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A Flor de Cybertron [OC x OC]

Summary:

Quem diria que até os brutos amam, né?

Jaysix e Stormtracker estão presos na terra precisando de recursos para se manter, porém, o que não deveria ter acontecido, aconteceu. Entre corridas ilegais cheirando a gasolina barata e o cheiro de amor no ar, os dois bots vão descobrir que o seu parceiro é mais do que suas ópticas podem ver.

Notes:

Jaysix e Stormtracker são personagens originais meus.

Escrita original por @celestial_jaguar .
Revisão e adaptação por: eu mesma.

Plágio é crime.

Todos os personagens e eventos citados nessa obra são FICTÍCIOS. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é pura coincidência.

Work Text:

PARTE-1J

Jay converteu-se em seu modo alternativo, um carro velocista vermelho com detalhes em azul-escuro que refletiam a luz artificial das estruturas metálicas do caz. O ruído do motor emergindo de seu corpo bípede para a máquina aerodinâmica ecoou como um mantra conhecido, um som que lhe trazia — paradoxalmente — foco e calma. Ele não hesitou: acelerou para fora da área de pouso como um projétil recém-disparado. Sua interface interna já havia ativado um cronômetro mental, cuidadosamente calibrado segundo a tolerância emocional e fisiológica de Storm. O tempo máximo que Storm suportava sua ausência era uma semana e meia; embora o limite ainda não tivesse sido ultrapassado, estava perigosamente próximo para o conforto de Jay. Uma pressão firme se acumulava próximo ao seu spark, uma consciência constante de que cada ciclo distante era um ciclo de estresse para seu parceiro.

O plano era simples, frio, quase clínico: trabalho (a morte de Chrysanthema), retorno (com energon e combustível), fuga (daquele planeta de flores falsas).

Os primeiros cem quilômetros foram devorados pela velocidade. A estrada inicial, pavimentada e absurdamente limpa, logo cedeu espaço a trilhas de terra. Seu chassi robusto absorvia o impacto das irregularidades: superfícies escorregadias cobertas pela umidade excessiva das plantas de Flos Lucis, lamaçais onde as rodas exigiram tração máxima, e trechos rochosos que requeriam manobras ágeis para evitar danos a seus pneus reforçados.

Ele estava quase na metade do percurso quando uma luz de notificação pulsou em seu HUD. Storm. Jay suspirou, ativando o comunicador interno, mas mantendo a voz em um tom controlado, quase monótono — o tipo de monotonia que ele usava para não revelar que estava preocupado.

— O que foi, parasita? Já tá com saudades? —

Tentou soar leve, mas a tensão se infiltrava pelos cabos vocais, denunciando a verdade.

A voz de Storm, digitalmente límpida apesar da distância absurda, carregava uma vibração irregular — e Jay conhecia bem aquele ritmo. Storm não gritava. Ele era preciso. Frio. E quando ficava ansioso, sua cadência acelerava microscopicamente, como agora.

— Você está cinquenta e oito ciclos horas além do cronograma de ‘abastecimento rápido’, Jay. O nível dos suprimentos secundários na prateleira B-7 tá em 43,2%. Isso é inaceitável. Além disso… — uma pausa calculada. Um golpe disfarçado. — …a desorganização no seu compartimento pessoal é uma agressão visual e tátil. A pilha de cabos de dados está invadindo a zona neutra do piso da cabine. Você disse para eu não tocar em nada. —

Jay soltou um riso baixo. Deixara aquela bagunça de propósito — uma pilha caótica de equipamentos não essenciais, cabos embolados, ferramentas esquecidas — para testar o autocontrole do parceiro. E, como sempre, Storm estava falhando no teste.

— Eu sei o que eu disse. E se você tocou, Storm, eu vou saber. É uma armadilha. —

Provocação lançada.
Alvo atingido.

— Eu não toquei. — A irritação na voz dele era quase um zumbido. — Tô a uma distância segura. Mas a perturbação no padrão é… desestabilizadora. Meu sistema de organização está em alerta vermelho. Quanto tempo falta? Seja preciso, Jay. Não consigo recalibrar o reator sem essa variável. —

A voz dele implorava — discretamente — por estabilidade. Por um número. Por controle.

— Tive problemas com a burocracia. Essa gente não gosta da nossa raça. Precisei de um método mais… eficiente. Me dá uma semana. —

Silêncio. Frio. Afiado. Como um corte.

— Uma semana é totalmente inaceitável. O estresse ambiental aqui é alto. O cheiro é muito intenso, Jay. Eu preciso de você antes de dois dias, ou ativarei um protocolo de quarentena de emergência. E você ficará de fora. —

Jay freou bruscamente para evitar uma rocha enorme, sentindo uma onda de irritação percorrer seus circuitos. Dois dias era impossível. Ele precisava observar o alvo.

— Quatro braços, quatro dias, parasita. — A velha piada. — Vou analisar, executar, pegar o pagamento e voltar. Quatro dias. Nem um ciclo a mais. —

— Dois dias, — Storm retrucou, a voz ficando mais aguda.

— Quatro! —

— Dois dias e meio. —

Jay quase revirou as ópticas.

— Quatro. E nem mais um minuto. Se eu atrasar, você me bloqueia da nave e, caso você sinta falta do seu amor, vai atrás de mim. Trato feito? —

O suspiro satisfeito de Storm denunciou a pequena vitória emocional.

— Trato feito. —

Jay permitiu-se um sorriso. Storm precisava de regras. De limites. Era assim que ele respirava — caso respirasse. Negociar esses limites era como oferecer uma âncora emocional ao parceiro.

— Ótimo. Agora volte a organizar minhas coisas e seja um bom rapaz, Storm. Desligo. —

— Eu não sou seu—! —

Jay cortou a comunicação, rindo roucamente. O suficiente para fazer Storm reorganizar a prateleira de livros inteira em ordem alfabética por autor.

Na chegada ao destino indicado por Veridian, Jay — ainda em modo alternativo — buscou um ponto discreto: uma saliência rochosa coberta por vegetação escura e flores densas. Perfeito para observar.

Ele esperava um barraco miserável, um campo abandonado, talvez um Cybertroniano solitário e decadente, algo condizente com a imagem que Veridian pintara.
Mas o que viu travou seus processadores.

De um ponto alto, usando zoom de longo alcance, Jay observou não miséria, mas prosperidade. Um complexo habitacional simples, porém robusto e belo, com painéis solares integrados ao design. Era luxo silencioso — a riqueza de quem investe em durabilidade.

E o mais chocante: Chrysanthema não vivia sozinho.

O lugar era vivo.

Mamutes sedosos pastavam. Plantações quilômetros adentro. Cuidadores — Cybertronianos e nativos — trabalhando em harmonia.

E Chrysanthema, o alvo, estava no centro disso. Nada de velho teimoso decadente. Sua armadura marrom-caramelo com detalhes em bronze polido cintilava sob a luz do fim de ciclo. Ele comandava com paciência, com autoridade tranquila.

Veridian havia mentido.
Sobre a propriedade.
Sobre a solidão.
Sobre tudo.

A riqueza de Chrysanthema não era ganância. Era mérito.
E Veridian queria matá-lo… por inveja.

A raiva ferveu, mas Jay a engoliu. Moral não pagava energon. E Storm precisava comer.

Ele ajustou o plano: dois dias de observação viraram três. Nenhuma vítima colateral. Nenhuma falha.

Sobreviveu com um cubo de energon reserva e água destilada. Ignorou o perfume delicioso das frutas ao redor. A noite do quarto dia chegou. Perfeita. Escura. Sem lua.

Chrysanthema estava afastado, próximo ao cercado do gado. Sozinho.
Fogueira fraca iluminando sua silhueta.

Jay camuflou-se nas sombras. Reduziu o brilho das ópticas a quase nada — pequenos pontos vermelhos. Desativou emissores térmicos.
Um de seus braços superiores retraiu e rearranjou-se no canhão de partículas de precisão. Silencioso. Fatal.

A mira infravermelha fixou-se na figura do alvo. Jay inspirou — no equivalente mecânico — preparando o disparo.

Então…
A voz de Chrysanthema atravessou o comunicador de longo alcance.
Clara. Calma.
Direcionada a ele.

— Você vai demorar muito para me matar, mercenário? —

Jay congelou.
O servo no gatilho permaneceu travado.
A mira vacilou.

Como?
Ele estava invisível, sem assinatura térmica. Fora da linha de visão.

Piscar.

Chrysanthema não estava mais na mira.

Nenhum som. Nenhum movimento.

Sumiu.

Jay converteu-se para o modo bípede num estalo curto, os quatro braços prontos, o canhão girando para varrer a área.

A voz veio de trás. Perto. Assustadoramente perto.

— Mas é visível que Veridian não ia deixar pra lá uma rejeição. —

Cada circuito de Jay congelou.
Virou o torso lentamente, mantendo a arma apontada.
Chrysanthema estava ali.
A menos de um metro.
Ópticas calmas. Zero medo.

— O quê…? —

O som saiu falho, quase morto.

Antes que Jay pudesse racionalizar, um cheiro doce invadiu seus filtros — néctar concentrado, artificial, pesado demais. Seus sistemas tremeram. Uma tontura avassaladora o atingiu, quebrando sua estabilidade interna.

A escuridão veio segundos depois.

A única coisa que Jay registrou antes de cair foi o pensamento interrompido pela queda abrupta…

PARTE-2S

Storm aguardava na entrada da nave como uma sentinela esculpida em sombra. A escotilha permanecia meio aberta, cuspindo um feixe de luz pálida para fora, enquanto o sol de Flos Lucis declinava e sangrava pelas frestas. Ele permanecia imóvel — uma linha construída para precisão — com o casco negro fosco riscado por detalhes cromados que devoravam os últimos reflexos do dia.

Ele tinha a postura dos que vigiam até a própria respiração: rígida, contida, militar.
E o mundo ao redor ousava existir.

O aroma do planeta o agredia. Não por ser sujo, mas por ser excessivo. Doía pela abundância.
Flores, néctar, seiva, vida — tudo era um coro doce demais, um perfume que se impunha como uma mão grossa sobre seus sensores. Não havia silêncio olfativo, não havia descanso.

Storm pisca; o cronômetro interno exibe a sentença:
Três minutos para o fim do quarto dia.
O prazo. A promessa. A constante.

E Jay não voltara.

O pôr do sol, naquela paleta violenta de roxo contra laranja, riscava o céu como se alguém tivesse decidido rachar o firmamento ao meio. Storm achava a cena tão caótica quanto Jay era desorganizado — mas Jay não quebrava prazos. Não quando envolvia segurança. Não quando envolvia Storm.

Então aquilo só podia significar uma coisa:
O mundo fizera o impensável.
Tocara na sua constante.

A mágoa veio primeiro, funda e precisa, como um fio frio na armadura. Logo transformou-se em algo mais estreito e doloroso, um aperto seco no spark, aquela premonição maldita que ele aprendera a reconhecer:
Jay estava em risco.

Ele tentou ligar.
Chamou.
Chamou.
Chamou.

A nave registrou as tentativas, mesmo quando sua mente já havia perdido a contagem: cento e quarenta e duas chamadas ignoradas. A escotilha foi trancada com um clique tão satisfatório que soou como o único fragmento de ordem possível em um cosmos em colapso. Storm então se dirigiu ao painel de navegação.

O mapa estelar saltou para a vida.
Um toque.
Um pulso.
A última localização do transponder de Jay brilhou no visor, situada em uma zona rural — lama, pedras, vegetação e, pior que tudo, aquele festival orgânico e repulsivo que Storm detestava com fervor.

Ele estremeceu.
Mas Jay era prioridade absoluta — e Storm não permitia que prioridades escapassem.

