais novo pela mão para que não fosse. — Fica, por favor.
Com um puxão mais forte, Chan caiu sobre o colo do maior e, talvez não pensando muito em suas ações, Siwoo tocou o rosto dele e selou seus lábios em um contato breve.
O beta sustentava uma expressão surpresa quando o mais velho se afastou. Chan ficou em silêncio, sem saber como reagir.
— Desculpa — Siwoo pediu, tirando suas mãos dele.
— Tudo bem — respondeu, limpando sua garganta e saindo de cima do outro, voltando a sentar-se no chão de frente para ele. — Não é como se a gente não tivesse se beijado antes.
— Mesmo assim, eu…
— Não se preocupa — disse, antes que ele se prolongasse. — Quer continuar a conversa?
— Eu adoraria — sorriu. — Hum… Você gosta de cuidar dos seus irmãos?
— É cansativo, não vou mentir, mas é gratificante, também — contou, esboçando um sorriso pequeno. — Junseo ainda é um bebê, mas Minho já tem oito anos e eu acho incrível ver como eu consegui influenciar ele em algumas coisas, sabe? Ele não tem medo de ser quem ele é, quando ele quer, ele me pede pra fazer maquiagem nele, ele gosta de brincar com minhas roupas, ele não se importa se dois homens ou duas mulheres namoram, e ele é tão divertido — seu sorriso aumentou. — Ele fala coisas tão engraçadas, ele é criativo e adora brincar. E ele não tem vergonha de fazer o que ele quer e eu me sinto tão orgulhoso dele, sabe?
Siwoo também tinha um sorriso no rosto, achando fofa a forma como Chan falava de seus irmãos, sendo tão claro o quanto ele amava-os.
— Eu não conheço ele, mas tenho certeza de que ele é tão legal quanto o irmão — disse, tocando a mão do beta, apertando seus dedos e soltando em seguida. — É bom que ele tenha você.
— É, eu acho que sim. Mesmo que seja cansativo eu ter que proteger ele, eu espero ensinar ele a se defender e fazer o que ele quer…
— Assim como você faz? — arqueou uma sobrancelha.
— Acho que sim — Chan riu.
O alfa retribuiu o gesto, tragando o cigarro já no final, entregando para o mais novo, que apagou-o após fumar também.
— Se tudo bem eu perguntar: por que você sente que precisa proteger ele?
Ele ficou em silêncio por algum tempo, pensando em sua resposta, então disse calmo:
— Às vezes, as pessoas me perguntam isso: por que eu defendo tanto meus irmãos, por que eu estou sempre cuidando com o que vão falar pra eles, se vão brigar com eles, principalmente quando eles estão brincando — suspirou. — Normalmente eu digo que é minha função como irmão mais velho, mas, na verdade, eu faço isso porque, óbvio, eu amo eles, mas também porque todo mundo fala que a gente tem que “proteger as crianças”, mas quando elas falam isso, elas dizem que as crianças tem que ser protegidas de pessoas como eu, como se meu gênero e sexualidade fossem grandes ameaças pra inocência delas — riu sem humor, sentindo um nó se formando em sua garganta. — Mas, quando eu era criança, eu sempre fui diferente, eu sempre fui eu mesmo, e as pessoas não gostavam disso. Os professores pegavam no meu pé, meus pais e familiares também, ninguém estava interessado em me proteger. Ninguém quer proteger as crianças que são diferentes. E eu não vou deixar isso acontecer com meus irmãos, eu nunca vou deixar que eles se sintam mal por serem quem são do jeito que eu me senti — afastou algumas lágrimas.
Siwoo aproximou-se, secando com delicadeza o rosto de Chan, trazendo-o para perto e o abraçando.
— Eu só… eu acho engraçado também porque eu sempre tento proteger eles, principalmente Minho que é mais velho, mas ele me protege também — contou, apoiando a bochecha no ombro do maior. — Ele nunca deixa ninguém me fazer mal, ele me aceita e ama como eu sou, porque ele não vê como uma ameaça, ou como uma pessoa diferente das outras, ele só me vê como irmão mais velho.
Logo, eles voltaram a cair num silêncio. Chan respirou devagar e abraçou o Siwoo mais apertado.
— Desculpa ter feito você ficar triste — pediu o alfa, acariciando os cabelos escuros, que estavam maiores agora que Chan estava com um mullet.
O menor deu de ombros, afastando-se um pouco para que pudesse secar seu rosto sem borrar a maquiagem.
— Não tem problema — sorriu fechado. — Eu só espero que tudo que faça seja bom pra eles.
— Eu tenho certeza que é — assegurou, tocando o rosto dele com as duas mãos de forma gentil.
Chan ficou em silêncio, observando com cuidado os detalhes de Siwoo de perto, suas pálpebras estavam um pouco pesadas e seu corpo leve. Ele levou suas mãos até o pescoço do mais velho, brincando com os fios de cabelo curtos em sua nuca, enquanto os olhos fitavam intensamente seus lábios.
— Meio estranho eu querer te beijar depois que eu passei uns cinco minutos falando dos meus irmãos.
Siwoo riu, abaixando o rosto e balançando a cabeça de forma negativa.
— Você sabe como estragar um clima, né? — brincou.
Chan acabou gargalhando, debruçando-se sobre ele por um momento, logo se afastando para que pudesse justificar:
— Não, mas olha bem, é que…
Porém, antes que ele pudesse continuar, Siwoo tocou suas bochechas e colou seus lábios.
Imediatamente, Chan abraçou o maior pelo pescoço, subindo em seu colo e aproximando seus corpos o máximo que podia. Suas bocas se encontravam com certa pressa, sugando os lábios alheios e mordendo-os sem força vez ou outra. Logo, as línguas se encontraram curiosas, enquanto as mãos do mais novo tocavam a nuca do alfa, ele sentia vontade de sorrir ao constar que Siwoo estava arrepiado.
— Está com frio? — Chan perguntou ao quebrar o ósculo, correndo os dedos pelas bochechas dele e roçando seus narizes.
— Quem dera fosse isso — ele respondeu, deslizando as mãos pelo corpo do mais novo até alcançar suas coxas, puxando-o para mais perto. — Você é tão malvado comigo.
— Por que? — inclinou o rosto, beijando os lábios alheios mais vezes.
— Você flertou comigo, me chamou pra sair e nem me deu a chance de aproveitar direito quando ficamos — relatou, agarrando alguns fios da nuca dele, deixando selares em seu pescoço, sorrindo satisfeito ao vê-lo se arrepiar. — E ainda me deu um gelo depois.
Chan riu nasalmente, mesmo que não achasse de fato engraçado. Puxou o alfa para que pudesse beijá-lo de novo, sendo retribuído prontamente. Siwoo o beijava quase como se estivesse com raiva, mordendo seu lábio inferior com força e descontando um pouco daquele sentimento deixando marcas em seu pescoço e ombros, ele mesmo havia afastado a gola da camiseta para que pudesse alcançá-los.
— Eu só não quero que se apaixone por mim — o mais novo sussurrou.
O beta tinha os olhos fechados e a cabeça tombada para trás, permitindo que o maior fizesse o que bem entendesse consigo.
Em resposta a sua fala, Siwoo riu baixo:
— Você é muito convencido, sabia disso?
Fora a vez de Chan de rir, voltando seu olhar para o alfa outra vez.
— Foi você que me falou que tava gostando de mim — lembrou, segurando o colarinho de sua blusa. — Não se lembra?
— Ok, eu lembro — respondeu, abraçando a cintura do beta e o puxando para mais perto de si. — Mas, seria ruim eu gostar de você?
— Se eu não sinto o mesmo por você, é, sim — falou, tocando o peito de Siwoo para afastá-lo de si.
Siwoo o olhou intensamente por alguns segundos antes de dizer:
— Me dá uma chance.
— Não, eu… — Chan suspirou pesado, levantando-se. — Eu não quero te machucar. Me desculpa.
Sem esperar por uma resposta, o mais novo se apressou em sair dali.
— Chan, espera, por favor — o alfa tentou chamá-lo, mas foi ignorado.
Assim que estava sozinho, Siwoo suspirou, apoiando-se na parede e tocando seus lábios com a ponta dos dedos.
— Não vou desistir tão fácil, Chan.
O beta descia as escadas da casa depressa, agradecia pela pequena multidão de pessoas que estavam presentes, permitindo que ele se camuflasse no meio delas, enquanto corria até o quintal da casa, onde ele encontrou Seokmin conversando com Jihyo.
— Oi, Chan — a alfa sorriu ao vê-lo, abrindo espaço para que ele sentasse entre ela e Seokmin.
— Oi, noona. Não sabia que você vinha pra festa.
— Eu não queria porque acho a Gyonghui um porre — segredou para o mais novo. — Mas Mina insistiu tanto que eu acabei vindo.
— E cadê ela? — Seokmin perguntou.
— Com uma tal de Dahyun, me deixou totalmente pra escanteio — reclamou, fazendo uma careta e tomando alguns goles da sua bebida. — Quer?
Chan arqueou a sobrancelha ao pegar o copo da alfa.
— O que é isso?
— Só bebe — ela disse, segurando a nuca do mais novo e o copo, incentivando-o a beber.
O beta fez uma careta desgostosa quando o sabor amargo desceu pela sua garganta.
— Prende a respiração por alguns segundos — Seokmin falou, cobrindo a boca de Chan.
— Que tipo de droga vocês me deram? — ele reclamou.
— É vodka, só que tá pura — Jihyo falou, bebendo também.
— Agora, me tira uma dúvida — Seokmin falou. — Como que, em todas as festas que a gente vai, eu te perco de vista por alguns minutos e quando te acho você tá com um chupão no pescoço?
— Puta que pariu, sério? — Chan exclamou, pegando seu celular para que pudesse ver seu reflexo. — Filho da puta.
— Quem que fez isso? — Jihyo perguntou, curiosa.
— Siwoo — o mais novo suspirou. — Agora quem se fode pra esconder dos meus pais, sou eu.
— O que você fez com o menino?
— Eu!? Ele baixou o Conde Drácula e me marcou! — apontou para o próprio pescoço.
Seokmin e Jihyo riram. A alfa bagunçou os cabelos do menor.
— Vocês ficaram? — ela perguntou.
— Um pouco — deu de ombros. — Não quero falar sobre isso, na verdade.
— Por que? — Seokmin se aproximou. — Ele beija mal?
— Não! Pelo amor de Deus, ele beija muito bem — confessou o beta, fechando os olhos. — Só que o quê? Ele inventou de dizer que gosta de mim, e eu fico com cara de trouxa porque eu não gosto dele desse jeito. Aí eu corri antes que ele falasse mais alguma coisa.
— Normalmente, quando as pessoas falam “eu não quero falar sobre isso”, elas não falam sobre isso — apontou Jihyo.
— Você tem certeza que não é aroace? — Seokmin perguntou.
— Ha ha, muito engraçado — Chan disse. — Pra sua informação, já me apaixonei mais vezes do que eu gostaria e meu sonho de princesa é ter um namoro todo fofo, mas meus planos deram errado algumas vezes, então eu tô controlando meu coração.
— Você quer dizer, se fechando pra qualquer parceiro em potencial? — a alfa ergueu uma sobrancelha. — Amor, isso se chama bloqueio emocional.
— Que seja — murmurou o beta, pegando o copo para beber mais.
— Tá, mas assim — Seokmin começou. — Talvez, quem sabe, não seja uma boa ideia você se abrir só um pouquinho assim pro Siwoo?
Chan suspirou, correndo os olhos pelo local.
— Eu não sei, é que tipo…
Sem que a conversa pudesse continuar, eles foram interrompidos num susto quando ouviram um barulho alto vindo de dentro da casa, junto de algumas pessoas gritando coisas que não souberam distinguir.
Rapidamente, eles levantaram-se para ver o que estava acontecendo lá dentro.
— Briguem lá fora! — Gyonghui gritava, tentando proteger sua casa.
Seokmin e Chan arregalaram os olhos quando perceberam que quem estava envolvido na confusão era Wonwoo e Jeongsu. Alguns outros garotos já haviam separado a briga, mas eles ainda gritavam xingamentos e tentavam avançar um contra o outro.
Chan olhava em volta à procura de Mingyu, preocupado com o amigo e quase entrando em pânico ao não vê-lo por perto. Felizmente, logo ele encontrou-o ali por perto, tentando passar pelo amontoado de pessoas curiosas para que conseguisse chegar até o namorado.
Com muito esforço da parte de alguns garotos, Wonwoo e Jeongsu foram apartados e colocados longe um do outro. Graças a toda cena, os amigos do casal foram obrigados a ir atrás deles, para garantir que estava tudo bem.
Eles esperavam que Mingyu fosse estar preocupado com o Jeon mas, ao contrário do que pensavam, o Kim gritava irritado, afrontando o namorado por tudo que aconteceu. Não queriam ouvir a discussão deles, mas também não podiam deixá-los sozinhos.
— O que te deu na cabeça pra fazer uma merda dessas, hein!? — o ômega gritava, pisando forte até o carro que vieram. — Por que você tem que ser tão inconsequente?
— Eu não tava sendo inconsequente, nem nada assim! Eu tava te protegendo daquele babaca! — defendeu-se Wonwoo. — Ou você vai me dizer que tava gostando do que ele tava falando!? Vai me dizer que estava gostando dele tentando te tocar, é isso!?
— Ah, pelo amor de Deus — Mingyu ofegou, não acreditando no que estava ouvindo. — Eu não posso ter essa conversa com você. Não, eu me recuso…
— Muito maduro da sua parte.
— Sério? Você quer falar de maturidade? — olhou para o mais velho com raiva. — Você que agiu como um moleque lá dentro, então você não tem moral nenhuma no momento pra falar isso de mim.
— Gente — Seungkwan tomou a frente. — Se acalmem os dois, por favor.
— Vamos todos pra casa, que tal? — Hansol sugeriu, pegando as chaves e abrindo o carro.
— Sim, a festa foi arruinada mesmo — Mingyu resmungou, entrando no banco do passageiro e batendo a porta com força.
Wonwoo revirou os olhos com tanta força que os sentiu doer.
— Não liga, ele só tá irritado — Seokmin disse para o alfa, tentando apaziguar a situação.
— Ele não é o único — retrucou.
— Ok, garotão, respira fundo e entra no carro — Chan disse, abrindo a porta de trás. — Vocês vão ter tempo de conversar em casa.
Sem dizer mais nada, o Jeon apenas cedeu e entrou, não ousando sequer olhar para Mingyu.
— Boa sorte — Seokmin sussurrou para Chan. — E a gente se vê na escola.
O mais novo concordou com a cabeça, respirando fundo antes de entrar no veículo.
Num silêncio pra lá de desconfortável e constrangedor os garotos seguiram para suas casas. Hansol parou na casa de Chan primeiro, que era a mais próxima.
— Wonwoo hyung, qual seu endereço? — perguntou, assim que viu o mais novo entrar em casa e fechar a porta.
— O pai dele já tá dormindo, ele vai lá pra casa — Mingyu falou, olhando a janela como se fosse a coisa mais interessante do mundo.
Vernon olhou Wonwoo pelo retrovisor para ter certeza de que era isso, e assim que ele lhe deu um curto aceno de cabeça, ele seguiu caminho até a casa de Mingyu.
— Boa noite, meninos — Seungkwan desejou, saindo do banco de trás para que pudesse sentar ao lado do namorado. — A gente se vê na escola.
— Tchau, Kwan — Mingyu forçou um sorriso antes de seguir até o portão.
Wonwoo acenou para se despedir, seguindo o namorado.
— Acha que eles vão ficar bem? — Seungkwan perguntou assim que fechou a porta do carro.
— Você não deveria se preocupar, é o relacionamento deles — respondeu Hansol, esperando que os amigos entrassem para dar a partida e ir embora.
Quando olhou para o lado, viu a expressão meio emburrada e pensativa do namorado, então buscou a mão dele, cruzando seus dedos.
— Eles vão ficar bem.
Assim que Mingyu e Wonwoo entraram na casa, o ômega fechou a porta e acendeu as luzes. Ele sentia-se cansado, mas não podia simplesmente ir dormir com tanta coisa presa em sua garganta, ele, porém, não queria brigar, não queria iniciar uma discussão. Odiava discussões, odiava gritos e já se amaldiçoava por ter gritado mais cedo, havia explodido e sabia disso.
— Eu não pedi pra você me proteger — Mingyu falou, quebrando o silêncio agoniante que pendurava entre eles.
— Você não precisa me pedir, precisa? — rebateu o Jeon, aproximando-se devagar. — Eu ainda não entendi porque você tá irritado comigo, como se eu tivesse feito algo errado…
— Eu só… — começou, mas interrompeu-se com um nó na garganta. — Eu não gosto disso.
— O que exatamente? — cruzou os braços.
— Você acha que eu sou fraco — falou, rendendo-se ao choro, deixando que as lágrimas finas escorressem por seu rosto.
— Eu não te acho fraco — negou. — Por que você entende tudo errado? Eu quero te proteger porque você é meu namorado…
— Eu sei que eu não sou a pessoa mais corajosa do mundo — Mingyu argumentou, aumentando um pouco seu tom de voz, mas ainda se contendo. — Mas eu não preciso de proteção…
— Eu não acredito em você…
— Você deveria acreditar em mim! — exclamou. — Wonwoo, eu… eu amo que você seja alguém protetor, mas… mas às vezes, eu me sinto sufocado. E eu odeio me sentir assim, eu não quero me sentir assim com você.
— Eu não estou te sufocando, eu só…
— Eu sei o que você tenta fazer! Eu sei! — enfatizou, tocando o próprio peito e chegando mais perto. — Mas você precisa me deixar fazer as coisas sozinho, também! Mil pessoas me fizeram acreditar que eu não conseguia fazer nada, mas eu tô aprendendo que eu consigo, e eu preciso que você só me ajude a acreditar, porque eu quero conseguir, mas se você não me der uma chance…!
— Então me prova que você não precisa, porque o que eu vi hoje não foi tudo, menos você se defendendo — rebateu, tão irritado e confuso quanto o outro.
Mingyu olhou-o por eternos segundos, sentindo vontade de chorar ainda mais ao ver os olhos que ele tanto amava daquele jeito.
Ele, então, conseguiu apenas esboçar um sorriso triste.
— Você tá me machucando — disse, abaixando a cabeça. — Eu não consigo ter essa conversa agora.
— Mingyu…
— Wonwoo, agora não, por favor — pediu, respirando trêmulo. — Só me deixa, tá?
Sem forças para esperar por uma resposta, o ômega foi até seu quarto, fechando a porta.
Wonwoo até foi até lá e pensou em entrar, talvez bater na porta, mas ao ouvir os soluços altos e doloridos do outro, não teve coragem.
Sem muitas escolhas, ele voltou para a sala, sendo tomado por suas lágrimas, deixando que elas rolassem livremente por seu rosto até o chão. Ele deu alguns passos pela sala, perdido, sem saber o que fazer, como acontecia várias vezes.
Wonwoo constantemente se sentia perdido, machucado. Odiava se sentir assim, pois não via ninguém ao seu redor para que pudesse se apoiar, havia aprendido a colocar as pessoas acima de si e esconder suas próprias dores, mas todo esse aprendizado não fazia tudo isso doer menos.
Quando ele andou até a porta e estava pronto para girar a maçaneta, ele ouviu a voz de Hyorin:
— Onde você vai?
Como se estivesse em alerta novamente, Wonwoo rapidamente secou seu rosto, fungando quando virou-se para a mais velha.
— Eu… Eu acho que vou pra casa.
Ela sorriu compreensiva e doce, aproximando-se dele.
— Você está em casa, querido — assegurou, gentilmente tocando seu braço e suas costas, guiando-o até o sofá. — Não ache que você precisa ir por causa de uma briguinha boba.
— Você ouviu?
A ômega concordou com a cabeça, acariciando com cuidado o ombro do mais novo.
— Tenho um sono leve e um instinto de mãe — brincou, sorrindo.
— Desculpa te acordar — sussurrou, tentando controlar sua respiração para que ajudasse a conter suas lágrimas.
— Tudo bem, não se preocupe. Desentendimentos são normais em qualquer namoro.
— Eu não queria machucar ele, eu nunca…
— Eu sei — acalmou, bagunçando seus cabelos. — Ele também sabe disso. Só dê um tempo, sim? Logo pela manhã, vocês vão estar mais calmos e vão conseguir conversar melhor.
— Obrigado, senhora Kim — forçou um sorriso, olhando para ela.
— Se quer saber, eu entendo esse sentimento que você tem de querer proteger os outros — Hyorin começou, afastando uma lágrima do rosto dele com cuidado. — É algo que não controlamos, né? Quando… nós crescemos sem alguém que nos proteja, não queremos que ninguém se sinta assim, então queremos proteger todo mundo, mesmo que ninguém faça o mesmo por nós.
Wonwoo sentiu seu coração apertando ao ouvir aquelas palavras, talvez ele não tivesse imaginado que alguém soubesse explicar aqueles sentimentos. E, mesmo tentando lutar ferozmente, ele não conseguiu evitar que mais lágrimas caíssem.
— Eu não… — tentou dizer alguma coisa, mas sua voz estava embargada, sua garganta fechada de forma que chegava a doer.
Hyorin aproximou-se mais, abraçando aquele garoto tão indefeso com o mesmo instinto protetor que ela carregava, sentindo o momento exato em que ele cedeu e libertou seu pranto, chorando alto.
— Você não precisa ser forte o tempo todo — ela disse, abraçando-o apertado, sentindo as lágrimas dele molhando sua roupa.
Wonwoo soluçou mais alto, chorando como uma criança, envolvido naquele abraço tão acolhedor, sentindo-se — talvez pela primeira vez — protegido.
Levou longos minutos até que o pranto do alfa se acalmasse, quase meia hora depois, ele conseguiu respirar com calma, e não muito tempo depois, acabou caindo no sono.
Com todo cuidado do mundo, Hyorin o ajeitou no sofá, retirou seus óculos e deixou-os de lado, colocou uma almofada em sua cabeça e foi buscar um cobertor.
Quando virou no corredor, entretanto, assustou-se ao ver Mingyu ali, apoiado na parede e com alguns resquícios de lágrimas em seu rosto.
— O que você tá fazendo, filho? — ela perguntou.
— Eu que fiz ele chorar daquele jeito?
— Não, não foi você — assegurou, tocando o rosto dele. — Ele só… tem machucados que nunca vai dizer.
Mingyu fungou, seus olhos lacrimejaram.
— Eu sei — sussurrou. — Às vezes, perco o sono pensando nisso.
Hyorin suspirou, secando o rosto do filho.
— Você não precisa mais chorar — sorriu fechado. — Eu sei que você ama esse garoto. E ele sabe disso. Amanhã vocês conversam com calma.
Ele assentiu com a cabeça.
— Eu levo os cobertores — disse. — Pode voltar a dormir, você acorda cedo.
— Certo, certo — ela riu nasalmente. — Boa noite, filhote.
— Boa noite, mãe — sorriu, deixando um beijo em seu rosto.
Assim que a mulher voltou para seu quarto, Mingyu buscou o cobertor revirado em sua cama, caminhando até a sala em passos silenciosos.
Wonwoo dormia em posição fetal, parecendo tão tranquilo e Mingyu sentia-se doer ao pensar no quão machucado ele estava.
Tentando ser cuidadoso, o ômega cobriu o namorado com o cobertor, enfiando-se entre os braços dele em seguida, sabendo como ele tinha um sono pesado.
Apertou-se naquele pequeno sofá, envolvendo Wonwoo e o mantendo perto de si, porque nenhum lugar era mais confortável do que aquele abraço.
[...]
Quando acordou pela manhã, o alfa não esperava ver e sentir Mingyu tão perto de si, mas percebeu que fazia certo sentido, dado ao fato de que ele dormira bem.
O maior já estava acordado, lhe observando com cuidado, enquanto acariciava seus cabelos.
— Bom dia — ele desejou.
— Bom dia — respondeu, tocando a mão de Mingyu. — Acho que precisamos conversar.
— Sim, precisamos — sussurrou, mordendo os lábios em nervosismo.
Wonwoo suspirou, buscando palavras.
— Me desculpa — pediu. — Por tudo. Eu não queria te magoar…
— Eu também não queria te machucar — olhou-o. — Mas eu preciso que você acredite em mim.
— Eu acredito em você, com toda minha vida — assegurou. — É óbvio que eu ainda quero te proteger, porque eu te amo e não suporto a ideia de te ver machucado. Mas eu sei que você consegue, você é a pessoa mais forte que eu conheço.
— Eu tento ser — falou. — E você precisa ser menos inconsequente.
Wonwoo revirou os olhos.
— Eu vou tentar ser — afirmou. — Mas promete que não vai deixar nenhum babaca te incomodar.
— Eu só não vou partir pra agressão como você fez — retrucou.
— Justo, já basta eu levar socos por sua causa.
Mingyu riu baixo, negando com a cabeça.
— É exatamente isso que eu quero que pare — exclamou, abraçando apertado. — Não faz mais isso, tá?
Ele concordou.
— Eu prometo.
O maior sorriu, tocando o rosto de Wonwoo e plantando selinhos em seus lábios.
— Ah! Que nojo, você nem escovou os dentes!
— Larga de ser fresco!
Chapter 45: Chá de Amoras
Chapter Text
— Yoona fez cocô de novo! — Jihoon exclamou, fazendo careta ao sentir o cheiro da fralda suja.
— É só trocar ela, ué! — Soonyoung respondeu, tentando se concentrar em cortar a barriga de porco para o almoço.
— Ou eu troco ela, ou eu te ajudo a fazer a comida — retrucou.
— Troca ela — disse o alfa, virando para o namorado e colocando as mãos na cintura.
— Mas eu...
— Deixa que eu troco — Jisoo falou, pegando a bebê chorosa no colo. — Como é que a gente consegue ser tão ruim em cuidar de um bebê e de uma casa?
Jihoon deu de ombros, voltando para perto do fogão.
— Quando foi que minha vida virou de cabeça pra baixo? — o ômega murmurou.
Joshua estava prestes a subir as escadas para ir até o quarto de Yoona e limpá-la quando a campainha foi ouvida. Ele bufou antes de ir até a porta.
— O que você tá fazendo aqui? — perguntou, franzindo o cenho.
— O que você tá fazendo aqui? — Chan retrucou, sorrindo de canto.
— Não tenho mais casa — Jisoo respondeu, rindo sem humor. — Mas, aparentemente, tenho um bebê pra cuidar.
— E é isso que eu tô fazendo aqui — ela sorriu, entrando na casa. — Vim conhecer o novo integrante da família Lee.
— Hyung, quem tá aí? — Jihoon perguntou, saindo da cozinha. — Chan? Que surpresa!
— Você disse que eu poderia vir visitar quando quisesse — sorriu. — Eu trouxe fraldas.
— Você é um anjo — disse o ômega, andando até o mais novo e o abraçando.
Ela retribuiu o abraço.
— Por que você tá cheirando a carne de porco e cebola? — franziu o cenho.
— Soonyoung e eu estamos tentando fazer o almoço — explicou brevemente. — Você chegou num momento meio complicado, tá tudo um caos.
— Eu percebi — riu nasalmente. — Bom, eu posso ajudar com a bebê, se quiserem.
— Eu aceito, toma ela — Jisoo falou, entregando Yoona no colo de Chan. — Eu vou pegar as coisas pra trocar ela.
— Eu vou voltar pra cozinha — Jihoon disse.
Assim que estava sozinho na sala com Yoona e seu choro alto, Chan sorriu boba ao observar a menorzinha.
— Você é tão fofinha — sussurrou, embalando ela com cuidado em seus braços para acalmá-la.
Então, ele subiu as escadas a procura de Jisoo, que pegava lenços umedecidos e pomada para assaduras com pressa, derrubando algumas coisas no processo.
— Você tá mais perdido que gay em balada hétero — apontou Chan assim que entrou no quarto da bebê.
— É verdade, obrigado por notar — Joshua disse. — A parte boa é que Yoona chora tanto que eu nem tenho tempo de pensar na grande merda que minha vida virou.
— Oh, tadinho dele — a mais nova disse, fazendo um bico e indo até o berço, onde colocou Yoona.
Ela abaixou as grades e ficou de joelhos no chão, chamando o mais velho para ficar ao seu lado.
— Você não tem falado com seus pais? — ela perguntou enquanto tirava o macacãozinho que Yoona vestia.
Jisoo suspirou pesado antes de responder:
— Não. Faz quase duas semanas e nada — contou, sentindo vontade de chorar, mas tentando se conter. — Eu sei lá, não esperava que tudo fosse chegar a esse ponto, mesmo eu sabendo que seria ruim, eu não achava que ia ser tanto.
— Eu imagino — murmurou em resposta, jogando a fralda suja no lixo e pegando a nova na mão do mais velho. — Eu nem sei o que te dizer, é tudo tão fodido.
— Nem me fala. Não tenho casa, não tenho pais, não tenho alma gêmea, não tenho nada — lamentou-se, apoiando a cabeça no colchão.
— Você tem a gente — falou, cutucando suas costelas para lhe fazer cócegas. — É óbvio que tudo tá uma merda, mas a gente tá do seu lado. Mesmo que a gente não seja o Jeonghan ou seus pais, a gente se preocupa muito com você.
Jisoo riu nasalmente.
— É, eu sei. Obrigado.
— E como tá sendo morar aqui? — perguntou, limpando Yoona com lenço umedecido.
— Em partes é bom, em partes é ruim — falou, observando a facilidade que Chan tinha em trocar a bebê. — Daeun e Taesuk são muito gentis, eles me ajudaram muito nas crises que eu tive nas primeiras noites. Tô realmente começando a pensar que eles são anjos.
— Jihoon tem tanta sorte. Chega a ser injusto — comentou, colocando a fralda no bebê.
— Nem me fala — suspirou.
— Acabei — declarou, assim que terminou de vestir Yoona. — Prontinha pra sujar de novo, né?
— Você fez isso, tipo, dez vezes mais rápido que eu — apontou o mais velho.
— Eu tenho dois irmãos, eu troco fralda desde meus 11 anos — explicou, sorrindo ao pegar a bebê no colo. — Ou seja: você é fraco, lhe falta experiência.
Joshua riu baixo, levantando-se junto de Chan.
— Naruto? Sério?
— Qual o problema? Eu assisto com meu irmão — deu de ombros. — E você acabou de se entregar, porque sabia de onde era.
— Eu assistia com Soonyoung — explicou, abrindo a porta e dando espaço para ele passar primeiro. — Vamos descer e ver se aqueles dois não colocaram fogo na cozinha.
Chan sorriu e concordou, levando Yoona com cuidado nos braços.
— E como você tá se sentindo sobre a volta às aulas?
— Tô tentando não pensar nisso — falou, tocando as têmporas. — Eu preciso ir na casa dos meus pais pra pegar o material que eu deixei lá, mas tô com medo de ir e eles estarem lá.
— Se você quiser...
— Chegamos! — Daeun anunciou ao passar apressada pela porta. — Meninos, alguém pega a bomba pra mim, por favor? Meus peitos estão vazando de tanto leite...
A fala da alfa morreu em sua garganta quando seus olhos encontraram Chan, que ela não conhecia, e acabou sentindo-se um pouco constrangida por sua fala.
— Oi — a beta sorriu, um pouco sem jeito também. — Eu sou Chan, amigo desses carinhas.
— Ah, muito prazer — respondeu ela, cruzando os braços para esconder a blusa molhada de leite materno. — Me desculpe por...
— Não tem problema, tenho um irmão de seis meses, já tô acostumado com essas coisas — acalmou.
— Menos mal — Taesuk disse, fechando a porta e entrando. — Olá.
— Olá, senhor Lee — Chan disse, curvando-se numa pequena reverência. — A filha de vocês é um amor.
— Eu sei, eu que ajudei a fazer — o ômega sorriu orgulhoso, indo até a cozinha em seguida. — Soonyoung-ah como está o almoço?
A beta tentou esconder um riso que ameaçou crescer em seu rosto, mas talvez não tenha conseguido.
— Aqui, Daeun noona — Jisoo falou, descendo as escadas e entregando a bomba extratora para a alfa.
— Obrigado, querido. Eu vou fazer isso no quarto, na verdade.
— Eu posso ir embora, não quero atrapalhar — Chan se apressou em dizer.
— Imagina, querido. Pode ficar a vontade, a casa é sua — disse a alfa, sorrindo gentil. — Não ouse não estar aqui quando eu descer.
Chan riu baixinho.
— Certo, pode deixar.
Daeun sorriu e subiu as escadas.
— Eu te disse, ela é um anjo — Joshua falou baixo para o mais novo.
— Eu percebi.
— Ai! Tá bem, já tô saindo — Jihoon disse meio emburrado ao sair da cozinha. — Esses dois testam minha paciência.
— Eles não tem culpa se você não sabe cozinhar — Jisoo apontou, escondendo-se atrás de Chan quando Jihoon ameaçou jogar o pano de prato em si.
— Estão convivendo há poucas semanas e já estão agindo como irmãos? — Chan arqueou uma sobrancelha. — Que fofo.
Jihoon revirou os olhos, deixando o pano no balcão e aproximando-se do mais novo para pegar a irmã.
— Vou levar ela pro quarto, daqui a pouco ela já precisa comer.
— Tá bem, mas depois eu quero nanar ela mais um pouquinho — Chan disse, fazendo um bico ao entregar Yoona com cuidado nos braços do ômega.
— Ok — ele murmurou, subindo as escadas.
Assim que ficaram apenas Joshua e Chan na sala, o mais novo se aproximou com cuidado.
— O que Jihoon tem? Ele tá meio estranho — perguntou, tentando manter a voz o mais baixa possível.
— Bom, eu não sei dizer se é o fato dele ter uma irmã de três semanas, duas pessoas aleatórias morando na casa dele, ou o fato de Soonyoung não tá conversando muito com ninguém nesses últimos dias — enumerou nos dedos, andando devagar até o sofá e sentando-se, sendo imitado pelo menor.
— Cara, que confusão que a vida de vocês virou...
— Ficar jogando isso na minha cara não ajuda — rebateu Jisoo.
— Grosso — reclamou, cruzando os braços. — Só tô tentando ajudar.
— Eu sei — falou, suspirando pesado. — Me desculpa, é só...
— Muita coisa pra assimilar?
— Mais ou menos isso — afundou no sofá, suspirando outra vez. — Ainda não sei o que vou fazer da minha vida, eu tô tão perdido.
Chan ficou sem saber o que dizer.
— Você quer um abraço? — ofereceu, meio incerto.
Jisoo pensou na proposta por alguns segundos antes de se aproximar e abraçar Chan com força, sendo retribuído na mesma intensidade. O mais novo acariciou seus cabelos e suas costas com cuidado enquanto o envolvia.
— Vai dar tudo certo uma hora ou outra — falou baixinho ao pé do ouvido de Joshua. — Eu prometo.
— Obrigado — respondeu, soltando-se do abraço lentamente.
Assim que estavam cara a cara de novo, Chan sorriu para si, tentando lhe passar alguma confiança.
— Tudo bem se eu perguntar sobre esse chupão super visível que você tá no pescoço? — Joshua apontou.
A mais nova rapidamente escondeu as marcas com as mãos, sentindo o rosto ficando vermelho.
— Eu apreciaria muito se você fingisse que não viu — falou, desviando o olhar.
— Ah, para. Deixa eu saber pra me distrair — reclamou, segurando os pulsos dele para tentar ver. — Quem fez isso?
— Foi o Siwoo.
— Ah, o mesmo daquela vez? Ele é bonito — comentou, apoiando o rosto na mão.
— Eu sei disso — falou. — A gente ficou numa festa esses dias e ele me marcou.
— Pra alguém assexuado você fica com muitas pessoas, né?
Chan riu baixo, balançando a cabeça.
— Primeiro: o certo é "assexual", não erra de novo — ergueu o indicador. — Segundo: não tem nada a ver. E terceiro: eu não fico com tantas pessoas assim.
Jisoo estreitos os olhos.
— Jura?
— Sim! — exasperou. — Claro que eu não sou santo igual você que tá se guardando pro amor verdadeiro ou sei lá...
— Cala a boca! — mandou, empurrando-a de leve, apesar de rir junto. — Não é nada disso.
— Ah, viu? Então não fala de mim — retrucou, mostrando a língua pra ele.
O mais velho revirou os olhos, sorrindo pequeno.
— Mas, falando sério e com toda sinceridade, com quantas pessoas você já ficou? — perguntou, curioso.
— Defina "ficar".
— Ficar ué — deu de ombros.
— Não ajudou — resmungou. — Mas... ficar só de dar uns beijinhos, umas sete pessoas desde meus 14 anos. E de ter algo "além" — fez aspas com os dedos. — Cinco desde meus 15. Acha muita gente ainda?
— E com quantos anos você tá?
— Fiz 18 na semana passada.
— Semana passada? — surpreendeu-se.
Chan apenas concordou com a cabeça.
— Você não disse nada — cruzou os braços. — Você chegou a fazer alguma festa ou algo do tipo?
— Mingyu me levou pra tomar sorvete. Mas, no geral, eu não gosto muito de comemorar o dia em que eu fui empurrada de uma vagina sem meu consentimento — riu baixo.
— Hum...
— Mas você ainda não respondeu: acha que eu fiquei com muitas pessoas?
Jisoo pensou por alguns segundos.
— Acho que não, se levar em conta que Soonyoung já ficou com três pessoas numa só festa.
— O que tem eu? — o alfa perguntou ao chegar na sala, pegando a conversa pela metade.
— A gente tava falando que você era meio vagabundo e ficava com qualquer um — Joshua falou.
Soonyoung rolou os olhos e mostrou a língua para o primo.
— Pode até ser, mas agora eu sou um menino comprometido, obrigado — gabou-se, mostrando o anel de compromisso que ele usava.
— Então, você deveria conversar com seu namorado ao invés de ignorar ele — rebateu o mais velho.
— Eu não tô ignorando ele. E isso nem é da sua conta — disse, não esperando para ouvir uma resposta, pois logo ele subiu as escadas.
— É, é exatamente isso que alguém inocente falaria — Chan ironizou, cruzando as pernas e os braços. — Ele percebe o que tá fazendo?
— Com certeza não — Joshua respondeu, suspirando cansado. — Sinto que tô causando desgraça na vida de todo mundo.
— Para com isso — interveio o beta, tocando a mão do mais velho. — Se você quer mesmo culpar alguém, culpa seus pais por não conseguirem aceitar quem você é. A culpa não é sua.
Ele suspirou, apertando os dedos de Chan entre os seus.
— Acho que eu preciso de terapia — murmurou.
— Isso seria ótimo — falou, virando para ele. — De verdade, se eu tivesse a oportunidade, eu faria terapia toda semana. Eu super apoio.
— Vou pensar melhor nisso — respondeu. — Talvez ver com Daeun e Taesuk o que eles acham.
— Acho que eles vão falar o mesmo que eu — argumentou. — Vai no seu tempo. Mas, não deixa pra depois.
Joshua concordou com a cabeça, fechando os olhos em seguida. Chan podia notar como ele parecia estar exausto.
— Eu vou ver se Taesuk precisa de ajuda — disse o Hong, abrindo seus olhos e levantando-se de repente.
— Tá bem — o menor assentiu. — Espera, só falar uma coisa pra você.
— O que foi?
Chan levantou e foi até Jisoo, abraçando-o outra vez.
— Não esquece que você não tá sozinho — falou baixo no ouvido dele.
Joshua sorriu.
— Obrigado — sussurrou, rindo baixo quando Chan se arrepiou e afastou-se com a mão sobre o ouvido.
— Yah! — ela reclamou.
Ele riu novamente, bagunçando os cabelos do mais novo antes de ir até a cozinha.
O beta sentou-se no sofá novamente, incerto do que deveria fazer. Pensou em pegar seu celular, mas logo Jihoon desceu as escadas e foi até ele.
— Pronto, lavei as mãos e acho que não tô mais com cheiro de carne — falou, sentando ao lado de Chan.
— Percebi, você já voltou a ter seu cheirinho de chá.
Jihoon riu nasalmente, virando-se para ela.
— Que bom que você veio — comentou. — Tá tudo meio caótico, mas você é sempre bem-vinda.
Chan sorriu.
— E pensar que uns sete meses atrás, você mal olhava pra mim na escola — apontou.
— Ah, não era por mal — choramingou. — Você é muito, muito, muito sociável. Tinha medo de te dar oi e, de repente, eu estar no meio de uma roda de pessoas que eu não conheço.
— Até parece que eu ia fazer isso — resmungou, apesar de rir.
Então, ficaram em silêncio por alguns segundos.
Chan notou como Jihoon parecia bem mais distante do que ele costumava ser, ele também parecia estar cansado em tantos níveis que era até difícil de tentar descobrir.
— E como você tá? — resolveu perguntar.
Jihoon deu de ombros.
— Cansado, mas bem.
O beta estreitou os olhos, chegando mais perto.
— Ok, agora me diz: como realmente você tá?
O mais velho sorriu fechado, suspirando de forma pesada e pensando em sua resposta.
— Bom, eu tenho uma irmã mais nova e outras duas pessoas morando comigo. Um é meu namorado e outro meu cunhado, e eles estão aqui porque a sociedade é um lixo e, aparentemente, as pessoas não podem ser gays — falou indignado. — E como se não bastasse, meu namorado não conversa comigo e eu não consigo conversar com meus pais porque eles já tem coisas demais pra lidar agora.
Após ouvir a declaração, Chan não soube direito o que falar, então, resolveu se aproximar e abraçar o ômega.
— Imagino que seja coisa demais — murmurou, acariciando os cabelos dele. — Logo tudo vai se acertar.
Jihoon fungou, apoiando o rosto no ombro do maior ao retribuir o abraço dele.
— Eu só tô tão cansado.
— O que normalmente você faz quando tá assim? — perguntou.
— Às vezes eu convido minha mãe pra darmos uma volta de carro — murmurou. — E outras vezes, eu abraçava meu namorado até essa sensação passar. Mas parece que tá tudo muito distante agora.
— Você deixa eu levar o Soonyoung pra um beco só pra eu dar uns tapa na cara dele?
Jihoon riu.
— Não deixo. Mesmo ele merecendo — afastou-se do abraço. — Eu só preciso tentar falar com ele, mas é difícil com a casa sempre cheia.
— Hum... vamos pensar em alguma coisa — Chan disse. — Por que você não convida ele pra sair?
— Eu pensei nisso, mas só de imaginar como vai ser a conversa, eu sinto vontade de chorar. E eu não vou chorar em público, bagulho humilhante.
— É, tá certo. Roupa suja se lava em casa — respondeu. — Bem, a qualquer momento, a oportunidade vai aparecer e você não perde.
— Eu vou tentar.
— E, sendo sincero, eu sei que vocês vão ficar bem — disse o mais novo. — Eu sempre gosto de pensar em vários cenários possíveis pra várias coisas, mas eu não consigo imaginar um momento em que vocês não dêem certo juntos. É até irritante como vocês parecem ser feitos um pro outro.
Jihoon sorriu, sentindo uma pequena sensação de alívio crescendo em seu peito.
De fato, não conseguia imaginar um futuro onde não estivesse com Soonyoung.
— Bem, eu vou indo — Chan falou, levantando-se do sofá. — Vou deixar a mais nova família Lee a sós.
— Que? Não, você precisa ficar pra almoçar — Jihoon rebateu, levantando também e segurando a beta pela mão.
— Não precisa, eu venho outra hora...
— Ei, Chan — Soonyoung exclamou ao descer as escadas. — Onde você pensa que tá indo?
— Pra... minha casa — ele respondeu, meio incerto.
— Você tá doida!? — o alfa aproximou-se.
— Se você for embora sem comer a comida do meu pai, ele vai ficar muito ofendido — Jihoon apontou.
— E você vai se arrepender, ele faz o melhor samgyeopsal do mundo — acrescentou o Kwon.
— Olha, eu agradeço, mas agora tô começando a sentir muita pressão e eu sinto que seria melhor eu só ir...
— Não vai! — Soonyoung afirmou, segurando Chan pelas pernas e a pondo sobre seus ombros.
— Hyung! — ele exclamou, batendo os pés. — Me põe no chão!
— Não, a gente quer que nossa caçula fique com a gente mais um pouquinho! — falou entre risos, dando alguns giros pela sala pequena.
Jihoon também já ria da confusão, cobrindo a boca para que conseguisse abafar um pouco do som alto.
Taesuk espiava por cima do balcão da cozinha, enquanto Jisoo e Daeun desceram as escadas um pouco assustados pela barulheira.
— Meninos, por favor, falem baixo pois Yoona dormiu e... — a alfa falava apressada mas, ao contemplar a cena de Soonyoung risonho segurando Chan sobre os ombros como se ela não pesasse nada, e Jihoon tentando controlar uma crise e tanto de gargalhadas, ela esqueceu o que iria dizer. — Bom, pelo menos, vocês estão sorrindo.
— Mas façam isso em silêncio, Yoona pegou no sono — Jisoo mandou.
— Pode deixar — Soonyoung disse baixinho.
— Dá pra você me soltar agora? — Chan perguntou.
— Não — o alfa riu.
[...]
— Hum! Eu não acreditei quando Soonyoung oppa disse que você fazia o melhor samgyeopsal do mundo — Chan disse, com a boca cheia. — Mas, ele tá certo dessa vez.
— E quando eu não tô certo? — retrucou o alfa.
— Quase sempre — respondeu o mais novo.
Os donos da casa riram baixo. Sempre gostaram de estar na presença de pessoas jovens e ficavam felizes deles estarem confortáveis.
— Honestamente — Taesuk começou. — Me sinto um pouco ofendido, é a primeira vez que alguém duvida dos meus dotes na cozinha.
— Eu só cometi esse erro uma vez quando eu tinha três anos — Jihoon comentou.
Chan sorriu e pegou mais um pedaço da carne de porco antes de responder:
— Me desculpe, Sr. Lee. Mas, se eu duvidei, é porque eu mesmo achava que fazia o melhor do mundo — contou, apoiando o rosto na mão, como se fingisse pensar. — O senhor pode ter me ganhado nesse, mas aposto que meu haejangguk é melhor ainda.
— Uuh — Daeun fez, como se instigasse a provocação.
— Eu não deixava — Jihoon cantarolou.
Os demais riram da cena. Jisoo negou levemente com a cabeça, apenas observando enquanto se servia mais.
— Então — Taesuk falou. — Devemos lançar um desafio?
Chan arqueou as sobrancelhas.
— Sério?
— Sim — afirmou. — Podemos marcar um dia pra cozinharmos e esses caras podem decidir quem é melhor.
— Eu topo — Soonyoung se apressou.
— É injusto, você pode muito bem escolher Taesuk-ssi porque ele é seu sogro — Joshua argumentou.
— De que lado você está? — o alfa cruzou os braços.
Chan acabou rindo baixinho da cena.
— Se tudo bem por vocês, eu topo — ela disse.
— Então, combinado — Taesuk sorriu, estendendo a mão para a mais nova que apertou-a, selando o acordo.
— Estou ansiosa — Daeun falou. — Haejangguk é minha comida favorita.
— Nossa, então é uma grande responsabilidade — Chan ponderou.
— Você aguenta? — Soonyoung arqueou uma sobrancelha.
— Eu sou uma garota muito responsável — a beta afirmou. — Eu só escolho não ser algumas vezes.
Daeun riu nasalmente observando-os.
— Meninos, vou precisar que vocês tirem a mesa e limpem a cozinha — ela disse, terminando de comer. — Nós vamos levar Yoona para o check-up dela agora pela tarde.
— Ok, sem problemas — Jihoon murmurou.
— Não vamos demorar — Taesuk disse, bagunçando os cabelos dos quatro garotos antes de subir as escadas.
— Eu tiro a mesa, mas não lavo a louça — Soonyoung falou, levantando-se e tirando os pratos.
— Que folgado — Jisoo retrucou. — Eu ajudo com a louça, Jih.
— Valeu — murmurou.
Logo, o Hong levantou-se também, indo até a cozinha junto do alfa.
— Hyung, essa pode ser sua chance — Chan disse, de repente.
— Do que?
— Seus pais vão sair e vão levar Yoona, Shua hyung me disse que precisa ir em casa, logo...
— Soonyoung e eu vamos ficar sozinhos.
[...]
Com a ajuda de Soonyoung, Jisoo e Chan, as tarefas que Jihoon normalmente faria sozinho foram terminadas em menos de uma hora, então, estavam livres de quaisquer preocupações quanto a isso.
Eles estavam sentados no sofá lado a lado, descansando, quando a mais nova levantou, anunciando que iria embora.
— Eu volto outro dia pra mimar sua irmã mais um pouquinho — falou, virando-se para Jisoo em seguida. — Você não vem?
Joshua franziu as sobrancelhas, sem entender.
— Pra onde?
— Ué, você não me disse que precisava pegar seus materiais na casa dos seus pais? — cruzou os braços. — Aproveita que eu ainda não tenho que voltar pra casa e vou te acompanhar.
— Hum... Tá bem? — concordou, ficando em pé. — Já te disseram que você é meio estranho, né?
Chan sorriu e deu de ombros.
— Já ouvi muitas coisas, mas eu costumo pensar que "comum" é uma ofensa real — piscou pra ele. — Tchau, casal. A gente se vê na escola.
— Eu já volto — Jisoo falou após calçar seu tênis.
— Manda foto do Howl, por favor! — Soonyoung pediu antes da porta ser fechada.
Então, os dois ficaram sozinhos, pela primeira vez em algum tempo.
Jihoon sentia-se nervoso e não lembrava quando fora a última vez que havia se sentido assim perto de Soonyoung. Talvez no dia em que confessou seus verdadeiros sentimentos para ele, pois, depois que conseguiu ser sincero com o alfa e consigo mesmo, ele não sentia nada perto dele que não fosse conforto e segurança.
As borboletas ansiosas em sua barriga há muito não davam as caras, e ele deveria admitir que odiava tê-las novamente.
— Você deve estar com muita saudade do Howl e do Tokki, né? — o ômega resolveu perguntar, tentando iniciar o assunto.
Soonyoung sorriu triste e acenou com a cabeça.
— Sinto falta de cheirar uma carreirinha de gato quando me sinto mal — comentou, fazendo beicinho.
— Eu nem imagino como você tá se sentindo — murmurou, tocando a mão do namorado. — Quer dizer... tá sendo difícil pra mim, pra todo mundo, mas eu não consigo dizer o que se passa na sua cabeça.
Soonyoung suspirou, afastando devagar o toque do outro.
— Você não precisa se preocupar comigo — assegurou, sorrindo pequeno.
— Dá pra você parar? — Jihoon disse, sentindo que estava cedendo à impaciência.
— Parar o que?
— De me afastar toda vez que eu tento conversar com você — argumentou. — Eu sei que... na verdade, eu não sei de nada, mas... porra, você é meu namorado.
— E eu quero continuar sendo — rebateu o alfa.
— Pois não parece, tá?
Soonyoung bufou e balançou a cabeça, levantando-se.
— Você não sabe...
— Exatamente! Eu não sei! — o baixinho levantou também. — Você não me deixa saber, você tá me afastando de você...
— Jihoon, eu não tô te afastando de mim, tô te afastando dos meus problemas — rebateu. — Já é estranho o suficiente eu estar morando na sua casa, com seus pais. É tudo uma grande merda, tudo que tá acontecendo. Eu tô tão perdido quanto Shua hyung, você, qualquer um! Então já é o suficiente tudo estar acontecendo e você estar envolvido nisso, não tem porquê eu ir até você e despejar o que eu tô sentindo nos seus ombros.
Jihoon suspirou, desviando o olhar à medida que duas lágrimas escorreram por seu rosto, abrindo o caminho para inúmeras outras.
Soonyoung imediatamente se preocupou, sentindo-se pior do que já estava, queria chorar, mas segurou essa vontade.
— Você quer saber o que eu acho? — o ômega perguntou, mas não esperou por uma resposta. — É verdade, já é fodidamente estranho tudo isso estar acontecendo, você e Shua hyung terem que morar aqui quando a gente não fez nem quatro meses de namoro. Mas só piora porque você tá aqui, bem do lado, e não conversa comigo.
— Jihoon, eu...
— Parece que eu não conheço mais o garoto pelo qual eu me apaixonei — interrompeu a fala do maior. — E parece que você não confia em mim o bastante pra se abrir comigo. E se você não se abrir comigo, eu também não vou conseguir me abrir com você... E eu sinto que isso tá nos afastando e eu não quero te perder. Eu prometi que não ia te perder...
Sem conseguir completar seus pensamentos, Jihoon cobriu seu rosto, rendendo-se totalmente ao choro, deixando as lágrimas escorrerem por suas bochechas e os soluços cortarem sua garganta.
Não aguentou mais.
Colocando para fora todos aqueles sentimentos conflitantes, Jihoon sentou-se novamente, deixando as lágrimas pingarem sob suas pernas.
Soonyoung cedeu e juntou-se ao namorado, chorando de maneira silenciosa, aproximando-se e o abraçando apertado.
— Me desculpa, meu amor — o mais velho pediu, sussurrando em seu ouvido.
Jihoon retribuiu o abraço sem qualquer hesitação, chorando em seu ombro, apertando o tecido da camiseta preta que ele vestia e tocando seus cabelos.
— Você nunca vai me perder — Soonyoung assegurou. — Não quando eu te amo com todo meu coração.
— Só que só isso não é o suficiente — ele respondeu. — Eu também te amo, amo tanto. Mas você precisa confiar em mim...
— Não é que eu não confie em você — falou, afastando o abraço para que pudesse olhá-lo nos olhos. — É só que... eu não gosto de falar sobre meus sentimentos, eles são problemas meus. Eu tenho medo de acabar falando muito sobre mim, sobre todas as coisas que se passam pela minha cabeça, e isso incomodar as pessoas e elas se afastarem de mim — confessou, fungando enquanto Jihoon corria os dedos de forma delicada em seu rosto para secar as lágrimas incessantes. — Então eu prefiro deixar meus problemas guardados sempre que vou te ver, porque eu quero sempre estar na minha melhor versão quando estou contigo.
Jihoon ficou sem palavras por um tempo, segurando as mãos do maior com firmeza, como se lhe dissesse que estava ali, que estava ao seu lado. Logo, juntou as palavras para dizê-las.
— Você nem sempre me viu na minha melhor versão — ponderou. — Quantas vezes você veio sorrindo e eu retribui com uma cara fechada? Quantas vezes você aguentou minhas patadas quando eu estava de mau humor?
— Muitas — respondeu, rindo em meio ao pranto, assim como o ômega.
— E você continuou do meu lado, me amando independente dessas coisas — acariciou seu rosto. — Seus problemas são parte de você, e não tem nada que você diga que possa me fazer te amar menos, não tem nada que você faça que vai fazer eu não te ver como esse garoto incrível. O garoto pelo qual eu me apaixonei.
Soonyoung fechou os olhos e voltou a abraçar Jihoon, apoiando a cabeça em seu ombro e derramando suas lágrimas ali.
— Eu te amo tanto — murmurou, apertando-o mais contra si. — Me desculpa por ter feito você se sentir assim. Não é como se eu não confiasse em você, ou que eu não penso em nós... é que eu penso muito sobre tudo, e eu me preocupo com tudo, mesmo que você me diga que eu não preciso me preocupar. Eu tenho medo de te perder, tenho medo que você se canse de mim algum dia, então eu tento sempre ser o melhor que eu consigo.
O ômega olhava para o mais velho, os cílios estavam molhados pelas lágrimas, mas ele não possuía nada além de amor e compreensão no olhar. A mão direita acariciava seu rosto, enquanto a esquerda segurava firmemente a semelhante, cruzando seus dedos com força, para que ele não esquecesse de que estava ali.
— Soonyoung — chamou-o com calma e logo ele lhe olhou. — Eu sei que é difícil acreditar algumas vezes, eu não sei exatamente o que se passa na sua mente, mas eu imagino o quão difícil deve ser. Mas você não vai me perder, não quando eu acordo todos os dias e penso: "meu Deus, eu namoro Kwon Soonyoung" — o alfa riu nasalmente ao ouvi-lo. Jihoon sorriu. — Eu olho pra você e penso: "esse garoto incrível me escolheu, essa pessoa que eu amo e admiro tanto é minha alma gêmea." Eu queria que você se visse como eu vejo, só assim você ia perceber o quanto você é especial pra mim.
— Eu também amo você — respondeu, olhando fundo em seus olhos. — Tipo, pra caralho. Quero ficar contigo pra sempre. E eu sei que você vai dizer tipo "o pra sempre não existe"...
— É claro que existe — Jihoon falou, tocando o rosto dele com as duas mãos. — Se o pra sempre não existe, por que eu estou disposto a ficar a eternidade do seu lado?
Soonyoung fechou os olhos ao chorar mais, segurando o rosto do namorado para beijar seus lábios com carinho.
Jihoon sorria em meio às lágrimas.
— Algumas coisas vão ser muito difíceis durante nossa vida — ele falou, acariciando as bochechas do alfa com os polegares. — Mas eu tô disposto a ficar, aprender, conversar e melhorar. Por mim, por você, por nós.
— Eu também — afirmou, beijando as palmas das mãos do baixinho. — Eu tô disposto a fazer qualquer coisa por você.
— Vamos ser sinceros um com o outro sempre, tá? Não tem nada que a gente não possa consertar sendo honestos.
Soonyoung respirou fundo, ponderando antes de acenar com a cabeça e segurar as mãos do ômega.
— Então... eu preciso te contar uma coisa — falou, encarando-o. — Você lembra ano passado, daquela última crise que eu tive?
Jihoon acenou com a cabeça.
— Depois daquilo, meus tios me levaram pra falar com um psiquiatra e ele me encaminhou pra um psicólogo — explicou. — Depois de algumas visitas, ela me diagnosticou com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Eu troquei a medicação faz um tempo.
O ômega ouviu atentamente o que ele dissera, processando a informação com cuidado e tentando entender porque só estava sabendo daquilo agora.
Ele suspirou, desviando o olhar e soltando as mãos do outro.
— Queria que você não tivesse escondido de mim — falou baixinho.
— Me desculpa — Soonyoung pediu. — Eu não sabia como contar, eu não sabia como isso iria me afetar, como ia ser essa troca dos medicamentos porque é sempre uma merda... eu ainda tô tentando entender tudo, sabe?
O ômega encolheu os ombros.
— Eu entendo, só que eu não consigo evitar de me sentir um pouco chateado que você não me contou — murmurou, voltando a segurar as mãos do maior e brincando com seus dedos. — Mas, não importa o que você tenha, se você precisa se medicar e essas coisas. É só um pequeno detalhe que não muda como eu te vejo.
Soonyoung suspirou.
— Você sabe que alguns dias vão ser muito difíceis de lidar comigo, né?
— Eu não me importo — respondeu. — Você só precisa conversar comigo pra eu saber o que fazer nesses dias.
— Acho que o problema é esse — ele falou, sorrindo entristecido. — Eu também não sei o que fazer.
Jihoon pensou por um tempo, cruzando seus dedos aos do namorado. Então, perguntou:
— Você tá bem agora?
O alfa hesitou por um segundo, mas havia feito uma promessa.
— Não — afirmou. — Eu tô muito perdido, com medo, inseguro... parece que eu estou andando sobre gelo fino e posso afundar a qualquer momento.
— Eu não vou deixar você afundar, ok? — interveio, tocando o rosto dele. — Você não tá sozinho em momento nenhum.
— Eu sei, é só... ainda é difícil.
Com cuidado, o ômega se aproximou e abraçou o namorado, acariciando seus cabelos.
— Como eu posso fazer você se sentir melhor? — perguntou baixinho.
Soonyoung pensou por um momento antes de dizer:
— Quando eu estiver mal... eu vou ficar feliz se você estiver comigo. Vou ficar satisfeito se você só segurar minha mão. Diga que tudo vai ficar bem, não importa se for mentira.
— Eu não vou mentir pra você. Vai ficar tudo bem, com certeza.
— Como você tem certeza? — questionou, olhando-o novamente.
Jihoon sorriu, tocando seu rosto.
— Nós vamos fazer dar certo.
[...]
Não muito longe dali, Jisoo e Chan caminhavam devagar pelas ruas até a casa do mais velho.
O menor falava quase sem parar, contando animado sobre a festa que havia ido com seus amigos alguns dias atrás, Joshua, por outro lado, apenas ouvia.
— A gente tava distraído conversando, quando ouvimos uma gritaria, e quando fomos ver, Wonwoo e Jeongsu estavam saindo no soco. E admito que eu gostei muito de ver aquele idiota com o olho machucado, ele mereceu! Só que Mingyu ficou irritado, ele odeia qualquer tipo de briga, mas acho que eles já se acertaram agora — contou, dando de ombros. — O que eu não entendo, é como Wonwoo hyung consegue bater em qualquer um. Tipo, ele faz academia ou talvez...?
— Você é sempre falante assim? — Jisoo interrompeu, olhando-o.
— Ah... Desculpa, eu me empolgo às vezes — coçou a nuca.
— Tudo bem — ele falou, bagunçando os cabelos do mais novo. — É até meio fofo.
— Você pode só falar que gosta de mim, sabe? — brincou, rindo travesso quando Jisoo revirou os olhos.
— É claro que eu gosto de você, você é um bom amigo — constou.
— Eu sei disso, vou até te ajudar a invadir a casa dos seus pais — sorriu. — Se eu achar algum dinheiro, posso pegar pra mim?
— Retiro o que eu disse, você é uma péssima pessoa.
— Que cruel! — exclamou, batendo de leve em seu ombro. — Eu tava brincando, seu chatonildo.
Joshua riu, entretanto, assim que avistou a casa há alguns metros de distância, ele paralisou. Seu coração começou a acelerar de uma maneira ruim.
— Chan, eu acho que não consigo — disse, segurando a mão do menor.
— O que houve? — ele aproximou-se, preocupado.
— Eu não... não quero entrar lá de novo — negou, dando alguns passos para trás, sentindo um nó em sua garganta e seus olhos ficando marejados.
— Tudo bem, calma — o mais novo disse, chegando mais perto dele e o levando para sentar no meio-fio da calçada. — É normal você ficar com receio, ainda mais depois de tudo que aconteceu.
Joshua escondeu o rosto com as mãos, não conseguindo lutar contra seu pranto.
— Eu só queria que tudo isso acabasse — soluçou.
— Eu sei — Chan sussurrou. — Vem cá.
Ela se aproximou, envolvendo o beta em um abraço, deixando que ele lhe apertasse e chorasse em seu ombro.
— Eu não aguento mais acordar nessa droga de pesadelo todo dia — Jisoo confessou, fechando os olhos com força. — Eu não tenho mais força pra continuar, eu não consigo mais.
— Tá tudo bem, hyung — Chan sussurrou, fazendo um carinho singelo nos cabelos e nas costas do mais velho. — A gente vai ser sua força. Um dia após o outro, devagar, até que tudo dê certo.
Jisoo não respondeu, não conseguia. Ele apenas chorou.
Sentia-se irritado consigo mesmo.
Alguns minutos se passaram, Chan ficava preocupado à medida que sentia a respiração do mais velho ficar cada vez mais desregulada e ele não dava indícios de que estava se acalmando.
— Hyung, você tá sentindo esse cheiro? — perguntou, afastando-se um pouco dele.
Jisoo franziu o cenho.
— Não tô sentindo nada, meu nariz entupiu — fungou.
Chan riu nasalmente, secando o rosto do outro com delicadeza.
— Acho que é cheiro de jasmim — concluiu. — Era mais pra tentar te distrair, mas não contava que seu nariz ia tá escorrendo.
Joshua sorriu, soltando-se do abraço para que conseguisse secar suas bochechas e olhos.
— Eu deveria estar acostumado com crises de ansiedade a essa altura — constou, tentando respirar fundo.
— Infelizmente, a gente nunca se acostuma — murmurou Chan. — Mas, a gente aprende algumas estratégias pra caso...
A fala do menor foi interrompida quando seu celular começou a tocar, ele rapidamente pegou o aparelho e desligou a chamada, não se dando ao trabalho de checar quem ligava.
— Quem era? — Jisoo perguntou.
— Não importa — sorriu, chegando mais perto dele.
— Não sabia que você gostava de Avalanche — o mais velho murmurou, referindo-se a música que Chan usava como toque.
— Ah, Walk The Moon? — pegou o celular novamente. — Eles têm músicas muito boas, eu sou apaixonada. Claro, eles não chegam aos pés de Given, mas têm músicas que dão uma sensação boa, tipo...
— Dão vontade de dançar — completou.
— Ah, por que não disse antes? — o sorriso de Chan aumentou.
Jisoo juntou suas sobrancelhas, confuso.
O menor então, procurou a música numa velocidade considerável, deixando-a tocando no volume mais alto em seu bolso antes de se levantar e segurar a mão do mais velho e o puxar para que ele ficasse de pé.
— O que você tá fazendo? — ele perguntou, perdido.
— Só dança — falou, fazendo o que dissera sem largar as mãos do mais velho.
— Para de passar vergonha — ele retrucou, tentando se soltar.
Chan apenas riu, negando.
— Não tem ninguém aqui, se solta.
In the days she waits, but she moonlights rock n roll
(Durante os dias ela espera, mas à luz da lua ela é rock'n'roll)
Playing a rain dance with her guitar
(Tocando uma dança da chuva com sua guitarra)
Jisoo suspirou, observando constrangido Chan dançar a sua volta. Uma certa vergonha alheia pela cena que ela estava causando mas, apesar de ter esse sentimento, o mais novo estava certo ao dizer que não havia ninguém ali, a rua estava praticamente deserta, mas ele ainda não conseguia ignorar algo em seu interior que o continha.
— Anda, seu chato. Você não disse que dava vontade de dançar? — provocou, empurrando-o de leve com o ombro. — Devo trocar pra Shut Up and Dance*?
— Isso seria muito clichê — retrucou.
— Considero clichê uma ofensa ainda maior que "comum" — colocou uma mão no peito. — Mas, "cala a boca e dança"!
Joshua não conseguiu evitar que um riso escapasse quando Chan puxou-o outra vez, fazendo-o dar alguns rodopios.
Sometimes you only get one chance
(Às vezes você só tem uma chance)
You got a look in your eyes
(Você tem um olhar em seus olhos)
I knew you in a past life
(Eu conheci você em uma vida passada)
One glance and the avalanche drops
(Um olhar e a avalanche despenca)
One look and my heartbeat stops
(Um olhar e meus batimentos cardíacos param)
Cedendo apenas um pouco, o mais velho fez alguns passos de danças tímidos, rindo quando Chan exclamava incentivos altos demais, dando alguns pulinhos e o puxando para dançarem um pouco juntos.
— Isso aí!
Ships pass in the night
(Navios passam no meio da noite)
I don't wanna wait till the next life
(Eu não quero esperar até a próxima vida)
One glance and the avalanche drops
(Um olhar e a avalanche despenca)
One look and my heartbeat stops
(Um olhar e meus batimentos cardíacos param)
Assim que a música chegou ao final, Jisoo sentou-se novamente e escondeu o rosto entre seus joelhos, envergonhado.
— Não acredito que você fez eu fazer isso — reclamou, sentindo o sangue pulsando e deixando suas orelhas quentes.
— Até parece que eu coloquei uma arma na sua cabeça — rebateu, cruzando os braços. — Vamos, se você conseguiu dançar no meio da rua e ignorar quando uma senhora passou nos julgando muito com os olhos, você consegue invadir a casa dos seus pais e pegar suas coisas.
Ele tomou o ar, encarando a residência e buscando um pouco de coragem.
— Vem, eu seguro sua mão — Chan sorriu, estendendo-a para o maior.
Mesmo ainda estando receoso, Joshua aceitou e, assim que tocou a mão do mais novo, ele puxou-o e correu até a casa, não lhe dando tempo de pensar em mais nada.
Joane e Seunghoon estavam trabalhando naquele momento, e isso era o que deixava Jisoo tranquilo para entrar lá. Ainda não estava pronto para revê-los, não sabia se algum dia iria estar, mas tentava não pensar naquilo, tentava não pensar em nada.
— Não vou nem dizer pra você ficar a vontade, porque a gente precisa ser rápidos — o mais velho falou abrindo a porta, deixando Chan entrar e o fazendo logo após.
— Beleza — murmurou.
Assim que eles andaram pela sala, puderam ouvir miados altos e logo Howl e Tokki foram correndo até Jisoo, esfregando-se em suas pernas.
— Oi, meus amores — disse ele, sentando no chão e pegando o gatinho cinza e levando-o para perto de seu rosto, deixando alguns beijinhos no rosto do felino. — Senti tanta saudade de vocês.
— Acho que eles sentiram saudade de você, também — constou o mais novo, acariciando o gato frajola.
Chan notou que Jisoo estava chorando de novo, lágrimas fininhas escorriam por seu rosto e um sorriso pequeno enfeitava seus lábios enquanto ele brincava com Tokki.
— Não quero deixar eles de novo — choramingou.
— Você não pode levar?
— Não posso simplesmente levar dois gatos pra casa dos Lee — rebateu o americano, levantando.
Chan apenas murmurou, seguindo o mais velho quando ele subiu as escadas até seu quarto.
— Me diz uma coisa — o menor começou, sentando-se na cama de Jisoo. — Por que, numa casa desse tamanho, você e Soonyoung hyung dividem o quarto?
Joshua deu de ombros em resposta, mais preocupado em pegar todos os livros que precisava e colocar em sua mochila.
— Acho que nenhum de nós gosta de ficar sozinho — falou. — Por mais irritante que ele seja, eu ainda gosto da companhia dele.
— Que fofos — ela sorriu, deitando-se sob o colchão. — Acho que já tô à vontade aqui.
— Tá mais à vontade em dois minutos do que eu estive vinte anos aqui — disse, pegando algumas roupas.
Ele ouviu Chan rir baixo, então olhou-a sem entender.
— Qual a graça? — colocou uma mão na cintura.
— Você falar que não sabe se quer fazer terapia mas fazer uma piada com trauma a cada duas frases — apontou, virando-se na cama para olhar o outro melhor. — Você quer falar sobre isso, é óbvio.
— Óbvio pode até ser, mas fácil nunca foi — suspirou, sentando-se na cama.
A mais nova arrastou-se sobre o lençol até estar sentada ao lado dele, olhando a decoração do quarto enquanto pensava se deveria dizer alguma coisa.
— Seus pais tiraram você do plano de saúde? — ela perguntou.
— Não, não tiraram. Consegui ir pra emergência quando tive algumas crises de pânico — explicou. — O que foi meio ridículo, fiquei com vergonha depois.
— É, imagina se eu fosse pro hospital toda vez que sinto que vou morrer — Chan brincou. — Mas eu acho que isso é algo positivo.
— O que exatamente? — perguntou, levantando-se e saindo do quarto.
Chan o seguiu.
— Acho que eles não te odeiam, se eles te odiassem, ou estivessem arrependidos de você, talvez já tivessem tentado apagar qualquer traço seu — explicou seu ponto. — Ainda tem fotos suas pela casa e você ainda tem alguns privilégios que eles conseguem. E não tô dizendo que eles estão certos ou passando pano, ainda quero que eles se fodam muito, com todo respeito — acrescentou, olhando para o maior. — Mas, acho que poderia ser pior, mesmo que ainda seja uma merda.
— Hum... Acho que entendi o que você quis dizer — murmurou. — Vamos sair logo daqui, não me sinto bem.
— Claro — sorriu, tomando a frente e abrindo a porta da frente para que ele passasse.
Jisoo apenas riu nasalmente, negando com a cabeça.
Com a mesma calma que estavam no caminho da ida, eles voltaram. Porém, desta vez, Chan não havia falado nada desde que saíram da casa.
Um pouco incomodado com o silêncio, Joshua resolveu cortá-lo:
— Então... O que você acha que eu devo fazer?
— Sobre o que? — virou para ele.
— Sobre tudo — deu de ombros. — Eu não ter casa, estar morando com pessoas quase desconhecidas, ainda chorar toda noite pensando no Jeonghan, estar prestes a começar o último ano da escola e ter que entrar na faculdade...
— Ok, ok. Calma — disse, gesticulando com as mãos para que o mais velho respirasse. — Hum... É muita coisa, por isso você deve ir por partes. O que mais está te segurando no momento?
— Eu não sei...
— Sabe, sim — retrucou, ficando na frente dele, impedindo-o de andar. — Vamos tentar de novo. Fecha os olhos.
— O que você vai fazer? — desconfiou, dando alguns passos para trás.
Chan revirou os olhos, chegando perto dele novamente.
— Confia em mim, caralho — segurou as mãos dele. — Fecha os olhos, respira fundo e não pensa em nada.
Sem saber como sair daquela situação, Jisoo apenas fez o que foi pedido. Fechou os olhos e respirou fundo.
— Isso, muito bem — o mais novo falou, usando um tom calmo. — Se concentra na sua respiração e não pensa em nada. Eu vou falar uma coisa, e você diz a primeira coisa que vier na sua cabeça.
— Tá bem — concordou.
— Você comeu?
Joshua franziu o cenho, mas respondeu:
— Sim.
— Sente saudade da sua casa?
— Não.
— Qual seu animal favorito?
— Coelhos.
— O que tá te prendendo?
— Jeonghan-- Oh! — abriu os olhos.
Chan estalou os dedos.
— Aí está — sorriu. — Eu imaginei, você ainda não superou o que sente por ele — falou, voltando a caminhar.
— Não sei se tem como superar...
— É claro que tem — exclamou. — Se eu superei um par de chifre na minha cabeça, você consegue superar uma paixão.
— É difícil, Chan, tipo, eu amo... — juntou as sobrancelhas. — 'Pera aí! Você levou chifre!?
— Sim, eu evito falar sobre, mas eu já consigo se eu quiser — disse. — Agora, eu sei que é diferente com você e Jeonghan, mas sentimentos são temporários. Tudo que você está sentindo agora, não vai importar mais daqui um tempo.
— Ok, e o que você acha que eu devo fazer?
— É estranho você estar pedindo conselhos pra mim — falou, sorrindo um pouquinho convencido. — Mas, eu vou me esforçar.
— Só fala logo.
Chan mostrou a língua para ele antes de responder:
— Ok, primeiro: eu acho que você precisa "catarsear" isso que tá sentindo.
— Que?
— "Catarsear" — repetiu. voltando a olhá-lo. — De catarse*. Você precisa colocar todos esses sentimentos pra fora, expulsar todo esse sofrimento do seu peito. Em outras palavras: chorar até não ter mais lágrimas, falar abertamente sobre essa paixão, entender como ela começou, se permitir sentir tudo que ela tem até você conseguir superar.
Joshua murmurou um entendimento qualquer.
— Alguma dica de como eu faço isso?
— Eu sei que sou incrível em vários sentidos, mas infelizmente eu ainda não tenho a resposta pra todos os problemas — Chan resmungou, fazendo o mais velho revirar os olhos. — Usa um pouco sua cabeça, também. Tá mais do que na hora, né? E depois que você superar pelo menos um pouco desses sentimentos, começa a procurar um emprego de meio período e acha alguma coisa pra fazer que seja bom pra você a longo prazo.
— Tipo o que?
— Não sei, aprender um idioma novo ou fazer trabalho voluntário — sugeriu. — Depois que eu terminei com minha ex, eu comecei a aprender coreografias de grupos, e me ajudou pois eu me aproximei de outras pessoas que dançavam, eu fiquei menos tímido em festas e coisas assim. Você só precisa achar o que vai ser melhor pra você.
— Hum. Faz sentido.
Quando menos notaram, já estavam de volta à casa dos Lee. O carro na garagem indicava que Daeun e Taesuk já haviam regressado.
— Você quer entrar? — Jisoo perguntou, virando-se para o mais novo.
— Não, não. Já deveria estar em casa — sorriu. — A gente se vê na escola.
— Sim — falou. — Obrigado por hoje, aliás. Eu... Todos nós temos sorte de ter você como amigo.
Chan sorriu tímido, sentindo suas bochechas corarem levemente.
— Tenho sorte de ter vocês também — disse, não contendo seu sorriso. — Não vamos nos perder, tá?
Joshua concordou com a cabeça e acenou com a mão, despedindo-se do amigo ao que ele virou para voltar.
Assim que o perdeu de vista, Jisoo entrou na casa, encontrando todos na sala, discutindo sobre um filme que iriam assistir.
Daeun e Taesuk estavam lado a lado no sofá, com um balde de pipoca e um cobertor sobre as pernas. Ao lado do sofá, Yoona dormia pacificamente em seu bebê conforto. Já Jihoon e Soonyoung estavam no outro canto, abraçados como o bom casal meloso que eram.
Quando eles viram o beta, sorriram.
— Jisoo-ah, estavámos te esperando — Daeun declarou, abrindo espaço para que ele sentasse no meio deles. — Vamos assistir um filme.
— Vem assistir com a gente — Soonyoung falou, dando batidinhas no lugar ao seu lado.
Aceitando o convite, Joshua sorriu, sentindo-se diferente. Sentindo-se pertencido.
Chapter 46: Chá de Lavanda
Notes:
(See the end of the chapter for notes.)
Chapter Text
Daeun sentia todo seu corpo exausto. Ainda sentia dores por causa da cesária, dores de cabeça pelo estresse e um cansaço inexplicável por ter um bebê para cuidar.
É claro que ela não seria ingrata ou hipócrita de dizer que precisava fazer tudo sozinha como acontecia com algumas mães e pais, tinha muita sorte de ter Taesuk e Jihoon lhe ajudando com a casa e com Yoona a todo momento, mas ainda não anulava o fato de que estava sendo muito complicado, principalmente pelo estresse de ter outros dois adolescentes morando em sua casa.
Sabia que seu marido também estava preocupado, eles discutiam toda noite se não seria melhor que ele dobrasse as horas de trabalho para lidar com as despesas da casa, mas ela não se sentia segura para cuidar da filha apenas com a ajuda de Jihoon que, querendo ou não, não tinha experiência no assunto e tinha a própria vida.
Daeun nunca julgou certo pais que fazem de seus filhos cuidadores uns dos outros. Um irmão não deveria abdicar de sua vida para cuidar do mais novo, por isso ela precisava de Taesuk consigo, também pelo apoio emocional que ele lhe dava.
Ela também não tinha coragem de pedir que Soonyoung e Jisoo fossem embora, nem ao menos queria aquilo. Entendia que o mundo daqueles dois estava caindo, e escolheu — junto do marido — acolhê-los naquele momento tão difícil, sem pensar de fato nas consequências que teria, mas ela não conseguiria deixá-los sozinhos.
Algumas vezes amaldiçoava seu coração bobo, seu instinto e seu desejo de querer ajudar a todas as pessoas que encontrava, tentava não o fazer, mas ela sabia que era a decisão certa ficar ao lado daqueles dois e oferecer, ao menos, um teto para dormirem a noite.
Perdida em seus pensamentos, buscava alguma solução para aquele problema, enquanto esperava pacientemente o marido voltar.
Haviam retornado com Yoona ao hospital após algumas semanas a pedido da médica responsável. A bebê dormia tranquilamente em seu colo, alheia as pessoas andando de um lado para o outro, enfermeiros, médicos e pacientes.
Baixando os olhos para olhar a filha, Daeun sorriu.
