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Ir naquela festa era a última coisa que Kid queria fazer de forma verdadeira. O corpo estava pesado, cansado da rotina puxada do trabalho como enfermeiro, mas ele tinha uma dificuldade tremenda em dizer não.
Ele nem ao menos havia tido tempo de pensar em uma fantasia! Quando saiu do plantão, deu de cara com Law o esperando enquanto conversava com o recepcionista do hospital, Luffy.
Eram todos sorrisos e olhares carregados de um sentimento que assombrava Kid. Não que ele fosse contra o amor ou pessoas que entravam em um relacionamento, mas não entrava na cabeça dele que as pessoas gostavam de namorar ao ponto de ir procurar as pessoas para isso.
— Sua única obrigação vai ser tomar um banho enquanto eu ajeito tudo o que preciso — Law avisou, empurrando o melhor amigo na direção da saída do hospital.
O caminho do hospital até a casa do ruivo foi feito em completo silêncio. Às vezes, Law fazia um comentário ou outro sobre quem estaria na festa, alguma fantasia que ele achava que os amigos estariam usando. Kid concordava de tempos em tempos, pontuando, sem esforço algum, que não estava nem um pouco animado.
De banho tomado, Kid foi obrigado a ter a lateral da cabeça raspada suavemente, o rosto foi coberto por uma leve camada de pó branco e o corpo possuía uma combinação de roupas escuras. Cada peça não limitava seus movimentos, mas ainda assim, não o deixava confortável com a ideia de sair de casa.
A forma como o corpo estava longe de estar relaxado chamava a atenção de Law, uma vez que era raridade vê-lo assim. Kid sempre foi muito brincalhão, divertido e não perdia uma oportunidade que fosse de levar leveza ao ambiente que estivesse presente.
— Se pensar um pouco mais, sua cabeça vai explodir — Law brincou, recolhendo todos os pincéis que usou, antes de ajeitar a própria roupa. — Aconteceu alguma coisa?
Ali estava o ponto principal: não havia acontecido nada.
Não ao ponto de deixar Kid naquele estado, em alerta extremo e inquieto somente com a ideia de ir para essa tal festa. O coração acelerado não era um indício de que estava morrendo do coração, mas sim o próprio corpo o alertando para se preparar para o que iria acontecer.
E dito e feito. Não levou muito tempo para que Kid descobrisse a razão da sua inquietação, uma vez que ele estava bem diante dele. Vestido com uma fantasia de vampiro e uma peruca de fios longos, Killer era o principal motivo do surto de Kid.
— Meu Deus, Eustass. Você ainda tem uma queda por ele? — Law sussurrou, o guiando para longe da entrada e evitando que eles ficassem no caminho.
Bastou uma troca de olhares para que Law entendesse. Ainda quando estavam na faculdade, a dupla teve uma briga boba para ver quem ia em mais festas e tiravam as melhores notas. Killer facilmente conseguia o feito enquanto Kid lutava para alcançar o primeiro lugar.
Lutava para ter os olhos de Killer em si, para conseguir uma minúscula migalha da atenção dele que não fosse no ambiente da universidade. Kid sentia que iria enlouquecer se continuasse lutando por aquilo que sabia que dificilmente iria conseguir e, bem quando ele deixou de lutar, tudo começou a dar certo.
— Uma queda é muito pouco pra definir o que eu sinto, idiota — Kid sussurrou, pegando o primeiro copo de bebida que encontrou pela frente.
— Um penhasco define bem isso tudo.
A dupla de amigos continuou perambulando pela praça em que a festa acontecia. A decisão de uma festa ao ar livre durante uma tarde de outono surpreendeu Kid que esperava o exato oposto.
Ele estava acostumado com as festas da faculdade que eram durante toda a madrugada, que tinham máquinas de fumaça por todos os lados e barulhos assustadores que emanavam pelo ambiente. Kid gostava da tensão desse tipo de festa, mas ele, naquele instante, estava preferindo aquela calmaria.
O ar fresco que o envolvia acalmava seus batimentos acelerados e, apesar de não ajudar no suor excessivo que estava por todo o corpo magro, ajudava na parte da tensão. Ele tentava sorrir sempre que alguém se aproximava dele, tentava responder às perguntas feitas e somente conseguia sussurrar que estava bem antes de sair andando.
— Ele tá uma gracinha — Law comentou, olhando de relance para onde Killer estava sentado, rodeado por outros amigos.
A fantasia de vampiro combinava perfeitamente com ele, tão perfeitamente que Kid podia jurar que ele era um vampiro de verdade. Os lábios pintados por um batom vermelho, os olhos marcados por uma maquiagem leve e a forma como as mãos pálidas passeavam pelos fios da peruca estavam mexendo com o pensamento de Kid.
E pensar tanto assim na pessoa que, até então, era seu maior inimigo, acendia um sinal de alerta para o ruivo. Sentir o coração acelerar quando seus olhos se encontraram, por alguns segundos, quase o fez sair correndo dali sem pensar em deixar o melhor amigo para trás.
Acontece que quando menos esperou, um grupo de pessoas passou por ele de forma apressada, o afastando de Law e o aperto firme na cintura de Kid fez com que todo o ar já escasso sumisse de seus pulmões. O perfume era dolorosamente familiar e as orbes castanhas davam vida às borboletas em seu estômago.
A distância entre os dois era minúscula, mas Killer fez questão de acabar com ela de forma sutil ao se aproximar ainda mais do corpo do outro e prendê-lo contra a árvore mais próxima, de forma que Kid não conseguisse fugir.
Os olhos do ruivo buscaram pelos lábios alheios de formal natural, fazendo com que ele se sentisse um grande idiota ao tentar fugir dos próprios sentimentos. Quem ele estava tentando enganar? Os sentimentos que nutria por Killer só foram escondidos, mas continuavam tão poderosos que chegava a ser perigoso.
O polegar de Killer passeou de forma lenta pelo lábio inferior de Kid, esse que os abriu suavemente sem que tivesse um pedido de fato. A forma como a respiração deles se perdia uma na outra era algo único, tornando-se ainda mais especial pelo pôr do sol que começava a acontecer no horizonte.
Perdidos na própria bolha de amor que estavam tentando decifrar se era permitido avançar um pouco mais, nenhum dos dois notou quando Law tirou uma foto dos dois juntos, presos nos braços um do outro e com bochechas coradas, fosse pelo sol que os atingia ou o mar de sentimentos que sentiam.
E, entre brigar com Killer por tê-lo segurado daquela forma tão íntima e delicada ao mesmo tempo ou beijá-lo como se a sua vida dependesse daquilo, Kid certamente iria escolher a segunda opção, sem força alguma para resistir ao charme daquele vampiro.