Ativou a camuflagem óptica da nave, selou os protocolos de segurança e, em seguida, assumiu seu modo alternativo: um carro velocista angular, negro como um julgamento final, com linhas afiadas como um leito de navalhas. Não tão rápido quanto o modelo musculoso de Jay — mas perto o bastante.

Atravessou as vias com velocidade máxima.
Só parou quando o solo se tornou impróprio para rodas.

O rastreador pulsava:
Jay atendeu a última ligação ali, na borda entre o mundo civilizado e a selva viva.

Storm transformou-se de volta ao modo bot com perfeição cirúrgica, sem estalos, sem falhas, sem som que não fosse absolutamente necessário. Avançou.

A floresta o atacou primeiro.
Lama pesada e viscosa colava em suas botas.
Videiras molhadas arranhavam sua armadura.
O cheiro doce demais parecia querer invadir suas placas.

Sua misofobia exigia que ele recuasse, que arrancasse aquela sujeira de si.
Mas Jay vinha antes. Sempre.

Ele aproximou-se das terras de Chrysanthema — a fazenda elegante que, francamente, não mereceu mais de um microssegundo de sua atenção — quando ouviu os sons que congelaram seu processador.

Tiros.

E, entre eles, um som específico.
O canhão de Jay.

Aquele assovio agudo no carregamento seguido pelo boom grave. O timbre que Storm reconheceria até no fim do tempo.

Ele correu.
Mato arranhando pintura, som ignorado, caos ignorado.
E então viu.

Jay.

Um quadro de guerra e desespero: Jay ferido, um dos braços superiores pendendo morto, armadura do quadril queimando, usando três braços para lutar e sobreviver enquanto dez corpos já juncavam o chão e cinco inimigos o pressionavam em uma feroz tentativa de execução.

O processador de Storm desligou a lógica.
Instinto tomou o lugar.
Instinto — a única forma de desordem que ele permitia.

Ele silenciou os áudios receptores.
Criou seu próprio vazio.
Só visão.
Só cálculo.
Só extermínio.

Puxou seu Blaster de alta potência, arma de emergência e precisão absoluta.
Mirou.
Atirou na junta de um joelho inimigo.
O alvo caiu.

Jay o viu.
Gesticulou.
Gritou — provavelmente mandando-o embora.

Storm ignorou.
Atirou mais duas vezes.

Os últimos três agressores recuaram, percebendo que a batalha se tornara suicida.

Storm correu até Jay e o arrastou para fora da arena improvisada, sem pedir permissão, sem perder tempo. Só reativou o áudio quando o mato já escondia ambos.

Jay explodiu:

— Você é louco porra?! Isso não era uma emergência de cabos bagunçados, Storm! Não podia esperar?! —

Storm respondeu com o ventilador quase ruindo de frustração:

— Você não chegou. O prazo acabou. Você não atendeu. E você disse que eu podia ir atrás de você se demorasse! —

— Era piada! Porra, Storm! PIADA! Não era pra vir aqui! —

— Eu não interpreto piadas direito, cacete! — Storm gritou, virando-se com uma sinceridade que feriria um titã. — Você é a minha única constante. Se você morrer, eu perco tudo. O único amigo. O único—

— O único marido! — Jay cortou, cínico, mesmo machucado. — Você veio atrás de mim porquê me ama, né? —

Storm revirou as ópticas com gosto.

— Menos mal que você não tá morrendo. Eu não organizaria seu funeral nessa lama ridícula. Agora: consegue se transformar? E conseguimos o pagamento? —

Jay bufou, exausto.

— Não tô bem, mas consigo. E sim, conseguimos. Mas a história é outra… Chrysanthema mentiu. Quem me contratou estava envolvido com os atacantes. E os capangas deixaram a outra metade do pagamento como ‘indenização’. Em G.U. —

Um sorriso cansado, torto:
— Vamos poder ficar nove meses sem trabalho. Já que só eu trabalho. —

Storm respondeu com aquele orgulho indignado que só a ordem devolvida despertava:
— Consertei cinquenta módulos de navegação e fui pago em G.U., Jay. —

Jay riu — alívio e vitória respirando juntos.
Storm, por sua vez, sentiu a ordem do universo retornar a ele como um cobertor quente.
Jay estava vivo.
Tinham dinheiro.
E, por mais que Storm não soubesse, Jay ocultava o rosto do verdadeiro Chrysanthema — e a ameaça que ainda viria.

Mas, por ora…
Tinham nove meses.
E uma boa fofoca.

PARTE-3J×S

Storm guiou Jay, que cambaleava levemente devido à perda de fluido e ao choque, de volta à nave. O modo alternativo de Storm era mais silencioso e eficiente, mas Jay insistiu em permanecer em sua forma bípede, apoiando-se pesadamente no ombro de Storm. A cada passo, a armadura preta de Storm ficava mais manchada com a lama e o fluido vazado de Jay. Storm suportava a contaminação, respirando fundo e focado no protocolo: Reparo e Higiene.

Ao chegarem ao caz, Storm desativou a camuflagem e rapidamente abriu a escotilha. Ele praticamente arrastou Jay para dentro, ignorando o rito habitual de limpar os pedestais na entrada. O mercenário ferido era uma variável de desordem que precisava de atenção imediata.

— Nojento, — Storm murmurou, olhando para a trilha de sujeira que Jay deixava no chão metálico e perfeitamente limpo da nave. — Preocupa não, eu limpo depois. Agora, senta aí na área médica, Jay. E não toque em nada desnecessário. —

Jay, exausto, apenas assentiu, deixando-se cair pesadamente no banco da estação médica. Seus sistemas estavam em alerta de baixa potência. Storm ligou os diagnósticos da nave, passando um escâner sobre o corpo de Jay.

— Braço superior direito com falha no atuador e dano no isolamento do cabo. Múltiplos micro-cortes na armadura abdominal. Vazamento de fluido de refrigeração. Não é tão ruim quanto parecia, mas precisa de sutura e recarga, — Storm resumiu, seu tom voltando ao seu padrão lógico e frio, um mecanismo de enfrentamento que ele usava para lidar com o estresse.

Enquanto Storm pegava as ferramentas e os materiais de reparo, Jay estendeu um de seus servos inferiores, aquele que não estava segurando o braço ferido. Na palma de seu servo repousava algo que parecia ter sobrevivido milagrosamente à briga e à viagem: uma flor.

Não era uma das flores extravagantes e super perfumadas de Flos Lucis. Era uma flor selvagem, pequena, com pétalas finas e translúcidas, e uma tonalidade de azul neon que parecia brilhar fracamente na luz do corredor. A flor estava amassada, com terra grudada em algumas pétalas e um cheiro suave e agradável, diferente do perfume pesado do resto do planeta.

— Peguei para você, — Jay murmurou, a voz baixa. — Estava no meio da treta. É da cor das suas ópticas. Achei que traria um pouco de ordem para o caos que eu causei. —

Storm parou. Seus servos, que estavam prestes a pegar o bisturi de laser para limpar a ferida de Jay, congelaram no ar. Ele encarou a flor e depois as ópticas cansadas de Jay. A sinceridade no olhar do mercenário era inegável.

A flor era um erro, uma desordem orgânica, mas era dele. E era da cor que ele amava.

Storm não soube o que dizer. Ele não tinha um protocolo para presentes inesperados, especialmente presentes que eram, em si, um microcosmo da desordem. Sua mente lutou entre o impulso de descartar o objeto contaminado e a profunda satisfação do gesto de Jay. A flor azul neon era um símbolo de que, mesmo no meio do derramamento de fluido e do perigo, Jay havia pensado em algo que traria alegria aos seus sensores visuais.

Lentamente, Storm aceitou a flor. Ele a segurou com extrema delicadeza, examinando-a de perto. Ele a levou até seus sensores olfativos e inalou. O cheiro era bom, um aroma levemente cítrico e limpo, muito agradável, um alívio bem-vindo após a saturação olfativa do planeta.

— Obrigado, — Storm disse, sua voz um pouco mais suave do que o normal. Ele colocou a flor em uma pequena mesa de metal polido, garantindo que ela estivesse perfeitamente centralizada e que os detritos orgânicos não tocassem a superfície da mesa. Um ponto de beleza em um mundo de sujeira.

— Agora, deite-se. O reparo é prioritário, — Storm comandou, voltando à sua eficiência.

Storm trabalhou por horas. Seus servos eram incrivelmente rápidos e precisos. Ele limpou meticulosamente cada micro-corte com um fluido antisséptico especializado, suturou as aberturas maiores com um material de vedação de titânio flexível e, por fim, trabalhou no atuador do braço de Jay. Ele estava tão concentrado que nem percebeu a lama secando em suas próprias placas. Jay observava o foco intenso nas ópticas azuis de seu parceiro, sentindo uma paz estranha e profunda.

— Você é o melhor mecânico que eu conheço, — A Ferrari murmurou, mal contendo um bocejo.

— Eu sei, — Storm respondeu, sem tirar as ópticas do cabo que estava soldando. — Agora fica quieto, tô recalibrando seu sensor de toque. Se eu errar, você vai sentir cócegas em vez de dor. —

Com o reparo concluído e o fluido de refrigeração reposto, Storm finalmente deu a Jay uma dose potente de energon de alta octanagem. O calor se espalhou pelos sistemas de Jay, recarregando seu núcleo.

— Agora, — Storm disse, olhando para si mesmo e para Jay. — Precisamos de higiene. Essa sujeira... é inaceitável. Vamos. —

Eles foram para a unidade de descontaminação e limpeza da nave, que funcionava como um chuveiro de alta tecnologia. Storm ativou a pressão máxima da água quente ionizada e dos solventes de limpeza. Eles ficaram lado a lado, o vapor preenchendo a pequena cabine.

A água escorria pela armadura vermelho bordô e robusta de Jay, levando embora o fluido escuro e a lama. Storm estava mais preocupado com a sujeira em sua própria armadura preta. Ele passava os servos incessantemente pelas placas, garantindo que não restasse um único resíduo orgânico.

Ele assistiu ao seu parceiro, a água escorrendo por seus ombros. A postura de Storm ainda era rígida, mas havia um certo relaxamento em suas placas faciais agora que o caos físico havia sido removido.

Jay, com um servo agora totalmente funcional, moveu-se suavemente para trás de Storm, envolvendo seus dois braços inferiores ao redor da cintura esguia de Storm. Ele encostou o chassi em Storm, sentindo o calor familiar emanando do núcleo de seu parceiro.

O As congelou. O servo que estava esfregando o próprio ombro parou. Ele não se virou, mas sua voz saiu ligeiramente abafada, ainda carregando a nota de estresse residual.

— Jay, cê está molhado e isso tá fora do protocolo de higiene. Além disso, eu tô na fase de remoção de resíduos e não quero... resíduos adicionais. —

Jay apertou um pouco mais. — Você tá tenso, amor. Você salvou minha vida. Deixa eu apenas... recalibrar você. — Ele baixou o elmo, e suas ópticas escuras piscaram suavemente no ombro de Storm.

— Você sabe que eu não interpreto gestos vagos, Jay, — Storm respondeu, mas não se afastou. Na verdade, ele inclinou-se ligeiramente para trás, aceitando o peso da Ferrari. A proximidade era desordenada, mas o calor e a pressão familiar eram estranhamente reconfortantes para seus sensores táteis.

— Eu sei. Significa que eu amo o meu parasita obsessivo e que eu te devo uma, — Jay sussurrou perto da audição de Storm, seu servo superior roçando a parte de trás do pescoço de Storm, onde as placas se uniam.