— Logo, logo vamos pra casa — falou baixinho. — Vamos ver se seu irmão e seu cunhado não destruíram a cozinha de novo.
Distraída observando a menorzinha, a alfa quase não percebeu quando alguém passou por si, entretanto, a essência familiar de rosas lhe chamou atenção e ela levantou-se.
— Dra. Hong — chamou pela mulher, que virou-se. — Há quanto tempo.
A ômega aproximou-se, um pouco confusa.
— Perdão, nos conhecemos?
— Eu sou mãe do Jihoon — explicou. — Ele e Soonyoung namoram. Jihoon me contou que você trouxe ele pro hospital no dia que Yoona nasceu.
— Ah, sim. É ótimo finalmente conhecê-la — ela sorriu, educada. — E essa é a menina?
— Sim, é ela — ficou ao lado da menor, mostrando a bebê adormecida. — Viemos para um check-up com a doutora Shin.
— Então, não precisa se preocupar, ela é uma excelente profissional — disse, ainda observando a recém nascida. — E ela parece muito bem, não é?
Daeun sorriu com a fala da médica, não entendendo como aquela mulher tão atenciosa e educada podia ser responsável pelo sofrimento de Jisoo.
Ela respirou fundo antes de dizer:
— Me perdoe se isso soar invasivo, mas…
— Dra. Hong — um enfermeiro interrompeu. — Você voltou. Que bom!
— Obrigada, Taemin-ssi — Joane sorriu.
— Mas, tem certeza que está bem para estar de volta? — ele perguntou, parecendo legitimamente preocupado. — Digo, dizem que a senhora precisou ficar uma semana numa clínica por causa do estresse do trabalho…
— Eu já estou melhor — ela cortou a fala, mantendo o sorriso em seu rosto. — Vamos voltar ao trabalho, sim?
— Certo. Contamos com você — ele sorriu, curvando-se antes de sair.
A ômega suspirou baixo antes de se dirigir a Daeun novamente.
— Você dizia?
— Hum… Perdão, mas a senhora precisou ser internada?
— Isso… Isso é sobre minha vida pessoal, Daeun-ssi.
— Foi por causa de Jisoo?
Joane paralisou diante da pergunta, seu semblante ficou sério e ela assumiu uma postura mais rígida, juntando as mãos na frente do corpo.
— Eu não sei como você sabe, mas está passando do limite ao me perguntar isso no meu local de trabalho.
— E-Eu entendo, peço perdão, mas eu preciso perguntar porque Jisoo e Soonyoung estão ficando em minha casa — explicou, sentindo-se um pouco nervosa.
A expressão da médica vacilou por alguns segundos, Daeun notou a forma que ela engoliu em seco e piscou os olhos rapidamente, como se estivesse controlando o choro.
Então, agindo como se nada tivesse acontecido, Joane checou o relógio em seu pulso.
— O hospital tem uma cafeteria no andar debaixo, quer me acompanhar até lá?
[...]
— Nós não sabíamos que aqueles dois estavam em sua casa, pedimos desculpas — Seunghoon falava com calma, sentado ao lado da esposa na mesa da cafeteria.
— Não precisam se desculpar pra gente, acolhemos eles com prazer — Taesuk respondeu, usando sua mão livre para embalar o bebê conforto de Yoona.
— Saibam que não precisam fazer isso, eles são grandinhos, tenho certeza que conseguem se virar — Joane disse, mexendo seu café com calma. — Ou, poderiam mandá-los voltar para casa.
Daeun piscou, atônita.
— Perdão, Dra. Hong, mas Jisoo me contou que você mandou ele não voltar — expôs. — Nós não iríamos mandar ele voltar para onde não é bem-vindo…
— Não seja tão extrema, Daeun-ssi — a ômega interrompeu. — Toda família tem seus desentendimentos. Mas aquele garoto que saiu de casa há um mês atrás não era o garoto que eu criei. Eu imaginei que…
— Nós levamos esse episódio de Joshua como… uma fase rebelde tardia — Seunghoon falou. — Joane e eu estamos esperando que ele volte a razão e volte pra casa. Ele e Soonyoung, é claro.
Taesuk e Daeun olharam-se, sem reação ao que ouviram.
— Eu peço desculpas, provavelmente eu nem poderia estar dizendo isso pois não criei seu filho — a alfa disse, calma. — Mas Jisoo não parece nada disso do que estão falando. Ele não é rebelde, não parece ser nada mais que uma criança indefesa e perdida…
— Ele não estava assim no dia em que gritou comigo — Joane a cortou, irritada, apesar de continuar mantendo uma postura calma. — Naquele dia, ele pareceu ciente do que estava fazendo e escolheu o fazer mesmo assim…
— Ainda assim — Daeun insistiu. — Os adultos da situação ainda são vocês. Nós somos os adultos, eles não têm a obrigação de construir essa relação entre pais e filhos sozinhos…
— Daeun-ssi — Seunghoon a interrompeu. — Eu não lhe conheço a ponto de fazer um julgamento, mas não se mostre tão egocêntrica.
— Como é? — Taesuk quem interveio.
— Não pedimos sua opinião sobre como devemos criar nosso filho — Joane falou. — Não é da minha conta se você criou seu filho pra ser gay, se ele cresceu achando que essa ideia é normal. Eu não tenho nada a ver com o que vocês acham ou que os pais de Soonyoung, meus cunhados, acham. Mas Jisoo sempre soube que não aceitamos isso, não com meu filho.
Daeun fechou os olhos num suspiro, compreendendo grande parte da situação com aquela conversa. Ela respirou fundo, buscando suas melhores palavras.
— Eu entendo que é difícil desconstruir preconceitos…
— Não é um preconceito — Joane afirmou. — É um conceito. Eu não acho certo, meu marido também não, e criamos nosso filho para não seguir caminhos sujos como esse. Ele sempre foi um bom menino, mas demos muita liberdade pra ele, e ele começou a se envolver com pessoas erradas e veja no que deu.
— Então, você está dizendo que meu filho é uma má influência para o seu? — Taesuk perguntou, levantando-se devagar, nervoso com o rumo daquela conversa.
— Não coloque palavras na nossa boca — Seunghoon rebateu, usando um tom firme, porém irritado.
— Querido, por favor — Daeun pediu, segurando o braço do marido para que ele sentasse. — Não faça isso, não vamos criar uma cena.
— De pleno acordo, Daeun-ssi — Joane sorriu quase cínica. — Como você mesma disse, os adultos somos nós, certo? Então, vamos agir de acordo.
— Joane-ssi, por favor — o ômega respondeu. — Eu sou um homem adulto, tenho quase 40 anos muito bem vividos. Mas isso não quer dizer que vou aceitar que você insulte minha família…
— Então, você acha normal seu filho estar namorando outro homem? — a Hong rebateu, encarando Taesuk. — Realmente foi isso que você imaginou que a vida dele seria? É isso que você desejou pra pessoa que você colocou no mundo?
— Não importa o que eu imaginei! — exclamou, levantando-se irritado. — Não importa como eu queria que a vida dele fosse, porque é a vida dele. Eu não criei meu filho pra ser a projeção dos meus sonhos, não criei ele pra ser o que eu queria que ele fosse!
Com as vozes mais altas, Yoona acordou e começou a chorar. Diversas pessoas presentes no local, olhavam a cena curiosos pela confusão. Joane e Seunghoon estavam calados, envergonhados por estarem sendo assistidos naquela situação, não querendo chamar mais atenção do que já estavam, principalmente por estarem em seu local de trabalho.
Daeun começou a ficar mais nervosa ouvindo o choro da bebê, rapidamente pegando-a no colo para tentar lhe acalmar, ao mesmo tempo que tentava acalmar o marido.
— Taesuk, por favor…
— Não, eu não vou ficar quieto — ele rebateu. — Eu criei meu filho pra ser uma boa pessoa, foi isso o que eu fiz. E eu tenho muito orgulho de dizer que eu consegui, tenho orgulho de dizer às pessoas que ele é meu filho — deu ênfase. — Porque ele é um menino maravilhoso, que aceitou de bom grado duas pessoas em sua casa. Um garoto incrível que está, nesse momento, se esforçando pra fazer Jisoo se sentir acolhido, coisa que ele não sentia na própria casa!
— Chega, vamos embora — Daeun interveio, levantando-se e deixando Yoona nos braços do marido. — Me desculpem por isso — ela pediu, curvando-se respeitosamente.
Taesuk apenas bufou, pegando as coisas da bebê e deixando o dinheiro do que consumiram em cima da mesa.
— Eu te espero no carro — disse antes de sair dali.
Daeun suspirou, esperando que ele estivesse longe para falar:
— Me desculpem novamente, ele normalmente não é assim — justificou, secando uma lágrima que escorreu de seu rosto. — E, respondendo a sua pergunta, se era isso que imaginamos para nosso filho: não foi, é claro que não foi. Mas, Joane-ssi… lembra daquele momento, quando ainda estava com Jisoo na sua barriga, fazendo exames e o médico perguntou se você queria saber o sexo? Naquele momento, você não pensou que não importava, porque você iria continuar amando aquela criança independente do que ela fosse?
Joane não respondeu.
— Em que momento esse pensamento mudou? — Daeun perguntou. — Eu sinto muito que isso tenha mudado pra você, pois pra mim nunca mudou, eu continuo amando meu filho com todo meu coração, não importa o que ele seja, ou com quem ele esteja.
Sem obter uma resposta, Daeun afastou a cadeira e estava pronta para sair, quando ouviu a voz da ômega:
— Eu amo meu filho! Ainda amo ele — ela respondeu, levantando e rendendo-se ao choro. — Mas eu não vou aceitar o que ele está impondo.
Ouvindo aquilo, Daeun sorriu triste. Virou para a mulher novamente, e disse, com toda a calma e gentileza de sempre:
— Se você não consegue aceitar que seu filho nunca vai ser o que você queria que ele fosse… Eu sinto muito, mas então você não deveria ter sido mãe.
A alfa curvou-se uma última vez antes de sair do local, indo até o estacionamento.
Taesuk já a esperava dentro do carro, Yoona havia parado de chorar e olhava curiosa ao redor, mesmo que os olhinhos estivessem pesados por causa do sono.
Assim que ela entrou, colocou o cinto e não conseguiu dizer nada, apenas chorar em silêncio.
— Me desculpa — o ômega pediu, tocando sua mão. — Eu perdi a cabeça e te envergonhei.
— Não estou com vergonha — ela disse, buscando alguns lenços de papel que tinham no porta-luvas. — Eu tô triste e preocupada.
Ele virou para ela, acariciando seus cabelos.
— Por que?
— Quando eu vi Joane eu… eu pensei que poderiamos conversar, pensei que podia entender o que havia acontecido e ajudar Jisoo e Soonyoung a voltarem pra casa — explicou, secando seu rosto. — Mas é pior do que eu pensava, e eu não quero que eles voltem pra lá…
— Eles não vão voltar, meu bem — afirmou ele, chegando mais perto e a abraçando. — Vamos cuidar deles até os pais do Soonyoung voltarem, eles vão conseguir apaziguar a situação melhor que nós.
Daeun concordou com a cabeça, afastando-se do abraço.
— Eu ainda acho que você não deveria ter falado daquele jeito — ela apontou. — Mal conhecemos eles e você…
— Eu sei que eu perdi a cabeça, eu agi errado — argumentou. — Mas eu não consigo ouvir alguém insultando minha família e não fazer nada…
— Taesuk, eu sei, eu também fiquei irritada — ela disse, olhando-o seriamente. — Mas não é desculpa para agir assim, é preciso manter a calma, mesmo que…
— Eu acho que você não entende…
— O que eu não entendo!? — exclamou, cobrindo a boca em seguida, pois poderia assustar Yoona com a voz alta. — Eu também me irrito, mas eu também tento entender porque eles agem como agem, mesmo que eu não entenda.
O ômega suspirou, ligando o carro para voltarem para casa.
— Acho que você não entende que algumas coisas não podem ser entendidas, eu nunca vou entender porque eles fizeram aquilo.
Ela suspirou, desviando o olhar para a janela.
— Eu também, não.
O caminho de volta para casa foi silencioso, assim como a chegada no local.
Taesuk levou Yoona para dentro, enquanto Daeun levou a bolsa com as coisas de bebê. Assim que entraram, viram Jihoon sentado no sofá e puderam ver Soonyoung e Jisoo na cozinha, conversando sobre algo que não conseguiram ouvir.
— Vocês voltaram — Jihoon sorriu, levantando-se para recebê-los. — Tá tudo certo com a Yoona?
— Sim, ela tá bem — Taesuk falou, entrando na casa e deixando um beijo na testa do filho antes de subir as escadas para dar banho no bebê.
Jihoon sorriu indo até a mãe e pegando a bolsa que ela carregava, mas logo notou o rosto inchado pelo choro.
— O que aconteceu? — preocupou-se.
Ela sorriu, como se dissesse que não era nada demais. Então, tocou o rosto do filho, observando-o com cuidado, achando graça como ele assumiu uma expressão confusa pela sua ação.
— Você é perfeito — ela disse, puxando-o para um abraço apertado. — Se alguma vez eu fiz você pensar que você não é, mesmo que por um segundo… eu sinto muito.
— Você nunca fez isso, mas… valeu — respondeu, retribuindo o abraço. — Você tá bem mesmo?
— Sim — riu baixo, quebrando o contato. — Acho que meus hormônios ainda estão bagunçados. Acho que gastei todos eles na hora do parto, nem assim eu consegui dilatar…
— Ah! Muita informação, não quero saber! — Jihoon interrompeu, cobrindo seus ouvidos e saindo dali.
Daeun riu, negando com a cabeça.
O ômega seguiu até a cozinha, onde estavam Joshua e Soonyoung, discutindo muito seriamente enquanto o alfa mexia kimchi usando um avental cor-de-rosa.
— Tô falando que esse ano vai ser mais difícil, porque normalmente eles começam a preparar vocês pra prestar vestibular e essas coisas — Jisoo falava. — Na minha antiga escola era assim, pelo menos. Tinha também um dia em que fazíamos teste vocacional, mas era bem merda.
— Talvez eu precise fazer, porque não faço a menor ideia do que vou fazer da minha vida — Soonyoung murmurou, olhando para o namorado em seguida. — E você, baobei? Sabe o que quer fazer na faculdade?
Jihoon encolheu os ombros.
— Provavelmente, literatura — disse. — É minha primeira opção de curso, talvez eu faça licenciatura.
— Você quer dar aulas? — Joshua perguntou.
— É, porque eu gosto de falar sobre literatura, então porque não ser pago pra isso, sabe? — riu baixo, aproximando-se de Soonyoung e sentando-se ao seu lado. — E você, Shua hyung?
— Ainda não tenho certeza, o que me deixa preocupado — respondeu. — Preciso decidir logo.
— Não necessariamente — Jihoon disse.
— É, sabia que é biologicamente impossível nosso cérebro tomar esse tipo de decisão na nossa idade? — apontou o alfa.
— Sei, sei — murmurou o mais velho. — Então, por que você não faz biologia? Eu sei que você gosta desse tipo de coisa.
— É verdade — Jihoon sustentou, chegando mais perto e apertando seus ombros.
— Como você sabe? — o alfa perguntou para o namorado.
— Você mesmo me disse, oras — argumentou. — No mesmo dia que você beijou pela primeira vez.
— E você acha que eu ia lembrar de qualquer outra coisa que não seja isso? — rebateu.
— Ei, casal — Jisoo estalou os dedos. — Foco. Você sabe em qual faculdade quer entrar, Jih?
— Ainda não pensei direito nisso, mas eu tô tranquilo — deu de ombros. — Ainda tenho dois anos na escola pra pensar nisso.
— Como é fácil a vida de quem não tem ansiedade, né? — Soonyoung disse, tirando as luvas descartáveis. — Eu também tenho dois anos, mas parece que já tô atrasado.
— Você precisa de terapia — o mais velho apontou.
— Eu sei disso — ele resmungou, fechando o pote com kimchi. — Você também precisa.
— Eu sei disso, também. Aliás, queria falar sobre isso com Daeun e Taesuk — respondeu. — Eles já chegaram, né?
— Sim, mas eles parecem cansados — Jihoon disse. — Talvez seja melhor falar com eles depois.
— Certo, sem problemas — o beta concordou, pegando seu celular e checando as mensagens.
Logo, ele saiu da cozinha, deixando Jihoon e Soonyoung sozinhos.
O menor aproximou-se e abraçou o namorado, deixando alguns beijinhos em seu pescoço.
— Ai, o que foi? — o alfa perguntou, rindo ao sentir cócegas.
— Senti saudade — Jihoon falou, ficando de frente para ele.
Soonyoung sorriu, tocando o rosto do menor com delicadeza antes de beijá-lo com calma.
— Senti saudade, também — respondeu, admirando apaixonado o sorriso que o ômega abriu. — Sabe… Acho que seus pais estão ocupados lá em cima, Yoona está dormindo e Shua hyung não está aqui, então…
— Se você quer dar uns amassos é só dizer.
O mais velho revirou os olhos, apesar de sorrir de canto. Segurou Jihoon atrás dos joelhos e o pôs sob a mesa para que ficassem na mesma altura, e logo chegou mais perto, roçando seu nariz ao dele.
— Quer… dar uns beijinhos? — arqueou uma sobrancelha.
Jihoon riu baixo, abraçando-o pelo pescoço e selando seus lábios.
[...]
Na manhã seguinte, os três garotos se preparavam para seu primeiro dia de aula.
As manhãs que antes costumavam ser calmas e silenciosas na casa dos Lee, agora estava um tanto mais barulhenta, com os garotos colocando seus uniformes, preparando o café da manhã, em conjunto com Daeun que amamentava Yoona.
Jihoon não estava acostumado com toda aquela confusão e somado com seu descontentamento em ter que acordar cedo — coisa que ele odiava —, contribuiu para que ele estivesse um pouco mais mal humorado do que normalmente estaria.
Quando estavam com tudo pronto, saíram de casa após pegarem seus almoços e se despedirem dos mais velhos. Andaram pela rua devagar, visto que ainda faltava algum tempo para que as aulas começassem.
Soonyoung e Jisoo conversavam sobre trivialidades, enquanto Jihoon manteve-se quieto boa parte do percurso, algo que deixou o alfa um tanto desconfortável, mas não comentou nada.
Quando estavam quase chegando nos portões da escola, o celular de Joshua começou a tocar, chamando atenção dos três.
— É Nayeon — ele falou, deslizando o dedo sobre a tela para atender. — Podem ir na frente.
— Tem certeza? — Soonyoung perguntou. — Podemos esperar, não tem problema.
— Tenho, vão indo. Logo alcanço vocês.
— Tá bem — concordou, estendendo a mão para o baixinho. — Vamos, baobei?
— Uhum — acenou, segurando a mão dele.
Eles entraram na escola, procurando por seus amigos, mas o Kwon ainda estava com uma pulguinha atrás da orelha lhe incomodando, e não conseguiria passar o dia com aquilo, então ele puxou o namorado para um canto um pouco afastado.
— O que foi? — Jihoon disse, confuso. — Soonyoung, eu não acredito que você quer beijar essa hora da manhã.
— É isso que você pensa de mim? — cruzou os braços.
— O que é, então?
— É só… Você tá bem?
O ômega juntou as sobrancelhas.
— Tô, por quê?
— Você tá quieto desde que a gente acordou — murmurou, olhando para o chão. — Tipo, mais do que o normal.
Jihoon revirou os olhos, suspirando em seguida e esfregando seu rosto.
— Eu só tô com sono e eu nunca fui uma pessoa matinal — explicou, tentando ser o mais gentil possível. — Você já deveria saber disso.
— Eu sei, mas…
— E vale lembrar que a gente dormiu tarde porque você ficou no meu quarto até meia-noite — apontou.
— Desculpa — pediu, fazendo biquinho. — Eu queria dormir com você…
— Amor, você sabe que meus pais não querem. E eu tenho que respeitar a decisão deles.
— Eu sei, não tô dizendo pra ir contra eles, nem nada assim — retrucou, voltando a olhá-lo. — Só que eu queria ficar com você e perdemos a hora.
Fechando os olhos, o mais novo respirou mais fundo, acalmando-se antes de se aproximar do mais velho e lhe dar um selinho.
— Eu também queria ficar com você — confessou. — Mas agora que as aulas voltaram, vamos ter que seguir uma rotina até seus pais voltarem e…
— Sim, você tá certo — falou, segurando as mãos dele. — Me des…
— Não pede desculpas por isso de novo, por favor — cortou-o. — A gente tá conseguindo lidar, mesmo sendo um pouco estranho.
Sem ter mais o que dizer, Soonyoung apenas concordou com a cabeça.
— Vamos indo? Daqui a pouco o diretor começa com aquela palestrinha antes das aulas — falou o menor, puxando-o pela mão.
— Ah, tinha me esquecido disso — resmungou, fazendo careta.
Jihoon riu nasalmente de sua reação.
— Vai ser rápido, eu tenho certeza.
No caminho até a quadra coberta onde aconteceria as boas-vindas, Jihoon e Soonyoung encontraram alguns de seus amigos. Seungkwan, Mingyu, Wonwoo e Jeonghan e Seungcheol esperavam do lado de fora pelo restante do grupo.
— Ei, nosso casal favorito — Jeonghan exclamou ao vê-los. — Finalmente chegaram.
— Bom dia, pessoal! — Soonyoung desejou sorridente.
— Nós somos o casal favorito? — Jihoon perguntou, franzindo o cenho.
— Modo de falar — o Yoon deu de ombros. — Hum… Jisoo não veio com vocês?
— Ah, ele… ele ficou pra trás atendendo uma ligação — explicou Soonyoung, ficando sem graça de repente. — Logo mais deve tá aí.
— E tem certeza que isso é uma boa ideia? — Chan perguntou, aparecendo de repente.
— Que susto, garoto! É assombração, agora? — Seungkwan reclamou, com uma mão sobre o peito.
Em resposta, a mais nova apenas revirou os olhos.
— Eu disse pra ele que não é — Seungcheol respondeu Chan. — Mas não entra na cabeça dele que talvez Jisoo não queira vê-lo.
Jeonghan bufou, cruzando os braços.
— Tanto faz.
— Clima legal — Wonwoo comentou, erguendo os polegares.
— Desculpa se eu não tô saltitando — Chan retrucou. — Tô puta por ter que usar esse uniforme, odeio ele.
— Ai, eu também! — alguém concordou, logo chegando perto deles.
— Oi, Jisung — Seungkwan cumprimentou o amigo. — Não acredito que não te deram o uniforme masculino.
— Pois é — sorriu triste, puxando o tecido da saia mais para baixo.
— Bando de filhos da puta — Chan xingou. — Sério, que ódio que eu tô.
— A gente poderia trocar — o Han sugeriu, notando que a beta estava usando o uniforme masculino. — Eles nos matariam, né?
— Provavelmente — resmungou. — Tô pensando que vai ser só por hoje, então vai dar pra aguentar. Espero.
— Eu também — sorriu. — Bem, vou indo. Ainda tô atrás do meu namorado. Fighting!
Os garotos acenaram para o ômega que entrou, logo voltaram a engatar um assunto no outro.
— Ah, Jihoon — Jeonghan começou. — Eu não quero nem saber de nada, na hora do almoço você vai sentar com o Wonwoo e eu.
— Tá, mas… — o baixinho uniu as sobrancelhas. — Por que exatamente?
— Pelos velhos tempos, claro — exclamou.
— Vulgo, sete meses atrás — Wonwoo disse.
— É, tanto faz. Acho que a podia almoçar juntos, Soonyoung já tá morando com você.
— Pois é! — Seungkwan entrou na conversa. — No ano passado você ficou as últimas semanas de aula só com seu namorado, seu babaca — cutucou o peito de Soonyoung.
— Tá, ok! — o alfa falou, afastando a mão do Boo. — Já entendemos.
— Sem meu namorado na hora do almoço, então — Jihoon murmurou.
— Exato — Jeonghan afirmou. — Até Wonwoo concordou em liberar o Gyu por um tempinho.
— Eu não gostei muito dessa ideia — Mingyu acusou, cruzando os braços.
— Larga de ser — Chan resmungou. — Faz décadas que você não sai com o pessoal, espero que saiba que Jihyo e Jeongguk já estão começando a te xingar.
— Bom saber que esses são os amigos que eu tenho — disse o ômega, forçando uma pose ofendida.
— Tá, mas voltando algumas casas, por que o Seungcheol hyung não fica separado do Jeonghan hyung? — Soonyoung perguntou, cruzando os braços.
— Porque a gente já namorava antes de eu ser amigo desses dois aí — Jeonghan argumentou, abraçando Seungcheol e sendo prontamente retribuído.
— A gente tá junto desde o fundamental — disse o Choi, apertando as bochechas do namorado.
— E eles são assim desde sempre — Wonwoo comentou, desviando o olhar quando Jeonghan segurou o rosto de Seungcheol e lhe deu alguns selinhos.
— Dá pra vocês pararem? — Jihoon resmungou.
— Nem depois de arranjar um namorado você ficou menos amargurado, Jih? — Jeonghan perguntou, abraçando o namorado por trás.
— Eu estou menos amargurado agora, mas eu estou pensando mais nos nossos amigos que não tem um parceiro — explicou.
— Hum, senti uma indireta e um leve toque de discriminação — Chan falou, colocando uma mão na cintura. — Acho que eu vou procurar um lugar pra me esconder dessa palestrinha…
Quando a mais nova virou-se para o corredor e os amigos a seguiram com o olhar, eles puderam ver Jisoo ali, observando-os de longe, sem saber o que deveria fazer.
Aquela dor que ele tentava sempre esconder estava transbordando de seus olhos sem que ele pudesse controlar.
— Jisoo… — Jeonghan falou, afastando-se de Seungcheol quase sem perceber, quando pensou em se aproximar.
Entretanto, como se estivesse assustado, Joshua saiu quase correndo, esbarrando em algumas pessoas e não dando importância enquanto tentava fugir.
— Soo, espera…!
— Jeonghan, não! — Seungcheol o segurou. — Não faz isso.
— Para, com isso! Você…
— Isso não é sobre mim, tá!? — rebateu. — Se ele quisesse falar com você, teria vindo.
— Como você sabe?
— Chega os dois! — Jihoon exclamou, batendo uma palma na outra para que eles parassem de discutir. — Isso não é sobre nenhum de vocês.
— Meio que é… — Soonyoung murmurou.
— Não importa — Chan o cortou, suspirando pesado em seguida. — Eu vou atrás dele, vocês fiquem aí.
Sem esperar por alguma resposta ou incentivo, a beta correu entre as pessoas, desviando de algumas e perguntando para outras se não haviam visto o amigo.
Demorou alguns minutos até que o encontrasse, escondido em uma das cabines do banheiro, os soluços dolorosos podendo ser ouvidos de longe.
— Jisoo-ah — chamou com calma, batendo na porta. — Me deixa entrar.
— Vai embora, Chan! — mandou. — Não tá óbvio que eu quero ficar sozinho?
— Eu sei que não somos próximos, mas acho agora que te conheço o suficiente pra saber que isso é mentira — cruzou os braços, apoiando-se na madeira. — Anda, você não precisa passar por isso sozinho.
Ainda hesitante, Joshua destrancou a fechadura e permitiu que Chan entrasse junto de si na cabine pequena. Ele permaneceu sentado no chão, abraçando seus joelhos e tentando esconder as inúmeras lágrimas que molhavam seu rosto.
A beta sentou-se ao seu lado após girar o trinco, ficando em silêncio e lhe dando espaço caso quisesse falar alguma coisa.
— Eu sou tão patético — murmurou por fim. — Tudo que eu tenho feito nos últimos dias é chorar, chorar e chorar. Eu não aguento mais.
— Imagino que esteja sendo difícil — Chan respondeu, chegando mais perto e tocando seu ombro. — Mas você não tá chorando por ser fraco ou patético, você tá chorando porque tentou ser forte por muito tempo. Tá tudo bem, você pode chorar.
Absorvendo as palavras, Jisoo cedeu e abraçou a amiga com força, derramando-se em seu ombro, deixando-se sentir toda aquela dor sufocante que carregava e tentava esconder dentro do peito, esperando que aquilo pudesse aliviá-la de certo modo.
— Dói tanto, Chan, tanto! — exclamava em meio ao pranto, apertando o tecido da roupa que cobria seu peito.
Sentia vontade de gritar tudo aquilo para fora de si, em contraste a Chan, que sussurrava ao pé do seu ouvido:
— Eu sei, Soo, eu sei. Deixa doer — aconselhou, acariciando os cabelos dele. — O coração pode doer muito, mas continua batendo igual.
— Eu não quero mais que doa — choramingou. — Eu quero que essa dor vá embora, eu não quero mais sentir isso.
— Mas ela vai embora — Chan afirmou, sorrindo quando encontrou os olhos de Joshua novamente. — Não vai durar pra sempre, você sabe disso. Você só precisa ser paciente e dar tempo ao tempo…
— Ah, para — resmungou, afastando algumas lágrimas. — Você realmente acredita nesse papo de que o tempo cura tudo?
A menor pensou por alguns segundos, dando de ombros em seguida.
— Não acho que ele vai curar tudo, mas ele pode tirar o incurável do centro das atenções — falou, voltando a mexer nos cabelos do mais velho.
Jisoo voltou a ficar em silêncio, apoiando a cabeça no ombro da menor enquanto tentava acalmar seu choro.
— Belas palavras as suas — comentou após algum tempo, o que fez Chan rir.
— Jihoon não é o único que curte literatura e frases bonitinhas — riu nasalmente. — E eu tive que me consolar sozinha muitas vezes, acabei ficando bom nisso — explicou. — Agora, eu consolo meus amigos que são mais fodidos do que eu.
Jisoo olhou-a.
— Obrigado — fungou. — Não pela parte do fodido, mas por todo o resto. Falar com você me ajuda de certo modo.
— Certo modo? — ergueu uma sobrancelha.
— É. Não melhora tudo que eu tô sentindo, mas me ajuda a perceber que não é o fim do mundo, por mais que pareça — explicou. — Tipo… uma âncora.
— Uau! Isso é tão gay! — exclamou, sentindo-se aliviado quando o mais velho esboçou um sorriso pequeno.
— Para de ser chato, garoto — resmungou.
Chan negou com a cabeça, tentando esconder um riso baixo que quis escapar, entretanto, logo sua expressão ficou séria.
— Será que dá pra você não fazer isso por hoje?
Jisoo franziu o cenho, sem entender.
— Isso o que?
— Me tratar no masculino quando, obviamente, eu não tô — disse, tentando manter um tom calmo.
— Olha… — o mais velho murmurou, observando Chan. — Óbvio não tá.
— Sim, porque essa droga de escola não respeita a identidade de gênero dos alunos — rebateu. — Jisung tá tendo que usar o uniforme feminino e eu ainda sou forçada a usar o masculino.
— Tá, mas você disse que não importa como te chamam…
— Em alguns dias não importa, mas em outros, sim — tentou se explicar, tentou conter um nó de se formar em sua garganta, mas não estava em seu melhor dia. — Eu não tô pedindo muito, é só mudar uma letra.
Jisoo bufou baixo.
— Por que isso importa?
— Porque eu respeito quem você é, e eu te considero um amigo, então eu me importo com o que você diz — respondeu, soando um pouco irritado. — Porra, você nunca me chamou de ela, mesmo eu estando de rosa da cabeça aos pés, e eu deixava passar porque a gente não era próximos, mas agora isso mudou um pouco e eu esperava que você entendesse…
— Eu posso tentar entender outra hora. Admito que isso nunca fez sentido pra mim, mas agora eu tenho coisas demais na cabeça pra pensar nisso — interrompeu, virando o rosto para o outro lado.
Chan bufou.
— Você consegue ser tão babaca quando quer — ela disse, levantando-se. — Você não é o único que tem problemas, tá? Eu também tô odiando estar viva hoje, mas eu ainda vim aqui pra te ajudar.
— Por que? Eu não pedi e você poderia ter me ignorado…
— Você é burro ou o quê!? — exclamou brava, abrindo a porta. — Eu vim porque eu me importo o suficiente pra colocar seus sentimentos acima dos meus.
Sem vontade de ouvir mais qualquer coisa, Chan saiu do banheiro, batendo a porta um pouco mais forte do que o necessário.
[...]
Depois de terem as aulas pela manhã, a maioria dos alunos se reuniram no refeitório para almoçar.
Jisoo agradeceu muito a Deus por não ter tido nenhum horário junto de Jeonghan ou Seungcheol, mas aquela sorte não lhe ajudava naquele momento em que tentava se concentrar no almoço que Taesuk havia preparado para si enquanto sua alma gêmea lhe encarava a algumas mesas de distância sem tentar disfarçar, e Jisoo tentava fingir que não percebia e resistia a tentação de devolver o olhar, sabia que iria chorar se o fizesse, e estava com tanta saudade que quase cedia, mas ele conseguia se manter distraído ao ouvir as risadas altas de Soonyoung e Seokmin, mesmo que não estivesse inteirado no assunto.
— E você, Shua? — Seokmin perguntou de repente, tirando-os de seus pensamentos. — Sabe o que vai fazer na faculdade?
— Ainda não — respondeu, não muito animado. — Vou tentar fazer alguns testes vocacionais. Na pior das opções, eu faço uma faculdade de administração, mesmo que meus pais queiram me matar por isso.
— Eles já querem te matar por muitas outras razões — Soonyoung apontou.
— Como você é insensível — Seungkwan acusou. — O coitado já tá destruído…
— Valeu, Kwan — Jisoo disse, um tanto irônico. — Mas não é como se eu não soubesse, agora é só criar bloqueios emocionais e fazer terapia pra desfazer eles depois.
— Eu estava tentando não levar a conversa pro lado obscuro de novo — Seokmin falou, fazendo um bico nos lábios. — Vamos pensar num futuro mais alegre e esperançoso, que tal?
— O que você quer fazer, Seok? — o Hong perguntou, tentando voltar para o assunto anterior.
— Eu gostaria muito de fazer moda ou artes cênicas — contou, parecendo animade. — Chan e eu tínhamos combinado de entrar no curso de moda juntes, mas aquela salafrária me traiu pela faculdade de psicologia.
— Não chora — Seungkwan debochou. — Você pode ir nos visitar no prédio da psico.
— Você quer ser psicólogo também, Kwan? — Jisoo perguntou, olhando curioso para o ômega.
— Uhum, psicólogo infantil — contou, sorrindo tímido e um tantinho orgulhoso. — Chan, por outro lado, quer se aprofundar mais na sexologia.
— Ela quer ser terapeuta sexual? — Soonyoung juntou as sobrancelhas. — Tipo… Mesmo sendo assexual?
— E o que isso tem a ver? — a voz de Chan atrás deles acabou por assustar o alfa, que deu um pulinho no lugar antes de levar as mãos até o coração.
A mais nova riu baixo da reação do amigo e sentou ao lado de Seungkwan para receber um pouco dos bolinhos que ele tinha consigo.
— N-Não, nada, é só que… — Soonyoung tentava se explicar, embolando-se nas palavras pelo nervosismo, o que só fez Chan rir mais.
— Tudo bem, eu te perdoo só porque simpatizo com os virgens — piscou para ele.
— Isso é bullying — acusou o alfa, virando o rosto numa pose falsamente irritada.
— Foi mal, foi mal — ela sorriu.
— Você tá melhor? — Jisoo resolveu perguntar, ganhando um olhar frio dela.
— Ainda tô puta com você — avisou, virando-se para Seungkwan em seguida. — Kwannie, eu preciso de um favor.
— Ah, não — o ômega choramingou. — Primeiro você me chama de “Kwannie” e depois me vem com “preciso de um favor”. Eu sei que minhas mães têm dinheiro e tals mas eu ainda não vou convencer elas a pagar um advogado pra te livrar de uma prisão por ter matado alguém. Quem você matou?
— Ninguém, seu idiota! — exclamou, revirando os olhos. — Você é tão dramático.
— O que você precisa, então?
— Eu preciso que você cuide dos meus irmãos hoje — falou devagar, com medo do amigo negar e pronta para usar todos os argumentos possíveis. — Por favor, é importante! Eu tenho uma entrevista de emprego e eu preciso muito disso.
— Entrevista onde? — Vernon perguntou.
— Numa cafeteria no centro, meio período e tals, mas vai ser ótimo eu ter uma renda fixa e não depender tanto dos meus pais — Chan contou, sorrindo nervosa e empolgada. — Por favor, oppa. Eu pedi pro Mingyu mas ele não pode hoje.
— Ah, eu não tô afim — o Boo respondeu preguiçoso.
— Por favor, não tem mais ninguém que eu possa pedir…
— Ai!? — Soonyoung soltou, parecendo ofendido. — Nós somos invisíveis, por acaso?
— Não é isso, mas meus irmãos não te conhecem — Chan explicou.
— Você não consegue nem trocar a fralda da Yoona e quer cuidar de duas crianças? — Joshua perguntou para o primo.
— Não é que eu queira, mas eu gosto de ajudar.
— Oppa, isso é lindo, realmente um amor — ela disse. — Mas eu preferia que o Seungkwan fosse hoje. Por favor, por favor, por favor, por favor, por…
— Ah! Tá bem — o ômega concordou, bufando. — Porra, você é muito irritante.
— Obrigada, Seungkwannie! — exclamou, abraçando-o apertado. — Ok, eu preciso estar lá às 15h30min, então se você puder chegar uma hora antes pra dar tempo de eu explicar pro Minho…
— Tá bem, tá bem — o ômega resmungou, empurrando a mais nova para longe de si. — Agora vai ficar com seu grupinho raiz, não quebra o combinado do almoço de hoje.
Ela riu baixo, levantando-se em seguida.
— Ok, vou lá — sorriu, acenando para eles e voltando para a mesa onde estava com Mingyu e outros amigos seus.
— Por que ela tá brava com você? — Soonyoung perguntou curioso, virando-se para Jisoo.
O beta revirou os olhos.
— Não é da sua conta. Termina seu almoço, anda — falou, enfiando algumas algas na boca do primo.
Um pouco mais ao longe, Jeonghan suspirou observando Jisoo.
— Ele parece bem, né?
— Eu não estaria com você me encarando igual um maníaco — Jihoon respondeu, puxando o amigo para que ele parasse.
— E eu não sei o que você considera “bem” — Wonwoo começou. — Mas eu não acho que ir chorar escondido no banheiro seja estar bem.
Jeonghan revirou os olhos.
— Digo que ele parecia bem pior pelas coisas que eu sentia — explicou, revirando sua comida sem, de fato, comer. — Ele tá bem, não tá, Jih?
O ômega suspirou.
— Achei que a ideia era a gente sentar juntos pra conversarmos entre nós como era antes — apontou, cruzando os braços sobre a mesa. — Não era?
— Era — Jeonghan falou, como se admitisse um erro. — Você tá certo, desculpa. O que tá acontecendo de bom na vida de vocês?
— Eu vou começar a autoescola hoje — o ômega contou, animado.
— Sério? Que maravilhoso! — Seungcheol sorriu, parabenizando-o.
— É, já temos o motorista oficial dos rolês, posso beber a vontade agora — Jeonghan disse, rindo quando Jihoon tentou lhe chutar por baixo da mesa.
— Folgado — acusou.
— Já ouvi isso antes — o alfa riu.
[...]
O primeiro dia de aula sempre parecia terminar mais cedo já que os professores não iniciavam nenhuma matéria nova, apenas revisavam o conteúdo do ano anterior e relevavam a conversa dos alunos que estavam animados por reencontrar seus amigos.
Na hora da saída, Jihoon esperou um pouco para sair de sua sala de aula e não ter que se esmagar na multidão, então quando estava mais vazio, ele pegou seus materiais e saiu para o corredor, onde encontrou Soonyoung e Jisoo o esperando.
— Finalmente! — o beta falou, começando a andar na direção da saída. — Eu vou sair com a Nayeon daqui a pouco, e vou me atrasar por culpa de vocês.
Jihoon e Soonyoung apenas riram discretamente do mais velho.
— Poderiam ter ido na frente, a gente vai se encontrar no mesmo lugar — disse o ômega, ficando na ponta dos pés para dar um selinho no namorado.
— Até parece — respondeu ele, segurando a mão do baixinho para que caminhassem juntos. — Não custa nada.
— Andem rápido, gente — Jisoo pediu.
Eles aceleraram um pouco.
— Você quer dar uma volta agora de tarde? — Soonyoung perguntou.
— Hoje eu não posso, amor, vou começar a autoescola — falou, fazendo um biquinho.
— Ah, é verdade — murmurou. — Então, me avisa o dia que você vai estar livre.
Jihoon sorriu, segurando sua mão mais apertado.
— Pode deixar, meu amor.
[...]
Sem Jisoo e Jihoon em casa, cada um ocupado com suas coisas, Soonyoung estava sem muitas opções do que poderia fazer naquela tarde. Daeun e Taesuk estavam cuidando de Yoona e da casa, ele mesmo ajudou com o que podia mas admitia que ainda se sentia um pouco estranho na presença dos sogros tendo que morar na casa deles.
Sem muitas ideias, ele mandou algumas mensagens em seu grupo de amigos mais próximos — Seungkwan, Seokmin, Junghwa e Vernon — perguntando se alguém estava livre e se não queriam fazer alguma coisa.
Seungkwan foi o primeiro a responder, dizendo que estava indo para a casa de Chan para cuidar de Minho e Jun e até propôs que o alfa fosse junto já que ele estaria sozinho.
Soonyoung gostou da ideia, então avisou Daeun que iria sair e que voltaria antes do sol se pôr. Encontrou Seungkwan no meio do caminho para a casa da mais nova e eles seguiram conversando sem parar como era de costume deles.
Quando chegaram, o ômega já foi entrando como se fosse de casa, sabendo que os pais de Chan não estariam.
— Minho! Para com isso! — a beta falava, tentando segurar o irmãozinho, que estava correndo pela casa e rasgando as folhas de um caderno velho.
— Não paro! — ele gritava de volta.
— Acho que chegamos em má hora — Seungkwan sussurrou para Soonyoung, que manteve-se quieto.
— Desculpa, gente. Minho tá fazendo birra — Chan explicou, claramente estressada pela situação.
— Cala a boca! — o alfinha exclamou, indo até a irmã e tentando lhe acertar alguns tapas.
— Minho, não! — ela disse, abaixando-se de frente para ele e segurando suas mãos. — Eu entendo que você esteja chateado, mas eu não vou permitir que você me bata, isso não é legal. Você quer um abraço pra tentar ficar calmo?
— Não! — ele gritava, chorando e tentando se soltar. — Me larga! Eu te odeio!
Chan fechou os olhos e respirou fundo, contando até três.
— De novo — falou com a voz embargada —, eu entendo que você tá chateado, então você pode subir pro seu quarto pra se acalmar — ela disse, soltando-o. — Quando você estiver melhor, você desce e limpa essa bagunça e quando eu chegar a gente conversa.
Ainda extremamente bravo, Minho subiu as escadas, gritando coisas sem sentindo e batendo a porta do quarto com força.
— Você tá bem? — Seungkwan perguntou quando a mais nova chegou perto deles.
— Tô, sim — falou, secando algumas lágrimas que insistiram em cair. — É normal ele fazer birra, então deixem ele quieto por enquanto, logo ele se acalma. Não limpem a bagunça, ele vai arrumar quando estiver melhor. Jun tá dormindo no quarto, daqui a pouco ele vai acordar, podem dar alguma coisa pra ele comer, eu mandei uma lista das coisas que ele pode comer pro Seungkwan. Qualquer coisa…
— Ok, ok. Respira — o ômega falou, segurando as mãos da amiga. — Você tá quase tendo um infarto.
Ela suspirou.
— Tô nervosa, e ainda teve tudo isso — explicou. — Sério, que vontade de sair correndo…
— Calma, tá tudo bem — Soonyoung sorriu, abraçando Chan apertado. — Vai dar tudo certo.
— É, você vai conseguir — Seungkwan falou, entrando no abraço e bagunçando os cabelos dela.
— Droga, Seungkwan — reclamou. — Eu tenho que estar apresentável lá.
— Tá bom, ajeita essa cara e vai — o ômega mandou, sorrindo um tantinho orgulhoso. — Qualquer coisa nos liga.
— Ok. muito obrigada, gente, vocês são demais — sorriu.
— Boa sorte — Soonyoung desejou, acenando enquanto Chan entrava no uber.
— E agora boa sorte pra gente pra lidar com esses dois pestinhas — Seungkwan falou, sentando-se no sofá.
— Ué, cadê o psicólogo infantil, hein? — brincou. — Vai, doutor Boo.
— Você é também tão irritante.
[...]
Não muito longe dali, Jisoo esperava por Nayeon no ponto de encontro que combinaram. Os pensamentos dele estavam longe demais, repensando em todos os eventos um tanto desastrosos daquela manhã e em seus amigos, principalmente Jeonghan e a vontade insuportável de ir correndo até ele e o abraçar, vontade esta que teve que conter com toda força.
Estava tão distraído que não notou a figura ligeira da Im se aproximando dele e pulando em seu abraço, o que lhe rendeu um susto e boas risadas nela.
— No que você tava pensando que nem me viu chegar? — ela perguntou animada, afastando os cabelos longos e castanhos do rosto.
— Muita coisa pra dizer — ele sorriu, abraçando-a de lado e apertando seu ombro. — Fique sabendo que eu reservei a tarde inteira pra gente colocar tudo em dia, mas alerta de spoiler: vai ter muitas lágrimas.
— Ah, muito obrigada, nobre cavalheiro, por achar um tempo em sua agenda apertada para me receber — Nayeon brincou, curvando-se para ele como se estivesse diante de algum tipo de príncipe de filmes de fantasia.
Joshua apenas riu, empurrando-a sem força alguma para que voltassem a caminhar lado a lado até o karaokê que ela havia escolhido para passarem um tempo juntos.
Conversaram sobre algumas trivialidades até chegarem lá, Nayeon contava vagamente sobre o primeiro dia de aula — coisa que não era muito interessante —, contava como estavam alguns amigos em comum e algumas fofocas sem importância.
Quando chegaram no local e foram até a sala pequena e privada somente para os dois, pediram algumas comidas e bebidas, deixando a cantoria para mais tarde.
— Então — Nayeon começou, colocando as mãos em cima da mesa. — Quem vai começar?
— Você me convidou, você começa.
— Eu convidei porque, se dependesse de você, nem amigos nós seríamos — retrucou ela, usando um tom ofendido que não foi levado a sério. — Eu tomei a primeira iniciativa, você começa.
Jisoo riu, esgueirando os olhos na direção dela.
— O que aconteceu que você tá com vergonha de contar? Normalmente, você já estaria falando pelos cotovelos — apontou, como se estivesse resolvendo algum mistério. — Aconteceu alguma coisa com aquela menina lá?
Quando a expressão da beta vacilou por alguns segundos, Joshua percebeu que ele estava certo na especulação, então preocupou-se.
— Aconteceu algo ruim? — aproximou-se.
— Você vai saber depois que abrir a boca — ela desviou do assunto. — Eu quero saber como tá o seu coraçãozinho primeiro pra saber se ainda é aceitável eu despejar as dores do meu.
— Que brega — riu junto dela. — Bom, meu coraçãozinho está destruído em vários sentidos da palavra, mas eu vou começar terapia semana que vem pra tentar lidar melhor com isso e todos meus traumas. Ainda tô me acostumando com a ideia de ver o amor da minha vida com o amor da vida dele pela escola…
— Jeonghan? — perguntou cautelosa.
Ele apenas acenou com a cabeça, sentindo-se até mesmo incapaz de pronunciar aquele nome que tanto amava.
— Não sei como vou fazer na escola. Só ver ele já é difícil, sabe? — olhou para a amiga, buscando aquele conforto tão afável e seguro em seus olhos. — Eu quero correr até ele, contar tudo que tem acontecido, ter ele por perto, morrer sufocado no cheiro dele… Mas se eu fizer isso estando apaixonado por ele e ele não estando por mim, pareceria que eu estou tirando vantagem e me machuca muito porque eu sei que ele me quer por perto, mas eu sei que ele seria capaz de fingir que nada aconteceu, entende? Acho que se eu pedisse pra ele esquecer toda minha declaração, ele faria, se fosse pela nossa amizade… Mas eu não consigo fingir que nada aconteceu, e eu não sei como conciliar esses sentimentos, não sei como separar eles em caixas diferentes, tampouco fazer esses sentimentos irem embora e ficar só com amor entre amigos, tipo o que a gente tem, sabe?
Nayeon ouvia tudo em silêncio, acenando com a cabeça quando ele lhe olhava, prestando toda atenção às feridas do amigo, tentando encontrar alguma esperança, alguma palavra que pudesse lhe dizer. Tentava encontrar alguma ferida que ela pudesse curar com um abraço, uma palavra gentil, um gesto, qualquer coisa… Mas ela sabia que não era assim que funcionava, sentimentos vão embora sozinhos, assim como eles vêm.
— Quer saber um segredo? — perguntou, olhando para ele com carinho. Ele acenou e ela confessou: — Teve uma época que eu gostava de você… tipo, gostava mais que amigo.
Ele juntou as sobrancelhas.
— Sério?
— É, mas não era verdade, sabe? Até porque eu nem gosto do que você tem aí — gesticulou para a virilha do amigo como se estivesse com nojo, o que fez os dois rirem. — Mas eu fiquei algumas semanas apaixonadinha por você, logo no começo da nossa amizade, antes de eu me descobrir e tudo. Eu ficava pensando se deveria falar o que sentia, pensava muito em muitas coisas, eu ficava horas da noite fantasiando um namoro nosso — contou rindo, a ideia soando totalmente absurda no presente.
Joshua ria também, formando aquelas imagens na cabeça e percebendo como não fazia sentido.
— Você é doida, Nayeon!
— Eu sou sapatão emocionada, é diferente — defendeu-se. — Foi só uma fase de heterosexualidade compulsória, e como você era meu melhor amigo eu achava que era um crush de verdade. Mas, enfim! — virou-se para ele, querendo sua total atenção. — Eu ficava a noite pensando em nós como um casal, mas na manhã quando a gente se encontrava, algo em mim falava que nós sermos amigos era muito mais certo, fazia muito mais sentido. Mesmo se a gente fosse hétero, era melhor eu ter sua amizade, funcionava melhor e eu sei que vai durar muito. Eu não tô dizendo que esse seja o caso de você com o Jeonghan, eu não sei como era a relação de vocês, mas, às vezes, o que poderia ser só uma paixão de ensino médio, também pode ser sua melhor e mais verdadeira amizade da vida inteira.
Jisoo sorriu após ouvir tudo que a amiga falara, aproximando-se dela e segurando sua mão.
— Eu sou seu melhor e mais verdadeiro amigo? — perguntou, exibindo um sorriso convencido que ele sabia deixar a Im brava.
Ela revirou os olhos.
— É, né. Fazer o que — cruzou os braços, como se estivesse insatisfeita, mas sorriu e aceitou de bom grado quando ele lhe abraçou apertado.
— Você é minha melhor amiga, também — falou, balançando-os naquele abraço enquanto beijava seu rosto.
— Ai, já tá ficando meloso demais — reclamou, tentando empurrá-lo, mas falhando.
Joshua apenas soltou-a quando a atendente do local pediu licença de forma envergonhada e deixou os pedidos sobre a mesa, pedindo desculpas por interrompê-los.
Ambos agradeceram educadamente e, assim que ela se retirou, romperam em gargalhadas tão altas que poderia ter incomodado as pessoas que estavam nas salas ao lado, mas não se importavam nem um pouco.
— Amo como a gente não consegue sair sem parecer um casal — Nayeon disse, atacando as batatas fritas.
— Vai ser difícil a gente arranjar parceiros assim — Jisoo lamentou-se, fingindo chorar enquanto misturava o lamen quente.
— Do jeito que eu tenho dedo podre, talvez seja melhor — ela riu, mesmo que não achasse tanta graça.
— O que aconteceu? — olhou para a amiga. — Achei que você e Eunwoo estavam bem, vocês eram super boiolinhas pelas mensagens que você me mostrou.
— É, sei lá. Acho que eu me enganei — deu de ombros.
— Ah, mas… Por que? — chegou mais perto, querendo saber mais.
Há pouco menos de dois meses que Nayeon lhe contou super animada de uma ômega que havia conhecido em um grupo de mensagens qualquer. As duas começaram a conversar e ficaram mais próximas, se entendiam e tinham gostos parecidos. As duas gostavam de meninas e, somando isso com a beleza e personalidade cativante da garota, sentimentos começaram a crescer dentro da Im.
Jisoo sabia muito bem que Nayeon ficara alguns bons anos sem gostar de ninguém por conta de uma grande decepção amorosa que teve no passado, então ficou muito animado quando a amiga lhe contou que estava gostando de outra pessoa e que era mútuo. Estava realmente torcendo para que elas dessem certo, pois Nayeon merecia muito aquela felicidade.
Ficou um pouco por fora da vida da amiga quando toda confusão em sua casa explodiu, ficando sem saber de nada por conta disso, mas esperava muito que corresse tudo bem no encontro que Nayeon havia lhe comentado alguns dias antes de tudo acontecer.
E agora que estava ali com a Im lhe contando como tudo havia dado errado de um dia para o outro, sentia-se muito triste e irritado.
— Lembra que a gente ia se encontrar naquela festa? — ela perguntou, ele acenou. — Então, nós nos encontramos e eu estava super nervosa, eu tremia tanto quando a gente se abraçou pela primeira vez e eu senti que ela também — sorriu triste. — Eu tenho raiva de pensar nisso agora, mas ela me abraçou tão apertado e eu fiquei tão feliz naquela hora, eu só não sabia que tudo ia dar errado.
Quando uma lágrima escorreu pelo rosto bonito, Joshua rapidamente pegou um guardanapo da mesa e a secou, ficando o mais próximo que podia e abraçando-a.
— Ela iria se apresentar com umas amigas na festa, acho que era uma música do Blackpink — voltou a contar, apoiando a cabeça no ombro do maior. — E ela tava muito nervosa por causa disso, e ela ficou falando que elas ficaram ensaiando quase o dia todo, ela teve crise de ansiedade e algumas coisas assim… E eu não soube o que fazer, sabe? Eu fiquei apenas ouvindo e segurando a mão dela, tentando fazer ela se sentir melhor, eu até me senti mal porque, não vou mentir, fui esperando conversar e dar uns beijinhos nela, mas foi tudo diferente e muito estranho — fungou, escondendo o rosto com as mãos. — A gente mal conversou a noite toda, eu já comecei a me sentir uma intrusa e pedi pros meus pais me buscarem, inventei uma desculpa qualquer que ela nem se importou em ouvir e fui embora.
— Que droga, Yeonie — Jisoo suspirou, abraçando-a mais apertado e a ajudando na missão de secar seu rosto. — Mas… Ela teve os motivos dela, né? Vocês conversaram depois disso?
— Mais ou menos — murmurou. — No dia seguinte ela não mandou nenhuma mensagem e eu também não, não sabia o que dizer. Aí, no outro dia, eu decidi enviar. Falei que o dia tinha sido meio estranho, que eu percebi que ela tava estressada e eu não sabia o que fazer, que eu senti que estava incomodando e tudo.
— E ela?
— Ela respondeu que não podia falar naquela hora e respondia depois — sorriu triste ao lembrar, mexendo no kimchi sem a intenção de comê-lo.
— Meu Deus…
— Pois é — riu baixo. — E aí, quase no final da tarde, ela respondeu. Ela disse que tentou puxar assunto comigo no dia da festa e como eu não… sei lá, não sabia o que dizer, ela entendeu que eu não fazia questão de conversar ela e parou de tentar. E ela falou também que percebeu que eu queria “contato físico” e aí, depois de tudo que aconteceu, ela me falou que não se sente confortável demonstrando afeto em público com pessoas que seriam algo além de amizade pra ela. Mas não era que eu queria, sabe? Era porque eu não sabia como agir, e eu quando não sei o que falar, eu fico do lado da pessoa e espero que aquilo seja o suficiente.
— Tá tudo bem — Joshua sussurrou quando um soluço escapou da garganta dela. — Se você quer saber, é o suficiente pra mim.
Nayeon sorriu, olhando para o amigo com amor e voltando a deitar a cabeça em seu ombro.
— Fico feliz, então, porque eu tô desde aquele dia me xingando muito por ser… assim — apontou para si, quase derrotada.
Em resposta, Jisoo segurou sua mão e apertou seus dedos.
— E depois disso? O que aconteceu?
— A gente conversou, meio que se entendeu sobre a festa. Ela disse pra eu não me culpar pelo que aconteceu porque ela não iria se culpar… Mas você me conhece, eu estou me culpando até agora — riu de si mesma. — E eu fiquei assim, perdida e confusa e perguntei o que ela achava melhor, porque, apesar de tudo, eu ainda gostava muito dela. E ela disse que seria melhor a gente ficar só como amigas por um tempo, e mesmo eu não gostando da ideia, eu concordei, porque eu já tinha fodido coisas demais pra poucos dias.
— E isso não deu certo, né?
Nayeon negou com a cabeça.
— Eu tentei fazer dar certo — confessou. — Eu tentei continuar como era antes, mandando bom dia e essas coisas, mas ela parou de me responder e depois apagou meu número.
— Quê!? — Joshua exclamou, afastando-se para olhar a amiga, incrédulo com o desfecho final. — Nossa, que filha da puta! Antes eu achava que vocês podiam se resolver, mas isso foi muito escroto.
Nayeon conseguiu rir da indignação do amigo, mesmo que ela ainda chorasse, manchando seu rosto de maquiagem.
— Pois é — concordou, desistindo de secar suas lágrimas. — Eu não sei se fico triste, com raiva, se fico irritada com ela ou comigo por ser assim, por não saber como agir…
— Não! Eu não vou deixar você ficar com raiva de você, você não fez nada errado — afirmou, pegando alguns papéis toalha para secar o rosto dela, de maneira quase desastrada, o que fazia Nayeon rir em meio às lágrimas. — Literalmente tudo que você fez foi pensando no bem estar dela e parece que ela não considerou nem um pouco seus sentimentos!
— É… — ela suspirou. — Isso já faz algum tempo, eu já estive pior, mas ainda quero tirar tudo isso do meu peito, sabe?
— Ah, se sei — sorriu, segurando a mão dela. — Mas sabe a parte boa?
— Qual?
— Eu tenho duas, na verdade — disse, abraçando-a de lado. — A primeira: nós estamos sofrendo juntos, então é menos doloroso.
— E a segunda?
— Estamos no melhor lugar para gritar frustrações — sorriu sugestivo, indicando a máquina de karaokê com os olhos. — O que você acha?
Nayeon pareceu pensar por alguns segundos.
— Sabe qual a melhor parte? — olhou para o maior.
— Qual?
— Eu sei exatamente qual música vamos começar — levantou-se determinada.
Joshua sorriu, um pouco mais aliviado ao vê-la levemente melhor, procurando a tal música e aceitando quando ela lhe entregou o outro microfone para que cantassem chance.
Nayeon cantou o primeiro verso com calma, levando a sério por um momento e ignorando Jisoo balançando o corpo de um lado para o outro numa dança boba.
Does she feel the energy the way that I do
(Será que ela sente a energia do jeito que eu sinto)
In the air whenever we get in the same room?
(No ar sempre que estamos no mesmo lugar?)
'Cause I don't know how to read her mind
(Porque eu não sei como ler sua mente)
And I don't wanna cross the line
(E eu não quero passar do limite)
Does she know I'm thinking 'bout her plenty?
(Ela sabe que estou pensando muito nela?)
Overthinking if she'd even let me
(Pensando demais se ela sequer me deixaria)
Moving closer now to hear me say
(Me aproximar agora para me ouvir dizer)
That I don't wanna go home
(Que eu não quero ir para casa)
And leave as just friends
(E ficar apenas como amigas)
But I keep letting her go
(Mas eu continuo a deixando ir)
And then it just ends
(E então acaba)
Assim que chegaram no refrão, ambos já estavam cantando a plenos pulmões, realmente gritando para fora de seus peitos aqueles sentimentos não ditos e sufocados, que se encaixaram numa música por coincidência recomendada por quem havia quebrado o coração da Im.
I was a no, never maybe
(Eu era um não, nunca talvez)
I knew she'd never take a chance on me
(Eu sei que ela nunca me daria uma chance)
How did it go? We'll never see
(Como foi? Nós nunca saberemos)
I knew she'd never take a chance on me
(Eu sei que ela nunca me daria uma chance)
I didn't know no better
(Eu não sabia o que era melhor)
I wouldn't let myself believe
(Eu não me permitiria acreditar)
No, we'll never see
(Não, nós nunca saberemos)
'Cause I never let her take a chance
(Porque eu nunca a deixei se arriscar)
Let her take a chance on me
(Nunca a deixei me dar uma chance)
Quando chegou a segunda parte, fora a vez de Jisoo cantar, lendo a letra no telão e sentindo vontade de chorar ao sentir que aquela música estava conversando consigo. A voz saía estranha por conta do nó que se formou em sua garganta e das lágrimas que desceram dramaticamente por seu rosto, mas Nayeon não se importou com esse fato, apenas abraçou o amigo de lado e os embalou no ritmo.
Tell me, tell me, tell me where you are now
(Diga-me, diga-me, diga-me onde você está agora)
I could show up in the middle of the night to
(Eu poderia aparecer no meio da noite para)
Try to make up for the time we lost
(Tentar compensar o tempo que perdemos)
Try to put a little love on us
(Tentar colocar um pouco de amor em nós)
'Cause I know I still think about her plenty
(Porque eu sei que ainda penso muito nela)
If I found the confidence, yeah
(Se eu encontrasse a confiança, sim)
Would she let me?
(Ela me permitiria?)
Why does it always have to be this way?
(Por que sempre tem que ser assim?)
It's caught inside of my mind
(Está preso dentro da minha mente)
What we could have been
(O que poderíamos ter sido)
But I keep letting her go
(Mas eu continuo a deixando ir)
And then it just ends
(E então apenas acaba)
Nayeon puxou a mão do maior para que cantassem novamente o refrão juntos, alto demais para cantarem as notas corretas, mas estavam se entendendo naquele momento.
Haviam aberto seus corações de maneira sincera, despindo-se de quaisquer sombras que pudessem lhe afastar, eles não precisavam ter segredos pois sempre se entenderam bem.
Mesmo com o coração partido, Joshua percebera naquele dia os amigos maravilhosos que tinha e sentiu-se verdadeiramente grato e feliz por estar vivo, por poder estar naquele momento com a garota mais incrível que ele já conheceu e, agora, tendo uma quase-família para lhe receber quando fosse hora de ir para casa.
Notes:
quiz de qual personagem vc seria na fic: https://uquiz.com/quiz/7lX6Kz/qual-personagem-de-caf%C3%A9-camomila-e-cheiro-de-livro-novo-voc%C3%AA-%C3%A9
Chapter 47: Chá de Ginseng
Chapter Text
Soonyoung poderia facilmente admitir que ele não levava o menor jeito para cuidar de bebês. Ficava nervoso com algo tão frágil nas mãos, não sabia trocar fralda e não entendia os choros constantes, mas ele poderia se orgulhar do jeito que ele tinha com crianças.
Quando estava mais calmo, Minho desceu as escadas e conversou brevemente com Seungkwan e Soonyoung, logo limpou a bagunça que havia feito e ficou quietinho no sofá, ainda muito chateado com algo que os mais velhos não tinham conhecimento.
Junseo havia acordado um pouco antes do alfinha descer, e Seungkwan estava mais ocupado com o bebê — que parecia um pouco doentinho — e ficou para o Kwon a missão de tentar animar Minho.
Puxando assunto sobre um desenho animado qualquer, não demorou muito para que o Lee estivesse falando pelos cotovelos, contando sobre várias coisas e mostrando feliz todos seus brinquedos favoritos a Soonyoung, que não demorou muito a se envolver em uma brincadeira pra lá de agitada e barulhenta com ele.
Soonyoung e Minho falavam alto pela casa, lutando contra monstros imaginários, corriam de explosões falsas e o mais velho sofria um pouco quando o Lee insistia em subir em suas costas para ser carregado.
Seungkwan e Jun apenas observavam de longe toda aquela algazarra, o Boo secretamente pensava que pareciam duas crianças, o que não era uma mentira total, visto que Soonyoung sempre se recusou a perder algo que muitos adultos perdem quando crescem.
Depois de gastarem muita energia, os quatro sentaram-se para assistir um filme infantil qualquer, Minho estava mais calmo e alegre bebendo seu leite de banana e rindo das piadas dos personagens.
Quando o filme estava na metade, Chan voltou, carregando um sorriso grande demais para ser ignorado.
— Hyung! — Minho exclamou, pulando do sofá e correndo até a irmã para ganhar colo. — Você voltou!
— Voltei! — sorriu, segurando o irmão nos braços e fechando a porta com o pé.
— Como foi? — Seungkwan perguntou, nervoso ao chegar perto deles.
— Eu consegui! — anunciou feliz.
Seungkwan e Soonyoung gritaram felizes, abraçando a amiga e dando pulinhos animados.
— Eu sabia que você ia conseguir! — disse o alfa, bagunçando os cabelos dela.
Minho debateu-se para voltar ao chão, não entendendo a agitação da irmã e dos amigos.
— Eu nem acredito, eu tô tão feliz! — Chan falava, sorrindo a ponto de machucar suas bochechas. — Nossa, muito obrigada por terem ficado com eles hoje, não teria conseguido sem vocês.
— Imagina, sempre que precisar — o alfa disse.
— É, Soonyoung e Minho se divertiram bastante — contou o Boo.
Após conversarem por mais alguns minutos, Soonyoung e Seungkwan se despediram e voltaram para suas casas já que o sol estava perto de se pôr.
Chan, mais do que feliz pela conquista, quase esqueceu das coisas que Minho havia feito antes dela sair e realmente não queria ter aquela conversa com o irmão, mas sabia que era inevitável.
Sentou-se ao lado dele no sofá e assistiu o final do filme pacientemente, checando vez ou outra Junseo — que havia voltado a dormir. Quando os créditos começaram a subir, Chan desligou a TV e ouviu Minho falar sobre o filme.
— Eu também gosto bastante desse desenho — disse sorridente, fazendo um carinho singelo nos cabelos do irmão. — Minho-ah, a gente precisa conversar.
O menor imediatamente se retraiu, assumindo uma postura tristonha e envergonhada quando lembrou-se do que havia feito.
— Antes de eu sair, você lembra que tentou me bater e falou que me odiava?
— Desculpa, mana — pediu baixinho, mantendo o olhar baixo.
— É claro que eu desculpo, meu amor — falou, chegando mais perto. — Mas o que você fez me magoou muito, não foi legal, né?
— Não — murmurou. — Eu não te odeio.
— Eu sei, meu amor — suspirou. — Você tava irritado comigo quando falou aquilo?
Ele concordou com a cabeça.
— Você saiu e ficou a tarde toda fora — disse com a voz chorosa.
— Eu sei, mas eu precisava ir — afirmou. — A mana conseguiu um trabalho, agora todo dia eu vou precisar sair pra trabalhar e vou poder ajudar com a casa, essas coisas de adulto. Mas isso não significa que vai mudar como eu te amo, tá? E você começa suas aulas amanhã, então eu vou te buscar todos os dias na escola.
— Jura? — olhou a mais velha, parecendo feliz.
— Juro — sorriu, apertando as bochechas dele. — A gente vai passar menos tempo juntos, mas as coisas vão melhorar, tá?
— A gente ainda vai brincar junto?
— É claro que sim!
— Então… acho que tudo bem.
— Você quer falar mais alguma coisa? — Minho negou com a cabeça. — Posso ganhar um abraço então?
Ele rapidamente ficou em pé no sofá, jogando-se sobre a maior e abraçando-a apertado. Chan sorriu e fechou os olhos ao apertar o irmão em seus braços.
— Lembra do que a mana te fala?
— Você é bom, você é inteligente, você é importante.
— Isso aí — afastou-se o suficiente para apertar seu rostinho novamente. — Eu te escuto, eu te acolho, eu te amo.
— Também amo você, Chan-ah.
— Os hyungs cuidaram bem de você e do Jun?
— Sim! Soonyoung hyung e eu brincamos de um montão de coisas!
[...]
Depois de deixar Seungkwan na porta de sua casa, Soonyoung seguiu para a casa dos Lee — mesmo a casa do amigo sendo um pouco longe do caminho que ele deveria pegar —, quando chegou ele encontrou Jihoon na sala, contando animado para os pais como havia sido o primeiro dia na aula para tirar a carteira de motorista.
— Soonyoung, você chegou — Taesuk sorriu. — Jihoon quase bateu o carro da autoescola.
— Que!? — exclamou, aproximando-se do namorado quase correndo.
— Ele tá brincando — Jihoon apressou-se em falar. — A gente tá só na aula teórica.
— Eu disse pra você não fazer isso — Daeun reclamou com o marido, batendo de leve em seu braço, mesmo que ela risse baixo junto dele.
— Desculpa, não resisti.
— Agora eu sei quem você puxou — Soonyoung falou, bagunçando os cabelos do baixinho ao sentar-se ao seu lado.
— O que isso quer dizer?
— Preciso te lembrar que você me perguntou se eu preferia nascer pobre ou com…?
— Não! — interrompeu, cobrindo sua boca. — Tudo bem, aceito o que você disse.
Soonyoung sorriu e segurou sua mão para afastá-la de seu rosto, deixou um beijo rápido na bochecha do namorado e levantou para ir ao banheiro. Jihoon achava um pouquinho engraçado como o alfa tinha vergonha de lhe beijar na frente de seus pais.
— Mas que bom que você tá gostando da aula, filhote — Daeun falou. — Tenho certeza que você vai arrasar na aula prática também, teve essa professora maravilhosa.
— Com certeza — Jihoon sorriu.
— Bem, eu vou passar no mercado pra comprar as coisas pra janta — Taesuk anunciou, levantando-se. — Querem alguma coisa?
— Eu quero chocolate — Daeun pediu.
— Eu também — disse o mais novo.
— Ok, todo mundo ganha um chocolate — o ômega falou, pegando as chaves do carro. — Se lembrarem de outra coisa, me mandem mensagem.
— Tá bem — disseram ao mesmo tempo.
Assim que Taesuk fechou a porta, Daeun levantou-se.
— Eu vou aproveitar que Yoona dormiu e vou dormir também — falou, acariciando os cabelos do filho antes de subir as escadas.
Logo em seguida, fora a vez de Jihoon levantar e subir até seu quarto, querendo colocar roupas mais confortáveis das que estava usando.
Quando abriu a porta, Soonyoung estava em seu quarto, trocando de roupas também.
— Ei, privacidade — ele disse, usando uma camiseta velha para se cobrir.
— Foi mal — Jihoon respondeu, mas entrou mesmo assim e sentou-se em sua cama. — Até parece que nunca te vi sem roupa.
O alfa riu baixo, chegando perto do namorado e beijando seu pescoço, Jihoon encolheu-se quando um arrepio cruzou seu corpo, prendendo o maxilar de Soonyoung entre seu ombro. Achando um pouco de graça, o maior não resistiu em deixar uma mordida na pele dele.
— Ai! Soonyoung — reclamou, estapeando sua perna. — Isso dói.
— Desculpa — pediu, segurando sua mão. — Quer devolver? — mostrou o pescoço para o baixinho, que apenas revirou os olhos.
— O que você tem? Tá mais agitado que o normal.
— Sei lá, só tô agitado — levantou-se rapidamente, vestindo a camiseta e tirando as calças jeans para vestir uma de moletom.
Jihoon desviou o olhar.
— Tá ansioso?
— Só se você me perguntar.
— Oh, céus — suspirou, levantando da cama e abrindo o guarda-roupa para trocar de roupa também. — O que você normalmente faz quando tá assim?
— Hummm — Soonyoung aproximou-se, abraçando o namorado por trás. — Normalmente eu danço. Mas faz muito barulho e eu não quero acordar sua irmã.
— Ok… eu tive uma ideia — falou. — Pode deixar eu me vestir pra eu te mostrar?
— Achei que sua ideia envolvesse nudez — disse, recebendo alguns tapas do menor. — Ai, ai, ai! É brincadeira!
[...]
— Aqui é tipo uma sala de música — Jihoon falou destrancando a porta. — A gente não entra muito, mas tem isolamento acústico mais ou menos bom e tá organizado. Pode dançar aqui se quiser.
— Uau, é lindo — disse o alfa, olhando ao redor. — Tem até um espelho!
O mais novo sorriu observando o namorado, ele amava a forma como Soonyoung se animava com coisas pequenas.
— Sim, era da minha avó — contou, olhando ao redor nostálgico. — Ela que me ensinou a tocar piano.
— É, eu sei. Você me disse uma vez quando tocou pra mim — ele sorriu, aproximando-se do namorado para segurar sua mão.
— Você lembra disso mas não lembra o que a gente conversou no shopping no dia do nosso primeiro beijo? — arqueou uma sobrancelha.
— Eu lembro de algumas coisas, tá? — resmungou, deixando um selinho rápido no menor. — Será que posso conectar meu celular na caixinha de som? Ou você pode tocar pra mim, que tal?
— Pode conectar na caixinha — falou suave, abraçando-o pelos ombros e acariciando seus cabelos para que Soonyoung não ficasse magoado com sua recusa. — Eu não me sinto muito confortável aqui ainda — explicou, fugindo do olhar dele. — Mas você pode ficar à vontade, tá?
— Tudo bem, baobei — sorriu, beijando seus lábios com calma outra vez. — Te vejo daqui a pouco então.
— Ok — concordou, lhe dando um último selinho antes de sair.
[...]
Quase meia hora se passou. Daeun e Yoona continuavam dormindo, Taesuk avisou que iria demorar por conta de algum acidente que causou um engarrafamento e Soonyoung continuava dançando na sala de música.
Sentindo-se entediado, o ômega resolveu ir até o namorado para ver como ele estava, se estava se sentindo melhor e se não queria um pouco de companhia.
Entrou sem bater na porta, encontrando a figura de Soonyoung concentrada na coreografia improvisada de Earned It do The Weekend.
Ele estava suado, os fios longos e escuros grudados em sua testa, a camiseta preta quase colada em seu corpo. Os olhos felinos e acirrados estavam atentos a todos seus passos refletidos no espelho não muito grande, os movimentos eram precisos e sexys, sendo levados pelo ritmo da música de forma quase natural, como se ele já tivesse dançado aquilo um milhão de vezes.
Soonyoung era arte, e, de repente, Jihoon se via incapaz de desviar o olhar, incapaz até de respirar. Seu corpo começou a esquentar sem sua permissão, sua boca ficou seca e tudo que ele queria fazer ficava dividido entre admirá-lo de longe, sem piscar para não perder nada, ou beijá-lo até ficar sem ar enquanto traçava todo seu corpo com a ponta dos dedos.
Quando a melodia chegou ao final, o alfa pareceu despertar de um transe profundo, onde tudo ao seu redor era a música e mais nada.
— Ah, amor, você tá aqui — ele disse, sorrindo quando percebeu a presença do namorado. — O que houve?
— N-Nada — respondeu nervoso, como se tivesse sido pego no flagra fazendo algo errado.
Rapidamente saiu da sala, esquecendo-se de fechar a porta e correndo até seu quarto, querendo acalmar seu corpo e seus sentimentos, o que era difícil quando o motivo de toda aquela inquietação estava atrás de si, confuso e preocupado.
— Jih, o que você tem? — perguntou, tocando as mãos dele. — Aconteceu alguma coisa?
— Você aconteceu, Soonyoung — afirmou, fechando a porta do seu quarto para que as vozes não chegassem longe. — Porra, por que você é assim?
Sentindo seu coração acelerar de uma maneira ruim, o alfa olhou para o menor com vontade de chorar.
— A-Assim como?
— Assim… sexy e perfeito! — acusou, apontando para ele.
Soonyoung juntou as sobrancelhas, cada vez mais confuso com a situação, perguntando-se se havia perdido alguma coisa.
— Quê?
— Sério, Soon, você é tão… — bufou, frustrado. — Você já se viu dançando? É a coisa mais linda e sexy que eu já vi na vida. Meu Deus, eu nem sei o que quero fazer com você, e é tão complicado porque estamos morando juntos agora e…
— Ok, espera aí — ele pediu, sentando-se na cama. — Deixa eu ver se eu entendi. Você ficou com tesão me vendo dançar?
— É! Basicamente isso — admitiu, chegando um pouquinho mais perto dele. — E é um saco porque eu quero tentar ir além com você, mas não temos privacidade e nem outro lugar pra ir onde podemos ficar sozinhos…
— Ok, espera, espera! — falou. — Fica calmo… Uau, eu não digo isso muitas vezes, normalmente falam pra mim…
— Soonyoung.
— Ah, sim. Calma, muita informação pra minha cabeça e meu corpo virgem — suspirou. — Uau. Se eu soubesse que era tão fácil te seduzir eu teria…
— Cala a boca — mandou, aproximando-se para cobrir seus lábios. — Foco.
O alfa revirou levemente os olhos, segurando Jihoon pela cintura.
— Eu me sinto honrado, meu amor, mas realmente não temos como fazer nada aqui e agora — murmurou, a voz soando mais rouca que o normal, a respiração dele também estava um pouco pesada.
O ômega ergueu uma sobrancelha.
— Você realmente ficou excitado só de me ouvir falar nisso?
— Eu tenho dezoito anos, hormônios pra caralho e muito tesão acumulado por você, me dá um desconto.
Ele riu baixinho, sentindo suas bochechas ficando coradas. Acariciou o rosto do maior e o beijou devagar.
— O que a gente pode fazer? — perguntou baixinho, apoiando-se em seus ombros para sentar em seu colo.
— Não, não, não faz isso — Soonyoung pediu rapidamente, afastando o namorado que riu baixo antes de tomar lugar ao seu lado.
— Foi mal — sussurrou, deitando a cabeça no ombro dele. — Alguma ideia?
— Olha… Pra falar a verdade, eu tenho uma — olhou-o. — Daqui uns dias, é nosso aniversário de 100 dias.
— Meu Deus, é verdade! — Jihoon exclamou, levantando-se em um pulo. — Caralho, eu esqueci completamente, me desculpa!
— Ei, tá tudo certo. Nossa vida virou uma confusão, me surpreenderia se você lembrasse — riu, segurando as mãos do menor para que ele voltasse para onde estava. — Mas você quer ouvir minha ideia?
— Uhum.
— Como vai ser uma data especial, eu pensei que a gente poderia ter aquele encontro que a gente tá combinando faz tempo — falou. — Seus pais não iriam se importar se a gente passasse a noite fora, né? Já somos maiores de idade, é natural que a gente queira um pouco de privacidade, né?
— Hum… É uma boa ideia — murmurou. — Mas eu não sei se quero tipo… Sabe…
— Ir até o final? — ergueu uma sobrancelha.
— É — concordou, abaixando os olhos, envergonhado.
— Tá tudo bem, a gente não precisa — afirmou, acariciando os cabelos dele. — Podemos só… aproveitar, sei lá, não pensa demais nisso.
— Tá, você tem razão — sorriu. — Vamos fazer isso, então?
— Eu topo, e você?
