Chapter Text
Francis percebeu seus sentidos sendo invadidos pela bela arquitetura a sua frente, os jardins, o cheiro das flores, o ar quente em sua face corada, os outros turistas passando ao seu redor, enquanto ele se encontrava parado, somente admirando o palácio a sua frente que agora era um museu, o Palácio de Topkapı. Era a primeira vez em séculos que pisava nesse chão.
Ele sentiu seu rosto se contorcendo em uma expressão de pesar e ele decidiu se mover, seguindo os outros turistas. O som das conversas e dos guias de viagem ecoava em seus tímpanos, contudo nada ele escutava, apenas um ruído sem sentido. Bonnefoy quase se encontrava com raiva dessas pessoas, desse ruído, pois mostrava que esse Palácio já não era mais o mesmo, que Sadik não estaria mais ali, o esperando com suas roupas esvoaçantes e com seu sorriso.
Francis passa seus olhos pelas paredes, que continuavam tão preservadas quanto ele lembrava. Seu coração batendo tão fortemente que ele podia o escutar em seus ouvidos. Se lembrava de todos os momentos em que andou nesses corredores com Sadik, ele sorriu.
Bonnefoy se lembrou da primeira vez que entrou no Palácio de Topkapı, o jovem eu que sentia tanto medo, medo esse que nunca desapareceu, o quanto se sentia pequeno em comparação com a arquitetura a sua frente. Depois, as memórias do Século XVII, quando ele já havia crescido e se tornado mais confiante, ele e Sadik andando e rindo nos corredores, aqueles momentos amorosos trocados por eles, as poesias, a forma que Sadik se colocava como uma fortaleza.
Ele continuou seguindo o grande grupo de turistas até perceber onde estavam, aquele era o corredor onde o antigo quarto de Sadik ficava, mas o grupo passou pela porta como se não importasse, aquela linda porta tão familiar para Francis, fechada e trancada. Era como se Sadik fosse abrir aquela porta e sair do quarto a qualquer momento.
O restante do grupo continuou andando e Francis permaneceu parado, fitando a porta fechada com seus olhos azuis arregalados. Nesses poucos segundos, ele sentiu como se envelhecesse séculos em segundos. Seus ouvidos chiam com os sons dos turistas admirados ao seu redor.
Aquela porta abandonada pelo tempo como se ela não fosse importante, sem reconhecimento algum pelas multidões que passam por esses corredores diariamente. Esse era o que as nações eram destinadas a ser, uma mera sombra de seus chefes, assim como seu povo, uma coisa a ser controlada e deixada no fundo da história.
Repentinamente, ele sentiu alguém parando do lado dele, ele tardou para tirar seu olhar da porta e ver quem parou ao seu lado. Para sua surpresa era a personificação do Japão.
“Eu não esperava te ver aqui, França-san.” ele disse com uma face serena, também encarando a porta trancada a sua frente.
“Você veio visitá-lo?” ele retornou a olhar para a porta.
“Sim e você?”
“Você sabe a resposta, Japão.”
França o respondeu de uma forma que ele usava raramente com outros que não fossem o Inglaterra, uma resposta seca e amargurada, muito diferente se sua personalidade amigável. Contudo, Japão sorriu para ele e disse:
“Você foge dele o tempo dele, França-san como se tivesse medo dele.”
As lágrimas que Francis estava segurando desde o momento que chegou ao local ameaçaram cair.
“É porque eu tenho medo dele…”
Ele se curvou, cobrindo seu rosto choroso com suas mãos trêmulas para tentar em vão esconder suas lágrimas. Essa era verdade, Francis temia seu antigo amado, ele temia sua voz e seu olhar, pois ele não merecia o perdão de Sadik, ele não merecia o verdadeiro amor que tanto falava sobre. Ele era um charlatão que se vendia especialista em algo que ele mesmo não era capaz de manter.
“França-san… Você sabe que o aconteceu não foi sua culpa.”
Japão se aproximou, acariciando suas costas em uma tentativa de consolar o francês, mas ele não entendia! Não importa o que seu governo tenha feito no passado, Francis se deixou levar, ele era responsável por como ele agiu no passado. Mesmo assim, Francis nada disse, ele meramente aceitou ser consolado, embora soubesse que não o merecesse.
“Ele ainda fala de você, França-san, não só apenas quando ele está falando da União Europeia, mas também pessoalmente.”
“Eu imagino… E eu continuo correndo dele como se ele fosse a praga…” França ri sem humor, limpando suas lágrimas.
“Eu acho que ele te daria uma segunda chance.”
“Japão, eu não sei se estou pronto para segundas chances…” ele olhou para o piso abaixo de seus pés.
Japão suspirou em frustração, mas ele sabia que não sabia o suficiente sobre o que aconteceu entre Turquia e França para opinar com certeza sobre a situação. Ele sabia sobre os eventos históricos, isso era fácil de descobrir, mas nem mesmo Turquia se abria para ele sobre como ele se sentia durante o fim de sua aliança com França. O que genuinamente aconteceu particularmente entre os dois era um mistério.
Apesar de seus esforços, Francis fitou a porta outra vez, retornando a lacrimejar e a se lamentar. Ele se perguntava por que ele decidiu vir para Istambul… Por quê?
“Eu sinto tanta falta dele…”
Japão nada disse, somente o consolou com gestos, ele não compreendia o motivo de França permanecer se torturando e se escondendo, mas nada podia realmente fazer sobre essa situação.