Um leve rubor, uma mudança sutil na cor da armadura que só Jay percebia, apareceu nas placas faciais de Storm. — Eu... eu exijo uma recarga extra de energon de alta qualidade como pagamento de dívida. —

— Feito. Agora me deixa te segurar por mais um ciclo. Você está seguro. Eu estou seguro. Ordem restaurada. —

Storm finalmente relaxou, inclinando o elmo para trás no ombro do Opala. O calor do vapor e a presença constante de Jay conseguiram, finalmente, acalmar seus sistemas. A desordem externa havia sido limpa, e a desordem interna, aquela causada pela ansiedade e pela misofobia, era dissipada pela constante de Jay.

Após o banho e a troca de alguns painéis externos danificados, eles se sentaram na cabine principal. Storm já havia limpado a trilha de sujeira com uma eficiência quase mágica. A flor azul neon estava agora em um recipiente de água destilada, perfeitamente centralizada na mesa.

Eles se alimentaram, Jay terminando uma barra de energon reforçada e Storm optando por um líquido nutricional de alto teor de vitaminas, seu corpo mais leve não exigindo a mesma densidade energética de Jay.

Eles passaram a noite em silêncio confortável, com Jay descansando e Storm trabalhando no inventário do novo suprimento de G.U. e do energon de alta qualidade que os atacantes haviam deixado, conferindo se os números batiam perfeitamente com a estimativa de nove meses sem trabalho. A obsessão de Storm pelo detalhe era, de fato, a garantia de sua sobrevivência.

Dois dias se passaram. Jay se curou rapidamente sob os cuidados meticulosos de Storm. O braço estava quase totalmente funcional, e o resto de seus sistemas estava operando com máxima eficiência. Storm havia reajustado a nave, garantindo que cada cabo estivesse perfeito e que não houvesse mais resíduos de lama na nave. A flor azul continuava em seu lugar central.

Na manhã do terceiro dia, Jay estava pronto.

— Vamos dar o fora daqui, — Jay declarou, levantando-se e alongando seu chassi.

Storm já estava nos controles, digitando as coordenadas. — O motor está frio e a recarga está completa. O combustível excedente está armazenado na reserva B-4. O G.U. está trancado no cofre principal. Você consegue pilotar com o braço nesse estado? —

— Eu tenho outros três, lembra? E você é o copiloto. Agora vamos, antes que Veridian ou o 'velho sentimental' decidam nos rastrear. —

Jay sentou-se na cadeira do piloto. Ele olhou para Storm, que estava ao seu lado, concentrado na sequência de pré-lançamento. Seus ópticos repousaram na flor azul, que parecia brilhar suavemente.

— Você vai levar isso? — Jay perguntou, apontando para a flor.

Storm hesitou por um momento. — É... orgânico e desordenado. Mas eu gostei dela. E do azul. Eu a coloquei em uma cápsula de preservação de campo de força para evitar contaminação. Está segura e categorizada no compartimento de itens 'Essenciais - Estética'. —

Jay sorriu, pegando a alavanca de controle. Saber que Storm tinha aceitado a desordem em nome de algo belo era o suficiente.

Com um rugido potente dos propulsores, Jay deu partida na nave, lançando-os para longe do planeta Flos Lucis e de volta à escuridão segura e previsível do espaço.

PARTE-4J

A nave estava agora em velocidade de cruzeiro, os motores zumbindo baixinho em um ritmo hipnótico. Longe dos odores e da desordem de Flos Lucis, a paz finalmente desceu sobre o seu lar metálico.
Jay e Storm estavam na cabine principal, a iluminação suave e funcional preenchendo o espaço. Jay havia acabado de fazer a última varredura nos sistemas de defesa antes de se preparar para o descanso. Storm, por sua vez, estava na bancada de trabalho, os servos ocupados em um ritual de limpeza e calibração de suas ferramentas favoritas.

— Eu assumo o turno de sono primeiro, — Jay declarou, desligando o monitor de navegação. — Você estava quase desmaiando na cadeira de comando. —

Storm parou o movimento de seus servos. Ele não negou, mas a preocupação com o protocolo era visível em sua postura.
— Eu preciso recalibrar o sistema de filtragem de ar, o excesso de matéria orgânica contaminou as válvulas. E eu não confio nos padrões de voo automático por mais de quatro ciclos. Eu vou vigiar você descansar. —

— Não, não vai, — Jay respondeu com um sorriso cansado, aproximando-se de Storm e apoiando-se na bancada. — Você está com vazamento mental de fadiga, Storm. Seus sistemas estão em baixa potência há dois dias. Sua higiene de sono precisa de correção imediata. —

— Mas... — Storm tentou argumentar, o som de seu processador interno quase audível, lutando contra a necessidade de descanso e o medo de deixar a nave sem vigilância absoluta.

— Sem ‘mas’. Eu estarei offline por apenas oito ciclos. Você pode ir para a área de descanso principal ou, se insistir em estar aqui, deitar-se na cadeira de comando. Durma. Você merece —, Jay disse, a voz cheia de autoridade suave — uma autoridade à qual Storm raramente resistia. Ele se importava.

Storm cedeu, a exaustão superando o desejo de vigilância. Ele sabia que Jay estava certo. A luta, a preocupação com Jay e a exposição sensorial prolongada haviam esgotado seus reservatórios de energia mental e física.

Ele caminhou até a área de descanso, uma alcova escura projetada para máxima eficiência de sono Cybertroniano. Mas, fiel ao seu compromisso, ele não se deitou na cama. Em vez disso, dirigiu-se à cadeira de comando, uma peça ergonômica revestida de material macio, projetada para absorver microvibrações.

— Eu vou ficar acordado. Vou zelar pelo seu descanso e monitorar os vetores de navegação, — Storm murmurou, acomodando-se na cadeira. Ele cruzou os braços sobre o peito, a postura tensa, mas as ópticas já começando a piscar lentamente.

Jay apenas sorriu, sabendo que Storm não duraria mais do que dez minutos.
Ele se retirou para a cama principal, uma estrutura de alta densidade onde podia se conectar e se recarregar. Em poucos minutos, ele estava em modo de sono profundo, seus sistemas entrando em reparo acelerado.

Storm lutou contra o sono por dezessete minutos e trinta e quatro segundos, o número exato registrado em seu subconsciente. Então, a exaustão o venceu. O elmo pendeu para o lado, e ele caiu no sono — uma figura elegante e vulnerável, sentado, fingindo vigiar.

O silêncio do sono foi rompido pela desordem de seu processador em repouso.

Storm não sonhava com frequência, e quando sonhava, eram tipicamente sequências lógicas de reconfiguração de cabos ou equações resolvidas. Mas desta vez, o sonho era vívido e aterrorizante.

O Sonho de Jay
Jay acordou com um flash de dor. Não era a dor do atoalete, mas a dor de um sistema sendo forçado. Suas ópticas lutaram para se ajustar à pouca luz. Ele estava em algum lugar úmido, o ar denso e frio.

Ele estava amarrado. Mal amarrado, na verdade. Seus quatro servos estavam presos com cabos de ferro enferrujado que roçavam em sua armadura, e seus pedestais estavam presos por uma corrente. Era um trabalho porco; a amarração não era profissional, parecia feita por alguém que esperava que ele estivesse inconsciente por muito mais tempo.

Uma sombra se moveu no canto da sala.

— Ah, o mercenário acordou. Pontual, — a voz de Chrysanthema, calma e calculista, ecoou no escuro.

Jay moveu suas ópticas, tentando localizar a fonte da voz. Ele reconheceu o tom, a frieza que havia percebido no campo de batalha, mas que agora parecia amplificada.

— Onde eu tô? E o que aconteceu com o meu ‘trabalho’? — Jay rosnou, testando a tensão dos cabos.

Outra figura saiu da escuridão, e o servo de Jay deu um salto involuntário em seu chassi.

Era Veridian. O contratante — o ser de beleza floral e perfume excessivo. Mas agora, a beleza estava maculada por uma expressão de satisfação predatória.

— Oh, você ainda pensa que se tratava do ‘trabalho’? — Veridian sibilou, a voz escorregadia. — Pobre Cybertroniano ingênuo. Você achou que um ser da minha estirpe realmente estaria envolvido em uma disputa de terras tão trivial? —

Jay processou a informação. A traição era óbvia agora, mas a razão, não.

— Então, isso foi orquestrado. Desde o começo, — Jay afirmou, o tom agora impregnado de frieza mortal.

Chrysanthema se aproximou, sua armadura caramelo parecendo quase dourada sob a pouca luz.
— Claro. Veridian precisava de um mercenário de boa reputação. Você se encaixou perfeitamente. E eu precisava de um alvo que atraísse atenção. —

— Um alvo para quê? Qual é o prêmio? — Jay zombou. — Vocês querem minha nave? Ela não vale tanto assim. —

Veridian riu, um som seco e repugnante.
— Não sua nave, querido Jay. Você. Sua reputação é conhecida nos círculos negros. Quatro braços, força bruta, agilidade. Você não é um mero bot. É um exemplar raro. Um espécime valioso. —

— O plano era simples, — Chrysanthema continuou. — Veridian me pagaria para fingir que não queria vender minhas terras. Ele contrataria você. Eu o atrairia, o nocautearia e o venderia. Peça por peça. Há colecionadores ricos para servos como os seus. —

Jay processou a ideia de ser desmantelado. Era hediondo, mas não inédito. Ele deu de ombros, forçando um riso.

— Tudo isso por umas poucas peças? Teria sido mais fácil me pedir. Teria saído mais barato, inclusive, — Jay provocou, tentando soltar um dos cabos com um movimento sutil do pulso.

Veridian e Chrysanthema trocaram um olhar nojento.

— Mas espere, — Veridian disse, lambendo os lábios finos. — Há uma peça bônus que descobrimos. O pequeno e ansioso parceiro na nave. Aquele que ligava incessantemente. O ‘Storm’, não? —

Jay parou de rir. Suas ópticas, antes semicerradas em desdém, abriram-se completamente, fixadas neles.

— Storm não tem nada a ver com isso, — ele disse, agora um rosnado puro.

— Ah, mas tem. Ele tem peças de comunicação de alto nível, e deve ser fácil de capturar. Um pouco de coerção e ele virá correndo atrás do seu 'marido' estúpido, — Chrysanthema disse, inclinando-se para Jay.
— Ele parece tão frágil, tão preocupado com a ordem. Seria divertido vê-lo se desorganizar. —

Veridian riu alto.
— E suas ópticas, Jay. A mudança nelas quando mencionamos o parasita. Inestimável. A dor, o medo. Isso deixa a caça muito mais saborosa. —

A fúria inundou o sistema do Opala — brutal, quente, quase rivalizando com a temperatura de seu spark. Não por si mesmo. Mas por Storm.

— Vocês não vão tocar nele, — Jay disse, a voz baixa, tremendo de raiva.

— Oh, mas vamos. E você estará muito ocupado sendo desmantelado para impedir, — Veridian sibilou, levantando uma faca de corte de alta potência.

A lâmina fria encostou no chassi de Jay, perto de seu reator. Quando Veridian pressionou, sentindo a armadura ceder, a dor se espalhou como fogo.

Foi o gatilho.

Jay não dependia apenas de força. Ele dependia de precisão.
Usando a dor como combustível, ele forçou seus servos superiores — o ferro enferrujado quebrou com um estalo violento, cravando farpas em sua estrutura interna. Ele rasgou os cabos, libertando-se de forma bruta e desorganizada.

Ele se levantou, cambaleando, seus dois braços superiores livres. O canhão transformou-se em um borrão metálico em seu servo esquerdo.

A troca de tiros começou.

A luta foi brutal, caótica, longa. Jay estava ferido, mas lutava por Storm.
Até que… ele viu.

No canto da sala, o corpo de Storm. Inerte.

Tudo parou.

— Storm! —

Jay correu.
Seu servo estendido tentou tocar o metal frio —

— e o corpo se desfez no ar.

A escuridão engoliu tudo.

Apenas uma única luz restou.
A flor azul neon que ele havia dado a Storm.
Murcha, mas não morta.