Jihoon sorriu também antes de concordar com a cabeça, chegando mais perto para deixar mais selares rápidos nele.
— Então combinado — Soonyoung falou. — Eu vou tomar um banho gelado agora.
O ômega riu baixo, concordando.
[...]
Não muito tempo depois, Joshua voltou para a casa, encontrando Soonyoung e Jihoon no sofá, deitados assistindo alguma série que ele não conhecia.
— Por que vocês estão chorando? — perguntou o mais velho, tirando seus sapatos para entrar na casa.
Soonyoung pausou a televisão e ambos sentaram-se, secando seus rostos.
— Basicamente, um casal de gays estão se olhando de uma forma muito boiolinha depois que um deles esperou por 13 anos sem saber se o outro sequer voltaria — Jihoon explicou.
— Eu até poderia julgar, mas isso parece o tipo de coisa gay que me faria chorar também — falou, sentando-se ao lado deles.
— Mas, falando em gays — Soonyoung se aproximou. — Como foi com a Nayeon?
— Foi legal. A gente conversou bastante, comemos bem e cantamos muitas músicas gays — contou, sorrindo fechado quando o primo riu de seu pequeno relato.
— Sabia que ia te fazer bem sair, você precisa encontrar outras pessoas, mais amigos e tals — argumentou. — E Nayeon é alguém incrível.
— Eu sei disso, tá? — retrucou Jisoo. — Realmente me fez muito bem.
— É ótimo saber disso, porque nós temos outra missão de amigos amanhã — Jihoon disse, chegando mais perto deles.
— Devo me preocupar? — o beta arqueou uma sobrancelha, desconfiado.
— Não, nada demais — acalmou o Lee. — Nós só combinamos que iríamos buscar o Hao na rodoviária amanhã antes da aula, ele tá voltando de viagem.
— Ah, tá — murmurou.
— E isso inclui acordar mais cedo pra irmos até lá — Soonyoung acrescentou.
Joshua resmungou, revirando os olhos.
— Eu deveria imaginar — suspirou. — Mas tudo bem, eu topo porque não sei se confio em vocês três dentro de um carro.
— Até parece — Soonyoung desdenhou. — Qual o pior que pode acontecer?
— Não vou nem te responder — Jisoo disse.
[...]
No outro dia, Jihoon, Sooyoung e Jisoo acordaram mais cedo que o habitual, pegaram o carro emprestado e foram até a rodoviária no centro da cidade, onde Minghao estaria esperando.
Joshua se ofereceu para dirigir e seguiram assim, com o Kwon no banco do passageiro e Jihoon adormecido no banco de trás. Eles conversavam baixinho para não acordá-lo, riam de qualquer bobagem, reclamavam da volta às aulas e outras coisas.
Um vento fresco e leve entrava pela janela, deixando o ambiente e a pequena viagem agradável, Jisoo observava o sol da manhã ao longe, ouvia a música calma que Soonyoung havia colocado no rádio e sorriu, estava sentindo-se quase em paz.
A curta viagem até a rodoviária foi tranquila, quando chegaram levaram um pouco de tempo até encontrarem Minghao.
— E aí, pessoal? Há quanto tempo — o chinês exclamou, correndo para abraçar os amigos.
— Não te vemos desde o ano passado — Soonyoung disse, rindo quando o beta revirou os olhos, rindo também.
— Como foi a viagem? — Jihoon perguntou, abrindo porta-malas para deixar a bagagem do Xu.
— Foi incrível — ele contou, sorridente. — Não desgrudei do meu namorado nem por um segundo.
— Eu também não — Soonyoung brincou, deixando um beijo na testa de Jihoon antes de entrar no carro. — Vamos, senão vamos nos atrasar pra aula.
— A gente conversa no caminho — o ômega falou, deixando que Minghao fosse na frente.
— Certo, certo — ele sorriu. — E você, Shua hyung?
— Oi, Hao — Jisoo falou, fazendo um hi-5 rápido com o amigo antes de dar partida no carro.
— Eu não acompanhei os grupos de mensagem direito e o grupo que mais falou foi o grupo onde Jihoon, Momo, Sana e eu trocamos teorias da conspiração — falou Minghao, virando-se no banco para olhar o casal. — O que eu perdi?
— Shua hyung se assumiu gay, eu e eles fomos expulsos de casa porque meus tios são uns homofóbicos do caralho e estamos morando com o Jih e os pais dele até meus pais conseguirem voltar da Holanda — Soonyoung contou, sem pausas, deixando pouquíssimo tempo para que Minghao pudesse ter qualquer reação. — E você, o que conta de novo?
— Soonyoung, que porra é essa? — o chinês respondeu, exasperado. — Caralho, tudo isso aconteceu?
— Ele esqueceu de mencionar que eu me apaixonei pelo Jeonghan, quase estraguei o namoro dele com o Seungcheol, praticamente dei um fim na minha amizade com ele e aí depois eu briguei com meus pais e saí do armário — Jisoo falou, sem emoção alguma enquanto virava uma rua.
— Puta merda, e não teve um abençoado pra me mandar um áudio contando tudo isso? — Minghao reclamou.
— Meio que ninguém tava com cabeça pra nada — Jihoon murmurou.
— É, eu imagino — ele respondeu, suspirando depois da enxurrada de informações. — Você tá bem? — olhou para Joshua.
O mais velho respirou fundo antes de responder:
— Acho que esse é o melhor que eu já estive desde que tudo aconteceu — disse calmo. — Mas ainda… Sei lá, quando eu paro pra pensar nisso, fico perdido, ansioso e sem saber o que fazer.
— Eu nem sei o que te falar — falou. — Se… Se você quer conversar ou precisar de qualquer coisa.
— Valeu, Hao — Jisoo disse, parando o carro no sinal vermelho. — Eu não tenho certeza do que vou fazer agora — fungou quando sentiu algumas lágrimas molhando seus olhos. — Eu nem sei o que…
Então ele mesmo se interrompeu, tendo sua atenção capturada pelo som de um sino badalando não muito longe dali.
— Estão ouvindo isso? — perguntou.
— O sino da igreja…? — Jihoon disse.
— Tem uma aqui perto — Soonyoung acrescentou. — Você… quer ir lá?
Joshua não soube direito como responder, não entendendo direito a emoção que estava sentindo naquele momento, as mãos tremiam no volante sem explicação.
— Tudo bem se você quiser, a gente te acompanha — Minghao assegurou.
— Eu não sei se…
— Tá, vamos logo que o sinal abriu — Jihoon disse, tomando a frente. — A gente vai até lá, se você não quiser entrar, a gente volta.
Como se não tivesse escolha, Joshua seguiu o caminho até o local.
Ainda era cedo então não haviam muitas pessoas indo para a missa naquele momento, na maioria senhoras de idade, algumas acompanhadas de parentes ou cuidadores.
— Eu não vou demorar — disse o mais velho após estacionar na frente da igreja. — Podem esperar aqui se quiserem.
— Eu vou com você — Minghao anunciou, logo pulando do carro.
— Por que?
— Ah, sei lá — ele deu de ombros, andando ao lado do amigo até a pequena escadaria. — Se for pra um de nós pegar fogo que seja eu, que tenho muito mais pecados que você — riu. — Aí você tem tempo de fugir.
Jisoo riu junto dele.
— Isso nem fez sentido — murmurou.
Eles subiram o curto lance de degraus em silêncio, Minghao até mesmo ofereceu o braço para uma senhora que subia devagar, enquanto ele também observava os arredores da construção.
Quando chegaram na porta da igreja, a velhinha sorriu gentil e agradeceu o Xu.
— Deus te abençoe, querido — falou, tocando a mão dele e seguindo para conseguir um lugar perto do altar.
— A senhora também — ele respondeu, virando-se para Jisoo em seguida.
O mais velho tocou o ombro do amigo, chegando mais perto para falar baixinho em seu ouvido:
— Minha mãe sempre diz que quando entramos numa igreja pela primeira vez, nós podemos fazer um pedido — contou, sorrindo de canto, com um ar melancólico.
— Isso serve pra quem não acredita em Deus, também? — Minghao sussurrou de volta.
Joshua deu de ombros, entrando junto dele.
— Acho que não custa tentar.
Os dois sentaram-se nos últimos bancos, que estavam vazios e distantes do restante das pessoas. O padre já estava no altar, rezando, dizendo as intenções daquela missa, pedindo graças.
— Faz uns seis anos que eu não entro numa igreja — Joshua falou baixo para o amigo, olhando ao redor e sentindo uma sensação de familiaridade. — É tão estranho…
— Acho que é a primeira vez que eu entro em uma — respondeu o chinês. — É diferente do que eu imaginava.
— O que você imaginava?
— Sei lá, um padre aleatório ofendendo minorias e uns fiéis gritando “amém”.
Joshua riu nasalmente, cobrindo o rosto em seguida, quase culpado.
— Depende do padre — falou. — Eu parei de vir com meus pais quando as crises de ansiedade aqui ficaram muito feias. A essa hora eu já estaria hiperventilando — contou, balançando a cabeça. — Eu não gostava de assistir aos cultos, mas o ambiente é quase acolhedor para mim.
— Mesmo que…?
— Sim, mesmo que essa religião me condene ao inferno por ser gay.
— Eu ia perguntar: mesmo que tenha essas imagens assustadoras que parecem nos seguir com os olhos? — apontou para a imagem de um santo na parede.
Joshua riu novamente.
— Não é um olhar assustador — ponderou olhando para o mesmo santo, que julgou ser São Pedro. — O que assusta são as pessoas e o que elas falam. A bíblia, também.
— Você realmente acredita em tudo que diz lá?
— Antes eu não tinha espaço pra questionar. Duvidar de Deus é pecado, sabe? — olhou-o. — Mas, depois de ouvir que esse Deus iria me condenar ao inferno… Isso sim é assustador e nos faz questionar tudo. Mas, por mais que eu tenha medo, por mais que eu não entenda e mesmo assim me sinta culpado… eu ainda amo Deus e espero que ele me perdoe.
— Pelo que, exatamente?
Joshua deu de ombros.
— Por ser eu, talvez.
— De pé, peçamos perdão pelos nossos pecados — o padre falou e todos levantaram-se.
Jisoo também levantou e seu ato foi imitado por Minghao, que o observava com cuidado.
Os músicos começaram a cantar e, mesmo depois de tantos anos, o beta ainda lembrava-se da canção escolhida e, quase naturalmente, cantou-a junto dos fiéis presentes.
Durante todo o ato penitenciário, Joshua chorou, sem vergonha alguma das lágrimas que estava derramando, fechando os olhos e tentando chegar a Deus, pedindo perdão incessantemente.
Quando começaram a cantar glórias ao Senhor, ele percebeu que deveriam voltar, então secou seu rosto e murmurou para Minghao que partissem.
Jisoo despediu-se com a água benta, ajoelhando-se brevemente e seguindo para a saída. O mais novo imitou seu ato, fazendo uma pequena reverência antes de seguirem e descerem as escadas.
— Pensei que não acreditasse na igreja — Joshua falou.
— Não acredito, mas não me custa nada respeitar — deu de ombros. — Você tá bem?
Ele sorriu.
— Vou ficar.
[...]
— Onde caralhos vocês estavam!? — Seungkwan perguntou, parecendo nervoso. — Tô esperando há mó tempão, eu já tava pronto pra chamar a polícia!
— Ele tá há cinco minutos quase tendo uma crise — Seungcheol, que estava junto do Boo, disse.
— Relaxa, Kwan, respira — Soonyoung falou, bagunçando os cabelos do amigo, apenas porque sabia que isso o irritava. — A gente foi buscar Minghao na rodoviária e nos atrasamos um pouquinho.
Seungkwan respirou mais fundo.
— Eu fiquei preocupado, só isso. Não confio em vocês dentro de um carro — afastou a mão de Soonyoung. — Vamos entrar, nossa primeira aula é química. E eu tomei a liberdade de ver e você tem essa aula com a gente, Jihoon hyung.
— Sério? Que bosta — o ômega perguntou, andando ao lado deles e vendo a grade de horários que Seungkwan lhe entregou. — Pelo menos tenho coreano depois.
— Você é estranho, quem gosta de aula de coreano? — Soonyoung murmurou, segurando a mão do namorado e entrando na escola.
— Vamos? — Minghao perguntou, olhando para os mais velhos, um tanto receoso.
— Na verdade — Seungcheol começou. — Eu queria falar com Jisoo… tudo bem?
O chinês olhou para o Hong, que ficou dez vezes mais nervoso do que já estava apenas por estar na presença de Seungcheol.
— C-Claro — respondeu, fazendo um gesto para que Minghao fosse na frente.
— Certo, a gente se vê no intervalo — ele tentou sorrir. Quando olhou seus horários, exclamou: — Ei! Eu também tenho química agora!
Seungcheol riu observando Minghao correr até os demais, esperando até que ele estivesse longe para voltar seu olhar para Jisoo, que mirava o chão de maneira nervosa.
— Me desculpa — pediu, por fim.
— Pelo o que? — Joshua retrucou, rindo sem humor. — Não foi você que causou uma crise no meu relacionamento…
— Ai, fica quieto — reclamou o ômega. — Todo relacionamento tem seus altos e baixos, e tudo bem que você foi a maior montanha russa que eu já vivi, mas… Eu sei que errei também.
Joshua ergueu os olhos para ele, esperando que continuasse.
— Me desculpa pela forma que eu lidei com tudo — pediu. — Principalmente por ter ido na sua casa. Eu fiquei irritado porque Jeonghan tava muito mal e eu só queria te culpar, e não foi certo.
O Hong encolheu os ombros.
— Não tem problema, já aconteceu — murmurou. — Agora só é preciso seguir em frente.
— Só que tá sendo muito mais difícil pra você — apontou Seungcheol. — Quando eu falei que te odiava… era a raiva falando. Eu não te odeio, não vou mentir dizendo que odeio, porque eu não gosto de mentir. Seria mais fácil se eu te odiasse, mas eu ainda me importo…
— Jura? — Joshua perguntou, realmente surpreso. As sobrancelhas estavam unidas em sinal dessa confusão.
— Fala sério — o mais velho suspirou. — Como pode você entender até o olhar do Jeonghan e não me conhecer nem um pouco? A gente foi amigos, lembra?
— Eu meio que era a vela de vocês dois…
— Eu acho que era o contrário — cortou Seungcheol, apesar dele sorrir quase divertido. — Mas enfim, antes que a gente se atrase pra aula, eu só queria pedir desculpas pelas coisas que eu fiz e te deixar saber que… quando tudo se acalmar, eu, pelo menos, não vou guardar nenhum ressentimento de você. Talvez possamos ser amigos outra vez…
— É… talvez, mas ainda é muito cedo pra dizer — Jisoo suspirou. — Mas obrigado, significa muito pra mim. Me desculpa também.
— Para, acho que você já tá miserável o bastante pra me pedir desculpas — negou o Choi. — Só… fica bem, tá? Eu não posso ficar ao seu lado, e ainda não consigo muito bem, sendo sincero. Mas você tem todos nossos amigos.
— Eu sei — ele sorriu fechado. — Eu vou melhorar.
— Boa sorte — retribuiu o sorriso. — Eu… vou tentar fazer o Jeonghan voltar a viver sem você, se você conseguir o mesmo, acho que vocês vão poder voltar a ser um só de novo.
Sem saber o que responder, Jisoo apenas assentiu com a cabeça, absorvendo as palavras.
— Bem… Eu vou indo — disse o ômega. — Vou tentar impedir o Han de te encarar no almoço dessa vez.
Eles riram.
— Valeu.
Acenando para ele, Seungcheol deu as costas e tomou seu caminho.
[...]
Chan assistia a aula de biologia sem interesse algum. Seu dia não havia começado dos melhores, visto que discutiu com seus pais logo cedo pela manhã, também fora proibida de vestir certas peças de roupa e usar maquiagem, o que lhe deixava disfórica e chateada, então mal ouvia a voz do professor falando sem parar enquanto fingia fazer anotações sobre a aula.
— Você tá bem, Chan? — Yeonjun, um amigo dela, perguntou baixinho.
— Não muito, mas logo eu já melhoro — afirmou, tentando sorrir para lhe passar confiança.
— Se quiser conversar.
— São só meus pais como sempre — sussurrou.
— O que eles fizeram?
Ela encolheu os ombros.
— Você sabe…
— Já que a conversa tá boa aí — o professor falou, chamando atenção dos dois. — Algum dos senhores poderia me dizer quais são as principais funções dos genes de alfa, beta e ômega?
— Fácil — Yeonjun falou. — Nenhuma.
— Poderia explicar?
— Você tá errado. Se não tem nenhuma função, por que eles ainda existem? — Seunghyun, um alfa colega de classe, intrometeu-se. — Você deveria perguntar pra quem realmente estuda, professor.
— Cala sua boca — Chan rebateu, virando-se para ele.
Nunca fora com a cara dele.
— Por favor — o professor interveio. — Não aceito esse tipo de comportamento na minha aula. Senhor Seo, poderia explicar então quais são as principais funções dos genes?
— Os genes foram essenciais para nossa sobrevivência e evolução. As principais funções deles…
— As principais funções dos genes de alfa, beta e ômega se perderam em meio à evolução — Chan argumentou, interrompendo o alfa.
— Ah, é? Então porque nós continuamos sendo classificados, gênio? — desdenhou ele.
— Bom, já que você perguntou, eu quero que você ouça porque todo mundo te ouve quando você fica falando merda — ela disse, virando na cadeira para que pudesse olhá-lo. — Antes, o gene servia para nos manter fortes, dando a cada um alguma habilidade útil para uma matilha, assim como uma função pré definida: os alfas seriam os responsáveis pela caça e proteção do grupo, os ômegas cuidavam dos ninhos e tinham uma certa facilidade em cuidar de feridos, enquanto os betas preenchiam as lacunas que ficavam entre esses dois "principais".
— Tá, mas…
— Senhor Seo, por favor — pediu o educador. — Seu colega está falando, vamos prestar atenção.
— Obrigada, professor — ela disse. — Continuando, conforme nós fomos evoluindo e criando a civilização, assim como as tecnologias que são capazes de nos proteger e nos fazer compreender melhor a humanidade, essas principais funções que buscavam apenas a sobrevivência e a perpetuação da espécie, foram perdendo a importância com o tempo, e vale ressaltar que a mudança desse gene levou cerca de 150 anos a partir do início do tempo neolítico que foi antes de Cristo, caso você não saiba — falou, olhando para Seunghyun. — E foi a evolução mais rápida já relatada em toda história. Nós não sabemos porque continuamos com uma parte desse gene, mas muitos estudiosos acreditam que seja por conta do complexo principal de histocompatibilidade, nós perdemos a principal função desses genes, que buscavam a sobrevivência, mas a que mais permaneceu foi o odor característico de cada um, que lá na idade da pedra, servia como forma de nos proteger de predadores e nos reconhecermos entre si. E sabemos que o complexo principal de histocompatibilidade é o que produz o odor que pode influenciar as fêmeas na escolha de seus parceiros, porque um cheiro parecido, significa um DNA parecido e uma genética parecida e em caso de uma gravidez pode gerar um filhote pouco resistente. O gene que permaneceu conosco, que ainda ajudam a nos classificar nessas categorias, acreditam que seja para facilitar essa identificação de um DNA diferente do nosso, podendo gerar filhotes mais resistentes, sendo assim: perpetuação da espécie. Mas mesmo que não seja nada comprovado 100%, é o que vários estudos indicam e os cientistas acreditam.
— Caralho, como você sabe tudo isso? — Yeonjun perguntou.
— Literalmente só pesquisei na internet — Chan respondeu. — Não é difícil pesquisar e raciocinar sobre isso, mas as pessoas ainda preferem usar as classificações como desculpa pra oprimir as outras, alfas ainda sentem a liberdade de se sentirem superiores…
— Ah, não — Seunghyun revirou os olhos, falando com preguiça. — Você vai começar com a lacração e a militância?
Chan bufou, sentindo seu sangue ferver.
— Não, não vou. O que eu devia começar é um novo estudo pra descobrir como um merda tão fútil como você conseguiu sobreviver quando seu pensamento é tão complexo quanto o de uma ameba.
— Que merda você disse!?
— Chega! — o professor interveio, batendo a régua na mesa. — Pra fora, os dois. Dêem uma passada na sala do conselheiro antes da próxima aula.
— Chama isso de aula? — Chan retrucou, recolhendo seus materiais com rispidez e saindo da sala.
Seunghyun foi logo atrás, nenhum deles disse nada enquanto caminhavam pelo corredor vazio.
Quando chegaram na sala do conselheiro, sentaram-se lado a lado e nem ao menos olharam um para o outro até que saiu da sala um ômega de meia idade.
— De novo vocês aqui? — ele perguntou, cruzando os braços. — O que foi dessa vez? Foram pegos atrás da escola?
Ambos fizeram caretas de nojo, todos sabiam que os alunos iam para trás da escola para ficarem, até mesmo os professores, o que levou a diretoria a instalar câmeras de segurança no local.
— Não! — exclamaram.
— Eu não sou gay — Seunghyun disse.
— E eu não estou exagerando quando falo que prefiro sentar nua em carvão aceso do que chegar perto disso aí, senhor Hwang — apontou para o alfa.
— Certo… altos e claros — respondeu o mais velho. — O que aconteceu?
— Nos desentendemos na sala aula, mas já fizemos as pazes — Seunghyun falou, cutucando Chan com o cotovelo. — Né?
— É, tudo certo — ela forçou um sorriso.
Mesmo odiando-se, concordaram num acordo silencioso que seria melhor fingirem do que ouvir um sermão de horas.
— Ok, então… Podem ir.
Eles levantaram-se.
— Cara inútil — Seunghyun sussurrou.
— Ah, Seongsu — disse o Hwang. — É bom ver que você está melhorando de… suas rebeldias.
A mais nova respirou fundo antes de virar-se para o homem, cruzando os braços.
— O que isso quer dizer?
— Que você está agindo como garotos deveriam agir — apontou, sorrindo como se estivesse lhe fazendo um grande elogio. — Isso é bom. Você tem tanto potencial, vai chegar longe se não seguir essas… tendências de hoje.
— Não, senhor Hwang — Chan interrompeu. — Eu vou chegar longe porque eu sei do que sou capaz. Eu só estou assim porque essa escola nos oprime como todo resto do mundo, então não fale do que você não sabe, por favor.
— Chega, pelo amor de Deus, Seongsu — Seunghyun ralhou, puxando-a pelo braço para que voltassem à aula.
— Não toca em mim — ela disse, afastando o toque do maior. — E meu nome é Chan.
Sem esperar por uma resposta, ela saiu pisando forte e sem olhar para trás.
[...]
Durante o horário de almoço, todos os garotos estavam reunidos em mesas espalhadas.
Jihoon, Soonyoung, Minghao e Mingyu sentaram juntos pois tiveram a mesma aula anteriormente, e discutiam sobre o trabalho que a professora de sociologia havia passado. Jisoo juntou-se a eles pouco tempo depois.
— Acho meio idiota fazer redação sobre modelos sociais, não vamos conseguir mudar o que é hoje — Mingyu disse.
— O pessoal que vivia na monarquia deviam falar a mesma coisa — Jihoon comentou, dando de ombros.
— Exatamente, ainda sou do time: viva la revolución — Minghao falou, forçando um sotaque espanhol, fazendo os amigos rirem. — Fora que eu acho engraçado assustar o cidadão de bem com o fantasma do comunismo.
— Se acalma — Jisoo disse. — Já tem gente te olhando torto.
Minghao revirou os olhos, voltando a comer.
Antes que alguém pudesse continuar o assunto, entretanto, Chan chegou perto deles, sentando-se ao lado de Mingyu e apoiando a cabeça entre os braços.
— Faz cafuné em mim, por favor — ela pediu baixinho e o mais velho logo acatou o pedido.
Estava até muito óbvio que não era um bom dia para a beta. Mingyu havia percebido isso no momento que ela chegou na escola usando um moletom preto sem graça e uma calça de moletom cinza, e o Kim sabia o quanto a amiga gostava de se arrumar e o quanto odiava parecer como a maioria dos garotos, e bem, era como ela estava parecendo.
— Tudo bem, Chan? — Jihoon resolveu perguntar.
— Não — respondeu baixinho.
— O que aconteceu? — Soonyoung preocupou-se.
— Nada, só me deixa quieta — reclamou, afundando mais o rosto entre os braços.
Tocando os cabelos do menor, Mingyu olhou para os demais amigos e moveu os lábios para sussurrar sem que Chan ouvisse:
— Disforia, provavelmente.
Assumindo expressões de entendimento, os outros presentes na mesa ficaram em um silêncio sem graça, sem saberem como deveriam agir.
— Você não quer mesmo conversar sobre isso? — Minghao perguntou com calma.
Chan não respondeu.
— Vamos, como tá nossa caçula? — insistiu, mexendo nos cabelos dela.
Com um longo suspiro, ela sentou-se normalmente, mas manteve os olhos baixos, sem encarar nenhum dos amigos.
— Eu só tô chateada porque meus pais me proibiram de usar minhas roupas e esconderam minhas maquiagens — contou, traçando linhas imaginárias na mesa. — Eu sempre brigo com eles por causa disso, eu só preciso fazer o que eles querem por um tempo até eles se acalmarem, aí posso voltar ao normal.
— Que filhos da puta — Soonyoung disse, recebendo uma cotovelada de Jihoon. — Foi mal.
— Nah, tudo bem — Chan deu de ombros, rindo sem vontade de fazê-lo. — É só que… Alguns dias parece que tudo vai ficar bem, que eles vão me aceitar ou só não vão mais ligar, mas… Não demora muito pra eu ver que eu tava errada, logo eles começam a me repreender e me proibir de ser eu mesma.
— A gente entende — Minghao murmurou. — Meus pais até hoje não sabem que eu namoro um menino. É só… mais fácil, e eu não tenho a coragem que vocês têm de comprar essa briga — apontou para Chan e Jisoo, este último que ouvia a conversa quieto, com pesar.
— É, e também… Sei lá, eu sei que a maioria dos meus amigos entende minha identidade de gênero e me apoia nas minhas escolhas, mas às vezes eu só queria que as pessoas pudessem me ver sem eu ter que deixar extremamente óbvio — tentou se explicar. — E não me entendam mal, eu amo na maioria das vezes colocar um vestido e uma maquiagem bem feminina, ou usar minhas roupas masculinas também, mas… Às vezes é cansativo, e eu não queria ter que me esforçar tanto pra que as pessoas entendessem.
Ao final do relato, nenhum dos presentes sabia o que dizer, ficando em um silêncio um tanto estranho.
Quando Mingyu tentou abrir a boca, mesmo sem ter achado as palavras certas, Chan apenas riu pelo nariz e levantou-se.
— Deixem pra lá — murmurou, mantendo um sorriso entristecido. — Mas obrigada por me ouvirem. A gente se vê na hora da saída.
Então, ela levantou-se, deu as costas e seguiu para a saída do refeitório, onde encontrou algumas amigas e não demorou para que estivesse entretida em outra conversa.
Os garotos a observaram de longe, ainda chateados e pensativos sobre a conversa e sobre o desabafo.
— É uma droga a gente não saber como ajudar nessas questões — Soonyoung murmurou.
— Nem me fala — Minghao concordou. — Até eu que também não sou cisgênero fico meio perdido quando se trata de disforia e essas coisas.
— Nem sempre a pessoa quer ajuda — Jihoon apontou. — Às vezes, ela só quer ser ouvida. Talvez esse nem seja o momento certo de querermos aconselhar, se ele tá emotivo com tudo que aconteceu, ela não vai querer ouvir conselhos lógicos, porque emoção só conversa com emoção, e lógica conversa com lógica.
Eles manearam as cabeças, analisando as palavras do ômega.
— É, faz muito sentido — disse o Xu.
— Ele não é a coisa mais bonitinha do mundo quando fala essas coisas inteligentes? — Soonyoung falou, apertando as bochechas do namorado e deixando beijinhos em seu rosto.
Os demais reclamaram de cena, apenas por pirraça e implicância de amigos.
Joshua, então, arregalando minimamente os olhos como se tivesse uma epifânia, falou:
— Eu tive uma ideia.
[...]
Quando as aulas terminaram, Jihoon, Soonyoung e Jisoo seguiam juntos pelo corredor onde vários alunos andavam se esbarrando até a saída, o tipo de situação que o ômega sempre evitava. Sentia-se desconfortável e um tanto sufocado em multidões, mas não se importava tanto naquele momento pois segurava a mão de seu namorado, ao mesmo tempo que ele tinha um braço sobre seus ombros, como se estivesse o protegendo de qualquer um que pudesse lhe empurrar.
O alfa e Jisoo conversavam distraídos, junto com as várias pessoas fazendo barulho, quase não puderam ouvir quando Minghao os chamou, desviando de alguns alunos para conseguir alcançá-los.
— Até que enfim, vocês estão surdos? — ele reclamou, ajeitando a alça da mochila no ombro.
— Não exagera. O que foi? — Soonyoung perguntou.
— Só vou entregar isso pro Shua hyung — falou, entregando dois papéis dobrados para o mais velho.
— Pra mim?
— Sim — sorriu. — Deus falou comigo durante as aulas e pediu pra eu te entregar essa mensagem.
Jisoo juntou as sobrancelhas, confuso com a fala do amigo.
— É o que?
— E o outro é um desenho que eu fiz pra você — mostrou o papel.
Soonyoung e Jihoon espiavam as folhas, curiosos. Joshua desdobrou uma delas, vendo o tal desenho do Xu, que era dividido em duas partes: na parte de cima, mostrava uma nuvem cinza, que derramava chuva sobre um broto de planta, ao lado, os dizeres: “não era o que eu queria”. Embaixo, mostrava um sol, iluminando o mesmo broto, agora aberto numa bela flor, e ao lado: “mas era o que eu precisava”.
O beta sorriu, sentindo uma quentura invadir seu coração, lhe aconchegando como um abraço apertado e cheio de significados.
— Obrigado, Hao — falou, abraçando o amigo, que deu tapinhas em suas costas.
— Não é nada — respondeu. — É meu jeito de te lembrar que estamos aqui.
— E… falando sério, você escreveu isso também? — indicou o outro papel com a tal “mensagem de Deus”.
— É um texto de um filósofo — contou. — Mas eu acho que tem muita verdade nele, eu acredito que esse é o Deus que está cuidando de você.
— Tá bem, eu vou ler quando chegar em casa — disse. — Obrigado de novo.
— Não precisa me agradecer — ele disse, voltando a caminhar. — Até amanhã, gente.
Eles despediram-se do chinês, que correu para a saída e entrou em um carro, acenando pela janela antes de sumir de vista.
— Vamos? — Jihoon perguntou.
— Sim, vamos — Joshua respondeu e eles voltaram a caminhar.
Quando Soonyoung e o ômega começaram um outro assunto, Jisoo não resistiu em abrir a carta de Minghao e começar a lê-la:
“Pare de ficar rezando e batendo no peito! O que quero que faça é que saia pelo mundo e desfrute da tua vida. Quero que goze, cante, divirta-se e aproveite tudo o que fiz pra você.
Pare de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que você mesmo construiu e acredita ser a minha casa! Minha casa são as montanhas, os bosques, os rios, os lagos, as praias, é aí onde vivo e expresso Amor por você.
Pare de me culpar pela sua vida miserável! Eu nunca disse que há algo mau em você, que é um pecador ou que sua sexualidade seja algo ruim. O sexo é um presente que lhe dei e com o qual você pode expressar amor, êxtase, alegria. Assim, não me culpe por tudo o que o fizeram crer.
Pare de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo! Se não pode me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de seus amigos, nos olhos de seu filhinho, não me encontrará em nenhum livro.
Confie em mim e deixe de me pedir! Você vai me dizer como fazer meu trabalho?
Pare de ter medo de mim! Eu não o julgo, nem o critico, nem me irrito, nem o incomodo, nem o castigo. Eu sou puro Amor.
Pare de me pedir perdão! Não há nada a perdoar. Se eu o fiz, eu é que o enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso culpá-lo se responde a algo que eu pus em você? Como posso castigá-lo por ser como é, se eu o fiz?
Crê que eu poderia criar um lugar para queimar todos os meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus faria isso? Esqueça qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei, essas são artimanhas para manipulá-lo, para controlá-lo, que só geram culpa em você!
Respeite seu próximo e não faça ao outro o que não queira para você! A única coisa que peço é preste atenção na sua vida, que seu estado de alerta seja seu guia!
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é a única que há aqui e agora, e a única de que você precisa.
Eu o fiz absolutamente livre. Não há prêmios, nem castigos. Não há pecados, nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Você é absolutamente livre para fazer da sua vida um céu ou um inferno.
Não lhe poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso lhe dar um conselho: Viva como se não o houvesse, como se esta fosse sua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não houver nada, você terá usufruído da oportunidade que lhe dei.
E, se houver, tenha certeza de que não vou perguntar se você foi comportado ou não. Vou perguntar se você gostou, se se divertiu, do que mais gostou, o que aprendeu.
Pare de crer em mim! Crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que você acredite em mim, quero que me sinta em você. Quero que me sinta em você quando beija seu amado, quando agasalha sua filhinha, quando acaricia seu cachorro, quando toma banho de mar.
Pare de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra você pensa que eu seja? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que me agradeçam. Você se sente grato? Demonstra-o cuidando de você, da sua saúde, das suas relações, do mundo. Sente-se olhado, surpreendido? Expresse sua alegria! Esse é um jeito de me louvar.
Pare de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que o ensinaram sobre mim! A única certeza é que você está aqui, que está vivo e que este mundo está cheio de maravilhas.
Para que precisa de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procure fora, não vai me achar. Procure-me dentro de você. É aí que eu estou.”
Ao final do texto, Jisoo não havia percebido quando parou no meio do caminho, nem reparou quando lágrimas incessantes molharam seu rosto, nem quando um sorriso cresceu em seus lábios.
— Hyung? — Soonyoung perguntou, olhando-o confuso. — Você tá bem?
Joshua ergueu os olhos, e respondeu, sorrindo:
— Sim. Eu tô bem.
Chapter 48: Chá de Cereja
Chapter Text
— Você tem alguma ideia de date legal pra eu levar o Jih no nosso aniversário de 100 dias? — Soonyoung perguntou para Jisoo.
Com Jihoon na autoescola e Daeun e Taesuk ocupados com seus afazeres, os dois garotos estavam sozinhos na sala de música.
Ambos haviam deixado o ômega na aula naquele dia, depois percorreram por algumas lojas do centro pois Soonyoung queria comprar um presente para o namorado, já que o aniversário dos dois estava chegando.
Ele havia comprado dois livros que o mais novo comentou que queria, alguns de seus doces favoritos e também alguns papéis bonitos para escrever uma carta.
No momento, ele dobrava diversos papéis vermelhos em corações de origami para deixar dentro da caixa onde ele colocaria os presentes. Até havia pedido a ajuda de Joshua para isso, mas o mais velho estava ocupado mexendo com algumas miçangas, dividido entre ouvir o que o primo falava e ouvir o vídeo que havia colocado em seu celular conectado aos fones de ouvido.
— Se você não sabe, como eu vou saber? — ele devolveu a pergunta, não muito interessado.
— Pedi uma ideia, só — reclamou, soltando o pedaço de papel que estava nas mãos para se aproximar do primo. — E o que você tá fazendo aí tão concentrado?
— Sai, não se mete — Jisoo retrucou, afastando o que tinha nas mãos antes que o alfa tocasse.
Apesar da fala um tanto ríspida, o tom foi leve, quase cômico, como estavam acostumados a se tratar quando estavam à vontade. Brigavam e se empurravam de brincadeira, pois se conheciam o suficiente para saber que um nunca faria ou falaria algo para magoar o outro de verdade.
— Ah, sai daí — Soonyoung disse, pegando o celular do mais velho e correndo pela sala para que ele não lhe alcançasse.
— Me devolve! — Jisoo exclamou, levantando-se e correndo atrás dele.
— Por que você tá vendo vídeo sobre identidade de gênero? — perguntou após ver o título do vídeo. — Não me diz que você tá se descobrindo nisso também.
— Não é nada disso, cala a boca — reclamou, pegando seu celular de volta. — É só… acho que agora que eu abracei de vez minha gayzice, não custa nada entender a comunidade… como você disse aquela vez? Cheia de gente legal e sequelada.
— Olha ele — Soonyoung riu. — Quem diria que eu ia viver pra te ver assim.
Joshua revirou os olhos antes de sentar-se no chão novamente, voltando ao que estava fazendo.
— Dá um tempo — resmungou.
O alfa apenas riu divertido, sentando-se também e voltando às dobraduras.
— Mas tipo — voltou a falar. — Se você fosse fazer algo legal pro seu namorado, o que você faria?
— Meu Deus, você é muito chato — Jisoo choramingou. — Depende do namorado, né? Eu não levaria alguém que tem medo de altura pra andar de montanha-russa, por exemplo.
— Humm. Entendi — murmurou. — Acho que eu vou…
A fala do alfa, porém, foi interrompida quando ouviram batidas na porta.
— Meninos, licença — Daeun pediu após entrar.
Ela parecia aflita com alguma coisa, o que fez os dois assumirem feições preocupadas.
— Aconteceu alguma coisa? — Soonyoung perguntou.
— Não, está tudo bem, querido. É só… — ela suspirou. — Sua mãe está aqui, Jisoo-ah.
— Que? — ele perguntou, levantando-se e sentindo o coração acelerar, temeroso. — C-Como assim?
— Calma, tá tudo bem — ela disse, chegando perto dele e segurando suas mãos. — Ela só quer conversar com você.
— Por que ela iria querer conversar? — Soonyoung quem perguntou, também aflito. — Ela expulsou ele de casa…
— Soonyoung, eu sei — a alfa o interrompeu. — Talvez ela esteja arrependida e queira pedir desculpas. Mas, se você não quiser falar com ela, eu não vou te forçar — afirmou, olhando para Jisoo.
O beta piscava perdido, assustado, seu instinto mais primitivo estava lhe dizendo para fugir. Mesmo assim, ele se contentou em acenar com a cabeça e andar devagar para fora da sala, enquanto o restante das pessoas presentes ficaram no andar de cima, para dar privacidade aos dois.
Joane aguardava sentada no sofá. Ela tinha o rosto pálido e a expressão cansada, como se não dormisse há anos, os cabelos mal cuidados presos de qualquer jeito num rabo de cavalo. As mãos estavam trêmulas e os olhos marejados, porém, eles iluminaram-se ao ver Jisoo, que estava parado ao pé da escada, nervoso e assustado.
Vendo-os lado a lado, era perceptível que ele não estava nem um pouco melhor do que ela, visto que inúmeras noite mal dormidas fizeram crescer olheiras grandes e escuras abaixo dos olhos, assim como ele tinha um aspecto doente e magro, pois havia perdido peso pela falta de alimentação, e não era como se não tivesse o que comer, mas a comida apenas não descia, não lhe fazia bem quando o estômago estava sempre irritado pela ansiedade.
— Meu filho… — a ômega disse, aproximando-se em passos rápidos, mas ele prontamente recuou.
— O que você quer? — perguntou, sentindo a garganta doendo com um nó formado ali.
— A gente pode conversar?
Ainda hesitante, o beta andou lentamente pela sala e sentou-se no sofá, sendo seguido pela mais velha.
Durante alguns segundos, nenhum dos dois soube o que dizer, era como se fossem dois estranhos que não sabiam nem ao menos o nome um do outro, e aquilo machucava ambos em níveis diferentes, difíceis de serem ditos.
— Me… Me desculpe — Joane falou, por fim.
Com aquelas simples palavras, Joshua não aguentou mais e liberou as lágrimas tão teimosas, mas o fez em silêncio. Não sabia dizer o que estava sentindo, se tristeza, raiva, alívio, alegria… apenas não sabia.
— Depois de quase um mês, é isso que você tem pra me falar? — riu entre o choro, sem olhar para a mulher. — Não te pareceu um pouco tarde?
— Nunca ia ser tarde pra eu te ver de novo — ela afirmou, tentando tocar o rosto do filho, mas ele virou-o com rispidez.
— Pelo quê exatamente você está pedindo desculpas?
Joane respirou fundo, passando os dedos magros pelo rosto a fim de secar algumas lágrimas que escaparam.
— Eu sei que não reagi bem a sua… bem. Nenhum de nós dois reagiu — falou, com calma. — Fomos pegos de surpresa…
— Não fala isso! — Jisoo exclamou, levantando-se. — Não mente, mãe, por favor!
Sem mais nenhuma barreira que separasse a emoção da razão, e os impulsos de suas ações, Joshua ficou de joelhos no chão, aos pés de sua mãe, chorando tão desesperado que não conseguia fazer som algum.
— Fala a verdade — ele pediu, finalmente olhando Joane nos olhos. — Você sempre soube, não é? Você sabia, e você escolheu me odiar…
— Não, nunca! — ela chorou, segurando as mãos dele. — Eu nunca te odiaria, meu filho, nunca.
Jisoo olhou nos olhos dela por algum tempo, conseguindo ler toda dor e desespero que ela carregava. Infelizmente, ele entendia ao menos um pouco daqueles sentimentos. Ele entendia como ela estava perdida, magoada, confusa… mas ele não conseguia entender, seu coração nunca lhe permitiria entender todas as escolhas que ela fez durante todos aqueles anos. E sempre foram as piores.
Ele partiu os lábios trêmulos e disse num sussurro:
— Mas você me matou mesmo não me odiando — apontou.
Ela balançou a cabeça incessantemente, negando. O desespero pelas palavras crescendo dentro de si tão assustadoramente doloroso, que ela maneava a cabeça como se aquilo pudesse impedir que a voz e as palavras de Jisoo chegassem até ela.
Não queria abrir os olhos e aceitar.
— Eu nunca mataria você, meu filho. Você não tem noção do quanto eu te amo — falou, tocando o rosto dele com cuidado e afastando as lágrimas.
— Mas você disse… — soluçou, abaixando a cabeça. — Você preferia me ver morto…
— Eu errei! Eu errei! — se apressou em corrigir, segurando a mão do filho e apertando-a entre seus dedos. A outra, tocou as bochechas molhadas para que ele a olhasse. — Eu não sabia o que estava dizendo. Durante esse tempo longe de você… toda vez que eu chegava em casa e não te via, quando eu subia pro seu quarto e nada tinha saído do lugar… — ela soluçou, tendo que parar para respirar a fim de aliviar a dor em sua garganta. — Era como se você tivesse, de fato, morrido. E eu percebi: nada nesse mundo seria pior do que te perder.
Longos segundos após a confissão, os lábios de Jisoo se partiram e ele disse, num sussurro quebrado:
— Mas você já perdeu.
Joane pareceu quebrar perante as palavras, lágrimas escorreram abundantes pelo seu rosto. Ela fechou os olhos, aceitando aquela culpa que Joshua lhe apontava. Ela sabia.
— Me perdoa — pediu.
Jisoo levantou do chão, voltando a andar pelo recinto, sem rumo.
— Me perdoa, por favor — a ômega insistiu. Fora sua vez de ficar de joelhos, juntando as mãos e implorando.
— Para, para com isso! — Joshua mandou, virando de costas para que não precisasse vê-la. — Do que adianta você pedir perdão se você não vai mudar?
Joane levantou-se, aproximando-se do filho e tocando seus braços, fazendo-o ficar de frente para si novamente.
— Jisoo, tenta me entender…
— Você nunca vai me aceitar inteiramente como eu sou — argumentou, sustentando o olhar da mãe.
— Meu filho, me escuta — pediu, tocando o rosto dele de maneira carinhosa, sentindo vontade de chorar quando pôde sentir os ossos saltados sob seus dedos. — É verdade, eu não consigo aceitar, mas eu posso tentar conviver com isso. A gente não precisa falar sobre, eu só quero que você volte pra casa. Eu não aguento mais chegar e ver que você não está lá, você não imagina a dor que é ver sua cama vazia… Eu não consigo aceitar, mas eu vou conviver com isso, eu não vou falar nada que…
— Não, mãe. Me desculpa, mas isso não é o suficiente — afirmou, segurando as mãos dela. — Sempre vai ter essa partezinha que você odeia, que você queria que não fizesse parte de mim… e eu não entendo como você consegue me pedir perdão ainda me odiando. Eu não vou conseguir voltar pra casa, dormir debaixo do mesmo teto que você, sabendo que, no fundo, você ainda se arrepende de quem eu me tornei.
— Não é bem assim — ela tentou se explicar. — Eu amo você com todo meu coração, mas amar não significa concordar com tudo que você faz…
— Eu não fiz nada, mãe — interrompeu-a. — Eu só nasci. Eu só nasci e estou sendo eu, e você quer me condenar por isso.
— Não é assim, por favor!
— É assim, sim! — afastou o toque da ômega, voltando para o sofá e cobrindo seu rosto. — Mãe, foram vinte anos… vinte fucking anos, onde eu ouvi você falar as coisas mais cruéis que qualquer pessoa pode falar. Foram vinte anos desejando ser diferente do que eu sou. Pior! Foram vinte anos desejando estar morto — olhou-a outra vez. — Se você soubesse quantas vezes eu rezei, eu implorei tanto pra que Deus me mudasse, eu pedi tanto pra que Ele me levasse dali, porque eu não aguentava mais viver daquele jeito.
Joane não soube o que responder, então Joshua sorriu triste, voltando a falar:
— Eu sei que pra você é fácil. Pra você foi só um dia onde tudo saiu do controle — constou. — É fácil fingir que um dia não existiu, mas pra mim foram vinte anos, minha vida inteira. Isso não é fácil de curar, vai levar muito tempo.
— O que eu faço pra você me perdoar? — perguntou, num último apelo desesperado.
Joshua, em resposta, pôde apenas encolher os ombros.
— Se eu pudesse pedir qualquer coisa, eu pediria pra você conseguir me aceitar e me amar exatamente como eu sou — falou. — Mas eu sei que isso é impossível pra você, então eu não sei o que você pode fazer. Você vai ter que descobrir sozinha, assim como eu fiz.
Sem ter mais nada que pudesse falar, Joane apenas concordou com a cabeça, desistindo de ao menos secar seu rosto.
— Então, eu… eu vou indo. Mas eu volto — falou, com um pesar imensurável na voz. — Eu posso… eu posso te abraçar, pelo menos?
Levou um ou dois segundos até que o beta concordasse mudo, permitindo que a mulher lhe abraçasse. Ela abraçou-o com tanta força, e tanto carinho que, por aquele curto espaço de tempo, Jisoo quase acreditou que tudo estava bem, ou pelo menos, que iria acabar assim.
Após aquilo, Joshua acompanhou-a até o portão. Do lado de fora, Seunghoon esperava dentro do carro e desceu quase correndo quando viu a esposa e o enteado.
Mas, antes que ele pudesse perguntar, Joane balançou a cabeça em negação e entrou. Jisoo pôde ver o momento em que a mãe voltou a chorar, apesar dos vidros escuros da janela.
O alfa suspirou pesado, estava com as expectativas altas, afinal.
— Você não fala nada? — Joshua perguntou, olhando para o homem.
— O que eu tenho pra dizer? — ponderou, olhando o mais novo com um sorriso triste e cansado. — Acho que… me perdoa. Eu sei que sou orgulhoso, mas eu percebo minha parcela de culpa em toda essa história, eu poderia ter sido mais compreensivo como meu irmão é — suspirou. — Como você disse, você não é meu filho, não é meu sangue que corre nas suas veias, mas isso não quer dizer que eu não te ame — contou, observando o olhar doído do beta. — As vezes, quando olho pra você, ainda vejo aquele garotinho que chutava minhas pernas sempre que eu tentava me aproximar — os dois riram juntos, baixinho. — Mas você é um homem agora. Sua mãe e eu conversamos e concordamos que não conhecemos esse homem. E queremos conhecer, por mais difícil que certas coisas sejam. Estamos tentando dar pequenos passos, e esperamos que seja rápido o bastante pra chegarmos até você.
Sem receber uma resposta, Seunghoon bagunçou os cabelos de Joshua — exatamente como fazia quando ele era criança — e seguiu para o carro.
Quando o veículo virou a esquina, o beta voltou para dentro de casa. Taesuk estava na cozinha com Soonyoung, oferecendo um copo d'água e tentando acalmar o alfa, que parecia estar tendo uma crise de ansiedade. Daeun rapidamente veio até si, querendo — inutilmente — evitar que ele visse o que se passava na cozinha.
— Você está bem, querido? — ela perguntou, preocupada.
E não levou mais do que aquilo para que Jisoo desabasse em lágrimas novamente, sendo acolhido nos braços calorosos e gentis de Daeun.
Pouquíssimo tempo depois, Jihoon chegou em casa, animado com a aula e falando mais do que era de seu costume.
— Ok, gente, eu não vou dizer que eu arrasei na primeira aula prática porque senão mamãe vai ficar convencida, mas eu fui… — a voz morreu em sua garganta quando ele deu uma olhada no caos que estava instalado no ambiente.
Jisoo até tentou esconder o rosto vermelho pelo choro, mas foi inútil.
— O que aconteceu? — perguntou, ficando preocupado.
— Minha mãe veio aqui — contou o beta, a voz soando rouca pelo tanto que chorou.
— Ah, não. Ela fez alguma coisa?
— Filhote — Daeun interrompeu-o. — Agora não é o momento, tá? Deixa o Jisoo se acalmar.
— Sim, sim. Claro — ele disse, ajeitando a alça da bolsa no ombro. — E o Soonyoung?
— Na cozinha com seu pai.
Sem pensar por mais um segundo, Jihoon andou apressado até lá, dando de cara com uma cena muito dolorosa: seu namorado estava sentado em uma das cadeiras, o rosto sendo lavado por inúmeras lágrimas, ao mesmo tempo que ele respirava pesado, como se o ar não chegasse em seus pulmões. Taesuk segurava a mão dele, tentando ajudá-lo a se recuperar, mas o alfa estava nervoso, quase em pânico.
Taesuk dizia: “respira, respira, respira”.
Ao passo que ele respondia: “eu não consigo, não consigo, não consigo”.
Soltando sua bolsa no chão sem cuidado algum, Jihoon aproximou-se e se abaixou perto do namorado, tocando seu rosto para que ele lhe olhasse.
Taesuk saiu da cozinha para ver Yoona, que havia começado a chorar.
— Meu amor, sou eu — o ômega falou, mantendo um tom calmo. — Eu tô aqui, tá tudo bem.
— Eu não consigo respirar, Jih, eu não consigo — ele chorou, segurando as mãos do menor com força.
— Tá tudo bem — Jihoon repetiu, sentando-se sobre as pernas do alfa e o abraçando.
Soonyoung retribuiu o contato quase imediatamente, apertando o namorado entre seus braços. O ômega apoiou o rosto dele em seu peito, acariciando seus cabelos numa tentativa de lhe acalmar.
— Eu tô com você — sussurrou, sentindo que, aos poucos, ele conseguia regular sua respiração. — Eu não vou deixar nada te acontecer, tá? Eu te amo, com todo meu coração.
— E-Eu… Me desculpa — chorou. — Me desculpa… Eu não queria…
— Shh, tá tudo bem — tocou os lábios dele, olhando-o nos olhos. — Entre você e eu, não há necessidade de “desculpe” e “obrigado”.
Ele concordou com a cabeça, voltando a apoiá-la no peito do mais novo, querendo ouvir o som de seu coração batendo. O aroma de camomila também o ajudava.
— Baobei — chamou-o baixinho.
— O que foi, meu amor?
— Canta pra mim?
— Claro — sorriu, acariciando seu rosto com delicadeza.
Pensou rapidamente em uma música, tendo apenas uma em mente. Cantarolou baixinho a OST da série que assistiam juntos, mesmo sem saber pronunciar as palavras chinesas corretamente.
Prepare uma jarra de felicidade e tristeza
Da vida e morte para esse jovem se lamentar
A brilhante Lua continua a mesma, então não há necessidade de ficar triste
Então, por que não enfrentar
Todas as dificuldades com um coração indomável
Enquanto compartilhamos a melodia desta música por onde quer que estejamos?
Depois de certo tempo, ele desistiu da cantoria correta e ficou apenas cantarolando a melodia, sentindo-se aliviado quando o namorado conseguiu relaxar e respirar normalmente.
— Melhor? — Jihoon perguntou, secando as bochechas do alfa com seus polegares.
Soonyoung concordou com a cabeça, acariciando a cintura do namorado com cuidado.
— Obrigado, amor — murmurou.
— Ei, o que eu acabei de dizer? — segurou o rosto dele. — Entre você e eu…
— Não há necessidade de "desculpe" e "obrigado" — completou, sorrindo fechado. — Mas eu preciso te agradecer.
— Que tal você me beijar ao invés de falar? — propôs.
O alfa riu nasalmente e tocou seu rosto, colando seus lábios num selinho rápido.
— Te amo.
— Também te amo — Jihoon respondeu, afastando a franja dele para trás. — Quer falar sobre o que aconteceu?
— Sinceramente, eu nem vi nada — contou, suspirando pesado. — Eu só soube que minha tia tava aqui e… não aguentei, comecei a entrar em pânico.
— Você acha que aconteceu algo ruim?
Soonyoung deu de ombros.
— Como tá o Shua hyung?
— Não muito bem, mas minha mãe tá acalmando ele — disse, deixando um beijo na testa dele.
— Hum, acho que é de família mesmo essa coisa que vocês têm — murmurou, puxando-o para mais perto. — Pediria pros seus pais me adotarem se a gente já não fosse namorado.
— Meu Deus, Soonyoung, você fala cada coisa — riu Jihoon, levantando-se, pegando a bolsa no chão e saindo da cozinha.
— Ué, o que eu disse dessa vez?
[...]
— Você tá bem? — Soonyoung perguntou, observando o primo deitado na cama estendida no chão.
Jisoo observava o teto em silêncio, sendo forçado a refletir sobre os acontecimentos daquele final de tarde. Pensando nas palavras da mãe, em suas próprias, perguntando-se de deveria ter dito algo diferente, arrependendo-se por um momento de algo que dissera e logo substituindo esse sentimento pela certeza — ou teimosia — de que estava certo no que fez, e acabava voltando para o começo de tudo, em um loop cansativo e dolorido.
— Acho que sim — ele respondeu por fim.
Havia contato para o primo toda a conversa, aproveitando a calmaria em que a casa entrava toda noite na hora de dormir.
— Acho que você tá certo — confidenciou o alfa. — Não vai ser fácil reconstruir tudo que foi perdido.
— Não vai mesmo — suspirou. — Mas, vendo pelo lado bom, pelo menos eles querem melhorar, já é alguma coisa.
— Com certeza — concordou.
[...]
Naquela madrugada, quando todos na casa estavam dormindo, Jihoon desceu silenciosamente até a cozinha, não conseguindo pegar no sono durante as boas horas que ficou se revirando na cama.
Pegou um copo d'água e sentou-se à mesa, ficando ali sozinho, pensando em todos os acontecimentos que viraram sua vida de cabeça para baixo.
Alguns minutos depois, ele pôde ouvir passos cuidadosos se aproximando. Sua mãe havia descido também e ela juntou as sobrancelhas ao ver o ômega ali.
— O que você tá fazendo aqui, filhote? — perguntou, aproximando-se e sentando ao seu lado.
Jihoon deu de ombros.
— Não consegui dormir — explicou.
— Aconteceu alguma coisa?
— Você diz hoje ou no geral? Porque as duas pessoas dormindo na nossa sala poderiam responder melhor — brincou, sorrindo fechado quando a mais velha riu nasalmente.
— Tá sendo complicado, né?
— Bastante — concordou. — Mas é óbvio que a gente não ia deixar eles desamparados.
Daeun riu baixinho outra vez. Jihoon franziu o cenho, sem entender.
— O que foi? — perguntou, confuso.
— Soonyoung comentou que você usa palavras difíceis às vezes, eu reparei agora — apontou.
O ômega revirou levemente os olhos, rindo junto dela.
— Bom saber que ele ainda fala de mim — comentou. — Nosso aniversário de cem dias é depois de amanhã, sabia?
— Ele me contou também — disse ela, sorrindo terna ao observar a forma como os olhos de seu filho brilhavam ao falar de Soonyoung. — Ele me pediu o carro emprestado pra vocês saírem juntos.
— Ele… contou onde pretende me levar? — olhou-a.
— Contou, mas eu não vou dizer. Senão vai estragar a surpresa — provocou, tocando a testa dele.
— Conspiração contra mim — acusou, rindo junto dela, o mais silencioso que podiam.
Ficaram alguns segundos sem falar nada, aproveitando a quietude, até que Daeun pediu, quase chorando:
— Me perdoa, filhote.
Jihoon rapidamente assumiu uma feição confusa, realmente não entendendo de onde estava vindo tal pedido.
— Pelo quê?
Ela deu de ombros, mexendo nas unhas de forma nervosa.
— Hoje quando… quando você chegou, ia falar sobre a aula e eu não te ouvi — explicou, a voz baixa fraquejando pelos soluços de choro. — Eu não estou te dando a atenção que você merece há algum tempo, e eu não quero que você pense que eu não te amo, ou amo menos do que eu amei a vida inteira, é só… — calou-se, sem saber como continuar.
Quando Jihoon iria abrir a boca para responder, ela continuou:
— Sinto que posso estar falhando com você — confessou. — Eu falhei com você antes. Eu não era uma boa mãe no início, eu não sabia como cuidar de uma criança. Já gritei com você, te puni por fazer alguma coisa de criança… e não era essa infância que eu queria que você tivesse — fungou, afastando algumas lágrimas. — Eu tentei mudar, eu mudei mas, às vezes, ainda tenho medo de ter errado com você.
— Mãe…
— E agora estamos metidos nessa tremenda confusão — ela prosseguiu, ainda sem ouvi-lo. — É tantas coisas que estão dependendo de mim e do seu pai, e eu sinto que não tenho tempo pra ser sua mãe. Eu sinto muito.
— Mãe, não fala isso — Jihoon pediu, arrastando a cadeira para perto dela o suficiente para que pudesse abraçá-la. — Você é a melhor mãe do mundo. E eu não falo isso da boca pra fora, não falo mesmo — assegurou, secando com cuidado o rosto dela. — Se você errou antes, o importante é que você não errou mais. Quando eu olho pra trás, por mais que eu sempre tenha sido quieto e na minha, eu só sei enxergar que minha infância foi incrível, porque eu tinha os pais mais legais tomando conta de mim e me incentivando a ser eu mesmo. Eu não queria que vocês tivessem feito nada diferente.
Daeun fechou os olhos, ouvindo com cuidado as palavras do filho, enquanto retribuía aquele abraço tão aconchegante.
— E, ok, eu confesso — ele disse, afastando-se o bastante para olhá-la. — Às vezes, fico com um pouquinho de ciúmes já que aparentemente você virou mãe de quatro pessoas — falou, o que a fez rir outra vez. — Mas você foi minha mãe por 18 anos, e se tem pessoas que precisam de um pouco do que eu tive todos esses anos, não vejo problema nisso. Acho que Shua hyung precisa de amor de mãe agora muito mais do que eu, e eu acho legal que você e o papai estão dispostos a ajudar mesmo mal conhecendo ele.
A alfa sorriu ao final da sentença, segurando as mãos do filho com carinho.
— Obrigada, filhote — ela sorriu.
— Que isso — aproximou-se, abraçando-a novamente. — Você é a melhor que existe, nada mais justo que saber disso.
A mais velha riu nasalmente, apertando-o em seus braços.
— Eu te amo infinito, meu amor — disse.
— Eu também te amo infinito, mãe.
Alguns minutos naquele abraço foram o suficiente para curar feridas que eles sequer tinham conhecimento. Jihoon sentia que poderia ficar ali para sempre. Talvez ficasse a noite toda se não ouvisse depois de algum tempo a mãe ressonando. Acordou-a e ajudou-a a subir as escadas até seu quarto.
Depois, voltou para o seu e revirou-se na cama por mais alguns longos minutos, o sono não vinha de jeito nenhum. Então, desceu para a sala novamente, andando cuidadosamente até o sofá onde Soonyoung dormia, ajeitando-se ao seu lado.
Com a movimentação estranha, o alfa acordou e olhou o namorado, confuso.
— O que foi, baobei? — perguntou, instintivamente erguendo o cobertor para cobri-lo.
— Não consigo dormir — sussurrou, chegando mais perto dele. — Posso ficar aqui?
— É claro que pode — concordou, chegando para o lado para lhe dar mais espaço, entretanto, Jihoon se aproximou.
— Me abraça — pediu baixinho.
Soonyoung acatou, envolvendo-o com carinho entre seus braços.
— Me abraça — repetiu, fechando os olhos.
— Eu estou te abraçando — respondeu, trazendo-o para mais perto de si.
— Me abraça apertado.
— Eu estou te abraçando apertado.
[...]
— Por que estamos indo pra escola tão cedo? — Jihoon reclamou, sendo praticamente puxado pela mão por Soonyoung.
— É quarta-feira, amor — disse. — Dia de ajudar a Sra. Hwang a organizar a biblioteca e Shua hyung tem que imprimir uns negócio.
— Eu poderia ter ido no intervalo ao invés de ir pra escola quase meia hora mais cedo — resmungou o mais velho, esfregando seus olhos para espantar o sono.
— Vocês reclamam demais — disse o alfa. — E qual é dessa caixinha que você tá levando?
Soonyoung quis saber, estava curioso sobre a pequena caixa decorada que o primo estava carregando, viu que ele estava trabalhando nela desde ontem, e não lhe falou nada sobre.
— Não é da sua conta — Jisoo respondeu. — Você é muito metido.
— Eu sou curioso, é diferente — retrucou, abrindo a porta da biblioteca. — Bom dia, Sra. Hwang.
Enquanto Soonyoung se engatou numa conversa animada com a bibliotecária, Jihoon sentou-se em uma das mesas e apoiou a cabeça entre os braços, Jisoo seguiu até os computadores para imprimir o que ele precisava.
Quando terminou, falou para o primo que iria para sua sala e que o veria durante o intervalo. Então, caminhou pela escola até perto da entrada e ficou aguardando de olho no portão.
Pegou seu celular e deu play em uma playlist qualquer do Spotify, querendo se distrair e passar o tempo enquanto esperava.
Conforme a música tocava, ele não podia evitar de se perder em vários pensamentos, repassando todos os acontecimentos, de novo e de novo.
Quando a música acabou, dando início a outra, o beta riu desacreditado quando ouviu a melodia conhecida de 5 Seconds of Summer.
Drink all night, never sleep
(Beber a noite toda, nunca dormir)
You say go, I won't leave
(Você diz vá, eu não vou sair)
I love you, you love me
(Eu te amo, você me ama)
But not in the same way
(Mas não da mesma maneira)
Rip my heart out and leave
(Rasgue meu coração e vá embora)
On the floor, watch me bleed
(No chão, me veja sangrar)
I love you, you love me
(Eu te amo, você me ama)
But not in the same way
(Mas não da mesma maneira)
— Por que faz isso comigo, Deus? — perguntou-se, rapidamente pulando a melodia. — Que merda.
Não muito tempo depois, a maioria dos alunos começaram a chegar, ele viu alguns de seus amigos e acenou para eles de longe, inclusive Jeonghan, que pareceu muito surpreso — e deveras feliz — ao perceber que era para si que o beta acenava, e, mesmo com vontade de ir até lá, ele contentou-se em retribuir o aceno e continuar seu caminho.
Quando teve o olhar de Jeonghan em si, Jisoo jurou que poderia morrer apenas pela forma que seu coração acelerou, ele compreendeu a vontade dele de correr até si, sentiu o mesmo, mas ele não podia o fazer.
Foi pensando nisso que ele sentiu o peito doer, fazendo crescer em si vontade de chorar, como estava quase acostumado a fazer sempre que o alfa lhe vinha à mente.
Porém, felizmente, não teve muito tempo de se aprofundar naqueles sentimentos, pois logo avistou quem esperava. Levantando-se depressa, ele correu até lá.
— Ei, Chan! — chamou, parando na frente dele.
— O que você quer? — respondeu com desdém, cruzando os braços.
— Quero me desculpar com você — falou, sentindo-se um pouco nervoso conforme o fazia.
— Estou ouvindo — disse, olhando-o de maneira séria.
— Me desculpa por ter sido um babaca e não ter me esforçado pra te entender — pediu, tentando transparecer sua sinceridade. — Acho que… passei muito tempo odiando algo que faz parte de mim, e deixei isso ir longe demais. Fala sério, depois do que você disse aquele dia no almoço eu me senti como meus pais e, credo, é horrível. Sinto muito.
Chan riu baixo, negando com a cabeça. Ajeitou a alça da mochila em seu ombro e voltou a olhar para o amigo.
— Tudo bem, você está perdoado — sorriu, dando um soquinho em seu braço.
— E por que você me socou? — perguntou, acariciando a área atingida.
— É uma forma de demonstrar afeição e nem foi tão forte — afirmou, voltando a andar com o mais velho ao seu lado.
— Ah, tem mais — ele se apressou e ficou de frente para ela novamente, então lhe entregou a caixinha decorada que vinha carregando desde de manhã.
Chan pegou-a com cuidado e abriu. Dentro, havia quatro pulseiras de miçangas feitas a mão. Uma azul, uma rosa, uma com essas duas cores intercaladas e outra da cor verde.
— Eu dei o nome de pulseira de pronomes — Jisoo contou, vendo a mais nova pegando-as com cuidado. — Você pode usar nos dias que não quiser se esforçar, aí nós vamos olhar a pulseira e vamos saber como você quer ser chamada no dia.
A beta não conteve quando um sorriso largo e alegre enfeitou seu rosto, uma quentura invadiu seu peito de uma forma incrivelmente boa.
— Que fofo — foi tudo que conseguiu dizer. — E a verde é pra algum tipo de gênero que eu não conheço ou…?
— Não, né? — exclamou, pegando a pulseira esverdeada e segurando o pulso do menor para que pudesse colocar nela. — Essa é só uma pulseira normal, um presente, pra você usar quando quiser.
— Entendi — sorriu olhando para o mais velho. — Muito obrigada, significa realmente muito.
— Imagina, é o mínimo depois de eu ter sido um idiota — respondeu, sem jeito.
Chan vestiu a pulseira rosa e azul, logo guardou a caixinha com as outras na mochila com cuidado.
— Mesmo assim, obrigado — repetiu, aproximando-se para abraçar o beta.
Joshua respirou aliviado, retribuindo o abraço, fazendo um carinho singelo nas costas do amigo. Logo, eles se separaram e o americano bagunçou os cabelos do menor.
— Que bom que estamos bem — murmurou.
— Concordo, é ótimo porque eu sei que você não vive sem mim — Chan respondeu, voltando a caminhar.
Em resposta, Jisoo apenas riu anasalado e negou com a cabeça, andando ao lado dela.
— Qual é sua primeira aula? — perguntou o mais novo.
— É sociologia, eu acho — disse. — Por quê?
— Quer faltar ela pra ver o time de basquete? — convidou.
— Por que?
— Vai me dizer que você não curte ver uns homens bonitos em roupa de esporte? — cruzou os braços. — E agora todo mundo sabe que você é gay, então não negue.
Joshua conseguiu apenas rir, sem saber como reagir a fala dela.
— Tá…
— Isso, vem — segurou-o pela mão e apressou o passo até a quadra. — Também tem o treino das líderes de torcida, mas já sei que você não joga pra esse time.
— Há há — disse o beta.
Chan riu baixo e andou entre as arquibancadas para conseguir um bom lugar. O time masculino de basquete estavam fazendo um aquecimento, enquanto as líderes de torcida passavam uma coreografia.
— Você vem sempre aqui? — Jisoo perguntou, sentando ao lado do menor.
— Quando eu quero fugir da aula de física — contou, balançando os pés no ar. — Ninguém merece ouvir a professora Kim falando sobre energia cinética às oito e meia da manhã.
— Concordo — murmurou.
Antes que Chan puxasse outro assunto, Jihyo, que antes estava treinando com as demais garotas, veio correndo até eles, com um sorriso animado no rosto.
— Posso saber o que os bonitos estão fazendo aqui? — perguntou, subindo alguns bancos até ficar perto dos dois, pondo as mãos com pompons na cintura.
— Fugindo da aula, óbvio — Chan respondeu.
A alfa riu balançando a cabeça, logo aproximando-se mais para deixar um beijo rápido no rosto de Jisoo como cumprimento.
— Oi, Shua — ela sorriu.
— E eu não ganho nada? — a mais nova brincou, forçando um tom magoado e um biquinho nos lábios.
— Se enxerga, garota — a alfa riu, fingindo bater na amiga, mas logo segurou seu rosto e lhe deu um selinho rápido. — Ficou sujo de batom ainda.
— Culpa sua — retrucou, limpando os lábios com o polegar. — Você terminou a redação?
— Ah, dei uma enrolada mas terminei — ela deu de ombros, sentando junto deles. — Qualquer coisa, eu uso a desculpa que tava preocupada com o treino das cheerleaders e não consegui dar meu melhor — sorriu, balançando os pompons.
— Percebe-se — Jisoo comentou, tomando a liberdade de brincar com a alfa.
— Pois então, olha o estado preocupado dessa pobre garota — Chan entrou na brincadeira, apontando para Jihyo, que apenas revirou os olhos, rindo junto deles.
— Entendi, já vou voltar pro treino — levantou. — Mas espero que vocês estejam no jogo que vai ter daqui umas semanas, vamos apresentar a coreografia que estamos ensaiando.
— Eu vou, se não o Siwoo vai ficar chateado — respondeu a beta. — Eu arrasto esse aqui comigo — apontou para Jisoo.
— Combinado — Jihyo falou. — Vou lá, até mais tarde — acenou para os dois e desceu da arquibancada, correndo para onde estava antes.
— Já temos planos — Chan falou, voltando a observar o jogo-treino.
— Já entendi também que você vai me arrastar — completou o mais velho. — Agora, só por curiosidade, você e a Jihyo estão tipo… ficando ou namorando?
— Não, por quê? — juntou as sobrancelhas.
— O selinho.
— Coisa normal de amigos, ué — riu baixo. — Sei que você era um menino puro e de igreja há pouco tempo, mas não é nada demais pra mim.
— Ah, cala a boca — riu também, empurrando-a de levinho pelo ombro. — Jeonghan me dava selinho as vezes, mas você deve imaginar o estado que ficava meu coração.
— Ow, tadinho do bebê — fez beicinho, apertando a bochecha dele. — Mas não é nada demais. Vem cá, vou te mostrar.
— É o que? — olhou para ela com uma expressão confusa, vendo-a se aproximar.
— É só um selinho, cara.
— Não — falou, virando o rosto. — Para com isso.
— Não seja fresco — ela rebateu, chegando mais perto e segurando seu pescoço.
— Chan, é sério — negou, afastando-se e levantando. — Não vem.
— Até parece que eu tenho alguma doença — ela disse, rindo divertida. Então, levantou também e foi atrás do beta. — Vem cá!
— Não, sai de mim, sua tarada! — exclamou, correndo dela.
Chan apenas riu mais, indo atrás dele, entrando na brincadeira.
Chapter 49: Um bônus que ninguém pediu: pera e menta
Chapter Text
Alguns meses atrás
Chan havia acabado de desligar o secador de cabelos quando uma ideia lhe veio à mente.
Ainda tinha mais ou menos uma hora e meia até que Mingyu passasse em sua casa para que eles fossem juntos a uma festa de alguns amigos do ômega.
E, por mais que Chan raramente recusasse algum convite, ela deveria admitir que não estava se sentindo tão inspirada para escolher sua roupa naquela noite.
E foi naquela epifania que ele decidiu.
Pegou o celular e pausou a música que tocava, abriu a câmera e começou a gravar a si mesmo. Ele saiu do banheiro e foi até o quarto de Minho, batendo na porta. Assim que recebeu a permissão para entrar, ele o fez e olhou o irmãozinho mais novo brincando com alguns carrinhos.
— Mano — chamou.
— O que?
— Eu tenho uma festa super importante pra ir daqui a pouco — começou, recebendo atenção do menor. — E eu queria sua ajuda pra escolher uma roupa bem bonita. Você me ajuda?
O alfinha pensou por alguns segundos antes de se levantar animado.
— Tá bem! — exclamou, correndo até o irmão e segurando sua mão para que fossem até o quarto dele.
Chan não evitou de sorrir totalmente abobalhada, sentindo-se muito amado apenas por aquela pequena ação do mais novo em querer lhe ajudar.
Rapidamente, ela olhou para a câmera do celular e abriu mais o sorriso. Tinha um tempo que ela havia adquirido esse hábito de filmar a si mesmo com seus irmãos, para que pudesse criar muitas recordações deles.
— Ok, vamos pensar — Minho falou, pulando na cama bagunçada do mais velho. — Você quer um look mais de menino ou mais de menina?
— Eu vou deixar você escolher — declarou Chan, buscando uma de suas boxer e vestindo antes de sentar na cama.
— Tá legal! — ele pulou mais animado, correndo até o guarda roupa e analisando as peças ali.
Chan sorriu mais uma vez, ajeitando o celular no suporte que ele tinha, filmando amplamente a si e ao irmão.
— Eu acho — Minho começou, pegando uma regata preta com estampa de esqueletos com asas. — Que essa aqui vai ficar legal.
— Mas tá meio frio hoje — Chan falou.
— Mas aí, você pode usar um casaco — argumentou, puxando uma jaqueta jeans escura com alguns rasgos e um dizer nas costas que o próprio beta havia escrito: Fuck the cistem.
— Ah, gostei — respondeu, vestindo a regata. — E embaixo? Eu vou sem nada?
— Claro que não, né, hyung? — ele riu, observando o armário outra vez.
Chan, por sua vez, virou para o celular e mostrou as peças que o menor havia escolhido.
— Essa saia aqui! — Minho exclamou, mostrando a saia de tule mediana escura e com glitter. — Ela é muuuito bonita, vai dar mais brilho pro visual.
O mais velho riu da fala do irmão, não resistindo a tentação de abraçá-lo apertado e beijar seu rosto com gana.
— Vai dar mais brilho, é? — perguntou, apertando-o entre os braços.
— Aish, me solta — reclamou o alfinha, debatendo-se até estar livre. — Agora, pra você não ficar com frio nas pernas, você usa uma meia.
Chan vestiu a saia antes de ir junto dele até a gaveta onde guardava as meias.
— Qual você acha que ficaria legal com a saia? — perguntou.
Minho olhou minuciosamente as opções que havia, escolhendo um par de meias ⅞ listradas em branco e vermelho.
— Essa aqui!
— Acho que vai ficar muito legal — o beta falou. — Eu tava querendo usar essa meia, sabia?
— Não sabia — deu de ombros. — Agora só falta o calçado?
— E a maquiagem, também — apontou.
— Eu escolho a maquiagem também!? — exclamou, pulando na irmã e abraçando-a pelo pescoço, quase derrubando os dois no processo.
Chan riu ao quase perder o equilíbrio, retribuindo aquele abraço tão aconchegante e rápido, pois logo Minho já estava saracoteando pelo quarto.
— Posso escolher o que eu quiser na maquiagem?
— Claro. Hoje, você vai escolher tudo — sorriu. — Escolhe o sapato e aí a gente faz a maquiagem, tá?
— Ah, eu gosto daquele seu sapato que tem o coraçãozinho, sabe? — falou, apontando no próprio pé onde ficava o tal coração.
— Sim, eu também gosto muito desse — afirmou, pegando ele no armário. — Esse aqui?
Mostrou o par de sapatos mary jane com duas fivelas enfeitadas com botões de metal e argolas, e três corações rosas: um na parte de cima e outros dois menores no tornozelo.
— Esse mesmo! — Minho exclamou. — Vão combinar com a roupa.
— Também acho — sorriu, vestindo as meias e colocando o calçado em seguida. — E aí? Como ficou?
— Ficou linda! — Minho exclamou, batendo palminhas, orgulhoso do seu trabalho. — Vamos fazer a maquiagem agora?
— Vamos — sorriu, pegando o irmão no colo e sentando-se na sua penteadeira, onde ficavam as maquiagens.
Chan ajeitou o celular outra vez, filmando de frente os dois. Minho, obviamente, percebeu e sorriu, fazendo uma pose, o que fez o mais velho rir.
— Por onde que começa? — o menor perguntou, observando a irmã usar um grampo para prender a franja.
— A gente começa hidratando, com isso aqui — mostrou um spray. — Quer aplicar?
— Uhum — concordou animado, pegando o frasco. — Como que faz?
— É só apertar aqui em cima, na direção do meu rosto — explicou. — Mas não pode ser muito perto, tá?
— Tá bem — concordou, virando para o irmão e apertando.
Chan fechou os olhos e esperou alguns segundos, sentiu pouquíssimas gotículas caindo sobre sua pele.
— Foi pouco, meu amor — ela falou. — Pode ser um pouquinho mais perto.
Minho acenou com a cabeça, tentando novamente. No fundo, Chan sentia seu coração doer um pouco ao constatar as tentativas falhas do mais novo, que acabavam jogando fora o produto que havia lhe custado certo dinheiro, mas também não se importava pois estava amando aquele momento, aquela conexão que sentia com o irmão.
— Assim? — Minho perguntou, após tentar mais algumas vezes.
— Isso, muito bem — sorriu, fechando o produto. — Agora, um creme.
— Posso passar ele também?
— Claro — afirmou, deixando que ele mergulhasse os dedinhos no pote.
O alfinha espalhou com cuidado o hidratante pelo rosto do mais velho.
— Sua cabeça é muito grande, sabia? — Minho comentou.
— Sua cabeça que é muito pequena — rebateu ela, mostrando a língua para ele de forma infantil.
— Você que é cabeçuda — cantarolou, rindo quando Chan ameaçou derrubá-lo da cadeira.
Levou poucos minutos para que a beta aplicasse a base corretamente em seu rosto, fazendo um contorno simples enquanto explicava com calma para Minho tudo que estava fazendo e explicando porque fazia e qual diferença podia ser vista.
— Ok, agora como vai ser a maquiagem? — Chan perguntou.
— Hum… — Minho pensou seriamente por alguns segundos, tocando o queixo e olhando para cima. — Você pinta o olho de vermelho, assim — tocou as próprias pálpebras. — Aí, pode fazer os risquinho parecendo raios!
— Risquinho? — Chan franziu as sobrancelhas, usando um pincel para aplicar a sombra avermelhada.
— É, aquele que você faz aqui — indicou, tocando o canto dos olhos da irmã.
— Ah, o delineado?
— É!
— Qual cor?
— Humm, branco!
— Ok! — Chan sorriu. — Fazer desenho de raio?
— Isso! E depois, na bochecha, você pode fazer uma borboleta! — exclamou. — Igual o Butterfree! É bonitinho, né, hyung?
— Eu gosto mais do Eevee — Chan falou, tocando o nariz do menor com o pincel de maquiagem.
— Mas o Mewtwo é ainda mais legal! Sabia que ele é um pokémon lendário?
Minho continuava falando enquanto Chan fazia a maquiagem conforme suas ideias. O alfinha não era a criança mais falante do mundo, gostava de ficar sozinho às vezes e gostava de brincar com os irmãos na mesma medida, mas ele amava muito quando o irmão ouvia tudo que ele tinha a dizer e Chan gostava de ouvir.