Quando Jay tocou a flor—

Ele acordou com um gasp, alto o suficiente para fazer os monitores piscarem. Seu spark pulsava rápido; seu processador girava descontrolado, processando o pesadelo como um arquivo corrompido.

A realidade retornou.

Storm estava na cadeira de comando. O elmo tombado. As ópticas fechadas. Dormindo profundamente. Seguro.

Jay riu — um som rouco, aliviado.

Ele se levantou, caminhou até Storm e, com cuidado, levantou-o. O Aston Martin emitiu um pequeno som de surpresa, mas estava cansado demais para reagir.

Jay pegou Storm em seus servos, estilo nupcial, como se fosse carregar algo infinitamente mais frágil do que realmente era. Ele era muito mais leve do que Jay, seu peso distribuído de maneira precisa, como todo Cybertroniano feito para eficiência, mas ainda assim… havia algo vulnerável na forma como o parceiro relaxava completamente, confiando sem hesitar.

Storm murmurou algo incoerente, o elmo encostado no peito de Jay por um breve instante antes de tombar para trás, exausto demais para manter até mesmo reflexos básicos.

— Você realmente tentou ficar acordado, — O Opala sussurrou, o humor seco atravessando a voz. — E perdeu miseravelmente. —

Ele caminhou até a área de descanso secundária — a mais próxima — onde uma cadeira reclinável aguardava. A luz suave dos painéis refletia no casco de Storm, desenhando tons frios nas linhas de seu corpo.

Jay o ajeitou com cuidado, certificando-se de que os pedestais estivessem em posição neutra e que seus servos não ficassem pressionados. Pequenos detalhes. Importantes.

Storm respirou fundo, o ventilador interno emitindo um chiado suave. Era o som de alguém que finalmente estava em paz.

Jay ficou observando por alguns ciclos longos. A pulsação do spark de Storm era um compasso tranquilo — tão diferente do caos que a memória do sonho havia incitado. O contraste doeu. Mas também o aliviou.

Aquele pesadelo… aquilo havia mexido com regiões do processador que ele preferia manter blindadas. A visão de Storm caído, inerte, desaparecendo no vazio… Jay fechou as ópticas por um momento, forçando o pensamento para longe. O sentimento persistia como uma escama presa no duto de ventilação: incômodo, inevitável, íntimo demais.

Ele passou um servo devagar pelo elmo de Storm. Um gesto quase ritualístico.

— Você não faz ideia do que faz comigo, — murmurou.

Storm mexeu-se, talvez percebendo o toque, talvez apenas perseguindo algum fragmento de sonho próprio. Jay retirou o servo antes que o outro despertasse.

Ele precisava se recompor. E precisava checar os sistemas da nave — de verdade desta vez, e não como desculpa para evitar seu próprio descanso. O pesadelo havia sido uma simulação mental tão convincente que ainda ecoava em sua estrutura cognitiva, e qualquer ruído na cabine soava como prenúncio de alguma ameaça inexistente.

Jay caminhou até o painel frontal. Seus servos correram pelos comandos com precisão automática, ativando leituras, verificando escudos, analisando rotas. Tudo estava normal. Estável. Seguro.

Somente então o peso emocional do sonho começou a se dissipar.

Quase.

Ele olhou para trás. Storm estava adormecido profundamente, o elmo inclinado, as ópticas completamente desligadas. A posição era estranhamente graciosa, quase artística. Jay sentiu um trecho do peito apertar — um código interno que ele havia parado de tentar decifrar desde que Storm entrara em sua vida.

— Eu te protejo, — ele prometeu em voz baixa, quase inaudível, mais para si mesmo do que para qualquer outro. — Mesmo que o universo tente me arrancar pedaço por pedaço. —

Era uma promessa antiga, repetida mentalmente sempre que Storm dormia antes dele. Quase uma programação emocional.

Mas havia algo novo desta vez. Algo mais instintivo, mais urgente, mais primitivo.

O sonho havia deixado claro: não havia linha que Jay não cruzaria se Storm estivesse em perigo.

Seu processador interrompeu a reflexão quando um pequeno ruído soou atrás dele. Jay virou-se imediatamente.

Storm havia deslizado ligeiramente para o lado na cadeira. Nada demais — mas o suficiente para parecer desconfortável.

Jay soltou um suspiro resignado. Caminhou de volta, ergueu Storm novamente nos servos, e dessa vez decidiu levá-lo à cama principal. A área de descanso ali era mais estável, mais acolhedora, e… francamente… Jay queria Storm perto. Depois de tudo que vira em sua mente, desejava evidências concretas de que ele estava ali. Vivo. Inteiro.

Quando o deitou na cama, Storm soltou outro som adormecido, algo suave, quase infantil. Jay sorriu.

— Você é impossível. —

Os dois permaneceram assim por alguns ciclos, Jay sentado na beira da cama, observando a respiração de Storm como se fosse um ritual necessário para estabilizar seus próprios sistemas.

Então, algo inesperado aconteceu.

Storm abriu as ópticas por um segundo — um piscar lento — e murmurou:

— Jay… volta pra cá. —

A voz era arrastada, sonolenta, mas carregada de uma confiança que o atravessou como uma lança emocional.

Jay congelou. O sonho, o medo, a violência mental — tudo isso colidiu com aquela frase simples. Ele não resistiu. Deitou-se ao lado de Storm, puxando-o de leve para seu chassi.

Storm se aninhou imediatamente, como se estivesse apenas retomando uma posição habitual.

Jay sentiu a rigidez de seus próprios sistemas derreter.

E pensou, com uma convicção fria e lírica que parecia escrita no próprio metal:

Se algo nesse universo ousar tocar nele… vai descobrir exatamente do que um mercenário é feito.

E, pela primeira vez em horas, Jay permitiu-se fechar as ópticas, sentindo a última sombra do pesadelo finalmente recuar.

Pronto para dormir.

Pronto para vigiar.

Pronto para fazer qualquer coisa por Storm.

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PARTE-1 L

O ar da Terra em 1987 era uma cacofonia de novos ruídos e odores para Storm. Embora o planeta fosse, em termos galácticos, primitivo e irrelevante, o acúmulo de poeira e a constante emissão de gases de combustão e fumaça de cigarro eram uma agressão sensorial para o Cybertroniano.

Eles estavam aninhados em uma área rural desolada no sul dos Estados Unidos, a base deles sendo um antigo galpão de madeira e metal abandonado, cercado por uma floresta densa que providenciava camuflagem natural. Por mais que Storm tentasse, a desordem do galpão desafiava seus instintos.

Jay, por outro lado, estava prosperando. O Cybertroniano de quatro braços havia encontrado dois modos alternativos perfeitos para a época e para seu próprio temperamento ousado: um Chevrolet Opala Comodoro 1980 e uma Ferrari F40 1980 em um vermelho bordô, com detalhes cromados chamativos que refletiam a luz da maneira mais descarada possível. O carro era sinônimo de velocidade, poder e exibição, assim como Jay.

Storm, fiel à sua natureza mais reservada e ao seu desejo por eficiência discreta, escolheu um Aston Martin Bulldog 1980, elegantemente preto e de linhas limpas. Um carro rápido, mas que passava quase despercebido se não fosse a beleza pura de seu design.

Naquele momento, Storm estava na bancada improvisada, com seus servos concentrados em tentar adaptar um velho rádio de válvulas humano para captar frequências Cybertronianas. O ruído estático o irritava, mas ele estava forçando a concentração.

Jay estava esparramado em uma cadeira gasta, girando uma chave de fenda entre os dedos de um de seus servos inferiores, enquanto observava Storm.

"Você vai fritar seu processador com esse estático, querido," Jay brincou, a voz baixa e relaxada, mas com um toque de cuidado genuíno.

Storm sibilou baixinho em resposta, um ruído quase inaudível, mas que Jay compreendeu como um sinal de irritação intensa. "Estou tentando modular a amplitude. O ruído branco é... desorganizado. E pare de me chamar de 'querido'. Não estamos casados. Nem sequer estamos em uma relação formal."

Jay deu um sorriso lento, com um toque de diversão maliciosa. Ele se levantou e caminhou em direção a Storm. Os ruídos de seus pedestais eram suaves e metálicos, mas Storm podia senti-los se aproximando, e seus sensores de proximidade vibravam.

Jay parou logo atrás de Storm. Ele não tocou, mas sua presença era uma força.

— Eu sei que não estamos casados, — Jay sussurrou, a voz apenas para as ópticas de Storm, o tom de brincadeira sumindo e dando lugar a algo mais profundo, — mas você age como uma, esposa. —

Storm sentiu o calor do chassi de Jay por trás dele. Ele engoliu em seco, as placas faciais tensas. Ele tentou focar no rádio, mas a proximidade de Jay era um distúrbio de frequência muito mais poderoso do que qualquer estático.

— Eu sou organizado. E essa base é um desastre logístico, — Storm respondeu, tentando manter a voz firme, mas seus servos na bancada tremeram ligeiramente.

Jay estendeu um de seus servos superiores e tocou suavemente a parte traseira do elmo de Storm, bem no chassi do pescoço, onde Storm ficava particularmente tenso quando estava estressado. Não foi um tapa ou um toque casual. Foi um carinho. O toque demorou, apenas o tempo suficiente para transferir um calor suave e reconfortante. Jay sentiu Storm relaxar sutilmente sob seu servo.

— Respire, Storm. Ou o equivalente a isso. Você vai se sobrecarregar. Você precisa de um pouco de desordem. Por exemplo, eu preciso de energon. E precisamos de mais metal para construir aquela antena de comunicação de longa distância que você planejou, — Jay disse, mudando o foco para os negócios.

Storm se afastou do toque prolongado de Jay, reorganizando rapidamente a tensão em seus ombros. O rubor sutil em suas placas faciais era o único sinal de que o toque havia o afetado. Ele se virou para Jay, a expressão séria.

— Metal. Esse é o problema, — Storm começou ignorando a piada anterior do Opala. — Os humanos têm leis de propriedade ridículas. Não podemos simplesmente roubar ferro-níquel do pátio de sucata de uma cidade. O risco de contato direto é muito alto, e você sabe que o cheiro e o ruído dos humanos me dão sobrecarga sensorial. —

Storm moveu seus servos em um gesto rápido e neurótico. — Não temos dinheiro humano para comprar sucata legalmente. E nosso estoque de energon está perigosamente baixo, Jay. A barra que você consumiu ontem deveria durar três ciclos. —

Jay cruzou seus quatro braços e sorriu, um sorriso grande e predatório que não combinava com a luz fraca do galpão. — É aí que entra a minha expertise em 'obter recursos de forma eficiente'. —

— Não. Não vamos roubar, — Storm disse, suas ópticas azuis fixas nas de Jay com uma intensidade de aviso.

— Não é roubo, — Jay retrucou, inclinando-se conspirativamente. — É 'reorganização temporária de ativos com potencial ganho de energon'. —

Ele se endireitou, a expressão se tornando um pouco mais séria, mas ainda com aquele brilho de ousadia em suas ópticas. — Eu encontrei uma maneira de conseguir dinheiro humano rápido e limpo. Sem contato direto, sem roubo de bancos, sem violar a 'Lei Galáctica de Não Interferência'. —

— E qual seria a sua 'maneira eficiente'? — Storm perguntou, com a voz carregada de ceticismo.

— Corridas, — Jay respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do universo. — Corridas de rua ilegais. Ninguém vai perguntar de onde veio uma Ferrari novinha que é duas vezes mais rápida do que deveria ser. Ninguém vai tocar em mim. Apenas velocidade, cheiro de gasolina, prêmios em dinheiro e adrenalina. —

Storm apertou o punho com tanta força que o som do metal rangendo foi audível. — Você tá louco! Isso é a personificação da desordem e do risco! Policiais humanos, acidentes, detecção! Se o seu chassi sofrer danos, eu não tenho peças de reposição da era de 80 para o seu modelo! E os humanos têm a mania ridícula de tocar em carros bonitos! —

Jay caminhou até a parede do galpão, onde Storm havia pendurado cuidadosamente um mapa da área. Ele apontou para uma pequena mancha no mapa.