Levou alguns minutos para que a maquiagem estivesse pronta, faltava apenas o batom rosado que Minho passava com cuidado pelos lábios da irmã.
— Terminei — ele anunciou.
Chan sorriu e olhou-se no espelho, junto de Minho.
— Eu amei — falou, abraçando o alfinha. — Acho que vai fazer muito sucesso na festa.
— Com certeza vai — Minho afirmou. — Você pode pedir pra eu fazer sua maquiagem sempre, aí você sempre vai ser a mais linda de todos os lugares.
Chan riu, apertando-o mais forte.
— Eu já sou, tá? — retrucou, parando o vídeo do celular para tirar uma foto dos dois. — Posso postar essa foto?
— Hum… pode, mas todo mundo vai dizer que eu sou mais bonito que você — provocou, correndo para fora do quarto quando Chan o atacou com cócegas.
O beta sorriu sozinho, observando a porta que o irmão deixou aberta.
Tirou algumas outras fotos sozinho no espelho da penteadeira e do look escolhido pelo mais novo e logo Mingyu estava lhe ligando para que descesse.
Após se despedir rapidamente dos pais e Minho, Chan foi até o carro onde os amigos lhe esperavam.
— Que roupa é essa? — Mingyu perguntou.
— Meu irmão escolheu pra mim.
— Ele segue o mesmo lema que você?
— Ele me entende — sorriu. — E, como você bem sabe, meu lema é: prefiro ser estranho do que ser sem graça
Chapter 50: Café e Camomila; cem dias
Chapter Text
Assim que o despertador de Jihoon tocou naquela manhã de sábado, ele levantou-se depressa, ansioso pelo dia que teria.
Depois de lavar o rosto rapidamente, ele desceu até a cozinha, crente de que Soonyoung ainda estaria dormindo e que teria tempo de preparar um café da manhã para ele, mas o alfa já estava de pé, ajudando seu pai a fazer panquecas.
— Bom dia, filhote — Taesuk falou ao vê-lo.
— Bom dia, meu amor! — Soonyoung exclamou, praticamente correndo até si para o abraçar.
De tão animado que estava, o alfa tirou-o do chão, dando rodopios. Jihoon não pôde conter sua felicidade, assim como os risos que lhe escapavam. Tocou o rosto do namorado e lhe beijou de forma apaixonada.
— Feliz cem dias — desejou, acariciando suas bochechas e roçando seus narizes.
Soonyoung sorriu, a alegria quase não cabendo no peito.
— Feliz cem dias — disse, colocando-o de volta ao chão em seguida. — O que você tá fazendo acordado? Eu ia te levar café na cama.
Jihoon riu bobo ao chegar mais perto, tocando o pescoço do namorado e acariciando sua nuca.
— Eu tentei acordar cedo pra fazer o café pra você — explicou, segurando a mão dele e o levando até a cozinha. — Mas, imaginando que talvez eu falhasse nisso, eu preparei uma surpresa.
Soonyoung olhou curioso o namorado ir até a geladeira e retirar de lá uma caixinha pequena de doceria, a qual ele abriu com cuidado para mostrar o bolo pequeno e fofo, decorado com alguns corações e os dizeres: 100 dias com você!
— Own, meu Deus. Que coisa fofa! — o maior exclamou, tocando as bochechas do namorado e plantando vários selinhos em seus lábios.
Jihoon riu baixo, tentando evitar que o bolo caísse no chão.
— Que bom que você gostou — sorriu. — Quer ajuda pra terminar o café?
Soonyoung negou com a cabeça, acariciando o rosto do menor com os polegares.
— Não precisa, já estou ajudando seu pai — afirmou. — Que tal você esperar no quarto pra eu poder te levar na cama como eu planejei? Prometo que não vou demorar.
— Você estragou meus planos, mas eu tenho que concordar com os seus? — ergueu uma sobrancelha.
— Exatamente — o alfa riu, deixando um selinho rápido em si. — Por favor.
— Tá bem, eu vou — concordou, deixando o bolo com ele. — Posso tentar dormir de novo?
— Não, você fica muito mal humorado quando alguém te acorda.
Jihoon revirou os olhos, tentando conter um riso. Logo subiu as escadas novamente e voltou para seu quarto.
Abriu as cortinas e estendeu a cama, deixando tudo organizado, esperando até que o namorado voltasse.
Não levou muito tempo para que ele abrisse a porta, trazendo consigo uma bandeja com o café da manhã, com uma flor em um copo d'água ao lado.
Jihoon não percebia o sorriso apaixonado que tinha no momento, apenas observando ele se aproximar enquanto cantarolava como uma princesa da Disney.
— Aqui está, nosso café especial de cem dias — falou, deixando a bandeja sob o colchão e sentando-se devagar de frente para ele. — Tem panquecas, frutas, café, suco e torrada. Eu sei que você não gosta de comer a casca do pão, então eu tirei.
O ômega sorriu abobalhado, chegando perto do namorado para que pudesse deixar um beijo em seu rosto.
— Você é perfeito, sabia disso? — falou, acariciando seus cabelos.
— Para com isso, vou ficar convencido — ele riu tímido.
— Mas você já é — provocou.
Soonyoung revirou os olhos.
— Vamos comer que temos um dia maravilhoso pela frente.
— É ótimo te ver assim — o ômega comentou, pegando o copo de suco e bebendo um pouco. — Fiquei tão preocupado com você esses últimos dias.
— Você não precisa se preocupar…
— Shh, é claro que eu preciso — rebateu com a boca cheia de panqueca.
— Tá bem, mas não quero pensar em nada disso hoje — afirmou, começando a comer também. — Hoje nosso dia vai ser só de coisas boas.
— Tá bem — Jihoon sorriu. — Você quer seu presente agora ou depois?
— Eu quero agora, óbvio! — exclamou, animando-se.
O ômega riu baixo, levantando e indo até seu guarda-roupa e pegando uma caixa média de cor verde.
— Eu queria ter pensado em algo mais bonitinho, mas eu não consegui — ele disse, deixando o presente sob a cama.
— O que é? — Soonyoung perguntou, abrindo a caixa rapidamente.
Dentro, havia um livro intitulado "Eu tenho sérios poemas mentais", com vários marcadores entre as páginas. Também havia um envelope e um pequeno pote de vidro com vários post-its rosas, azuis e roxos.
— O que é isso? — o alfa perguntou, curioso, pegando o potinho.
— É um pote do amor — explicou Jihoon. — É só ler a legenda.
Havia um rótulo no pote, onde explicava que cada cor de post-it significava uma coisa. Os azuis eram lembranças, os rosas músicas, e os roxos "porque te amo".
— Ai, meu Deus, isso é tão fofo! — Soonyoung exclamou, sentindo os olhos marejados. — Eu vou chorar.
— Oh, meu amor — Jihoon se aproximou, tocando o rosto do namorado e secando seus olhos. — É de felicidade, né?
— Eu nem sei mais — riu, abraçando-o apertado. — E esse livro?
— É um livro de poesias, eu marquei as que achei que você ia gostar mais, ou que me lembraram você, ou a gente — explicou, acariciando as bochechas dele.
— Você não resistiu a ler o livro né?
Jihoon revirou os olhos.
— Livro de poesia pequeno, eu terminei em um dia — retrucou. — E ainda fiz as marcações. E a carta é só uma carta, já que eu nunca te escrevi uma.
— Lê pra mim? — perguntou animado, aceitando quando ele lhe ofereceu um pedaço de panqueca.
— Acho que eu vou chorar se eu ler — avisou.
Soonyoung fez beicinho.
— Por favor — insistiu. — Eu leio a que escrevi pra você.
— Mesmo? — olhou-o.
Soonyoung acenou com a cabeça, ajeitando-se ansioso sob a cama quando Jihoon cedeu e pegou o envelope, abrindo-o com cuidado e tomando a carta em mãos.
Logo, ele começou:
— “Soonyoung, eu quis escrever essa carta pra tentar colocar em palavras todas as coisas que você me faz sentir e tentar achar um jeito de agradecer por fazer parte da minha vida, por me fazer ser mais feliz do que eu acreditei que era possível alguém ser.
Como eu sempre gostei de ler (e você sabe disso), eu achava que príncipes encantados e amores eternos existiam somente nos livros, e eu nunca iria esperar que alguém, um dia, transformaria minha vida em um completo clichê. Eu ouvia meus pais, meus amigos e outros casais felizes, dizendo como era estar apaixonado, e eu não pensava que isso iria chegar para mim algum dia, não dessa forma tão avassaladora. Eu ouvia as pessoas falando de frio na barriga, de mãos suadas, noites mal dormidas, anseios e sorrisos para o nada, e eu não acreditava, mas eu vivi essas coisas quando te conheci… coisas que eu nunca entendi. Eu só ouvia dizer de um amor que muda nossa vida, e eu acho que você é esse amor…”
Jihoon parou a leitura, cobrindo seu rosto quando as lágrimas começaram a rolar incontroláveis por ele.
— Eu falei que eu ia chorar! — acusou com a voz abafada.
Soonyoung sorriu entre suas próprias lágrimas, aproximando-se do namorado para secar suas bochechas.
— Eu também tô chorando — falou, abraçando-o de lado. — É a coisa mais linda que eu já ouvi na vida.
— E eu ainda nem terminei — riu, olhando o papel tremelicando em suas mãos. Respirou fundo e continuou: — “Eu tentei expressar tudo isso aqui, mas palavras não pareciam ser o suficiente. Mesmo que eu usasse todas as palavras do mundo, eu ainda teria mais pra te dizer. Se eu quisesse usar números… bem, não iria conseguir porque não sou bom com eles, mas, mesmo se eu conseguisse, e chegasse até o final dos números, o que eu sinto por você ainda seria um pouquinho maior. E como eu ouvi em algum lugar: você me faz o cara mais feliz do mundo, e eu vou passar minha vida toda se necessário, tentando fazer você se sentir da mesma maneira.
Obrigado por todas essas coisas, obrigado por ter se apaixonado por mim e por não ter desistido.
Você é incrível, eu realmente amo e admiro você mais do que posso expressar.
Eu te amo por milhões de pequenas coisas que você nem sequer imagina que faz, como a forma que você sorri ou o jeito que você me faz agir como se eu ainda fosse uma criança. Eu te amo porque você é extraordinário.”
— Ok, essa é oficialmente a coisa mais linda que eu já ouvi na vida! — Soonyoung exclamou, apertando Jihoon entre seus braços com força o suficiente para deixá-lo sem ar. — Eu te amo! Te amo, te amo, te amo, te amo, te amo!
— Você vai quebrar minhas costelas! — exclamou o ômega, tentando afastar o namorado.
— Exagerado — ele resmungou, soltando o abraço e beijando-o.
Jihoon sorriu de olhos fechados, tocando o rosto do maior com delicadeza ao retribuir aquele beijo lento.
— Eu também te amo — falou ao se separarem. — E eu tô esperando você pegar meu presente.
— Ah, é verdade! — exclamou, levantando rápido, quase derrubando a xícara com café no processo, e correndo para fora do quarto.
O ômega juntou as sobrancelhas ao vê-lo correr pelo corredor, quase esbarrando em Jisoo que andava preguiçoso até o banheiro. Balançou a cabeça e sorriu, voltando a comer enquanto o esperava.
Não demorou muito para que Soonyoung estivesse entrando no quarto novamente, carregando o presente e deixando-o na frente de Jihoon, esperando ansioso como uma criança pela reação do namorado quando abrisse.
Sentindo o coração acelerando sem que ele soubesse porquê, Jihoon abriu a caixa e ele cobriu a boca, encantando.
Dentro havia dois livros que estava morrendo de vontade de ler: "Os dois morrem no final" e "Honestamente: Sinceramente?", junto de vários de seus doces favoritos — até mesmo as balinhas azedas que Soonyoung detestava —, um envelope onde Jihoon deduziu estar a carta e diversos corações de origami vermelhos.
— Isso é tão fofo, eu vou chorar de novo — exclamou, com as mãos abafando o som. — Como você sabia que eu queria esses livros?
— Você falou deles uma vez pra mim — apontou, voltando a sentar ao lado dele e comer as panquecas, quase esquecidas. — Você e chegou e disse: "olha o nome desse livro" — mostrou "Os dois morrem no final". — "E sabe o que acontece? Os dois morrem no final."
Jihoon riu anasalado, pegando seus presentes para admirá-los de perto.
— Eu amei — sorriu, chegando perto dele e beijando seu rosto. — E não pensa que eu esqueci da carta, você tem que ler ela pra mim.
Soonyoung fez uma careta desgostosa.
— Achei que esses doces ruins iriam te distrair — resmungou.
— Fica quieto, você gosta de café com açúcar — retrucou, empurrando-o sem força. — Anda, vai — pediu, pegando a carta e entregando para o maior.
O alfa suspirou nervoso antes de abrir o envelope, ajeitou sua postura e limpou a garganta antes de começar:
— “Oi, meu amor. Eu nem acredito que faz cem dias que estamos juntos, é realmente muita coisa e ás vezes eu não acredito. Como você mesmo disse, eu acordo todo dia e penso: meu Deus, eu namoro esse garoto incrível. E eu sei que você me disse muitas vezes que eu te vejo como alguém "inalcançável", mas não é isso, eu te conheço, eu sei todas suas qualidades e sei todos seus defeitos, e eu te amo mesmo assim; o problema é que muitas vezes eu me vejo como alguém que não merece seu amor, e eu sei que isso é bem ferrado, mas eu to tentando melhorar, prometo.
Mas enfim:
Há cem dias atrás, você me pediu em namoro, mas o que mexe muito com meu coração, é que naquele dia eu não estava tão incrível, eu estava péssimo, como eu não queria que você me visse nunca, e mesmo assim, você me pediu em namoro. E depois, quando você me viu tendo uma crise muito feia, você ficou ao meu lado, não importava o quanto eu gritasse e chorasse, você continuou me abraçando até que eu ficasse melhor, e você disse que me amava… — Soonyoung fungou, a voz falhando pelo nó na garganta e as lágrimas que lavavam seu rosto. — “Em todas as vezes que eu pensei: ‘é isso, acabou’, você foi lá e me disse que queria ficar comigo, que me amava e que tudo iria ficar bem. Sempre que eu penso que não sou o suficiente pra você, você me abraça, me beija, e só isso faz eu me sentir o cara mais especial do mundo, e eu não sei como te agradecer por tudo isso, por me amar mesmo quando eu não mereço seu amor, por ser meu melhor amigo, a pessoa que eu mais confio no mundo todo, por ter me acolhido nesse momento difícil onde eu não tenho uma casa e esses bagulho complicado, o que poderia ter deixado um clima estranho entre nós, mas nós conseguimos passar por isso e isso me faz acreditar que somos capazes de passar por qualquer coisa.
Você é incrível, eu realmente gosto de você. Ou, em outras palavras, eu desejo você, eu amo você, eu quero você, eu não posso deixar você, eu qualquer coisa você.
Não quero ninguém além de você, não pode ser ninguém além de você.
Você é minha casa.
Eu te amo."
— Você usar os wangxian foi sacanagem — Jihoon acusou, não conseguindo ver um palmo a frente por conta das inúmeras lágrimas em seus olhos.
Soonyoung riu, secando seu rosto antes de se aproximar e abraçá-lo apertado.
— Eu não coloquei a parte que ele fala “você pode fazer o que quiser comigo”, mas você pode fazer o que quiser comigo. Se você quiser fazer todo dia também… — acrescentou o alfa, rindo quando Jihoon lhe estapeou sem força alguma.
— Besta — riu baixo, sentando-se normalmente na cama. — Mas eu amei, é a coisa mais linda que alguém já me disse.
— O que é um absurdo, você deveria ouvir coisas lindas de todo mundo — resmungou Soonyoung, pegando um pedaço de maçã cortada e levando até a boca do baixinho.
Ele aceitou, rindo pelo nariz ao chegar mais perto do namorado.
— Mas se todo mundo começar a se declarar pra mim, você vai ficar com ciúmes — acusou, voltando a comer.
— Não vou nada — negou Soonyoung.
Jihoon cerrou os olhos para ele.
— Você tinha ciúmes até do Minghao! — exclamou incrédulo.
— Ter, tinha! Não é obrigado a ter tudo!
Jihoon juntou as sobrancelhas.
— É o que?
— Eu sei lá — riu, encolhendo os ombros.
O ômega revirou os olhos.
— Você é tão irritante às vezes.
[...]
— Vocês pegaram tudo? — Daeun perguntou preocupada enquanto Jihoon e Soonyoung colocavam suas mochilas no carro. — Não esqueceram nada?
— Mãe, a gente vai passar uma noite fora — disse o ômega. — Não é como se a gente fosse precisar de muita coisa.
— Tem certeza que não querem um lanche pra comer na viagem? — Taesuk ofereceu pela terceira vez.
— Temos — Soonyoung sorriu, negando gentilmente. — Acho que vamos parar pra comer na estrada.
— Não tava sabendo disso — Jihoon disse.
— Sim, é surpresa — afirmou o alfa. — Se você já tiver pego tudo, podemos sair.
— Vamos, antes que você exploda de ansiedade — riu baixo.
Despediram-se então dos mais velhos, que lhes desejaram uma boa viagem e deram vários conselhos.
— Nós voltamos amanhã no final da tarde — Soonyoung disse. — E obrigado pelo carro de novo.
— Só tomem cuidado — a alfa sorriu, acenando para eles.
— Pode deixar — Jihoon acenou de volta pela janela do carro, colocando a cabeça para fora para poder vê-los se distanciando.
Soonyoung sorriu pela animação do namorado, sentindo-se muito sortudo somente por ver aquele sorriso.
— Então? — o ômega começou, ajeitando-se no banco e colocando o cinto de segurança. — Você vai me contar pra onde estamos indo agora?
— Você não quer manter a surpresa? — olhou-o rapidamente.
— Não, eu sou curioso — choramingou, tocando o braço dele. — Você já me colocou dentro de um carro e tá dirigindo, as chances de eu fugir são mínimas.
— Mas nunca zero — retrucou, fazendo o menor revirar os olhos. — Tá bem, a gente tá indo pra praia de Busan.
— Praia?
— É. Eu sei que é meio clichê e sem graça, mas eu prometo que você vai gostar — afirmou, tocando a perna do baixinho, enquanto ele mexia no rádio para ligá-lo.
— É realmente clichê, mas eu já disse que você transformou minha vida num completo clichê — deu de ombros, aproveitando que pararam no sinal vermelho para deixar um beijo no rosto do maior.
Soonyoung sorriu, chegando mais perto e lhe dando um selinho.
— Vai ser incrível, eu garanto.
— Eu não tô duvidando — riu aumentando o volume após colocar uma música para tocar. — Eu fiz uma playlist especial pra nossa viagem, coloquei até aquelas músicas agitadas que você gosta.
— Você também gosta de música agitada — argumentou, virando e pegando a freeway.
— Eu até gosto, mas pra viagens de carro, eu prefiro músicas tipo essa — apontou para o rádio.
— Músicas que faz parecer que a gente tá na era medieval ou num mundo mágico de fadas e elfos? — perguntou, batucando os dedos no volante de acordo com a melodia.
— Músicas calmas, Soonyoung — retrucou. — Mas, agora que você falou, essa música realmente passa essa vibe.
— Tô falando — riu, segurando a mão do namorado sem tirar os olhos da estrada.
A viagem até o destino não era tão longa — cerca de uma hora e meia —, e o caminho até lá foi bastante calmo e silencioso, tendo em vista que Jihoon gostava mais de aproveitar certos momento sem falar nada, e Soonyoung estava começando a entender aquilo, estava aprendendo a apreciar o silêncio confortável que ficava entre eles algumas vezes, estava começando a entender que não precisava saber o que falar sempre, e que algumas vezes nenhuma palavra já era o bastante.
Naquele momento, na estrada, com o sol e a brisa fresca entrando pelas janelas, suas músicas favoritas tocando no rádio e tendo a mão de Jihoon pousada em sua perna, fazendo uma carícia singela vez ou outra… Soonyoung entendia que aquele sentimento não poderia ser colocado em palavras mesmo que ele conseguisse.
[...]
Quando chegaram na cidade, escolheram um restaurante para almoçarem juntos. Fizeram os pedidos e esperaram enquanto conversavam sobre as aulas de direção de Jihoon e outros assuntos triviais.
No momento, Soonyoung contava sobre uma situação na aula de educação física, fazendo gestos e rindo ao se lembrar, enquanto Jihoon apenas ouvia e o observava com um sorriso abobalhado no rosto.
— Eu não entendo como Seokmin consegue ser um ímã pra bolas, elu tava longe e ainda levou uma bolada na cara — concluiu pegando seu copo e bebendo um gole do suco.
O ômega apenas riu baixinho, acariciando a mão do namorado que estava sob a mesa. Quando Soonyoung voltou a olhar Jihoon, ele tentou segurar um riso, mas falhou, o que fez com que o menor estreitasse os olhos.
— Qual a graça? — quis saber.
— Você me olhando todo boiola — apontou entre risos baixos. — E pensar que antes você reclamava quando eu ficava te olhando assim.
— Isso faz muito tempo, a gente mal se conhecia e você ficava me encarando — retrucou, soltando a mão dele para cruzar os braços.
O maior riu em resposta, debruçando-se sobre a mesa para tocar as mãos do outro novamente.
— Eu ainda te encaro assim.
— É, mas agora você já me viu até pelado, então tem uma diferença.
— Nunca te vi pelado — argumentou.
— Tá, vou reformular: agora você até já pegou na minha bunda, então tem diferença — riram juntos.
— Eu gosto da sua bunda — disse Soonyoung, o que fez o outro rir tímido, baixando os olhos.
— Eu também gosto da sua bunda — respondeu.
— Que nojo.
Jihoon riu rolando os olhos.
— Besta — retrucou. — Sabe o que eu tava pensando?
— Que eu sou incrivelmente lindo? — mexeu as sobrancelhas.
— E muito convencido também — provocou, voltando a segurar sua mão. — Mas, eu tava pensando que a gente é muito aqueles casais super felizes que todo mundo odeia por lembrar como as pessoas não são felizes.
Soonyoung riu com a declaração, tendo que cobrir seu rosto para abafar o som alto que Jihoon tanto amava ouvir.
— Eu odeio esse tipo de casal! — exclamou, arrastando a cadeira para ficar mais próximo dele. — Juro, antes da gente namorar e eu via qualquer casal eu ficava: "ai, olha pra eles, estão apaixonados e felizes e não mortos por dentro. Ah, se foder, os dois." — disse numa voz debochada, o que causou risos altos no ômega.
— Então, você me entende — apontou, segurando as mãos do namorado.
— Com certeza!
— E você tá ligado que agora deve ter pessoas olhando pra gente e pensando isso — falou baixo.
Soonyoung riu e encolheu os ombros.
— Fora as velhinhas que devem estar pensando: olha que amizade linda desses dois meninos — acrescentou.
Jihoon balançou a cabeça, apoiando a bochecha sobre a mão e admirando seu alfa.
— Você é meu amigo, também — murmurou.
— É, eu sei, mas amigos não se beijam nem pegam na bunda um do outro — Soonyoung retrucou.
— Pelo menos nenhum dos nossos amigos — enfatizou.
— Exato, só eu posso te beijar e pegar na sua bunda — reforçou se inclinando sobre a mesa para lhe dar um selinho.
— Acho que a gente devia parar de falar sobre a bunda um do outro — sugeriu, desviando os olhos de maneira tímida.
— Qual o problema? É só uma bunda…
Jihoon chutou discretamente Soonyoung por baixo da mesa quando percebeu o garçom voltando com seus pedidos.
Agradeceram pela comida e almoçaram após trocar de assunto. Quando terminaram, concordaram em dividir a conta e saíram para passear pela cidade, visitando alguns pontos turísticos, tirando fotos, arriscando-se ao andarem de mãos dadas, rindo sozinhos e aproveitando aquele tempo juntos.
Decidiram parar em um parque sob a sombra de uma grande árvore, deitaram na grama e ficaram observando as nuvens.
Jihoon tinha a cabeça apoiada sobre o braço do maior, querendo ficar o mais perto que podia dele, sentindo a essência que ele tanto amava e ouvindo seu coração nos momentos que ficavam em silêncio.
— Soon? — chamou após alguns segundos onde ninguém falou nada.
— O que foi, baobei? — olhou-o, aproximando seu rosto para que pudesse encostar o nariz entre os fios escuros.
— Quando você percebeu que era apaixonado por mim? — perguntou, afastando-se um pouco do abraço para que pudesse vê-lo.
Soonyoung ergueu os olhos, refletindo sobre o questionamento, tentando buscar na memória o momento que percebeu, não tendo certeza se aquele momento chegou a existir, porque gostava de Jihoon há tanto tempo que era difícil lembrar de todas as coisas que já sentira por ele.
— Eu não sei — respondeu incerto. — Eu tenho crush em você há tanto tempo que não sei dizer mesmo. Não sei se conta como estar apaixonado, mas eu percebi que tava ferrado quando eu saía pra alguma festa e quando alguém flertava comigo eu pensava "Jihoon é mais bonito" — contou, rindo baixo de si mesmo, assim como o namorado.
— Sério?
— Juro — afirmou, pousando uma mão na cintura do menor e chegando mais perto. — Eu sempre fui bem trouxa, eu ia dormir pensando “para, Soonyoung, é só um crush” e aí quando te via pelos corredores eu ficava “meu Deus, eu amo esse garoto” — contou.
Jihoon cobriu o rosto ao gargalhar, sentindo as bochechas ficando coradas também, se por vergonha ou felicidade ele já não sabia dizer.
— Por Deus, o que eu faço com você? — murmurou, tocando o rosto do namorado e o acariciando com o polegar.
— Me dá um beijinho? — sugeriu sorridente.
O ômega riu anasalado e se aproximou, acatando a ideia ao beijar sua bochecha.
— Agora, na outra — Soonyoung pediu, virando o rosto.
Ainda sorrindo, Jihoon beijou-lhe a outra face.
— Aqui — apontou para a própria testa.
Jihoon o fez. Suas mãos seguravam o rosto dele, seus olhos encontraram-se e o alfa sorriu, inclinando-se para selar seus lábios em um último beijo singelo. Sorriam um para o outro após se separarem, Jihoon desviou o olhar, tímido, voltando a deitar a cabeça no ombro alheio.
— Posso devolver a pergunta? — Soonyoung o olhou. — Fiquei curioso: quando você percebeu que tava apaixonado por mim?
— Há cem dias atrás, quando eu te pedi em namoro — contou, segurando sua mão e brincando com seus dedos. — Quando eu fiquei sabendo que você tava mal, eu fiquei tão preocupado. Eu não tinha percebido o quão importante você era pra mim até então. Aí, eu me arrisquei e pedi pra você ser meu namorado.
O alfa sorriu, cruzando seus dedos aos de Jihoon, fazendo com que ele lhe olhasse novamente.
— Eu não sabia disso.
— Juro — murmurou. — E talvez eu te ame desde antes.
— Own, isso é tão fofo — sorriu, chegando mais perto para lhe beijar novamente.
[...]
— Baobei? Você tá pronto? — Soonyoung perguntou, batendo na porta do banheiro.
Depois de passarem a tarde juntos no parque conversando, trocando histórias e juras de amor, passeando e conhecendo outros lugares, eles foram até o hotel que Soonyoung reservou para descansarem um pouco e se arrumarem, pois iriam sair a noite.
O alfa se aprontou rapidamente e ficou esperando pelo namorado que ainda não havia saído do banheiro. Ele checava o Instagram para se distrair, vendo os stories que Jihoon havia postado: uma foto deles junto com um textinho curto falando sobre os cem dias, também fotos da estrada, do restaurante e dos dois. Soonyoung tinha um sorriso bobo no rosto quando o mais novo abriu a porta e se aproximou.
— Tentei passar uma maquiagem e dar um trato na minha cara mas não sei se deu certo — ele resmungou, vestindo seu casaco de flanela amarelo, que, na verdade, era de Soonyoung.
— Deixa eu ver — pediu, levantando-se da cama e tocando as bochechas do namorado, analisando minuciosamente. — Você continua a coisinha mais linda desse mundo inteiro.
Jihoon riu envergonhado, ficando na ponta dos pés rapidamente para deixar um selinho rápido em Soonyoung.
— Você também tá lindo — elogiou abraçando-o pelos ombros.
O alfa sorriu segurando a cintura do namorado, trouxe-o para mais perto de si e deixou um beijo delicado em seu pescoço, o que causou alguns arrepios nele.
— Vamos indo?
— Hum… não sei — o maior disse com um bico. — De repente, ficar aqui com você parece muito mais atraente.
Jihoon riu, segurando seu rosto e lhe beijando novamente.
— Vamos poder ficar juntos a noite inteira ainda — assegurou, segurando sua mão e o puxando para saírem. — Eu tô ansioso pra ver a praia, faz muitos anos que eu não vou.
— Por que? Você mora relativamente perto — argumentou Soonyoung enquanto fechava a porta do quarto.
— Eu não sou o maior fã de praia do mundo, mas eu tô animado pra ir com você — explicou, cruzando seus dedos enquanto andavam até o elevador.
— Mesmo que a gente esteja indo a noite?
— Sim, mesmo que estejamos indo a noite — sorriu, apertando o botão do térreo.
Soonyoung retribuiu o sorriso e o abraçou por trás, afundando o rosto em seu pescoço, causando risos baixos e envergonhados no namorado, que rapidamente puxou o celular para fotografar o momento pelo espelho.
O hotel que estavam não era muito longe da praia, então resolveram caminhar até lá, aproveitando para verem mais da cidade e terem mais tempo juntos. Continuavam rindo de qualquer bobeira e dividindo silêncios também, carinhos singelos e beijos rápidos quando ninguém estava olhando.
Estavam quase chegando na beira da praia quando Jihoon parou de repente, apontando animado para um fliperama que havia ali perto.
— Soon! Vamos lá? — convidou empolgado, já puxando o namorado antes de receber uma resposta.
— Achei que você quisesse ir pra praia — respondeu o alfa, mas o seguiu mesmo assim.
— A praia não vai sair do lugar — argumentou, entrando no local junto dele. — A gente pode relembrar nosso segundo encontro também.
— Hum — fingiu pensar. — Devemos fazer uma competição de novo então?
— E vai valer o que?
— O vencedor decide — tirou algumas moedas do bolso, trocando pelas fichas.
— Fechado — Jihoon fez o mesmo. Pegaram as fichinhas e logo foram escolher os jogos. — Sabe qual é a melhor parte?
— Qual?
— Você pode me pedir um beijo dessa vez — sussurrou em seu ouvido, sorrindo travesso em seguida.
Soonyoung sorriu de canto e se aproximou:
— Se eu ganhar vou querer algo que eu ainda não ganhei — cochichou, dando um tapinha discreto nas nádegas dele e indo para o primeiro jogo em seguida.
O ômega riu e balançou a cabeça, seguindo-o até o jogo de Mario Kart. Sentou-se no outro volante e colocou a ficha para começarem.
— Você perdeu nesse da última vez — Jihoon provocou, escolhendo o personagem Yoshi, enquanto Soonyoung escolheu Luigi.
— Aquele não era Mário, era um outro jogo de corrida — rebateu o alfa. — Nesse, você está em desvantagem.
— Vamos ver, então.
Assim que o start apareceu na tela, os dois aceleraram o máximo que podiam para sair na frente. Soonyoung conseguiu a vantagem, e claro que aproveitou isso para provocar o namorado, tirando sarro de si e quase perdendo a liderança quando outro personagem lançou um item especial que o fez perder um pouco da velocidade.
A partida foi regada por risos altos e provocações pra lá de infantis quando um conseguia sair na frente e completar uma volta primeiro, assim como xingamentos nem um pouco ofensivos quando um usava de algum poder para atrasar o outro.
No final, Jihoon acabou vencendo por muito pouco e Soonyoung teve que ouvi-lo cantando vitória por um bom tempo.
— Ok, ok. Já entendi que você dirige melhor que eu — ele disse, levantando e abraçando o menor para que ele parasse sua dancinha. — Quando você tirar a carteira, você que vai me levar numa viagem.
— Esse vai ser seu pedido se ganhar? — olhou-o por cima do ombro.
— Não, isso pode demorar muito — sorriu, beijando seu rosto. — Quer escolher o próximo jogo?
— Quero! — segurou sua mão, puxando-o para um de atirar em aliens, o qual eles jogavam como um time, então resolveram dar uma pausa na pequena competição entre eles.
Depois de terem gastado todas suas fichas algumas horas depois, eles decidiram usar as duas últimas para jogarem Dance Dance Revolution. Jihoon se aquecia dando pulinhos no lugar de forma nervosa enquanto Soonyoung escolhia a música para dançarem.
— Pronto, vai começar — ele exclamou animado, tomando o lugar ao lado do namorado.
Swimming in my t-shirts
(Nadando em minhas camisetas)
No matter the weather
(Não importa o clima)
Say what you mean
(Diga o que você quer dizer)
I want to be with you
(Eu quero estar com você)
I see you in the water
(Eu vejo você na água)
Straps on your glasses
(Correias em seus óculos)
Say what you mean
(Diga o que você quer dizer)
I want to be with you
(Eu quero estar com você)
Jihoon empolgou-se com a escolha da música, cantando a letra conforme seguia as setas que eram mostradas na tela. Soonyoung sorria ao vê-lo animado e não ficava para trás, marcando pontos a cada passo com facilidade.
— Você tá indo bem! — o alfa falou, tentando intercalar o olhar entre o jogo e o namorado.
— Você também! — ele respondeu, não conseguindo conter o sorriso feliz que enfeitava seu rosto. — Quem ganhar essa, ganha o pedido.
— Você vai perder — cantarolou, tentando empurrá-lo para tirar sua concentração.
— Para! Não pode trapacear — brigou, apesar de estar rindo.
— Não sei do que você tá falando — ele fingiu, ainda tentando atrapalha-lo.
— Soonyoung! — exclamou, irritando-se um pouco e o empurrando para fora do tapete poucos segundos antes da música terminar.
— Ei! — ele reclamou, vendo o jogo lhe anunciar como o perdedor, enquanto o namorado comemorava outra vez, pulando animado até ele.
— Você que começou — riu ao abraça-lo. — E eu ganhei.
Soonyoung rolou os olhos, tocando sua cintura e o prendendo em seus braços.
— Qual seu pedido, então? — perguntou.
Jihoon ergueu o olhar para pensar — uma mania que Soonyoung achava muito fofa — e logo sorriu ao anunciar:
— Você me paga o jantar.
[...]
— Eu ia pagar o jantar de qualquer maneira — Soonyoung disse, observando Jihoon comer os eomuks que havia comprado para os dois.
O ômega desviou os olhos do mar para olhar o namorado, e sorriu dando de ombros.
— Então eu posso pedir outra coisa? — perguntou.
— Não, você já gastou a oportunidade — riu chegando mais perto para pegar uma mordida.
Jihoon sorriu, voltando a observar o oceano iluminado pelas luzes da cidade. Talvez a ideia de comerem eomuk numa barraca suspeita de beira de praia sentados na areia não fosse a melhor das ideias, mas ele estava sentindo-se tão feliz e completo naquele momento que nada mais importava.
— Soonyoung-ah — chamou-o. — Eu amo você — disse, olhando em seus olhos. — Tipo, pra caralho. E obrigado pelo dia de hoje, tá sendo incrível. Você é incrível.
O mais velho sorriu envergonhado, arrastando-se para perto e passando seu braço pelos ombros dele.
— Eu também amo você. Pra caralho — riu baixinho junto dele. — E o dia ainda não terminou.
— Eu sei, mas ele já valeu muito a pena — apoiou a cabeça no ombro dele após deixar os palitinhos de lado.
— Jih?
— Hum? — olhou-o.
— Posso te fazer um pedido?
— Claro.
Antes de fazê-lo, Soonyoung pegou seu celular e seus airpods, colocou um no ouvido e procurou uma música, deu play e levantou-se, deixando o mais novo confuso.
Então, ele lhe estendeu a mão:
— Dança comigo?
Jihoon riu sem jeito.
— Sério?
— Muito sério.
Aceitando a ideia, Jihoon segurou a palma dele e levantou-se com a ajuda do namorado, então colocou o outro fone em si, e ele sorriu mais quando reconheceu a melodia de Dandelions de Ruth B.
Maybe it's the way you say my name
(Talvez seja a forma como você diz meu nome)
Maybe it's the way you play your game
(Talvez seja a forma como você joga seu jogo)
But it's all good
(Mas está tudo bem)
I've never know anybody like you
(Eu nunca conheci alguém como você)
But it's all good
(Mas está tudo bem)
I've never dreamed of nobody like you
(Eu nunca sonhei com ninguém como você)
Soonyoung segurou a mão direita de Jihoon e pousou a outra em sua cintura, enquanto ele tocou seu ombro, e seguiram numa valsa improvisada e sem muito ritmo.
Nenhum dos dois sequer pensava em esconder os sorrisos, que mostravam apenas um pouco de toda felicidade que carregavam dentro de seus peitos. O mais novo deixava também alguns risos lhe escaparem quando o namorado lhe girava no lugar. Sentia-se em uma verdadeira cena de um filme, o mais clichê dos romances.
And I've heard of love that comes once in a lifetime
(E eu ouvi falar de um amor que vem uma vez na vida)
And I'm pretty sure that you are that love of mine
(E eu tenho certeza de que você é esse meu amor)
Em dado momento, Jihoon tropeçou nos próprios pés e teve que ser segurado pelo namorado, o que causou mais risos leves entre eles.
Quando o ômega abriu os olhos e encontrou o sorriso de Soonyoung, seu coração acelerou antes de bater tranquilo dentro do peito, e aquilo o fez refletir…
O mais velho, notando a forma como Jihoon o olhava e parecia estar tão distante em seus pensamentos, sorriu gentil e tocou seu rosto, perdendo-se por um instante no brilho que ele carregava nas íris.
— O que você está pensando? — perguntou curioso.
Levou alguns segundos até que Jihoon respondesse:
— Eu tô pensando na real possibilidade de você ser o amor da minha vida.
O sorriso de Soonyoung apenas aumentou, fora pego de surpresa e seu coração não soube como reagir, batendo tão forte a ponto dele pensar que poderia morrer a qualquer momento.
Mesmo assim, ele se limitou a abraçar o menor e beijar seu rosto.
— Sério? — perguntou. — Você ainda tá pensando? Eu tive certeza disso há uns três meses atrás.
Jihoon riu e o abraçou apertado, fechando os olhos ao beijá-lo apaixonadamente.
Dandelion, into the wind you go
(Dente-de-leão, no vento você vai)
Won't you let my darling know
(Você vai deixar meu amor saber)
Dandelion, into the wind you go
(Dente-de-leão, no vento você vai)
Won't you let me darling know that
(Você vai deixar meu amor saber que)
Perderam-se naquele momento, sorrindo contra os lábios um do outro, soltando risos de alegria que não cabiam mais no peito. E ficaram tão imersos um no outro que demoraram a perceber quando alguns pingos de chuva caíram ao seu redor, logo os molhando também.
— Que droga! — Soonyoung exclamou, tentando segurar a mão de Jihoon para que corressem para longe dali. — Vamos embora, senão vamos nos molhar!
— Não me importo! — ele respondeu, puxando o alfa para que ele ficasse consigo.
Tocando o rosto do maior, Jihoon o beijou novamente.
I'm in a field of dandelions
(Eu estou num campo de dentes-de-leão)
Wishing on everyone that you'll be mine, mine
(Desejando a cada um para que você seja meu)
And I see forever in your eyes
(E eu vejo o para sempre em seus olhos)
I feel okay when I see your smile
(Eu estou bem quando vejo seu sorriso)
[...]
A chuva não deu trégua conforme Soonyoung e Jihoon correram de volta para o hotel após dançarem mais uma música. Tiveram que ignorar alguns olhares tortos quando entraram encharcados na recepção e pediram desculpas gentilmente pela bagunça que estavam fazendo.
O ômega chegava a tremer de frio quando entraram no quarto e logo começaram a tirar as roupas molhadas.
— Esse quarto tem uma banheira, quer que eu encha pra você tomar banho? — Soonyoung perguntou enquanto estendia as roupas perto da janela.
— Vamos pra banheira juntos? — propôs, observando as costas nuas do namorado.
— Não, eu tô falando pra você tomar sozinho, não pra nós tomarmos juntos — ele riu sozinho, sem entender.
— Soonyoung, eu perguntei se você quer entrar na banheira comigo — explicou, chegando mais perto dele.
— Sério? — virou para o menor, olhando em seus olhos para ter certeza de que não era uma brincadeira ou algo parecido.
— Claro que é sério, você também se molhou — disse manso, traçando o peito dele com a ponta dos dedos. — Se a gente não se lavar, podemos ficar resfriados.
Soonyoung arrepiou somente com aquele toque, sentindo seu coração pular dentro do peito apenas de imaginar a situação que o ômega propunha.
— Se tudo bem por você — murmurou, tocando os cabelos que pingavam.
Jihoon sorriu e lhe deu um selinho.
— Te espero, então.
Ele foi até o banheiro e ligou a torneira, enchendo a banheira com água morna. Tirou o restante de suas roupas e entrou, apreciando o calor e a sensação, já que ele nunca havia tomado banho de banheira.
Poucos segundos depois, Soonyoung chegou vestindo apenas sua peça íntima.
— É uma merda como tirar roupa molhada é muito ruim — ele reclamou, indo até o box. — Você tomou uma ducha antes de entrar?
— Eu não, até minha cueca tava molhada — encolheu os ombros, apoiando o rosto na borda da banheira e observando o alfa.
— Seu porquinho — provocou, ligando o chuveiro e tirando sua boxer.
— Cala a boca — retrucou. — Sai logo daí e vem ficar comigo.
— Já vou, baobei — assegurou, entrando debaixo da água quente, de costas para o outro.
Jihoon fez um beicinho e esperou, observando-o. Sentia o coração acelerando conforme o fazia. Soonyoung estava nú — assim como ele também estava — e, por mais natural que fosse, era diferente, instigante. Nunca havia o visto assim e talvez não devesse ficar encarando, mas não conseguia evitar quando o namorado tinha um corpo tão bonito, apesar de não ser definido nem nada assim. Soonyoung era bem magro e Jihoon preocupou-se ao notar que ele havia perdido peso. Notava as partes que nunca havia visto, sentindo-se envergonhado por isso também, mas tentava respirar fundo e aceitar a naturalidade do que estava acontecendo.
— Você não fica com vergonha de estar pelado na minha frente? — Jihoon resolveu perguntar, não sabendo se continuava olhando ou se desviava o olhar.
Soonyoung virou para ele antes de responder, e o ômega sentiu o rosto corar e tentou disfarçar.
— Eu deveria ficar? — deu de ombros, desligando o chuveiro.
— Só perguntei.
— Você tá envergonhado? — andou cautelosamente até ele.
— Um pouco, talvez.
Jihoon prendeu a respiração por um segundo quando o mais velho entrou na banheira e sentou de frente para si, abraçando os próprios joelhos.
— Mas e aí? — Soonyoung se aproximou. — Gostou do que viu? Pode falar, eu sou o cara mais bonito que você já viu.
O ômega riu com a provocação, contentando-se em apenas revirar os olhos e balançar a cabeça em negação.
— Errado você não tá — respondeu, chegando um pouquinho mais perto, permitindo-se ficar entre as pernas do namorado, mas numa distância segura. — Você é muito bonito, meu amor.
Soonyoung sorriu tímido e inclinou o corpo para selar seus lábios aos do namorado. Jihoon fechou os olhos assim que percebeu a intenção do alfa, deixando que ele acariciasse suas bochechas enquanto o beijava lentamente. Sorriu quando o mais velho roçou seus narizes e tocou seu rosto, lhe dando alguns selinhos.
Quando abriu os olhos, o sorriso de Soonyoung já o esperava e ele sentiu mais vontade de sorrir.
O alfa, então, pegou o chuveirinho e chegou mais perto.
— Vem cá, você ainda tá gelado da chuva.
Jihoon obedeceu e se aproximou, sentindo a água morna escorrer por suas costas e ombros, assim como as mãos de Soonyoung, que percorriam sua pele delicadamente. Se permitiu fechar os olhos e apoiar o rosto no ombro do namorado, quase ronronando conforme sentia seu corpo esquentar de forma relaxante.
— Eu amo você — sussurrou rente ao ouvido do alfa, sorrindo quando viu sua pele se arrepiar.
— Eu amo você também — ele respondeu.
— Eu sinto vontade de te dizer isso toda hora — Jihoon confessou baixo. — "Eu te amo…" mas eu tento me conter, porque parece que se eu disser muitas vezes, pode perder o significado.
Soonyoung sorriu, buscando o sabonete líquido, despejando um pouco em suas mãos e logo passando pelos braços e ombros do menor, criando uma camada de espuma. O odor neutro permitia que a essência natural deles se acentuasse, deixando ambos quase embriagados.
— Você pode falar que me ama todos os dias que eu ainda vou ficar tão feliz quanto eu fiquei na primeira vez — o alfa assegurou, espalhando a espuma pelo peito do namorado.
Jihoon sorriu e pegou o sabonete também, espalhando sobre os ombros do namorado e lavando-o delicadamente. Podia sentir o olhar doce e apaixonado de Soonyoung em si, e isso o fazia querer dizer ainda mais que o amava.
Usaram o chuveirinho para tirar a espuma de seus corpos, deixando-a se dissolver na água, que começava a esfriar.
O ômega aproximou-se novamente, apoiando os braços sobre os ombros do namorado e acariciando sua nuca, agora com o cabelo curto devido ao corte que ele fizera há poucos dias, encostou seus narizes novamente — amava fazer aquilo — e fechou os olhos antes de dizer:
— Eu venho pensando em outros jeitos de falar que te amo — sussurrou, selando seus lábios em seguida.
— Tipo me beijando? — sorriu contra a boca dele.
— Uhum — concordou. — Você quer sair da banheira pra eu poder beijar seu corpo todo?
Soonyoung riu soprado e abriu os olhos, observando as bochechas coradas do ômega, imaginando quantas doses de coragem ele teve que juntar apenas para dizer aquilo.
— Isso é um dirty talk*?
Jihoon revirou os olhos.
— Você quer ou não?
— Claro, meu bem.
O ômega saiu primeiro, buscando uma toalha e secando-se, e talvez tenha demorado propositalmente para enrolar-se no tecido e sair do banheiro por saber que o mais velho lhe observava para não perder nenhum detalhe.
Sentou na cama grande de casal e esperou por Soonyoung, que chegou ao quarto poucos segundos depois de si, com uma toalha amarrada na cintura, indo até sua mala para pegar uma roupa, mas foi interrompido pelo menor.
— Se você se vestir, eu vou ficar constrangido porque eu ainda tô sem nada.
Soonyoung o olhou.
— Tem certeza? — aproximou-se.
Jihoon acenou com a cabeça e levantou quando o outro estava perto de si, tocando seu rosto com as mãos e puxando-o para um beijo.
Soonyoung sentiu que aquele beijo era diferente dos que haviam trocado naquela noite, talvez diferente de todos que haviam trocado até aquele momento. Sentia a determinação do namorado a cada encontro de suas línguas e aquilo era excitante.
O ômega empurrou o maior para que ele se sentasse sobre a cama, prontamente tomando lugar em seu colo, sentando-se sobre suas coxas e tocando seu peito com a ponta dos dedos.
— Me toca, também — pediu baixinho, segurando as mãos do alfa e levando-as para sua cintura. — Pode tocar onde quiser.
— Você não está provocante demais, não? — mordeu os próprios lábios, não se atrevendo a desviar os olhos do rosto de Jihoon enquanto apertava sua cintura.
O Lee, por sua vez, sorriu um tantinho acanhado, voltando a tocar o peito do maior.
— Tô ignorando completamente minhas vergonhas e receios, e tô focando só em você — disse baixo, a voz soando rouca deixando Soonyoung mais e mais empolgado. — E quero que você faça o mesmo, combinado?
— Claro, meu amor — sorriu, fechando os olhos quando se beijaram novamente, um beijo cheio de línguas, mordidas e suspiros.
As mãos do mais velho desceram pelo corpo do outro até alcançar a toalha branca presa em sua cintura, e aproveitando que ambos estavam bastante envolvidos com o ósculo, ele desatou o nó do tecido e o deixou cair sobre o chão, deixando Jihoon completamente nú.
Quando se deu conta de tal fato, o baixinho sentiu o coração pulsando forte, deixando suas bochechas e orelhas quentes e avermelhadas, mas havia ido longe demais para voltar atrás, tinha tantos desejos acumulados e estava sozinho com Soonyoung, não havia nada lhe impedindo, somente um grande desastre natural o faria desistir naquele momento.
Jihoon sentia muito calor, seu corpo começava a suar, suas pálpebras ficaram pesadas ao passo que ele sentiu os lábios de Soonyoung brincando em seu pescoço, lhe arrepiando, deixando beijos molhados e mordidas sem força medida, assim como as mãos grandes dele apertando e brincando com suas nádegas sem vergonha alguma. Seu membro já estava duro entre as pernas, começando a pulsar por atenção e aquilo lhe deixava inquieto.
— Porra… você é tão lindo — Soonyoung segredos entre um beijo e outro, suas mãos tocavam qualquer parte que alcançasse do corpo do namorado, sentindo a pele macia sob seus dedos.
— Você também — sussurrou em seu ouvido, arfando baixo quando sentiu o alfa deixar um chupão em seu pescoço, que com certeza ficaria marcado. — Soonyoung?
— O que foi, meu bem?
Jihoon fechou os olhos e tomou coragem, dizendo nervoso, mas confiante:
— Eu quero chupar você.
Os olhos pequenos do alfa arregalaram-se com a revelação, não sabendo se havia ouvido direito ou se era sua mente com tesão lhe pregando peças, porém, Jihoon não esperou por uma resposta e se pôs a explorar sua pele: beijando seu pescoço, traçando com a ponta da língua e mordendo o lóbulo de sua orelha apenas para vê-lo se arrepiar.
— Você tá falando sério? — Soonyoung perguntou meio lerdo, em êxtase e confuso.
Não estava raciocinando direito quando seu ômega começou a rebolar de maneira tímida em seu colo.
— Porra… — suspirou, agarrando a bunda de Jihoon com força, ajudando-o nos movimentos.
— Tô falando muito sério — ele respondeu, prendendo um gemido na garganta. — Eu quero fazer isso. Você não quer?
— Eu quero! — apressou-se em dizer, lambendo os próprios lábios quando seus olhares se encontraram. — Caralho, eu posso gozar só com você falando isso.
Jihoon riu baixinho e segurou o rosto dele, beijando-o novamente. Quando suas línguas se encontraram outra vez, o menor deslizou as mãos com suavidade pelo corpo do Kwon, sorrindo contra seus lábios quando sentiu-o se arrepiar, então desfez o nó e afastou a toalha do corpo dele.
Separam o beijo ofegantes e Jihoon ousou abaixar os olhos, vendo tanto seu pênis quanto o de Soonyoung duros e implorando por alívio. Sentiu sua boca salivar e aquilo foi o suficiente para que ele ficasse de joelhos no chão, traçando o peito do alfa com a língua enquanto sua destra se atreveu a tocar a base do membro duro com delicadeza.
Um gemido escapou da garganta de Soonyoung com o estímulo e ele teve que agarrar o lençol, lhe restava apenas esperar o que Jihoon iria fazer.
Quando desceu mais o rosto e viu a ereção do alfa de perto, o mais novo engoliu em seco e travou por um momento, foi então que Soonyoung tocou seu rosto com carinho e ele ergueu os olhos. O pênis dele pulsou com a visão de Jihoon tão perto, com os olhos inocentes lhe olhando e ele precisava se controlar muito para não ceder a seus próprios desejos e apressar as coisas, então respirou e disse calmo:
— Não precisa fazer se…
— Eu quero — interrompeu, segurando a mão que tocava seu rosto. — Quero fazer você se sentir bem. Só… me diz se não gostar de alguma coisa, tá?
Soonyoung mordeu o lábio inferior com força e concordou com a cabeça.
Respirando fundo, Jihoon abaixou o olhar, decidiu ignorar suas inseguranças e tentou relembrar das dicas que havia pesquisado alguns dias antes.
Segurou o pênis dele com cuidado e iniciou movimentos lentos de vaivém, ouvindo os suspiros deleitosos do namorado, então aproximou-se e pôs a língua para fora, tocando a glande e sentindo o gosto do pré-gozo, não era bom, mas também não chegava a ser ruim.
Com cuidado e ignorando seu coração acelerado, Jihoon colocou um pouco na boca e sugou, sentindo a carne pulsando e ouvindo um gemido mais alto e arrastado do alfa e sentiu-se mais confiante, repetiu o movimento, tentando chegar um pouco mais fundo a cada vez.
A destra de Soonyoung tocou seus cabelos, não com intenção de empurrar ou forçar, mas como forma de dizer que ele estava indo bem. Acariciou os fios escuros com os dedos e sua cabeça caiu para trás quando um espasmo percorreu seu corpo ao sentir a língua do namorado rodeando a ponta de seu membro e logo os lábios subindo e descendo sem muito ritmo.
— Porra, Jihoon… — gemeu contido, segurando o lençol com força. — C-Caralho, isso é bom… você é tão bom, meu amor.
O ômega choramingou ao afastar-se da intimidade do namorado, usando aquele meio tempo para respirar e tentar livrar-se da sensação de enjôo que sentia, entretanto, não estava sendo tão ruim quanto imaginou, seu nervosismo realmente atrapalhou muito suas expectativas, mas ele estava indo bem e as reações de Soonyoung provavam isso.
Sentia uma quentura invadir seu peito e não só pelo calor absurdo que sentia naquele momento, mas também por um sentimento de realização por ter conseguido fazer aquilo, por estar agradando ao namorado e ouvindo os sons de prazer, os quais Jihoon amou ouvir.
— Você tá bem? — Soonyoung perguntou, olhando-o de maneira atenciosa.
— Uhum — acenou com a cabeça. — Você?
— Muito bem — sorriu, tocando o queixo do menor e correndo o polegar por seu lábio. — Você… quer parar?
— Não — negou prontamente, voltando a masturbá-lo devagar. — Eu quero fazer você gozar.
Soonyoung suspirou pesado, tendo que controlar seus impulsos o máximo que conseguiu. Voltou a apoiar as mãos sob a cama e olhou-o atento.
— Por favor — pediu, forçando seus olhos a ficarem abertos quando Jihoon voltou a tocá-lo com a língua, lambendo desde a base até a glande, experimentando as reações do namorado e as próprias sensações.
O alfa sentia tremores se arrastando por todo seu corpo assim como suor escorrendo por suas têmporas, a sensação do orgasmo se aproximando lhe tirando de órbita por alguns segundos, mas ele não queria que acabasse tão cedo, então segurava o máximo que conseguia, mesmo que a visão do namorado lhe chupando estivesse o deixando prestes a enlouquecer.
Jihoon voltou a abrigar o comprimento de Soonyoung em sua boca, conseguindo ir até um pouco menos da metade, enquanto suas mãos trêmulas apertavam as coxas fartas e às vezes acariciavam os testículos.
Gemidos roucos e arrastados escapavam dos lábios do alfa, seus olhos estavam pesados, mas ele continuava assistindo tudo que acontecia. Sua barriga se contraia e o estômago se revirava a cada vez que Jihoon lhe chupava. Estava perto.
— Jihoon… a-ah, porra — gemeu, voltando a segurar seus cabelos. — Eu vou gozar, eu tô quase…
Com o aviso, o ômega afastou seu rosto e passou a masturbá-lo de maneira intensa. Soonyoung mordeu os próprios lábios para conter um gemido alto quando alcançou seu orgasmo, liberando-se na mão do namorado.
Então o único som presente no quarto era a respiração pesada do alfa, tentando se recuperar e aproveitando a sensação dos arrepios correndo por todo seu corpo.
— Vem cá — pediu, segurando Jihoon, o trazendo para seu colo e o beijando.
As mãos de Soonyoung acariciaram as costas do menor num abraço, deixando seus corpos próximos. O ômega abraçou-o pelos ombros e sorriu entre o beijo ao sentir a respiração ofegante do namorado.
— Você gostou? — perguntou após separar seus rostos, acariciando suas bochechas com os polegares.
— Muito — ele garantiu, selando seus lábios mais algumas vezes. — Foi incrível, muito melhor do que eu imaginei.
— Você imaginava coisas assim? — olhou-o, nem um pouco surpreso.
Soonyoung sorriu antes de deitar o namorado sob o colchão, ficando entre suas pernas. Afastou os cabelos de sua testa antes de se inclinar para beijar seus lábios outra vez.
Jihoon soltou um arfar súbito quando sentiu seu pênis sendo pressionado pelo abdômen de Soonyoung.
— Se você soubesse todas as coisas que eu já imaginei com você — ele respondeu, deixando selares suaves pelo rosto e pescoço do menor.
— Você é um pervertido — acusou, sorrindo de canto quando viu ele rolar os olhos.
— Por você, com certeza — disse, apoiando-se nos cotovelos para observar o rosto do namorado. — Agora é minha vez de te dar prazer. Tudo bem?
Jihoon mordeu os lábios antes de acenar com a cabeça, dando a permissão que Soonyoung vinha esperando e, com isso, ele não hesitou em tocar o membro do mais novo e massageá-lo.
O ômega gemeu baixinho e suas costas se arquearam levemente, seus olhos fecharam-se sem que ele quisesse quando a língua do alfa rodeou seu mamilo, chupando-o com certa força e se atrevendo a deixar uma mordida leve, o que fez com com que o corpo do baixinho tivesse um espasmo, junto de uma lamúria que saiu de seus lábios.
Jihoon agarrou os cabelos da nuca do alfa com um pouco de força quando ele passou a brincar com o outro botão, Soonyoung também parecia ter se livrado de qualquer receio quanto ao que deseja, pois parecia quase hipnotizado com o que fazia, como se sua vida dependesse de marcar o corpo do namorado e dos sons cheios de manha que ele soltava, assim como o quadril dele se ondulando contra sua mão.
— B-Bom… — o ômega sussurrou, sua voz perdida entre as sensações. — Isso é bom, Soonyoung.
Ele sorriu ladino em resposta, erguendo os olhos para o outro.
— Eu ainda nem comecei — contou, ajeitando-se rapidamente no colchão e puxando as pernas do namorado para seus ombros.
— Soonyoung! — exclamou surpreso, sentindo o rosto ficando mais quente.
— Shh — ele fez, arrastando os lábios pela panturrilha do mais novo. — Relaxa, meu amor, aproveita. Se não gostar de algo, me avise.
Jihoon olhou-o nervoso, respirando fundo e acenando brevemente com a cabeça, sentindo seu interior se revirando em expectativa.
Soonyoung sorriu para si de um jeito tão belo que o ômega pulsou apenas com aquilo, então o maior fechou os olhos e distribuiu beijos por suas pernas, acariciando a pele macia com cuidado e abaixando-se aos poucos, trilhando um caminho imaginário quase com devoção.
Ele beijou os joelhos avermelhados de Jihoon pelo tempo que ele ficara no chão, e logo os pôs em seus ombros, inclinando o corpo até estar com o rosto próximo da pélvis do namorado. Soonyoung beijou o interior de suas coxas, traçando com a língua lentamente e deixando mordidas leves apenas para ver o menor se contraindo e arrepiando. Fez questão de deixar alguns chupões também, queria que Jihoon os visse e lembrasse daquele momento por muito tempo, assim como ele também se lembraria ao ver as marcas visíveis em seu pescoço.
Segurou o membro dele e levou a boca, cobrindo metade com os lábios e voltando devagar, sugando a cabecinha inchada. O mais novo arqueou as costas outra vez, agarrando os cabelos do namorado sem pensar, o som arrastado e cheio de êxtase que saiu de sua garganta foi o suficiente para Soonyoung continuar o que fazia.
Não que tivesse muita certeza do que estava fazendo, mas estava se guiando pelos próprios instintos, pela sua pouca experiência com conteúdos pornográficos e pelas reações de seu ômega.
Soonyoung não era nenhum santo e perceber isso fazia Jihoon chegar cada vez mais perto da loucura. Os lábios macios e a língua arteira lhe estimulando o levavam ao céu e ao inferno em questão de poucos segundos, e aquilo apenas piorou quando sentiu a destra do alfa se esgueirar até seu peito e apertar seu mamilo entre os dedos.
E diferente de Soonyoung, Jihoon não pensou em conter-se para que o momento durasse mais, as sensações mal lhe davam espaço para qualquer pensamento coerente, suas pernas e mãos tremiam e ele estava perto, tão perto… tudo que conseguiu fazer foi puxar os fios escuros do alfa com a pouquíssima força que lhe restava e o avisar:
— Soonyoung…! Soonyoung, eu vou gozar — mais gemeu do que falou, suspirando alto quando sentiu sua intimidade ser abandonada.
— Tudo bem, meu amor, pode vir — assegurou, masturbando-o com rapidez.
Jihoon tentou manter os olhos abertos para poder chegar ao orgasmo olhando para o namorado, mas não conseguiu, no momento que seu corpo começou a tremer, seus olhos se fecharam e sua boca abriu, liberando um gemido alto e arrastado junto com o líquido esbranquiçado que sujou o peito de Soonyoung.
O ômega caiu cansado sobre a cama, ofegante e sentindo tremores. Ele não percebeu o momento que o maior levantou para buscar alguns lenços umedecidos. Soonyoung limpou o próprio corpo e então limpou o de Jihoon com cuidado, logo deitou-se ao seu lado, abraçando sua cintura.
Jihoon enfiou-se entre os braços do namorado, encostando a ponta do nariz em seu pescoço para sentir seu cheiro, acariciou seu peito com carinho e aproveitaram aquele momento juntos, ambos se recuperando dos orgasmos.
— Você tá bem? — Soonyoung perguntou, olhando-o preocupado.
O menor sorriu ao erguer o olhar para ele, inclinando-se em sua direção e lhe dando um selinho.
— Muito bem — respondeu cansado, tocando seu rosto. — E você?
— Muito, muito bem — sorriu, puxando-o para perto e beijando seu ombro. — Sinceramente, não esperava que você fosse fazer isso.
— Isso quer dizer que eu te surpreendi?
— Põe surpreender nisso — riram baixinho, voltando a se abraçar.
Ficaram em silêncio por mais algum tempo, sendo este preenchido apenas pelos sons estalados dos beijos que Soonyoung deixava sobre os ombros do namorado.
— Vamos tomar outro banho? Eu tô todo suado — Jihoon propôs, cobrindo a boca ao bocejar.
— Você quer ir sozinho ou vamos juntos?
— Juntos, né? Você precisa me levar até lá porque eu ainda não sinto minhas pernas — avisou, o que fez Soonyoung rir baixinho. — E você não pense que vai acontecer algo lá dentro.
— Poxa, nem uns beijinhos? — fez bico, puxando-o pela cintura para mais perto.
— Hum — fingiu pensar. — Se você prometer dançar pra mim outra hora, eu posso ceder.
Soonyoung riu enquanto levantava e puxava o namorado para seu colo.
— Acho que descobri um fetiche seu — beijou seu rosto.
— Cala a boca.
Após um banho demorado, regado de beijinhos e algumas mãos bobas, os garotos vestiram-se, trocaram a roupa de cama e deitaram lado a lado, sanando o desejo que estavam de dormirem juntos, com Jihoon encolhido e Soonyoung o abraçando por trás, aspirando a essência de camomila que embalou os dois num sono tranquilo.
E antes de conseguir dormir, o ômega acariciava a mão do maior e refletia novamente sobre o que pensara na praia.
A cada segundo que passava, tinha mais certeza de que Kwon Soonyoung era o amor de sua vida.
Chapter 51: Maçã, margaridas e flor de nectarina
Chapter Text
Assim que Soonyoung e Jihoon se perderam de vista na estrada, Daeun e Taesuk entraram novamente para cuidar de seus afazeres.
O ômega teve que sair para trabalhar, deixando a esposa e Jisoo na casa. Ela aproveitou que Joshua estava cuidando de Yoona para descansar por algum tempo. Enquanto Yoona estava deitada no bebê conforto, o beta arrumava a cozinha, mantendo atenção especial nela o tempo todo.
Jisoo tentava esconder, mas não era muito fácil de controlar aquele pequeno desconforto de estar sozinho com Daeun, uma pessoa quase desconhecida, numa casa que não era a sua, mas a alfa era alguém muito comunicativa e tinha um dom para fazer as pessoas ficarem a vontade em sua presença, então eles conseguiram conversar e rir juntos até a hora do almoço.
— Eu vou sair daqui a pouco, tudo bem? — Joshua falou, parando a refeição por um momento. — Vou encontrar com meus pais pra gente… conversar, eu acho.
— Claro, querido. Isso é ótimo! — ela sorriu, tocando sua mão. — É muito bom ver que vocês estão tentando consertar as coisas.
— É, acho que sim — respondeu. — Admito que ainda tenho um pouco de receio.
— É completamente normal — acalmou, chegando mais perto. — Eu nem imagino o que você está passando, mas você tem muita coragem por estar dando esses passos.
— Acho que sim, também — murmurou. — Mesmo que, sei lá, não pareça justo. Por que eu preciso caminhar se foram eles que me empurraram para longe?
Daeun suspirou, concordando sem saber o que dizer. Segurou a mão dele com mais firmeza.
— Acho que… a coisa sobre pais e mães, é que as pessoas acham que nós não erramos — começou. — Contanto que criemos nossos filhos para que não sejam ladrões, pouco importa o resto. Mas a questão é que nós somos humanos também, e erramos muito na educação dos nossos filhos, o problema é que algumas pessoas são orgulhosas demais pra admitir isso. E, por mais que eu ache horrível o que aconteceu, eu acho que seus pais estão melhorando, pois eles já deram esse primeiro passo de admitir que erraram.
Jisoo balançou a cabeça para mostrar que havia ouvido, secou rapidamente uma lágrima que lhe escapou e voltou a olhar para a mais velha.
— Eu sei — murmurou. — Mas não quer dizer que doa menos… eu ainda tenho pesadelos com aquele dia, eu sonho que volto pra casa e todas as coisas horríveis que eu ouvi são ditas de novo… E dói.
— Eu sei, querido — ela respondeu, tocando seu rosto delicadamente e o secando. — Admitir para nós mesmos o quanto algo dói, é o primeiro passo para nos curarmos. Assim como admitir que erramos, é o primeiro passo para fazer as coisas darem certo.
[...]
A tensão entre as três pessoas na sala de espera era perceptível para qualquer um que parasse para analisar por mais de dois segundos. Joshua estava sentado no meio de Joane e Seunghoon, mas não olhava para nenhum dos dois, mal se mexia e até controlava sua respiração para não o fazer muito alto.
Não sabia se havia sido prudente sua decisão de contar aos pais que começou a fazer terapia, mas talvez fosse um bom sinal eles terem agendado um horário em um psicólogo familiar, para ajudá-los a lidar com tudo que estava acontecendo, mas ainda estava nervoso com aquilo, muito nervoso.
As chances deles terem marcado um terapeuta pronto para lhe dizer que eles estavam certos, que Jisoo poderia começar uma terapia de conversão, ou qualquer atrocidade parecida eram grandes, e ele estava assustado com essas possibilidades.
O que faria se acontecesse? Teria coragem de levantar e sair, ou falar o que pensava verdadeiramente?
Eram tantos questionamentos e tantos “e se?”, que ele não conseguia sequer pensar em algum futuro bom onde talvez as coisas dessem certo.
De tanto pensar e não chegar a lugar nenhum, a vez deles entrar no consultório rapidamente chegou.
A terapeuta não era velha, parecia perto dos trinta anos, e Joshua pensou que isso traria relutância da parte de sua mãe. Ela também tinha um sorriso amigável quando pediu que eles entrassem e ficassem confortáveis.
Jisoo sentou-se segurando uma almofada, mantendo os olhos baixos e ignorando enquanto a doutora se apresentava.
— Tudo bem? Eu sou Shin Jiah, terapeuta familiar — ela disse, sentando em sua poltrona e cruzando as pernas. — Vocês são… Joane, Seunghoon e Jisoo, certo? Muito prazer em conhecer vocês.
— Você também, doutora — a ômega sorriu.
— Então, o que traz vocês aqui? Não é muito comum ver terapia familiar quando o filho já tem… vinte anos, certo? — Jiah olhou para Joshua.
— Sim. Então, doutora, o que acontece — Joane começou, nervosa. — Há pouco mais de um mês, Jisoo hum… ele…
— Eu me assumi gay — ele tomou a frente. — Eu sou… eu sou gay, e é por isso que nós estamos aqui. Então, se a senhora for dizer que isso é uma doença e dizer que tem a cura, eu não quero ouvir, já podemos cancelar essa consulta e ir embora.
Suspirou ao terminar, não sabendo onde havia encontrado coragem para dizer tudo aquilo. Os mais velhos permaneceram calados, tão surpresos quanto ele.
— Certo, hum… — Jiah pigarreou, anotando alguma coisa na prancheta em seu colo. — Primeiro, eu não acho que seja uma doença, nem que seja errado, pode ficar tranquilo quanto a isso, Jisoo-ah.
Com aquilo, o beta respirou mais calmo, aliviando um pouco o aperto contra a almofada em suas mãos.
— Então, vocês estão aqui porque… a sexualidade de Jisoo trouxe brigas ou algo assim? — perguntou, olhando atentamente para os pais dele.
— Bem, nós… você deve imaginar como é difícil — Seunghoon quem disse, claramente desconfortável em estar ali.
— Vai contra o que nós acreditamos, doutora. Como pode ser certo? Digo, dois homens ou duas mulheres… — Joane lamentou-se.
— Você não precisa repetir tudo de novo — Jisoo disse, ríspido. — Eu já entendi que você odeia isso. Todo mundo entendeu, a questão é… eu não sei qual é a questão. Qual é a questão, doutora? — olhou para a mulher.
— Bem, vamos todos manter a calma primeiro — ela disse. — Vamos começar por partes, ok? Jisoo-ah, eu vou fazer algumas perguntas e você pode ou não responder, fica a seu critério, tudo bem?
Ele concordou com a cabeça.
— Você, como disse, se entende como homossexual, certo? Você descobriu isso há quanto tempo?
— Eu não sei — ele encolheu os ombros. — Desde minha pré adolescência, eu acho. Mas eu nunca me permiti pensar nisso, eu só pude pensar nisso verdadeiramente há uns seis meses.
— Uhum. E por que?
Ele engoliu em seco, sentindo seus pais ficando tensos e envergonhados, até pensou em não responder, mas respirou fundo e disse:
— Porque eu sabia que eles nunca iam me aceitar — murmurou. — Desde sempre eu ouvi que… — suspirou, desistindo da frase. — Eu só sabia que não podia, que era errado.
Jiah maneou a cabeça.
— Certo, continuando…
[...]
Após aquela uma hora da consulta, eles encerraram o assunto por ora e ficaram de voltar na próxima semana. Joshua e Joane haviam chorado no decorrer da conversa, mas conseguiram manter a calma em todo momento, ajudaram Jiah a entender melhor a situação. Não foi de todo ruim, Jisoo pensava enquanto ouvia a terapeuta se despedindo.
— O que você achou? — a ômega perguntou assim que entraram no elevador.
Joshua, encolhido no canto, apenas balançou os ombros.
— Sei lá — murmurou. — Achei que ia ser pior.
— Você quer ir comer alguma coisa?
Ele negou.
— Eu entendo o que vocês estão fazendo — disse, sem coragem para olhá-los. — E eu realmente acho incrível. Mas ainda não melhora tudo que aconteceu, nem apaga tudo que eu passei…
— Não é o que nós…
— Eu sei! Eu sei — suspirou, tocando a ponte do nariz. — Mas, se a gente realmente vai fazer isso, eu preciso que seja no meu tempo, eu preciso que vocês me dêem espaço pra me reaproximar conforme eu me sinta confortável.
As portas se abriram e eles desceram, saindo do edifício.
— Você não pode tentar ceder nem um pouquinho? — Joane perguntou.
— Não é tão fácil, ok? — Jisoo exclamou, virando para eles. — Se é fácil pra vocês, me desculpem, mas pra mim ainda é difícil pra caralho!
— Joshua, por favor… — Seunghoon tentou se aproximar.
— Não! — afastou-se, tentando respirar fundo. — Eu sei que vocês estão tentando, mas eu também tô, ok?
Nenhum dos dois insistiu novamente.
Jisoo suspirou.
— Tchau, mãe. Tchau, pai — ele disse, checando a hora em seu celular. — Eu vou encontrar uma amiga.
— Tudo bem — Joane falou, aproximando-se para o abraçar. — A gente te liga mais tarde, ok?
— Tá bem — concordou, retribuindo o abraço da mãe. — Tchau.
Acenou para eles conforme saiu do prédio e eles seguiram para o estacionamento.
Pegou seus fones de ouvido e deu play em uma playlist qualquer, e foi caminhando devagar até o local onde havia combinado de encontrar Nayeon.
Quando chegou perto do ponto de encontro e a viu, apressou o passo até chegar perto o suficiente para que ela lhe visse.
Nayeon sorriu e acenou em sua direção, sendo envolvida num abraço assim que estavam próximos.
— Acho que a primeira sessão de terapia foi difícil, né? — a ômega perguntou, apertando o amigo entre seus braços carinhosamente.
— Não foi de todo ruim, mas ainda é complicado ficar perto dos meus pais — respondeu, soltando o enlaço, mas se manteve próximo.
— Eu imagino — ela murmurou, tocando seu rosto. — Você tá muito magro, tá se alimentando direito?
— Eu juro que tento — suspirou, segurando as mãos dela e as afastando. — Mas eu tô morrendo de fome agora.
— Ótimo, porque eu sei de um lugar que nós podemos ir — Nayeon sorriu, segurando pela mão e o levando pela rua. — Eu combinei de encontrar Somi também, meio que deu da gente querer sair no mesmo dia, não tem problema, né?
— Não, claro que não — falou, andando calmamente ao lado dela. — Ela é legal, lembro dela.
— Ah, que bom. A gente marcou nesse café, ela falou muito bem — contou, tomando a frente e abrindo a porta do estabelecimento. — Ela já tá nos esperando.
Joshua concordou mudo e entrou, observando o ambiente bonito e aconchegante da cafeteria, com as paredes pintadas de branco e decoradas com quadros pequenos de um artista quase desconhecido, assim como algumas plantas pequenas. O cheiro de café fresco e bolo recém saído do forno davam água na boca e o beta estava ocupado demais observando tudo que demorou para notar quando alguém veio na direção deles.
— Olá, sejam bem-vindos ao Dose de Café. Como posso ajudar vocês?
— O que você tá fazendo aqui? — Jisoo perguntou, surpreso ao ver Chan sorrindo para eles.
— Bitch, eu falei que tinha conseguido um emprego — retrucou. — Você devia prestar mais atenção nas coisas que eu falo.
Joshua revirou os olhos, sorrindo pequeno.
— Justo.
— Oi, Chan — Nayeon sorriu, chegando mais perto. — Parabéns pelo emprego.
— Obrigado, noona — ele sorriu, curvando-se levemente. — Venham, vou atender vocês, aí no final me deem gorjetas.
Os mais velhos riram, aceitando serem guiados até uma das mesas.
— Você é muito interesseiro — acusou Jisoo.
— E você me ama mesmo assim — Chan retrucou sussurrado ao passar por outro funcionário.
— Oh, devo sair e deixar vocês flertando a sós? — Nayeon perguntou, entrando na brincadeira.
— Cala a boca — Joshua retrucou. — A gente não ia encontrar a Somi?
— É verdade! — exclamou a ômega. — Você viu ela, Chan?
— Vi, ela tá na parte de trás, é por aqui — guiou eles. — Ela e Jihyo noona se encontraram e estão conversando.
Seguiram por um pequeno corredor até uma área menor, com poucas mesas, estando apenas uma delas ocupadas por Somi e Jihyo, que sorriram ao vê-los se aproximando.
— Até que enfim! — Somi exclamou, levantando-se para abraçar Nayeon. — A gente tava esperando por vocês.
— Na verdade, eu vim ver Chan, encontrei essa linda por acaso — Jihyo falou, bagunçando os cabelos da Jeon. — Mas vamos sentar e conversar todos juntos.
— Claro — Somi concordou.
— Ok, eu vou lá pegar meu bloco que eu esqueci, e já volto pra atender vocês — Chan avisou, voltando apressado.
Jihyo riu baixo, balançando levemente a cabeça, logo olhou para Jisoo e Nayeon, que continuavam em pé.
— Sentem, galera, vamos — ela indicou, sentando-se também.
— Ah, claro — Joshua tomou a frente e puxou a cadeira para a amiga, sentando ao lado dela. — Não sei se vocês se conhecem. Jihyo, essa é Nayeon, uma amiga minha. Nayeon, essa é Jihyo, a gente estuda juntos.
— Ai, ele não me considera uma amiga — disse Jihyo, tomando um gole de sua bebida pela metade.
— N-Não é isso…
— Relaxa, eu tô brincando — ela riu, olhando para Nayeon em seguida. — Muito prazer.
— Prazer — a Im respondeu com um sorriso tímido.
— Sobre o que vocês estavam falando antes da gente chegar? — Jisoo perguntou.
— Eu tava contando sobre quando eu fui traída — Jihyo disse, rindo baixo. — Acho que eu lidei muito bem.
— Ei, calma aí! — Chan pediu ao retornar. — Também quero ouvir essa história.
— Você não tem que trabalhar, não? — a alfa perguntou.
— Não tem quase ninguém hoje, não vai ter problema eu parar por uns minutos — deu de ombros. — Mas, e aí? O que vão querer?
Jisoo e Nayeon olharam o cardápio e fizeram seus pedidos, deixando que Chan voltasse para fazê-los.
— Não vai demorar. Logo, logo eu volto — assegurou sorrindo e seguiu pelo corredor.
— Como ele é fofo — Jihyo comentou. — Mas não falo na cara senão ele fica muito convencido.
— Ele meio que já é — Joshua acrescentou, o que fez as garotas rirem.
— Mas e vocês? — Somi perguntou. — Estavam em um encontro ou algo assim?
— Não! — Nayeon e Jisoo exclamaram juntos.
— Não, é nada disso. Somos só amigos — afirmou o beta.
— E eu sou lésbica.
— É verdade, e eu sou gay — acrescentou ele.
Jisoo e Nayeon assumiram expressões confusas quando Jihyo e Somi olharam-se antes de caírem na gargalhada, a Park cobrindo o rosto ao fazê-lo.
— Ai, eu precisava disso — disse Jihyo, pegando um guardanapo para secar uma lágrima que brotou em seus olhos. — Mas isso é bom, é sinal de que não temos nenhum hetero cis na nossa mesa.
— Eu falo que gays se atraem — Somi comentou. — Você sai do armário e, de repente, todos seus amigos saem também.
— Meu Deus, sim! — Nayeon exclamou. — Quando eu me assumi lésbica, todos os meus dois amigos se assumiram também, os dois bissexuais. Só esse aqui que enrolou demais — apontou para Jisoo que revirou os olhos.
— Minha família colocou cadeado e corrente ao redor do armário pra eu não sair — resmungou fitando a mesa.