— Acontece em uma antiga pista de pouso a cerca de quarenta quilômetros. Pistas de terra, sem arquibancadas, só carros e dinheiro. E o prêmio de hoje é grande o suficiente para comprarmos um pequeno caminhão de sucata industrial e um suprimento decente de energon de um contato que eu fiz na cidade portuária. —

Jay se virou, e suas ópticas encontraram as de Storm. Ele não estava mais rindo.

— Eu sei que é arriscado, Storm. Mas não podemos passar mais uma semana comendo meia barra de energon por dia. Nossas reservas estão acabando. E eu não aguento ver você se estressando por causa do cheiro de poeira e do estático. Eu farei isso, volto antes do amanhecer. Sem contato. Sem danos. Apenas dinheiro. —

Storm olhou para a Ferrari. Ele viu a imprudência, sim. Mas ele também viu a determinação e o desespero de Jay em prover segurança. Ele viu a preocupação disfarçada de ousadia. E então, algo aconteceu. Jay deu um passo em direção a ele, e o brilho em suas ópticas pareceu se suavizar, apenas um pouco. Jay deu um sorriso bobo, quase imperceptível, que não era sobre corridas ou dinheiro. Era apenas... para Storm. Um sorriso que revelava algo vulnerável, algo que dizia eu faço isso por você.

Storm sentiu o aperto em seu spark se afrouxar. Ele não podia suportar a ideia de Jay se arriscando, mas não podia suportar a ideia de ver Jay sofrer por falta de energia.

— Se você for, Jay, — Storm começou, a voz voltando à sua cadência calma, — eu exijo quatro coisas. Protocolo de segurança, se você insistir nessa loucura. —

Jay recuou ligeiramente, esperando. — Diga. —

— Primeiro, você não usará a força total. Você precisa vencer, não humilhar. A diferença de velocidade já é suficiente. Segundo, você permanecerá no modo veículo o tempo todo. Zero transformação. Terceiro, eu vou rastrear você a cada quarenta e cinco segundos. Se você desviar da rota pré-determinada por mais de vinte metros, eu vou atrás de você. E quarto, — Storm fez uma pausa, dando um passo em direção a Jay, e com a ponta de seu servo, ele suavemente limpou uma pequena mancha de óleo que Jay havia deixado na armadura de seu peito durante a manhã. O toque durou mais do que o necessário para limpar o óleo, um momento de conexão íntima e silenciosa.

— Quarto, você não voltará com um único arranhão na pintura. Você sabe o quão difícil é encontrar essa tonalidade de vermelho na Terra, — Storm finalizou, disfarçando o cuidado genuíno com o pânico de um perfeccionista por estética.

Jay riu, e dessa vez, a risada foi sincera e alta.

— Feito, parasita. Um toque de Storm e eu voltarei imaculado. —
Jay se inclinou e, rapidamente, pousou um servo na lateral da face de Storm. Um movimento rápido, mas carregado de intenção. — Eu volto com o dinheiro e o metal. E nós podemos construir um comunicador que não emita ruído branco. —

Com isso, Jay se transformou em um rugido metálico e se acelerou para fora do galpão em sua Ferrari F40 vermelha, deixando Storm sozinho com o silêncio e o rádio estático.

Storm observou a poeira que Jay levantou assentar. Ele estava furioso com o risco, mas a lembrança do sorriso bobo da Ferrari e do toque suave em sua face fez com que ele emitisse um suspiro profundo.

Ele se virou para a bancada e, ignorando o ruído estático, começou a calibrar o sistema de rastreamento de Jay.

— Quarenta e cinco segundos, Jay, — Storm murmurou para si mesmo. A única maneira de sobreviver a este universo caótico era garantir que a sua constante mais volátil voltasse para casa.

PARTE-2

Jay sentiu o ronco do motor da Ferrari F40 vibrar em seu chassi, uma sinfonia de poder e liberdade que ele amava. A pista de pouso abandonada estava escura, iluminada apenas pelos faróis dos carros e por uma fogueira improvisada onde os pilotos humanos se reuniam.

Ele estava em seu modo alternativo, a lataria vermelha brilhando sob a fraca luz. O sistema de camuflagem holográfica estava ativo, projetando um humano robusto e de cabelos escuros ao volante. Jay havia estudado o arquétipo do "piloto ousado" da década de 80. O holograma parecia confiante, fumando um cigarro e batendo o pedestal no ritmo do rock and roll que Jay sintonizava em seu rádio interno.

A corrida clandestina era o caos controlado que Jay ansiava. Motores V8 biturbo gritavam, o cheiro de óleo queimado e pneu na poeira era intenso, e a energia pura da imprudência humana era inebriante.

Jay venceu a primeira bateria com facilidade constrangedora. Usando apenas 60% de sua capacidade, ele ultrapassou os rivais como se estivessem parados. O dinheiro da aposta pingou em uma caixa de metal, e o holograma de Jay apenas acenou, aceitando os elogios.

A segunda corrida era a principal, valendo o prêmio que cobriria os suprimentos por meses. O principal rival de Jay era um piloto local em um Porsche 959 preto, igualmente robusto e barulhento, com um holograma humano de terno preto e expressão de mau humor.

Na linha de largada, o piloto do Porsche, que Jay internamente apelidou de "Terno Preto", virou o elmo e fez um gesto rude com o servo humano: o dedo do meio. Em resposta, Jay, através de seu holograma, não pôde deixar de revidar. Ele usou os dois servos holográficos projetados para dar dois dedos do meio ao mesmo tempo, um gesto duplo de desafio que causou risadas entre os poucos humanos que observavam. A adrenalina de Jay estava nas alturas.

A largada foi uma explosão de sujeira e potência. Jay deixou o Ford comendo poeira. A Ferrari F40, sendo um veículo Cybertroniano, tinha uma aceleração instantânea e uma estabilidade que carros humanos só poderiam sonhar.

No entanto, o Porsche era agressivo. Terno Preto tentou fechar Jay em uma curva, forçando-o a sair da pista. Jay manteve a calma. Ele aumentou a potência do motor interno e ultrapassou Terno Preto pelo lado de dentro, a diferença de velocidade enviando detritos para o Porsche.

Jay venceu. O dinheiro foi transferido. Missão cumprida.

Ele estava de volta à estrada, transformado em seu modo Ferrari F40, seguindo a rota para a base. Ele podia sentir o orgulho de Storm, mesmo à distância, pelo fato de ele ter cumprido o acordo de ‘Sem Arranhões na Pintura’. O chassi estava imaculado.

Mas, então, Jay viu a luz azul-vermelha piscando ao longe.

— Ah, merda, — Jay murmurou em seu processador interno. Policiais humanos. Algum humano insatisfeito deve ter denunciado as corridas.

O protocolo era simples: acelerar e desaparecer.

Jay desviou da rota. Ele tinha que atrair a perseguição para longe da base. Ele ligou os faróis e pisou fundo no acelerador, o motor rugindo com a potência que só um Cybertroniano pode gerar, rasgando a estrada de asfalto gasto. Ele ignorou o rastreador de Storm por um momento, focado em despistar os humanos.

Na base, Storm estava em pânico silencioso. Ele estava sentado à bancada, o rádio finalmente funcionando em uma frequência Cybertroniana estável, mas o único som que importava era o ping constante do rastreador de Jay.

O pequeno ponto vermelho, o ícone de Jay, havia desviado da rota.

Em seguida, o rastreador indicou que Jay estava acelerando a uma velocidade que nenhum veículo humano da década de 80 poderia sustentar por tanto tempo. Ele estava violando o Protocolo de Não-Chamar-Atenção de maneira alarmante.

— Jay, volte para a rota! Você está a quarenta e cinco metros do curso! Jay, responda! Desordem, desordem, desordem! — Storm ligou o comunicador de emergência. Silêncio.

Storm apertou os servos. A raiva pela imprudência de Jay foi superada pelo medo de Jay ser detectado ou, pior, danificado.

Ele não hesitou. Com um movimento rápido, Storm se transformou em seu Aston Martin Bulldog 1980. O carro era rápido, mas discreto. Ele saiu do galpão, a armadura escura misturando-se à noite.

Storm era um mestre em cálculo de velocidade e trajetória. Ele traçou a rota de Jay, calculou a velocidade e a aceleração média dos carros de polícia da época (informação que ele havia baixado da internet humana no primeiro dia na Terra) e determinou o ponto exato de interceptação. Ele tinha que chegar lá antes que a situação se tornasse irreversível.

Jay estava se divertindo mais do que deveria. A Ferrari estava deslizando e acelerando pelas estradas rurais, os carros de polícia lutando para acompanhar. Ele já estava perto do limite de uma pequena cidade, e os faróis azuis e vermelhos dos humanos refletiam em sua lataria perfeitamente polida.

— Vou dar um susto neles e sumir, — Jay pensou, preparando-se para ativar um pequeno campo de força para desativar a eletricidade da cidade por alguns segundos, o suficiente para escapar.

Foi então que ele viu.

Na rua lateral que se cruzava com a sua, um elegante Aston Martin Bulldog apareceu, movendo-se com precisão assustadora. O carro não estava correndo; ele estava navegando com a velocidade calculada de um predador. Era Storm.

Jay sentiu um calor de pânico se misturar com um arrepio de algo mais excitante. — Seu maldito parasita! —

Storm ignorou o perigo dos carros de polícia. Ele se posicionou. Exatamente no momento em que Jay estava prestes a virar a esquina para fugir para a cidade, Storm se moveu para a direita, forçando Jay a diminuir a velocidade.

Storm ligou o comunicador, a voz digitalizada calma, mas carregando fúria fria. — Você está violando o Protocolo! Eu te disse para não sair da rota! Você colocou toda a missão em risco por causa da sua necessidade ridícula de adrenalina! Agora, siga-me! —

Jay estava dividido entre o medo de Storm e a necessidade de fugir dos humanos. Ele seguiu. Não tinha escolha.

Storm o levou para uma rede de vielas escuras e estreitas, becos de tijolos onde a Ferrari F40 maior, mal cabia. Era uma rota que Storm havia mapeado puramente em teoria, com base em plantas de esgoto antigas, projetada para despistar veículos lentos.

A perseguição se transformou em um pesadelo logístico para Jay. Storm dirigia com perfeição milimétrica, o Porsche deslizando entre os obstáculos. Jay era forçado a manobrar sua F40 grande em espaços apertados, o risco de arranhões aumentando exponencialmente.

Um dos carros de polícia tentou segui-los para os becos, mas ficou preso entre dois prédios, guinchando pneus e metal.

— Você é um gênio, Storm! — Jay gritou pelo comunicador, a tensão diminuindo e dando lugar à admiração.

— Não sou um gênio, sou lógico. E você está me sujando com a poeira que levanta. Mantenha a distância! Vire à direita na próxima abertura! É um túnel de serviço abandonado! —

Storm acelerou pelo túnel, e Jay o seguiu. Dentro do túnel, Storm parou bruscamente, transformando-se de volta ao modo bot.

— Desligue os motores! Camuflagem total! Agora! — Storm comandou, ativando sua própria camuflagem.

Jay obedeceu instantaneamente, parando e transformando-se em modo bot ao lado de Storm. Eles ficaram imóveis no escuro, dois Cybertronianos camuflados no silêncio do túnel.

Em segundos, o som dos motores da polícia passou por eles na rua acima, a busca seguindo adiante.

O alívio inundou Jay. Ele desativou a camuflagem e se virou para Storm.