— Que merda, sinto muito — Somi disse.
— Se bem que não adiantou muito, né? Seu armário era de vidro — Jihyo apontou com uma expressão pensativa.
Então foi a vez de Nayeon gargalhar, apoiando a cabeça no ombro do amigo.
— Eu falei que você não enganava ninguém! — disse para ele. — Mas a gente tem um gaydar, não tem?
— Sim! E héteros cis não tem isso! — Jihyo acrescentou.
— Exatamente o que eu falo! — Nayeon exclamou.
— Eu amei você, garota! — disse a alfa, erguendo a mão para trocar um hi-5 com a Im.
Nayeon riu tímida, mas tocou a mão de Jihyo mesmo assim.
— Mas nem posso dizer que vocês estão erradas, porque parece que todo mundo sabia de mim, menos eu — a Jeon comentou, terminando seu café gelado.
— Ah, pelo amor de Deus, Somi — Jihyo ralhou. — A energia pan que você exala te entregava desde sempre, só você não sabia mesmo.
A loira riu baixo e rolou os olhos, não tendo como se defender e, antes que o assunto pudesse continuar, Chan retornou com uma bandeja na mão.
— Ok, aqui está: Frapuccino de morango e bomba de chocolate pra Nayeon noona — colocou a taça e o prato com cuidado na frente dela. — E um affogato, um quiche e um bolo de morango pro Shua hyung.
— Chan, eu não pedi bolo — corrigiu ele.
— Eu sei, esse é por minha conta, você tá parecendo um fantasma — explicou puxando uma cadeira para sentar com eles. — Vou começar a acreditar que Jihoon hyung não tá te alimentando direito.
— Eles estão, mas tudo que eu como me deixa meio mal — resmungou ele, começando a comer.
— Mas não tem como algo tão delicioso quanto isso te fazer mal — Jihyo argumentou, olhando o pedido do beta.
— Exatamente, foi feito por mim com todo amor — Chan sorriu, tomando um gole do café gelado que havia preparado para si mesmo. — Mas eu tô curioso pra saber a história da Jihyo.
— Contar sobre chifre é sempre uma boa opção, não é? — a alfa riu, roubando um pouco da bebida de Chan. — Eu contei pra Somi só como o namoro começou, foi há uns dois anos atrás, conheci ele, a gente se gostou e namoramos por quase nove meses. A gente se dava bem, e ele me tratava como uma princesa…
— O mínimo — o mais novo comentou.
— Cala a boca — ela riu. — Mas aí, eu vinha desconfiando de algumas coisas e aí um dia eu saí com algumas cheerleaders e vi ele saindo de um motel com outra garota.
— Meu Deus, que filho da puta — Nayeon comentou.
— Muito — os demais concordaram.
— Eu sei disso, eu sei — a alfa suspirou, fazendo um biquinho. — Mas até aí tudo bem, a melhor parte vem agora.
— Oh, céus — Chan disse, ajeitando a postura.
— Eu fiquei arrasada, obviamente, voltei pra casa e chorei muito, gritei, foi bem feio — contou. — E eu fiquei pensando o que eu ia fazer, pensei em ir na casa dele, em fazer um escândalo, colocar fogo nas coisas dele, pensei em tanta coisa.
— Você colocou fogo nas coisas dele? — Jisoo perguntou.
— Quase, mas não.
— Ah, que sem graça — Chan resmungou.
Jihyo riu baixo antes de continuar.
— Mas a melhor parte é o que fiz — ela sorriu, animando-se. — Eu conversei com minha mãe e ela disse que se eu fizesse algo tipo o que eu queria, ele não iria se arrepender, ele só iria pensar “como eu traio melhor da próxima vez?”.
— Hum… Isso faz sentido, eu não sei se pessoas assim se arrependem — Somi falou.
— Também acho — Chan concordou. — Não entendo a necessidade de trair, é só ter um relacionamento aberto, gente. Poligamia tá aí pra isso.
— Você teria um relacionamento aberto? — Jisoo perguntou, curioso.
— Sei lá, eu preciso chegar em um relacionamento primeiro pra pensar em abrir ou não — riu brincando com o canudo. — Mas deixa Jihyo continuar.
— Obrigada, meu bem. Então, eu tive essa ideia e eu fiz uma lista com as coisas que ele filho da puta mais amava em si, mas amava muito. Ele se achava engraçado, ele se achava bonito, ele achava que era bom de cama mas não era, eu listei tudo isso e esperei alguns dias, fingi que tava tudo normal, como se estivesse tudo perfeito. Então, eu coloquei meu plano em ação: eu marquei um encontro, num restaurante legal e continuei fingindo que eu estava amando, ele ria e sorria e aí, então, de repente, eu parei de sorrir e eu disse: “eu não aguento mais, eu não consigo mais passar um minuto da minha vida com esse estorvo que você.”
— Ai — Somi exclamou. — Ele descobriu que era por causa da traição?
— Não! Ele nem sonha com isso até hoje — explicou ela. — Quando ele ficou confuso e quis saber porque eu comecei a citar aquela lista que fiz, com as coisas que ele mais amava nele mesmo, eu falei que ele não era engraçado, não era bonito, não era bom de cama, eu falei tudo isso e então eu me despedi e fui embora sem nem olhar pra trás. Foi incrível, eu me senti uma nova mulher desde aquele dia.
— Oh, essa é minha garota! — Chan sorriu, abraçando a amiga que ria. — Você podia ter me dado essa dica quando eu fui traído.
— E como eu ia saber que você tinha dedo podre igual eu? — ela reclamou, cruzando os braços.
— Meu Deus, são três então? — Nayeon suspirou. — Nunca vi como eu só gosto de pessoas lixo.
— Ah, olha só, temos mais uma pro nosso time — Jihyo sorriu olhando Chan.
— Coitada — ele riu. — A gente nem sabe se é verdade.
— Levando em conta a última história que eu ouvi — Jisoo interveio. — É bem ruim, sim.
— Ah, olha quem fala — Nayeon ralhou, fingindo empurrar o beta. — Você se apaixonou pelo seu melhor amigo.
— Ele é uma pessoa maravilhosa, tá? — exclamou. —Só dei azar dele namorar outro cara.
— E a pessoa do vale que nunca se apaixonou por melhor amigo que atire a primeira pedra — Somi disse, apoiando o rosto na mão.
— Eu vou lá pegar uma pedra, ‘pera aí — Chan falou, levantando-se do assento mas logo foi puxado por Jihyo que ria, junto dos outros.
— Você nunca se apaixonou por algum amigo seu!? — a Jeon exclamou, surpresa.
— Eu não, que nojo! — juntou as sobrancelhas. — Amigos, amigos, namoros à parte.
— Ah, mas sexo com amigos pode? — Jihyo pôs as mãos na cintura.
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra — Chan argumentou. — Credo! Tô falando igual allo.
Quando a alfa começou a rebater a fala do amigo, os outros tentaram interferir para acalmar a pequena discussão, mas todos calaram-se quando outra funcionária se aproximou. Ela tinha estatura baixa, esbelta, com cabelos pintados de rosa.
— Chan oppa!
— Oi, Ryujin.
— Tem um garoto procurando por você lá na frente — ela disse. — Cabelo meio enroladinho, alto, usa óculos, muito bonitinho… esqueci de perguntar o nome dele.
— Ah, é o Siwoo — levantou-se. — Vou lá, meninas e menino. Tenho que trabalhar.
— Posso ficar com seu café? — Jihyo se apressou.
— Pode.
— Eu ia pedir primeiro — Somi resmungou.
— Até mais tarde — Chan sorriu, seguindo com Ryujin pelo corredor.
— Eu espero muito que esses dois dêem certo — a Park suspirou, dividindo o café com Somi.
— Chan e Siwoo? — Jisoo perguntou.
— Uhum. Eles são tão fofos juntos — ela acrescentou, fazendo um beicinho.
— Por que eles ainda não namoram? — Nayeon perguntou, curiosa.
— Porque esse besta fica fazendo cu doce — acusou Jihyo. — Mas pra eu jogar sal nele é dois toques…
— Ok, ok, unnie. Respira — Somi pediu, acariciando os ombros da outra alfa. — Eles devem estar flertando nesse exato momento.
— Vocês querem ir lá ver? — Nayeon propôs.
Elas se entreolharam antes de levantarem trazendo seus respectivos copos pela metade e seguirem rapidamente para a frente da loja, onde haviam outros clientes e também um balcão de onde podia-se ver os pratos sendo preparados.
Eles sentaram-se lado a lado nos bancos altos e ficaram observando Chan e Siwoo conversando.
— Vai dizer que eles não são bonitinhos — Jihyo sorriu ao vê-los rir, o mais novo claramente tímido.
— Tô começando a me arrepender de ter dado a ideia da gente vir ver, porque essa cena tá me chamando de encalhada em cinco idiomas diferentes — Nayeon choramingou, apoiando a cabeça no ombro de Jisoo, que apenas riu baixo, dividido entre comer seu bolo e prestar atenção no diálogo do amigo.
— Não precisa ficar triste — Jihyo olhou para ela, segurando sua mão e puxando para perto. — Eu finjo ser sua namorada.
Joshua olhou para Nayeon, que estava com os olhos arregalados e o rosto vermelho como um tomate e não conseguiu segurar um riso alto que lhe escapou. Ele rapidamente cobriu a boca com as mãos quando sua risada chamou atenção de alguns funcionários e clientes.
— Qual foi? — Somi perguntou, olhando para o mais velho sem entender.
— Nada não — Jisoo disse, voltando a comer para disfarçar.
Poucos segundos depois, Chan voltou para trás do balcão, pegando algumas xícaras e se aproximando de onde os demais estavam para pegar os utensílios que precisava para preparar outros pedidos.
— E o que vocês estão fazendo aqui? — franziu o cenho.
— A gente veio ver o flerte descarado entre Siwoo e você — a Park sorriu, apoiando o rosto em uma mão.
— Eu mereço — ele revirou os olhos. — Será que você pode falar pro seu colega pela terceira vez que eu não quero um namorado agora?
— Ah, por favor — ela rebateu. — A gente viu vocês flertando, tem química.
— É, mas eu flerto com todo mundo — argumentou, apertando os lábios em seguida. — Uau, eu fiz slut shame comigo mesmo.
Os mais velhos riram baixo.
— Qual é? Ele é bonitinho — Jisoo se meteu, olhando Siwoo de longe.
— Ouve a voz da razão e a voz do gay — disse Somi apontando para o Hong.
— Eu posso falar que você tá interessado e dar seu número pra ele, Shua hyung. O que você acha? — Chan sorriu debochado para o mais velho.
— Do jeito que ele tá te olhando igual um besta, eu duvido que eu tenha chance — rebateu, devolvendo o sorriso.
O mais novo revirou os olhos, colocando dois pratos na bandeja.
— Só pra sua informação, você olhava pro Jeonghan hyung exatamente assim — retrucou, indo entregar os pedidos.
Fora a vez de Jisoo de rolar os olhos e virar para ver o mais novo entregando os pedidos de outros clientes enquanto sorria de maneira gentil.
— Se isso fosse um filme clichê, eu iria montar uma operação cupido pra esses dois — Jihyo disse.
— O que a gente pode fazer dentro da nossa realidade, que não é um filme, é trancar os dois num armário dentro da escola e deixar eles lá — Joshua sugeriu.
— Eu mato todos os envolvidos — Chan avisou ao passar por eles. — E vocês falam muito alto.
— Cala a boca — a Park retrucou. — Vai trabalhar.
[...]
Algumas horas depois, Jihyo, Nayeon e Somi haviam ido embora da cafeteria e seguiram seus caminhos, enquanto Jisoo continuou no local, mexendo de forma distraída em seu celular e bebendo mais algumas doses de café gelado.
O sol já havia se posto e estava perto da hora de fechar o estabelecimento, Chan e outra funcionária limpavam as mesas e varriam o chão enquanto conversavam e cantavam a música que tocava ao fundo.
— Você já viu aquele vídeo da menina que tava limpando uma loja e começou a dançar Loco? — Ryujin perguntou, sorrindo animada.
— Eu vi! Eu amei — Chan exclamou. — Me identifiquei muito, eu sou assim quando tô sozinho. Deus já viu quantas performances eu já fiz no meu quarto.
A garota riu e se aproximou, entregando a vassoura para o beta.
— Você disse que se apresenta com um grupo também, né?
— Às vezes, mas agora eu ando sem tempo — explicou, arrastando algumas cadeiras para varrer embaixo das mesas. — Mas eu ainda amo dançar e aprender coreografias.
— Eu também, eu tô aprendendo a coreografia de Nude.
— Eu amo essa música! Eu amo o grupo em si, na verdade — chegou mais perto da garota, empolgado com a conversa. — Soyeon é uma das pessoas nesse mundo que eu deixaria pisar na minha cara e eu ainda iria agradecer.
Ryujin riu alto cobrindo sua boca, batendo sem força no maior com o pano que estava usando.
— Eu sou mais da Yuqi, aquela mulher é tão maravilhosa — disse, jogando-se em uma das cadeiras.
— Ah, entendi. Você gosta mais de mulheres fofas, tô certo? — sorriu pra ela.
— Credo, garoto, descansa esse gaydar um pouco — rebateu, voltando a limpar o balcão perto de Jisoo. — E você?
— Eu o que?
Ryujin riu nasalmente.
— Quer mais alguma coisa?
— Não, não. Obrigado — sorriu.
— E tá aqui até tão tarde por que? — Chan perguntou, chegando mais perto e sentando-se ao lado do mais velho.
— Acho meio estranho ficar na casa dos Lee sem o Jihoon ou Soonyoung lá — explicou com uma pequena careta. — E eu não sabia que você saía tão tarde, então vou te levar em casa.
— Own, que fofo — ele riu, apertando a bochecha de Jisoo. — Meus pais buscaram Minho na escola hoje, então eu aproveitei pra fazer hora extra já que eu ainda não odeio esse trabalho e minha lista de coisas inúteis que eu quero comprar é muito grande.
— É pra isso que você tá trabalhando? — Joshua perguntou.
— É claro — sorriu ao levantar-se. — Eu sou um adulto agora, infelizmente, então eu tenho um trabalho de adulto, e eu vou ser pago por esse trabalho e vou usar esse dinheiro pra comprar coisas infantis. Tipo isso! — puxou do bolso um chaveirinho com um pikachu de pelúcia. — Fofo, né?
— Quanto você gastou nisso? — Ryujin perguntou, apoiando o rosto na mão.
— Nada, eu ganhei dos meus pais, mas eu vou comprar o Eevee que é meu pokémon preferido — explicou, guardando o objeto. — Mas, enfim, já são oito horas, eu vou indo, Ryu.
— Tudo bem, obrigada pelo trabalho de hoje — ela sorriu.
— Eu só vou tirar o uniforme e a gente pode ir, ok? — disse para Jisoo, deixando o pikachu na mão dele para que ele pudesse tirar o avental marrom.
— Ok, vai lá, eu espero.
Chan acenou com a cabeça e foi para os fundos da loja, onde ficava a sala dos funcionários. Não demorou muito e logo ela estava de volta, usando suas roupas casuais e trazendo uma bolsa preta no ombro.
— Pronto! Podemos ir? — sorriu animado indo até a porta.
— Claro — Joshua concordou, deixando uma nota de dinheiro no balcão.
— Tchau, pessoal. Bom domingo pra vocês!
Logo, os dois saíram do café se despedindo de Ryujin e outros funcionários, Chan pegou sua bicicleta e andou calmamente ao lado de Jisoo.
— Você vai voltar pra casa do Jihoon?
— Não sei, não tava muito afim — fez bico. — Não entenda mal, eles são muito gentis mas é só… estranho.
— Eu imagino — murmurou. — Bem, se você quiser viver uma aventura, você pode ir lá em casa.
Joshua juntou as sobrancelhas e olhou-o.
— Pra sua casa?
— Não, pra casa da mãe Joana — ironizou, tendo que se proteger quando Joshua bateu em sua nuca.
— Para de ser besta.
— Se você não quer uma resposta sarcástica, não faça uma pergunta idiota, minha mãe sempre diz — Chan retrucou. — Mas, sim, minha casa. Mas seria uma aventura mesmo, porque meus pais não gostam muito de visitas, então você teria que escalar a árvore até a janela do meu quarto que é no segundo andar, e ficar escondido até eles irem dormir.
— Tipo uma fuga da prisão, mas ao invés de sair, eu estaria entrando? — arqueou uma sobrancelha.
— Se isso vai te servir de consolo — encolheu os ombros.
Jisoo riu nasalmente e balançou a cabeça.
— Por mais emocionante que pareça — começou olhando para o menor, que sorriu fechado. — Eu vou ter que recusar seu convite. Acho melhor voltar pra casa dos Lee.
— Você que sabe — Chan deu de ombros e montou na bicicleta. — Sobe aí, eu te levo.
— Nem fodendo, você pedala como se estivesse numa corrida — negou rapidamente.
— Ah, deixa de ser marica — rebateu fazendo uma careta.
A fala, entretanto, apenas fez com que Jisoo fechasse ainda mais sua expressão, o que deixou o mais novo confuso.
— O que? Eu não falei sério — justificou-se.
— Eu sei, mas eu odeio essa palavra — voltou a caminhar com os olhos voltados para o chão.
— Ah, me desculpa, eu não sabia — pediu, apressando-se um pouco para ficar ao lado dele. — Deixa de ser fresco então, e sobe na bicicleta.
— Nem pensar, qualquer dia você vai ser atropelado e eu não quero estar presente — recusou novamente.
— Ugh, tá bem. Você pedala, então — desceu e empurrou o guidão para o maior.
— Que?
— Anda, você tem medo de mim e eu tô cansado por trabalhar o dia todo — disse com voz manhosa, formando um beicinho.
Jisoo suspirou revirando os olhos e aceitou a ideia, subindo na bicicleta e esperando que Chan estivesse nas pedanas, segurando em seus ombros, para começar a pedalar.
— Tô tendo um déjà vu — ele comentou, tendo vontade de fechar os olhos ao sentir o vento soprando em seu rosto.
— É? Do que? — Chan perguntou interessado, curvando-se um pouquinho para que pudesse chegar seu rosto mais perto de Joshua, quase encostando suas bochechas.
O mais velho riu nasalmente com o ato.
— Da última vez que eu saí com Jeonghan — contou, com aquele ar melancólico. — A gente passeou de bicicleta pela cidade, e depois eu ensinei ele a andar porque o medroso nunca tinha aprendido.
Chan sorriu pequeno com o relato, apertou o ombro de Jisoo sem ter muita certeza do que deveria falar.
— Sinto muito que vocês não tenham dado certo — disse baixo.
— Você achava que a gente podia dar certo?
— Não é isso. Eu só… por mais que eu soubesse, eu nunca pensei de verdade se tinha possibilidade. Eu achei que você ia superar uma hora ou outra, não que iria afastar ele e tals.
— Ia ser muito difícil superar estando tão perto dele — ele suspirou. — Nossa relação era muito próxima, toda vez que eu via ele, eu tinha uma ilusão diferente, e isso não era bom.
— Acho que entendo, mesmo não entendendo… — murmurou. — Eu não entendi, mas compreendo.
Jisoo riu pelo nariz.
— Valeu — suspirou. — Ainda tá sendo muito difícil tudo isso, eu ainda acordo todo dia no mesmo pesadelo, mas alguns dias são melhores do que outros.
— Eu sei. Já tá ficando chato eu repetir toda vez que vai passar, então eu vou só sorrir e acenar dessa vez — a fala fez Joshua rir.
— E eu nem vou conseguir ver, seu tapado — retrucou.
— Não por isso, ó — colocou a mão na frente do rosto dele.
— Para, seu maluco! — exclamou, lhe acertando com o cotovelo. — Quando você não tá indo mais rápido que o Bolt, você cobre meus olhos. Se você quer morrer, é só falar.
— Uau! Você é tão dramático! — riu, segurando seus ombros com mais força.
— Eu mereço — murmurou.
— Voltando um pouco o assunto, sobre você acordar todos os dias, você confia em pessoas que dormem no meio do dia? — perguntou.
— Tipo… soneca?
— É! Tipo isso — exclamou. — Eu não confio em alguém que tem coragem de acordar duas vezes no mesmo dia, isso é coisa de maluco.
— Você que é maluco — rebateu, rindo junto dele.
Não demorou muito para que tivessem chegado, e desceram da bicicleta.
— Valeu pela… pseudo carona, eu acho — Joshua disse, devolvendo o guidão para o menor.
— Por nada, e obrigado por ter esperado eu sair — sorriu, montando. — Ei, você vai fazer alguma coisa amanhã?
— Hum, não. Não tenho planos — deu de ombros. — Por que?
— Tá afim de ir num lugar legal?
— Defina “lugar legal” — cruzou os braços.
Chan rolou os olhos.
— Você quer ou não? Eu prometo que você vai gostar — insistiu, fazendo manha ao puxar a manga do casaco de Jisoo.
— Tá bem, vamos — concordou.
— Yay! — sorriu. — Ok, eu te busco aqui perto das quatro da manhã.
— Beleza, só… 'Peraí, quatro da manhã!?
— É. Só confia em mim — piscou para ele e começou a pedalar de volta pra casa. — Eu te ligo antes de sair de casa!
— Ele não tá falando sério — Jisoo murmurou antes de entrar.
[...]
Joshua não acreditou quando o toque de seu celular lhe acordou às 04:55 da manhã, e se amaldiçoou por não ter posto o aparelho no silencioso. Também não se preocupou em ver quem estava lhe ligando e apenas atendeu.
— Shua hyung, você tá pronto?
— Você tá falando sério, garoto? — resmungou, apesar de já estar se levantando quase automaticamente.
— Que sirva de lição pra você nunca duvidar da minha palavra — riu do outro lado. — Anda logo, daqui cinco minutos eu tô aí, e eu tô levando maconha.
— Eu fumo com você uma vez e você acha que eu sou maconheiro? — reclamou colocando o celular no viva voz enquanto se vestia propriamente.
— É, tipo isso — riu novamente. — É a mesma vibe de… por exemplo, eu cozinho um prato, eu não sou um cozinheiro. Eu aprendo uma coreografia, eu não sou um idol. Mas se eu matar uma pessoa… !
— Eu não acredito que eu ri disso — Jisoo lamentou. — Vem logo antes que eu volte a dormir.
— Já tô a caminho, baby, relaxa — sorriu. — Me espera na frente da casa.
Joshua desligou a ligação e esfregou o rosto.
— Não consigo acreditar nesse moleque.
O beta pulou a janela com cuidado para não fazer barulho, preocupado em deixar a porta da casa destrancada aquela hora, e esperou por Chan no pátio.
Sentia seu coração batendo rápido com aquela emoção, sentia-se um adolescente rebelde fugindo no meio da noite para fazer alguma coisa que não deveria estar fazendo. Pensava se aquela era sua fase de rebeldia vindo tardia, agora que tinha uma certa liberdade e não sentia-se mais preso aos seus pais, mas não ele não sabia dizer.
Ele despertou de seus pensamentos quando o mais novo chegou com a bicicleta e subiu na calçada para lhe esperar.
— E aí, pronto? — sorriu animado, tirando um lado de seu airpod e entregando para o maior. — Eu não consegui dormir, então eu fiz uma playlist nesse meio tempo.
— Seria homofobia eu dizer que isso é meio gay? — juntou as sobrancelhas fechando o portão após sair.
Chan riu alto, negando com a cabeça.
— Eu não sei, você quer fazer ser gay? — tocou o queixo dele com o indicador, piscando um olho e sorrindo de canto.
— Existe algum tipo de pessoa que você não flerta? — Jisoo perguntou, afastando o toque e subindo na bike.
— Hum… lésbicas, crianças e velhos — citou voltando a pedalar pelo asfalto. — Na verdade, depende quanto dinheiro o velho tenha.
— Que nojo! — exclamou em meio a uma gargalhada.
— Tô brincando! — riu também. — Eu esqueço que não posso fazer esse tipo de brincadeira com você, você vai achar que eu sou realmente assim.
— Nah, acho que já te conheço bem o suficiente pra saber que você fala bastante besteira — acalmou, apoiando a cabeça no ombro dele. — Aliás, obrigado por estar indo devagar.
— Sem problemas, eu não quero acabar te matando do coração, vovô — brincou, encolhendo-se quando Jisoo tentou lhe fazer cócegas como forma de vingança. — Yah! Para, eu vou te derrubar!
Joshua riu divertido e voltou a segurar nos ombros de Chan com firmeza, fechando os olhos ao sentir a brisa gelada da madrugada em seu rosto.
Enquanto eles não chegavam, ele parou para prestar atenção na música que tocava da playlist. A melodia não era o tipo de coisa que ele ouviria normalmente, e também não achava que Chan gostaria de músicas naquele estilo com uma batida mais puxada para o rock e com uma letra que ele não sabia se havia ouvido corretamente.
Feels like I'm gonna D-I-E, whenever you get close to me
(Parece que vou M-O-R-R-E-R, sempre que você chega perto de mim)
It's way too hot in Michigan, I'm changin' the subject again
(Está muito quente em Michigan, estou mudando de assunto novamente)
My heart is melting and my hands are weak
(Meu coração está derretendo e minhas mãos estão fracas)
I could cry when I hear you speak, but that just makes me angry
(Eu poderia chorar quando ouço você falar, mas isso só me deixa com raiva)
I wanna kiss you on your cheeks, but I also wanna punch your teeth
(Eu quero beijar suas bochechas, mas eu também quero socar seus dentes)
I just don't get it, I, I just don't know
(Eu só não entendo, eu, eu só não sei)
Don't know if I hate you or if I wanna date you
(Não sei se te odeio, ou se quero namorar você)
Put you in a bodybag instead of my bed
(Te colocar num saco de cadáveres ao invés da minha cama)
I don't wanna like you, I just wanna tie you up
(Eu não quero gostar de você, eu só quero te amarrar)
And keep you in a cage and watch you sleep for ages
(E te manter numa jaula e te ver dormir por muito tempo)
I wanna keep you in a cage and watch you sleep for ages
(Eu quero te manter numa jaula e te ver dormir por muito tempo)
— Que porra de música é essa? — Jisoo exclamou após ouvir o refrão.
Chan riu com a reação e encolheu os ombros.
— É Bodybag da Chloe Moriondo, ela é minha mais nova paixão — contou animado. — Eu conheci ela porque tem uma música dela em Heartstopper, aí eu comecei a ouvir e quanto mais eu ouço, mais eu tenho certeza de que ela é minha alma gêmea.
— Você quer dizer… de verdade?
— Não — ele riu. — Força de expressão. Mas eu me identifico muito com as músicas dela, é como se ela escrevesse pra mim, entende?
— Hum… mais ou menos, só senti isso com uma música do Troye Sivan — contou nostálgico.
— Eu amo ele! — Chan sorriu animado. — Deus sabe o quanto eu surtei com Blue Neighborhood.
— Sim! Aqueles vídeos me fizeram perceber que, meu Deus, eu realmente gosto de homens — choramingou, apesar de rir também.
— Eca! — fez careta.
— Ah, qual foi? — reclamou, colocando uma mão na cintura. — Você também gosta de homens, seu hipócrita.
— Não, eu gosto de mulheres — corrigiu. — Eu suporto homens porque me sinto atraído por eles.
Joshua riu, abraçando Chan pelos ombros e apoiando o rosto no topo de sua cabeça.
— Ok, justo — disse.
— Qual era a música que você tava falando?
— Ah, era Heaven. Já ouviu?
— É claro, ela é quase um clássico pra gays que cresceram em famílias religiosas — exclamou, parando a bicicleta ao que chegaram em um prédio.
— Sua família também é religiosa? — perguntou curioso. — Não, espera, antes me diz o que a gente tá fazendo aqui.
— É esse o lugar que eu falei — disse enquanto prendia a bicicleta com uma corrente que trouxera na mochila. — Vem, tá tranquilo.
Puxando o mais velho pela mão, Chan se aproximou da porta dos fundos e buscou uma chave no seu bolso.
— Que lugar é esse? — segurou o braço dela. — Você não vai me fazer invadir nada, né?
— Quer relaxar? Minha avó mora nesse prédio, eu tenho a chave — mostrou o chaveiro. — Meu Deus, você duvida muito de mim.
— Acho que eu duvido muito de todas as pessoas — suspirou cruzando os braços.
— Aí é um assunto pra tratar na terapia — respondeu e deu espaço para o mais velho entrar. — Nós vamos até o terraço, então espero que você esteja em forma.
Joshua juntou as sobrancelhas ao olhar o enorme lance de escadas que parecia infinito lá debaixo.
— Por que não pegamos o elevador?
— E tirar toda a graça? Até parece — piscou começando a subir os degraus. — Anda, não é muito alto, não.
— Cara, eu te odeio — ele resmungou, indo atrás.
— Reclama menos, e anda mais — puxou-o pela mão. — Se a gente continuar conversando, você nem vai perceber que são mais de dez andares.
— Dez andares!? — exclamou indignado. — Nananinanão! Esquece, eu sou sedentário, não vou aguentar subir tudo isso.
— Larga de ser chato, garoto! — Chan o segurou quando ele deu meia volta. — Às vezes eu pergunto como a gente é amigo se você é chato desse jeito.
— Ah, me poupe — empurrou-o sem força. — E eu sou mais velho que você, me respeita.
— Oh, me desculpe, hyung-nim — segurou a mão dele, fazendo biquinho.
— Você tá parecendo o Gato de Botas assim — apontou, rindo contido.
Chan o acompanhou na risada e eles voltaram a subir as escadas lado a lado.
— Ele é fofo, então eu aceito como elogio — esbarrou seu ombro no dele. — Eu tava ocupado hoje e nem perguntei como foi seu dia, percebi que você tava meio… pra baixo quando chegou no café.
— Ah, eu tinha ido na terapia com meus pais mais cedo…
— Você conseguiu convencer seus pais a fazer terapia!? — perguntou surpreso, ficando alguns degraus à frente para conseguir olhá-lo.
— Hum… mais ou menos, eles quiseram fazer terapia familiar pra tentar me convencer a voltar pra casa — explicou. — Obviamente não deu certo, mas isso pode ser muito bom, né?
— Isso é fucking maravilhoso! — deu pulinhos no lugar. — Se meus pais fizessem terapia eu nunca mais iria reclamar de nada na vida.
Jisoo riu baixo, bagunçando os cabelos do menor.
— É, mas a primeira sessão foi bem complicada. Ainda é ruim ficar perto deles — suspirou, segurando no corrimão para continuar subindo. — Por isso eu tava meio pra baixo quando chegamos lá. Mas depois de conversar com as meninas eu me senti muito melhor, elas são muito legais e nós conversamos sobre nossas sexualidades, sobre os parceiros e essas coisas… e foi de uma forma tão natural, ninguém fez um grande caso de qualquer coisa e eu me senti acolhido, sabe?
Chan sorriu terno, concordando com a cabeça.
— Sei, sim. É bom estar com pessoas que não dão a mínima pra quem você beija ou deixa de beijar. E você tá cercado de pessoas assim — abraçou-o de lado.
— Acho que Deus ficou com pena de ter me feito gay numa família homofóbica e aí, pra compensar, colocou amigos bons na minha vida — ponderou, tropeçando nos degraus quando tentaram seguir ainda colados.
— Bons não, maravilhosos! — exclamou.
— Ok, maravilhosos — concordou, rindo baixo junto dele. — A gente tá chegando?
— Estamos quase — Chan garantiu, segurando-o pela mão e apressando o passo.
Mais alguns lances depois, os garotos finalmente chegaram no terraço do prédio. O vento soprava forte e gélido, Chan se arrependeu de não ter trazido um cobertor, mas não deixou aquilo lhe abalar.
Puxou o mais velho pela mão para que eles sentassem perto do parapeito.
— Você não vai nos jogar daqui, né? — ele perguntou, relutando em chegar perto da beirada.
— Ai, pelo amor de Deus, para de fazer tantas perguntas — retrucou o menor, puxando-o com mais força para se aproximarem. — Só senta aí e me ajuda a acender o cigarro.
Joshua suspirou pesado e sentou-se ao lado de Chan, usando suas mãos para fazer uma barreira contra o vento enquanto a mais nova acendia seu isqueiro.
— Caralho, o fogo é rosa! — Jisoo exclamou empolgado.
Chan riu baixo, tomando cuidado para não derrubar o baseado que estava entre seus lábios, e deixou que o maior pegasse seu isqueiro cor-de-rosa da Hello Kitty.
— Eu vi numa loja uma vez e não resisti — contou, vendo o outro encarando a chama rosada como uma criança. — Só não vai gastar todo gás.
— Ah, tá. Foi mal — fechou o objeto e devolveu para ela. — Só achei legal.
— Essa é sua primeira vida? — perguntou ao lhe passar o fumo.
Jisoo, em resposta, juntou as sobrancelhas.
— Como assim?
— Sei lá, você fica todo abobalhado com umas coisas tão simples — tentou explicar, observando-o tragar devagar. — Parece que sua alma nunca esteve na terra antes.
— Que viagem isso aí — respondeu, tossindo fraco pela ardência em sua garganta. — Eu nem sabia que você acreditava em reencarnação e essas coisas.
— É uma das poucas coisas que eu acredito realmente — contou, apoiando a cabeça sob a mão. — Se nenhuma energia se perde, e sim se transforma, por que isso não iria valer pra nossas almas?
— Hum. Faz sentido, na verdade — ele murmurou, chegando um pouco mais perto de Chan. — Eu não tenho mais certeza do que eu acredito. Quer dizer, eu acredito em Deus e em Jesus, mas o catolicismo só não faz mais sentido pra mim.
— Então você é cristão, pronto — apontou pegando o cigarro e levando aos lábios. — E como você é gay, pode ser cristão protestante.
— É, pode ser também — deu de ombros. — Só que é foda como meus pais nunca me deixaram livre pra eu descobrir em qual crença eu acredito.
— Que merda, mesmo. Pelo menos nesse quesito meus pais não enchem meu saco, eles também não acreditam em muita coisa — contou, observando a fumaça branca ser levada pelo vento.
— Queria eu que meus pais não acreditassem em nada, metade dos problemas estariam resolvidos — resmungou.
— Infelizmente o mundo não é perfeito, mas se você quer ouvir como a religião católica é muito mais um método pra controlar as pessoas, você pode conversar com Minghao hyung, ele adora falar sobre isso — disse o menor.
Joshua riu baixo, apoiando a cabeça no ombro do mais novo.
— Qualquer dia eu puxo esse assunto.
— Sabe o que é muito louco também? Que existem mais de quatro mil religiões no mundo inteiro, e as pessoas julgam muito mais ateus que não acreditam em nada, do que pessoas que acreditam em somente uma coisa — tentou explicar, entregando o cigarro pra Jisoo novamente e fazendo gestos com as mãos. — Mas se parar pra pensar, acreditar em nada e acreditar somente em uma coisa, é algo muito equivalente.
— Acho que você já tá viajando demais — apontou o maior. — Mas acho que eu entendi seu ponto.
Então caíram em um silêncio momentâneo, onde as únicas coisas que podiam ser ouvidas eram os sons da cidade ao longe e o vento soprando forte.
— Me diz algo que você nunca disse em voz alta — Chan pediu, olhando-o com cuidado.
Ele pensou por um tempo, observando os prédios e sentindo o vento em seu rosto.
— Eu… também sinto atração por garotas.
— Não! Tem que ser uma verdade — apontou, estapeando seu braço.
Jisoo riu, tentando se proteger do ataque.
— Você não me disse isso — argumentou, segurando sua mão para contê-lo. — Ok, uma verdade que eu nunca disse em voz alta… isso é difícil.
— Não precisa ser algo muito profundo, nem nada.
— Ok — pensou por mais tempo. — Às vezes, sem nenhum motivo aparente, eu tenho vontade de me machucar. Seja me arranhando ou… sei lá, usando pílulas de novo. E não é que eu queira morrer ou me ver machucado, parece mais uma curiosidade pra ver até onde eu aguento… e eu sei que isso é muito fodido, queria entender de onde vem isso, mas eu não sei. E eu nunca faria algo parecido, eu juro.
— Você devia falar isso na terapia — aconselhou Chan, tragando lentamente antes de entregar o fumo para o mais velho.
— Eu vou, prometo — garantiu, aspirando a fumaça.
Soltou a respiração fechando os olhos, sentindo o corpo começando a relaxar.
— Agora é sua vez — Jisoo disse, tocando Chan com seu cotovelo. — Me diz algo que você nunca disse em voz alta.
— Uma verdade ou qualquer coisa? — ergueu uma sobrancelha para ele.
— Uma verdade — riu baixo.
Chan soltou um riso nasal, virando o rosto para a frente ao pensar em sua resposta.
— Eu já… me machuquei uma vez — contou. — De propósito, sabe?
Joshua olhava Chan atentamente, talvez até um pouco preocupado. Abraçou seus joelhos e chegou mais perto.
— Por que?
— Fiz sem pensar, acho que tava numa crise — respondeu, afastando-se um pouco para puxar a bermuda que usava até perto da virilha, mostrando uma cicatriz em sua coxa. — Foi um caso isolado, sabe? Achei que ia ajudar a descontar toda raiva e dor que eu tava sentindo, mas não ajudou.
— Acho que nunca ajuda.
— Com certeza, não — concordou, ajeitando suas roupas e aproximando-se novamente, deitando a cabeça no ombro do beta. — E por mais… problemático que seja, acho que isso me ajudou a perceber uma coisa.
— O que?
— Que não é de mim que eu tenho raiva, é do mundo — disse, sentindo vontade de chorar sem que conseguisse explicar porque. — Eu não me acho alguém ruim, também não me acho perfeito, óbvio, mas o que o mundo faz com as pessoas é muito injusto, e isso que me deixa revoltado, então eu não vou ficar bravo e descontar em mim as frustrações que eu tenho contra o mundo!
Jisoo riu baixinho, admirando a forma como Chan falava bravo, parecendo determinado também, o que ele invejava de certo modo.
— O que você vai fazer, então?
— Eu já disse uma vez: eu não vou aceitar as coisas que não posso mudar, eu vou mudar as coisas que não posso aceitar.
— Good one — Jisoo respondeu, brincando com o amigo.
Chan apenas riu baixo, puxando a fumaça devagar.
Voltaram a ficar em silêncio por um momento, apenas aproveitando a presença um do outro e a brisa fresca.
— Ai, que droga, agora tô com uma música na cabeça — Chan resmungou.
— Qual?
— É ridículo, é uma música do musical da Matilda — explicou, tocando a própria têmpora. — É aquela: Nós somos crianças revoltadas, vivendo em tempos revoltantes, nós cantamos músicas revoltantes, usando rimas revoltantes — cantou.
Joshua soltou uma pequena gargalhada, lembrando de ter ouvido a música em algum lugar.
— Como você decorou isso?
— Eu tenho dois irmãos, um deles tem sete anos — apontou Chan. — Eu decorei esse filme inteiro. Eu sei cantar todas as músicas da Disney. Literalmente, todas.
Jisoo estreitou os olhos.
— Você não decorou as músicas da Disney por que você, na verdade, gosta? — insinuou, o que o fez revirar os olhos.
— Admito, que tenho algumas na minha playlist, mas por que eu iria querer saber a letra da música dos gatos siameses da Dama e o Vagabundo? — olhou para o mais velho, incrédulo. — Mas, é verdade, eu amo algumas músicas da Disney. Eu adoro musicais, na verdade, acho que se tocassem músicas de musicais nas boates, as pessoas iriam se apaixonar mais e seriam mais felizes.
Joshua riu outra vez, negando com a cabeça antes de tragar.
— Você já teve alguma paixão muito avassaladora? — perguntou curioso, voltando a olhá-la. — Algo tipo…
— O que você sente pelo Jeonghan?
Ele suspirou, lembrando-se da tristeza escondida em seu peito.
— Tipo isso.
— Hum… Acho que já, mas não acabou bem — contou Chan, brincando com suas unhas de forma distraída. — Parece que grandes paixões nunca acabam bem.
— O que aconteceu?
— Eu ganhei um par de chifres — riu sem humor. — Eu conheci ela numa festa pra pessoas da comunidade, e ela era tão linda e engraçada — tocou o próprio peito. — A gente se aproximou, eu me apaixonei perdidamente, e começamos a namorar e era tudo perfeito, mas… duas semanas depois, eu peguei ela no flagra com outro cara. Eles não estavam transando nem nada, eu vi eles se beijando atrás da escola — explicou, fungando baixo e afastando uma lágrima, recusando-se a chorar por aquilo outra vez. — E, diferente de Jihyo, eu perdi a cabeça na hora, eu comecei a gritar, eu chorava… foi tenso. E aí terminamos, e eu nunca mais quis me apaixonar de novo.
— Isso faz quanto tempo?
— Um ano mais ou menos — deu de ombros, incerto.
— Eu sinto muito que tenha acontecido — lamentou Jisoo, abraçando-o de lado. — Ela não valia nada.
— É, eu sei. Eu demorei pra entender que o problema tava nela, e não em mim — confessou, aconchegando-se no abraço do maior. — Mas eu superei, comecei a cuidar de mim e hoje em dia eu tô inteiro, são e salvo.
— Tirando a parte que você não se apaixona mais — apontou.
Chan fez careta ao encolher os ombros.
— Acho que eu não preciso disso agora. Tô bem tendo meus amigos pra sair e a escola pra terminar — ponderou. — Acho que posso pensar em me abrir de novo quando entrar na faculdade.
— Hum. Isso se o Siwoo não roubar seu coração antes disso.
— Oh — Chan riu, afastando-se do enlaço e pegando o cigarro. — Eu fico com pena, sabe? Eu já disse pra ele desistir, que eu não quero um relacionamento agora, mas ele é muito insistente. Aí é complicado.
— Pois é, eu imagino sua dor. Pensa só, tem um cara bonito e gentil apaixonado por você, e ele não desistiu de te conquistar mesmo já tendo levado um fora — disse Jisoo, fazendo careta como se dissesse algo muito triste. — Mas você é forte, Chan, você vai conseguir passar por isso.
— É… — ele juntou as sobrancelhas, olhando para o outro. — Você fica bem menos atraente quando tá tentando ser sarcástico — retrucou entredentes, fazendo uma expressão desgostosa. — Melhor não fazer mais isso.
— Ah, tá — desdenhou, revirando os olhos.
— Acredita em mim — riu. — E você é meio idiota, porque você é bonito, então tem muitas pessoas querendo ficar com você.
— Que mentira! — acusou.
— Não é mentira, eu posso falar com umas três agora só de brincadeira — argumentou, puxando seu celular.
— Não precisa, eu realmente não quero saber se for verdade — interrompeu, fechado os olhos ao deitar a cabeça no ombro de Chan. — Ainda não superei o que eu sinto pelo Jeonghan, e eu não quero ficar com outra pessoa, não é muito meu estilo ficar com qualquer um, principalmente pessoas que eu não conheço.
— Hum. Devo fazer um bolo pra comemorar sua descoberta como assexual? — brincou.
O mais velho riu, empurrando-o sem força.
— Cala a boca, não é isso — retrucou, abraçando seus joelhos outra vez. — Eu quero… sexo e essas coisas, só que… sei lá, acho meio estranho isso de beijar uma pessoa que você nem conhece, sabe?
— Sei, sim — respondeu. — Também não curto muito isso, eu só fico com pessoas que eu conheço. Mas isso vai de cada pessoa.
— Sim, eu sei. Acho que eu também não ficaria confortável em dar meu primeiro beijo pra alguém que eu nunca mais iria ver, ainda mais que provavelmente seria uma merda, aí o cara iria achar que eu beijo mal — argumentou, soltando a fumaça do fumo.
— Você nunca beijou!? — Chan exclamou, um pouco surpresa.
— É… quer dizer, eu beijei Nayeon uma vez, quando a gente tava bêbado mas foi bem estranho porque a gente era muito amigo…
— E também homossexuais.
Jisoo riu.
— Sim, isso também — concordou. — Mas, beijar de verdade, nunca beijei ninguém.
— Você já me roubou um beijo aquela vez — Chan apontou, levando o cigarro até os lábios.
O mais velho revirou levemente os olhos.
— Me desculpa por isso, eu não pensei direito — pediu, envergonhado.
— Ah, para, tô só implicando. Não é como se você tivesse tirado minha virgindade ou algo assim — disse descontraído, cutucando-o. — Mas teria sido engraçado se você tivesse beijado o Jeonghan.
— Aham, seria — ironizou. — Não quero nem imaginar o que aconteceria, eu não sou tão burro assim.
— Bem, águas passadas — Chan suspirou, esticando os braços. — Acho que você tá mais esperto agora, e tá mais perto de superar esse crush.
— Espero que sim — murmurou.
— Você começou a fazer alguma coisa pra se distrair desses sentimentos? Ou você ainda tá na fase da catarse?
— Hum… acho que já passei dessa, tirei o pior do meu peito no karaokê com Nayeon um dia — contou, olhando para as estrelas indo embora. — A gente conversou sobre nossos amores falidos, comemos e cantamos muitas músicas, muito alto. Como você disse, eu chorei até não ter mais lágrimas.
Chan sorriu ouvindo o relato, apagando a bituca do cigarro e aproximando-se de Jisoo quando sentiu um pouco de frio pelo vento.
— Você é tão sortudo, sabia?
Joshua juntou as sobrancelhas.
— Por que?
— Por ter Nayeon como sua melhor amiga — disse. — Ela é realmente fantástica! Se ela não fosse lésbica, eu com certeza iria flertar com ela.
O mais velho riu nasalmente, refletindo rapidamente sobre as palavras do amigo.
— Eu já falei que me apaixonaria por ela. Se nós fossemos héteros, eu super casaria com ela — sorriu de canto. — Mas eu entendo o que você quis dizer, sobre o negócio da sorte. Jeonghan é minha alma gêmea e eu amo ele, nossa conexão é algo que eu não consigo explicar, mas quando tô com a Nayeon, é como se ela fosse minha alma gêmea também, mas é diferente ao mesmo tempo porque… nós escolhemos um ao outro, entende? Jeonghan e eu estávamos predestinados a nos encontrarmos, mas meu encontro com Nayeon foi uma coincidência e eu agradeço a Deus por isso. Ela é tipo a alma gêmea que eu escolhi.
Chan sorriu ao final da declaração, apoiando o rosto nos joelhos e fechando os olhos.
— Eu tenho um pouco de inveja de vocês, sabia? — contou. — Eu sei que tenho amigos incríveis e muitos amigos, mas eu não sei se tenho alguém com esse tipo de conexão. Alguém que estaria disposto a fazer qualquer coisa por mim, por mais que eu tenha me esforçado demais pra ajudar pessoas que não mereciam… Sei lá, tô só viajando.
Jisoo acenou com a cabeça, mesmo que o outro não estivesse vendo, e pensou no que ele dissera. Aproximou-se e mexeu em seus cabelos.
— Você acha que eu mereço sua ajuda?
— Como assim? — abriu os olhos.
— Você disse que ajudou pessoas que não mereciam, e você me ajudou muitas vezes — explicou. — Valeu a pena?
— Eu continuo aqui, não? Se eu não achasse que vale a pena, eu já teria parado de falar com você desde aquela festa que você tentou me beijar — apontou, rindo quando viu Joshua revirar os olhos e desviá-los de maneira envergonhada.
— Eu já pedi desculpas, você não vai parar de voltar nesse assunto?
— Desculpa, eu só acho engraçado como você acha que foi grande coisa — retrucou rindo. — Você pegou até na minha bunda e agora fica com vergonha de falar sobre isso?
— Eu não peguei na sua bunda!
— Pegou, sim! Tava tão bêbado que nem deve lembrar — acusou, abraçando os joelhos. — Mas isso não importa. O que é que você tava falando?
— Eu até esqueci — reclamou, empurrando os cabelos para trás, tentando relembrar. — Eu ia falar que como você me ajudou muitas vezes, e algumas eu nem merecia, nada mais justo que eu te ajudar quando você precisar. O problema é que a gente nunca sabe quando você precisa de ajuda. Você é sempre tão… vivo, confiante e alegre. Acaba que eu só te vi mal uma vez, então meio que eu não sei quando te ajudar. Fez sentido?
Chan concordou sem dizer nada, suspirou pesado e permaneceu em silêncio. Tinha o que falar na ponta da língua, preso na garganta e querendo sair, mas ele não conseguia achar a coragem necessária para o fazer. Abriu e fechou a boca várias vezes, pensando com qual palavra começar e não conseguindo escolher nenhuma.
Jisoo, por sua vez, também ficou em silêncio, apenas observando e esperando pelo tempo do mais novo, era perceptível que ela queria falar, então aguardou pacientemente, até que ouviu:
— Eu sei lá, eu… Eu tento ser forte, e eu não gosto de mostrar quando tô tendo problemas — confessou, secando rapidamente algumas lágrimas que escaparam de seus olhos. — Desde criança eu aprendi a me virar sozinho, e não dar trabalho pros meus pais e isso me fazia um bom filho, mas me acarretou um monte de trauma também… É só complicado. E agora que eu tenho meus irmãos, eu tenho medo de acabar sufocando eles por estar sempre em cima, insistindo pra que eles contem comigo e não se sintam sozinhos… E ao mesmo tempo eu penso: eu fiz dezoito anos há pouco tempo, por que parece que eu sou o único adulto naquela casa? Por que eu tenho que ser o responsável por tudo ficar bem?
— Você não… não precisa ser — afirmou o mais velho, chegando mais perto dele e o abraçando de lado. — É mais ou menos isso que eu quero dizer, você age de forma tão madura que às vezes eu esqueço que você é mais novo, você é a caçula dos nosso grupo de amigos e é difícil a gente te ver assim.
— Acho que não me acostumei depois de dezoito anos sendo o mais velho na minha família — murmurou, apoiando a cabeça no ombro de Joshua, permitindo-se chorar sem fazer nenhum som. — É só… eu não sei.
— Tudo bem — disse, acariciando os cabelos dela como uma tentativa de acalmá-la, até mesmo deixou um beijo singelo em sua testa. — Eu não sei como ajudar sobre suas questões com sua família, mas você pode me ver, ver nossos amigos, como um refúgio, como seus irmãos mesmo — afirmou. — Você pode se abrir com nós e se apoiar na gente. Também pode agir como caçula. Ninguém vai te repreender por isso, eu garanto.
Então, Chan sorriu em meio às lágrimas, maneando a cabeça para mostrar que havia ouvido.
— Obrigado, hyung — sussurrou, esfregando o rosto em seu ombro.
— Imagina — respondeu, mexendo nos fios escuros de forma distraída.
O mais novo havia fechado os olhos em apreciação a carícia, a maconha fazendo efeito e deixando seu corpo leve e as pálpebras pesadas, tudo junto lhe deixando com sono, então ele se afastou antes que acabasse mesmo dormindo.
— Eu ia falar… — Chan disse, limpando sua garganta. — Eu ia perguntar, na verdade, se você já passou da fase de catarse, você já começou a fazer algo pra te distrair?
— Tô pensando nisso ainda. Acho que não tem nada realmente que eu queira fazer ou aprender — deu de ombros. — Tô tentando achar um emprego de meio período, mas é bem difícil quando não se tem experiência.
— Eu entendo. Eles querem contratar pessoas com experiência, mas ninguém dá oportunidade da pessoa adquirir experiência! — exclamou brava. — Nada faz sentido.
Jisoo riu baixo, concordando com a cabeça.
— Como você conseguiu a sua vaga?
Chan deu de ombros.
— Acho que porque eu sou bonito — brincou, rindo junto de Jisoo. — Tô brincando. Sei lá, acho que falar duas línguas ajudou, cafeterias tem bastante turistas e tal.
— Quais você fala? — olhou-o interessado.
— A nossa, né, obviamente. Estudo chinês há alguns anos e me viro o suficiente no inglês, embora eu odeie esse idioma difícil do caralho — resmungou, fechando seu casaco e cruzando os braços.
— Você fala chinês e acha que inglês é difícil? — exclamou num tom indignado.
— É, e daí? — deu de ombros. — Foda-se, foco. Você fala inglês bem, né? Isso pode ser útil no seu currículo.
— É verdade. Eu falo espanhol também.
— Uh, a língua do amor e a mais sexy do mundo — disse Chan, sorrindo para o nada.
— A língua do amor não é francês? — ponderou franzindo o cenho.
— Eu acho espanhol mais bonito, então foda-se isso também — riu ela, ajeitando umas mechas do cabelo atrás da orelha. — Eu tenho muita vontade de aprender japonês, mas eu tenho tanta preguiça e tão pouco tempo, e tão pouca força de vontade.
— Quer aprender pra assistir anime sem legenda? — Jisoo provocou, recebendo um empurrão de leve mas que quase o desequilibrou.
— Não, porque minha banda favorita é do Japão e eu tenho o sonho de conhecer o país — explicou sério. — Mas ler meu mangá favorito sem precisar esperar tradução também seria legal.
O maior riu, negando com a cabeça e mudando de posição, visto que suas pernas estavam quase ficando dormentes.
— Qual é seu anime favorito?
— É Given, e também é minha banda favorita, mas eu escondi isso pra você não me julgar — contou rindo. — Mas juro, eles são incríveis demais e meio que eles são a razão de nós estarmos aqui agora.
— Achei que a razão era você me mostrar um lugar legal e me drogar como sempre.
— Como se você não gostasse de fumar comigo — retrucou, mostrando a língua para ele de forma infantil.
— Não vem ao caso — afirmou, fingindo que iria estapeá-lo. — Na verdade, eu tô me perguntando por que você me trouxe até aqui e me fez subir uns vinte lances de escada.
— Falta pouco pra você descobrir agora — assegurou olhando o horário em seu celular, era 06:20. — Dá tempo suficiente pra eu falar sobre Given pra você.
— Ah, não! Eu já sofro com o Soonyoung me contando sobre My Hero Academia — choramingou ele, deitando-se de costas e observando o céu.
— Deixa de ser chato — mandou tentando puxá-lo para se sentar novamente. — Tá, eu não vou falar sobre isso, seu babaca.
— Babaca é pesado demais — disse Jisoo com um biquinho nos lábios.
— Bobão, então.
O mais velho sentou-se e olhou Chan seriamente, sem dizer nada.
— O que foi? — ela perguntou, sem entender.
— Não acredito que você me chamou de bobão.
— Aff, cala a boca, seu idiota — riu, batendo de leve em sua nuca.
— Caralho, três ofensas em menos de trinta segundos — apontou.
— Shh, fica quietinho — mandou, cobrindo sua boca.
Jisoo sorriu por trás da palma do outro, olhando-o nos olhos e esperando se ele iria falar alguma coisa. Chan retribuiu o olhar e esqueceu o que ia dizer, rindo de si mesma por isso, e fora a vez dela de deitar-se e observar o céu mudando de cor aos poucos.
— Já dá pra você falar o que viemos fazer aqui? — Joshua perguntou, ainda o olhando.
O beta piscou devagar, então sentou-se e sorriu quando viu que o que esperavam estava chegando.
— Pra te mostrar isso.
Desviando o olhar de Chan, Jisoo olhou para o horizonte e viu os primeiros raios de sol da manhã aparecendo por entre os prédios.
— O sol nascendo?
— É — afirmou. — Eu queria te mostrar pra tentar te dizer que mesmo que você esteja sofrendo agora, mesmo que você esteja brigado com seus pais, mesmo que Jeonghan não esteja aqui, mesmo que você chore até não ter mais lágrimas… Mesmo que a gente não durma, o amanhã vai chegar. Num sentido bom, ou num sentido ruim, a vida sempre está seguindo em frente. Mesmo que você chore a noite inteira, a manhã vai chegar indiferente a isso, e é uma oportunidade de melhorar, e fazer diferente. Não pense no “até aqui”, mas no “daqui pra frente”. Tudo isso vai passar um dia — segurou a mão dele. — Eu prometo.
Joshua piscou lentamente ao contemplar a visão da cidade sendo iluminada aos poucos. Lágrimas rolavam por seu rosto, incontroláveis e quase inexplicáveis, eram de tristeza, sim, mas também de… alívio? Um sentimento que ele já havia vivido, mas há tanto tempo que acabou esquecendo o nome daquela emoção tão forte, essa emoção que mantém as pessoas firmes e lutando…
— Esperança — sussurrou.
— Hum? — Chan olhou-o.
— Acho que é isso que eu tô sentindo — continuou, ainda encantado pelo nascer do sol. — Esperança. Meu Deus, eu não sinto isso há séculos, e é tão bom.
O mais novo sorriu e o abraçou apertado, contente por ter atingido seu objetivo.
— Então eu estou muito satisfeito — afirmou, olhando para o maior. — Eu me senti assim quando ouvi a música da banda pela primeira vez, foi muito mágico.
Jisoo riu, retribuindo o abraço.
— Obrigado, Chan. Juro, você é foda demais.
— Eu sei disso — sorriu convencido, afastando-se do abraço e jogando os cabelos para trás. — Vamos voltar pra casa?
Ele concordou com a cabeça, preparando-se para levantar.
— Ei — Chan disse. — O que é aquilo? — apontou para lugar nenhum.
Joshua olhou para onde ele apontava, confuso por não enxergar nada. Quando se virou para retrucar, entretanto, Chan se aproximou rápido e deixou um selinho em seus lábios, rindo travesso ao ver a cara de espanto do mais velho.
— Que porra!?
— Você me roubou um e eu devolvi — deu de ombros, levantando-se. — Agora estamos quites.
— Como você é filho da puta — reclamou, imitando o ato dele.
— Eu sei, eu sei. Você me ama.
Jisoo suspirou e balançou a cabeça negativamente, observando Chan andar na frente enquanto cantava alto demais uma música em japonês.
— Eu devo merecer isso mesmo — murmurou, apesar de sorrir de canto.
Chapter 52: Chá de Morango
Chapter Text
— Jihoon, vai, por favor! — Jeonghan pediu, puxando-o pela manga da blusa. — Eu tô morrendo de curiosidade pra saber o que aconteceu nessa viagem!
Depois de passar o restante do domingo aproveitando o final da viagem com Soonyoung, eles voltaram para a casa perto do pôr do sol e mal tiveram tempo de conversar pois teriam aula no outro dia de manhã.
E, como era de costume, sentaram-se com seus amigos na hora do almoço para contar as novidades. Jeonghan e Wonwoo estavam há uns bons minutos tentando fazer com que Jihoon contasse tudo que havia acontecido.
— Qual é — resmungou o ômega. — Eu já contei que a gente viajou, foi no fliperama e na praia. O resto foi um momento pessoal.
— Como se vocês não tivessem postado mil e uma fotos em todos os lugares — Wonwoo retrucou. — Soonyoung até postou uma foto que mostrava o pescoço dele cheio de chupão.
— Ele fez o que!? — Jihoon exclamou, desacreditado. — Onde!?
— Tá, ele não postou, ele mandou pros amigos dele e Mingyu me mostrou — explicou.
— E você fala como se seu pescoço não estivesse todo marcado — apontou Jeonghan, tocando a pele do baixinho.
— Grande surpresa, meu namorado é meio possessivo — revirou os olhos. — Eu tentei usar corretivo pra esconder um pouco mas eu já aceitei que sou péssimo nisso.
— E seus pais não falaram nada? — Wonwoo perguntou, apoiando o rosto na mão.
— Bem… foi um pouco estranho, né? Não deve ser a melhor sensação do mundo saber que seu filho tá iniciando a vida sexual dele, mas… — pigarreou, fingindo não ver os olhares surpresos dos amigos. — Mas é natural, e eles sabem disso. E antes eu estar fazendo isso de uma forma segura e responsável do que pelas costas dele sem saber me proteger.
— Tá, tá, isso faz sentido — Jeonghan disse. — Mas volta a fita um pouco: você e o Soonyoung fizeram…?
— Não! — exclamou tímido. — E eu não vou falar disso aqui!
— Ah, qual é!? Você é muito chato — Jeonghan revirou os olhos.
— Desculpa se eu não sou igual você que compartilha sua vida íntima com todo mundo — retrucou mostrando a língua pro mais velho.
— Eu não faço isso!
— Faz, sim — Jisoo disse ao passar rapidamente pela mesa que eles estavam.
— Ah, que ótimo — Jeonghan resmungou. — Ele mal olha na minha cara há quase dois meses mas me humilhar ele pode?
Jihoon e Wonwoo riram baixo.
— Eu vejo como algo positivo — disse o Jeon. — Pelo menos ele consegue ficar perto de você sem chorar.
— É… pelo menos — o mais velho suspirou.
— Mas, Jih, nos fala como foi a viagem — Wonwoo pediu. — Não precisa contar o que…
— Hyung! Hyung! — Chan exclamou correndo até eles. — Desculpa atrapalhar, mas eu preciso mostrar pra vocês! — sentou-se ao lado de Wonwoo, um sorriso enorme e alegre enfeitava seu rosto.
— O que aconteceu? — Jeonghan perguntou curioso.
— Eu, oficialmente, nasci de novo! — contou deixando um papel em cima da mesa. — Eu consegui bastante gorjetas na primeira semana de trabalho, aí eu fui no cartório e mudei meu nome!
— Sério!? — disseram juntos, debruçando-se sobre a mesa para verem melhor o registro.
— Sim! Eu tô tão feliz! — sorriu fazendo uma dancinha. — Esperei dezoito anos por isso!
— Eu tô tão feliz por você! — Jeonghan disse, levantando-se para ir até Chan e o abraçar.
— Eu também! — Wonwoo concordou, entrando no abraço.
— Obrigado, meninos — falou retribuindo o abraço.
— Você… tá só levando isso por aí e mostrando pra todo mundo? — Jihoon perguntou, observando o papel.
— Mais ou menos — Chan riu. — Eu mostrei pro diretor, agora ninguém pode dizer meu nome morto. Legalmente, Lee Chan.
— Isso é maravilhoso — Jeonghan disse, ainda sorrindo bobo.
— Eu sei!
O beta, então, percebeu que Siwoo estava andando entre as mesas perto deles, então rapidamente se levantou e ficou em sua frente.
— Siwoo hyung, olha — mostrou o registro da troca de nome para ele. — Eu nasci de novo!
O alfa demorou alguns segundos até entender do que Chan estava falando, mas logo uma expressão de surpresa iluminou seu rosto junto de um sorriso feliz e orgulhoso.
— Meu Deus, que legal! — exclamou abraçando o menor, que ria alegre. — Oficialmente Lee Chan, então?
— Uhum — acenou com a cabeça. — Agora eu tenho autorização pra sair no soco com qualquer um que fale meu nome morto.
— Hum… acho que você não tem, não — Jihoon apontou, intrometendo-se na conversa.
O mais novo riu baixo e encolheu os ombros, voltando a olhar Siwoo quando ele acariciou seus cabelos.
— Então, será que eu posso levar "oficialmente" Lee Chan num encontro? — sorriu, inclinando o rosto e piscando os olhos de maneira fofa.
O beta riu e negou com a cabeça, cruzando os braços ao morder seus lábios, tentando esconder a timidez.
— Não, não pode, eu tenho que trabalhar — respondeu. — Mas eu sei que você vai ir lá no café igual você faz quase todo dia.
— Que bom que você sabe — riu travesso. — Te vejo na hora da saída?
— Eu não tenho o último período hoje…
— Te vejo no café, então — sorriu, aproximando-se. — Você não vai conseguir fugir de mim tão fácil.
— Você é muito chato, sabia? — cruzou os braços.
— Sabia — riu, segurando o rosto de Chan e lhe dando um selinho. — Tchau, princesa. Tchau, pessoal.
— Tchau, Siwoo — responderam em uníssono, observando-o sair do refeitório.
— Vocês são tão fofos — Jeonghan comentou. — Quando vocês vão começar a namorar?
— Eu sei lá — o mais novo encolheu os ombros. — Não é o tipo de coisa que eu me preocupo agora.
— Que hipocrisia — Jihoon acusou. — Você vivia me pedindo pra te ajudar a conseguir alguém.
— É, eu sei — suspirou, voltando a sentar ao lado dele. — Mas minha vida é uma grande bagunça, e eu tenho só dezoito anos, então acho que tenho mais coisas pra me preocupar.
Jihoon estreitou os olhos para a mais nova.
— Você quer namorar ele, não é?
Chan suspirou, observando Siwoo de longe.
— Infelizmente, sim, pra caralho — choramingou, escondendo o rosto entre as mãos. — Mas minha vida é uma completa bagunça e ele é tão certinho. Eu não quero trazer ele pra esse caos. Hoje mesmo eu vou ter que brigar com meus pais por causa da droga de nome que eles me deram.
— Ai… Sinto muito — Jeonghan disse. — Vai ser difícil, né?
— Bastante — ele suspirou. — Talvez eu conte amanhã, tanto faz. Sobre o que estavam falando antes?
— A gente quer saber se o Jihoon e o Soonyoung transaram ou não naquela viagem — Wonwoo falou, fazendo careta quando o ômega lhe chutou por baixo da mesa.
— Na minha opinião — Chan começou, puxando suas pernas para cima do banco por precaução. — Acho que rolou alguma coisa, se não tivesse rolado, ele teria só falado que nada aconteceu.
— Oh! Isso faz sentido! — Jeonghan exclamou, dando tapinhas animados no ombro do Lee. — Então aconteceu alguma coisa!
— Não importa, eu não vou falar sobre isso aqui!
— Conta lá no café, então — sugeriu o mais novo. — Vocês são os únicos que ainda não foram lá conhecer. Que tal?
— Eu acho legal, mas por que você tá tão interessado? — Jeonghan perguntou.
— Hyung, por favor, eu sou parte disso — afirmou, tocando o próprio peito. — Perdi a conta de quantas vezes esse pobre menino veio me pedir conselhos — apontou para Jihoon.
— Ei, por que você não pediu conselhos pra mim? — o mais velho resmungou, cruzando os braços e fazendo uma careta emburrada.
— Porque eu sou o Mestre dos Magos Assexual — Chan argumentou, ajeitando o cabelo atrás da orelha. — E futuro terapeuta sexual, se tudo der certo.
— Mesmo assim, você deveria ter perguntado pra gente — Jeonghan reclamou com um biquinho nos lábios.
— Me desculpa, hyung, mas você não é o melhor pra esse tipo de conselho — Jihoon murmurou.
— Que ultraje! — exclamou.
— Ele tá certo — Wonwoo disse, tocando o ombro do amigo.
— Ah, eu sei — murmurou Jeonghan. — Mas ainda assim.
— Então, vocês vão no café hoje? — Chan perguntou.
— Eu só posso depois da autoescola — respondeu o ômega.
— A gente te espera e vamos juntos, que tal? — Wonwoo propôs.
— Se isso vai tirar vocês do meu pé — suspirou o baixinho, guardando suas coisas. — Agora eu vou indo.
— Aproveita pra fugir enquanto você pode — Jeonghan avisou, rindo baixo quando Jihoon revirou os olhos e levantou. — Senti saudade de colocar ele contra a parede.
Wonwoo riu e negou com a cabeça.
— Eu também.
— Fofos — Chan comentou, pegando a folha em cima da mesa. — Eu vou indo, também. Ainda não mostrei pra todo mundo.
Os mais velhos sorriram e acenaram para o beta quando ele levantou e seguiu para fora do refeitório.
Enquanto seguia pelo corredor, Chan encontrou Jisoo, que estava ajeitando algumas coisas em seu armário.
— Shua hyung! — exclamou indo até ele. — Olha!
Joshua assustou-se com a voz alta e a aproximação inesperada do outro beta, colocando a mão no peito ao observar o que ele mostrava.
— O que é isso?
— Eu mudei meu nome legalmente — explicou, chegando mais perto. — Me abraça, me dá parabéns.
O beta riu antes de abraçar a amiga, apertando-a entre seus braços com força.
— Ai! Seu escroto! — Chan reclamou, sentindo suas costelas doerem pelo aperto.
— Foi mal — ele disse, soltando-a e então bagunçou seus cabelos. — Parabéns.
— Ai, é ótimo receber exatamente o que eu queria depois de dizer o que as pessoas têm que fazer — murmurou, abrindo a porta do armário de Jisoo enquanto tentava ajeitar os fios. — Por que você não tem um espelho aqui?
— Porque eu não sou uma garota — retrucou, guardando seus livros e fechando a porta metálica.
— Isso é meio machista — provocou a mais nova, cruzando os braços.
— Cala a boca — riu rolando os olhos. — Ei, aproveitando que você tá aqui, pode me fazer um favor?
— Claro, o que?
— Eu tô tentando achar um emprego pra poder sair da casa do Jihoon — explicou, abrindo sua mochila e procurando algo. — E eu vi na última vez que o lugar que você trabalha está contratando ainda, então, será que eu posso deixar meu currículo com você e você entregar lá?
— Claro! — afirmou. — Eu falo com a supervisora, vou te recomendar.
— Nossa, valeu. Você é demais — sorriu aliviado, entregando uma cópia do currículo para o menor. — Eu tô deixando em outros lugares, mas eu vi que eles ainda estão recrutando e não quis perder a oportunidade.
— Ei, relaxa — Chan disse, guardando o currículo com cuidado. — Vai ser legal se a gente conseguir trabalhar junto.
— É, aí você teria que me suportar por mais seis horas todos os dias — brincou, andando ao lado dele.
— Pff, ninguém é mais irritante que meu irmão, e ele aprendeu comigo, então você que vai precisar me suportar — provocou, cutucando o peito do maior. — Boa sorte pra você.
Joshua riu anasalado e balançou a cabeça negativamente.
— Talvez eu consiga emprego em outro lugar…
— Boa sorte nisso também — Chan sorriu, piscando para ele antes de entrar em sua sala de aula.
[...]
Jihoon se distraiu conversando com um professor no final da aula, acabou saindo atrasado para a autoescola. Entretanto, assim que chegou no prédio foi avisado que não teria aula naquele dia por um colega.
— Ah, que maravilha, vim até aqui só pra voltar — reclamou, pegando o celular para chamar um Uber.
— Eu tô indo embora agora, você quer dividir um Uber? — perguntou o colega, Hyunsuk. — Acho que vamos pro mesmo lado, aí fica um valor menor.
— Ah… se não for incomodar — coçou a nuca.
— Imagina — o beta negou. — Vem.
O motorista não demorou para chegar e eles tomaram o caminho de volta conversando sobre as aulas que tinham juntos e se conhecendo um pouco melhor.
Pouco antes de chegarem na casa de Jihoon, eles trocaram números de telefone e ficaram de avisarem um ao outro caso a aula fosse cancelada novamente.
O ômega despediu-se e entrou em casa, estranhando o silêncio que a preenchia.
Soonyoung, que estava no sofá, rapidamente levantou e foi até si assim que percebeu sua presença.
— Baobei! Você chegou cedo — apontou, abraçando-o.
— A aula foi cancelada e eu não fiquei sabendo — explicou, retribuindo o abraço. — Peguei carona com um colega.
— Ah, se seu soubesse e seus pais não tivessem levado Yoona no médico, eu teria te buscado — falou tocando seu rosto.
— Por isso tá todo esse silêncio — concluiu Jihoon, sorrindo entre os beijos carinhosos que o alfa deixava em seu rosto.
— Pois é — riu baixo.
— Eu vou trocar de roupa, tô morrendo de calor — avisou o menor, soltando-se do abraço e subindo as escadas
Soonyoung concordou e voltou a sentar no sofá, rolando sua for you do TikTok sem ter muito o que fazer. Foi quando ele parou em um vídeo de um casal aleatório, onde a garota gravava um vídeo com o namorado, explicando que eles iriam fingir estar numa festa e ela seria outra garota, para testar como o garoto deveria reagir se outra menina tentasse flertar com ele.
Dando algumas risadas com o vídeo, o alfa gostou bastante da ideia e resolveu fazer o mesmo. Não pretendia postar, mas achou que seria divertido.
— Baobei, vem cá! — chamou após ajeitar o celular para gravar e deixá-lo apoiado na estante.
— O que foi? — o ômega perguntou, descendo as escadas.
— Vem aqui — puxou-o delicadamente para que ficassem no enquadro da câmera.
— O que é isso? — juntou as sobrancelhas.
— Vamos fazer um teste, tá? Finge que a gente tá numa festa e eu não sou eu — explicou.
— Pra que? — Jihoon cruzou os braços.
— Pra te testar.
— Ai, eu mereço — bufou mas não recusou.
— Tá, anda, finge — pediu Soonyoung, dançando sem música.
O ômega apertou os lábios para prender um riso e apenas observou o que o namorado iria fazer.
Ele se aproximou de si devagar, piscando um olho e sorrindo.
— Oi, gato — falou, chegando mais perto e tocando seu rosto. — Quer me dar um beijo?
Jihoon riu baixinho e fechou seus olhos tentando se aproximar, mas Soonyoung o afastou rapidamente.
— Você vai sair beijando qualquer um assim!? — exclamou indignado.
— Que “qualquer um”!? Vou beijar você! — argumentou.
— Mas eu não sou eu! — disse, batendo o pé no chão. — Finge que eu não sou eu.
— Aff, tá — concordou, cruzando os braços.
— Vou começar de novo — deu alguns passos para trás e se aproximou dançando. — Oi, gato. Qual seu nome?
— Sou Jihoon — respondeu. — E você?
— Sou… Minseok — fez careta, saindo do "personagem" por alguns segundos. — Tá curtindo a festa?
— Tô, e você? — aproximou-se um pouquinho.
— Vou curtir mais se você me der um beijo, topa? — tocou o rosto dele, chegando mais perto.
— Não, valeu — afastou o toque dele. — Eu tenho namorado.
— Ah, mas eu não tenho ciúmes. Só um beijinho, vai — puxou-o.
— Já disse que não, cara! — exclamou, empurrando o alfa e fazendo-o cair deitado no sofá. — Credo, essa versão sua é muito chata.
Soonyoung riu ao se levantar, voltando para perto do menor.
— Acho que você passou no teste — tocou seu rosto e lhe deu um selinho. — Achei que você ia demorar pra entender a dinâmica.
— Me chamando de lerdo ainda — reclamou, deixando alguns tapas no braço dele.
— Não coloca palavras na minha boca — segurou suas mãos e o abraçou. — Só aceito você colocar sua língua.
Jihoon revirou os olhos.
— Ah, isso me lembra: — afastou-se para olhá-lo nos olhos. — Queria falar um negócio sério com você.
— Ah, não. Eu odeio isso — choramingou, sentando no braço do sofá.
— Mas é sério mesmo — insistiu, segurando as mãos dele. — Assim, tudo bem você ficar na minha cabeça o tempo todo, tipo, vou nem cobrar aluguel… mas coloca uma roupa pelo menos.
Jihoon segurou a vontade de rir da expressão totalmente surpresa de Soonyoung e piscou um olho para ele, virando para sair e fazendo uma careta para o celular que continuava filmando os dois.
— Ei, espera aí! — o alfa exclamou, correndo para pegar seu celular e parar a gravação.
Então andou apressado até o menor, encontrando-o no corredor. Tocou sua cintura e o deixou contra a parede, apoiando uma mão ao lado de sua cabeça.
— Você vai simplesmente me falar que pensa em mim pelado e vai sair? — perguntou, chegando mais perto, podendo sentir quando Jihoon riu pelo nariz.
— É você que fica na minha cabeça o dia inteiro — rebateu, sorrindo ladino. — Vai me dizer que eu não fico o tempo todo na sua cabeça?
— Acha que eu fico pensando em você pelado?
— Eu tenho certeza que você pensa — retrucou, abraçando-o pelos ombros e lhe dando um selinho. — Você mesmo confessou, lembra?
— Hum — resmungou, aproximando-se mais do menor. — Sabe o que eu percebi?
— O que? — Jihoon perguntou, mesmo que estivesse meio distraído ao observar o rosto do alfa.
— A gente tá sozinho agora — disse baixo, tocando o pescoço dele com a ponta do nariz. — E pela primeira vez em bastante tempo, né?
— Eu percebi — respondeu, arfando de susto quando de repente Soonyoung o segurou pelas coxas e o empurrou mais contra a parede. As intenções dele eram claras até demais. — Amor, eu tenho que sair daqui a pouco.
— Não é como se a gente durasse muito tempo — riu anasalado, deixando alguns beijos suaves nos ombros do namorado. — Por favor, eu preciso tanto de você.
Jihoon fechou os olhos, suspirando em deleite pelos arrepios que cruzavam seu corpo ao sentir os lábios de Soonyoung em sua pele, apenas plantando beijos, já que algumas marcas arroxeadas ainda estavam meio doloridas.
— Vamos pro quarto.
[...]
— Disse que ia ser rápido e agora eu tô atrasado — Jihoon reclamou enquanto aplicava protetor solar no rosto.
Soonyoung rolou levemente os olhos e revirou-se na cama, observando o namorado correndo pra lá e pra cá enquanto se arrumava às pressas para sair.
— Só porque você insiste em tomar banho toda vez que sai de casa mesmo que você já tome banho todo dia antes da escola. Como sua pele ainda é tão macia eu não faço ideia, porque… — argumentou, sorrindo bobo quando o ômega fez um sinal para que ele ficasse quieto.
— Eu tomei banho porque tinha suor, saliva e sêmen em mim — rebateu.
— Você fala como se não tivesse gostado do que a gente fez — fez bico.
— Eu não disse isso — riu baixo, aproximando-se do namorado, sentando ao seu lado para que pudesse tocar seu rosto e lhe dar selinhos. — Eu vou indo. Você precisa tomar banho e se vestir antes dos meus pais voltarem.
— Se você tivesse deixado eu tomar banho com você…
— Se eu tivesse, a gente ainda estaria lá. Eu te conheço — afirmou, dando mais um beijo em seu rosto. — Troca a roupa de cama também, por favor?
— Você fica muito chato depois que goza.
— Shh, cala a boca — tocou seus lábios. — Tchau.
— Tchau — beijou sua mão. — Te amo.
— Também te amo — sorriu, levantando e saindo do quarto.
O Uber já havia chegado, então não demorou mais que alguns minutos para que ele chegasse na cafeteria onde marcou com os amigos.
Jeonghan e Wonwoo já estavam lá quando ele chegou, estavam conversando com Chan e outra garota que ele não conhecia. Não havia muitos clientes naquele momento, então estava tranquilo.
— Ah, finalmente! — Jeonghan exclamou ao vê-lo. — Achei que você não vinha.
— Eu só me atrasei dez minutos — resmungou, sentando-se perto deles. — Oi, Chan-ah.
— Oi, hyung. Essa é Ryujin — sorriu, indicando a garota. — Que bom que você chegou, eu tava esperando pra atender você.
— Não é atoa que você ganha gorjeta, você conhece metade da cidade — ela reclamou, fazendo Chan rir.
— Eu sou uma pessoa sociável, mas eu recebo gorjeta porque sou um amor de menino educado — gabou-se, rindo quando a ômega fez careta.
— Tanto faz, eu vou ver se consigo arrumar o mixer — ela disse. — Fiquem a vontade — sorriu para eles e saiu.
— Ela não é um amor? — Chan disse, puxando seu bloquinho de papel. — Mas e aí, o que vão querer?
Assim que eles fizeram seus pedidos, após alguns minutos o mais novo já estava retornando, colocando os pratos e taças com delicadeza sobre a mesa e sentando-se ao lado deles.
— Pronto, agora vamos ao que interessa — Jeonghan disse, fazendo uma pausa para beber um gole de seu capuccino. — Jihoon, por favor, conta tudo.
— Eu ainda não acredito que vocês estão obcecados pela minha vida sexual — suspirou ele juntando as sobrancelhas.
— Claro que estamos! — Chan exclamou. — Eu preciso saber se meus conselhos deram certo, eu preciso saber se minha missão de Mestre dos Magos ace está cumprida.
— Sim, e eu sou o Eric! — Wonwoo falou, levantando a mão.
— Ah, não vale! — Jeonghan reclamou. — Você não pode escolher o mais legal.
— Por que não? — cruzou os braços.
— Porque eu queria ser ele — afirmou emburrado.
— Ah, pronto — o Jeon riu. — Não seja mimado, você pode ser o Hank.
— Ou o Presto — Jihoon comentou.
Jeonghan deu de ombros ainda sustentando um biquinho birrento.
— Mas, enfim — Chan limpou a garganta. — Jihoon hyung, minha missão está cumprida?
O ômega desviou os olhos e levou alguns segundos até dizer num sussurro:
— Está.
— Yes! — o beta exclamou baixo, fechando o punho em uma comemoração discreta. — Agora eu já posso morrer em paz.
— Credo, garoto, não fala besteira! — Jihoon mandou, batendo no ombro dele sem força.
— Sério, isso é como ver um filho crescer — Jeonghan comentou, ainda desacreditado.
— Eu, hein — Wonwoo riu. — Bastante freudiano isso aí.
— Ai, meu Deus, calem a boca — o ômega mandou.
— Mas o que exatamente rolou? — Chan perguntou, chegando mais perto, curioso. — Foi tipo… Tudo que vocês têm direito ou…?
— Foi só… — coçou a nuca envergonhado. — Sexo oral.
— Ah, isso é legal — comentou o beta, sorrindo pequeno ao roubar um pouco do café gelado de Wonwoo.
— Eu ainda não consigo acreditar que realmente tá acontecendo — Jeonghan disse, batendo os pés de maneira animada. — Nem parece que há uns meses atrás você surtou completamente só porque tinham se beijado.
— Pois é, pra você ver — murmurou Jihoon. — É bem constrangedor falar sobre, mas é legal saber que eu tô… evoluindo quanto a isso. Não sei porquê eu estava tão assustado.
— Era o que eu falava — reclamou o Yoon. — Mas se eu falasse qualquer coisa, eu tava errado e ele mandava eu calar a boca…!
— Relaxa, hyung, relaxa — Chan riu.
— E foi só uma vez? — Wonwoo perguntou.
— Foi uma vez quando chegamos no hotel… e outra vez quando a gente acordou — contou, com os olhos fixos na mesa.
— Uau, agora começou e não para mais? — Jeonghan provocou, recebendo um chute fraco nas pernas.
— Cala a boca.
— Não, mas eu entendo — Chan disse. — Uma coisa estranha sobre sexo é que quando a gente não faz, ou não tá fazendo, pouco importa, as vezes nem lembro que existe. Mas quando você faz, você acorda com tesão de cinco puberdades, eu acho uma merda.
— O pior é que é verdade — Wonwoo concordou.
— E você e Mingyu como estão? — Jihoon perguntou.
— Estamos bem, mais fortes que nunca — contou, sorrindo fechado.
— Ah, não seja modesto — Chan falou. — Mingyu é meu melhor amigo, eu e ele conversamos muito e ele sempre fala muito bem de você. Acho que nunca vi ele tão feliz, de verdade.
— Valeu, Chan — o alfa disse, tímido. — Eu tento fazer ele feliz, mesmo errando muitas vezes.
— Eu fico aliviado quando ele conta das pequenas merdas que você faz — continuou o mais novo, falando de forma distraída. — Porque normalmente você diz a coisa errada, na hora errada. Mas, antes, com os antigos namoros dele, esses “erros” eram tipo: “ele gritou comigo e disse que vai me matar se eu olhar pra outro cara” — imitou a voz de Mingyu.
Os três olharam-se assustados com a declaração, mas não souberam o que dizer. O beta, por outro lado, continuava tranquilo.
— Eu sou o maior shipper de vocês — declarou sorridente, voltando a olhar Wonwoo. — Eu nem precisei te ameaçar quando descobri que você gostava dele.
— Aww, isso é tão fofo — Jeonghan disse. — Porque eu ameacei o Soonyoung quando ele e o Jih começaram a namorar.
— Aww, que lindo — Chan sorriu, abraçando o mais velho. — Nós somos os protetores dos nossos amigos.
— Ninguém é mais protetor que esse aqui — Jihoon apontou para Wonwoo. — Por favor, me diz que você vai ser guarda-costas quando sair da escola.
O alfa riu — assim como os outros — e negou com a cabeça.
— Acho que vou fazer a licenciatura em biologia mesmo — deu de ombros. — Mas eu posso ser guarda-costas nas horas vagas.
— Deve ser por isso que você e Mingyu se dão tão bem — Chan comentou, logo ouvindo o sininho da porta anunciar que havia chegado clientes. — Ok, vou lá. Preciso trabalhar.
— Ok, bom trabalho — disseram.
A beta sorriu para eles e se levantou, pronto para ir até a mesa, entretanto, assim que reconheceu a pessoa que estava ali, retornou para perto dos amigos, encolhendo-se perto deles.
— Esquece. Eu não vou — falou.
— Que? O que aconteceu? — Jihoon perguntou, olhando as pessoas por cima do ombro.
— Tá maluco? Ela vai me ver — Chan alertou, puxando o ômega para que ele voltasse ao normal.
— Ela quem? — Wonwoo perguntou.
— Minha ex namorada, eu não quero que ela me veja — choramingou.
— Por que não? — Jeonghan juntou as sobrancelhas, olhando para as garotas, disfarçadamente.
— Você tá vendo esse par de chifres na minha cabeça? — apontou para a própria testa. — Presente dela, então, é, eu não tô afim de falar com ela. Principalmente quando eu tô solteiro desde que a gente terminou, e, sim, eu sei que é ridículo, mas eu não quero — choramingou.
— Chan-ah! — Ryujin chamou do balcão. — Pode atender pra mim, derramei café na minha roupa e eu preciso me trocar — mostrou o uniforme cheio de pó marrom.
O mais novo suspirou derrotado e assentiu para a colega, então se levantou.
— Eu devo merecer isso — murmurou para os amigos antes de seguir até a mesa onde a tal ex estava com outras duas amigas. — Bem-vindas ao Dose de Café. O que desejam?
— Chan?
— Oi, Jaehee — sorriu fechado. — Quanto tempo.
— Pois é, mais de um ano — ela respondeu, sorrindo também. — C-Como você tá? Digo… Desde que…?
— Eu tô trabalhando aqui. Posso anotar o pedido de vocês? — interrompeu, tentando manter o tom gentil.
— Uau, por que você tá tão tenso? — uma das garotas perguntou.
— Vocês lembram daquele menino que eu falei…? — Jaehee disse, sussurrando como se Chan não pudesse ouvir. — Que eu tava namorando quando fiquei com o Yeongsu?
— Own, que jeito bonitinho de dizer que você traiu alguém — comentou o beta, sorrindo descrente.
— Aquilo não tá indo bem — Jeonghan falou para Wonwoo e Jihoon, que observavam a cena também.
— Acho que podia ser pior — disse o Jeon.
— É, ele podia enfiar aquele bloco na garganta dela — Jihoon falou.
Jeonghan negou com a cabeça e logo eles ouviram quando outra pessoa passou pela porta. O alfa levantou depressa ao ver se tratar de Siwoo, que havia chegado com um amigo.
— Ei, Siwoo, vem cá — o Yoon chamou, já segurando a mão dos dois e o puxando para sentarem juntos.
— O que tá acontecendo? — o alfa perguntou confuso.
— Graças a Deus você chegou, senta aí — mandou o mais velho. — Chan tá ali com a ex dele…
— Ah, não — ele exclamou, assumindo uma expressão triste, virando-se na cadeira para ver. — Acha que elas vão voltar e eu não tenho mais chance?
— Quem dera, Chan tá super inseguro de falar com ela, então você vai ter que ir ali e agir como se vocês fossem namorados — explicou Jeonghan, gesticulando com as mãos de forma nervosa, quase derrubando as taças da mesa.
— Cara, eu só vim tomar um café — disse Eunhyuk, o beta que veio junto de Siwoo.
— Eu também — Jihoon concordou.
— Calem a boca — mandou o Yoon. — Agora, Siwoo, vai.
— Não, eu não posso fazer isso — negou, ficando nervoso.
— Por que não? — Wonwoo e Jeonghan perguntaram ao mesmo tempo.
— Porque a gente não namora, não vai ser escroto se eu fizer isso?
— Não! — os quatro exclamaram juntos.
— É só pra calar a boca daquela alfa que traiu ele — apontou Jeonghan.
— Ei, acho que isso era pessoal — Jihoon se meteu.
— Agora já era — deu de ombros. — Vai, só chega ali e chama ele de amor. Igual vocês se falam na escola, fala sério, vocês já estão namorando e nem percebem.
— Tenho minhas dúvidas — Eunhyuk disse.
— Caras, ele não quer namorar comigo…
— E você continua atrás dele — apontou o beta.
— Ele quer, sim — Jihoon disse. — Não tô nem inventando, ele disse pra nós com todas as letras.
— Só vai lá antes que Chan realmente faça aquela garota engolir o bloco de papel — Wonwoo pediu, notando de longe como o mais novo batia a caneta no papel de forma impaciente, esperando as garotas decidirem seus pedidos.
Siwoo fez uma careta incerta, levantando após muita insistência — e alguns empurrões — dos garotos.
Respirou fundo e aproximou-se devagar.
— Ok, então são dois affogatos, um capuccino, uma… — Chan repassava o pedido quando sentiu uma mão segurando sua cintura, o toque inesperado o fez dar um pulinho no lugar e virar-se, vendo Siwoo sorrindo para si. — Que susto, garoto.
— Desculpa, amor, não queria te atrapalhar — ele disse, mexendo no cabelo do menor. — Só tô… indo no banheiro, mas a gente vai esperar você nos atender.
— Ok… espera lá que eu já vou, só vou levar o delas — respondeu, não tendo muito sucesso em disfarçar sua expressão confusa quanto a situação.
— Como sempre colocando seu namorado em segundo lugar, né? — brincou, sentindo o rosto esquentando.
Chan olhou-o por alguns segundos, tentando encontrar alguma lógica na fala ou nas ações do alfa, mas não estava tendo muito sucesso.
— Eu já vou ali — falou, empurrando o maior com delicadeza.
— Ok, já entendi — piscou para si antes de voltar à mesa.
— Ele não ia no banheiro? — uma das garotas perguntou.
— Eu, sinceramente, desisti de tentar entender — Chan suspirou. — Vou lá buscar o pedido.
— Ele é bonito, né? — disse outra, ficando quieta quando recebeu um olhar sério de Jaehee.
Na mesa onde estavam os garotos, Siwoo manteve a cabeça baixa, escondida entre seus braços enquanto ele choramingava, sentindo vontade de cavar um buraco no chão para se enterrar. Os demais, tentavam segurar risos que estavam prontos para escapar em alto e bom som.
— Por que eu fiz isso? — perguntou-se o alfa.
— Ah, porque você gosta de uma garota que não gosta de você — disse Eunhyuk, balançando os ombros. — Eu já comprei um filhote de cachorro de cem dólares da menina que eu gostava. Ela não gostava de mim.
— Pelo menos, você ficou com um cachorro — Wonwoo comentou.
— E eu vou ficar só com cara de palhaço mesmo — Siwoo reclamou. — Isso se Chan não me bater e parar de falar comigo.
— Nah, ele provavelmente vai achar fofo — Jihoon disse, terminando seu café. — Talvez ele aceite namorar de verdade.
— Haha — Siwoo bufou, afundando-se na cadeira. — Não achei graça.
— Eu acho que ele tá certo — Jeonghan disse.
— Eu também — Wonwoo completou. — Eu acho que…
— Cala a boca, ele tá vindo — o Yoon mandou, batendo de leve no braço do amigo.
— Ok, de quem foi a ideia? — Chan perguntou, parando perto deles com as mãos na cintura.
— F-Foi minha, me desculpa… — Siwoo falou, levantando-se.
— Não, não foi você. Senta aí — o beta mandou. Ele obedeceu. — Então?
— Foi minha — Jeonghan confessou, não parecendo arrependido. — Eu só dei a ideia porque você tava inseguro de encontrar a garota.
— E você já confessou que quer namorar ele, então, qual o problema? — Jihoon perguntou.
— E o que foi que eu falei depois? — perguntou sentando ao lado deles e controlando a raiva crescendo. — Eu falei que minha vida é uma bagunça, é uma grandíssima merda. Eu não vou namorar alguém que tem a vida perfeita e estragar isso — olhou para Siwoo.
— Chan, minha vida não é perfeita se eu não tiver a pessoa que eu gosto do meu lado — ele afirmou, tão naturalmente que nem pareceu ter pensado.
O silêncio entre eles era gritante. O mais novo encarava o alfa sem reação, suas bochechas ficando avermelhadas conforme os segundos passavam.
— Q-Quer dizer… — Siwoo gaguejou, engolindo em seco e procurando outras palavras.
Jeonghan, Jihoon, Wonwoo e Eunhyuk permaneceram quietos, apenas esperando o que iria acontecer, mas Chan e Siwoo se encaravam em silêncio e pareciam não ver nada além um do outro, então talvez não fizesse diferença se os demais garotos continuassem conversando.
— Pelo amor de Deus, beija ele antes que eu beije — Jeonghan exclamou de repente, não aguentando mais esperar.
— Dêem um tempo, por favor — Chan pediu, levantando e puxando Siwoo pela mão. — Vem comigo.
— Boa sorte — Eunhyuk cantarolou.
O beta levou o maior para fora do estabelecimento, ficando de frente com ele na calçada. Pela janela estilo vitrine que ficava ao lado da mesa onde estavam, eles podiam assisti-los conversando, mas não ouviam nada, apesar de Jihoon estar certo de que conseguiu ler os lábios de Chan perguntando “tem certeza?”
— Ai, senhor, será que a gente deve interferir? — Jeonghan perguntou, preocupado com a demora.
— Não, a gente já se meteu o suficiente — Jihoon afirmou, pousando uma mão no ombro do amigo, como se para garantir que ele não iria se levantar.
— É verdade, vocês podem ter feito uma merda colossal — Eunhyuk falou, pegando o café gelado de cima da mesa e tomando alguns goles.
— E quem é você? — o Yoon perguntou, colocando uma mão na cintura e olhando o beta de cima a baixo.
— Sou amigo do Siwoo, eu ouço ele falar por horas sobre Chan — apontou para ela. — E eu só vim aqui pegar um café e agora tô metido nessa confusão.
— Esse café é meu — Wonwoo reclamou, pegando seu copo de volta. — Acho que você e Chan vão se dar bem se eles começarem a namorar.
— Exatamente, se eles começarem — disse o beta, virando para os demais. — Eu acho que não vai dar certo, esse aí fica fazendo meu amigo de gato e sapato…
— Que mentira! — Jeonghan exclamou, talvez alto demais. — Não fala assim do nosso caçula, falou?
— Bem, Siwoo é meu caçula, por dois meses de diferença — respondeu, com um ar levemente debochado. — Então se vamos ter que escolher lados, vou ficar do lado do cara que ainda insiste para ter uma chance e meu amigo.
— Ah, mas se ele já ganhou um não e continua…
— Ei! Os dois calem a boca — Wonwoo mandou, puxando-os para que olhassem pela janela novamente. — Deu certo!
Jeonghan e Eunhyuk soltaram exclamações animadas quando testemunharam o momento que Chan praticamente pulou nos braços de Siwoo e o beijou.
— Não acredito! — o beta exclamou, abraçando Jeonghan e sendo retribuindo. Por pouco, os dois não começaram a dar pulinhos.
— Como vocês gritam — Jihoon resmungou, apesar de estar animado e feliz também. — Ai, mas é tão bom ver eles juntos finalmente.
— Alguém pega o celular pra tirar uma foto! — o mais velho exclamou.
— Não, eles estão voltando — Eunhyuk alertou, puxando o alfa para que eles voltassem ao seus lugares.
Os quatro fingiram estar conversando sobre a decoração do ambiente quando Siwoo e Chan voltaram para dentro, e claro que repararam que os dois estavam de mãos dadas. Quando o alfa voltou a se sentar junto deles, ficaram em silêncio, olhando-os com expectativas.
— E então? — Jihoon quem perguntou.
— Eu tenho um namorado! — Chan disse bobo, abraçando Siwoo de maneira desengonçada.
— Aleluia! — comemoraram ao mesmo tempo, trocando hi-5’s e talvez estivessem incomodando alguns clientes.
— Nunca duvidei — Eunhyuk falou, recebendo um olhar incrédulo de Jeonghan.
— Que hipocrisia!
— Eu preciso voltar ao trabalho — o mais novo avisou, segurando o rosto do alfa e lhe dando mais um selinho. — Até logo.
O sorriso de Chan podia ser visto de longe, assim como sua felicidade. Jihoon notou o momento que ele deu alguns pulinhos animados antes de ir para trás do balcão para ajudar Ryujin com outros pedidos.
— E você? — Eunhyuk perguntou, olhando Siwoo.
— Nada mais me abala! Alguém coloca We are the champions pra tocar, por favor — brincou, rindo alegre quando o beta deu soquinhos amigáveis em seu braço.
Chapter 53: Chá Oolong
Chapter Text
Soonyoung acordou naquela madrugada com uma sensação ruim dentro do peito e algumas lágrimas inexplicáveis em seus olhos. Sentou-se no sofá onde dormia com cuidado para não acordar Jisoo.
Olhou no celular e eram quase 03h30, e aquele sentimento não passava e nem dava sinais de que iria.
Mesmo sem saber explicar, ele sabia que envolvia Jihoon, então passou pela sala na ponta dos pés e subiu as escadas da mesma maneira. Abriu a porta do quarto do namorado com cuidado, esperando que aquele pressentimento fosse apenas coisa da sua cabeça e que ele estivesse dormindo tranquilamente.
Entretanto, assim que ele espiou, pôde ver que Jihoon estava sentado na cama, chorando baixinho e com o celular na mão.
— Jih? O que aconteceu? — perguntou preocupado, fechando a porta e indo até ele.
— S-Soon — soluçou, surpreso por vê-lo. — Por que você tá acordado?
— Eu não sei, eu… acordei e senti que precisava te ver — disse baixo, sentando ao lado do menor e o tocando seu ombro. — O que aconteceu, meu bem?
— Eu tive um pesadelo — ele contou, abraçando Soonyoung com bastante força. — Eu sonhei que você tinha… m-morrido. E eu tava desesperado, e eu senti tudo, e eu não conseguia fazer nada além de chorar e sentir sua falta.
— Oh, meu amor. Tá tudo bem, foi só um sonho — ele sussurrou, acariciando as costas e os cabelos do baixinho. — Você devia ter me chamado.
— Eu não queria te acordar — soluçou novamente. — Aí eu escrevi o que senti no sonho, escrevi como se você realmente… e isso me deixou pior, mas eu precisava colocar pra fora.
— Tá tudo bem, meu amor — secou seu rosto, mantendo-o bem perto de si. — Eu tô aqui.
— Sonhei que eu tinha te perdido — ele chorou mais, abraçando Soonyoung com força.
— Mas não perdeu, eu tô aqui — repetia, ajeitando-se na cama para conseguir trazer Jihoon para perto de seu peito de forma confortável. — Eu tô aqui — sussurrou, segurando sua mão e cruzando seus dedos.
Levou apenas alguns segundos para que o ômega conseguisse acalmar um pouco o choro. Ele segurava Soonyoung com firmeza entre seus braços, tocando seu ombro com a ponta do nariz para que pudesse sentir seu cheiro, querendo se certificar de que ele estava ali.
— Me desculpa — Jihoon pediu, a voz rouca e quebrada. — Eu não queria te acordar… nem te preocupar.
— Tá tudo bem — assegurou, acariciando os cabelos dele. — Acho que é um pequeno preço que eu pago por ser sua alma gêmea.
O menor fechou os olhos, abraçando-o novamente.
— Será que… — o alfa começou. — Tudo bem eu ler o que você escreveu?
— Eu não sei… eu não quero ler de novo, eu vou acabar chorando mais — fungou, acariciando o ombro dele com a ponta dos dedos.
— Não vou ler em voz alta — estendeu a mão, pedindo pelo celular. — Posso?
Ainda um pouco receoso, Jihoon pegou o aparelho e entregou para ele.
Então, Soonyoung começou a ler:
"Dizem que a pior fase do luto não é quando você recebe a notícia. Também não é o funeral, ou aquela raiva que cresce ao pensar na injustiça de ter que dizer adeus, nem quando você chora durante horas pela saudade.
Não.
O pior momento acontece meses depois, quando sua vida finalmente parece estar voltando ao normal, você já se lembrou como sorrir. É o momento em que algo acontece, algo novo e bom, e você pensa: “eu preciso contar para aquela pessoa”, e segundos depois, você lembra que não pode. Você lembra que ela foi embora e não vai voltar. E tudo parece desmoronar.
Esse é um sentimento horrível, com certeza, mas acho que as pessoas deveriam falar mais sobre o quão sufocante são aquelas primeiras fases.
A negação.
Quando você está em seu quarto, esperando impaciente ele responder suas mensagens, imaginando que ele pode estar fazendo isso apenas para te irritar. E então seus pais chegam, pela expressão deles você sabe que algo aconteceu, e aquele gosto amargo cresce mais e mais na garganta quando eles sentam ao seu lado, lhe preparando para dar a notícia.
Mas nada, nada, no mundo poderia te preparar para ouvir aquilo. Ele se foi.
Eu não acredito, eu rio, dizendo que não podia ser, que era mentira.
Não pode ser, você não pode ter ido embora e me deixado aqui. Não é verdade! Ele vai voltar, ele já estava a caminho. Não é verdade! Isso não aconteceu!
Eu ainda não acreditava, mesmo quando eu vi eles fechando seu caixão e cobrindo-o com terra e com muitas flores.
Mesmo eu ficando até o sol se pôr ao lado da lápide e vendo seu nome ali, naquela noite, eu deitei e tentei dormir, tentando me convencer de que aquilo era só um pesadelo e que você iria estar ao meu lado quando eu acordasse.
Não aconteceu.
A raiva.
Quando você procura alguém a quem culpar. Grita até doer a garganta que não é justo. Faz uma lista em sua cabeça de tantas pessoas ruins que deveriam ter ido no seu lugar, quando para pra pensar em como esse mundo de merda vai ficar ainda pior sem você nele.
Quando eu quebrei o espelho e gritei: “a culpa é minha”.
A barganha.
Essa fase que eu nunca entendi, pois sempre soube que a morte não volta atrás, ela não avisa, ela não permite despedidas.
Mas, mesmo assim, numa noite, eu me coloquei de joelhos e implorei para ela me levar no seu lugar.
A depressão com certeza é a pior.
Quando eu chorei a noite inteira. O sol nasceu e eu continuava enxugando minhas lágrimas, perguntando-me o que eu iria fazer agora. Como eu ia viver sem você? Era impossível, eu não queria viver minha vida sem você ao meu lado.
Foi quando eu juntei todos os presentes que você me deu, todas as lembranças que tinha de você, todas nossas fotos juntos, todas roupas que ainda tinham seu cheiro, todas as cartas que você me escreveu… E eu tive vontade de jogar tudo fora, pois me doía lembrar de você, mas eu não podia me desfazer, era como estar me desfazendo de você e da única coisa que eu acreditava te manter por perto. Vivo.
Passei mais madrugadas acordado do que sou capaz de contar.
Eu ficava observando a lua, perguntando para ela se ela tinha te visto por aí, pedindo pra ela te lembrar que eu te amo caso você estivesse por perto.
Observava todo canto do meu quarto, esse lugar onde nós passamos horas juntos, lembrando com dor cada momento, pegava todos aqueles presentes e lembrava de novo, colocava nossas músicas favoritas para tocar e até aquelas mais animadas que você tanto amava me faziam chorar. E eu chorava. Chorava tanto, mas tanto, que em dada hora da noite eu já não tinha lágrimas para derramar.
Eu deitava, abraçando qualquer coisa que ainda tinha seu cheiro, pensando quanto tempo ele iria durar e chorando mais ainda ao perceber que não iria durar o suficiente até toda essa dor e saudade se acalmar.
Me perguntava por que você havia ido embora se eu ainda estava aqui, te esperando com todo o amor do mundo pra te dar. Eu ainda era seu, então, por quê?
Eu nem ao menos tive a chance de me despedir…
Eu deveria tentar seguir em frente, mas só o pensamento de tentar me machuca.
Como eu vou amar de novo?
Não acho que eu vá "
— Nossa… isso é muita coisa — Soonyoung falou, fechando o aplicativo das notas e bloqueando a tela. — Não acredito que você sentiu tudo isso.
— Eu sei — fungou, secando o rosto e a ponta do nariz com a manga de seu pijama. — Foi horrível.
— Você não precisa se preocupar — sorriu para ele. — Eu tô aqui e eu não vou sair do seu lado.
Sem saber o que dizer, Jihoon apenas concordou com a cabeça, mantendo seu olhar baixo e as mãos nas do namorado.
— Sabe, honestamente… — disse o mais velho. — Isso me deixou até um pouco feliz.
— Por que caralhos isso deixaria você feliz? — exclamou, olhando-o com indignação. — Você me odeia, por acaso?
— É claro que não, baobei! — respondeu risonho, abraçando-o outra vez e beijando seu rosto. — É só que… isso significa que se eu realmente morresse, você sentiria muito minha falta. E eu devo ser importante pra causar isso.
— Você é meu namorado há mais de cem dias, é claro que você é importante, seu idiota — reclamou, voltando a abraçá-lo, deitando a cabeça em seu peito.
Soonyoung sorriu, acariciando os cabelos escuros novamente, notando como eles estavam longos. Permaneceu ali em silêncio, acolhendo o namorado e esperando que ele se recuperasse.
— O que você faria se eu morresse? — Jihoon perguntou de repente, curioso.
A pergunta inesperada levou o alfa a refletir. Ele pensou por bastante tempo, mas não chegou a conclusão alguma.
— Eu não sei — respondeu por fim, voltando a olhar o namorado nos olhos. — Mesmo tentando, eu não consigo imaginar minha vida sem você.
Com a fala, mais lágrimas escorreram pelo rosto de Jihoon e ele voltou a abraçar Soonyoung apertado.
— Eu te amo tanto — murmurou. — Nunca me deixa, por favor.
— Eu jamais sequer pensaria nisso — afirmou ele, apertando-o entre seus braços. — Eu nunca vou te deixar. Eu prometo.
— Promete?
— Prometo — sorriu para ele, fazendo um biquinho em seguida para pedir beijo.
Jihoon retribuiu o sorriso e deixou um selinho rápido nos lábios dele.
— A gente devia voltar a dormir, temos que acordar cedo — Soonyoung falou, ainda acariciando os cabelos escuros com cuidado.
O ômega, entretanto, negou balançando a cabeça e dizendo:
— Tô com medo de dormir e ter aquela droga de pesadelo de novo — fungou, fechando os olhos para impedir que lágrimas caíssem novamente.
— Não vai acontecer, baobei — disse o maior, ajeitando Jihoon em sua cama, cobrindo-o com a coberta e tocando seu rosto. — Dorme, ok?
— Deita comigo, então? — olhou-o, abrindo mais espaço na cama não muito grande.
Soonyoung suspirou e acabou cedendo, ainda um pouco receoso, já que a regra dos pais de Jihoon era bem clara — mesmo que o ômega já tivesse fugido até a sala para se espremer com o namorado no sofá algumas madrugadas.
O mais novo aproximou-se mais de Soonyoung assim que ele deitou ao seu lado, abraçando sua cintura e encostando a ponta do nariz em seu pescoço.
— Eu vou estar aqui caso você tenha outro pesadelo e vou continuar aqui quando você acordar — o alfa garantiu, fazendo cafuné no outro até que ele adormecesse.
[...]
— Que sonho pesado — Joshua comentou, após ouvir todo relato do casal a sua frente.
— Pois é — Chan concordou, mexendo de forma distraída nos cabelos de Siwoo, que estava ao seu lado. — Quer dizer, dado tudo que aconteceu com vocês, eu achei que você estaria tendo, sei lá, uns sonhos eróticos.
Jihoon revirou os olhos, apoiando a cabeça no ombro do namorado.
— Você pensa antes de falar? — Siwoo quem perguntou, olhando para a beta.
— Você sabe que não — Jisoo falou.
— Claramente, não — apontou Jihoon.
Chan revirou os olhos.
— Mas que nojo — Joshua disse, voltando a mexer em sua comida. — Realmente me incomoda saber da vida sexual das pessoas.
— Ah, vai dizer que Soonyoung hyung não te contou o que aconteceu na viagem — a beta exclamou.
— Não! E eu não quero saber — apontou para o primo que mostrou as mãos e fez uma careta de “eu tô quieto". — Qual é, a gente é quase irmão. É nojento eu pensar nisso.
— Larga de ser fresco — resmungou o mais novo.
— Larga de ser metida! — o Hong retrucou.
— Ele não consegue — Siwoo disse, recebendo um beliscão do namorado. — Ai!
— Você tinha que ficar do meu lado — reclamou, cruzando os braços.
— Ele tá do lado de quem tá certo — Joshua argumentou.
— Não sei porque eu ainda insisto em compartilhar as coisas com vocês — Jihoon suspirou. — Às vezes, consegue ser pior do que quando eu conto pro Jeonghan ou pro Wonwoo.
— Se vocês querem falar sobre as coisas que esses dois fazem… — Joshua disse, apontando para Soonyoung e Jihoon.
— A gente não quer — afirmou o baixinho.
— Tanto faz. Se vocês querem, façam agora que eu vou sair — ele levantou-se, guardando suas coisas.
— Mas o horário de almoço ainda não acabou — Soonyoung falou, estranhando o comportamento do primo.
— Sim, eu sei — respondeu, jogando a mochila nos ombros e saindo.
— O que deu nele? — o alfa perguntou.
— Acho que foi culpa minha — Jeonghan falou, chegando mais perto da mesa deles junto de Seungcheol. — Sei lá, faz quase dois meses que a gente não se fala, eu arrisquei me aproximar.
— Mesmo eu dizendo que era uma má ideia — disse o Choi, sentando-se ao lado de Siwoo.
— Eu precisava tentar — deu de ombros, espremendo-se ao lado do namorado no banco para três pessoas.
— Tem lugar do outro lado, sabia? — sorriu o ômega.
— Mas eu quero ficar do seu lado — respondeu, fazendo bico.
— Ok, sem problema — Chan riu baixo, sentando-se no colo de Siwoo. — Pronto, agora cabe todo mundo.
Soonyoung teve que segurar a vontade de rir quando notou a expressão surpresa do outro alfa, entendia aquele sentimento.
— Eu acho — a Lee voltou a falar. — Que agora que Shua hyung já saiu, nada mais justo que a gente falar sobre a vida sexual deles — apontou para o casal a sua frente. — Só pra não ter sido em vão, sabe?
— Eu sei que você tá brincando — Jihoon começou. — Mas se você continuar, eu vou ser obrigado a te bater.
Os presentes riram, ou cobrindo seus rostos ou voltando a comer.
— É brincadeira — Chan disse. — Mas você ainda é só tímido, daqui algumas semanas você vai estar compartilhando até seus fetiches com a gente.
— Eu duvido muito — Jeonghan falou.
— Eu acho que eu nem tenho um — apontou o ômega, recebendo olhares surpresos dos demais.
— Como assim? — Seungcheol perguntou.
— Você não tem um fetiche? Uma fantasia? — Siwoo olhou-o. — Tipo… nada?
— Acho que não — o menor deu de ombros.
— Olha, eu tenho minhas dúvidas — Soonyoung disse, olhando para o namorado.
— Eu te achar atraente enquanto você dança, não é um fetiche — apontou Jihoon, juntando as sobrancelhas.
— Não tem nada de errado em ter um — Chan falou, inclinando-se na direção de Jeonghan para ganhar um pouco de sua comida.
— Eu sei, mas eu sigo não tendo — negou o ômega, sentindo-se um pouco impaciente. Tinha tido uma noite bem mal dormida, afinal.
— Ah, então você é só muito baunilha — comentou a beta.
— Ou, talvez eu não tenha um fetiche porque eu não fui traumatizado na minha infância — disse Jihoon, cruzando os braços e encarando Chan, que lhe olhava de volta sem reação.
Passou-se alguns segundos sem que ninguém presente na mesa falasse nada, um clima meio tenso, meio cômico, pairando entre eles, dividido entre o mau humor de Jihoon, e Jeonghan que segurava a vontade de rir.
— Isso é uma coisa muito escrota pra você dizer pra mim — ela respondeu por fim. — Vou até embora depois dessa.
— Ah, não vai — Siwoo pediu, abraçando-o pela cintura. — Fica aqui, ninguém vai falar nada sobre seus traumas.
— Cala a boca — rebateu risonha, deixando um tapa leve na mão dele.
— Own, eu que fiz isso acontecer — Jeonghan gabou-se, observando o casal. — Imagina o quão triste seria sua vida agora se você não estivesse namorando.
— Que exagero, eu posso muito bem viver sozinho — retrucou Chan, cruzando os braços.
— Que bom, mas eu não consigo viver sem você — Siwoo respondeu, intensificando o aperto e beijando o pescoço dele.
— Então era assim que as pessoas se sentiam quando a gente ficava sendo boiolas no começo do nosso namoro? — Jihoon perguntou para Soonyoung, que riu baixo balançando os ombros.
— Acho que sim — concordou.
— Eu ficava exatamente como eu estou agora: orgulhoso — disse Jeonghan, jogando um cabelo invisível para trás. — É ótimo, tipo ver meus filhos crescendo.
— Eu, hein — o ômega resmungou.
— Aliás — Seungcheol começou. — Chan, você falou com seus pais? Sobre seu nome e tal…
— Ainda não — suspirou ele, apoiando o rosto nas mãos e assumindo uma expressão cansada. — Não sei se tô preparado pra isso, mas eu sei que eu preciso porque… sei lá, eu preciso?
— Mas qual seu plano? Esconder isso deles? — perguntou Soonyoung.
— Não, só… eu não sei — bufou, empurrando os cabelos para trás. — Eu só não sei o quão feia vai ser essa briga.
— Oh, amor — Siwoo murmurou, abraçando-o mais apertado.
— Já falei que “amor” é muito básico, não gosto de ser chamado assim — resmungou o mais novo, virando-se para o namorado.
— Você é chato, viu?
— Eu te disse a mesma coisa algumas horas atrás — apontou, rindo baixo da careta emburrada dele.
— Bebê! Você pode chamar ela de bebê — Soonyoung sugeriu, estalando os dedos. — Eu queria chamar o Jih assim, mas ele não gostou também.
— Mas você ainda me chama assim — disse ele.
— Baobei é completamente diferente — argumentou.
— É, é em chinês — Chan completou, rindo quando recebeu um olhar feio do Kwon. — Tô brincando. É fofo.
— Eu também acho — Jihoon concordou, beijando o rosto do namorado.
— Devo te chamar de baobei? — Siwoo perguntou, olhando para Chan.
— Você vai só roubar a ideia do Soonyoung hyung, mesmo? — riu, batendo de leve no ombro dele.
— Aish, me dá uma ajuda — choramingou manhoso, apertando a cintura do menor.
Antes que Chan pudesse responder, entretanto, o sinal anunciando o fim do intervalo soou. A beta rapidamente levantou, pegando suas coisas.
— Eu vou indo, não posso me atrasar pra próxima aula — avisou, chegando perto de Siwoo e lhe dando um selinho. — E, pra sua informação, eu gosto quando você me chama de princesa.
O alfa sorriu e bagunçou os cabelos dele, levantando-se também para o abraçar.
— Entendi, princesa — respondeu baixinho. — Quer que eu te leve até sua sala?
— Não precisa, fiquei de encontrar com Jihye pra irmos juntas — explicou, segurando as mãos dele. — Mas eu te vejo no último período, ok?
— Você não pode continuar faltando a aula de matemática pra ir me ver na educação física — argumentou, suspirando quando Chan deu de ombros e se afastou.
— Você não pode fazer nada pra me impedir — cantarolou andando calmamente para fora do refeitório.
— Boa sorte em lidar com ele — Jeonghan riu, segurando a mão de Seungcheol em seguida.
— Vamos também? — Jihoon perguntou para Soonyoung. — A gente tem que fazer aquele teste vocacional.
[...]
O teste foi feito com os alunos durante dois períodos da aula de informática, alguns foram mais rápidos que outros e tiveram que esperar pelos colegas do lado de fora para não atrapalhá-los. Jihoon foi um desses que terminou rapidamente e ficou esperando por Soonyoung no corredor.
O ômega estava revendo seu resultado quando o namorado se aproximou, abraçando-o por trás e escondendo o rosto em seu pescoço.
— Amor, eu já falei que você não pode chegar assim — resmungou, acariciando seus cabelos. — Qualquer dia eu vou te bater achando que você é outra pessoa.
— Desculpa — ele murmurou, sem mover-se.
— O que aconteceu? — perguntou, tentando olhar seu rosto mas falhando.
— Odiei fazer esse teste — resmungou, apertando mais Jihoon entre seus braços.
O mais novo percebeu pela forma que ele batucava seus dedos que ele estava ansioso, segurou as mãos dele e cruzou seus dedos.
— Por que? Não gostou do resultado? — disse calmo. — Não importa o resultado, se você quiser fazer outra…
— O problema não é esse — respondeu, afastando-se um pouco.
— Então o que foi? — segurou sua mão, aceitando ser puxado pelo corredor até um dos bancos que tinha ali.
Soonyoung sentou-se e não disse nada, apenas abaixou a cabeça e continuou estalando seus dedos, com o olhar distante.
— Amor — Jihoon chamou, tocando seu rosto. — Qual o problema? É só um teste pra nos ajudar, não sei porque você…
— Eu também não sei — interrompeu, ainda sem olhar para ele. — É só que… eu sei lá, toda vez que eu penso no meu futuro eu fico ansioso, e agora toda vez que eu penso no futuro, eu me lembro do presente e que tá uma grande merda, porque eu ainda tô morando na sua casa e…
— Ninguém disse que isso é um problema — assegurou, tocando a mão do maior.
— Ninguém precisa dizer algo que é óbvio, Jihoon — exclamou, virando-se para encará-lo. — Qual é, eu não sou idiota.
— Está agindo como um — rebateu. — Eu não disse que a situação não é difícil, mas não vai durar pra sempre. Daqui um mês seus pais vão voltar, Shua hyung está tentando consertar as coisas com os pais dele e talvez vocês possam voltar pra lá antes, então você tem que parar de se torturar com isso.
O alfa não respondeu, apenas bufou e virou o rosto. O menor suspirou, cruzando seus braços e contando até dez.
Após alguns segundos em silêncio, o ômega murmurou:
— Eu odeio brigar com você.
Soonyoung suspirou pesado e se aproximou, segurando suas mãos e deixando um selar carinhoso sobre elas.
— Eu também — respondeu baixo, recebendo o olhar do namorado. — Me desculpa.
— Me desculpa, também — pediu, abraçando-o. — Você tá ansioso e eu deveria te ajudar…
— Você não precisa — negou, afastando o abraço e tocando seu rosto. — É só que… é estranho pra mim pensar no meu futuro. Eu sempre vi essa coisa de faculdade e tals como um sonho distante, tipo quando a gente pensa o que faria se ganhasse na loteria, a gente pensa mas, no fundo, sabe que não vai acontecer, entende?
— Mas vai acontecer, Soonyoung — disse, segurando suas mãos. — A gente tá quase lá, nossa vida vai começar a mudar daqui uns anos.
— Eu sei, e isso me assusta muito porque eu não me planejei — explicou, engolindo em seco quando sua respiração começou a ficar descompassada.
— Tá tudo bem, você pode começar a se planejar agora — sorriu, aproximando-se e deixando que ele apoiasse a cabeça em seu ombro. — Posso ver seu resultado?
Ele concordou e entregou o papel, esperando enquanto o namorado corria os olhos pela página rapidamente.
— Nosso resultado foi até meio parecido, que estranho — riu baixo. — Acho que isso pode te dar uma base do que seguir, sabe? Você não precisa decidir agora, mas você pode ir pensando.
— Eu sei — murmurou, deitando a cabeça no ombro do menor.
— Olha, no seu resultado tem até enfermagem — apontou para a folha. — Eu lembro que você queria ser enfermeiro.
— Tá, como se eu conseguisse entrar no curso — desdenhou.
— E por que não? — olhou-o. — Você é um bom aluno, tem notas muito boas e você se esforça nas matérias que você tem dificuldade. Só é meio avoado e hiperativo, mas pra tudo se dá um jeito.
Soonyoung riu pelo nariz, olhando para Jihoon.
— Acho fofo que você tenha tanta fé em mim.
— Amor, eu sempre soube que você teria sucesso. Eu tenho certeza disso — afirmou, apertando sua bochecha. — Se você tivesse ideia do potencial que você tem, você conquistaria o mundo inteiro.
— Mas isso eu já conquistei — sorriu, segurando as mãos de Jihoon. — É você.
— Sim, eu entendi pelo contexto e pela sua obsessão com cantadas baratas — riu, negando com a cabeça. — Vou começar a achar que você tá fazendo cena pra ganhar elogio.
— Oh, não. Você descobriu meu plano! — brincou puxando-o para seu colo e beijando seu rosto e pescoço.
O menor riu alto, tentando encolher-se e fugir do toque do namorado, tanto pelas cócegas quanto pelo fato de estarem na escola e já estarem ganhando alguns olhares curiosos de outros alunos.
— Ei, ei, ei! — Seungkwan exclamou, chegando perto dos dois. — Que pouca vergonha é essa no meio do corredor?
— Seu amigo que fica me agarrando — Jihoon acusou, aproveitando-se da distração para se afastar do mais velho.
— Não seja sem vergonha, Soonyoung — mandou o Boo, passando um braço pelos ombros de Jihoon.
— Agora os dois vão se unir contra mim, é isso? — cruzou os braços.
— Sim — Seungkwan afirmou. — Mudando de assunto, eu queria falar com vocês. Eu tava querendo fazer uma reunião na minha casa, só pra gente se encontrar e jogar conversa fora, mas fico meio assim de colocar o Shua hyung e Jeonghan hyung no mesmo ambiente depois de tudo que aconteceu.
— Ah — disseram ao mesmo tempo.
Jihoon voltou a sentar ao lado do namorado.
— É complicado — Soonyoung resmungou.
— Eu sei — disse o Boo. — Por isso eu tô perguntando. É menos escroto eu não chamar o Jisoo, ou não chamar Jeonghan e Seungcheol?
— Ou — Jihoon começou. — Você pode chamar os três, mas deixa eles sabendo que você chamou. Eles que têm que decidir se conseguem ficar no mesmo ambiente.
— É uma boa ideia — murmurou o ômega. — Por isso eu digo que se um dia o Soonyoung te perder, ele vai ser expulso do nosso grupo de amigos e a gente vai ficar com você.
— Que afronta! — exclamou o mais velho enquanto Jihoon ria.
Em meio a conversa, os garotos viram Jisoo se aproximando após sair de uma sala perto, com o mesmo teste vocacional nas mãos.
— Ah, hyung — Seungkwan foi até ele. — Eu vou fazer uma reunião pros nossos amigos na minha casa, você vai?
— Humm, não sei. Que dia? Tenho dois dias da minha semana ocupados com terapia — falou, soltando sua mochila no colo de Soonyoung.
— No final de semana, provavelmente — deu de ombros. — Eu vou convidar Jeonghan e Seungcheol hyung também. Tem problema?
— Oh — disse ficando sem jeito. — Não sei… Quer dizer, claro. Não, quero dizer, não tem problema. É só… É óbvio, eles são seus amigos também, então é óbvio que você vai convidar eles, mas… Não sei, eu vou ter que pensar.
— Ai, fala sério, tantos caras no mundo e você foi se apaixonar logo pelo Jeonghan? — suspirou o ômega, cobrindo o rosto com as mãos.
Joshua acabou rindo pelo nariz, um pouco entristecido, mas entendia o que Seungkwan queria dizer.
— Tô tentando esquecer isso.
— Não tem como esquecer um pouco mais rápido? — cruzou os braços.
— Eu não sei, eu juro que…
— Shua hyung! — ouviram do corredor, logo viram Lee Chan correndo na direção deles. — Shua hyung, você vai me amar!
Estando todos confusos e surpresos pela animação repentina do mais novo, Joshua não conseguiu ter muita reação quando ela praticamente pulou em si, o abraçando apertado e quase derrubando os dois no processo.
— Do que você tá falando? — Jisoo perguntou, segurando-se na parede para não perder o equilíbrio. — Por que você não consegue fazer o mínimo de sentido, garoto?
— Cala a boca, me escuta — disse animado, segurando as mãos dele. — Eu falei com minha supervisora, contei que você tá procurando emprego, falei que você é quase poliglota, fiz toda uma propaganda maravilhosa, eu já posso fazer seu perfil no Tinder…
— Vai direto ao ponto — pediram os três ao mesmo tempo, esquecendo-se até mesmo de rirem pela coincidência.
— Eles querem te entrevistar! Talvez você consiga o emprego! — exclamou, batendo seus pés no chão de maneira empolgada.
— Sério!?
— Sério!
— Do que vocês estão falando? — Soonyoung perguntou confuso, olhando a interação.
— Shh! — Seungkwan fez, cobrindo a boca do alfa.
— Meu Deus, Chan! Eu realmente amo você! — Jisoo exclamou, abraçando-a com força o suficiente para tirá-la do chão.
O mais novo riu, retribuindo o abraço com a mesma felicidade.
— E pensar que eu achava que esses dois não iam se dar bem — Seungkwan comentou, observando os dois.
— Que absurdo, todo mundo gosta de mim, eu sou um amor — Chan retrucou, mostrando a língua para o amigo. — Inclusive, meu namorado que tá me esperando agora.
— Você não vai parar de falar sobre isso, né? — perguntou o ômega, cruzando os braços e revirando os olhos.
— O que? Que eu tenho um namorado? — aproximou-se dele. — Não vou, obrigado por perguntar.
Os mais velhos riram ao ver Seungkwan rolar os olhos novamente, fazendo uma careta infantil debochando da beta.
— Tchau, gente. Meu namorado tá me esperando — Chan acenou para eles.
— Ele tá na aula e você vai lá importunar ele — acusou o Boo.
— Ai, nossa que engraçado, porque eu sei de uma história aí, de um certo alguém que, uns três anos atrás, me fez perguntar pra todo mundo em qual turma um certo aluno vindo dos Estados Unidos ia estudar — desdenhou ela, olhando o amigo de cima a baixo.
Jihoon pensou em levantar e fazer alguma coisa quando Seungkwan segurou o pescoço de Chan e sussurrou ameaças um tanto altas no ouvido dela, mas se acalmou pela forma que a mais nova e Soonyoung riam pela reação do ômega.
— Não dá pra confiar em você, né? — reclamou o Boo.
— Claro que dá, eu não falei pra ninguém que Soonyoung hyung me pediu pra descobrir se Jihoon hyung gostava de meninos uns anos atrás — apontou cruzando os braços.
— Como é? — perguntou o ômega.
— Você é um dedo duro! — Soonyoung exclamou, levantando e correndo atrás de Chan, que gritou escondendo-se atrás de Jisoo.
— Aahh! Hyung, me protege! — pediu, agarrando-se ao mais velho e usando-o de escudo.
— Você rasgar minha roupa, seu idiota! — exclamou o beta, tentando se afastar da confusão.
— Ei! Que bagunça é essa aqui? — uma professora perguntou ao sair de sua classe. — Meninos, eu tô tentando dar aula.
— Desculpe, Sra. Shin — pediram ao mesmo tempo, recolhendo suas coisas para saírem dali.
— Odeio vocês — Jihoon reclamou, cruzando os braços enquanto andavam pelo corredor. — Eu vou pra biblioteca terminar uma tarefa.
— Eu vou junto — Soonyoung se apressou, estendendo a mão para o namorado, que a aceitou.
— Que caretas — Chan comentou. — Eu vou ver meu namorado na educação física, alguém vai comigo?
— Garotos bonitos de uniforme? Por mim, tudo bem — disse Joshua, dando de ombros.
— Que nojo — Seungkwan disse com uma expressão desgostosa. — Eu tenho que esperar Hansol terminar o teste, então vou ficar por aqui.
— Beleza, então vamos — declarou o mais novo, segurando Jisoo pelo braço e o puxando em direção a quadra. — Vai te fazer bem ver outros caras e perceber que você-sabe-quem não é o único no mundo?
O beta fez uma careta confusa mas resolveu não questionar.
— Você vai junto? — Jihoon perguntou olhando para Soonyoung.
— Eu não — negou, abraçando-o apertado. — Eu vou lá te incomodar um pouco.
Ele riu, seguindo para a biblioteca junto do maior.
— Mas eu preciso terminar a tarefa mesmo — avisou, apontando o indicador em sua direção. — Então você precisa ficar quietinho.
— Quietinho — passou um zíper imaginário na boca. — Eu prometo.
[...]
Soonyoung quebrou a promessa.
A biblioteca estava vazia, havia somente ele e Jihoon ali, visto que a Sra. Hwang havia saído para fazer uma pausa, pedindo que os garotos cuidassem caso alguém entrasse. E, aproveitando-se disso, o alfa ficou sentado ao lado do namorado, observando ele concentrado estudando.
Nos primeiros dez minutos ele até havia conseguido ficar em silêncio, se contentando em admirar o rosto sério do baixinho e tocar sua mão — e ficando emburrado quando Jihoon a afastava para escrever ou apagar algo que havia escrito errado —, mas não demorou muito para ele começar a ficar entediado e procurar maneiras de chamar atenção do namorado.
Os olhos de Soonyoung brilhavam ao contemplar Jihoon, achava uma graça como ele estava com o cabelo escuro comprido, com uma franja grande que passava seus olhos, assim como os fios estavam volumosos e fofinhos.
— Baobei — chamou, tocando sua mão.
— Hum?
— Promete que você não vai cortar seu cabelo — pediu, chegando mais perto e beijando seus dedos.
Jihoon juntou as sobrancelhas e desviou o olhar de seu caderno pela primeira vez desde que chegaram, olhando o alfa de maneira interrogativa.
— Por que?
— Porque você tá tããão bonitinho — choramingou, segurando o rosto dele e beijando suas bochechas. — Dá vontade de te apertar.
— Soon, para com isso — mandou, tentando soltar-se do abraço sem sucesso nenhum. — Eu preciso terminar isso antes do período acabar.
Com uma expressão emburrada e totalmente a contra gosto, Soonyoung soltou Jihoon e voltou a debruçar-se sobre a mesa, apenas esperando.
— Você é impossível às vezes — murmurou o mais novo, voltando ao que estava fazendo.
O maior deu de ombros e ficou o observando. Logo, começou a cantar baixinho:
— Yubikiri genman hora demo fuitara. Hari demo nan demo nomasete itadaki Monday. (Eu juro, se eu contar uma mentira. Estou disposto a engolir agulhas ou qualquer coisa na segunda-feira.)
— Fica quieto, amor — pediu, tocando seu rosto.
Jihoon reconhecia a melodia de algum lugar mas não lembrava de onde, nem entendia a letra, visto que o alfa estava cantando em japonês.
— Watashi no saigo wa anata ga ii, nata to kono mama osaraba suru yori (Eu quero que você seja meu último amor, se eu tiver que continuar separado de você assim) — ele continuou, aproximando-se do menor e o puxando pelo braço. — Shinu no ga ii wa, shinu no ga ii wa. (Eu prefiro morrer, eu prefiro morrer.)
Com um suspiro derrotado, o ômega desistiu de estudar e olhou o namorado com preguiça, estava começando a se acostumar com às vezes que Soonyoung parecia querer esgotar sua paciência.
— Por que você é assim? — murmurou, não reclamando quando o alfa segurou sua mão e a beijou.
— Porque eu amo você — respondeu, aproximando-se para beijá-lo.
Jihoon riu nasalmente, retribuindo os selares do namorado.
— Eu também amo você — pôs a mão na frente do rosto, impedindo o maior de continuar. — E, por falar nisso, eu lembrei que você tem que terminar aquele trabalho de química.
Soonyoung revirou os olhos.
— É só pra semana que vem.
— Eu sei disso, mas se você terminar hoje, a gente pode passar a tarde sem se preocupar com isso — falou, pegando a mochila dele e pondo em cima da mesa. — Aí a gente pode ficar juntinho, assistindo Mo dao zu shi.
— Hum — resmungou pegando seu caderno. — Você sabe como me manipular.
Jihoon riu baixo, voltando a atenção para sua tarefa.
— Te conheço há meses, eu consigo qualquer coisa.
— Convencido — acusou mostrando a língua.
— Aprendi com meu namorado — retrucou rindo baixo.
[...]
Pela primeira vez em quase oito anos, Chan não conseguia ouvir o choro de Minho e Junseo, ninguém além deles mesmos ouvia, as outras pessoas presentes naquela casa ouviam apenas seus próprios gritos e o som de coisas sendo jogadas no chão.
Chan não conseguia ouvir seus irmãos pedindo para que parassem, ele não conseguia ouvir, nem ver nada pela quantidade de lágrimas escorrendo por seu rosto, mesmo que sua expressão fosse apenas de raiva, ele não sabia controlar seu choro.
Desde que havia ido ao cartório, ele sabia que a reação de seus pais seria ruim, ele esperava o pior, e mesmo assim, ele ainda estava surpreso com os gritos quase histéricos de sua mãe e a voz que soava como um trovão de seu pai. Chan odiava quando eles gritavam e odiava gritar de volta, mas ele queria ser ouvido, iria ser ouvido, pois também havia chegado em seu limite.
A sua certidão de nascimento estava rasgada no chão, assim como os documentos com seu nome finalmente no lugar onde deveria estar.
— Então é isso que vai acontecer!? — gritou Seoyun, aproximando-se do filho mais velho com raiva.
— Sim, é isso que vai acontecer! — Chan berrou de volta, afastando-se da mulher. — É exatamente essa porra que tá acontecendo!
— Como você teve coragem de fazer isso!? — Yejun exclamou.
— Eu fiz e eu faria de novo! — rebateu, pegando os papéis rasgados do chão e jogando-os na direção do homem. — Rasga mais! Rasga se você quiser, se você conseguir!
— Não fala com seu pai desse jeito! — mandou a ômega, estapeando Chan que tentou empurrá-la para longe de si.
— Mamãe! Não! — Minho pediu, tentando se colocar entre a mãe e o irmão.
— Eu já mandei você subir pro seu quarto, Minho! — ela gritou, segurando-o pelo braço e o arrastando até a escada. — Sobe e não desce aqui! Sai!
Sem muitas opções, o alfinha obedeceu, indo até o quarto de Chan e esperando por lá.
— Parabéns, mãe! De verdade, que mãe do caralho você é! — ironizou o beta batendo palmas. — Acho lindo, de verdade mesmo, acho tão lindo a forma como vocês acham que estão certos no que fazem…!
— Quem é você pra falar!? — rebateu Yejun, andando cambaleante para perto. — Você é só um pirralho de merda!
— Isso, isso! — concordou Chan, andando até eles. — Continua, pode falar. Quando você terminar você acha que eu vou olhar pra você e achar que você tem razão!? A cada porra de grito que vocês dão o pouco respeito que eu tenho por vocês diminui!
As vozes altas cessaram por um momento quando o som de um tapa ecoou pela sala. Yejun acertou o rosto do filho sem pensar, sentindo vontade de chorar pela dor que ele sentiu por conta da artrite. O tapa não doeu, mas Chan ficou sem reação por alguns segundos.
— Se você não vai nos respeitar, você vai nos obedecer nem que seja por medo — gritou ele.
Com a fala, o beta começou a rir. Deu passos para trás e começou a gargalhar, não achava graça, não sabia o que estava sentindo, mas teve vontade de rir.
— Ah, pelo amor de Deus! — exclamou olhando para os progenitores. — Eu não tenho mais medo de vocês, eu tive medo de vocês durante minha infância toda! E o que vocês acham que Minho tá sentindo agora!? Acha que ele tá lá em cima, chorando desesperado porque ele respeita!? — apontou para as escadas. — Ele vai crescer com medo de vocês, e Jun também! Vocês acham que se eu respeitasse e não tivesse medo de vocês, eu teria feito isso escondido!?
— A gente esperava o mínimo de respeito pelas pessoas que te criaram! — gritou Seoyun. — A gente te criou, te colocou no mundo, pra você crescer e virar essa merda de filho ingrato!
— Vocês me criaram pra ter medo de vocês! Eu dou graças a Deus que eu não tenho mais, e eu agradeço ainda mais que eu nunca tive medo de ser eu mesmo! — rebateu, andando sem rumo pelo local sem tirar os olhos dos mais velhos. — Eu nem queria ter nascido, você podia ter enfiado a porra de um cabide em mim, talvez a vida de todo mundo tivesse sido bem melhor!
— Cala a sua boca! — Yejun mandou.
Chan, porém, continuou:
— Mas eu nasci! Eu nasci e eu decidi que eu vou ser quem eu sou, e eu caguei se vocês vão apoiar ou não! — chutou os resquícios de sua certidão de nascimento que estavam no chão. — Fala sério, o que vocês esperavam que ia acontecer!? Vocês achavam que me punindo, me desrespeitando, me repreendendo, um dia eu iria só acordar e ser quem vocês queriam!? Tem que ter muita merda na cabeça pra achar que isso iria dar certo! Se eu fiz tudo isso, foi culpa de vocês, se eu não respeito vocês, é culpa de vocês, porque eu nunca me senti respeitado dentro dessa casa!
— Pega suas coisas e vai embora, então! — mandou a ômega, agarrando Chan pelas roupas e o puxando até a porta.
— Não! — Yejun interveio. — Ele pode ser o que quiser, mas não vai ir pra rua pra ficar rodando bolsa em qualquer esquina! Tranca ele no quarto que amanhã a gente vai no cartório desfazer essa palhaçada.
Mesmo a contragosto, Seoyun soltou o filho.
— Você ouviu seu pai — disse com a voz rouca. — Anda! Sobe!
Sem contestar, Chan subiu as escadas e entrou em seu quarto, onde Minho o esperava.
Quando viu o irmão, o menor correu até ele e o abraçou apertado, chorando desesperado em seu ombro.
— Desculpa, meu amor — pediu o mais velho, acariciando os cabelos dele. — Desculpa ter que fazer você passar por isso.
— E-Eu não quero qu-que vocês briguem.
— Eu sei, me desculpa — afastou-o do abraço, secando seu rosto. — Desculpa o mano, mas agora eu preciso que você me faça um favor, tá?
Minho acenou com a cabeça.
— Vai pro seu quarto e tenta dormir — pediu.
— Não, eu não quero — negou, voltando a abraçá-lo com força. — Eu quero ficar com você.
— Eu sei, mas eu não posso ficar com você agora — explicou, tentando fazer com que Minho o soltasse. — Vai pro seu quarto e tenta dormir, por favor.
— Não, por favor! Eu não quero! — chorou alto, agarrando o pescoço dele.
Chan suspirou, não conseguindo conter suas lágrimas. Segurou o irmão em seu colo e o embalou devagar, cantarolando qualquer coisa na esperança de o acalmar.
Segurou-o mais firme em seus braços quando ouviu os passos de sua mãe na escada, manteve o rostinho dele apoiado em seu ombro quando a ômega abriu a porta.
— O que você tá fazendo? — ela perguntou com um tom baixo, mas que carregava toda raiva que ainda estava sentindo.
— Tô tentando acalmar meu irmão — respondeu baixo. — Diferente de vocês, eu não gosto de fazer ele chorar.
— Cala essa boca.
Chan sentiu Minho se encolhendo em seu colo e o abraçou apertado.
— Assim que ele dormir, coloca ele na cama e volta pro seu quarto — mandou, fechando a porta em seguida.
Assim que a porta foi fechada, Minho voltou a chorar baixo, agarrando-se ao irmão com mais força.
— Shh, tá tudo bem — sussurrou o beta para o mais novo, acariciando seus cabelos com cuidado e o embalando. — Tudo vai ter passado amanhã, eu prometo.
Após alguns minutos, o choro de Minho foi se acalmando até cessar de vez. Os olhinhos ficaram pesados e um pouco inchados, e o coração de Chan se apertava dentro do peito quando percebia.
— The monster's gone — cantou baixinho. — He's on the run, and your brother's here — sorriu pequeno ao vê-lo adormecendo. — Beautiful, beautiful, beautiful. Beautiful boy.
Mais lágrimas escorreram pelo rosto de Chan quando sentiu o irmão finalmente relaxando em seus braços. Foi até o quarto dele e ajeitou-o em sua cama, cobrindo-o com cuidado e deixando sua pelúcia favorita de dinossauro ao seu lado.
— Você é bom, você é inteligente, você é importante — sussurrou beijando sua testa. — Eu te escuto, eu te acolho, eu te amo.
Então saiu e fechou a porta com cuidado. Seus pais lhe esperavam no corredor.
— Vai pro seu quarto — mandou Yejun.
Chan apenas obedeceu. Sentou-se na cama e observou o momento que sua mãe fechou a porta e a trancou por fora.
— Idiotas — sussurrou para si mesmo, levantando assim que não ouviu mais a voz dos pais.
Pegou sua mochila, jogou sobre os ombros e abriu a janela com cuidado para não fazer barulho. Perto, havia uma árvore grande e forte o suficiente para que ele conseguisse se segurar ali e fugir.
Quando conseguiu chegar ao chão novamente, correu para pegar sua bicicleta e sair dali o mais rápido possível.
Viu em seu celular que era perto da meia-noite mas não prestou atenção e ligou para a primeira pessoa que veio em sua mente.
As lágrimas continuavam molhando seu rosto enquanto o vento soprava contra ele.
— Oi, princesa — a voz de Siwoo soou baixa, um pouco rouca, o que levou Chan a pensar que ele estava dormindo.
— O-Oi — fungou. — Eu te acordei?
— Não exatamente — respondeu. — Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu. Você pode me encontrar?
[...]
Siwoo sempre soube que sua vida era muito diferente da vida de Chan, ele imaginava como era a situação familiar dele pelas coisas que ouvia, tentava sempre pensar em formas de fazer o beta sorrir quando ele estava para baixo, mas não soube o que fazer quando o encontrou perto de sua casa e ele correu chorando para seus braços.
Sentiu-se perdido ao abraçar o mais novo e ouvi-lo praticamente se desfazer em lágrimas, parecendo tão frágil e indefeso que não teve outra reação que não fosse apertá-lo com firmeza, na esperança de que aquilo pudesse ajudar ao menos um pouco.
— Me desculpa — Chan disse abafado contra seu ombro. — Me desculpa, eu sei que tá tarde, mas eu não sabia pra onde ir.
— Ei, ei. Tá tudo bem — acalmou mexendo em seus cabelos. — Vamos entrar? Tá frio aqui.
— Entrar onde? — olhou-o confuso.
— Em casa, ué — sorriu secando seu rosto com os polegares. — Nós não vamos ficar na rua.
— M-Mas seus pais…
— Eles sabem que eu sou gay, mas a gente não precisa dizer que estamos namorando — acalmou segurando-o pela mão e puxando-o.
— Espera aí! — tentou se afastar sem muito sucesso. — Eu deixei a bicicleta no chão. Eu tô acabado, não quero que eles me vejam assim…!
— Eles estão dormindo, bobinho — retrucou, soltando sua mão por um momento para que pudesse pegar a bicicleta. — É só a gente entrar sem fazer barulho que vai ficar tudo bem.
— Mas e se eles acordarem? — perguntou preocupado, não conseguindo resistir quando o alfa segurou sua mão e o puxou outra vez.
— Vem logo, não faz eu te carregar nos ombros.
Chan agradeceu aos céus quando entrou na casa e ela estava vazia, algumas luzes estavam acesas mas não podia-se ouvir nenhum barulho. Apenas seguiu de cabeça baixa Siwoo quando ele subiu as escadas e deixou que a beta entrasse em seu quarto.
Ele até queria observar com cuidado as coisas do alfa, aproveitar o fato de que estava na casa de seu namorado pela primeira vez, mas as lágrimas ainda rolavam pelo seu rosto e todos os acontecimentos difíceis daquela noite ainda estavam em sua cabeça, repetindo de novo e de novo, deixando-o com dor e ainda mais vontade de chorar.
— Você quer conversar, meu bem? — Siwoo perguntou sentando-se na cama e esperando pelo outro.
Chan olhou-o perdido e encolheu os ombros, aproximando-se devagar.
— Eu briguei com meus pais — contou, aceitando quando o maior lhe estendeu as mãos. Segurou-as com força e chorou mais. — Eu não sabia que ia ser tão ruim.
Quando viu o namorado fechando os olhos e lágrimas rolando por seu rosto, Siwoo o puxou para perto e o abraçou, deixando que ele sentasse sobre suas pernas e apoiasse a cabeça em seu ombro.
— Tá tudo bem, passou — murmurou, apertando-a entre seus braços e acariciando seus cabelos. — Eu tô com você.
— Eu não sei o que fazer — chorou. — Eu tô tão cansado de tudo, eu não aguento mais nada disso. Eu não tenho mais forças, Siwoo…
— Eu imagino, meu amor — disse calmo, acariciando suas costas e cabelos. — Você tem todo direito de estar cansado, por isso, hoje, você vai descansar. Não precisa pensar em responsabilidades, seus pais, seus irmãos, ou a escola, tá bem? O mais importante agora é você.
— Eu não consigo… — soluçou, cobrindo o próprio rosto. — Eu não posso.
No fundo, a beta ainda temia que os pais do mais velho pudessem ouvir seu choro alto, mas não estava conseguindo controlar as lágrimas que escorriam por seu rosto, nem o tom de sua voz por causa do nó doloroso que estava em sua garganta.
— Você pode, sim — insistiu o alfa, segurando-o em seus braços e o ajeitando na cama. — Chora tudo que você precisar, tá bem?
Chan fechou os olhos e abraçou Siwoo com força, molhando sua camiseta com as lágrimas incessantes. Sem ter muito o que pudesse fazer, o mais velho apenas continuou ao lado dela, tentando confortá-la com palavras e afagos gentis.
— Eu não tenho mais forças, hyung — ele disse choroso, abraçando-o apertado. — É tudo tão difícil e eu não consigo.
— Eu sei, meu amor — sussurrou, trazendo-o para mais perto e deixando um beijo carinhoso em seu rosto. — Eu sei como é difícil, mas eu sei que você vai conseguir passar por tudo isso. E você não precisa se preocupar, ok? Eu faço a parte mais difícil com você.
A beta acenou com a cabeça, afastando-se o suficiente para que pudesse tocar o rosto do maior e selar seus lábios.
— Obrigado por cuidar de mim — murmurou acariciando sua bochecha.
Siwoo sorriu, puxando-a novamente para lhe beijar. O contato não durou muito, e após se separar, manteve seus rostos próximos, roçando a pontinha do seu nariz a do namorado.
— Obrigado por confiar em mim o suficiente pra isso.
Chapter 54: Chá de Pera
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O sol ainda não havia nascido mas Chan estava acordado. Observava a janela do quarto de Siwoo, esperando até poder ver os primeiros raios de sol, era algo que gostava de fazer quando sentia-se perdido e sem esperança, e algo que fazia com mais frequência do que consideraria saudável.
Os braços do alfa estavam firmes em sua cintura, o que lhe impediu de levantar quando acordou, era quase como se ele soubesse que provavelmente Chan fugiria se tivesse a chance. Será que ele já o conhecia tão bem assim?
Com um suspiro, o beta virou-se para o maior que ainda estava adormecido. Observou-o por alguns segundos, correndo os dedos pelos escuros cabelos ondulados e, inevitavelmente, começou a pensar e ponderar sobre seus sentimentos quanto a Siwoo. O quanto ele significava para si?
Porém, o som de seu celular tocando interrompeu sua linha de raciocínio, pegou o aparelho rápido para que o barulho não acordasse o outro.
Atendeu, mesmo relutante ao ver o nome de sua mãe.
— Onde você tá? — ela perguntou, a voz estava calma, nada como estava na noite passada.
— Por que quer saber?
— Deixa de brincadeira. Você não pode simplesmente fugir de casa assim.
— Do mesmo jeito que vocês não podem me trancar no quarto ou me obrigar a mudar meu nome? — retrucou baixo.
Ouviu um suspiro longo e cansado da mulher do outro lado da linha.
— Seongsu, eu não tô com paciência, me diz onde você tá agora.
— Esse não é mais meu nome… nunca foi, na verdade — respondeu em tom baixo, sentando-se na cama com cuidado. — Eu só vou te dizer que eu tô bem, tá? Eu vou pra escola quando der o horário e depois vou trabalhar.
— Não pode continuar fugindo pra sempre.
— Bem, mãe, que pena. Porque, como o papai disse, se eu não respeito vocês, eu vou ter medo e o medo faz as pessoas fugirem — falou, respirando para tentar aliviar o nó que sentia em sua garganta. — Eu não queria sair de casa, não queria deixar meus irmãos, mas já se tornou insuportável. Eu não vou conseguir voltar se vocês não mudarem.
— Seongsu…
O beta desligou a chamada antes que ela pudesse continuar. O tom de sua mãe, entretanto, não estava irritado, soou quase compreensivo. Se ela ao menos tivesse dito seu nome talvez tivesse esperado para ouvir o que ela tinha a dizer.
Cobriu seu rosto com as mãos, mas não conseguiu impedir que lágrimas escorressem por ele.
— Chan? — Siwoo acordou, confuso. — O que aconteceu, meu bem?
— N-Nada, me desculpa — disse, secando seu rosto. — Tá cedo ainda, pode voltar a dormir.
— Como você espera que eu volte a dormir se me preocupo com você? — sentou-se e chegou mais perto dela, acariciando sua bochecha. — O que você tá pensando?
O mais novo olhou-o, sendo inútil tentar esconder sua cara de choro, ele tocou o rosto do namorado, acariciando sua bochecha com o polegar e analisando com cuidado suas feições.
— Eu tô pensando… que sua voz rouca de quem acabou de acordar é muito sexy — brincou, sorrindo em meio às lágrimas quando o maior riu sem jeito.
— Tô falando sério — ele disse, chegando mais perto e segurando sua mão. — Você sabe que pode confiar em mim, né?
— Eu sei, é só… — deu de ombros, sem saber como continuar. — É complicado. Não sei o que vou fazer agora.
— Você não precisa pensar nisso sozinho — afirmou acariciando seu rosto. — Eu tô do seu lado.
— Eu sei, mas até quando? — desviou o olhar. — Não acho justo eu colocar todo esse peso nas suas costas.
— "Todo esse peso" são seus sentimentos — afirmou, segurando seu rosto para que ele lhe olhasse. — Não é peso nenhum, ok?
Chan negou com a cabeça, afastando lentamente o toque do maior, voltou a olhar para longe.
— Você não entende… — murmurou choroso. — Eu tenho medo. Tenho medo pra caralho que as pessoas que eu amo se afastem de mim…
— Chan, ninguém vai se afastar de você — enfatizou, tentando olhá-lo nos olhos, mas sem sucesso. — Fala sério, você é uma das pessoas mais populares da escola, a maioria do pessoal te adora! Você tem bons amigos, então…
— Eu sei, Siwoo, eu sei disso — retrucou secando o rosto com a manga do pijama que o alfa lhe emprestou. — Mas mesmo assim eu tenho medo. Eu sempre mostrei o melhor de mim, então eu acho que as pessoas não vão me querer por perto se eu não estiver bem. Eu tô com medo agora mesmo, uma vozinha insuportável na minha cabeça tá dizendo que você vai terminar comigo por causa disso.
— Ok, essa foi, oficialmente, a coisa mais sem sentido que você já disse — chegou mais perto do menor e segurou suas mãos. — Chan, olha pra mim. Isso não vai acontecer, ok? As pessoas que gostam de você de verdade, não vão te afastar porque você não tá num bom dia. E se alguém fizer, você tá muito melhor longe dessa pessoa.
— Uma parte minha sabe disso, mas ainda é tão difícil — fechou os olhos, apoiando a testa no ombro do maior e se permitindo pôr tudo para fora. — Eu não quero mais me sentir assim.
— Eu sei, amor, eu sei — sussurrou acariciando seus cabelos, abraçando-o com carinho. — Vai passar, eu prometo.
Chan fechou os olhos e retribuiu o abraço, apertando Siwoo tão forte em seus braços que pensava se poderia machucá-lo, mas não queria soltar, queria que aquilo fosse o suficiente para fazer toda aquela tristeza e angústia fossem embora.
E em partes, era.
[...]
Chan, que normalmente era muito extrovertido e falante, caminhou em completo silêncio ao lado de Siwoo até a escola. O alfa também não sabia o que deveria dizer, não conseguia pensar em nada, e tudo que já havia dito parecia não ter chegado até o outro, então se contentou em segurar sua mão firmemente para que ele não se esquecesse que estava ali.
— Eu tenho uma reunião com o time agora, você quer ir junto? — convidou assim que chegaram no portão da escola.
— Não, tudo bem — forçou um sorriso. — Eu te vejo depois.
— Mesmo? — tocou seu rosto. — Eu posso faltar a reunião se quiser que eu fique com você.
— Não precisa, eu não quero te atrasar — falou, segurando suas mãos e lhe dando um selinho rápido. — Eu te encontro depois.
— Tá bem. Qualquer coisa me liga, vou ficar com o celular a mão.
— Ok — acenou para o maior e logo deu as costas para seguir o caminho até sua sala de aula.
Chan gostava de ter amigos, ela adorava a certa "popularidade" que tinha, de conversar com várias pessoas e se encaixar com facilidade, mesmo que às vezes considerasse algumas dessas conexões superficiais, mas estava mais do que acostumado a ser parado nos corredores por muitos de seus amigos, entretanto, naquele dia, tudo que queria era chegar a sala de aula e ficar por lá, sozinha, até que o professor chegasse, o que não foi possível, pois não demorou mais que cinco passos até que Seungkwan estivesse vindo em sua direção.
— Chan-ah, que bom que você chegou — ficou ao seu lado, alheio a sua expressão cansada. — Eu sei que tô sendo chato, mas eu preciso muito que você me ajude com aquela redação sobre o que é estilo, você não me respondeu mais desde ontem…
— Seungkwan, eu sei que prometi ajudar, mas agora não posso — recusou esfregando os olhos. — Outro dia, talvez…
— Chan! — a voz de Jisoo chamou atenção dos mais novos, ele vinha até eles com Minghao em seu enlaço. — A gente tava te procurando.
— Kwan, você pode opinar também ! — exclamou o Xu, passando um braço pelos ombros da mais nova. — Chan, você vai me ajudar nessa.
— Não, eu não posso agora…
— Não é nada demais. Eu recebi essa mensagem do meu namorado dizendo que "tudo bem" eu ficar com essa pessoa, mas Jisoo acha que ele tá com ciúmes.
— Gente, é sério — Chan disse, tentando se afastar para poder ir a um lugar vazio. — Agora eu não tô no clima pra…
— Ei, Chan! — Soonyoung chamou animado indo ao encontro deles enquanto puxava Jihoon pela mão. — Nos ajuda aqui rapidão…
— Eu tô tentando dizer que eu não posso agora! — ela gritou, afastando rispidamente o toque de Minghao. — Porra, qual o problema de vocês!? Não conseguem pensar sozinhos nunca? Vocês vivem pedindo minha opinião como se eu tivesse toda minha vida resolvida, mas eu não tenho, tá legal!? Eu tento sempre fazer melhor do que o dia anterior, mas tem dias que eu também não aguento mais e esses dias são muito recorrentes, ok!? A grande maioria das vezes em que o sol nasce eu desejo não ter acordado, mas eu me levanto e continuo mesmo assim e eu odeio isso! — gritou irritado. Não demorou muito para que lágrimas grossas estivessem molhando seu rosto. — Eu odeio estar vivo em alguns dias, mas eu preciso continuar porque tenho dois irmãos pequenos e agora também tenho uns seis caras pra ficar cuidando? Sinceramente, é cansativo ser legal todos os dias! E eu tô exausto! Eu tô exausto…
— Chan, olha pra mim — Seungkwan pediu firme ao perceber que o amigo parecia estar tendo uma crise. — O que você tem?
— Eu não aguento mais isso, hyung! Não consigo mais! — chorava alto, cobrindo seus ouvidos e fugindo do toque de seus amigos. Estava sufocado.
— Chan, tá tudo bem, olha pra mim — Seungkwan tentava se aproximar. — Soonyoung, Jihoon! Vão procurar o Mingyu, por favor!
— O-Ok! — o ômega concordou, puxando o namorado pela mão.
— Eu vou procurar o Siwoo — Minghao falou, logo sumindo pelo corredor também.
Vários alunos que passavam, olhavam a cena curiosos, querendo entender o motivo de tanta gritaria, alguns se aproximavam e tanto Seungkwan quanto Jisoo — que acabara ficando com os mais novos — sabiam que não era bom criar uma multidão ao redor de Chan naquele momento.
— Vamos levar ele pra outro lugar — disse o beta, aproximando-se do menor e tocando seus braços firmemente, Chan tentou se afastar, mas Joshua não deixou.
— Sim, vamos — concordou o Boo. — E vocês, podem ir também! — afastou as pessoas que se aglomeravam ao redor. — Sei que a vida de vocês é desinteressante, mas não precisam cuidar da vida dos outros.
Chan ainda chorava quando os mais velhos lhe levaram para um lugar mais afastado, um pequeno canteiro com árvores, bancos e arbustos que não era muito frequentado naquela hora. Quando chegou e a barulheira diminuiu, ela foi capaz de se acalmar um pouco, apesar de ainda chorar inconsolável e ter a respiração descompassada.
— O que aconteceu, Chan? — Seungkwan perguntou, sentando-se ao seu lado. — Tá tudo bem…
— Não tá! — ela gritou, cerrando os punhos com força. — Para de falar isso! Você não sabe de nada!
— Ok, Chan, respira — Jisoo pediu, ficando ajoelhado à sua frente, segurou suas mãos para impedir que ele se machucasse com as unhas. — Vamos, respira fundo, você não tá respirando…
— Eu não consigo, hyung! — fechou os olhos.
— Consegue, sim. Olha pra mim — tocou seu rosto, ela abriu os olhos e lhe fitou. — Respira e conta devagar, sim? Assim: um, dois… — inspirou profundamente, incentivando-o a fazê-lo consigo.
Repetiram aquilo mais algumas vezes até que a respiração do mais novo estivesse mais regulada, apesar de ainda haver lágrimas molhando seu rosto. Ele fechou os olhos, aliviado, quando conseguiu respirar sem problemas.
— Obrigado, hyung… — murmurou, a voz ainda embargada. — Desculpa… eu causei problemas, não é?
— Não causou — bagunçou seus cabelos.