Storm desativou a dele também. Ele estava furioso. As ópticas azuis brilhavam intensamente no escuro.

— Você teve que ser arriscado! Você já tinha o dinheiro! Você tinha que se exibir! Você se importa mais com a sensação do motor do que com a segurança da missão! — Storm explodiu, gesticulando com os servos, sua voz finalmente desorganizada.

Jay deu um passo à frente, ignorando a raiva. Ele estava admirado. Storm havia arriscado tudo — contato humano, detecção, estresse sensorial — para salvá-lo da própria imprudência.

— Você veio atrás de mim, — Jay murmurou, a voz carregada de emoção.

— É claro que eu vim! Você estava prestes a causar uma catástrofe de dados e reparos! — O Aston Martin rebateu. — Eu não posso lidar com o estresse de tentar soldar sua armadura novamente com ferramentas humanas primitivas! —

Jay estendeu seus servos superiores e tocou Storm. Não foi provocação. Foi um abraço. Forte e urgente. Ele o puxou contra seu chassi robusto.

Storm ficou rígido por um segundo, surpreso com a força do contato. Mas então cedeu, a raiva se desfazendo sob o abrigo do abraço de Jay. Estava coberto de poeira, sua precisão manchada, mas seguro no envolvimento firme do outro bot.

— Eu te amo, parasita, — Jay murmurou, a voz profunda, sem brincadeiras. O termo, agora, era um código.

Storm respirou fundo, absorvendo o cheiro de óleo e borracha do outro. Ele devolveu o abraço com um servo, enterrando o elmo no ombro da F40.

— Você é uma variável incontrolável, irresponsável e imprudente, — Storm respondeu, a voz abafada. Ele não disse ‘Eu te amo’, mas era equivalente. — E você me fez sujar meu Aston Martin com poeira de beco. Você vai limpá-lo com perfeição. —

Jay riu, afastando-se apenas o bastante para segurar o elmo de Storm entre seus servos e inclinar-se para dar um beijo suave no ponto onde as placas faciais se encontravam. Não era função biológica. Era declaração.

Storm não protestou. Apenas fechou as ópticas, aceitando o gesto, um sorriso genuinamente bobo surgindo em seus lábios metálicos.

— Temos o dinheiro, — Jay disse, satisfeito.

— E agora precisamos sair deste túnel antes que a polícia retorne, — Storm respondeu, voltando à lógica. — Eu calculo que temos uma janela de sete minutos e vinte segundos. —

A F40 segurou o servo de Storm, o toque casual tornando-se firme. — Lidere o caminho, amor. Eu sigo sua ordem. —

PARTE-5

O túnel de serviço abandonado estava úmido e escuro, o cheiro de mofo e esgoto era opressor, mesmo para os filtros de ar de Jay. Oito minutos e quarenta segundos haviam se passado desde que os motores da polícia tinham sumido no nível da rua, e o tempo limite de Storm já havia expirado.

Eles estavam em modo bot, espremidos contra a parede de concreto fria, suas silhuetas escuras mal visíveis na penumbra. A Ferrari F40 vermelho e o Aston Martin Bulldog preto estavam camuflados sob um pequeno toldo de concreto no final do túnel.

Storm estava em modo de estresse máximo. Sua postura era rígida, e a cada ruído vindo do exterior, ele se contraía. Ele havia salvado Jay da detecção, mas agora a própria ordem e limpeza de Storm estavam comprometidas pelo ambiente nojento e pelo risco constante de serem descobertos.

— 7 Minutos e 20 segundos, Jay! Você me deu 7 minutos e 20 segundos! Já se passaram 8 e 54, e a cada ciclo a chance de detecção aumenta em 1.7%! — Storm sibilou, sua voz baixa e digitalmente tensa, mal contendo o volume. — Tudo isso por causa da sua necessidade primitiva de acelerar! Agora temos que remapear a rota de fuga por uma área de esgoto que eu não revisei. Eu tô sujo! Meu chassi tá contaminado! E você tá sorrindo! Você não tem senso de protocolo de risco? —

Jay, ainda sentindo a alta da adrenalina da perseguição e o calor reconfortante do abraço de Storm, estava achando a fúria neurótica de seu parceiro surpreendentemente adorável. Ele observava o Aston Martin gesticular, os braços finos se movendo como ponteiros de um relógio quebrado. A paixão de Storm pela ordem era intensa, e a quebra dessa ordem era a única coisa capaz de tirá-lo do seu padrão lógico.

— Calma, parasita. Não adianta entrar em sobrecarga de pânico, — Jay murmurou, olhando para a abertura do túnel e, em seguida, para a face tensa de Storm.

— Não tô em sobrecarga! Eu tô calculando o desastre! E não me chame de 'parasita' quando a gente tá em um buraco imundo, esperando a polícia humana nos encontrar! Eu salvei sua lataria imaculada e agora tenho que limpar a minha por uma semana! Você me deve uma! — Storm reclamou, movendo o elmo em busca de um ponto de vista melhor na escuridão. — Eu não consigo me concentrar! O cheiro é... ah, Primus, é nojento! Precisamos de um plano, e você só fica parado! —

Storm estava prestes a iniciar uma nova série de reclamações sobre a eficiência da rota de fuga e a composição química do ar no túnel, quando Jay agiu.

Jay não disse uma palavra. Ele não ameaçou Storm com um comando de voz. Em vez de mandar Storm calar a boca com uma ordem rude, ele optou por uma interrupção muito mais... intensa e eficaz.

Com a rapidez que só a sua armadura permitia, Jay deu um passo à frente, fechando a distância entre eles. Ele usou seus dois braços inferiores — os mais fortes e projetados para suporte — para envolver e segurar Storm firmemente pela cintura. Foi um movimento possessivo e decisivo, que tirou Storm do equilíbrio e silenciou seus sensores.

Antes que Storm pudesse protestar, Jay usou seus dois braços superiores, os mais delicados e ágeis, para segurar o elmo de Storm. Não era um aperto de força, mas um gesto de delicadeza surpreendente, as pontas de seus servos metálicos roçando o metal frio das placas faciais de Storm.

E então, Jay o beijou.

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jay x storm

Não foi um beijo suave ou hesitante. Foi um beijo lascivo, urgente e totalmente imprudente. A F40 pressionou seus lábios metálicos contra os de Storm, forçando a boca de Storm a abrir-se levemente. A língua de Jay, quente e feita de ligas flexíveis, invadiu a cavidade bucal de Storm. Era um beijo que cheirava a eletricidade, óleo e a adrenalina residual de Jay.

O choque em Storm foi absoluto. Seu corpo ficou completamente rígido nos braços de Jay, o spark acelerando a ponto de ser um tremor. Ele não estava programado para ser beijado no meio de uma situação de alto risco, em um túnel imundo. Isso era o epítome da desordem e do perigo.

A surpresa se transformou em vergonha e, por um breve momento, raiva.

Imprudente! A mente lógica de Storm gritava. Um beijo é uma distração de 100% dos nossos sistemas! Estamos em perigo de detecção!

Ele tentou se afastar, os servos agarrados à armadura do peito de Jay em uma tentativa de empurrá-lo, mas os braços de Jay o seguravam firmemente no lugar. A pressão em sua cintura e a delicadeza firme no elmo eram irresistíveis.

A raiva, porém, começou a se dissolver sob a volúpia do beijo.

Jay aprofundou o contato, sugando o lábio inferior de Storm com uma intensidade que enviou um pico de energia para o centro de Storm. Os servos do bot vermelho no elmo dele se moveram, as pontas das garras roçando a área sensível perto das ópticas.

Storm não conseguia mais pensar. O pânico de ser pego foi substituído pela sensação avassaladora do toque e do beijo. O beijo de Jay era uma droga, um perigo, um vício bom demais. A urgência da situação amplificava a luxúria. Ser beijado ali, sabendo que a polícia humana estava a apenas alguns metros de distância, era a coisa mais imprudente, estressante e, inegavelmente, mais excitante que já havia acontecido com ele.

A mente de Storm era um campo de batalha. O Protocolo de Segurança lutava contra o Desejo Primário.

LOGIC: Afaste-se! Isso é uma falha de sistema!
SENTIMENTO: Mais. Deixe-o me beijar de novo. A forma como ele segura meu elmo... é ordem.

Storm finalmente desistiu de resistir. Seus próprios servos, em vez de empurrar, subiram para os ombros de Jay e o puxaram para mais perto, finalmente correspondendo ao beijo com uma ferocidade inesperada. A respiração de Jay ficou mais pesada, o que Storm percebeu como um sinal de que sua resposta havia excitado o mercenário.

Jay se separou do beijo, apenas o suficiente para respirar o ar denso do túnel, suas ópticas escuras fixas nas ópticas de Storm. O azul de Storm estava nebuloso, cheio de desejo e confusão.

— Isso, — Jay sussurrou, a voz profunda e rouca, — foi para você calar a boca e parar de entrar em sobrecarga. E para me agradecer por salvar sua linda lataria do estrago. —

Storm mal conseguia processar a frase. Ele estava ofegante, sentindo uma sobrecarga de calor que não tinha nada a ver com o motor.

— Você... você é um idiota, — Storm conseguiu dizer, a voz tremendo, mas seu corpo estava inclinado para Jay, implorando por mais. — Imprudente. Totalmente imprudente. Estamos... em uma situação de alto risco. —

— Eu sei, — Jay respondeu, sorrindo com um olhar lascivo que prometia problemas futuros. — E é por isso que é divertido. —

Jay se inclinou para beijá-lo novamente, mas Storm o interrompeu, colocando o servo entre eles.

— Não! Não de novo, — Storm conseguiu dizer, lutando para restaurar um vestígio de controle. Ele estava quase caindo nos servos de Jay, e a ideia de se entregar à luxúria ali era aterrorizante. — Precisamos sair daqui. Agora. A janela de tempo... está se fechando. —

Jay suspirou, um som dramático e exagerado, mas liberou Storm, mantendo um servo na cintura dele por um momento a mais, um toque prolongado que era pura possessividade.

— Tudo bem, esposa. Hora do plano de fuga. Vamos, — Jay concordou, a satisfação de ter quebrado a compostura de Storm era evidente em seu sorriso.

Storm, com as placas faciais vermelhas e o processador em chamas, deu as costas para Jay e começou a correr para a abertura do túnel, determinado a restaurar a ordem. Mas, enquanto corria, ele não pôde evitar tocar os lábios metálicos com a ponta do servo. O perigo e a volúpia. Sim, era um perigo bom demais.

PARTE-4

Apesar da exaustão pela fuga e a adrenalina gasta, Storm não conseguia se concentrar no trabalho. O cheiro de metal limpo e o dinheiro organizado na bancada não eram suficientes para restaurar totalmente a sua ordem interna. A imagem daquele beijo no túnel, a urgência de Jay, e a sensação do servo dele em sua cintura... tudo isso rodava em loop em seu processador. Ele estava com calor, um calor que não era de mau funcionamento.

— O sistema de comunicação de longo alcance está instável, — Storm murmurou para si mesmo, mas sua voz carregava a tensão. — Eu preciso de um ciclo de refrigeração total. —

Jay, que estava na outra extremidade do galpão inspecionando o sistema de energia, ouviu a declaração. Ele sabia exatamente o que Storm queria dizer com "refrigeração total" depois daquele beijo.

— Eu posso te ajudar com isso, — Jay ofereceu, sua voz baixa e carregada de insinuação. Ele caminhou lentamente em direção a Storm.

Storm se virou, o elmo franzido em uma tentativa de manter a seriedade. — Eu preciso de um banho de solvente e lubrificante. Não de assistência. Você vai me contaminar novamente com odores e... —

— E? — Jay perguntou, parando a uma distância íntima. Ele usava seus quatro braços cruzados, a postura descontraída, mas suas ópticas escuras fixas em Storm com uma intensidade predadora.