— Quer falar o que aconteceu? — Seungkwan perguntou, tocando a mão do amigo.
— É… É complicado.
Ouviram alguns passos se aproximando, a beta não quis erguer o rosto para ver quem era, pois não queria que mais ninguém o visse naquele estado.
— Vocês estão bem? — Mingyu perguntou, andando apressado até a mais nova. — O que houve, Chan-ah?
Quando levantou a cabeça, Chan pôde ver que alguns seus amigos mais próximos estavam ali — Mingyu, Seungkwan, Jihyo, Jihoon, Soonyoung, Jisoo e até mesmo Siwoo, que olhava tudo um pouco espantado —, e, apesar daquele ser um dos piores dias de sua vida, ela sentiu-se grata e feliz ao perceber que não estava só.
O choro, que parecia ter dado um rápida trégua, voltou com aquele misto estranho de sentimentos dentro de seu peito.
— Me desculpa… — sussurrou, fechando os olhos quando Mingyu lhe abraçou apertado, derramando suas lágrimas no ombro do amigo. — Me desculpa…
— Tá tudo bem — responderam alguns deles, aproximando-se.
— A gente tá aqui.
[...]
Enquanto Jihoon e Soonyoung caminhavam para casa, o ômega notou que o namorado estava muito quieto, andando de cabeça baixa e chutando pedrinhas pelo caminho como se fossem a coisa mais interessante do mundo.
Preocupado, tocou a mão dele e cruzou seus dedos, suspirando:
— Se eu bem te conheço, você tá pensando no que Chan falou, né?
— Hum? — olhou-o. — Ah. Não, não tô.
— Não precisa mentir pra mim — garantiu, apertando-lhe os dedos de forma carinhosa.
Fora a vez de Soonyoung suspirar, acariciando a mão do namorado com o polegar.
— Eu não queria deixar ele chateado.
— Você sabe que não era nada pessoal, né? — pegou as chaves de casa na mochila. — Ela explicou tudo que aconteceu, e que não era culpa nossa. Ele só tava sobrecarregado…
— Eu sei, mas mesmo assim — cruzou os braços quando Jihoon soltou sua mão para poder abrir o portão. — Quando algo assim acontece, quando eu magoo alguém de qualquer forma, eu fico pensando nisso sem parar. Não é algo que eu controle, a voz da pessoa só fica ecoando na minha cabeça em loop.
Entraram em casa em silêncio, percebendo que Taesuk não estava e que Daeun estava adormecida no sofá — algo que estava acontecendo com frequência — e Yoona estava em seu bebê conforto, também adormecida.
Os dois subiram para o quarto do ômega, este que foi diretamente até seu guarda-roupa para poder trocar-se, já que tinha autoescola mais tarde.
Assim que se vestiu, Jihoon se aproximou do namorado que estava sentado na cama, com o olhar distante, e tocou seu rosto.
— Posso tentar te fazer esquecer isso? — perguntou, acariciando suas bochechas e inclinando-se para beijar seus lábios.
— Você não está com a mente muito suja, não? — ergueu uma sobrancelha, segurando a cintura dele.
— A sua que tá! — estapeou seu braço. — Pervertido.
— Ok, ok, me desculpa — riu enquanto observava o menor levantar e ir até o guarda roupa.
— Eu ia dizer que a gente pode fazer alguma coisa agora, ou seja, depois que minha mãe acordar — explicou tirando a camiseta que usava, fingindo não notar o olhar do alfa queimando suas costas. — Eu tenho autoescola daqui uma hora e meia, mas hoje é só uma prova e provavelmente eu vou terminar rápido. A gente pode sair depois, que tal?
— Hum… — levantou e foi até Jihoon. — Você vai me levar de carro?
O ômega riu e virou-se, abraçando Soonyoung pelos ombros.
— Ainda não posso, mas logo, eu vou poder — sorriu quando o namorado lhe deu um selinho. — Aí eu vou te levar num encontro muito romântico, tipo o nosso de cem dias.
— Mal posso esperar — respondeu ainda deixando beijinhos rápidos nos lábios do namorado.
[...]
— Eu adorei o lugar, a gente podia vir aqui sempre — Jihoon disse ao entrar na cafeteria.
— Olá, sejam bem-vindos ao Dose de Café — Chan disse gentil ao se aproximar dos amigos. — É bom ver vocês aqui.
— Oi, Chan — Soonyoung sorriu. — Pensei que não fosse trabalhar hoje.
— Ah, eu meio que preciso e Siwoo disse que ia ficar aqui caso eu não me sentisse bem — apontou para o alfa que estava sentado no balcão, mexendo no celular enquanto tomava um café gelado. — Aliás, me desculpem por ter explodido hoje, não era culpa de vocês, eu não devia…
— Relaxa, tá tudo bem — Jihoon acalmou. — Mas, enfim, podemos ver o cardápio?
— Claro, fique à vontade — sorriu gentil. — Sentem ali no balcão pra gente poder conversar enquanto eu faço os pedidos. Vou só atender outros clientes que estão lá atrás e já volto.
— Como você quiser — Soonyoung disse, puxando o namorado pela mão até o balcão.
Eles sentaram e cumprimentaram Siwoo, que ergueu o olhar parecendo um tanto distraído e distante.
— Ah, oi — sorriu soltando o celular. — Nem vi vocês chegarem.
— Você tá bem? — Jihoon perguntou, notando as olheiras escuras embaixo dos olhos do maior. — Parece cansado.
— Eu só não dormi muito essa noite — sorriu sem graça, correndo os dedos pelos cabelos ondulados e deixando-os ainda mais bagunçados. — Eu tava dormindo quando Chan me ligou pedindo ajuda, ele dormiu lá em casa comigo mas eu não consegui dormir.
— Por que não? — Soonyoung juntou as sobrancelhas.
— Sei lá, eu… — encolheu os ombros. — Eu tava preocupado com ele. Ele tava muito abalado, aí eu não consegui dormir porque tava preocupado, fiquei perto, fazendo cafuné e confortando ele, e quando eu finalmente peguei no sono eu acordei pouco tempo depois ouvindo ele chorar.
— Deve ter sido difícil — o ômega murmurou.
Siwoo acenou com a cabeça em concordância, soltou um longo suspiro e olhou ao redor, percebendo que Chan não estava ali, provavelmente estaria atendendo no outro salão, então ele se aproximou de Jihoon e Soonyoung, para poder continuar, falando em tom baixo:
— Foi muito estranho, sabe? Eu nunca tinha visto Chan chorando antes, eu não achava que a família dele fosse complicada a esse ponto. Eu sabia que não era fácil pelas coisas que a gente já conversou, mas eu não imaginava que era tão ruim — desabafou, tendo o olhar atento dos demais. — E eu admito: eu sou um cara super privilegiado, além de ser cisgenero e ter uma condição financeira boa, meus pais não tiveram grandes problemas quando eu contei que sou gay… Quer dizer, eles me fizeram ir num encontro com essa garota que era filha de uns amigos deles, mas ela é lésbica, então tipo… — deu de ombros —, toda essa confusão é algo muito fora da minha realidade, eu não sei o que fazer, nem como ajudar e isso me deixa muito frustrado — soltou um suspiro pesado, apoiando o rosto nas mãos. — Acho que eu não tava pronto pro furacão que Chan veio trazer pra minha vida.
— Ok, válido — Soonyoung começou —, mas seria muito escroto você terminar com ele agora…
— Quem falou em terminar!? — exclamou Siwoo, dando ao outro alfa sua melhor cara de confusão, quase ofendido. — Eu não tava pronto, mas isso não quer dizer que eu não possa começar juntando os caquinhos. Fala sério, eu gosto dele há meses, eu ralei muito pra conseguir convencer ele a namorar comigo. Tudo isso que tá acontecendo não me assusta mais que a ideia de perder ele…
Sem que o alfa pudesse prever, ele sentiu o momento exato que Chan o abraçou por trás. Ele deu um pulo no lugar pela surpresa, com certeza não havia percebido que o namorado já tinha voltado e estava ouvindo a conversa.
— Você me assustou…
— Você que tava falando de mim pelas minhas costas — disse com um tom bravo, mesmo que estivesse sorrindo e o abraçando apertado.
— Foi mal.
— Você é a coisa mais preciosa do mundo — sussurrou em seu ouvido, plantando um beijo em seu rosto em seguida. — Vou soltar você agora senão vão pensar que eu faço isso com todos os clientes.
— Se você for cobrar, eu pago — brincou Siwoo, sorrindo aliviado quando Chan riu baixinho e bateu de leve em seu braço.
— Já sabem o que querem?
— Eu quero um afogatto — pediu Jihoon.
— Eu também.
— Ok, vou fazer agora mesmo — voltou para trás do balcão, pegando os utensílios necessários para preparar os pedidos, ficando próximo dos amigos enquanto o fazia. — O que vocês queriam me perguntar hoje de manhã? Sabe, antes de eu ter uma crise.
— Ah, não era nada demais — Soonyoung respondeu, sua atenção dividida entre a conversa e um jogo em seu celular.
— Qual é? Me conta — insistiu o mais novo. — Sou curioso. Vai, por favor.
— Esquece, Chan, não era nada demais mesmo — negou, quase desfocando por completo do que acontecia.
— Daqui a pouco ele não ouve mais a gente — Jihoon disse, observando o namorado. — É difícil falar com ele quando ele tá jogando.
— Eu entendo totalmente — Chan falou.
— Siwoo também joga? — perguntou Jihoon, olhando para o outro alfa, que estava distraído rolando o feed do Instagram.
— Não, eu jogo — falou o beta. — Quer dizer, ele joga também, mas aí a gente joga junto.
— Isso é fofo — Soonyoung comentou. — Jihoon nunca quis jogar comigo.
— Eu tentei jogar uma vez e eu não gostei, achei chato e difícil — argumentou, empurrando o maior de birra.
— É só aprender a jogar — retrucou, mostrando a língua de maneira infantil. — Ai, droga, perdi! — exclamou emburrado, levantando-se em seguida. — Vou no banheiro rapidão antes de começar a próxima partida.
— Volta logo, antes que o sorvete derreta — Chan disse, deixando as duas taças sob o balcão.
— Obrigado, Chan-ah — Jihoon sorriu, logo começando a tomar o seu. — É incrível que, mesmo não estando no seu melhor dia, você consegue fazer o melhor affogato do mundo.
O beta sorriu pequeno, concentrado em limpar o balcão e fazer outros pedidos.
— Ryujin que me ensinou, ela é a melhor — falou, apontando para a garota de cabelos rosas, que conversava animada com os clientes. — Quero ser igual ela quando crescer.
— Ela não é mais nova que você? — Siwoo perguntou.
— Ela é, mas ela tem mais experiência que eu aqui — encolheu os ombros, saindo de trás do balcão com uma bandeja com taças e pratos.
— E você pretende trabalhar aqui pra sempre? — o alfa ergueu uma sobrancelha, estava perguntando apenas para incomodar e sabiam disso.
— Não, eu vou morrer estudando pra conseguir entrar na faculdade de psicologia — Chan rebateu. — Daqui uns anos, vocês vão me chamar de Dr. Lee.
— Eu não, eu vou te chamar de meu noivo — Siwoo respondeu, sorrindo na direção do mais novo, que voltava para perto deles após entregar os pedidos de outros clientes.
— Credo, garoto, você ainda nem me levou pra cama e já tá querendo me levar pro altar? — falou baixo, rindo quando o alfa revirou os olhos e levantou.
— Vou ao banheiro, já volto.
Jihoon riu baixinho assistindo a interação do casal, estava feliz por Chan e por Siwoo, percebia o quanto eles gostavam um do outro e o quão contente o mais novo estava.
Mesmo estando com vários problemas, Chan carregava um sorriso bobo no rosto quando voltou para trás do balcão.
— É sério o que você falou? — o ômega perguntou baixinho para a amiga. — Que você e o Siwoo ainda não…?
— Ah, eu tava só implicando, a gente começou a namorar há pouco tempo então não vou exigir isso, obviamente — explicou, debruçando-se sobre o balcão para ficar mais próximo do mais velho. — A gente ainda não fez, mas a gente não tem pressa também.
— Ah, entendi — murmurou. — É que, sei lá, Siwoo parece meio…
— Eu sei, ele parece hétero e allosexual ao extremo — disse, rindo junto de Jihoon. — Quer dizer, só entre você e eu — aproximou-se. — Siwoo e eu… a gente tem bastante química, a gente se pegava fortemente nas festas e eu achava que ele ia ser tão intenso e… apressado quando a gente avançasse, mas ele fica tímido quando percebe que pode ir pra algo além de beijar, sabe? Mas eu acho que ele só precisa do incentivo certo pra se soltar e mostrar do que ele é capaz. Se é que você me entende.
Jihoon riu pelo nariz, sentindo as bochechas ficando mornas pelo assunto um tanto inusitado, mas sentia-se confortável em ouvir e compartilhar dessas conversas com Chan.
— Entendo, entendo — respondeu. — Mas, eu acho que você, mais do que ninguém, vai saber "incentivar" ele.
— É? Por que "eu mais do que ninguém"? — perguntou em um tom insinuativo, erguendo uma sobrancelha e se aproximando mais do ômega, tocando sua mão com a ponta dos dedos.
— Para de flertar comigo, garoto! — mandou Jihoon, não conseguindo conter um riso.
— Flertar não é nada demais, e é divertido — riu e deu de ombros. — Mas ok, eu sei que você, Soonyoung hyung e meu namorado são as pessoas mais monogâmicas do mundo, então eu vou parar.
— É melhor, porque o meu namorado é bastante ciumento.
— Eu imaginei — aproximou-se novamente. — Mas, só entre nós, como é o Soonyoung hyung?
— Como assim?
— Tipo… você sabe — abaixou o tom. — Vocês já fizeram, e eu fiquei curioso, tipo… ele é igual Siwoo e você precisa provocar até ele se soltar ou…?
— Ah, não. Acho que é o contrário, na verdade — contou, mexendo o sorvete em sua taça de forma tímida. — Às vezes, eu preciso dar uma segurada nele pra não irmos longe demais. Direto quando a gente tá só se beijando, ele começa a apertar minha cintura e me puxar pra mais perto. Ao mesmo tempo que ele me pergunta umas cinco vezes se eu tenho certeza.
— Isso é fofo.
— Da primeira vez, é fofo. Aí na quinta, eu já não aguento mais e quero só mandar ele calar a boca — riram. — Mas também… Normalmente, quando ele vai me beijar, ele é tão gentil, o toque dele na minha bochecha é tão suave que eu fico…
Suspirou, sem saber como descrever.
Chan sorriu o olhando, cobrindo o rosto com a mão esquerda para esconder.
— É, eu sei — disse e olhou ao redor, chegando mais perto do ômega. — Uma vez, há algum tempo atrás, acho que a gente ‘tava saindo entre amigos, aí ele foi me ajudar a colocar meu casaco, ele deslizou as mãos pelos meus braços e tocou minha cintura de levinho. Eu me arrepiei um pouquinho, admito.
— Ele faz isso comigo! — Jihoon exclamou animado, surpreso, talvez. — Aquele garoto não vale nada.
Os dois riram novamente, tentando conter e disfarçar quando Soonyoung voltou e tomou seu lugar, começando a tomar o affogato enquanto iniciava uma nova partida do jogo em seu celular.
— Eu não acho que ele percebe — Chan sussurrou para o ômega.
— E eu não sei se isso é bom ou ruim — respondeu, apoiando a cabeça no ombro do namorado.
O beta sorriu ladino, balançando a cabeça levemente, voltando a se concentrar em seu trabalho.
— Hoje é sexta-feira, né? — Soonyoung comentou de repente. — Por que a gente não reúne o pessoal pra fazer alguma coisa?
— Defina “alguma coisa” — Jihoon pediu.
— Defina “o pessoal” — Chan interveio.
— Alguma coisa tipo… — deu de ombros. — Um rolê pra jogar, beber e conversar, com nossos amigos mais próximos e que estiverem livres.
— Hum, a ideia de não precisar dormir em casa me agrada — contou a mais nova, secando algumas taças e colocando no lugar.
— Você não ia dormir lá em casa de novo? — Siwoo perguntou, os olhos de cachorrinho que caiu da mudança fizeram o coração de Chan errar uma batida.
— Você não me conhece se achou que eu ia fazer isso — retrucou, chegando perto dele.
— Eu te conheço o suficiente pra saber que você é a pessoa mais teimosa que eu já conheci e eu precisaria te carregar nos ombros até lá.
— E eu te conheço o suficiente pra saber que você realmente faria isso — suspirou, dando a volta para sair de trás do balcão. — Mas, se o pessoal vai fazer alguma coisa, eu tenho passe livre pra ficar no lugar até tarde.
— E se a gente não fizesse nada, você iria pra onde? — Jihoon perguntou usando a colher para catar os últimos resquícios do sorvete presente em sua taça vazia.
Com a pergunta, Chan ponderou por alguns segundos e encolheu os ombros, incerta, soltando um suspiro cansado.
— Acho que eu ia acabar voltando pra casa dos meus pais…
— Mesmo depois de tudo que eles fizeram? — Siwoo embasbacou, virando-se no banco para observar o namorado.
Chan, por sua vez, fez um sinal para que ele falasse baixo.
— Eu vou ter que acabar voltando mais cedo ou mais tarde, gente — falou derrotado. — Sério, que outra opção eu tenho? Eu só tenho dezoito anos, eu trabalho meio período e não tenho suporte nenhum. Eu ainda preciso morar com meus pais e pagar com minha saúde mental até eu conseguir sair de lá.
— Mas… não é justo…
— A gente não tá falando de justiça, Siwoo — suspirou entristecido. — A gente tá falando de sobrevivência e eu preciso fazer isso. Fora que ainda tem meus irmãos, eu não posso deixar eles sozinhos.
— Você podia tentar se preocupar menos com eles só dessa vez? — o alfa perguntou.
— Não, eu não posso — afirmou seriamente, parecendo um pouco irritado. — Você não tem irmãos, então você nem tem moral pra me pedir isso.
Siwoo soltou um suspiro e acenou com a cabeça, optando por ficar em silêncio. Chan também não tinha mais nada a dizer, então pegou seu bloquinho e foi atender os demais clientes.
— É… tenso — Soonyoung falou após alguns segundos de um silêncio constrangedor.
— A gente tá assim o dia todo — Siwoo explicou, voltando sua atenção ao celular. — Entre tapas e beijos, digamos.
— Olha, eu posso estar errado — Jihoon começou, um tanto sem jeito. — Mas me parece que você ‘tá tentando usar pensamentos lógicos com Chan, e não que isso esteja errado, mas é um negócio que eu sempre falo: lógica só conversa com lógica, e emoção só conversa com emoção.
— Eu acho uma graça quando você fala isso — comentou o Kwon, levando no rosto um sorriso bobo.
— Eu não sei se entendi — falou Siwoo.
— Tipo, Chan tá emotiva porque muita coisa aconteceu, então ela tá sensível e não vai pensar de maneira racional por enquanto, e se você falar coisas lógicas pra ela, pode não dar certo justamente porque emoção só conversa com emoção, então… Sei lá, você pode só oferecer apoio mesmo.
— Hum…
— Uma coisa que o Jih me falou também é que você não precisa saber o que falar sempre — acrescentou Soonyoung. — Ele me mostrou também que às vezes você só ficar ao lado da pessoa já é o suficiente.
— Faz sentido. Valeu, gente — sorriu fechado. — Quem diria que vocês iriam estar dando conselhos amorosos, hein?
— Pois é — Jihoon riu. — Sendo sincero, eu não faço a menor ideia do que tô fazendo.
— Eu também não — Soonyoung concordou.
Eles riram juntos.
Não muito tempo depois, eles puderam ouvir Chan voltando para perto deles, só que, desta vez, ela não estava sozinha: Jisoo havia chegado há alguns minutos e vinha junto na direção deles parecendo bastante animado e também nervoso.
— Shua hyung — Soonyoung exclamou. — O que você tá fazendo aqui?
— Eu não te falei que eu talvez conseguisse um emprego aqui?
— Não falou!
— Ele falou — Jihoon interveio, ele e o alfa se entreolharam.
— Enfim, eu vou fazer a entrevista agora — contou o mais velho.
— Vai dar tudo certo, eu te recomendei muito bem — Chan disse, dando tapinhas de incentivo nas costas do Hong. — Agora, vai lá. Boa sorte.
— Boa sorte — desejou Siwoo.
— Boa sorte! — Soonyoung e Jihoon disseram juntos.
— Valeu, gente. Torçam por mim — cruzou os dedos e seguiu até o local que Chan havia indicado.
[...]
— Um brinde pelo novo emprego do Joshua! — Nayeon exclamou erguendo sua garrafa de soju.
— E por Chan ter mudado o nome legalmente — complementou Jisoo, bagunçando os cabelos do mais novo.
— Saúde! — gritaram juntos, batendo de leve suas garrafas, copos ou latas.
Depois que Jisoo saiu da entrevista com um sorriso enorme no rosto anunciando que havia conseguido a vaga, a ideia de juntarem-se entre amigos pareceu ainda mais atrativa, então, não tardaram a chamá-los. Seungkwan prontamente ofereceu sua casa como ponto de encontro, e assim que o expediente de Chan se encerrou, eles foram até lá.
Quando Chan, Siwoo, Soonyoung, Jihoon e Joshua chegaram, Seungkwan, Vernon, Mingyu, Nayeon e Jihyo já esperavam ansiosos para saberem de tudo. Após alguns goles de soju, brincadeiras, jogos e conversa jogada fora, todos estavam à vontade, divertindo-se.
— Shua hyung — Chan começou, aproximando-se do citado. — Agora eu preciso te dizer.
— O que?
— Bem-vindo ao mundo adulto. É uma droga. Você vai amar.
— Eu sou mais velho que você — riu levemente alterado.
— Tô nem aí — deu de ombros, voltando a sentar-se no sofá.
— Mas é bom finalmente estar seguindo minha vida — contou Jisoo, prendendo a atenção dos amigos. — Acho que… sei lá, isso vai ser muito bom.
— Vai ser incrível! — Nayeon exclamou, chacoalhando o maior. — Não vai mais depender dos seus pais, vai criar independência, responsabilidades.
— Acho que agora só falta você achar um hobby — Jihyo disse. — Digo, trabalhar é importante e tals, mas acho que fazer algo que você goste por puro prazer é top.
— É verdade — Chan concordou. — Eu tenho dança como hobby.
— Sim, foi assim que a gente se aproximou — comentou a Park. — Você me ensinando a coreografia de Bad girl, good girl ainda me dá pesadelo.
— Ih, por que? — Soonyoung perguntou.
— Porque essa garota é insuportável! — Jihyo exclamou apontando para Chan, que ria envergonhado escondendo o rosto no ombro de Siwoo. — Se eu errasse um mísero passo, ele fazia eu começar de novo do zero. Nossa, traumatizante.
— Eu sou perfeccionista, não fala assim comigo — choramingou fazendo bico.
— Ai, tá bem, me perdoa — pediu a alfa, puxando o mais novo e acariciando seus cabelos. — Desculpa, baby, amo você.
— Por que ela pode te chamar de baby e eu não? — Siwoo perguntou, cruzando os braços de birra.
— Porque ela não é minha namorada.
— E eu chamo ele de baby há muito tempo, só eu posso — brincou Jihyo, ainda acariciando os cabelos escuros de Chan.
— Ah, pronto.
— Tem que burlar essa regra e chamar de bebê em outro idioma, igual o Soonyoung fez comigo — Jihoon falou.
— Baobei é muito fofo, para — resmungou ele, fazendo bico.
— Que idioma é esse? — Seungkwan perguntou.
— Chinês.
— É verdade, eu esqueci que você é poliglota — comentou Vernon, distraído enquanto brincava com os dedos do namorado.
— Culpa dos meus pais que me fizeram aprender desde criança. Minha mãe só falava comigo em chinês, meu pai só em japonês, meus outros parentes em coreano e inglês eu aprendi na escola.
— Meu Deus, como que você conseguiu aprender que cada língua era diferente? — Mingyu perguntou, um tanto embasbacado.
— Eu sei lá — deu de ombros.
— Hyung, você sabe japonês? — Chan aproximou-se.
— Eu devo tá um pouco enferrujado porque não pratico há um tempo, mas ainda devo lembrar o básico. Por quê?
— Eu quero muito aprender, mas nunca comecei por pura preguiça — explicou. — E se você me ensinar?
— Eu nunca ensinei ninguém, mas eu posso tentar — afirmou, chegando mais perto dela. — Hum… acho que você pode começar aprendendo hiragana e ir aprendendo alguns vocabulários básicos…
— Vocês podem falar sobre isso depois, né? — Seungkwan resmungou. — Não tem necessidade de se exibir.
— Você é chato, ok? — acusou Soonyoung.
O ômega, em resposta, apenas revirou os olhos e voltou a se aninhar perto de Hansol.
— Eu acho que não tem necessidade de você exibir seu relacionamento na cara dos solteiros — Jisoo falou.
— Os únicos solteiros aqui são você, Nayeon e Jihyo — apontou Seungkwan.
— Não é verdade — interrompeu a alfa, puxando a Im pela mão. — Nayeon e eu estamos namorando.
Todos olharam surpresos para elas.
— Que história é essa!? — Joshua exclamou.
— Não estamos! Jihyo tá brincando — a ômega apressou-se para explicar. — Não liguem.
A alfa revirou os olhos discretamente, mantendo um sorriso ladino em seus lábios enquanto buscava a garrafa de soju para encher seu copo outra vez. Nayeon, por outro lado, continuava tentando explicar em meio à barulheira que tudo não passava de uma piada que surgiu quando ela e Jihyo se conheceram, enrolando-se nas próprias palavras pela vergonha que lhe consumiu pelo assunto trazido à tona tão repentinamente.
— Acho bom ser uma brincadeira, porque Nayeon só namora com a minha bênção e vise-versa — Jisoo afirmou, puxando a amiga para perto de si novamente.
— Que machista! — Chan acusou, apesar de rir.
Joshua apenas balançou os ombros, como se não ligasse, mas Nayeon sabia que era brincadeira — assim como todos presentes —, e eles dois sabiam que o beta disse aquilo apenas para mudar um pouco o tópico da conversa, sabendo como aquele tipo de assunto podia ser sensível para a Im.
— Não é machismo, eu sou gay — brincou ele, voltando a atenção para si.
— Uou! Eu nunca tinha ouvido você falar isso com todas as letras — Nayeon exclamou, batendo palmas animada. — Que orgulho, eu só consegui falar que sou lésbica muito tempo depois de me descobrir.
— Que horror! Lésbica é uma palavra tão linda! — Jihyo disse.
— Calada, panssexual, você não tem local de fala! — Chan se intrometeu.
— Fica quieto, bissexual.
— Você é pan também? — Jihoon perguntou, subitamente, mais interessado.
— Eu sou, graças a Deus — Jihyo sorriu e fez uma pose. — Deu mole é vapo.
— Ah, eu acho que não sou esse tipo de panssexual — o baixinho riu, coçando a nuca.
— Jihoon hyung é, na teoria: todo mundo; na prática: “me seduza” — Chan brincou, causando alguns risos.
— Ele é uma “pandemia” — acrescentou Soonyoung.
— Ah, não, você não mandou essa — retrucou o ômega, afastando-se para pegar mais um copo de soju.
— Soonyoung hyung tem doutorado em piada ruim, puta merda — Seungkwan reclamou.
— Foi assim que eu conquistei meu namorado, gente — alegou, abraçando Jihoon assim que ele sentou-se ao seu lado novamente.
— Pior que é.
— Se vocês vão falar sobre namoro de novo, eu vou embora — Jisoo reclamou.
— Puxa um assunto aí, então — mandou Seungkwan.
— Vamos brincar de verdade ou consequência — Chan sugeriu.
A princípio, a maioria dos presentes recusou a ideia, relutantes pela brincadeira um tanto infantil, mesmo que sempre rendesse algumas risadas e pessoas bêbadas por conta dos desafios ou por se recusar a fazê-los se fossem embaraçosos demais.
Acabaram acatando a ideia e jogaram algumas rodadas, girando a garrafa vazia de soju, eles faziam perguntas um tanto embaraçosas, riam das respostas, se divertiram bastante quando Seungkwan fora desafiado a dançar uma coreografia de um girl group qualquer e acabou tropeçando e caindo por cima de Mingyu, divertiram-se bastante às custas de Siwoo que ficava tímido demais respondendo às perguntas dos amigos de seu namorado que queriam lhe conhecer melhor, mesmo que de jeito um tanto constrangedor, mas estava se divertindo também.
A garrafa girou outra vez, apontando para Jihoon e Jihyo.
Soonyoung reparou que seu ômega estava um tantinho alterado pelo álcool, notava como ele estava rindo mais facilmente, falando coisas sem pensar muito e com um rubor que ele julgava adorável nas bochechas.
— Verdade ou desafio, Jih? — a alfa perguntou.
— Verdade.
— Hum… Você, Lee Jihoon, é virgem?
Todos o olharam, esperando pela resposta.
— Não — respondeu rapidamente, estalando os dedos e rindo sozinho.
— Como assim, Jihoon!? — Soonyoung exclamou, genuinamente confuso e um tanto embasbacado.
— Não faz essa cara, a gente já fez — apontou, virando-se para ele.
— Iiih! — Chan soltou, apenas para provocar.
— Sexo nunca — retrucou o alfa, ignorando os risos dos demais pelo rumo da conversa.
— Soonyoung, sexo oral já é sexo, você só não meteu em mim ainda — argumento.
O mais velho sentiu seu rosto esquentando ao passo que seus amigos acabaram rindo ainda mais alto. Jihoon ficava sem filtros quando bebia e eles estavam se divertindo muito com isso.
— Isso aí! — Nayeon exclamou, atravessando pelo meio da rodinha para chegar mais perto do ômega. — Falocentrismo do caralho!
— Literalmente — Chan falou, rindo baixo junto de Siwoo.
— Ok, acho que já deu por hoje — Soonyoung declarou. — Vou levar ele pra casa.
— Aff, eu nem tô tão mal assim — choramingou o baixinho, mas não relutou quando o namorado se pôs de pé e lhe puxou para que fizesse o mesmo.
Com isso, os garotos começaram a se dispersar, ponderando se já não deveriam seguir para suas casas. Siwoo se propôs a ajudar Seungkwan a limpar um pouco da bagunça, enquanto os demais levantaram-se, alguns para ir no banheiro, outros para conversar em um lugar mais confortável.
Apenas Joshua e Chan ficaram na sala, lado a lado enquanto observavam Soonyoung tentando convencer Jihoon, que estava um tanto embriagado, a calçar os sapatos.
— Você vai pra onde agora, Chan-ah? — Jisoo quis saber, apoiando-se no sofá de uma maneira confortável, embora ainda estivessem sentados no chão.
— Eu não sei — suspirando cansado. — Não tenho muito pra onde ir.
— Se eu tivesse casa eu até oferecia — chegou mais perto, tocando a cabeça do outro beta para que ele a apoiasse em seu ombro.
— Valeu, hyung, mas eu… sei lá, vou dar um jeito — respondeu, abraçando-o de lado. — Que merda, olha o caos que minha vida virou. Que ódio.
— Olha pelo lado bom, agora a gente é parceiro de dodói.
Chan riu pelo nariz, fechando os olhos quando o maior começou um cafuné em seus cabelos.
— A gente já meio que era, né? Agora só estamos na mesma situação fodida de não poder voltar pra casa — falou, sentindo os olhos enchendo de lágrimas novamente. Riu sem humor, secando o rosto sem sucesso. Joshua, percebendo, apertou-o mais entre os braços.
— Tá tudo bem — sussurrou tentando consolá-lo. — Você quer sentar lá fora onde tem menos gente?
Chan acenou com a cabeça, não se sentindo capaz de exprimir uma resposta verbal. Jisoo levantou-se e estendeu a mão para si, dando apoio para que ficasse de pé também, e logo os dois seguiram até o quintal da casa.
O sol estava perto de se pôr e o céu alaranjado parecia ainda mais bonito em contraste com as dezenas de margaridas que as mães de Seungkwan cultivavam. Chan olhou ao redor, um tantinho admirado, tanto pela grandeza da casa quanto pela beleza do céu e das flores.
— Meu Deus, eu amo essas cadeiras! — exclamou, correndo animado até as cadeiras ninho que estavam dispostas perto da piscina. — Quando eu conseguir dinheiro, vou comprar uma pra mim.
— Ou, você pode roubar essa — brincou o mais velho, sentando-se ao lado dele na cadeira espaçosa.
— Já pensou — Chan riu, voltando a deitar a cabeça no ombro do mais velho. — Nem teria onde colocar, né. Não tenho mais casa.
— Você realmente não vai voltar pra lá, né? — olhou-o.
— Eu realmente não quero voltar pra lá, mas, talvez, eu não tenha escolha — suspirou, pegando a mão de Jisoo e levando-a até sua cabeça, pedindo carinho. — Eu não posso ficar morando com meus amigos, eu não tenho familiares na cidade…
— ‘Pera, aquele prédio que a gente invadiu aquela vez não era da sua avó? — franziu as sobrancelhas.
— Não. Quer dizer, sim, ela mora lá, mas como eu vou morar com ela sem me assumir? — virou para ele. — Eu não quero matar ela do coração, e a gente não se vê muito porque ela e meus pais não se dão muito bem.
— Então vocês já têm algo em comum — deu de ombros. — Você não precisa se assumir, pode só falar que você brigou com seus pais por qualquer outro motivo.
Chan ponderou por alguns segundos.
— Talvez…
— Ei, vocês estão aí — Siwoo falou ao adentrar o quintal. — O que estão fazendo?
— Eu achei que ia chorar, aí a gente se escondeu aqui — explicou o mais novo, estendendo os braços para o namorado quando ele chegou perto de si. — Mas eu não chorei.
— Ainda bem, mas se você quiser chorar, tudo bem — afirmou o alfa, puxando o menor pelas mãos e o abraçando apertado.
— Eu sei — sorriu, tocando o rosto dele. — Shua hyung me deu a ideia de eu ficar com minha vó por um tempo, acho que é uma boa.
— Realmente é. Quer que eu te leve até lá?
— Eu vou de bike, não esquenta. Vou só ir no banheiro e a gente pode ir, ok?
Siwoo concordou mudo, sorrindo tímido quando Chan lhe deu um selinho rápido antes de voltar para dentro de casa.
[...]
— Eu falei que você não precisava ter me trazido até aqui — o beta ralhou com o maior.
— Por que você quer me impedir de ser um bom namorado, hein? — cruzou os braços.
— Porque se você ficar ainda mais perfeito eu vou ser obrigado a casar com você — retrucou, rindo divertido quando o rosto do namorado corou e ele desviou o olhar envergonhado.
— Eu prometo que te levo pra cama antes disso.
— Cala a boca — riu, empurrando-o pelo ombro.
Siwoo sorriu e aproximou-se, tocando o rosto do namorado, acariciando suas bochechas com os polegares e olhando atentamente cada detalhe.
— Por que você tá fazendo isso? — perguntou Chan, sentindo-se um tantinho envergonhado.
— Porque você é meu namorado e é lindo pra caralho .
— A gente já namora, você não precisa mais flertar pra tentar me seduzir.
— Cala a boca — riram juntos.
— Ok, vem cá — Chan disse, passando os braços pelos ombros largos do maior e selando seus lábios em um beijo demorado.
Quando cessaram o contato, permaneceram próximos, ambos de olhos fechados aproveitando o calor um do outro, sem vontade nenhuma de se separarem.
— Eu preciso ir — Chan disse, mas não se afastou.
— É injusto, eu queria ficar mais com você — reclamou fazendo bico.
— Eu sei, eu também queria ficar com você — lhe deu um selinho. — A gente pode se encontrar amanhã.
— Você pode ir lá em casa, meus pais não vão estar.
— Uau, eu não sabia que você tava tão desesperado por sexo assim…
— Ah, cala sua boca — empurrou-o para longe de si sem força, enquanto o menor ria divertido de sua reação. — É melhor você ir, já tá começando a me humilhar demais.
— Tô brincando, meu bem — aproximou-se. — Eu topo ir lá amanhã. Agora eu preciso ir mesmo.
— Ok — beijou-lhe os lábios outra vez. — Tchau.
— Tchau.
Chan acenou e abriu a porta do prédio após colocar a senha da portaria que sua avó escolheu, ele nunca havia esquecido, já que era a data de seu aniversário.
— Qualquer coisa, me liga — Siwoo pediu.
— Ok. Manda mensagem quando chegar em casa.
O alfa fez um gesto para concordar, virando as costas e seguindo seu caminho.
Quando se viu sozinho novamente, Chan respirou fundo antes de chamar entrar no elevador, subindo até o sétimo andar. Não sabia exatamente o que iria falar quando encontrasse a avó novamente.
Não fazia muito tempo desde que a viu pela última vez, ela havia visitado a cafeteria onde ele estava trabalhando algumas semanas atrás, foi apenas para demonstrar apoio e dizer que estava orgulhosa dele. Tinha uma boa relação com a senhora, gostava de passar tempo com ela e o faria mais, mas uma discussão boba entre ela e seus pais acabou por os afastar.
Nervoso, ele tocou a campainha do apartamento, não demorou muito para que ela abrisse a porta.
— Você chegou na hora errada, eu já tô saindo — disse apressada, voltando para seu quarto.
O beta riu, entrando e fechando a porta atrás de si, indo atrás dela.
— Yah, Youngja, isso é jeito de receber seu neto que tanto te ama?
— Não me chama pelo nome, eu sou sua avó! — mandou ela, ameaçando bater nele com o chinelo.
— Desculpa, desculpa — pediu, sentando-se na cama e observando ela revirar o guarda-roupa. — Onde você vai?
— Eu tenho um encontro. Meu primeiro encontro em 25 anos — contou empolgada, pegando dois de seus melhores vestidos e mostrando para o neto. — Qual você acha melhor?
— O azul, definitivamente.
— Certo — jogou o outro sob a cama. — Dá licença pra eu me vestir.
Chan sorriu e saiu do quarto, ficando apoiado na porta fechada para poder continuar conversando com a senhora.
— Onde você conheceu ele?
— Na feira que teve semana passada ali embaixo, nós dois queríamos o último peixe na promoção, mas eu joguei um charme e consegui — riu alto, contagiando o mais novo a fazer o mesmo. — A gente conversou e agora vamos sair. Ele é muito bonito, eu tô nervosa.
— Pois saiba que você é uma mulher linda, ele quem deve tá nervoso — falou, cruzando os braços.
Youngja não disse mais nada, então Chan continuou:
— Vó… Hum… Tudo bem se eu ficar com a senhora por um tempo? Meio que… meio que eu briguei com meus pais e eu não quero voltar pra casa.
— O que eles fizeram agora? — ela perguntou, abrindo a porta do quarto bruscamente, o que quase derrubou o beta.
— An… É difícil de explicar — baixou o olhar, voltando a sentar-se na cama.
— Seongsu, eu sou sua avó, você não precisa me esconder as coisas, é pra isso que servem os pais — falou risonha, pegando sua pequena bolsa de maquiagens e sentando ao lado do neto.
Ela segurava um pequeno espelho na altura do rosto enquanto tentava aplicar pó, mas estava com dificuldade pelos tremores em suas mãos causados pela idade e alguns problemas de saúde que vinham com ela.
Chan engoliu em seco, mordendo a língua ao ser chamado pelo nome morto, mas ignorou por ora e chegou mais perto da avó, pegando a esponjinha de sua mão e se pondo a maquiá-la delicadamente.
— Vó… Eu vou tentar te explicar, mas é complicado demais e eu… eu não quero que você me odeie — disse inseguro.
— Ah, para — ela bateu de leve na perna dele. — Se eu não odiei nem a minha irmã depois do que ela fez comigo. E o que ela fez pra mim foi algo horrível e imperdoável.
O beta estreitou os olhos.
— Você não lembra o que era, lembra?
Youngja ficou em silêncio por alguns segundos, tendo sido pega no flagra.
— Ela sabe o que fez — deu de ombros, entregando para o mais novo o blush que queria usar.
Chan riu nasalmente, correndo o pincel pelas bochechas com algumas rugas de sua avó, sorrindo um pouco bobo ao constatar que ela ainda era tão bonita quanto quando era jovem.
— É que… desde que eu nasci eu me senti muito diferente do resto das pessoas — começou o mais novo, claramente nervoso por tocar no assunto. — E eu demorei alguns anos pra me descobrir e… o que eu quero dizer é que eu, na verdade, não sou… um menino, digamos assim. Q-Quer dizer, eu sou um menino, mas eu também me sinto uma menina às vezes, e eu também odeio pra caralho o nome que meus pais me deram, então eu troquei meu nome pra Lee Chan, e todos meus amigos já me chamam assim, eu só não consegui falar pra nenhum familiar meu, mas meus pais já sabiam e eles nunca aceitaram, mas você me conhece, eu sou teimoso, então eu troquei meu nome legalmente e agora eu me chamo Chan legalmente, mas eles ficaram muito putos por isso e a gente teve uma briga muito séria. Eu também esqueci de mencionar que eu sou bissexual e tô namorando um menino, o nome dele é Siwoo e eu ia adorar se você conhecesse ele, mas eu tô me atropelando um pouco. O que eu quero dizer é que eu sou um menino e também sou menina e eu me expresso muito pelos dois gêneros, eu também me sinto neutro as vezes, mas eu não sei se você iria entender…
— Tá, tá, tá. Se acalma, eu não tô entendendo mais nada — interrompeu ela. — Deixa eu processar. Termina minha maquiagem enquanto isso, daqui a pouco meu encontro tá aí.
— C-Certo — concordou.
Agora, Chan também estava tremendo levemente tamanho nervosismo que estava lhe atingindo naquele momento. Amava sua avó, apesar de não serem tão próximos quanto ele gostaria, e não queria perder contato com ela, não queria que ela o visse como uma decepção ou como alguém doente que precisa de ajuda. Só queria ser aceito, mas aqueles longos segundos de silêncio estavam lhe deixando aflito e o sonho de ser compreendido estava parecendo mais e mais distante.
— Seus pais fizeram um escândalo porque você trocou esse nome horrível que eles te deram? — ela perguntou de repente.
— Hum… Mais ou menos, é que, como eu falei, eu me entendo como menino e também…
— Olha, eu não entendi nada disso — cortou-o, pegando o espelho para ver o resultado. Havia ficado bom. — Essas coisas de hoje em dia são complicadas demais pra mim.
— E-Eu sei, vó. Me desculpa, eu não… — soluçou, começando a chorar baixinho.
— Tá tudo certo, meu filho — Youngja se aproximou, tocando a mão dele. — Você só precisa entender que eu sou velha, eu nunca fui pra escola e a idade deixa a cabeça da gente mal, não vale mais a pena querer ficar entendendo e lembrando das coisa — ela explicou em um tom calmo. — Mas eu ainda entendo o amor, eu lembro que te amo mais do que eu consigo dizer, e se tem coisa pra eu entender que podem fazer eu te amar menos, então eu não quero entender.
Chan acenou com a cabeça, sem saber ao certo como responder, chegou mais perto e abraçou a senhora, tentando não molhar o tecido do vestido ou estragar a maquiagem recém feita.
— Será que… eu posso te pedir mais um favor, então? — perguntou ele. — Você pode me chamar de Chan?
— Só isso? — encolheu os ombros. — Tá bom.
— Obrigado, vó — apertou-a no abraço. O alívio que estava sentindo poderia ser facilmente uma das melhores coisas que já sentiu antes.
Youngja genuinamente não entendia o motivo de tudo aquilo, percebeu que o neto precisava daquele momento, então o acolheu, mesmo que não soubesse ao certo o que fazer.
Em meio ao abraço, eles puderam ouvir o interfone tocando. Chan foi quem levantou para atender enquanto Youngja colocava os sapatos.
— Ok, ela já tá descendo — disse o beta, desligando em seguida. — Vó, seu date chegou.
— Me deseja sorte, eu te conto como foi quando voltar — avisou pegando a bolsa e as chaves. — Tem kimchi na geladeira se você quiser comer. E se você quiser convidar seu namorado pra vir aqui, eu não deixo porque eu não conheço ele ainda.
Chan riu baixo e concordou, acomodando-se no sofá enquanto olhava a mais velha acenar para si e fechar a porta.
Assim que ficou sozinho, ele repassou em sua cabeça tudo que havia acontecido naquele dia. Concluiu que foi um dia longo, muito longo, por isso estava tão cansado, mas seu corpo estava leve, sentia-se em casa.
Deitou-se no sofá e abraçou uma das almofadas, quase pegando no sono quando sentiu seu celular vibrando no bolso de sua calça.
[Mensagem de Meu namorado<3]
cheguei
e aí?? como foi?
tenho boas e más notícias
a má notícia é que vc não pode vir aqui
Chapter 55: Maçã e pera
Chapter Text
— Ok, pra fazer o café expresso você pega os grãos moídos, ou seja, o pó, coloca nesse coisinha que eu esqueci o nome, prensa e ajusta no lugar que sai a água, mas antes, descarta um pouco da água pra tirar qualquer resíduo e tal — Chan explicava pacientemente conforme realizava o que dizia. — Entendeu?
— Acho que sim — Jisoo afirmou, buscando uma xícara vazia para repetir os passos ditos pela mais nova.
Chan afastou-se para ele fazer o que deveria, mas ficou próximo o bastante para ajudar caso algo desse errado.
— Sabe o que eu tava pensando agora? — a beta voltou a falar. — Que com seu primeiro salário, você deveria comprar uma bicicleta.
Joshua riu anasalado, sem entender o fundamento da conversa.
— Uma bicicleta?
— É! Para gente poder voltar pra casa juntos.
— A gente não mora junto.
— Jura? — ironizou, cruzando os braços. — Quer dizer que a idosa rabugenta que me acorda todo dia não é você? Agora eu tô preocupada.
O mais velho revirou levemente os olhos.
— Engraçadão você, hein?
— “Engraçadona”, por favor. Pulseira rosa, tá vendo? — corrigiu, estendendo o pulso para ele.
— Tô vendo, tô vendo. Foi mal — empurrou-a de leve. — Mas é legal ver que realmente deu certo a ideia.
— Né? E foi muito fofo — sorriu, sentando-se no balcão ao lado dele.
— Eu acho fofo você usar todos os dias a pulseira verde — apontou, ligando a cafeteira.
Chan encolheu os ombros, observando a tal pulseira em seu pulso direito.
— Ela significou muito.
— Chan, desce daí! — Ryujin mandou ao passar por eles. — Onde já se viu sentar no balcão? Meu Deus, garoto, se a Taeyeon te vê ela te dá uma bronca.
— Dá, nada. Ela me adora — sorriu convencida, saltando para o chão novamente.
— Hum. E como tá o seu aprendiz? — aproximou-se deles.
— Aprendendo. E ele tá indo bem.
— Ok, qualquer coisa me chamem — a ômega falou, logo voltando para atender outros clientes.
— Pode deixar — Chan acenou para ela, chegando mais perto de Jisoo. — Se bem que eu não acho que vamos precisar, você tá aprendendo rápido.
— Mas esse é tipo o mais fácil também, né? — virou para ela, entregando a xícara
— É um dos mais fáceis, mas a gente começa pelo básico mesmo — assoprou o café e deu um gole.
Sentindo o gosto estranho, Chan não conseguiu conter uma careta que não passou despercebida pelo mais velho.
— Ficou ruim?
— Não tá ruim, mas… não tá certo — acalmou, indo para perto dele novamente. — Tenta de novo pra eu ver o que você fez de errado.
Enquanto Jisoo repetiu os passos, eles puderam ouvir o sino da porta anunciando a entrada de um novo cliente com o qual eles não se preocuparam em verificar, já que estavam passando o treinamento. Entretanto, assim que Chan reconheceu o cheiro de sândalo do seu namorado, ela rapidamente saiu de trás do balcão para ir até ele e abraçá-lo apertado.
— Amor, achei que você não viesse. Por que você demorou tanto? — manhou fazendo bico, deslizando as mãos pelo peito dele.
— Porque eu sou um garoto muito, muito estúpido — respondeu puxando-a para mais perto pela cintura e lhe dando um selinho. — O treino acabou tarde, uns garotos brigaram, foi uma bagunça e eu só pensava em você.
Chan sorriu boba, acariciando o rosto dele e lhe beijando algumas vezes.
— Dá pra perceber que você tava no treino, seu cheiro tá bem forte — sussurrou.
— Não tive tempo de tomar banho lá, foi mal — riu nasalmente, afastando-se do abraço.
— Não precisa se desculpar comigo, meu bem — puxou-o para perto.
— Ei, será que o casal pode parar de ser meloso na minha frente e vir aqui ver se eu fiz certo dessa vez? — Joshua perguntou alto, interrompendo o clima.
Chan apenas riu e foi até o beta, enquanto Siwoo, um tanto envergonhado, sentou-se em seu lugar costumeiro no balcão de onde podia ver tudo que se passava.
— Hum! Muito melhor — a mais nova elogiou após experimentar o expresso. — Amor, prova — entregou a xícara para o alfa que tomou um gole.
— Gostoso. É seu primeiro?
— Tecnicamente, é o segundo — Jisoo respondeu tímido pelos elogios.
— Aprendeu rápido — Siwoo sorriu, tomando mais um gole.
— Né? Claro que a professora ajudou — a beta gabou-se, pegando a xícara de volta e bebendo.
— Chan! Para de beber o café dos clientes — Ryujin ralhou batendo o pé no chão.
Com uma expressão exageradamente culpada, a beta devolveu o café que estava em sua boca para a xícara antes que ela pudesse engolir, o que causou caretas de desgosto dos demais.
— Que nojo! — exclamou a Shin.
— Aqui, senhor, faça bom proveito — Chan falou ao colocar o café na frente de seu namorado, sorrindo travessa.
— Você duvida? — ele perguntou.
A mais nova ficou sem reação.
— Eu duvido — Jisoo falou.
— Vocês três são muito nojentos, af — Ryujin reclamou, pegando os pedidos prontos e levando para os outros clientes.
— Ela tem certa razão — Chan riu, pegando a xícara da mão do maior e despejando o café na pia. — Não acredito que você ia tomar aquilo.
— Já tive sua saliva na minha boca, princesa.
— Meu Deus, dá pra vocês dois pararem? — Jisoo reclamou cobrindo os ouvidos. — Acho que você deveria estar me treinando e não falando essas nojeiras com seu namorado.
A beta riu nasalmente ao revirar os olhos, verificou as comandas com os pedidos que deveriam ser feitos, pegou duas taças e colocou sob a bancada.
— Você acha nojento porque nunca namorou — retrucou. — Faz mais dois expressos, por favor.
— Claro. Mas que minha vida amorosa não-existente fique fora da conversa — mandou virando-se para a máquina de café.
— Como você quiser, baby. Eu vou lá dentro pegar o sorvete, vamos fazer afogatto — disse Chan, correndo até a cozinha.
Jisoo suspirou, apoiando-se no balcão enquanto esperava o café ficar pronto.
— Será que eu vou aguentar trabalhar com ela todos os dias?
Siwoo riu baixo, encolhendo os ombros.
— Sou suspeito pra falar, poderia passar dias com ela que eu não me cansaria — coçou a nuca de maneira tímida.
— Uau, então é realmente sério entre vocês.
— É… — deu de ombros. — Eu espero que sim, eu gosto muito dela.
— E ela gosta muito de você, acredite — afirmou, pegando o expresso e deixando-o com cuidado sob o balcão. — Ela fala de você quase toda hora… Nossa, aliás, eu esqueci completamente, você quer alguma coisa?
Siwoo riu suavemente, dando uma rápida olhada no cardápio.
— Hum… Só uma fatia de torta de maçã por enquanto, aí você não precisa preparar nada.
— Valeu e foi mal — o beta respondeu sorrindo tímido enquanto pegava um prato pequeno. — Espero pegar o jeito rápido.
— Tenho certeza que você vai conseguir — encorajou, apoiando o rosto na mão e observando Jisoo cortar a fatia da torta e servir com cuidado, colocando o prato em sua frente. — Muito obrigado.
— Por nada — sorriu entregando-lhe os talheres.
— Isso lembra o seu cheiro, sabia? — comentou, levando a primeira garfada à boca.
Joshua franziu as sobrancelhas sem entender.
— Como assim?
— Maçã.
— Ah! Sim, eu… acho que sim — coçou a nuca. — Minha alma gêmea disse que meu segundo cheiro é canela, então… é, acho que faz sentido.
Siwoo riu baixo outra vez.
— Você é totalmente uma torta de maçã?
— Bem… eu não sou comestível… — riu sem graça.
— Isso depende do ponto de vista — arqueou uma sobrancelha.
Jisoo o encarou por alguns segundos, sem saber ao certo como reagir, sem ao menos saber se havia entendido alguma coisa. Porém, antes que ele pudesse sequer pensar em como responder, Chan voltou para perto deles.
— Prontinho, aqui está — anunciou, deixando o pote de sorvete na bancada. — Fez os dois expressos?
— Hum… Ah, falta um, me desculpa — apressou-se para buscar outra xícara e fazer a outra dose de café.
— Tudo bem, não tem problema — sorriu, ficando na ponta dos pés para alcançar a calda de chocolate na prateleira. — Afogatto é muito simples de fazer, você vai ver.
— Ok! Tô pronto pra aprender — respondeu empolgado.
Joshua continuou aprendendo as receitas e passo a passos que Chan lhe ensinava, aos poucos estava pegando o jeito e até mesmo se arriscou a atender alguns clientes — mais especificamente, um casal de turistas estadunidenses que não falava coreano muito bem. Estava se acostumando e também estava se divertindo na presença da mais nova, que parecia mais alegre e brincalhona desde a última vez que a vira, e até os comentários de Siwoo estavam lhe fazendo sorrir, era quase como se sua vida estivesse começando de novo.
Enquanto Jisoo se concentrava na preparação de um mocaccino, puderam ouvir o sininho anunciando novos clientes, o beta reconheceu a voz de Soonyoung e Jihoon, mas não pôde cumprimentá-lo propriamente, apenas disse um “sejam bem-vindos” e manteve sua atenção no que fazia.
— Olha só ele de emprego novo — o alfa brincou, sentando-se no balcão ao lado de Siwoo.
— Agora não posso, Soonyoung.
— Não distraiam meu aprendiz — Chan mandou, entregando o cardápio para o casal. — O que vão querer?
— Eu vou querer uma taça de sorvete com morango — pediu o alfa.
— Eu vou querer um afogatto.
— Certo, já trago. Quer fazer o afogatto? — a beta perguntou para Joshua.
— Claro, faço — afirmou, entregando o mocaccino para Ryujin levar para o cliente.
— Ah, Chan, eu trouxe algo pra você — Soonyoung falou, revirando sua mochila até encontrar o que buscava.
— Ah! É o coisinha de japonês? — perguntou empolgada, pegando as folhas preparadas pelo mais velho.
— Uhum. Você precisa aprender primeiro os fonemas, depois alguns vocabulários, mas vai com calma. Essa parte é um pouco difícil, mas não se estressa, ok? Qualquer coisa pode me perguntar.
— Ok, obrigada, oppa! Eu tô muito ansiosa pra começar, mal posso esperar — um sorriso enorme enfeitava seu rosto ao ler o material, mesmo que não entendesse muita coisa.
— O que é isso? — Siwoo perguntou curioso.
— Soonyoung oppa vai me ensinar japonês, é minha meta desse ano — explicou, guardando as folhas debaixo do balcão.
— Você vai praticamente ser poliglota?
— Não exagera, eu não sou fluente em outro idioma.
— E o chinês?
— Não sou fluente, eu me viro. E eu ainda preciso aprender um monte de caracteres.
— Hum! Mas isso vai te ajudar — Soonyoung disse. — Você vai ter facilidade em aprender os kanjis, já que eles vieram da China.
— Ok, ok. Vocês dois são muito inteligentes, a gente já entendeu — Jisoo interrompeu. — Podemos voltar ao trabalho?
— Você é muito chato — reclamou a mais nova. — Vou lá pegar o sorvete.
Joshua revirou levemente os olhos em resposta, voltando a tentar se concentrar nos pedidos.
— E vocês? — Siwoo falou, virando para Soonyoung e Jihoon. — Estavam num encontro?
— Não, eu só fui buscar o Jih na autoescola — explicou o alfa, fazendo bico. — Mas a gente tá precisando sair mais vezes, né?
— Eu sei, amor, mas agora não temos tanto tempo — respondeu ele, segurando a mão do namorado e cruzando seus dedos. — Mas eu já tô pensando em algo, ok?
— Vocês são tão fofos — comentou Siwoo.
— Você fala isso porque não precisa morar com eles — Joshua apontou.
— Chan tem razão, você é muito chato — Soonyoung reclamou.
O beta fez uma careta para arremedar o primo, da forma boba e imatura que estava acostumado a agir com ele.
Logo, a mais nova estava de volta, deixando o pote de sorvete sob o balcão e pegando as taças.
— Vamos começar?
— Chan, você tem razão — Soonyoung disse.
— Eu sempre tenho razão — ela afirmou sorridente, logo piscando e erguendo o olhar confuso para o alfa. — Sobre o que?
Os garotos riram da reação de Chan, exceto por Jisoo, que revirou os olhos pegando o sorvete e servindo nas taças.
— Sobre ele ser um chato — o alfa apontou para o primo.
— Ah, isso eu já sabia — ela riu. — Mas a gente te ama mesmo assim, viu?
— Calem a boca — resmungou ele, apesar de rir contido. — Aliás, Soonyoung, os tios responderam alguma coisa?
— Ainda nada, só o mesmo que eles mandaram na segunda — respondeu encolhendo os ombros.
— Do que vocês estão falando? — Chan perguntou curiosa, debruçando-se sobre o balcão para chegar mais perto do Kwon.
— Meus pais disseram que vão voltar pra cá logo, pra nos ajudar com toda situação e tals — explicou ele, ligando a tela do celular para checar as notificações novamente, desligando-a em seguida. — Eles falaram que estavam perto de conseguir a licença mas, até agora, nada.
— Vamos ver o que é mais rápido, eles ou o mês inteiro pra cair o salário do Shua oppa — disse a beta, dando tapinhas nos ombros do mais velho, que olhou-o de canto enquanto preparava os pedidos. — Aí vocês podem alugar um lugar.
— Eu fico meio mal de você estar trabalhando, eu também deveria fazer alguma coisa — Soonyoung falou num suspiro, seu olhar perdendo-se no nada. — Tá certo que eu não sei fazer nada, mas…
— Qual é? Eu sou o mais velho, eu consigo fazer esse esforço — interrompeu Joshua, colocando as taças na frente do casal. — E eu não sei o que vou fazer com minha vida daqui pra frente, você já sabe: vai estudar e fazer a faculdade de enfermagem.
Jihoon olhou para Soonyoung, curioso.
— Isso só na sua cabeça — retrucou ele, dando a primeira colherada no sorvete.
— Como você é teimoso — reclamou o beta. — Você se daria bem no curso, você tem potencial pra passar, quem sabe até conseguir estudar fora. Uns anos atrás, você queria isso.
— Eu era um garoto besta que queria seguir os pais porque eles nunca estavam por perto — respondeu ele, com o olhar fixo no doce à sua frente. — Eu não vou conseguir tankar 5 anos de faculdade. Sendo neurotípico já é difícil, imagina tendo TDAH e ansiedade.
— Isso não é desculpa…
— Mas é algo que torna muito mais difícil!
— Hum, garotos — Chan intrometeu-se. — Acho que esse não é o lugar pra vocês terem essa conversa.
Jisoo fechou os olhos e respirou fundo.
— Você tá certa — ele sorriu fechado.
— Que tal você usar esse belo sorriso e tentar atender uns clientes? — propôs, entregando seu bloquinho de anotações na mão dele. — Tem uma senhorinha que acabou de chegar, ela parece doce mas tem chances dela ser antipática. É uma roleta russa. Boa sorte.
— Você não vale nada — sussurrou o beta, saindo de trás do balcão para atender a tal senhora sentada perto da janela.
Assim que ele estava distante o suficiente, ela soltou um suspiro quase aliviado.
— Uau. Eu tive que impedir uma DR de primos aqui — apontou com um riso forçado.
— Tá tudo bem, a gente tem conversas assim o tempo todo — respondeu Soonyoung, ainda bastante distraído.
Chan olhou de relance para Jihoon, que deu de ombros.
— Sim, imagino que seja normal — disse ela. — Mas, de qualquer forma, é melhor a gente ter essas conversas longe do ambiente de trabalho, ainda mais que Ryujin ‘tá supervisionando a gente e ela pode ser um pouquinho rígida.
— Sim, sim. Não se preocupa, não vai acontecer — falou Soonyoung um tanto cabisbaixo.
A mais nova suspirou outra vez, pegando um bombom do balcão e deixando na frente do alfa.
— Que isso? — ele perguntou confuso.
— Pra tentar te alegrar um pouco — deu de ombros. — Mas não conta pra ninguém.
Soonyoung sorriu fechado e concordou com a cabeça, escondendo o doce no bolso da jaqueta.
— A gente finge que não viu, também — Jihoon falou, sorrindo suave na direção do namorado.
— É claro que sim, porque eu sou uma amiga e tanto, né? Vocês não vivem sem mim — jogou cabelo imaginário por cima do ombro.
— E você é muito convencida também — Siwoo apontou, rindo quando ela lhe mostrou a língua.
— Eu digo isso sempre, ainda bem que alguém concorda comigo finalmente — Jisoo exclamou, voltando para perto deles. — Boas notícias: a senhora não era antipática, e ela quer um latte.
— Ah, eu faço! Eu adoro fazer latte — Chan apressou-se, pegando a xícara e indo até a máquina. — Mas, respondendo vocês, sim, eu sou muito convencida. Preciso gostar de mim, né? Vou viver comigo o resto da minha vida.
— Tá, eu tenho uma pergunta pra você — Jisoo virou para ela.
— Não, eu não namoraria você se eu fosse gay.
O beta franziu a testa, sem entender nada.
— Que!?
— É uma piada — disse ela, rindo. — Mas enfim, qual sua pergunta?
— Era… Porra, eu esqueci — tocou a própria testa tentando lembrar, enquanto os três sentados no balcão riam da interação. — Ah! Eu ia te perguntar o que você faz nos dias que você não tá confiante. Porque, tipo, é impossível você estar confiante todos os dias.
— Ah, nesses dias, eu finjo — deu de ombros, colocando o latte pronto sob a bandeja. — Ou é isso ou eu passo o dia na cama chorando, e quem tem tempo pra fazer isso, né?
— Você me preocupa às vezes — Jisoo falou.
Chan deu de ombros, entregando o latte para ele levar para a cliente. Assim que ele saiu, ela virou para os amigos e sorriu, cruzando os braços.
— Ele é obcecado por mim — disse num tom brincalhão.
— Isso não tá longe de ser verdade — Soonyoung falou, terminando sua taça de sorvete.
— O que? — a beta perguntou ao mesmo tempo que Siwoo, ambos confusos.
Jihoon também olhou para o namorado com uma incógnita nos olhos.
— Vou no banheiro, já volto — respondeu ele, levantando-se em seguida.
— Que garoto sem sentido — resmungou Chan, cruzando os braços.
— Tá, mas vou aproveitar que ele saiu, eu preciso falar com o Shua hyung — Jihoon falou apressado, checando para garantir que Soonyoung não estava ouvindo.
— Shua oppa! Vem aqui — a beta exclamou.
— O que foi, garota? Que desespero todo é esse?
— Eu preciso falar com você — Jihoon explicou. — Mas não fui eu que pedi pra ela gritar.
— Eu imaginei — suspirou o mais velho. — O que foi?
— Eu não sei se você sabe, mas meus pais vão viajar hoje com a Yoona, pros meus avós conhecerem ela — começou o ômega, gesticulando nervoso com as mãos. — E eu queria aproveitar essa oportunidade pra… sabe, ter um momento a sós com o Soonyoung.
— E você precisa que eu saia?
— Só por hoje, por favor — juntou as mãos. — A gente nunca consegue ficar sozinhos, e eu tava querendo… tipo…
— Transar? — Chan perguntou, tão naturalmente que fez o rosto de Jihoon ganhar um tom avermelhado rapidamente.
— Ai, eu não precisava saber disso — reclamou Jisoo, apertando a ponte do nariz. — Eu super iria e deixaria vocês… a sós, mas eu não tenho muito pra onde ir.
— Você pode ir pra minha casa — a beta sugeriu rapidamente. — Quer dizer, a casa da minha vó que agora é minha casa, também.
— Pensei que sua avó não deixasse você levar ninguém lá — Siwoo ponderou, apoiando o rosto na mão.
— Não, ela não deixa eu levar meu namorado porque ela acha que eu sou um allosexual qualquer que não pode ficar sozinho com o namorado que já quer transar. Sem ofensa — virou para Jihoon ao dizer a última parte, o que fez o ômega revirar os olhos. — Você vai precisar passar pela experiência de conhecer ela e ter a aprovação dela — explicou risonha, aproximando-se do alfa.
— Hum, ok — murmurou.
— E eu posso ir lá? — Jisoo perguntou.
— Claro, você não é meu namorado — cruzou os braços rindo.
— Isso dói, sabia? — brincou. — Mas, ok, eu passo a noite com Chan.
— Valeu, hyung! — Jihoon sorriu, juntando as mãos em sinal de gratidão, logo notando que Soonyoung já estava voltando para seu lugar. — Mudem de assunto, mudem de assunto.
— Eu já disse que eu não namoraria você! — a mais nova exclamou virando-se para Jisoo, que acabou dando um pulinho no lugar.
— Cala a boca, eu não perguntei isso! — empurrou-a sem força.
— Meu Deus, boa sorte pra sua avó pra suportar vocês dois juntos — Siwoo brincou, tirando dinheiro do bolso e deixando sob o balcão. — Eu preciso ir, gente.
— Ei, ei, ei! Não nem me dar tchau? — Chan cruzou os braços, fazendo bico.
O alfa riu abobalhado, esticando os braços para ela.
— Vem cá, vem.
A mais nova sorriu empolgada e saiu correndo de trás do balcão, abraçando Siwoo apertado assim que chegou perto o suficiente.
— Tchau, amor.
— Tchau, princesa — sorriu e lhe deu um selinho. — Vejo vocês amanhã.
— Ok — ela retribuiu o sorriso, soltando-o para que ele pudesse sair.
— Você nem consegue disfarçar a cara de boiola — Soonyoung apontou, rindo de Chan.
— Cala a boca, você ouvia Heather pensando no Jihoon.
[...]
— E aí? Como foi o primeiro dia de trabalho?
— Melhor do que eu esperava — respondeu Joshua, ajudando Chan a guardar a corrente que prendia sua bicicleta.
— Fica tranquilo que daqui a pouco piora — riu, subindo na bike.
— Por que você é assim?
Chan deu de ombros ainda com um sorriso nos lábios, olhou o mais velho por cima do ombro e fez um gesto com a cabeça para que ele subisse na bicicleta também. Assim que o fez e segurou firme nos ombros da menor, ela deu impulso e começou a pedalar vagarosamente.
— Você me ama mesmo assim — respondeu após alguns segundos.
— Esse não é o ponto — resmungou.
Ela sorriu outra vez, relaxando o corpo ao sentir os braços de Jisoo deslizando pelos seus ombros em um abraço que o fez ficar com a bochecha apoiada em sua cabeça. Respirou calmo, aliviado, enquanto pedalava e sentia a brisa suave em seu rosto, porém, seus pensamentos a levaram onde não queria estar, fazendo com que tencionasse sem perceber. Mas Joshua percebeu.
— O que foi?
— ‘Tô pensando aqui — murmurou, apertando o guidão. — Eu ainda tenho muitas coisas na casa dos meus pais que eu, teoricamente, preciso levar pra casa da minha vó.
— Ah, sim… — Jisoo pareceu se perder, sem saber o que dizer. Nunca sabia o que dizer. — A gente pode ir lá agora, eu vou com você, fico do seu lado.
Em meio aos sentimentos ruins, Chan sorriu boba pela proposta do mais velho. Era legal saber que ele se importava.
— Eu não sei se quero…
— Hum? Por que?
— Porque isso iria tornar real. Isso seria eu ser forçado a aceitar que aconteceu, que meus pais me odeiam e não precisam de mim como eu achei que precisavam — engoliu em seco ao terminar a frase, a garganta doendo com um nó apertado demais.
— Eu sei que é difícil, mas adiar isso não vai melhorar as coisas — disse incerto, acariciando os braços do amigo como forma de consolo. — É difícil, mas precisa ser feito uma hora ou outra.
— Eu sei, mas…
— Você só tá com medo, eu entendo — abraçou-o novamente, falando com calma tentando passar confiança. — Mas eu vou tá com você. A gente consegue. Vamos rápido e saímos rápido.
[...]
— Por que a gente não tá usando a porta? — Jisoo perguntou, segurando nos galhos da árvore perto da janela de Chan com medo de cair.
— Eu deixei minha chave em casa na noite que eu fugi, e eu não vim aqui desde aquele dia — explicou, abrindo a janela do seu quarto, sorrindo aliviado ao ver que ela não estava trancada. — Não se preocupa, eu já fiz isso várias vezes.
— Já!?
— Você acha que é a primeira vez que meus pais me trancam pra fora de casa? — riu divertida, saltando para dentro do quarto e estendendo a mão para Jisoo, ajudando-o a entrar.
— Uau — ele disse, contemplando o quarto da mais nova.
— O que foi? — perguntou confusa, andando até seu guarda-roupa.
— É diferente do que eu esperava — comentou, dando de ombros e andando ao redor.
— O que você esperava?
Jisoo virou para ela, vendo-a jogar algumas peças de roupa em uma mochila velha.
— Não sei, é só… é diferente do quarto de um garoto adolescente — explicou, chegando perto da penteadeira pequena que havia ali, observando os diversos produtos de pele e maquiagens que ela tinha, não era organizado mas não davam a impressão de estarem jogados.
— Vale lembrar que eu não sou um garoto cis, você que é.
— Eu sei, não precisa esfregar na minha cara — brincou, satisfeito ao fazê-la rir. — É que… você sabe tipo, quando o quarto de um garoto tá bagunçado, chega a ser nojento e fedorento, sabe?
— E você achava que eu ia ser assim? — perguntou exasperada, cruzando os braços e o encarando.
— Não! É só que… sei lá, seu quarto parece… o quarto de uma garota adolescente nos anos 2000, tipo os filmes antigos da Lindsay Lohan.
Ouviu quando Chan riu, assim como pôde ouvir ela encolhendo os ombros, agora mais concentrada em escolher o que levaria.
Joshua achou bonitinho o painel de fotos que ela tinha acima da cama, presas em luzinhas douradas de natal com pequenos prendedores, contendo fotos dela, de seus irmãos, seus amigos e alguns famosos que Jisoo não conhecia; também achou inesperado ela ter um ou dois vasinhos com suculentas e cactos numa estante mais alta, que também era preenchida por livros, muitos mangás e objetos de decoração. Percebeu também alguns brinquedos jogados pelo chão, mas não sabia dizer se eram dos irmãos ou se eram de Chan, como lembranças de sua infância. Prestou atenção em alguns posters de bandas e animes que tinha pelas paredes, assim como pequenas pilhas de roupas sujas pelo chão ou em cima de móveis menores.
— Bu!
O beta estava tão distraído que nem percebeu quando a menor se aproximou para lhe assustar. Virou-se num pulo, vendo que ela estava perto demais, rindo da sua cara.
— Como você é besta — reclamou, empurrando-a sem força para longe de si.
— E você é um bobão — decretou, puxando uma cadeira para perto do armário e subindo para olhar em cima dele. — Eu quero achar minhas saias, mas acho que meus pais esconderam. Idiotas.
— Não acha melhor você fazer isso outro dia? Eles podem voltar a qualquer momento…
— Relaxa, eles não vão…
— Seongsu!?
— Merda! — Chan exclamou.
— O que a gente faz? — Jisoo perguntou nervoso, olhando-a desesperado. — Eles já sabem que a gente tá aqui.
— Eles sabem que eu tô aqui — respondeu, erguendo a colcha de sua cama e puxando Jisoo. — Se esconde, anda.
— O que? Mas…
— Seongsu, é você? — o mais velho, por algum motivo, estremeceu ao ouvir a voz do pai de Chan.
— Anda logo, confia em mim — ela sussurrou.
Sem muitas escolhas, Joshua escondeu-se embaixo da cama. Teve que cobrir a boca e o nariz já que a poeira presente rapidamente começou a lhe incomodar. Tudo que lhe restou foi tentar não fazer nenhum barulho e esperar até que eles já estivessem saído.
Mas e se eles não saíssem? E se forçassem Chan a ficar? E se acontecesse algo ruim?
— Você voltou? — Yejun perguntou assim que abriu a porta e viu o filho.
— Só vim buscar umas coisas, vou voltar pra vovó — ela respondeu, sem emoção alguma na voz. — Como sabiam que eu tava aqui?
— Você deixou sua bicicleta no quintal — disse a mulher.
Jisoo estava nervoso, mas estava estranhando o tom calmo dos mais velhos, mas ele entendia aquilo muito abem. Sua mãe fazia aquilo, ela gritava e xingava, mas minutos depois falava manso, como se nada tivesse acontecido. Sabia que ela estava tentando mudar, mas não sabia se podia dizer o mesmo dos pais de Chan.
— Eu já tô de saída, eu só quero minhas roupas e eu vou cair fora.
— Estão no seu guarda-roupa — Seoyun fez um gesto com a cabeça, indicando o móvel.
— Não se faz de sonsa, eu quero minhas saias e meus croppeds — disse Chan, de uma forma ríspida que fez Jisoo arregalar os olhos.
— Você não vai usar roupas de mulher, Seongsu…
— Esse não é meu nome! E é exatamente por coisas assim que eu não vou mais voltar pra cá! — ela exclamou, irritada.
Joshua ouviu quando Chan foi até a penteadeira e colocou o máximo de coisas que conseguiu dentro da mochila.
— Como você é egoísta! — a ômega ralhou irritada. — Não está pensando em mais ninguém além de você…!
— Que direito você tem pra dizer isso!?
— Não está pensando nem nos seus irmãos!
— Eu não sou idiota, falou!? — Chan rebateu. — Eu não parei de ver meus irmãos, eu não parei de ir falar com Minho na escola dele. E eu sei que vocês estão pagando alguém pra cuidar deles quando vocês não estão, então não vem falar como se vocês precisassem de mim, como se meus irmãos precisassem, como se qualquer pessoa precisasse!
Joshua apertou os lábios, cerrando seus punhos, afundando as unhas nas palmas quando sentiu seu peito apertando ao ouvir a voz de Chan ficando embargada. Lágrimas fininhas escorreram pelo seu rosto. Por que estava chorando?
— Se quer continuar agindo assim, que seja, mas não venha voltando correndo para nós quando sua avó não te suportar mais — Yejun falou, batendo a porta do quarto com força.
Assim que ouviu os passos se afastando, Joshua saiu de onde estava, olhando rapidamente ao redor, vendo que Chan estava sentado no chão, apoiado no guarda-roupa, abraçando suas pernas para esconder seu pranto.
— Ei, ei. Tá tudo bem — disse apressado, sentando-se ao lado dela e envolvendo-a num abraço. — Já passou, vem cá.
— Que raiva — soluçou, tentando secar seu rosto sem muito sucesso. — Por que eles são assim?
— Não importa. É problema deles, ok? — correu os dedos pelas bochechas dela, afastando algumas lágrimas. — E… E eu sei que pode não ajudar muito, mas seus irmãos precisam, sim, de você. Seus amigos precisam de você. Eu preciso de você.
Chan abriu um pequeno sorriso em meio às lágrimas, apoiando-se no ombro do maior.
— Obrigado, hyung — fungou. — Mas a gente deveria ir embora logo.
— Você tem razão, sua avó já deve estar preocupada.
Joshua levantou-se e segurou firme a mão de Chan, dando apoio para que ele se levantasse.
— Como vamos sair daqui?
— Eu vou pelas escadas, você pula a janela de novo, te encontro lá embaixo.
— Mas eu… Você só me mete em furada — suspirou, sem muita escolha. — Você vai ficar bem vendo seus pais de novo?
Chan encolheu os ombros indo até seu guarda-roupa outra vez, revirando a gaveta de baixo até tirar de lá três bandeiras pequenas: a bissexual, a assexual e a genêro fluído.
— Pode levar elas pra mim, por favor? Se eles verem podem tirar de mim e eu não tenho mais espaço na mochila — pediu baixo, entregando-as nas mãos de Joshua como se entregasse a ele toda sua liberdade, como se confiasse completamente nele, e, de fato, confiava.
O mais velho concordou sem dizer nada, indo até a janela para pulá-la.
— Te vejo lá embaixo — afirmou, mas, na verdade, soava mais como um pedido, como se esperasse que Chan prometesse que sairia dali bem e iria a seu encontro.
Ela acenou brevemente com a cabeça, jogando a mochila sob os ombros e contando até três antes de abrir a porta.
Joshua suspirou preocupado, desejando boa sorte ao amigo enquanto também desejava conseguir chegar até o chão sem grandes problemas. Assim que conseguiu, esperou por Chan alguns poucos minutos, mas que pareceram uma eternidade. Já havia montado na bicicleta para que, assim que a beta aparecesse, eles pudessem sair de lá o mais rápido possível.
Ele alertou-se quando ouviu algumas vozes mais altas, logo o som da porta abrindo e sendo fechada com força em seguida. O mais novo correu até si com lágrimas nos olhos, ajeitou-se rapidamente sob as pedanas e pediu:
— Me leva pra casa.
Jisoo começou a pedalar depressa, quase perdendo o equilíbrio mas conseguindo seguir o caminho que ele lembrava até o prédio onde morava a avó de Chan.
O trajeto foi silencioso, o beta podia ouvir o mais novo fungando assim como alguns salpicos de lágrimas em suas costas, e não sabia se deveria dizer alguma coisa ou não, então optou por apenas pedalar.
Assim que chegaram, Chan prendeu a bicicleta e seguiu até a entrada, ainda em silêncio, apesar dos rastros das lágrimas em seu rosto deixarem evidente que ela, definitivamente, não estava bem.
— Você… quer conversar? — Jisoo perguntou, um tanto incerto.
Ele balançou a cabeça, passando as mãos pelo rosto e abanando.
— Não, eu não quero mais pensar nisso. Quero só ficar em paz e pensar nisso depois — digitou os números na fechadura eletrônica. — A senha é meu aniversário, agora você pode entrar aqui quando quiser.
— Ah… Quando é seu aniversário mesmo?
Joshua congelou no lugar quando Chan virou para si indignada, a boca escancarada como se tivesse ouvido a coisa mais absurda do mundo.
— Você não sabe quando é meu aniversário!? Que afronta! — passou reto por ele, indo até o elevador. — E ainda tem a cara de pau de me chamar de amigo, nossa. Você não me conhece.
— Te conheço o suficiente pra saber que você não liga tanto pro seu aniversário a ponto de contar pras pessoas, se fosse realmente importante pra você, você já teria me dito. Eu sei que você tá só fazendo cena.