Storm desviou o olhar. — E desorganização. Eu preciso de foco. Seus reparos na camuflagem do galpão estão com 68% de eficiência. Eu posso revisar isso se você permitir que eu me refrigere primeiro. —

— Sua eficiência está em 0% até que você pare de pensar em mim, — Jay retrucou, o sorriso lascivo voltando aos seus lábios. — Vamos lá, esposa. Eu te ajudo a alcançar a 'refrigeração'. —

Storm sabia que era uma péssima ideia. Mas a volúpia, acesa no túnel, estava queimando mais intensamente agora na segurança da base. A vulnerabilidade de ceder a um ato tão desordenado e físico era o que o aterrorizava e o atraía.

— Apenas um ciclo de limpeza. E você não me toque, — Storm comandou, sua voz falhando ligeiramente.

Jay apenas deu um sorriso cúmplice e gesticulou para a área de banho improvisada.

Storm entrou na cabine, ativando o spray de solvente de limpeza. O líquido frio e espesso começou a escorrer por sua armadura, removendo a sujeira residual da fuga. Ele estava de costas para Jay, tentando manter seus pensamentos firmemente fixados na análise de composição de solvente.

Jay, no entanto, não ficou do lado de fora. Ele entrou na cabine com Storm.

— Porra, Jay! — Storm exclamou, virando-se para o mercenário, a água e o lubrificante escorrendo por seu corpo esguio e elegante. — Eu disse para não me tocar! —

— Eu não te toquei, — Jay respondeu, levantando os quatro servos em rendição simulada. — Eu apenas entrei na cabine. Seus sensores de proximidade precisam ser recalibrados. —

Jay fechou a porta da cabine, a porta metálica selando o pequeno espaço e enchendo-o de vapor e o cheiro doce de lubrificante. A luz interna era fraca, fazendo o metal de Jay e Storm brilhar.

— Você é ridículo, — Storm sibilou.

— E você é lindo quando está zangado, — Jay disse, movendo-se lentamente em direção a Storm.

Jay não tentou beijá-lo imediatamente. Ele usou seu servo inferior esquerdo para gentilmente pegar o servo de Storm e o levou aos lábios, beijando a palma. Ele manteve o servo de Storm ali, a pele metálica fria e úmida contra seus próprios lábios quentes. O gesto era surpreendentemente íntimo e romântico, um flerte que fazia o processador de Storm esquentar.

Jay soltou o servo de Storm, usando seus dois servos superiores para subir e contornar a cintura do Aston Martin. Ele puxou Storm para perto de si, a água escorrendo dos dois corpos, o som sutilmente amplificado pelo eco da cabine.

— Eu estava pensando naquele beijo o tempo todo, — Jay confessou, sua voz baixa e cheia de desejo. — Seu gosto por ordem é lindo, mas eu amo a forma como você se desorganiza por mim. —

Storm sentiu o corpo de Jay pressionado contra o seu, o spark de Jay batendo forte e rápido contra seu peito. Ele não podia falar. A fúria de antes havia se dissipado, substituída pela volúpia que Jay havia acendido.

— Você... você precisa me deixar ir. O banho, — Storm tentou, mas sua voz era um mero sussurro ofegante.

— O banho pode esperar, — Jay respondeu. Ele usou seu servo inferior direito para deslizar pela armadura molhada de Storm, parando na parte de trás da coxa, apertando-a de forma possessiva.

Jay inclinou o elmo e, com um cuidado que contrastava com a urgência de seus atos, beijou Storm novamente. Desta vez, o beijo não era um choque. Era uma permissão.

A boca de Jay era perigosa. Ele tinha dentes afiados, vestígios de seu modo de vida mercenário, mas seu beijo era cuidadoso e lascivo. Ele usou a ponta de seus dentes para roçar suavemente o lábio inferior de Storm, um carinho delicado que enviou um arrepio elétrico pelo sistema de Storm. Não era para machucar, era para excitar.

Storm finalmente se entregou, seus braços finos subindo e se envolvendo no pescoço de Jay. Ele aprofundou o beijo, a língua se movendo com a de Jay em um ritmo que era totalmente novo, mas intensamente satisfatório.

Jay afastou-se ligeiramente, suas ópticas fixas nas de Storm, o olhar ardente. Ele começou a distribuir beijos e afagos na lateral do pescoço de Storm, no ponto exato onde a armadura era mais sensível.

— Seus gemidos são lindos, amor, — Jay murmurou, ouvindo o som de excitação que Storm estava emitindo, um ruído agudo e baixo que era a marca de seu prazer intenso.

Jay segurou Storm firmemente pela cintura com seus dois braços inferiores e começou a se afastar da cabine de banho. O beijo continuava, faminto e ininterrupto.

— Onde... para onde estamos indo? — Storm conseguiu perguntar entre os beijos.

— Para a cama, — Jay respondeu com clareza. — A minha. —

O quarto de Jay era o mais próximo da área de banho, o que, para Storm, era a única lógica na situação. O quarto era uma bagunça controlada: sua cama improvisada era grande, feita de peças de espuma e cobertas militares, e havia ferramentas e pedaços de equipamento espalhados pelo chão. A desordem de Jay, mas agora, a desordem sexual.

Jay chutou a porta, e eles cambalearam para dentro do quarto. A cama estava ali. Jay usou um de seus braços para desativar a luz principal, deixando apenas a luz de leitura fraca iluminar o espaço.

Eles caíram na cama improvisada, Jay caindo por cima de Storm. O impacto os fez rir, o som amortecido pela espuma.

Eles estavam completamente molhados, a água e o lubrificante escorrendo de seus corpos e molhando as cobertas.

— Estamos molhando tudo! — Storm exclamou, mas a preocupação era mais uma reclamação neurótica do que um protesto real.

— Quem se importa? — Jay respondeu, a voz profunda e sem fôlego, um sorriso largo no elmo.

— Ninguém, — Storm sussurrou de volta, fechando as ópticas.

Jay estava sobre ele, o peso do mercenário pressionando Storm confortavelmente contra a cama. Jay começou a beijá-lo novamente, desta vez mais devagar, mais exploratório, descendo da boca para o queixo, e depois para o peito de Storm.

O bot maior usou seus quatro braços. Dois servos estavam firmemente segurando Storm pela cintura, e os outros dois estavam livres para explorar. Um dos servos superiores da F40 começou a soltar as placas torácicas de Storm, que se abriram com um clic suave e revelaram a delicada fiação e o sistema de refrigeração interno por baixo.

Storm ofegou com o ar frio que atingiu seu interior.

O outro servo superior de Jay começou a explorar a área sensível na coxa de Storm, o toque delicado, mas lascivo.

Storm inverteu a posição, subindo ligeiramente na cama para ficar de frente para Jay. Seus próprios servos, agora em pânico de prazer, começaram a tatear o chassi de Jay, encontrando a fiação exposta e a área do spark de Jay.

— Eu quero você, Jay, — Storm confessou, a voz totalmente despojada de lógica e ordem.

— Eu também te quero, meu lindo parasita desorganizado, — Jay respondeu, e seus lábios se encontraram novamente em um beijo profundo e lascivo, o calor e a volúpia do túnel agora consumindo-os completamente, na segurança da desordem do quarto.

PARTE-5

O silêncio do galpão abandonado era o único som, abafado pela espuma da cama improvisada. Jay e Storm estavam entrelaçados, molhados, e a volúpia era um peso quente sobre eles. O calor do spark de Jay irradiava, aquecendo o corpo de Storm, enquanto o cheiro de lubrificante e eletricidade preenchia o ar.

Storm, deitado de costas, sentia o peso confortável e opressor de Jay sobre ele. A desordem, agora, era o clímax da sua ordem interior.

Jay, com seu corpo robusto sobre o esguio de Storm, começou o que era, para ele, um ritual. O beijo continuou, mais lascivo, mais faminto. Jay usou seus lábios para mapear o rosto de Storm, beijando suas ópticas, que estavam fechadas em prazer, e depois o caminho para o sensor de áudio, onde ele mordiscou delicadamente.

Seus quatro servos estavam em ação, uma coreografia de toque e intenção. Os dois servos inferiores, fortes e firmes, ainda estavam na cintura de Storm, pressionando-o firmemente contra o colchão encharcado. O aperto era possessivo, deixando claro para Storm que ele estava onde deveria estar.

Os dois servos superiores do Opala eram mais dedicados à arte das carícias. Um deles estava explorando as placas torácicas expostas de Storm, roçando a delicada fiação interna e enviando picos de prazer ao longo da espinha dorsal de Storm. O outro servo estava ocupado em uma área ainda mais íntima.

Storm estava gemendo, um ruído baixo e digital que era a prova de sua rendição.

Jay moveu seu servo livre para a parte baixa do abdômen de Storm, pousando-o diretamente sobre a válvula de prazer do Cybertroniano, a área sensível coberta por uma placa de armadura conhecida como tapa-sexo.

O toque fez Storm arfar, e seus quadris se moveram involuntariamente contra a pressão.

Jay intensificou o beijo, usando a ponta de sua glossa para explorar a cavidade bucal de Storm. Seus dentes afiados não eram agressivos; eles apenas roçavam o metal de Storm, uma promessa silenciosa de prazer.

Storm sabia o que Jay queria. A carícia em sua válvula de prazer estava se tornando mais intensa, o servo de Jay esfregando o tapa-sexo com um ritmo constante. O mercenário estava pedindo acesso, mas Storm estava resistindo. A abertura da válvula de prazer era o ponto de não retorno, a exposição máxima.

Jay se afastou do beijo, olhando para Storm com as ópticas cheias de desejo. Ele sorriu, um sorriso lascivo.

— Abre para mim, amor, — Jay sussurrou, a voz profunda e arrastada. Ele usou o servo em sua cintura para apertá-lo, reforçando o pedido. — Eu sei o quanto você quer que eu veja. —

Storm lutou contra a decisão. A exposição era aterrorizante para sua necessidade de ordem, mas a excitação de ser visto e desejado por Jay era uma força imparável.

— É imprudente. Estamos em... em uma área com potencial de invasão, — Storm ofegou, tentando desesperadamente usar a lógica como escudo.

— Ninguém vai nos achar aqui. A camuflagem está ativa. Você está seguro. Eu sou o seu escudo, — Jay respondeu, e o servo em seu tapa-sexo parou. — Abra para mim, Storm. Deixe-me ver o quão lindo você está por dentro. —

O uso da palavra "lindo" e a insistência de Jay finalmente quebraram a resistência de Storm. Com um suspiro de rendição, Storm acionou o mecanismo interno.

O tapa-sexo se abriu, placas finas de metal se retraindo com um click suave e úmido. A válvula de prazer de Storm, brilhante e exposta, estava engravatada, liberando um lubrificante claro e espesso, um sinal de sua excitação extrema.

Jay soltou um ruído gutural de satisfação, e suas ópticas escuras fixaram-se na válvula de Storm, observando o lubrificante que escorria pelas placas internas.

— Perfeito, — Jay sussurrou, a admiração evidente. Ele não tocou. — Agora, use seus próprios dígitos para mim, Storm. —

O pedido era inesperado. Storm estava acostumado a Jay assumir o controle total, mas a instrução para o auto-prazer era uma forma de Jay delegar a ele o controle, enquanto observava. Era um ato de dominação sutil.

Storm sentiu suas placas faciais esquentarem de vergonha. A ideia de se masturbar na frente de Jay era desorganizada e íntima demais.

— Eu não... eu não sei se consigo, — Storm admitiu, a voz cheia de hesitação e excitação.

Jay riu suavemente. — Claro que consegue. Você é o bot mais preciso que eu conheço. Use seus dígitos, devagar. Eu quero ver você se entregar. —

Storm, sentindo-se totalmente exposto sob o olhar intenso de Jay, obedeceu. Ele levantou o servo, os dígitos longos e finos tremendo levemente. Com o máximo de precisão possível, ele levou seus dígitos até sua válvula.

O toque dos dígitos de Storm em sua própria válvula era uma sensação familiar, mas o ato de fazê-lo sob a observação atenta de Jay tornava a experiência dez vezes mais intensa. Ele começou a se mover, deslizando seus dígitos sobre a superfície úmida, a lubrificação facilitando o movimento.

Storm gemeu, o som baixo e contido. Ele tentou focar na sensação, mas a observação de Jay era esmagadora.

Jay não tirava as ópticas de Storm, seu sorriso predatório se aprofundando. Ele usava seus servos para acariciar a cintura de Storm, e seu servo superior esquerdo estava ocupado mapeando as curvas do chassi de Storm, do ombro até o quadril.

— Sim, assim mesmo, amor. Devagar, — Jay incentivou, a voz como veludo. — Sinta. A pressão é boa. Deixe o prazer te dominar. Não lute contra a desordem, Storm. Apenas a abrace. —

O incentivo de Jay fez Storm acelerar o ritmo. Ele se movia com a mesma precisão que usava para consertar rádios, focado no ponto de fricção máxima. Seu corpo começou a arquear-se sob o peso de Jay, o prazer se tornando quase dor.

— Mais rápido, querido. Deixe-me ver o quanto você quer, — O Opala ordenou, a voz ficando mais rouca.

Storm gemeu mais alto, o som de seu prazer sendo refletido nas paredes metálicas do quarto. Ele estava quase lá, o acúmulo de energia em seu spark era quase insuportável.

Então, Jay adicionou mais uma camada de prazer.

Ele moveu seu elmo para baixo, e sua glossa quente e habilidosa desceu para a válvula de prazer de Storm. Jay usou sua glossa para complementar os movimentos de Storm, adicionando um toque de umidade e pressão que levou Storm ao limite.

O choque do toque de Jay diretamente em sua válvula fez Storm explodir em sons e espasmos. Seus quadris se lançaram para cima, os servos apertando o ombro de Jay com força.

O clímax foi uma sobrecarga de sistema total. Storm gemeu alto, um grito agudo, e todo o seu corpo tremeu. Lubrificante extra jorrou da válvula, e suas ópticas piscaram intensamente.

Jay parou o beijo e o toque, mas manteve os quatro servos firmes em Storm enquanto o choque passava.

Storm estava ofegante, o corpo molhado e escorrendo. Ele estava completamente desorganizado, mas a satisfação era absoluta.

— Você é uma coisinha terrivelmente molhada, Storm, — Jay sussurrou, com a glossa voltando para limpar o excesso de lubrificante do tapa-sexo de Storm. — mas também, é o bot mais lindo e prazeroso que eu já tive. —

Storm conseguiu abrir as ópticas, olhando para o rosto do bot vermelho. Ele estava superaquecido, o metal de suas placas faciais emitindo um calor sutil.

— Você... você me fez... desorganizar, — Storm conseguiu murmurar, a voz fraca.

— Eu sei. E foi perfeito, — Jay respondeu, beijando-o suavemente.

Jay se afastou o suficiente para deitar-se ao lado de Storm, abraçando-o. Os corpos molhados se encaixaram perfeitamente na cama bagunçada.

— Agora, vamos descansar. Temos muito energon para comprar e metal para soldar, — Jay disse, beijando o topo do elmo de Storm.

Storm aninhou-se no servo de Jay, sentindo o calor do spark do mercenário. Ele estava exausto, mas a desordem havia sido a cura para o seu estresse. Ele não reclamou do beijo, da imprudência, ou da sujeira. Ele apenas se concentrou na sensação de Jay.

O fogo da volúpia estava satisfeito por enquanto, mas as brasas quentes estavam prontas para serem reacendidas.

PARTE-6

O calor do clímax ainda vibrava entre eles, mas a ordem, mesmo que pervertida, tinha que ser restaurada. Storm se aninhou no abraço de Jay por um tempo, o elmo encostado no ombro robusto do mercenário, até que o ritmo de seu spark se acalmou. A satisfação era imensa, mas a lógica de Storm voltou.

— Jay, — Storm murmurou, a voz ainda rouca de prazer. — Estamos encharcando a cama, e o lubrificante vai danificar a espuma. Protocolo de secagem. —

Jay sorriu, beijando o topo do elmo de Storm. — Sempre o certinho, mesmo depois de quase queimar seus fusíveis. Eu cuido disso. —

Com um movimento rápido de seus servos, Jay acionou um pequeno soprador de ar quente que ele usava para secar peças de motor. O ar quente e seco começou a circular na cama, evaporando rapidamente a umidade do lubrificante e da água.

Enquanto isso, Jay usou seus dois braços superiores para virar Storm, deitando-o de bruços. O movimento foi lento e sensual.

— O que você está fazendo? — Storm perguntou, sentindo a pele metálica seca, mas o calor de Jay ainda sobre ele.

— Recalibrando a ordem, — Jay respondeu. — Você estava focado no meu prazer. Agora é a sua vez de receber o pacote completo. —

Jay usou seus servos para abrir cuidadosamente as placas traseiras de Storm, aquelas que cobriam o acesso a sua interface de recepção. Storm não resistiu. Ele confiava implicitamente na precisão de Jay. As placas se moveram, revelando a fenda de interface, úmida e fechada, mas pronta.

Storm arfou com a exposição. Era a parte mais vulnerável e íntima de seu corpo.

O mercenário levou seu servo à fenda de interface de Storm, cobrindo-a com o lubrificante que ele já havia secretado, misturando-o ao lubrificante natural de Storm. O toque era um prelúdio, preparando Storm para a penetração.

— Você tá pronto para o pacote completo, Storm? Eu vou ser cuidadoso. Eu prometo, — Jay sussurrou, a voz cheia de ternura e respeito.

— Eu confio em você, Jay, — Storm respondeu, a voz carregada de uma rendição total. — Apenas... seja preciso. A entrada é um ponto de alta sensibilidade. —

Jay assentiu, entendendo a necessidade de Storm por controle e precisão. Ele se posicionou cuidadosamente entre as pernas de Storm. Seus próprios apêndices de penetração, projetados para se adaptar a qualquer fenda de interface, estavam duros e brilhantes com lubrificante.

Com um movimento lento e deliberado, Jay começou a penetrar a válvula de Storm.

A entrada foi tensa, mas Jay usou a ponta de suas garras para massagear e esticar a fenda. Ele penetrou apenas um pouco, parando imediatamente quando ouviu um gemido de dor de Storm.

— Tá doendo, amor? — Jay perguntou, a preocupação em sua voz sendo genuína.

— Não. Apenas... a sensação é intensa. Só vai devagar, Jay, — Storm instruiu, sua voz tensa.

Jay obedeceu. Ele se moveu em câmera lenta, entrando em Storm milímetro por milímetro. Ele usava a pressão dos seus braços inferiores na cintura de Storm para sentir a reação do seu parceiro.

Finalmente, ele estava totalmente dentro de Storm. O calor, o encaixe perfeito de seus corpos, era esmagador.

Storm ofegou, a sensação de ser preenchido por Jay era a desordem mais gloriosa que ele já havia experimentado. O calor do mercenário inundou seu sistema, e o spark de Storm começou a acelerar.

Jay permaneceu imóvel por um momento, permitindo que Storm se acostumasse à plenitude.

— Eu me sinto... completo, — Storm murmurou, a voz cheia de admiração.

— Você é o meu lar, Storm, — Jay respondeu, e o toque de seus lábios na nuca de Storm era a prova de seu amor.

Com Storm totalmente ajustado, Jay começou a se mover. Os movimentos eram lentos no início, ritmados e profundos. Ele controlava a velocidade, sabendo que a precisão era o que Storm precisava.

Storm começou a gemer, os sons de prazer se tornando mais altos e menos contidos. Ele sentia a fricção do metal, o calor da penetração, e o peso de Jay sobre ele.

— I-Isso é... errado. É m-meloso, e você é grande demais pra mim, e-e... —

— E você é adorável quando geme. —

Jay aumentou o ritmo. Os movimentos se tornaram mais rápidos, mais urgentes. Ele usava seus quatro braços para apoiar Storm, com os braços inferiores segurando a cintura e os superiores segurando os ombros de Storm, garantindo que o movimento fosse perfeito.

— Jay! Mais fundo! — Storm gritou, a voz rouca de desejo.

E ele obedeceu, acelerando o ritmo para uma velocidade frenética. O som do metal úmido batendo um contra o outro, os gemidos de prazer, e o ritmo acelerado de seus sparks preencheu o quarto.

— Você tá m-me deixando louco, para um autobot... — Jay sorri para si mesmo, batendo contra a válvula apertada do Aston Martin, sentindo seu spike estremecendo de puro prazer.

A F40 rosna baixo, e logo morde seus próprios lábios, sentindo seu corpo metálico e robusto esquentando mais do que seu motor em dia de corrida. Seu radiador e bomba d’água começam a trabalhar pesadamente para compensar o calor produzido, o que não parecia surtir muito efeito.

Storm estava novamente no limite. O prazer era uma onda avassaladora, e ele estava perdendo o controle de seus sistemas.

— A-Agora foi rápido demais, vai mais devagar! —

— Ah meu querido parasita, não vai rolar. — e assim o Opala vai mais fundo, fazendo com que seu amado grite sem querer, devido ao prazer sentido.

O Aston Martin odiava sua desordem, sentia vergonha devido a posição que estava agora enquanto era fodido violentamente em sua válvula, mas no fundo, bem no fundo, amava sentir aquele gostinho de impotência. Aquele gosto e prazer inconfundível que passara a sentir agora. Seus sistemas de refrigeração se encontravam em sua mais alta rotação nesse momento, porém era quase inútil o esforço, já que Storm esquentava cada vez mais.

Jay sentiu o corpo de Storm tremer, e resolveu dar algumas mordiscadas em seu pescoço, onde haviam cabos tão frágeis que qualquer toque os faria estremecer. Storm gritou de prazer, afundando seu rosto ainda mais na cama metálica.

— T-Tão bom!! —

O Opala o olha de canto enquanto fodia Storm com força, se aproximando de seus audiais e dizendo frases tão eróticas que fizeram o bot menor preto gemer tão prazerosamente. Frases que essas fizeram os corpos de ambos se entregarem ainda mais a aquele prazer carnal. Era algo tão imprudente, tão errado, e tão... excitante.

— E-Eu tô quase... — o bot maior rosna baixo.

— P-Porra, Jay... — Storm reclama, um pouco frustrado pela sua diversão ter acabado tão rápido.

Ele desacelerou o movimento por um momento, recuando, e então deu uma estocada final, profunda e potente.

O clímax atingiu Storm com a força de um raio. Ele gritou, a energia se esgotando, e ele sentiu a injeção de calor de Jay em seu sistema.

Jay se contraiu e se rendeu ao próprio clímax, soltando um ruído gutural de satisfação.

O silêncio caiu sobre eles, apenas a respiração pesada e o som do ar circulando no soprador de ar quente.

Jay se afastou lentamente, garantindo que a separação fosse lenta para não chocar Storm. Ele deitou-se ao lado de Storm, puxando-o para si.

— Você tá bem, meu amor? — Jay perguntou, beijando a testa de Storm.

— Eu estou desorganizado, molhado, e meus sensores tão em curto, — Storm respondeu, aninhando-se no peito de Jay. — Mas... sim. Eu estou perfeito. —

Eles ficaram ali por um tempo, o calor de seus corpos, a satisfação. O fogo da volúpia havia se transformado em uma brasa constante, quente e reconfortante. Eles tinham a fuga, o dinheiro, e agora, a ordem sexual. Eles eram um só.