Cruzou os braços quando o menor virou-se novamente, tomando ar pronta para rebater, entretanto, apenas soltou um suspiro derrotado.
— Touché — riu divertida, dando espaço para o mais velho entrar no elevador.
Apertou o botão do sétimo andar e ambos esperaram lado a lado pela subida.
— Nossa! Agora eu me toquei que a gente é muito burro — Joshua exclamou de repente.
— Eu sei que a gente é, mas por que isso agora?
— Eu não passei em casa pra pegar tipo roupa pra eu dormir — explicou frustrado. — Pelo menos tenho uma escova de dente na mochila.
— Ah, então tudo certo. Eu te empresto um pijama e era isso. Se você quiser, posso te emprestar uma roupa pra ir pra escola amanhã.
— Você não vai me colocar numa saia, né? — perguntou num tom sofrido.
— Você ficaria um pitelzinho usando saia, se quer saber — ela respondeu, sorrindo ladino enquanto olhava-o de cima a baixo, logo saindo do elevador quando as portas se abriram.
— Cala a boca, garoto — retrucou Joshua, sentindo o rosto ficar quente, apesar de estar rindo.
— Vó! Cheguei! — exclamou entrando no apartamento.
— Tô na cozinha, Seongsu!
— É Chan!
— Droga! Eu sempre esqueço — puderam ouvir ela se aproximando. — Você já comeu?
— Ainda não, mas fiz um lanche no trabalho — respondeu, indo até a senhora para beijar seu rosto. — Trouxe um amigo pra dormir aqui.
Youngja virou para Jisoo, apertando os olhos para vê-lo já que estava sem óculos.
— Obrigado por me receber. Eu sou Hong Jisoo, muito prazer — curvou-se em respeito, sentia-se nervoso sem saber porquê.
— Seja bem-vindo, Jisoo-ah — ela sorriu. — Esse não é seu namorado, né?
Chan riu, olhando para o mais velho de relance, achando graça como ele ficou corado com a pergunta.
— Não, meu namorado é o Siwoo. Você ainda vai conhecer ele — garantiu.
— Acho bom, porque nenhum namorado vai dormir aqui sem eu conhecer, mas como é seu amigo, não tem problema — disse ela, aproximando-se do beta. — Mas você tá muito magrinho, meu filho. Seus avós não te alimentam?
— Oh… Eu… nunca conheci meus avós…
— Não tem problema, não tem problema. Vão lavar as mãos que eu fiz bolo pra gente tomar café, daqui uns minutinhos tá pronto — mandou ela voltando para a cozinha. — Vamos, que vocês tão muito magrinho.
— Pode deixar — a mais nova riu, segurando Joshua pelo braço e o puxando até o banheiro. — Eu falei que você precisa ganhar peso. Vou começar a forçar você a comer e fazer exercício.
— Até parece. E para de falar do meu corpo, isso é assédio — brincou, cobrindo-se com as mãos.
Chan riu, deixando que o mais velho entrasse no seu quarto, entrou logo atrás e foi direto para o guarda-roupa pequeno para guardar as roupas que havia levado.
— E aí? Meu novo quarto parece o quarto de uma garota adolescente?
— Não, parece de uma moça de família dos anos 20 — respondeu risonho, observando algumas decorações antigas.
— Eu sou uma moça de família, viu? Sou pra casar, só vou fazer sexo com meu marido e só pra procriação — forçou uma voz fina e mansa, rindo quando Joshua revirou os olhos, sentando-se na cama com colcha de flores.
— Ah, sim. Claro.
— Eu ainda tô decorando e deixando mais no meu estilo, mas é aos poucos — explicou, sentando-se ao lado dele. — Mas eu já me sinto em casa.
— Isso é bom. Faz muito tempo que eu não sei o que é isso — comentou, abaixando os olhos.
— É a situação mais aleatória que eu já vi na vida, você estar morando com o Jihoon oppa — levantou-se, tirando a camisa social branca que era usada como uniforme. — Tipo um efeito borboleta muito louco: você descobre que é gay e, por causa disso, vai morar com os pais do namorado do seu primo.
— É — concordou distante, sem olhar para Chan. — Mas tipo… acho que o efeito borboleta não começou quando eu me descobri.
— Começou quando, então?
— Mais pra “com quem?”
Chan franziu as sobrancelhas, pronta para questionar mais, entretanto, a voz de sua avó interrompeu os dois:
— Venham, meninos! Já tá pronto!
— Estamos indo! — pegou uma camiseta no armário e entregou para o mais velho. — Pode vestir, é minha camiseta favorita. Eu me troco no banheiro.
Joshua concordou, observando quando a mais nova saiu do quarto e fechou a porta para lhe dar privacidade. Ele notou que aquela, de fato, parecia ser a camisa favorita de Chan, já que o cheiro de pêra nela era bem forte.
[...]
O café da tarde e o jantar com Youngja não foram tão ruins e constrangedores quanto Jisoo achou que seria. A senhora falava bastante e era diferente da imagem que ele tinha na cabeça do como era uma avó. Como nunca conheceu os seus avós, ele esperava que Youngja seria aquele estereótipo fofinho da velhinha que faz bolos e é carinhosa, mas ele percebeu que estava enganado após alguns minutos de conversa fiada, onde Youngja vez ou outra soltava um palavrão, ou quando ela ameaçava bater em Chan toda vez que a beta brincava que iria derrubar os pires no chão.
Também ficou contente em ver que a mais nova parecia estar melhor, fazendo piadas e rindo alto em poucos minutos, mesmo que, no fundo, estivesse um pouco preocupado que ela podia estar escondendo sentimentos ou simplesmente os ignorando para não ter que lidar com eles. E não a culpava por isso, ele mesmo fizera isso por muito tempo.
Depois do jantar, Youngja adormeceu no sofá assistindo um programa de auditório qualquer, enquanto Jisoo e Chan ficaram responsáveis por lavar os pratos. Dividiram um fone bluetooth e conversavam baixinho enquanto o faziam. Após terminarem, a beta lembrou sua avó de tomar seu remédio e a ajudou a ir para cama; ajeitou um colchão em seu quarto para o amigo dormir, deram-se boa noite e apagaram as luzes.
Apesar da estranheza de estar em um lugar que não conhecia, Joshua não demorou muito a pegar no sono, entretanto, ele acordou algumas horas depois com Chan o chacoalhando pelo ombro e chamando seu nome baixinho.
— O que foi?
— Quer ver ir pro telhado comigo?
— Que horas são, moleque? — resmungou, buscando pelo seu celular. O visor marcava 2:30 da manhã.
— Hora de ser adolescente — sorriu, puxando-o pelas mãos para que sentasse na cama e não se rendesse ao sono novamente. — Vamos, eu tenho vodka e umas cartinhas de perguntas aleatórias pra gente.
— Se eu falar não, o que acontece?
— Bem, eu não tô conseguindo dormir, então eu vou deitar do seu lado e ficar te incomodando.
O mais velho suspirou cansado, esfregando seu rosto.
— Me lembra de nunca mais dormir na casa da sua avó.
— Para de reclamar, levanta — puxou-o novamente, fazendo ele ficar de pé. — Podemos pegar o elevador até lá.
[...]
— Espero que essa vodka esquente porque o vento tá frio — Chan falou, tirando a garrafa da mochila, juntamente com um cobertor para os dois.
— Você inventa muita moda, sabia? — resmungou o beta, sentando-se no chão, de onde podia ver a cidade.
A mais nova sentou ao seu lado, passando o tecido quentinho pelos ombros de ambos e se aninhou mais perto dele. Abriu a garrafa de vodka e tomou um gole, fazendo careta em seguida.
— É engraçado porque eu realmente já quis fazer moda, tipo, na faculdade — contou ela, deitando a cabeça no ombro do mais velho, entregando-lhe a bebida. — Ia fazer junto de Seokmin.
— E por que você desistiu? — perguntou interessado.
— Descobri que estudar moda pode ser incrivelmente chato, e que eu não tenho muito talento para criar roupas. Eu gosto de usar a moda pra expressar minha identidade, mas é difícil criar do zero. Seokmin ainda quer fazer a faculdade, eu provavelmente vou fazer psicologia.
— Isso é legal, ser pago pra ouvir os problemas dos outros — brincou, tentando olhar o rosto do menor, mas sem sucesso, já que ele continuava apoiado em seu ombro. Como se fizesse aquilo sempre, como se fossem amigos há anos.
— Quem dera fosse só isso. Eu quero me especializar na área de sexologia, então eu estou me preparando para ouvir coisas bem absurdas.
— Posso fazer uma pergunta meio idiota?
Chan afastou-se, erguendo uma sobrancelha, curiosa.
— Pode.
— Por que você quer ser terapeuta sexual se você é assexual?
— Ai, meu Deus, eu amo essa pergunta — animou-se de repente. — Eu vou ser sexolólogo sendo assexual justamente porque eu não penso com a cabeça de baixo.
Não esperando aquela resposta, Joshua explodiu em uma gargalhada, tendo que cuspir fora o pequeno gole de vodka que havia bebido. Pensou se era possível ficar bêbado rápido assim, mas não conseguiu prender-se nesse pensamento, já que a risada alta de Chan acompanhou a sua, ela provavelmente também não estava esperando aquela reação.
— Ai, nossa, que ódio — falou o mais velho, ainda rindo baixinho. — Eu ainda queria muito entender como é “não pensar com a cabeça de baixo”.
— Você pensa muito com a cabeça de baixo, hum? — fora a vez dela perguntar, bicando a garrafa outra vez, estava se acostumando ao gosto forte e a sensação quente na garganta.
Jisoo riu um pouco envergonhado, outra vez sem esperar pela fala da menor, sentiu seu rosto ficar um pouco corado, queria se convencer de que era apenas efeito do álcool, mas a verdade é que nunca havia falado sobre essas coisas com mais ninguém, nem mesmo para Soonyoung ou Jeonghan.
— Eu não penso com a cabeça de baixo, mas isso não quer dizer que ela não tenha vontades muito altas às vezes.
— Então, basicamente, você quer foder com as pessoas mas não faz loucuras pra isso — estendeu-lhe a garrafa.
— E foi assim que cheguei aos vinte anos virgem e só tendo beijado uma pessoa.
— Não foram duas?
— Selinho não vale, até Jeonghan me dava selinho — apontou, bebendo alguns goles grandes, querendo esquentar-se e perder um pouco daquela timidez.
— E você tinha gay panic?
— Óbvio! Que saco, talvez eu nunca supere o quanto eu amo e desejo ele — cobriu o rosto com as mãos ao choramingar. — É horrível. Eu sinto tanta falta dele, mas eu não consigo mais ser eu mesmo perto dele.
— Você alguma vez conseguiu? — Chan inclinou a cabeça, a pergunta soando tão genuína que Jisoo congelou por alguns segundos.
Abriu a boca e fechou várias vezes, tentando achar uma resposta enquanto a pergunta ainda ecoava em sua cabeça.
— A-Acho que sim…? Eu não sei, era estranho — franziu as sobrancelhas. — Eu não fazia ideia de como era ter uma alma gêmea, e sei lá, parece que nossa conexão era mais forte do que as outras almas gêmeas, sabe? Ele me entendia só de olhar pra mim, ele sabia o que eu tava sentindo e vise versa, eu conseguia me ver nele, eu me sentia completo perto dele e eu sei que ele sentia a mesma coisa. Pra mim, encontrar Jeonghan foi como voltar pra casa depois de um dia muito, muito longo.
Ficaram alguns segundos em silêncio.
— Mas…? — Chan disse.
Jisoo suspirou pesado.
— Mas ele nunca soube que eu amava ele desse jeito, essa parte da minha alma ele nunca enxergou — apertou os lábios, sentindo lágrimas brotando em seus olhos. — E, mesmo assim, ele me deu toda força e coragem que eu precisava pra conseguir me assumir.
Chan franziu o cenho.
— Por que?
— Eu não sei explicar… Eu me sentia quase como uma bomba relógio, aqueles sentimentos enormes estavam crescendo cada vez mais, a cada dia que passava, eu amava ele mais, eu queria mais, eu desejava mais… Mas não tinha nada que eu pudesse fazer sobre isso se eu ainda tava no armário, eu precisava admitir pra mim mesmo que eu amava Jeonghan mais do que como amigo, pra eu poder admitir pra todo mundo que eu era gay — explicou com a voz trêmula, os dedos brincando com o rótulo da garrafa de maneira nervosa. — E eu sentia que ia ser cada vez mais impossível eu esconder o que eu sentia e o que eu sou, uma hora eu iria acabar sendo engolido pelos meus sentimentos e então eu perderia Jeonghan. A consequência de eu não me assumir, seria perder Jeonghan, por isso eu tive tanta coragem, por isso eu consegui.
— Mas você perdeu ele mesmo assim — Chan murmurou, como se estivesse fazendo uma constatação muito triste.
Com a fala, as lágrimas que estavam presas nos olhos de Jisoo escorreram por seu rosto, apenas duas lágrimas fininhas, mais nada.
— Eu sei — sussurrou dolorido, escondendo o rosto com as mãos.
A mais nova prontamente se aproximou, envolvendo Jisoo em um abraço de lado, tentando lhe consolar.
— Eu sinto muito que tenha acontecido, e que você tenha passado por tudo isso sozinho…
— Eu não estava sozinho. Seria injusto eu dizer isso — fungou, retribuindo o abraço. — Eu tinha Soonyoung, Nayeon, você… mesmo assim, dói. Mas… eu não sei, ainda dói, mas não dói tanto quanto antes. A cada dia, eu me sinto um pouquinho melhor e completo.
Chan ficou em silêncio por um momento, apoiando o queixo no ombro do maior, observando seu rosto enquanto tentava decifrar suas expressões, apesar do álcool subindo a cabeça e o cheiro de maçã lhe distraindo por alguns segundos.
— Eu acho que essa é a parte ruim...
— O quê?
— A parte ruim das almas gêmeas é que isso faz as pessoas esquecerem que já são completas sem a sua. Almas gêmeas não são metades de um todo, elas não são o que faltava, elas são só um complemento — falou, chegando mais perto e tocando o peito do mais velho onde ficava seu coração. — Você precisa se lembrar que você tem tudo que você precisa dentro de você, foi o mundo que te convenceu que você não tinha.
Joshua virou o rosto para vê-lo, estavam um tanto próximos mas aquilo não parecia importar, não quando Chan podia sentir o coração do mais velho batendo acelerado — e Jisoo também sentia —, e parecia que não havia mais nada a ser dito, nada mais precisava ser dito. Queriam acreditar que era por causa do álcool presente em seus organismos aquela tensão toda, assim como queriam acreditar que esse mesmo motivo estava fazendo com que os olhares de ambos fitasse a boca um do outro por um momento.
— Eu… — Jisoo começou, engolindo em seco e umedecendo seus lábios. — Eu gosto… Quer dizer, eu admiro como parece que você sempre sabe o que dizer.
Chan sorriu, só então se afastando totalmente dele, pegando a garrafa e bebendo um gole generoso.
— É só o óbvio, não entendendo o que é tão difícil de ver.
— Que seja, às vezes o óbvio precisa ser dito — resmungou, fechando os olhos e apoiando o rosto no joelho. — Se você tiver alguma coisa “não óbvia” pra falar, fique à vontade.
— Tá, tanto faz. Que tal a gente fazer as perguntinhas que eu separei pra nós? — propôs ela buscando seu celular.
— Que perguntas?
— Umas perguntas legais que apareceram pra mim no TikTok, fiquei salvando elas até agora porque tava sem sono — explicou por cima. — Ó, a primeira é: o que meu papel de parede do celular diz sobre mim?
— Deixa eu ver — Joshua pediu, estendendo a mão.
Chan lhe entregou o aparelho. O papel de parede era uma foto dela com os dois irmãos, Minho atrás abraçando seu pescoço e Jun em seu colo. A foto parecia daquelas tiradas em estúdios e Jisoo pode perceber que ela parecia ter algum tempo já que Jun não aparentava ter mais do que três meses, além do cabelo de Chan que estava mais curto.
— Hum… seu wallpaper diz que você ama seus irmãos e tinha um corte de cabelo feio — riu, devolvendo o celular para ela, que mantinha uma expressão ofendida-divertida.
— Mais respeito, ok? Aquela foi a última vez que eu deixei minha mãe cortar meu cabelo.
Riram novamente.
— É sua vez — disse Chan.
Joshua lhe entregou o celular, o papel de parede era uma foto de um gato cinza dormindo apoiado no braço que ela julgou ser do mais velho.
— Seu wallpaper fala que você é uma pessoa de gatos. E ele é muito fofo — sorriu admirando o felino.
— É o Tokki, meu gatinho — explicou guardando o aparelho. — Sinto saudade dele.
— Eu ainda acho que você deveria ter feito o resgate deles aquela vez que a gente foi lá — falou a beta, procurando outra pergunta.
— Quem sabe eu faça assim que conseguir um lugar pra morar, longe dos meus pais.
— Tô torcendo por você — respondeu. — A próxima pergunta: qual elogio você acha que eu mais recebo?
— Você começa.
— Hum… — ela ergueu os olhos, pensando. — Eu não tenho certeza, mas a coisa mais notável em você à primeira vista é que você é muito bonito.
Jisoo juntou as sobrancelhas antes de beber mais um gole da vodka, que já estava pela metade.
— Como é?
— Eu acho que o elogio que você mais recebe é que você é bonito, porque você é! E não vem com essa cara, não — apontou o indicador para ele. — Você não pode negar que você é bonito.
— Eu não disse nada.
— Acho bom — cruzou os braços. — É sua vez de responder.
— Hum… eu não acho que as pessoas elogiam tanto sua aparência… não que você não seja bonito, tá!? — apressou-se em dizer, sabendo que Chan estava pronto para protestar. — Mas… acho que você recebe mais elogios relacionados a sua personalidade.
— Tipo…? — chegou mais perto com a mão perto do ouvido, fazendo graça.
Joshua riu e se inclinou em sua direção, soprando em sua orelha, o que fez o menor soltar uma exclamação e arrepiar-se, encolhendo os ombros.
— Ai, que escroto!
— Tipo que você é legal, engraçado, ou confiante — continuou como se não tivesse feito nada.
— Que seja, vou ler a próxima pergunta…
— Deixa eu ler — pediu o maior, pegando o celular da mão de Chan sem esperar.
Ela não protestou, então ele leu:
— “Você acha que eu me apaixono fácil? Por que?”
— Eu começo? — ela perguntou e Joshua assentiu. — Eu acho que não, porque você tem vinte anos e eu sei só de uma pessoa que você foi apaixonado.
O mais velho riu baixo, devolvendo o aparelho para ela e buscando a garrafa.
— Eu só me apaixonei essa vez, mesmo. Agora, acho que vai demorar pra eu me apaixonar de novo — suspirou, sentindo uma leve tontura. — Eu achei uma merda me apaixonar, não quero mais passar por isso.
— É realmente muito difícil — resmungou Chan, deitando-se no chão. — Tem que ter uma sorte do caralho pra se apaixonar por alguém e a pessoa também gostar de você.
— Tipo você e o Siwoo?
Ela não respondeu de imediato, pareceu pensar muito seriamente na pergunta, o que deixou Joshua no mínimo curioso. Mas, logo a menor sentou-se, quase perdendo o equilíbrio por ter o feito rápido demais.
— Acho que sim, mas eu não tenho como ter certeza dos sentimentos dele — murmurou mexendo nos próprios cabelos de forma distraída. — É horrível, mas eu tô esperando a qualquer momento ele cansar de mim e ir embora.
— Isso é horrível mesmo! — exclamou Joshua, empurrando Chan sem conseguir medir forças, o que fez com que ela quase caísse novamente. — E muito burro da sua parte, também!
— Ei!
— Eu tô falando sério! Chega a ser chato como aquele garoto é doido por você, é só você virar as costas que ele fica falando sobre você! Ai, você é burro, me desculpa!
— Cala a boca! Eu sou traumatizado, é diferente — argumentou ele, tentando se aproximar e cobrir a boca do mais velho. — Esquece isso, não quero mais falar sobre. É sua vez de responder a pergunta.
— Com você sendo burro desse jeito, eu acho que você não se apaixona fácil justamente porque não vê quando as pessoas gostam de você. Siwoo literalmente limpa o chão pra você passar…
— Ahh! Para de falar do meu namorado! Vou ficar com ciúmes! — foi a vez dela de empurrá-lo. — E, pra sua informação, eu me apaixono muito fácil, tá? Não é muito difícil qualquer pessoa fazer eu sentir borboletas.
— Tá, mas…
— Eu não quero saber! — interrompeu. — A próxima pergunta é: você sente saudades de alguém agora? Você acha que ela sente sua falta, também?
— Nem tem graça eu responder essa — fez bico. — É óbvio que eu sinto saudade do Jeonghan, e eu sei que ele sente de mim. É uma merda.
— Vocês dois são complicados.
— E você? Sente saudade de alguém? — Jisoo olhou-a atento.
— Hum… eu sinto saudade dos meus irmãos, e espero que eles também sintam de mim — respondeu baixo, subitamente parecendo chateado ao tocar no assunto.
— Eu acho que eles sentem, você era o único porto seguro dos dois.
— Eu tento ser. Não quero que eles se sintam como eu me senti. Tristes, sozinhos, abandonados, invisíveis…
— Chan — tocou sua mão, querendo tirá-la daqueles pensamentos. — Eles amam você e eu sei que você ama eles, mas você não pode se responsabilizar pelos erros dos seus pais.
Duas lágrimas, pequenas e silenciosas, escorreram pelas bochechas do mais novo, ele fitava Jisoo com um olhar dolorido, o olhar de alguém que sabia que o que ele dizia era verdade, mas ainda sim era difícil de aceitar e mudar.
— Eu sei — murmurou por fim.
— Quer ler a próxima pergunta?
— Uhum — secou o rosto e limpou a garganta. — Você já disse eu te amo pra alguém sem amar?
— Essas perguntas estão ficando muito profundas.
— Essa é a graça! Eu posso responder essa primeiro: não, eu nunca falo que amo as pessoas sem amar. Por isso, eu só falei eu te amo pra quatro pessoas: meus dois irmãos, Mingyu e minha ex.
— Uau, isso é muito específico.
— Eu sei, eu não falo “eu te amo” tão fácil assim — deu de ombros. — E você?
Jisoo suspirou ponderando.
— Já falei pra minha mãe que amava ela, mas não era verdade.
— Você não ama sua mãe? — perguntou, mas não parecia surpreso.
Ele encolheu os ombros, incerto, apoiando a cabeça entre os joelhos.
— Eu não sei, é estranho — disse baixo, tão baixo que Chan teve que se aproximar um pouco para conseguir ouvir. — Em partes, eu odeio ela por tudo que ela me fez passar, mas eu não consigo odiar ela. Eu ainda… tenho algum apreço, eu acho, mas não sei se é amor. Quando eu lembro de como era quando eu era criança, adolescente, eu me sinto bem, eu lembro com carinho das vezes que ela brincava comigo, quando a gente saía pra andar de carro sem rumo ou quando ela tentava me explicar alguma coisa sobre cardiologia quando eu perguntava. Só que ainda é complicado, porque ao mesmo tempo que ela cuidava de mim e se esforçava pra me educar, ela falava coisas horríveis e isso deixou marcas em mim até hoje.
— Eu entendo — Chan murmurou, tocando a mão dele em uma tentativa de consolá-lo. — Acho que… Acho que eu sinto algo parecido com a minha mãe. Como uma pessoa adulta, eu entendo todo sofrimento dela, eu tenho empatia pela história que ela passou e entendo porque ela age do jeito que age. Mas, como filho dela, eu sinto muita raiva.
Joshua fungou, apertando os dedos da mais nova entre os seus, lágrimas escorreram pelo seu rosto sem que ele percebesse. Não sabia que ainda doía tanto.
— Por que sempre que a gente tem essas conversas, a gente acaba chorando? — reclamou em meio a alguns risos sem sentido.
Secou suas lágrimas e pôde ver quando Chan fez o mesmo, acompanhando-lhe nas risadas. O beta fechou a garrafa de vodka e a deixou de lado.
— Quer continuar as perguntas?
— Pode ser, mas se eu chorar de novo eu vou te bater — a ameaça fez o mais novo rir.
— “Você sente falta de algum sentimento?”
— Responde você primeiro.
— Ok. Hum… Eu sentia saudade do sentimento de estar em casa, sabe? De ter um lugar onde eu podia estar desarmado, sem me preocupar com julgamentos dos outros — manteve os olhos distantes na vista das luzes da cidade, enquanto os olhos de Joshua estavam focados em si, interessado na resposta. — Eu voltei a me sentir assim desde que vim morar com minha avó, mas, ao mesmo tempo, eu não sei se aqui é minha casa. Eu sinto falta do meu antigo quarto, dos meus irmãos, da minha casa. Sei lá, sabe. É complicado.
— Acho que entendo isso, eu nunca me senti em casa estando na casa dos meus pais. Eu só fui entender o que era esse sentimento depois que conheci Jeonghan, eu não precisava ter vergonha, ele sempre sabia o que eu sentia, ele me entendia — contou cabisbaixo.
— Queria ter alguém assim na minha vida, mas eu… eu não consigo confiar em ninguém — confessou num sussurro. — Eu sempre espero que as pessoas vão me deixar, mais cedo ou mais tarde.
— Você tem que fazer terapia, isso não é saudável.
— Olha quem fala — retrucou, mostrando a língua para ele.
— Eu já tô fazendo terapia, falou?
— Ótimo, me recomenda lá, pra eu conseguir atendimento — pediu risonho, voltando a deitar no chão, observando o céu estrelado.
— Não é assim que funciona, e eu acho que ela não poderia te atender já que a gente é amigo.
— Ei, isso não tem nada a ver, não é como se a gente fosse parentes ou algo assim — respondeu, a voz estava um tanto arrastada por causa da bebida. — E não é como se você falasse de mim pra ela.
— Eu falo sobre tudo, então eu já falei sobre você, sim,
— Oh! — Chan exclamou, subitamente animado. Sentou-se depressa o suficiente para que se sentisse tonto, quase caindo sobre o mais velho, que precisou lhe segurar e dar apoio para que se ajeitasse.
— Toma cuidado, seu maluco!
— Desculpa — riu bobo. — O que você falou de mim?
— Nada demais, falou? — revirou os olhos, voltando a abraçar seus joelhos. — Eu contei que você me ajudou algumas vezes quando eu estava mal, que eu fiz merda contigo e que eu aprendi mais sobre gênero por sua causa.
Chan sorriu, aproximando-se do maior e o abraçando de lado, deitando a cabeça em seu ombro, parecendo bem mais aéreo que antes.
— Eu sou a melhor coisa que aconteceu na sua vida, pode dizer — riu, não esperando por uma resposta. — E o que ela disse?
Jisoo deu de ombros.
— Que você é um bom amigo.
— Aff! Você já sabia disso, que mulher boba — reclamou, buscando a garrafa novamente.
— Acho que chega de bebida pra nós — Jisoo interveio, tirando vodka das mãos dela e deixando longe de seu alcance.
— Chato — deu a língua.
— Você não queria continuar fazendo as perguntas? — olhou-o.
Ele fez um biquinho e buscou seu celular novamente, piscando forte algumas vezes para conseguir ler:
— O que sobre mim você tem mais dificuldade de entender? — ergueu o olhar para ele outra vez. — Você responde primeiro.
— Por que eu?
— Porque você não respondeu a pergunta de antes!
— Af, tá — ponderou por alguns segundos. — Eu não consigo entender como você consegue ser uma pessoa confiante e segura, e ao mesmo tempo insegura pra um caralho a ponto de não conseguir aceitar que as pessoas gostam de você.
Ninguém disse nada por alguns longos segundos, Jisoo estava distraído, talvez não tivesse medido suas palavras, mas só se deu conta disso quando ouviu Chan fungar.
Quando virou, ele estava secando seu rosto para tentar impedir que aquelas lágrimas teimosas escorressem.
— Chan? M-Me desculpa, eu…
— Tá tudo bem — interrompeu. — Que saco, eu te odeio. Mas, meus parabéns, você acabou de descobrir que metade da minha confiança é mentira. Eu não sou tudo isso que eu falo.
— Cala a boca, você tá falando bobagem — fora a vez de Joshua de cobrir a boca dela. — Eu prefiro como você fica quando tá chapado. Bêbado você fica muito diferente, sério. Você só tá abalada por tudo que tá acontecendo, você sabe que você é incrível.
Chan revirou os olhos, afastando delicadamente a mão de Jisoo de seu rosto, chutando a garrafa de plástico para longe deles.
— A partir de hoje é só maconha pra mim, eu juro — falou, usando a manga do casaco para secar seu rosto. — Eu respondo agora?
— Uhum — virou-se de frente para ela, atento ao que iria dizer.
— Eu… não entendo como você se contenta em viver como se fosse incompleto o resto da vida — falou, também não medindo suas palavras.
— Hein? Como assim?
— Você sabe que eu te amo, não sabe? Mas eu preciso falar que acho preocupante a forma como você ainda fala do Jeonghan hyung — explicou, abraçando seus joelhos, as sobrancelhas estavam franzidas enquanto continuava: — Eu relevava antes porque você tava apaixonado e não era retribuído, mas não parece que você tem intenção de um dia ser completo de novo, parece que você não quer aceitar que Jeonghan não é metade de você, e você não é metade dele.
— Não é isso! Eu não acho que somos, mas é só… — suspirou sem saber como falar. — Qual é, você nunca se apaixonou tão perdidamente por alguém que pensou que nunca mais fosse superar?
— É claro que já. Eu não disse que eu não entendo o que você sente por ele, apesar de que eu acho que também não entendendo isso — disse, olhando para o mais velho com uma expressão séria, apesar do rosto estar corado e a fala torta por causa do álcool. — Eu só disse que não entendo como você parece ter se conformado em nunca mais ser feliz com outra pessoa, você não parece disposto a dar uma chance pra isso, parece que você só tá esperando pra poder voltar a viver junto do Jeonghan.
Joshua suspirou novamente, virando o rosto.
— Você pode tá certo… mas é difícil… — sua voz vacilou. — Ai, que droga! Eu falei que se eu chorasse de novo eu ia te bater — tentou acertá-lo.
— Ei! Para com isso! — desviou do tapa do mais velho, levantando-se rapidamente. — Você fez eu chorar, também!
— Foda-se! — levantou também e correu atrás dele.
Chan não pôde conter uma gargalhada alta, correndo pelo terraço para fugir de Jisoo, que corria em sua direção gritando que “havia avisado”. Quando sentiu-se cansado alguns minutos depois, o menor parou de correr e deixou que o beta se aproximasse, tentando lhe acertar tapas fracos mas que foram contidos quando segurou seus pulsos.
— Ok, ok, ok. Você me pegou — falou, sorrindo quando o mais velho parou de tentar agredi-lo, fazendo um bico emburrado e tentou se soltar. — Fica de boa, ok?
— Eu tô de boa.
— Eu percebi — riu outra vez.
Lentamente soltou os pulsos do mais velho e se aproximou, apoiando a cabeça em seu ombro direito.
— O que foi agora? — Joshua perguntou, estranhando um pouco o comportamento do mais novo.
— Eu fico carente quando bebo — murmurou, afastando-se. — Desculpa…
— Não tem problema — puxou-o pela mão para sentarem novamente. — Vamos continuar as perguntas, eu faço cafuné no seu cabelo, que tal?
— Eu aceito — sorriu animado, pegando seu celular e deitando-se, deixando a cabeça apoiada nas pernas de Joshua. — A pergunta é: o que você mais admira em mim?
— Hum… sua confiança e força de vontade pra sempre continuar — falou, começando o cafuné que havia prometido. — E suas habilidades em dança, também, é muito legal ver você dançar.
— E onde você me viu dançar? — cruzou os braços.
— Nas festas que a gente vai, sua anta — respondeu em um tom brincalhão. — É sua vez. O que você admira em mim?
— Eu admiro como você nunca perde a fé nas pessoas apesar de tudo, e continua tendo um bom coração mesmo tendo sofrido tanto — disse olhando-o seriamente. — Você é muito bom.
Joshua sorriu fechado.
— Próxima pergunta.
— “O que você acha que eu devo saber sobre mim que talvez eu não saiba?” Você começa.
— Você sabia que você vê o amor como algo que você precisa merecer? — olhou-o. — Eu sei lá… Desde aquele dia que você teve aquela crise, eu sinto que você pensa que as pessoas só vão gostar de você se você der algo em troca. Seja um ombro amigo ou… sei lá, qualquer coisa — encolheu os ombros, mexendo nos cabelos escuros dela de forma distraída. — Acho que você devia saber que você não precisa se esforçar pra ter o afeto dos outros, as pessoas vão gostar de você naturalmente.
Chan não soube o que responder, abraçou o próprio corpo e ficou em silêncio, refletindo sobre as palavras do maior.
— E também — ele continuou: — Você tem uma mania de franzir seu nariz.
— Que?
— Você faz isso bastante, eu acho que você nem nota — explicou, franzindo o nariz e fechando os olhos por um momento, exatamente como Chan fazia.
Ele riu em resposta, cobrindo o rosto de forma envergonhada.
— Que coisa ridícula…
— Não é ridículo, é fofo — interveio. — É sua vez de responder.
— Hyung — chamou-o sério, como se fosse falar algo muito importante. — Você… é muito bonito.
Joshua riu tímido, virando o rosto.
— Cala a boca…
— Eu tô falando sério! — sentou-se, tocando as bochechas dele para que ele lhe olhasse. — Você é bonito pra caralho, e você pode ter a pessoa que você quiser.
O beta lhe encarou com um olhar duro.
— Ah, foi mal, “o homem” que você quiser — corrigiu.
— Não é isso — Jisoo riu, afastando o toque dele devagar. — Só não acho que seja verdade.
— Porque você é burro, cego e teimoso — resmungou, voltando a deitar em seu colo. — Quer ler a próxima?
— Pode ser — pegou o celular. — Qual é a coisa que eu falei ou fiz que ainda te machuca?
— Hum… Nada. Me machucava você não respeitar meu gênero e tal, mas você pediu desculpas e mudou. Até me deu o presente mais fofo que eu já ganhei na vida — ergueu o braço para mostrar as pulseiras: a rosa com azul e a verde, que nunca deixava seu pulso.
Joshua sorriu, tocando as miçangas.
— E eu? — Chan perguntou. — O que eu fiz que te machucou?
Joshua pensou por um tempinho.
— Acho que nada.
— Sério?
— É — deu de ombros. — Você nunca me magoou.
— Fico feliz, então — sorriu, lendo a próxima pergunta: — Tem alguma parte de você que você sente que precisa esconder de mim?
Ele negou com a cabeça.
— Não.
— Eu também não.
— Ooww! Que fofos — Jisoo exclamou, apertando as bochechas do menor, que ria, tão alterado quanto si. — Deixa eu ler a próxima. Qual foi sua primeira impressão de mim?
— Eu falei na hora! Que seus olhos são lindos — Chan exclamou, apontando para o rosto dele. — Eu ainda acho eles bonitos.
Joshua riu, apontando para o rosto do mais novo também, entrando na brincadeira.
— E a sua primeira impressão de mim? — ela perguntou, tocando seu rosto numa pose fofa, piscando para ele de forma exagerada.
— Eu não lembro — confessou, com uma expressão culpada.
— Aff! Como você é sem graça!
— Essa é sua impressão final de mim?
— Sim! — afirmou, rindo junto dele em seguida.
— Já tá ficando muito tarde, você não tá com sono? — Joshua quis saber, assim que cessaram os risos.
— Hum… tô um pouquinho — bocejou. — Que tal a gente fazer essa última pergunta e ir dormir?
— Beleza — o beta concordou. — “Uma pergunta que você nunca teve coragem de me perguntar.” Posso ir primeiro?
Chan concordou com a cabeça, ouvindo atento. Joshua abriu a boca para falar, mas foi interrompido por si próprio com um riso envergonhado. Sentiu suas orelhas esquentando ao passo que tomava coragem para perguntar.
— Eu sei que… tecnicamente, não foi um beijo, mas… — engoliu em seco. Chan ergueu uma sobrancelha, confuso para onde o mais velho estava indo com aquilo. — M-Mas tipo… Nossa isso é muito idiota. Quando a gente… nas vezes que a gente se deu selinho e tals… Foi ruim?
O menor teve que comprimir seus lábios com força para não gargalhar, não porque a pergunta era engraçada, mas porque achava, no mínimo, cômico a forma como Joshua parecia muito envergonhado por ter perguntado aquilo, que para ele não era nada demais.
Mesmo tentando com todas suas forças, ela não conseguiu evitar um riso baixo de escapar, até tentou cobrir seu rosto para esconder, mas também não teve sucesso.
— Não ri! — Joshua reclamou, empurrando ele para longe de si.
— Desculpa! Eu não tô rindo de você, eu juro — apressou-se em corrigir, agitando as mãos e aproximando-se. — É que… sei lá, você podia ter me perguntado isso antes, não é nada demais.
— Fácil pra você falar — fez bico e cruzou os braços.
— Desculpa, não tô rindo de você — chegou mais perto. — Mas, respondendo sua pergunta: não foi ruim. Se tivesse sido ruim da primeira vez que você me beijou, eu não teria roubado de volta.
Jisoo de repente sentiu-se nervoso pela revelação, talvez por aquele motivo estivesse com receio de perguntar. E não sabia dizer porquê decidiu perguntar logo agora, talvez tenha sido o calor do momento, mas não importava mais.
— Okay… — foi tudo que conseguiu dizer.
— Ahh! Olha pra você, todo tímido — apontou ela rindo. — Como você é inocente.
— Cala a boca — mandou, empurrando-a sem força. — É sua vez de perguntar.
— Posso perguntar duas coisas?
Joshua arqueou uma sobrancelha, desconfiado.
— Pode.
— Por que você me beijou daquela primeira vez? No verdade ou desafio?*
— Por que a gente sempre volta nesse assunto? — resmungou choroso, sentindo as orelhas ficando quentes.
— Responde a pergunta.
— Porque eu sabia que você sabia — disse. — Eu sabia que você sabia que eu queria beijar Jeonghan, e eu sabia que você não ia me expor na frente de todo mundo. Eu só… sabia que podia contar com você, sei lá.
Chan sorriu fechado, balançando a cabeça para mostrar que havia ouvido.
— Eu ainda acho que teria sido engraçado se você tivesse beijado o Jeonghan hyung…
— Cala a boca, moleque! Meu Deus, você vai me deixar biruta — reclamou, deitando no chão com as mãos na cabeça de forma dramática.
Ele riu outra vez, chegando mais perto.
— É um dom — sorriu, daquele jeito convencido. — A minha última pergunta…
— Fala logo.
— Você quer aprender japonês comigo?
Jisoo olhou-o com as sobrancelhas unidas, claramente confuso. Com certeza não estava esperando aquilo.
— Que?
— Por favor — juntou as mãos em súplica. — Eu acho que vai ser legal. Você precisa achar algo pra se distrair, aprender um idioma pode ser uma boa. Fora que a gente vai ter o incentivo de estarmos fazendo juntos, e também, quando já sabermos bastante coisa, podemos fofocar só entre nós em japonês, fora que…
— Tá legal — cortou-o.
— Hein?
— Eu aceito, vamos aprender juntos.
— Yes! — exclamou, jogando-se sobre ele e o abraçando com força.
Joshua soltou um som sofrido pelo impacto e o peso do menor caindo sobre si, mas não afastou o toque.
— Obrigado, hyung! — ele exclamava, apertando cada vez mais. — Vai ser muito legal! Yay! Eu amo você, sabia?
Joshua rolou os olhos, fitando o céu em seguida.
— Pra quem não fala que ama as pessoas, você já falou duas vezes só hoje.
Chan ergueu o tronco para olhá-lo.
— Porque é verdade — mostrou a língua de modo infantil antes de levantar e estender a mão para ele. — Vamos dormir?
Ele sorriu fechado e concordou, segurando sua mão e levantando.
No caminho até o apartamento da avó de Chan, Jisoo sentiu seu celular vibrar. Buscou o aparelho até então esquecido em seu bolso e viu algumas mensagens:
[Nayeonie<3 03:28]: Joshua eu jurooooo!!!! eu não acredito que tô sentindo borboletas por causa dela!!!!
[Soonyoung ratinho na minha cabeça 22:10]: Hyung……. eu ACHO que o Jihoon tá tentando me seduzir mas eu não tenho certeza……
Chapter 56: Chá de Damiana
Chapter Text
— Meio estranho o Shua hyung do nada resolver passar a noite com Chan, né? — Soonyoung ponderava enquanto caminhava segurando a mão de Jihoon.
— Ah… É, sim. Estranho — concordou o ômega, sentindo-se um tantinho constrangido, mas conseguindo disfarçar. — Mas, bem, vai saber, esses dois estão ficando muito próximos.
— Pois é. Isso é estranho também.
— Por que? — Jihoon quis saber, parando de frente para o namorado. — Shua hyung te disse alguma coisa?
— Não, por quê? — franziu as sobrancelhas.
— Sei lá, você que disse que é estranho — cruzou os braços. — Deu a entender que você sabe de alguma coisa.
— Quem tá pensando demais agora é você — Soonyoung riu, deixando um beijo na testa do menor antes de segurar sua mão e seguir caminho. — Eles só são uma dupla que eu nunca imaginei na minha vida, sabe? Tipo…
— Você e o Wonwoo? — inclinou a cabeça.
Soonyoung riu outra vez, abraçando o namorado pelos ombros, trazendo-o para mais perto de si.
— Isso é ciúmes porquê eu e ele agora somos parceiros de Wild Rift?
Jihoon revirou levemente os olhos, tocando o braço dele que estava sob seus ombros, tentando conter um riso pela convicção do alfa.
— É, tô morrendo de ciúmes — ironizou, mostrando a língua para ele de maneira infantil. Soonyoung apenas sorriu, apertando-o mais. — Aliás, posso perguntar uma coisa?
— O que?
— O que você quis dizer com aquilo?
— Aquilo o que? — olhou-o confuso.
— Do Shua hyung ser “obcecado” por Chan — falou como se fosse óbvio.
— Ah, isso? — deu de ombros. — Nada demais, só que desde que eles se conheceram, o hyung mudou um bocado. Claro que nossas vidas mudaram muito no geral, mas eu percebi que o hyung mudou em algumas coisas muito específicas e eu acho que foi por causa de Chan. Tipo ele pesquisar sobre gênero pra entender ela, sabe? Fora que eles ficaram muito próximos de uns tempos pra cá.
— Entendi — murmurou o menor, encolhendo os ombros e se dando por satisfeito com a resposta. — Mas, aproveitando que nós estamos e que Shua hyung vai passar a noite fora, por que a gente não aproveita que meus pais vão viajar pra gente fazer, tipo…
— O que? — Soonyoung sorriu de canto arqueando uma sobrancelha.
E, droga, só aquele sorriso pra lá de sugestivo fez o coração do ômega acelerar.
— Ah, sei lá. Uma noite de filmes e séries, que tal? — propôs, tentando esconder suas reais intenções. Não sabia como iria reagir se o namorado soubesse, o que ele faria se soubesse.
— A gente pode passar no mercado e comprar umas coisas pra comer! — exclamou animado com a ideia, cruzando seus dedos e o puxando animado até o mercado que, por sorte ou coincidência, estava a poucas quadras de distância. — Já sabe o que podemos assistir? Eu tô há tempos tentando te convencer a assistir meu filme favorito…
— Eu não vou assistir coisa de herói, desiste.
— Af, Jih! É Homem-Aranha Sem Volta Pra Casa! Tem todos os homens-aranhas! — exclamou, balançando a mão dele que estava junto da sua. — Não tem como não gostar! Fala sério, é muito incrível!
Jihoon apenas sorriu revirando os olhos de forma discreta, deixando o alfa tagarelar até que chegassem no mercado, eles andaram pelos corredores escolhendo algumas porcarias para comer e Soonyoung pensava em alguma coisa para fazer de janta, já que ele gostava de cozinhar para o namorado e foi enquanto andavam que o ômega lembrou de algo importante que precisava.
— Ah… Amor — chamou, logo tendo a atenção dele. — Hum… Eu tô com um pouco de dor de cabeça, então vou na farmácia comprar um remédio e te encontro já, já, ok?
— A gente já tá terminando as compras, não quer ir depois? — perguntou atencioso, tocando seu rosto.
— Não precisa, eu vou rapidinho — garantiu, olhando rapidamente para o cesto de compras. — Ah, pega as balinhas azedas que eu gosto, por favor?
Soonyoung fez uma leve careta por não gostar nem um pouco daquelas balinhas e nem do gosto delas na boca do namorado, mas não reclamou, nem ao menos teve tempo, pois logo o baixinho já estava andando apressado até a saída.
Assim que estava fora do mercado, Jihoon teve que fechar os olhos e controlar sua vontade de dar alguns pulinhos no lugar para extravasar toda aquela ansiedade que se acumulava dentro de si. Por Deus, desde quando havia se tornado daquele jeito?
Respirou fundo e balançou a cabeça. Por sorte, havia uma farmácia logo à frente e foi para lá que ele praticamente correu, preocupado que Soonyoung terminasse as compras rápido e resolvesse ir atrás de si. Não era como se quisesse fazer surpresa ou algo assim, mas seria mais fácil lidar com a ideia e a reação do namorado estando em casa, sozinhos.
Jihoon ignorou o som de campainha que se fez assim que ele entrou na farmácia, andando apressado pelos corredores à procura de preservativos, mas após andar por todo local e não encontrar, foi obrigado a ir até o balcão, onde estava uma atendente distraída mexendo em alguns remédios.
— Hum, com licença — disse baixo, aproximando-se. — E-Eu preciso de… de preservativos e eu não achei nas prateleiras.
— Ah, sim. Tivemos que deixar no balcão já que crianças estavam confundindo com doces ou algo assim — explicou a mulher, andando por trás do balcão sendo seguido pelo ômega. — Qual tamanho seria?
— Tamanho? — juntou as sobrancelhas. — Hum… eu pensei que só existia um tamanho. Que droga, como eu vou saber o tamanho?
— Ué. É pra você, não é? Sabendo o seu tamanho, já ajuda.
— É que… não é bem pra mim… — contou, completamente envergonhado. O coração batendo rápido e o estômago se revirando, deixando seu rosto vermelho e suado.
— Ah — soltou a mulher, coçando a nuca. — Namorado?
Jihoon apertou os lábios e acenou com a cabeça.
— Nossa primeira vez.
— Ai, Deus — murmurou ela, sentindo-se um pouco constrangida também. — Seu namorado é mais alto que você?
— U-Um pouco, é tipo… aqui — ergueu a mão um pouco acima da sua cabeça.
— Ok… não que eu queira pensar nisso, mas se ele tem sua idade e não é muito alto, não deve ser muito grande — virou-se para pegar uma pequena embalagem de preservativos tamanho médio, deixando-o a sob o balcão. — A não ser que seja pequeno, aí teria que ser P.
— A-Acho que esse t-tá bom — respondeu sacando a carteira.
— Mais alguma coisa? Lubrificante… nós temos alguns na promoção…
— Não precisa, obrigado.
Ignorando qualquer outra coisa que a mulher disse além do valor da compra, Jihoon pagou, guardou a sacola no bolso do casaco e andou até o mercado novamente, de onde Soonyoung estava saindo com algumas sacolas na mão.
— Comprou tudo? — perguntou o menor, ajudando-o com as compras.
— Sim, até aquele doce ruim que você gosta — respondeu forçando uma voz emburrada. — Que fique claro que eu não vou te beijar se você ficar comendo isso.
Jihoon riu, segurando a mão livre do namorado e cruzando seus dedos.
— Duvido.
[...]
Assim que chegaram a casa, os dois garotos começaram a guardar as compras enquanto Soonyoung pensava alto sobre o que faria para o jantar.
— Tem bastante coisa na geladeira, então temos bastante opções — falou, aproximando-se do namorado, que guardava algumas coisas no armário, abraçando-o por trás e cheirando seus cabelos. — O que você quer comer, meu amor?
— Eu posso escolher o que quiser? — sorriu segurando suas mãos.
— Desde que esteja no meu alcance, sim — respondeu num tom brincalhão, deixando que o baixinho virasse e ficasse de frente para si, passando os braços por seus ombros.
— Hum… que tal bibimbap? — sugeriu, ficando na ponta dos pés para dar selinhos nos lábios dele.
— Se é o que você deseja — riu divertido, segurando atrás de seus joelhos para deixá-lo sentado sob o balcão. O ato inesperado fez Jihoon rir, intensificando o aperto.
Ele fechou os olhos meio entorpecido, retribuindo na mesma hora quando Soonyoung lhe beijou, suspirando baixinho quando a língua dele tocou a sua e as mãos apertaram sua cintura, deixando seus corpos colados. Com aquilo, a ideia do ômega foi de continuar até que conseguisse verbalizar que queria “ir até o final” com o namorado, mas o nervosismo junto com a constatação inevitável de que precisava se preparar e criar mais coragem fez com que ele afastasse os lábios famintos do alfa dos seus, abaixando o rosto para que ele não pudesse beijá-lo novamente.
— O que foi, baobei? — perguntou confuso pela reação.
— Hum… não, nada. Só um pouco de dor de cabeça — mentiu, descendo do balcão. — Eu vou tomar um banho enquanto você faz a janta, tá?
— Claro, meu bem — sorriu, deixando um beijo em seus cabelos. — Qualquer coisa dá um grito.
— Ok — respondeu rapidamente, andando para fora da cozinha.
Assim que chegou em seu quarto, o ômega jogou-se em sua cama e se permitiu gritar em seu travesseiro para extravasar um pouco de todos aqueles sentimentos, não demorando muito pois logo levantou, pegou uma toalha e foi para o banheiro.
Durante o banho mais longo que o normal, notou que suas mãos tremiam pelo nervosismo, mas não queria dar para trás agora, nunca esteve tão perto. Lavou os cabelos duas vezes, ensaboou todo seu corpo com cuidado, até mesmo usou uma loção corporal de sua mãe que tinha um odor neutro, que servia para realçar sua essência natural.
Desligou o chuveiro, secou-se, vestiu a boxer e voltou para o quarto. Soonyoung estava lá dentro, mexendo em algumas coisas que estavam em sua escrivaninha.
— O que você tá fazendo!? — perguntou alto na intenção de assustá-lo, e funcionou já que o alfa deu um pulinho no lugar por estar distraído.
— Qual a necessidade disso? — ele choramingou, fazendo manha.
Jihoon riu baixinho e se aproximou dele, segurando a toalha que estava enrolada em seu corpo.
— Desculpa, meu amor — pediu deixando um beijinho sobre seu ombro, apoiando a cabeça ali em seguida.
— Tomou remédio pra dor de cabeça?
— Ah… não tinha na farmácia, mas agora já passou — mentiu, mudando de assunto antes que o namorado pudesse pensar muito naquela desculpa mais do que esfarrapada. — Mas o que você tá vendo aí?
— Eu achei aquele caderno que você ganhou de aniversário, lembra? — mostrou o caderno de capa preta que o ômega havia ganhado de seus pais.
— Meu caderno de colagens, é verdade — exclamou, pegando o objeto e folheando. — Eu tinha até esquecido disso.
— As primeiras páginas você fez tão bonitinhas — apontou, tocando o ombro dele, só então notando que ele estava sem camisa.
— É verdade — Jihoon murmurou, observando com cuidado as primeiras páginas do caderno, onde colou algumas fotos do seu aniversário e alguns dias que se sucederam, pôs também adesivos e escreveu algumas frases com canetas coloridas. — Eu devia continuar ele, né?
— Devia — concordou o maior, ficando atrás dele e o abraçando.
O ômega notou que aquele toque não carregava malícia nenhuma, mesmo que ele estivesse praticamente nu, e sentiu-se frustrado na mesma medida que sentiu-se tocado pela pureza do namorado. Como era possível ele ter uma mente tão suja e desejos nem um pouco discretos, e ao mesmo tempo ser um completo cavalheiro e o garoto mais fofo do mundo?
Jihoon engoliu em seco e soltou o caderno, segurando as mãos do alfa sobre sua cintura e fechou os olhos, apreciando o calor de seu corpo enquanto pensava em alguma forma de mostrar para ele quais suas verdadeiras intenções, sem ter que colocar em todas as palavras.
— Sabe o que eu lembrei, Soony? — murmurou, fechando os olhos quando sentiu o namorado arrastando a pontinha de seu nariz entre seus cabelos.
— O que?
— Da Polaroid que eu uso pra tirar as fotos, sabe?
— Sei. O que tem?
— Bem… eu me lembrei da-daquelas fotos que eu te dei de presente, lembra? — mordeu os lábios, nervoso. — D-De natal.
Soonyoung juntou as sobrancelhas por um momento, arqueando-as em seguida ao se dar conta do que o namorado estava falando.
— Lembro. Mas o que…?
— Você gostou delas? — virou-se para ele, passando os braços por seus ombros e colando seus corpos.
— Gostei, é claro, mas o que você tá fazendo, baobei? — perguntou, um tanto incerto se estava entendendo ou não as palavras e ações do menor.
— Soonyoung, eu… eu quero que nós… tipo… — fechou os olhos e umedeceu seus lábios, sentindo a respiração do outro bater contra seu rosto. — Eu quero…
Antes que ele pudesse terminar, entretanto, o alfa afastou-se de repente, alarmado.
— Eu deixei a comida no fogo! — exclamou, correndo para fora do quarto.
Jihoon pôde ouvir seus passos apressados na escada abaixo, suspirou frustrado mais uma vez e choramingou ao sentar-se na cama, cobrindo seu rosto e batendo os pés no chão.
— Que inferno — reclamou baixo, levantando e vestindo o restante de suas roupas. — Por que é tão difícil falar que eu quero transar com meu namorado? Ele já teria conseguido me falar se tivesse no meu lugar.
Um tanto mal humorado, e quase cogitando desistir da ideia, o ômega desceu até a cozinha, vendo Soonyoung mexendo em seu celular enquanto vigiava as panelas.
— Queimou muito? — perguntou casualmente, apoiando-se no balcão perto de onde ele estava.
— Hum? Ah, não. Consegui salvar — sorriu, largando o celular e a colher que estavam em sua mão e aproximando-se do namorado, tocando sua cintura. — Você tá bem?
— Tô, por quê? — ergueu os olhos para ele.
— Você tá meio estranho…
Jihoon suspirou, cobrindo seu rosto com as mãos.
— Me sinto um idiota.
— Por que, baobei? — Soonyoung chegou mais perto, segurando as mãos do menor de maneira preocupada.
— Nada, esquece — afastou-se devagar, virando para guardar algumas compras que ainda estavam sob o balcão. — Não é nada com você, ou a gente, é só…
— Você tá me deixando nervoso, Jih.
— Não precisa, por favor — voltou a olhar para ele, gesticulando com algumas sacolas em suas mãos. — Eu não vou conseguir te explicar agora e…
— Por que tem uma sacola da farmácia se você disse que não comprou o remédio? — ele perguntou de repente, notando o objeto nas mãos do namorado.
Jihoon olhou para a sacola em sua mão e congelou, seus olhos praticamente dobraram de tamanho e sua boca abria e fechava várias vezes, sem saber como responder.
— É-É… É que… eu…
Impaciente, Soonyoung foi rápido em pegar o plástico das mãos do ômega, virando-se de costas quando ele protestou e tentou pegar de volta.
— Soon! Eu tô falando sério, eu…!
— Por que você comprou camisinha? — perguntou, virando-se para Jihoon novamente, com o pacote fechado entre os dedos.
O mais novo ficou em silêncio por alguns segundos, sentindo-se envergonhado, como se tivesse sido pego fazendo algo que não devia. Seu rosto ficou vermelho de uma forma óbvia. O maior ainda lhe olhava, esperando por uma resposta, mas o resquício de um sorriso malicioso no canto de seus lábios deixava implícito que ele não precisava de resposta alguma. A situação e a reação do baixinho falavam por si só.
— Ai, pra que você acha, Soonyoung? — ele rebateu, sua timidez misturando-se com a irritabilidade, pois apesar de amar o alfa com todo seu coração, ele não podia negar o quanto aquela droga de sorrisinho convencido o tirava do sério, como se ele estivesse apenas brincando para vê-lo envergonhado. — Que saco, fica aí se fazendo de besta quando você já entendeu tudo, e se você não entendeu, eu digo: eu queria tentar fazer sexo com você, mas eu já não quero mais. Tira esse sorriso da cara.
O alfa riu baixo, negando com a cabeça ao observar o menor sair da cozinha pisando forte até seu quarto. Ele sabia que aquele era o mecanismo de defesa que seu namorado tinha quando sentia-se muito embaraçado sobre algo, então nem ao menos se deixou afetar pelas palavras ditas de uma maneira um tanto ríspidas, achava até engraçadinho a forma como ele agia.
Mordendo os lábios e sentindo uma excitação crescendo dentro de si, Soonyoung desligou o fogão e cobriu tudo, decidido a deixar tudo para depois. Pegou seu celular e enviou uma mensagem para Jisoo, mesmo sabendo que ele provavelmente não iria ver:
[Mensagem para Joshuashuashua 22:10]: Hyung…… eu ACHO que o Jihoon tá tentando me seduzir mas eu não tenho certeza…..
[Mensagem para Joshuashuashua 22:23]: deixa pra lá, eu tenho certeza
Assim que enviou, deixou o celular sobre o balcão e foi até o quarto de Jihoon, levando consigo o pacote de preservativos. O ômega estava jogado em sua cama com o rosto enfiado no travesseiro e não se moveu quando ouviu o namorado entrando e fechando a porta, tampouco quando sentiu o colchão afundando ao seu lado.
Os dedos de Soonyoung correram pelos cabelos umidos do menor.
— Eu te amo tanto, sabia? — perguntou quase retórico. — Amo esse seu jeito tímido. É até fofo como você tem vergonha de mim mesmo a gente estando juntos há quase seis meses…
— Cala a boca, Soonyoung — mandou, a voz abafada pelo travesseiro.
O alfa riu, levantando-se da cama após ter uma ideia.
— Ok, vou te de dar espaço…
— Eu disse pra você ficar calar a boca, não pra você sair daqui — reclamou o baixinho, sentando na cama.
O maior parou na porta e riu nasalmente, virando-se para o namorado de novo.
— Vem aqui — abriu os braços e, mesmo ainda estando acanhado, o ômega levantou e foi até ele, abraçando-o e apoiando o rosto em seu ombro. — Fala comigo, sim?
Ele suspirou baixo outra vez, afastando-se o suficiente para poder olhar o namorado nos olhos.
— Desde que… bom, desde a nossa viagem e aquela festa na casa do Seungkwan, eu… eu fiquei pensando sobre nós e eu acho… eu acho que… a gente poderia tentar, sabe? Se você quiser.
Soonyoung sorriu e segurou seu rosto ao selar seus lábios.
— É claro que eu quero, baobei — sussurrou entre os beijos. Sentia as mãos do menor segurando o tecido de sua camiseta e até mesmo aquilo lhe deixava animado.
— Agora? — perguntou, já um pouco ofegante, encarando os lábios do namorado enquanto sua mão puxava-o para perto pela barra da calça.
— Calma lá, né, Jih. Eu não sou uma máquina, você precisa me seduzir, sabe — ele começou a falar. — Pra ajudar a entrar no clima…
Jihoon olhou para ele com cara de tédio, ignorando ele falar sobre diminuir as luzes e acender velas, tirou a própria blusa, jogando-a em qualquer lugar, dando o mesmo destino para o short folgado que usava para dormir.
Soonyoung o olhou de cima a baixo e disse:
— Ok, eu tô no clima, vamos nessa.
O ômega riu baixo e fechou os olhos quando o namorado segurou sua cintura e lhe beijou de maneira afoita, colando seus corpos enquanto suas línguas se encontravam.
A mão direita do alfa desceu pelo corpo do menor até sua bunda, apertando a carne entre seus dedos com vontade, fazendo-o arfar entre o beijo e arranhar sua nuca. O menor deu passos para trás até sentir o colchão atrás de seus joelhos, inverteu as posições e empurrou Soonyoung sobre a cama, sentando em seu colo em seguida.
— Tira essa roupa antes que eu rasgue — ele disse entredentes, erguendo a barra da camisa dele.
— Ok… isso foi sexy — respondeu num sorriso, puxando o tecido para fora do seu corpo, arrepiando-se quando sentiu as unhas do namorado correndo por sua pele.
Soonyoung aproximou-se, beijando o namorado novamente, mas notou que os olhos dele corriam por seu corpo com afinco, ele nem piscava.
— O que foi, hum? — quis saber, levando as mãos para as nádegas de Jihoon, incentivando-o a rebolar em seu colo.
— Nunca notei como você fica sexy sem camisa e jeans — murmurou em resposta, movendo seu quadril lentamente sobre o dele, usando suas mãos para tocar todas as partes do tronco do namorado que conseguia.
— Achei que você gostasse mais quando eu tô sem nada — sorriu, vendo o menor revirando os olhos, aquela mania que ele achava tão adorável.
— Fica quieto — segurou seu rosto e lhe beijou de maneira intensa.
Jihoon suspirou de satisfação ao sentir a língua do namorado se arrastando contra a sua, ao mesmo tempo que as mãos grandes dele apertavam suas nádegas — ele já tinha deixado muito óbvio o quanto gostava daquela parte do seu corpo —, usando sua força para inverter as posições e ficar por cima do ômega. Soonyoung quebrou o beijo e passou a distribuir beijos e mordidas pelo pescoço do namorado, sentindo as mãos dele puxando seus cabelos.
— Posso marcar você? — perguntou contra o ouvido dele, satisfeito ao vê-lo arrepiar.
— Desde quando você pede permissão? — retrucou, rindo anasalado quando foi a vez do alfa revirar os olhos, estava pegando aquela mania de si.
Jihoon mordeu os lábios quando um chupão foi depositado em seu pescoço.
Por mais trabalhoso que fosse esconder as marcas depois, ele não podia negar que gostava delas. Gostava de quando Soonyoung demonstrava certa possessividade, deixando marcas em seu corpo, segurando sua mão ou sua cintura quando saíam juntos. Gostava da sensação de ser do alfa tanto quanto ele era seu. Segurou seu rosto entre as mãos ao lhe beijar novamente, confessando baixinho aqueles pensamentos contra os lábios dele, e claro que as palavras tiveram efeito.
— Eu também gosto, meu amor — Soonyoung respondeu, encaixando seus quadris e roçando suas intimidades ainda cobertas. — Você é meu e eu sou eu.
— Sim — acenou com a cabeça, abraçando-o pelos ombros e suspirando. — Meu.
— Seu — o alfa sussurrou, tocando o rosto bonito de Jihoon, correndo os dedos por suas bochechas.
Em resposta, o mais novo fechou os olhos, virando a face para poder beijar a palma da mão do namorado, subindo até seus dedos.
— Eu gosto da sua mão, sabia? — olhou-o nos olhos, traçando os dedos longos com os lábios e a ponta da língua.
— Você está me provocando muito — respondeu Soonyoung, segurando o rosto do ômega e voltando a beijá-lo.
Jihoon sorriu contra seus lábios, deslizando as mãos pelo tronco do maior, arranhando-o levemente e sentindo sua pele arrepiando sob seus dígitos. Gostava de sentir a derme quente dele em contraste com a sua, que estava quase sempre gelada, de puxá-lo para perto e sentir o corpo dele contra o seu, de ouvir seus suspiros, sentir os toques, até mesmo do frio na barriga que sentia quando estavam dividindo momentos como aquele.
Desceu sua mão ainda mais, adentrando a peça íntima do namorado e tocando seu membro já enrijecido. Soonyoung afastou-se minimamente para soltar um gemido baixo, olhando Jihoon nos olhos conforme ondulava seu quadril contra sua mão.
— Você… Você quer que eu…? — o ômega começou, sem a intenção de terminar, esperando que o alfa entendesse sua proposta, e ele entendeu, acenando positivamente com a cabeça em resposta.
— Eu quero, só que… — desviou o olhar, incerto de como continuar. — Eu quero, mas tipo…
— O que, meu amor? — Jihoon perguntou, tocando seu rosto com a mão livre.
— Você faria isso… de joelhos e comigo de pé?
Soonyoung sentiu-se levemente arrependido ao ver a expressão tímida e um pouco assustada do namorado. Sabia melhor que ninguém o quão sem graça ele ficava em momentos assim e como era difícil fazê-lo relaxar e não se preocupar com mais nada.
— Desculpa, amor, você não precisa fazer se não quiser — assegurou, deixando beijos por seu rosto.
Jihoon fechou os olhos, sentia os lábios de Soonyoung quase gelados em suas bochechas de tão quentes que elas estavam, não apenas pela proposta inesperada, mas por sua imaginação ter voado alto e lhe deixado animado com a ideia.
— Você quer isso? — resolveu perguntar, olhando-o fundo nos olhos.
— Não precisa fazer se…
— Não foi isso que eu perguntei.
Soonyoung encarou-o intensamente.
— Eu quero, mas eu não quero que se sinta forçado.
— A-A gente pode tentar… — murmurou, mordendo os lábios quando o alfa pulsou contra sua mão, empolgado com a ideia.
Voltaram a se beijar de maneira afoita, Jihoon continuou massageando o membro do namorado tão endurecido quanto o seu e ele nem havia sido tocado direito.
Seu coração acelerou quando Soonyoung ergueu-se e tirou o restante das roupas, ficando totalmente nu. O ômega, que aos poucos estava perdendo a vergonha e a timidez, não pôde evitar de admirá-lo, distraindo-se com a visão do corpo dele.
— Gosta do que vê? — ele perguntou, sorrindo de canto e se debruçando sobre o menor para beijá-lo.
As bochechas de Jihoon ganharam tons a mais de vermelho, como se tivesse sido pego no flagra, mesmo assim, estava um tanto inebriado pelo momento, então apenas murmurou um “uhum” contra os lábios dele.
Exibindo um sorriso meio maldoso, o alfa decidiu tomar um pouco as rédeas da situação. Ainda com calma, ele tocou os braços do seu ômega e guiou ambos para fora da cama.
Em pé, voltaram a se beijar, explorando o corpo um do outro com as mãos, Soonyoung roçava devagar o mamilo do menor com a ponta dos dedos, enquanto sua destra apertava a carne farta de sua bunda.
Quando afastaram-se o suficiente para se verem, os olhares pareciam capazes de soltar faíscas.
— Se você não quiser, a gente não precisa — Soonyoung assegurou novamente, tocando o lábio inferior dele com o polegar.
— Eu quero tentar — Jihoon afirmou convicto, mesmo que ainda nervoso. Segurou a mão do namorado e continuou: — S-Se… Se eu não gostar, eu aviso, ok?
O mais velho concordou.
Quando Jihoon pôs-se de joelhos lentamente, sem quebrar o contato visual, o alfa sentiu-se ainda mais excitado, e ver seu olhar nublado de prazer deixava o ômega inerte, quase extasiado.
Ele desviou o olhar para a ereção em sua frente, a cabecinha apontada para cima de tão duro que estava, expelindo pré-gozo a cada movimento que fazia. Respirou fundo e tocou-o com a língua, da base até a ponta, sentindo o gosto do líquido pré-seminal em seu paladar, fazendo tudo lentamente. Segurou com delicadeza e pôs na boca tão devagar quanto tudo que estava fazendo.
Soonyoung fechou os olhos em apreciação, ele adorava a sensação dos lábios de Jihoon em si, eram macios e quentes, lhe deixavam fora dos eixos, assim como a língua inexperiente fazendo o que sabia e podia para estimulá-lo, rodeando a extensão e a glande inchada.
Como não era a primeira vez que chupava seu namorado, o mais novo estava um pouco mais calmo, guiando-se pelo que aprendeu nos outros momentos como aquele que tiveram. Por exemplo, Jihoon sabia que o alfa gostava quando ele abusava do uso da língua e quando relaxava para que conseguisse deixar o pau dele ir fundo em sua boca, quase tocando a garganta.
Soonyoung gemia satisfeito, sentindo arrepios de prazer correndo por todo seu corpo, a visão de seu ômega de joelhos, se esforçando tanto para agradá-lo, tudo lhe levava ao céu. Levou as mãos para os cabelos escuros que estavam um tanto compridos, Jihoon ergueu o olhar para ele, suas íris brilhavam desejo e aquilo lhe deixou ainda mais excitado.
— Porra, você tá tão lindo, meu amor — gemeu rouco, apertando os fios com um pouco de força quando sentiu sua glande tocando a garganta dele brevemente. — Caralho!
Jihoon gemeu abafado com a ardência em sua nuca, sentia seu pênis endurecido pedindo por atenção, manchando sua boxer, pulsando a cada vez que o maior segurava seus cabelos com um pouco mais de força ou investia o quadril contra si sem perceber. Levado pelo tesão, a mão do ômega adentrou sua roupa íntima e iniciou uma masturbação para aliviar um pouco o incômodo, o que o fez gemer mais alto contra a ereção de Soonyoung.
Quando o alfa percebeu o que estava acontecendo, sentiu seu corpo inteiro se arrepiar e teve que se segurar para não gozar ali mesmo. Ver Jihoon ajoelhado, se esforçando para lhe dar prazer e se masturbando como se só o ter na boca fosse o suficiente para deixá-lo duro, de modo que ele não conseguia impedir seu corpo de tentar se aliviar, foi o ápice para o alfa.
Mesmo a muito contragosto, Soonyoung segurou os cabelos do menor e se afastou, respirando pesado, seu corpo tendo espasmos e reclamando por ter o orgasmo interrompido.
— Porra, Jihoon, você vai me deixar maluco — disse entre lufadas pesadas de ar.
— Você gostou, amor?
— Pra caralho — sorriu tocando seu rosto quando ele se levantou, puxando-o para que pudesse beijá-lo. — Você é maravilhoso.
Jihoon sorriu contra os lábios dele, tímido mas também orgulhoso.
— Agora é minha vez.
O ômega arfou surpreso quando o maior lhe empurrou sob a cama, ficando sobre si, beijando seu pescoço e despindo-o da última peça de roupa que cobria seu corpo. Ele mordeu os lábios com força quando Soonyoung fechou o punho ao seu redor, apertando seu membro e masturbando devagar, dando atenção especial à cabecinha.
— V-Vai devagar, senão eu vou… hum! Senão eu vou gozar — pediu ofegante, agarrando-se nos braços dele.
— Eu gosto tanto de te ver gozando, meu bem — sussurrou contra o ouvido dele.
— Cala a boca — resmungou segurando o rosto dele com as duas mãos, selando seus lábios e não conseguindo conter um gemido de escapar contra estes quando o alfa aumentou a intensidade dos movimentos.
— Pode deixar, eu vou ficar quietinho — sussurrou.
Deixando um último beijo no queixo do ômega, Soonyoung deslizou os lábios pelo corpo dele. Deixando mordidas e alguns chupões em seu pescoço, lambidas, beijos suaves e mordidinhas leves pelos mamilos, o que causou espasmos em Jihoon.
— Eu amo como você treme nas minhas mãos, amor.
As mãos do alfa seguravam firme na cintura do mais novo, sua língua deslizou desde a virilha pelo abdômen do namorado e ele pensava que a forma como ele tensionou e gemeu baixinho foi uma das coisas mais lindas que ele já viu.
Ele não fez cerimônias antes de pôr o comprimento de Jihoon na boca, satisfeito ao sentir o peso em sua língua e ver as pernas dele tremendo e tentando se fechar, sendo impedidas pelas mãos que estavam firmes em suas coxas. Os dedos do menor apertavam os cabelos de Soonyoung com força, o baixinho ainda não sabia controlá-la muito bem em momentos assim, era um reflexo puxar os fios escuros do namorado sempre que um espasmos mais violento corria pelo seu corpo.
Apesar de ser Jihoon quem recebia os estímulos, Soonyoung não podia negar o quanto sentia-se satisfeito ao ver seu ômega naquele estado. O gosto e a sensação dele em sua boca, os tremores e arrepios por seu corpo, a ardência que o alfa sentia em sua nuca sempre que o baixinho puxava seus fios, tudo lhe deixava ainda mais excitado.
— Soonyoung! Ah…! Para. Chega, por favor — pediu, suspirando alto quando o namorado obedeceu.
Jihoon estava ofegante, suas pernas fracas e seu corpo molinho. Tentava se recuperar das sensações e se lembrar do que deveria fazer em seguida. Os lábios do alfa beijavam vagarosamente suas coxas, assim como os dedos que lhe acariciavam a pele, apenas esperando que ele se recuperasse.
— Onde você deixou as camisinhas?
— Aqui — Soonyoung respondeu, esticando-se para pegá-las na escrivaninha ao lado da cama.
O ômega pegou uma e abriu o pacote com cuidado, enquanto o mais velho se ajeitava entre suas pernas ainda acariciando suas coxas.
— Precisa de ajuda pra vestir? — Jihoon perguntou, entregando o preservativo para o namorado.
— Não, mas… hum… você não acha que a gente precisa tipo… te preparar antes? — perguntou incerto, vestindo a camisinha da maneira correta.
Ambos estavam com os corações acelerados. Nunca haviam ido tão longe.
— Acho que não precisa — respondeu nervoso, ajeitando-se entre os travesseiros.
— Você acabou de dizer que meu pau é pequeno de novo?
Jihoon revirou os olhos, contendo um riso baixo quando o alfa beijou seu rosto, ficando bem perto de si.
— Cala a boca, não foi o que eu quis dizer — bateu de leve em seu ombro, segurando-se ali. — É que tipo… todo mundo faz isso, não deve ser tão difícil.
— Ok… Eu vou começar, mas me avisa se quiser parar, ok?
O ômega concordou, fechando os olhos quando Soonyoung lhe beijou uma última vez antes de encaixar o membro em sua entrada e forçar para dentro.
As unhas do baixinho imediatamente afundaram na pele do maior, seu rosto se contorceu em uma careta em resposta a dor que sentiu. Ele não estava esperando que fosse ser tão desconfortável e dolorido.
— Amor, respira, você não ‘tá respirando — o alfa pediu em seu ouvido. Sua voz estava rouca, era perceptível o quanto ele estava sendo atingido pelas sensações.
Jihoon tentou fazer o que foi pedido, puxou ar para os pulmões, nem havia reparado que trancou a respiração. Tentou relaxar seu corpo, mas estava sendo difícil.
— V-Você colocou tudo?
— Ainda não, foi… metade… — respondeu tímido, tocando seu rosto. — Você quer parar?
Ele negou com a cabeça, abrindo os olhos. Soonyoung preocupou-se ao notar as lágrimas prestes a escorrer pelo rosto do namorado.
— Amor, tá doendo muito?
— N-Não… um pouco, mas… acho que é normal — mexeu-se desconfortável, mordendo os lábios quando a sensação ficou ainda mais estranha.
Com a movimentação, Soonyoung gemeu baixo e fechou os olhos. Seu corpo suava e tremia, respirava fundo para tentar se controlar. Não haviam nem chegado na metade do que deveria acontecer e ele já estava tendo alguns vislumbres do prazer, mas sabia que não era exatamente justo, seu namorado estava sentindo dor e isso era mais do que visível.
— Jih… olha pra mim — pediu e foi atendido. — Tá tudo bem se você quiser parar, ok?
Jihoon desviou o olhar. Sentia-se dividido. Não queria parar quando já havia ido tão longe, mas, de fato, não estava mais sendo proveitoso para si, apesar de saber que o alfa estava gostando, também sabia que ele se preocupava consigo.
— Você quer parar? — repetiu, tocando seu rosto para que ele lhe olhasse.
Num suspiro quase derrotado, Jihoon fechou os olhos e concordou com a cabeça.
— D-Devagar, sim?
— Ok — Soonyoung sussurrou, retirando-se do namorado com cuidado.
Viu ele respirar aliviado e cobrir seu rosto de maneira envergonhada quando estavam completamente separados.
— Desculpa…
— Ei, ei — aproximou-se, debruçando-se sobre ele e segurando suas mãos. — Por que você tá se desculpando? Tá tudo bem, baobei.
Jihoon o olhou.
— Deixa eu te ajudar com isso, pelo menos — tocou a ereção do namorado e tirou a camisinha.
— N-Não precisa, meu amor, tá tudo bem…
— Soonyoung, cala a boca e deixa eu te fazer gozar — mandou, segurando sua nuca com a outra mão e o puxando para beijá-lo.
O alfa não protestou mais, fechou os olhos e aproveitou das sensações que seu ômega lhe oferecia. A mão dele masturbava seu membro de uma maneira tão boa que sua única reação era gemer, e Jihoon descobriu que gostava de quando Soonyoung gemia contra seus lábios.
As mãos do maior seguraram sua cintura e ele passou a mover o quadril suavemente, sincronizando ambos os movimentos até conseguir chegar ao orgasmo.
— Você tá bem? — Soonyoung perguntou após recuperar o fôlego.
Jihoon concordou com a cabeça, sentando-se na cama devagar, puxou o cobertor para se cobrir e abraçou seus joelhos.
— Desculpa ter parado.
— Ai, amor, para com isso — ficou ao seu lado e o abraçou, beijando seus cabelos. — Se você tava sentindo dor, eu não ia querer fazer desse jeito. Tá tudo bem.
— Mesmo assim — choramingou, afundando o rosto no peito dele. — Eu queria, eu juro, mas só…
— Jihoon — falou sério, segurando seu rosto. — Eu alguma vez disse ou fiz algo que fez você colocar toda essa pressão em si mesmo?
— É claro que não! Mas…
— Então, pronto. Tá tudo bem — puxou-o para seus braços novamente. — A gente tentou e não deu certo, acontece. A gente tenta de novo.
— Não precisa ser hoje, né?
— Claro que não, meu amor — beijou seu rosto. — Eu não me importo se você disser que quer tentar daqui algumas horas, dias, semanas, anos… Eu não me importo se você disser que nunca mais quer tentar. Porque eu amo você e sexo é só uma partezinha muito pequena do nosso relacionamento.
— Mesmo? — olhou-o. — Você não ficaria frustrado? Você também tem seus desejos e eu sei disso.
— Eu sei disso, mas meu maior desejo é você — riu quando o ômega revirou os olhos. — E você mesmo disse que sexo oral já é sexo, então…
Jihoon riu envergonhado, cobrindo o rosto com as mãos ao lembrar do que dissera na casa de Seungkwan.
— Você não pode me deixar beber de novo.
— Combinado, meu bebunzinho — deixou um beijo em sua testa. — Quer tomar outro banho? Eu lavo seu cabelo.
— Pode ser — beijou o ombro dele, olhando-o em seguida. — Eu te amo.
— Eu também te amo — sorriu, observou o namorado levantar e fez o mesmo. — Vou terminar o jantar depois do banho e depois a gente pode assistir Homem-Aranha.
[...]
Assim que terminaram o banho — que foi regado de muitos beijos e carinhos —, Soonyoung vestiu-se rapidamente e desceu até a cozinha para terminar de preparar a comida enquanto Jihoon se vestia e trocava a roupa de cama.
Ligou o fogo novamente e enquanto esperava cozinhar, pegou seu celular, surpreendendo-se com a mensagem que recebeu.
[Mensagem de Mãe<3 23:42]: Oi, filho. Conseguimos a licença, estamos voltando amanhã.

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